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PSICOLOGIA DAS

EMOÇOES
Introdução
Todos sabemos o que é uma emoção até que nos seja pedido para dar uma
definição. Segundo Strongman, uma boa teoria deve possuir um resumo
irrefutável sobre um aspeto do mundo e conter um razoável poder de explicação.
Vários autores possuem diferentes perspetivas sobre aquilo que uma boa teoria
sobre a emoção deve conter:

• Lazarus: definição, distinção entre o que é e o que não é emoção, o papel


desempenhado pela fisiologia, a interdependência das emoções, a ligação
entre motivação, cognição e emoção, a relação entre as bases biológicas e as
bases culturais, etc.

• Oatley: função das emoções, dificuldade na identificação das causas,


importância da avaliação de acontecimentos referentes a objetivos,
emoções básicas dotadas de fisiologia própria;

Há teorias primitivas, fenomenológicas, comportamentalistas, fisiológicas,


cognitivistas, etc. O que podemos compreender é que há múltiplas formas de olhar
para as emoções dependendo do ponto que queiramos analisar.

Distinção entre emoção e cognição


Lazarus, em 1991, faz a distinção entre emoção e não emoção, sendo a motivação
um exemplo de não emoção. Nas aulas de PME foi constatado que a motivação é
algo deliberado enquanto que a emoção seria mais impulsiva. Ambos são
processos ou estados internos usados para explicar a direção e energia do
comportamento e podendo levar a uma ação dirigida a um objetivo, mas são coisas
distintas.
Voltando para a temática da distinção entre emoção e não emoção, a cognição não
é emoção também. No livro “O Erro de Descartes”, o neurologista António Damásio,
demonstra que a ausência de emoção pode destruir a racionalidade. Desde sempre
observamos a oposição entre emoção e razão enquanto dois polos opostos, mas
nesta obra há a apresentação de uma visão cientifica e integrada que demonstra
que a razão está inseparavelmente dependente da emoção.
Visões sobre a emoção
Existem inúmeras tentativas de definir emoção como vimos na introdução, mas
também maneiras de ver a emoção e o seu papel.

• Duffy e Lindsley sugerem a substituição do termo “emoção” pelo “arousal”


vendo a emoção como uma ativaçao neurofisiológica;

• Há autores que defendem que as emoções são fenómenos transitórios e


disruptivos;

• Royce, Izard e Tomkins consideram que as emoções constituem um sistema


motivacional fundamental;

• Há outros autores que defendem que os indivíduos estão sempre a


experienciar emoções, ou seja, toda a sua vida e todo o seu comportamento
não existiria sem o domínio afetivo, tendo este como função a organização,
motivação e manutenção do comportamento.

Evolução histórica da definição de emoção


Em 1637, Descartes, apresentava uma visão que defendia que a emoção era
típica dos animais e a razão típica dos seres humanos. Esta visão culminou numa
grande oposição entre estes dois processos de tal modo que uma das linhas de
investigação consistia em perceber qual deles teria mais impacto no
comportamento. Esta discussão atravessou muitos autores como Watson, Janet e
Pièron.
Mais tarde, já em 1884, William James, um autor que já estudamos devido
ao funcionalismo, diz que a melhor definição para emoção seria:
- resposta de um sistema complexo com vista a preparar um organismo para
responder a um estimulo ambiente que tem significado evolutivo.

Segundo este autor existia a perceção do estimulo, a modificação corporal, a


consciência da modificação, o sentir da emoção e por fim o comportamento. Esta
perspetiva dizia que sem sensações corporais não existe emoção, mas que tem de
existir uma interpretação do estimulo.
Ketner e Gross defendiam a emoção enquanto padrões de base biológica,
episódicos, de curto-prazo. Numa emoção vemos que há uma resposta a um
estimulo e que estas emoções podem ser funcionais ou disfuncionais.
Cole, Martin e Dennis defendiam as emoções enquanto radares e sistemas
de resposta rápida que constroem significado para a experiência, preparando para
agir.
A discussão sobre “o que é uma emoção” emergiu porque os investigadores
tentaram compreender a avaliação cognitiva que ocorre numa emoção.
James, diz que a emoção é um estado complexo após uma perceção e que
resulta em mudanças físicas e psicológica que afetam o pensamento e o
comportamento, influenciando-o. Há uma ativaçao fisiológica que se reflete na
expressão facial/corporal e na experiência cognitiva.
Darwin, por sua vez, mencionou que as emoções eram inatas e comuns aos
seres humanos, mantendo-se no tempo devido a uma utilidade adaptativa de
sobrevivência. As emoções são o que permitem a motivação para responder
rapidamente a estímulos do meio ambiente.
Os animais também experimentam emoções de uma forma semelhante aos
humanos, no entanto a expressão da emoção é feita de uma forma diferente. Eles
não só experienciam a emoção, como são capazes de a desenvolver devido ao
contacto com um humano ou outro animal.
Lange, em 1885, valoriza a emoção através da sua componente fisiológica,
desvalorizando a cognição. Segundo este autor, há um padrão fisiológico para cada
emoção. A sua teoria foi rapidamente contestada.
Cannon e Bard, já em 1910, dizem que há um padrão fisiológico comum a
todas as emoções e que sentimentos as emoções e as reações fisiológicas
simultaneamente.
Schachter e Singer, em 1960, mencionaram que um acontecimento
desencadeia uma ativaçao fisiológica e que esta é interpretada cognitivamente
surgindo depois a emoção.
Ekman, em 1970, diz que as emoções são inatas, universais e de facil
reconhecimento, tendo chegando a esta conclusão devido ao estudo com tribos
africanas. Para ele existiam 6 emoções básicas: alegria, tristeza, raiva, nojo, medo e
surpresa, sendo que, em 1990, acrescentou o desprezo na lista. Há uma perspetiva
neuro-cultural que nos diz que a expressão da emoção pode ser suprimida ou
estimulada de acordo com a cultura. Os seus estudos estiveram na base da criação
do FACS (facial action coding system) que consiste num sistema que analisa e
transcreve uma expressão facial em elementos do código FACS e que permite
analisar os movimentos faciais nos seres humanos.
Lazarus, em 1970, diz que a sequência associada a uma emoção seria:
estimulo, avaliação e atribuição, emoção, resposta fisiológica como reação.
Levenson, em 1988, fala que a emoção seria uma organização rápida e de
adaptação ao comportamento. Captamos o estimulo e rapidamente preparamo-nos
para agir.
Karli e Izard (1990) dizem que a emoção é o principal organizador do
comportamento humano, havendo uma atribuição de significado constante.

Para James e Lange existiria o


estimulo sensorial, a sua
perceção, o desencadear da
expressão emocional e da
resposta fisiológica e
posteriormente a experiência
emocional. No entanto, para
Cannon e Bard, há
simultaneamente a expressão
emocional, a resposta
fisiológica e a experiência
emocional.

Cabanac, diz que o termo de emoção é definido com referência a uma lista
de emoções, por exemplo, raiva, nojo, medo, etc. Segundo este autor, quando
estamos a tentar ganhar consciencia de uma emoção estamos a ter a ativaçao de
quatro grandes dimensões na nossa experiência com essa situação,
nomeadamente: intensidade, prazer, duração, qualidade (o juízo de valor entre ser
bom ou mau para o individuo).
Em 2002, Oatley e Jenkins dizem-nos que a emoção é provocada pela
avaliação de um acontecimento que interfere de forma relevante quando se está a
tentar atingir um objetivo importante. A emoção é positiva quando o objetivo
avança e negativa quando é impedido. O seu núcleo seria a prontidão para agir e a
sugestão de planos. É urgente e interrompe ou compete com ações ou cognições
que decorriam. É sentida como um estado mental distinto que é acompanhado com
mudanças corporais, cognições, ações e expressões próprias. É imediata e intensa.
A ordem de ação de acordo com estes autores seria:
• Apreciação rapida
• Prontidão para ação
• Alteração psicologica e corporal
• Cognição sobre corpo e mente abalados
• Reflexão sobre o sucedido e recuperaçao ou mudança no
estado mental

Em 2005, Scherer, diz que a


emoção é um momento de
mudanças interrelacionadas e
sincronizadas no estado de
todos ou na maioria dos cinco
subsistemas em resposta à
avaliação de um estímulo
externo ou interno como
relevante para um ser
humano/animal.
A emoção tem uma
importância no sistema de
processamento de
informação, pois avalia os
acontecimentos e os objetos e
por isso tem uma componente
cognitiva de avaliação.
Interfere com o Sistema Nervoso Central e com o Sistema Nervoso Autónomo
porque vai regular e preparar o nosso corpo do ponto de vista neurofisiológico
com determinados sintomas para nos preparar para a ação. Esta preparação é feita
através das funções executivas do SNC nomeadamente com a motivação. Esta
tendência para a ação está presente no subsistema seguinte que é uma
comunicação de uma reação ou de um comportamento. A minha postura dá
indicações ao outro. Depois vamos monitorizar, ou seja, fazer uma segunda
avaliação daquilo que nos aconteceu.
Historicamente, a definição de emoção variou entre o arousal (ativação
neuro-psico-fisiológica) e o sistema motivacional do comportamento (cognições,
interação com os outros). É realmente complicado chegarmos a uma definição
consensual, pois, segundo Strongman, a emoção não é uma entidade única ou causa
de uma variável. É um processo complexo onde existem sensações corporais,
cognições, expressão facil, verbalizações, variando com os estímulos e os
indivíduos.
Há ainda a dificuldade inerente ao facto de alguns autores verem a emoção
enquanto algo espontâneo e situacional e outros que falam do estado emocional e
do seu prolongamento no tempo.
Fraisse e Piaget, em 1975, diziam que as emoções eram afetos ou
sentimentos que provocavam manifestações neuro-vegetativas e expressões faciais
e corporais que poderiam ser compreendidas pelo self ou por outro.
Reuchlin, em 1981, diz que as emoções dependem da vivencia individual e
que produzem uma expressão facil/corporal e alteração no funcionamento
corporal.
Schwartz, em 1986, diz que aquando de uma emoção há respostas
simultâneas nos sistemas verbal, motor e fisiológico.
Autores como Izard e Damásio, dizem que há uma tradução simultânea a
nível fisiológico, comportamental e subjetivo (sentir do eu, expressar, pensar).
Kleinginna e Kleinginna, em 1981, dizem que uma emoção consiste numa
interação complexa entre fatores objetivos e subjetivos, mediada por sistemas
neuronais e hormonais e que pode provocar experiências afetivas de prazer ou
desprazer, cognições para avaliar a situação e decidir rapidamente, ativação
fisiológica para ajustar á situação, expressão facial/corporal e comportamentos
nem sempre adequados.
Para Izard, em 1991, uma emoção resulta de um processo complexo que
tem manifestações a três níveis:
a) Neurofisiológico: alterações no funcionamento corporal que podem ser
percebidas pelo self ou não e raramente percebidas por outros. Algumas dessas
alterações são modificações hormonais, viscerais, musculares,
neuromusculares. Os dados sobre esta questão foram recolhidos de forma
objetiva através de técnicas como os índices fisiológicos e de forma subjetiva
através de questionários;

b) Comportamental: há alterações na ação motora, expressão e mimica faciais e


postura corporal, por exemplo. Há uma perceção pelos outros e parcial pelo
self. Dados recolhidos através da observação do comportamento visível e de
inquéritos.
c) Experiencial: a emoção depende da vivencia subjetiva do individuo e, por isso,
só pode ser sentido pelo próprio. O acesso a esta emoção só pode ser feito por
relato oral ou escrito efetuado por quem viveu a emoção.

Continuando ainda com Izard, segundo este autor, as emoções:


• Seriam diferentes das pulsões, das motivações, das necessidades e dos
instintos;

• Partilham bases biológicas com os aspetos mencionados acima, mas são


distintas pelo uso da cognição e da expressão facial e corporal;

• Há emoções primarias que são inatas, possuem uma base genética e que são
expressas desde pouca idade. Os animais também revelam emoções
primarias, mas sem o uso da cognição, sendo esta o motor de ação que
diferenciam o ser humano;

• Existem emoções secundários que seriam aprendidas e uma combinação


das emoções primarias;

• Há uma diferenciação entre estado ou traço. As emoçoes são uteis para


processar rapidamente informação semelhante. Vamos imaginar uma
situação de trauma provocado por um incendio. Basta muitas vezes ver a
lareira ou sentir o cheiro a queimado para que a pessoa reviva a situação de
trauma. Algo ficou automatizado no polo negativo e tornou aquela reação
emocional face ao estimulo um traço da pessoa

De acordo com Reeve, 2009, as emoções são multidimensionais, pois implicam


aspetos subjetivos, biológicos, intencionais e sociais; fazem o individuo sentir-se de
determinada forma, mobilizam energia para o corpo se adaptar a uma situação ou
orientam para um objetivo. As emoções facilitam a interação social pela expressão.
Há uma dificuldade em definir o que sentimos, mas todos sabemos o que estamos a
sentir. As emoções são causadas pela avaliação de uma situação importante,
modificam cognições e o funcionamento corporal havendo uma ligação mente /
corpo.
Distinção entre emoções, sentimentos, paixões e humor
De acordo com Frijda e Rodrigues:
a) As emoções são fenómenos afetivos intensos que surgem de forma brusca e
desaparecem rapidamente, causando desgaste corporal e mental;

b) Os sentimentos são fenómenos afetivos estáveis que resultam da reflexão


cognitiva sobre as emoçoes sendo mais duradouros e menos intensos;

c) As paixões são fenómenos afetivos intensos e não intelectualizados sendo


duradouras. Há um prejuízo devido ao forte desgaste corporal e mental;

d) O humor é o conjunto de emoçoes ou estado emocional, tonalidade ou


tendência afetiva num “momento” ou típica do sujeito (ex: deprimido,
ansioso ou alegre)

Emoções Sentimentos
Forças motivadoras para a ação Forma como interpretamos as
emoçoes
Processos espontâneos e biológicos Consciência do que sentimentos e
fora do nosso controlo decisões baseadas nesta tomada de
consciência

Expressões reconhecidas pelo outro Controlo dos sentimentos e dificuldade


de leitura dos outros

Debate sobre o estudo


Há ainda um debate muito grande, pois não existe uma definição aceite por todos
sobre o que é uma emoção e este facto leva a debates inacabáveis o que dificulta o
estudo das emoções. Esta dificuldade provém também do facto das emoções serem
raramente fáceis de compreender. Uma emoção pode ser desencadeada por vários
estímulos diferentes e um mesmo estimulo pode causas varias emoções.
Discussão entre emoções básicas / primárias:
Os diferentes autores propõem também diferentes emoções básicas

Autores Visão

6 emoções básicas: medo, cólera, nojo, tristeza,


Reeve (2009) alegria e interesse;

Ekman e Friesen (1975) 6: alegria, tristeza, raiva, nojo, medo e surpresa. Em


1990 acrescentaram o desprezo.

Darwin (1877) 10: alegria, tristeza, enfado, ódio, desprezo, nojo,


culpa, surpresa, medo e vergonha;

Izard (1991) 11: alegria, tristeza, raiva, nojo, medo, surpresa,


desprezo, angustia, interesse, culpa e vergonha;

A face exprime dinamicamente apenas quatro


Jack, Garrod e Schyns (2014) emoções alegria, tristeza, medo/surpresa (perigo
em aproximação rápida) e nojo/cólera (perigo que
se mantém)

Plutchik apresentou-se uma roda com as 8 emoções básicas e terminologias


alternativas para as mesmas:
- Medo ou pânico, terror, apreensão;
-Surpresa ou incerteza, espanto;
- Tristeza ou luto, melancolia;
- Nojo ou aversão, aborrecimento, repulsa;
- Cólera ou raiva, fúria, hostilidade;
- Antecipação ou curiosidade, vigilância, expectativa;
- Felicidade ou serenidade, êxtase, prazer;
- Confiança (aceitação) ou tolerância, aceitação, admiração.
Para ele, dentro destas oito emoções básicas existiam opostos entre elas,
nomeadamente:
Emoção Oposto
Alegria Tristeza
Confiança Nojo
Medo Cólera
Surpresa Antecipação

Ainda analisando o ponto de vista de Plutchik, em 1980, ele apresenta uma lista de
emoções secundarias que seriam compostas pela combinação de emoções básicas.

Resumo
Na emoção temos quatro processos simultâneos. Os sentimentos, a experiência
subjetiva de prazer ou desprazer que da significado a uma experiência afetiva. As
cognições, a nossa expressão social das emoções que faz com que tentemos
suprimir ou demonstrar, a perceção que eu tenho e como e que a vou categorizar-
As modificações corporais que me prepara para agir do ponto de vista da ativaçao
fisiologia e das respostas motoras. E, por fim, os comportamentos através que nos
motiva para um objetivo, tem uma função especifica e tem uma expressão ou o
reconhecimento que podem ser adaptativos ou disfuncionais.
Neste texto de Levenson vemos as funções das emoções:
As emoções são fenómenos psicológico-fisiológicos de curta duração que
representam modos de adaptação às mudanças das exigências ambientais.
Psicologicamente, as emoções alteram a atenção e modificam a hierarquia de
resposta, ativando redes associativas relevantes na memória. Fisiologicamente,
rapidamente organizam as respostas de diferentes sistemas biológicos, incluindo
expressão facial, postura, tom de voz, atividade do SNA, atividade endócrina, etc.,
para preparar uma resposta eficaz. As emoções definem a nossa posição no nosso
ambiente, direcionando-nos para certas pessoas, objetos, ações e ideias, ou
afastando-nos de outros. Servem como como um repositório de respostas inatas e
invariantes, mas também podem ser aprendidas e variar entre grupos, culturas e
pessoas.

Em suma, um apanhado de todas as teorias menciona que:


• As emoções fornecem energia, dirigem e permitem manter um
comportamento, sendo, para alguns autores, o motivador primário.

• Servem como um sistema de "leitura" para indicar o quão bem ou mal a


adaptação está a correr: emoções positivas sinalizam que tudo está bem,
emoções negativas alertam.

• Constituem respostas de emergência ou mecanismos de coping.

• Dão prioridade a diferentes formas de atuação para otimizar a capacidade


dos indivíduos de se ajustarem às mudanças no meio: prepara-nos com uma
resposta automática e imediata.

• Todas as emoções são “benéficas” porque dirigem a atenção e canalizam o


comportamento.

• A expressão e reconhecimento emocional permite comunicar sentimentos


aos outros, influenciar como os outros interagem connosco, facilitar
interações sociais, criar, manter e terminar relações.
Análise de estudos
Os diferentes tipos de emoção provocam a ativação de diferentes zonas corporais.
Por exemplo, o orgulho, tem uma ativaçao de maior grau na zona do tronco e
cabeça, enquanto que a depressão tem muito menos ativação corporal
especialmente nas zonas dos membros.
A realidade virtual pode ser indutora de emoções positivas no tratamento da
fibromialgia e pode ser desencadeada através da mera visualização de filmes. O
estado emocional neutro não existe porque é impossível não sentirmos nada,
estamos sempre a sentir algo. Para alem disso, o afeto tem de ter sempre uma
valência positiva ou negativa, nunca podendo ser neutra.
As emoções são associadas muitas vezes a cores e esta informação é muitas vezes
utilizada na publicidade e na televisão para desencadear determinadas emoções
nos espectadores.

Emoção em contextos naturais


Neste capitulo sobre as emoções iremos falar sobre dois tópicos muito
importantes, primeiramente vamos falar sobre a doença mental grave e as suas
implicações na expressão e reconhecimento de emoções. Posteriormente vamos
abordar a questão do stress, trauma e burnout e a supressão das emoções.

Reconhecimento e expressão emocional


A expressão e o reconhecimento emocional foram definidos teoricamente por
autores como Ekman, Levenson, Ekan, Izard, etc.

• De acordo com Ekman e Levenson, a expressão emocional consiste num


conjunto de comportamento verbais e não verbais através dos quais as
emoções são comunicadas. A expressão facial pode ser vista como um dos
tipos de expressão não-verbal que reflete o estado da pessoa e as suas
intenções sobre os outros. Estas emoções têm uma função de regulação da
interação social, pois orienta os observadores no sentido de respostas.

• A expressão facial resulta de um conjunto de combinações faciais e pode


ocorrer como resposta a aspetos internos e externos, ser voluntária ou
inconsciente e involuntária (Ekan e Izard).
• Quando falamos de expressão devemos também falar de reconhecimento,
pois apesar de podermos exprimir emoções sozinhos, numa troca social há
o reconhecimento por parte de outra pessoa. Esse reconhecimento na
interação efetua-se a partir da expressão na face, mas também através da
voz e da postura corporal (Pantic e Tcherkassof). Chamamos de T da
informação central ao local da face que prestamos mais atenção no
reconhecimento emocional (olhos, boca). Numa emoção espontânea, há o
alinhamento entre a parte superior da face e a inferior. Esta informação
permite-nos distinguir emoções espontâneas ou fingidas, como o sorriso
Duchene. De acordo com Ekman, as microexpressões ocorrem dentro de
uma fração de segundo e supostamente expõem as verdadeiras emoçoes de
uma pessoa permitindo detetar mentiras e ambiguidades. No entanto, isto
não é assim tao linear pelo facto das emoções serem dinâmicas e haver uma
fluência de emoções primárias na interação social e isto é extremamente
complexo, pois em segundos e de forma espontânea podemos mudar de
expressão e emoção. Por vezes a ambiguidade das expressões pode resultar
de emoções passadas e não de uma mentira, por exemplo. Podemos aceitar
a existência das microexpressões, mas a discussão é muito grande no que
concerne ao facto de revelarem a verdadeira intenção.

Métodos desencadear/expressar emoções (Tcherkassof)


Este autor e os seus colaboradores defenderam aquilo que são os métodos
dinâmicos para reconhecer emoções. Há filmes que são associados a situações
experimentais mais próximas da realidade traduzindo este fluir das emoções
permitindo que as nossas microexpressões sejam mais facilmente apreendidas
pelos observadores. No entanto, os métodos estáticos também permitem
desencadear emoções. Neste caso são utilizadas fotos ao invés de filmes, pois estas
são o “cristalizar” de um momento. No entanto, os autores defendem os métodos
dinâmicos, pois neste segundo método não conseguimos refletir o que acontece no
tempo, tendo então menor validade ecológica. Para além destes dois métodos,
temos ainda os métodos espontâneos que refletem um estado emocional
espontâneo, um exemplo são os apanhados. Por fim temos os métodos posados que
envolvem situações experimentais onde a expressão da face não tem
correspondência com o estado emocional do indivíduo, é simulada (ex. ator).
Um estudo recolheu um determinado numero de estudantes que deveriam fazer
uma tarefa com o rato do computador. Nessa tarefa, os participantes arrastavam o
rato para um lado e o cursor ia na direção oposta. As reações emocionais
espontâneas eram filmadas e depois analisadas.
Lacerda et al, em 2010, diz que o reconhecimento emocional das faces é mais facil
em fotos do que em vídeos, pois como as imagens são estáticas há menor
probabilidade de erro na analise das microexpressões. Algo que também foi visto
foi que as emoçoes são mais identificáveis quando são de alegria ou cólera, mas
também quando o sujeito a analisar é uma mulher. O método estático permite
isolar cada emoção enquanto o dinâmico reflete a sequência de microexpressões
da emoção, dificultando o seu reconhecimento.

Expressão das emoções


A expressão das emoções pode ser analisada triplamente, por exemplo,
considerando o local corporal para o qual prestamos atenção como a face, a
postura, os gestos e a voz. No entanto, quando temos informação de todos estes
locais pode haver maior incongruência o que se reflete numa maior dificuldade em
reconhecer.
Em termos do formato da emoção, esta pode ser espontânea ou posada: simulada
ou suprimida.
Em termos do desencadeador temos as emoções discretas ou básicas e as emoções
contínuas ou fluidas. De acordo com esta leitura, o desencadeador provoca
emoções muito bem determinadas através das macro expressões ou um fluir de
várias emoções que aparecem de forma sequencial e que se traduzem pelas micro
expressões.
Dael et al (2003) diz que os movimentos e a postura corporal servem para
discriminar ou reforçar uma emoção que está a ser expressa na face, sendo que a
voz completa ainda melhor este padrao.
Scherer (1986) diz que a voz é o veiculo da expressão emocional, pois podemos
analisar do ponto de vista do conteúdo das palavras, do ritmo, do timbre e da
intensidade. Quando todos estes fatores se conjugam temos inclusivamente o
reconhecimento a partir da voz. O estudo “As cores da voz” foi um estudo que
realizou o reconhecimento emocional através da voz cantada.
O contexto e as pistas
As pistas contextuais são muito importantes porque apresentam informações do
contexto ajudando a completar o puzzle sobre qual a emoção expressa. No entanto,
estas pistas também podem ser conflituais e confundir-nos. A influência do
contexto pode ser desenvolvida através da descrição de situações sociais, imagens
com postura corporal ou gestos e manipulação de objetos, locais e fundos. Estas
informações contextualizam a face e reforçam a rapidez da interpretação da
situação e do reconhecimento da emoção.
Aviezer e a sua equipa fizeram um estudo sobre a influencia das pistas
incongruentes de modo a demonstrar que apenas a face não é, muitas vezes, o
suficiente para ocorrer o reconhecimento emocional. Neste estudos vimos que
numa das situações havia uma cara de tristeza num contexto de nojo, pois o sujeito
segurava um saco de lixo cheio.
Outro tipo de pistas contextuais são as pistas contextuais ampliadas ou reduzidas.
As frames, ou pistas contextuais ampliadas ou reduzidas, levam-nos a trabalhar
inicialmente com parte da imagem, sendo que depois há uma afastamento
progressivo das frames que vão relevando o contexto. Na doença mental grave, por
exemplo no caso da esquizofrenia e da depressão, as pistas são muito importantes,
pois há o comprometimento no reconhecimento de faces. Este detrimento de
capacidade não depende da idade do doente, mas há um agravamento da situação
em períodos de internamento ou de medicação intensa.
Também ainda nas situações de doença mental grave há um défice maior para o
reconhecimento de emoções negativas e um menor défice para alegria. Há também
uma grande dificuldade em focar no T facial e é por isto que há uma maior
necessidade de pistas do contexto, pois uma pessoa pode exprimir medo e o
doente interpretar como cólera e isto torna-se perigoso, pois pode retribuir de
forma ainda mais agressiva.
Há programas como o TAR (training affect recognition) que parecem melhorar o
reconhecimento em pessoas com esquizofrenia ampliando o contexto de emoção
através de pistas.

Stress, trauma e burnout


• Stress: acontece numa situação que avaliamos como importante sendo que
não podemos fugir dela, mas também não sabemos como a enfrentar devido
à falta de recursos. É uma emoçao intensa e geralmente negativa.

• Stress pós-traumático: é uma situação de stress intenso, percecionada como


uma ameaça grave à sobrevivência ou à normalidade. Há uma emoção
“congelada” que vai perdurando e agravando no tempo.
• Burnout: é uma resposta desadequada para gerir o stress ocupacional
crónico. Há uma necessidade de suprimir emoções no trabalho e expressar
outras.

Stress
Em 2019, a OMS classificou o stress como a epidemia de saúde do século XXI. O
stress é uma preocupação das instituições de saúde, pois está também na base do
trauma, burnout, ansiedade, depressão e gestão desadequada de emoções
negativas intensas.
Selye, um endocrinologista, dizia que o stress era uma Síndrome Geral de
Adaptação ou resposta aos agentes patogénicos, sendo uma resposta adaptativa do
organismo quando este perceciona uma ameaça real ou imaginária. Segundo este
autor existiam três fases:
1- Reação de alarme. Há a ativaçao do SNV, com resposta de luta ou fuga. No
entanto vale ressaltar duas nuances. Há emoções que permitiram a
sobrevivência face aos predadores, pois a cólera e o medo dão uma força
extra. Por outro lado, a fuga pode ser interna e há o “freeze”.

2- Quando o estimulo dura, a emoção obriga-nos a agir e entramos na fase de


resistência que é quando invertemos o estimulo stressor ou adaptamo-nos à
situação.

3- A nossa energia esgota-se para lidar com o estimulo stressor e então


entramos numa fase de exaustão e de stress cumulativo. O burnout, por
exemplo, é o acumular do stress.

Quando há mestria, o stress pode ser positivo, mas quando deixamos de o


controlar leva-nos à exaustão.
Este quadro apresenta quatros possibilidades que consideram a capacidade de
recursos e o nível de exigência da situação.
1. Quando temos muitos recursos e uma baixa exigência temos um baixo nível
de stress;

2. Quando temos muito recursos e uma alta exigência temos um individuo


ativo, com motivação para crescer e aprender. Há um desafio ótimo
(Eustress);

3. Quando temos poucos recursos e uma baixa exigência estamos numa


posição de passividade e neutralidade;

4. Quando temos uma situação com alta exigência e poucos recursos temos
uma situação de alto distress com risco de doença física ou psicológica e
uma ameaça de emoções negativas intensas.

Quando temos baixo stress não temos aquela


pressão a ter um bom desempenho o que pode
resultar em aborrecimento e depressão, pois
nada estimulado o individuo. Um exemplo disto
são aquelas pessoas que concluíram o ensinos
superior, mas que exercem cargos onde esses
conhecimentos são descartados. O stress
funciona como um estimulo, pois viver sem
stress é uma utopia. Devemos, no entanto,
trabalhar este stress para que saibamos gerir os
nossos recursos emocionais e adaptarmo-nos às
situações.
Mecanismos neurofisiológicos do stress
O stress traz vastas consequências para a nossa saúde. Algumas destas
consequências são:
• Dores de cabeça
• Insónias
• Azia
• Risco de ataque cardíaco
• Problemas de fertilidade
• Disfunção erétil
• Baixa libido
• Tensão dos músculos
• Níveis de pressão arterial e de açúcar no sangue mais elevados

Para além destas consequências ao nível físico temos também as consequências


nas esferas da mente, das emoções e do comportamento.
Mente:
• Preocupação
• Pesadelos
• Indecisão
• Negatividade

Comportamento
• Perca de apetite
• Mais vontade de fumar e beber
• Maior propensão a ter acidentes automobilísticos

Emoções
• Irritabilidade
• Apatia
• Alienação
• Apreensão
• Perca de confiança

Avaliação do impacto emocional

Temos uma primeira avaliação do


estimulo e do impacto emocional do
estimulo estressor. No stress há uma
interferência e uma segunda avaliação
dos recursos disponíveis e a efetividade
deles. A avaliação permite saber se o
nosso coping é adequado ou não para a
situação e isto permite avaliar o nível de
ameaça do estimulo.

Stress pós-traumático
O stress pós-traumático é associado a algumas características, nomeadamente:
• Evitamento do estimulo desencadeador
• Sintomas dissociativos
• Sentimento de culpa
• Reviver do trauma constantemente

Quando falamos de trauma falamos de acontecimentos que constituíram uma


ameaça grave para a vida da pessoa e que ultrapassam as experiências comuns. O
trauma não afeta apenas a vitima, mas também um observador e despoleta medo e
desespero intenso.
Há uma estimativa que 70% da população já experienciou um acontecimento
negativo e que 44% já experienciou mais do que um. Há uma tendência para que
20% da população mundial vai desenvolver esta patologia, no entanto, estudos
demonstram que a estimativa é mais baixa do que a provável realidade.
Na medicina, o trauma é “lesão provocada por um agente externo”. Na psicologia,
esta também é a nossa definição, mas há o acréscimo que o trauma é algo que
perturba o equilíbrio e que dificulta a nossa adaptação.
São vastas as situações que podem desencadear a PTSD, nomeadamente:
• Guerra (combatente ou prisioneiro): há uma fadiga provocada pela tensão
psicológica associada à permanência em cenários de guerra (neurose de
susto, choque de bombardeio);

• Refém, rapto, tortura, assaltos violentos, vitimas de violência

• Sobreviventes de acidentes rodoviários ou catástrofes naturais

• Depois do diagnostico de doença grave, na observação de cadáveres

Chamamos de “tirania do passado” porque é algo que já ocorreu, mas que continua
a despertar emoçoes negativas que não perdem a sua intensidade e que estão
constantemente na consciência.
Nos EUA, a PTSD é muito estudada devido ao enfoque nesta patologia durante as
Guerras Mundiais. Um estimulo é capaz de disparar memórias dolorosas. Há
também uma maior dificuldade em controlar a cólera e a existência de flashbacks
que prejudicam os relacionamentos sociais.

Diagnóstico da PTSD de acordo com o DSM-IV

• O sujeito experienciou, observou ou foi confrontado com acontecimentos


que envolveram ameaça de morte, morte real, ferimento grave ou ameaça
da integridade física de si ou de outros.

• A resposta do sujeito implicou um medo intenso, sentimento de falta de


ajuda ou horror.

• O acontecimento é revivido de forma persistente ou sob a forma de


lembranças intrusivas, pesadelos, sensação de estar a reviver a situação,
mal-estar físico ou psicológico quando confrontado com estímulos
semelhantes (ex: bombas e fogo de artificio), emoções negativas.
• Evitamento persistente de estímulos associados ao trama e embotamento
da reatividade geral (inexistente antes) e traduzida em 3 ou mais sintomas:
esforços para evitar pensamentos, sentimentos ou conversas associadas ao
trauma, esforços para evitar lugares ou pessoas que lembrem o trauma,
incapacidade para lembrar aspetos importantes do trauma, interesse
diminuído na participação de atividades significativas, sentir-se desligado
ou estranho em relação aos outros, gama de afetos restringida (sentir-se
incapaz de gostar dos outros), expectativas encurtadas em relação ao
futuro.

• Sintomas persistentes de ativação aumentada traduzida em 2 ou mais


sintomas: dificuldade em adormecer ou permanecer a dormir, irritabilidade
ou acessos de cólera, dificuldade de concentração, hipervigilância, resposta
de alarme exagerada

diagnóstico da PSTD de acordo com o DSM-V


Do ponto de vista do DSM-V vemos quatro agrupamentos diferentes do DSM-IV. De
acordo com o DSM-V os sintomas devem persistir mais de um mês após o evento
(embora possa ocorrer uma manifestação tardia, após 6 meses do evento; até um
mês é considerada uma reação normal a uma situação de stress agudo. São
agrupados em quatro categorias para definição do stress pós-traumático:
• Pensamentos intrusivos - reexperiência do acontecimento de forma
inesperada e involuntária, seja através de memórias frequentes, pesadelos
ou reações dissociativas/flashbacks em que a pessoa pensa estar de novo
no evento (numa situação grave de dissociação contínua, a pessoa pode
perder a noção da realidade como se estivesse a observar-se a ela própria).

• Evitamento - esforço para evitar recordações, pensamentos ou


sentimentos angustiantes sobre o evento ou associados a este, podendo
mesmo ocorrer a recusa de contacto com pessoas, locais, conversas,
atividades, objetos ou situações passíveis de despertar recordações do
evento. Pode ocorrer embotamento e anestesia afetivas (incapacidade de
sentir), fazendo a pessoa sentir-se diferente dos outros, “estranha [...],
morta para mundo”
• Pensamentos e humor negativos - alteração após o evento expressa na
incapacidade de recordar aspetos importantes do evento, crenças ou
expectativas negativas persistentes e exageradas a respeito de si mesmo,
dos outros e do mundo (ex: “o mundo é perigoso”) cognições distorcidas
persistentes sobre a causa ou consequências do evento traumático e nas
quais a pessoa se culpa a si mesma ou aos outros, estado emocional
negativo persistente (ex. medo, raiva, culpa, vergonha), diminuição do
interesse/participação em atividades significativas, sentimentos de
distanciamento em relação aos outros, e incapacidade persistente de sentir
emoções positivas.

• Hiperativação - reações fisiológicas intensas associadas ao mecanismo


instintivo de luta/fuga, momentos de irritação, raiva ou agressividade
contra pessoas/objetos, comportamento imprudente ou autodestrutivo,
hipervigilância, resposta de sobressalto exagerada, problemas de
concentração e perturbação do sono (sono agitado ou dificuldade em
iniciar/manter o sono). Existe uma incapacidade de modular o grau de
alerta, estando este sempre no nível máximo, o que faz com que o mundo
seja sentido como “hostil e perigoso” (Pereira & Monteiro- Ferreira, 2003,
p.58).

Até 1 mês após a situação ocorrer é normal que estas três classes de sintomas
(evitamento, ativação intrusão) possam ocorrer e neste caso falamos de uma
perturbação aguda de stress. Se as coisas persistem nos três domínios depois de
mês entramos num sinal de patologia.
PAS: três domínios menos de 4 semanas ou apenas 1 ou 2 domínios
PTSD: os três domínios durante mais de quatro semanas

Mecanismos da PTSD
• Fixação do trauma
Fracassa a cicatrização do organismo; não ocorre o envio do acontecimento
para a memória, retenção no presente e reviver dos detalhes.

• Intrusões
Emoções ou impressões somatossensoriais intensas quando a vítima está
em alerta ou exposta a situações que lhe recordam o trauma; flashbacks,
pânico, cólera, sensações corporais, pesadelos; um novo trauma reaviva o
anterior.
• Reexposição compulsiva ao trauma
Procura de situações com contexto que recorda o trauma; explicação
psicanalítica: reviver para tentar controlar, ciclo vicioso.

• Evitamento e embotamento
Afogados nas recordações; acordados visualizam e sentem as mesmas
situações, evitam tudo os que lhes recorde e sentem-se como estranhos,
“estar morto para o mundo”; embotamento porque esgotaram capacidade
de angustiar pela sobrecarga psicológica, ficam anestesiados, não reagem.

• Incapacidade de mudar o grau de alerta


Hipervigilante, vê o mundo como hostil, tudo o sobressalta e reage com
alarme exagerado; alexitimia (dificuldade em expressar o que sente).

• Dificuldade de processar informação


Não conseguem processar alternativas para tomar uma decisão, cérebro
ocupado em controlar reações de alarme ou com pensamentos intrusivos;
existe no momento algo que afeta a linguagem?

• Alterações permanentes na personalidade


A sensação de segurança desaparece, instala-se o medo; culpabilizam-se
pela situação, sentem vergonha e humilhação.

• Dificuldade em recuperar o controle sobre a sua existência – coping não é


eficaz, o sujeito não consegue atribuir significado.
Consequências da PTSD
1. Sentimento perturbado da paz interior que afeta a produtividade, os
relacionamentos pessoais e a qualidade de vida

2. Dificuldade de concentração

3. Diminuição da expressão emocional e disrupção nas relações pessoais

4. Problemas de saúde mental por pensamentos intrusivos, respostas de


alarme e pesadelos

5. Menor produtividade laboral e maior recurso aos serviços de saúde

6. Sobrecarga dos sistemas cognitivo e fisiológico, prejudicando as suas


estratégias adaptativas e tornando-as as instáveis; solidão e desproteção

7. Efeitos mais devastadores quando o trauma não é provocado por infortúnio,


mas por intenção humana, e pior ainda, por alguém conhecido.

As imagens tem um impacto emocional grande. Nos incêndios de 2017 temos a


questão daqueles que ficam com trauma sem sequer terem estado no local. A
exibição de violência gráfica causa.

Burnout
O burnout é o esgotamento, a exaustão emociona, a falta de realização profissional
e os erros no desempenho. Vemos o burnout como uma doença da moda que em
2019 foi reconhecida pela OMS como um fenómeno ocupacional. O burnout tem
impacto pessoal pelo presentismo, absentismo e pela diminuição de autoestima,
mas também a nível organizacional por que causa mais erros de desempenho o que
tem impacto na imagem da instituição. Muitas vezes há o cuidar do outro sem que
se cuide de si o que leva então ou ao burnout ou a depressão pelo trabalho. O
burnout pode ser sentido em todas as profissões, por exemplo, nos professor, nos
estudantes ou nos profissionais de saúde.
Diferenças entre três fenómenos
Stress Stress ocupacional Burnout

Stress experienciado em Resposta desadequada


contexto do trabalho para o stress ocupacional
(crónico e ao longo do
tempo)
Desequilíbrio entre as
exigências da situação e
os recursos disponíveis Experiência Maior intensidade
para a enfrentar emocionalmente emocional e tonalidade
negativa, caracterizada emocional negativa
por tensão, frustração,
ansiedade, irritabilidade

Ocupação versus. Exaustão emocional


Trabalho

O que é o burnout? O burnout é processo que ocorre ao longo do tempo pelo modo
de enfrentar o stress crónico no trabalho; culmina num estado do qual é difícil sair.
É um estado de esgotamento físico e emocional, erosão da alma do trabalhador (já
não aguento mais); esvaziar dos recursos perante as exigências constantes;
“explosão” no trabalho (comportamento atípico; choro e remorso após).

Stress ocupacional Burnout

Desequilíbrio entre exigências e Resposta desadequada ao stress


recursos cronico que vai esgotando as
capacidades

Sensação de controlo para diminuir o Lento drenar dos recursos


stress pessoais

Demasiado Insuficiente

Temporário Duradouro
Do ponto de vista teórico há dois nomes famosos: Maslach e Freudenberger. Estes
autores dizem que:
• O burnout pode surgir a meio da carreira profissional pelo envolvimento
em situações emocionalmente desgastantes;

• Qualquer pessoa pode ter stress, mas o burnout só pode ser experienciado
por quem entra para a carreira com ideias elevados, devido a uma
frustração do investimento pessoal e dos objetivos;

• O stress crónico no trabalho leva ao desgaste dos recursos e a uma sensação


de incapacidade de agir com o pretendido;

• Referenciado em profissões que assentam no trabalho com pessoas.

• Inicia-se com problemas físicos, depois intelectuais e desgaste emocional


acentuado. Há tendência para o isolamento e para a perca do valor pessoal;

• Rem consequências graves e prolongadas e afeta o desempenho pessoal e a


qualidade dos serviços prestados porque há uma perca de fe nas suas
capacidades

Dimensões do burnout de acordo com o modelo de Maslach, Jackson e Leiter


Este modelo fala de três dimensões:
1. Exaustão emocional
- esgotar progressivo da energia
- descanso do dia não chega para recuperar
- acorda já cansado e sem forças para novas tarefas
-esforço enorme para fazer o habitual
- sensação de desgaste e vazio

2. Despersonalização e cinismo
- desinvestir no trabalho para gerir a perda de energia
- afastar-se do trabalho porque tu stressa
- não se envolver, não ter ilusões
- pessimismo, postura fria e desligada
- diminui o desempenho, o bem-estar e a eficácia
- irritabilidade e desconfiança
3. Ineficácia ou realização pessoal diminuída
- falta de recursos pessoais para desempenhar a tarefa com qualidade
- sensação de fracasso
- afastamento dos colegas porque se sente cansado e incompetente
- diminuição das expetativas

Antes, pensava-se que o burnout dependeria do grupo profissional e do pais em


estudo. Acreditava-se ainda que o valor de profissionais com burnout rondava os 3
a 16%, mas este valor foi aumentando até os 50%.

Consequências do burnout e do stress – pt.2


Ao nível individual temos os problemas de saúde física e psicológica como a
depressão, ansiedade, agressividade, irritabilidade e risco de suicídio. Em termos
organizacionais vemos diminuição da qualidade dos serviços, erros nas tarefas e
no desempenho que resultam em absentismo e presentismo.

Estratégias de atuação
Podemos prevenir, monitorizar e tratar o burnout.
Prevenção Intervenção

Conhecimento dos sintomas Descanso forçado

Gestão do stress e conflitos na equipa Afastamento e regresso com cuidado

Apoio através de grupos de pares Psicoterapia

Serviços de saúde ocupacional Farmacologia

Identificação dos níveis Terapias complementares

Gestão adequada das emoçoes


Em termos de prevenção individual devemos mencionar:
• Estabelecer prioridades e aprender a gerir o stress;
• Tirar um tempo para si e fazer algo que goste;
• Não assumir os problemas dos outros;
• Evitar a culpa;
• Gerir as emoçoes negativas;
• Delegar tarefas e adotar uma perspetiva proativa;
• Delimitar fronteiras e saber dizer “não”;
• Ter uma boa alimentação;
• Fazer exercício físico;
• Ter um bom sono;
• Equilibrar a vida profissional com a pessoal

Reconhecimento emocional e regulação emocional


O reconhecimento emocional pode ser realizados em mim, mas também no outro.
Respetivamente ao primeiro tópico temos a regulação emocional e a dicotomia
entre emoções sentidas e suprimidas. No segundo tópico temos a interação social e
o ciclo de reconhecimento e expressão.
A expressão emocional e o reconhecimento emocional são importantes na
interação social, pois orientam os observadores no sentido de respostas. Há um
ciclo constante num processo de permanente modificação o que implica adaptação
constante.

Função das emoções


As emoções servem para o coping e para a interação social.
1. Coping
- A emoção dá prioridade a diferentes formas de atuação para otimizar a
capacidade dos indivíduos se ajustarem às mudanças do meio;

- Emoçao prepara-nos com uma resposta automática e imediata;

-Todas as emoções são benéficas porque dirigem a atenção e canalizam o


comportamento
2. Interação social
- Comunicar sentimentos aos outros
- Influenciar como os outros interagem connosco
- Facilitar interações sociais
- Criar, manter e terminar relações

Expressão das emoções


Quando falamos da expressão falamos se ela é adaptativa, útil e eficaz ou
prejudicial. O processo de regulação é difícil devido às complexidade das
capacidade associadas ao reconhecimento da emoção, aceitação da mesma e uso
quando possível e continuação do funcionamento apesar dela. Há pessoas cuja
regulação não é bem feita e ficam de tal forma sobrecarregadas que são incapazes
de a gerir, deixando-se dominar.
Pires (2004) diz que quando temos a emoção da ansiedade há uma preocupação
baseada numa avaliação. Associado a isto temos uma sensação corporal, por
exemplo o batimento cardíaco aumento, e a pessoa vai-se focar na competência, ter
sentimentos em relação à vida e dessa forma pode-se tornar numa pessoa agitada.
Devemos saber lidar com a emoção para levar a uma redução da sua intensidade.

Regulação emocional
Quando falamos no processo de regulação falamos de um processo em que a
pessoa procura determinar qual a emoção a experienciar, quando e como se
expressa publicamente de que forma observável. Porque é que devemos regular as
emoções? Porque são o resultado de um processo de avaliação e de significado do
acontecimento para os objetivos e bem-estar da pessoa e diferentes estratégias
possuem impactos diferentes. A regulação das emoções pode ter uma motivação
hedónica ou instrumental sendo que nesta segunda distinguimos os motivos pro
sociais, os motivos de autoproteção e o motivo de gestão das impressões.
A regulação emocional pode ser definida como uma habilidade para a interação
social, influenciando o comportamento e a expressão emocional. Tem sido definida
como um conjunto de estratégias conscientes e/ou inconscientes para manter,
aumentar ou diminuir um ou mais componentes da resposta emocional, incluindo
os sentimentos, comportamentos e respostas fisiológicas que constroem as
emoçoes. A regulação é afetada por diferenças individuais e existem
inclusivamente patologias que se caracterizam pela persistência das emoçoes
negativas resultantes da dificuldade ou incapacidade de regulá-las.
As emoções teriam inicio com a avaliação de pistas emocionais de origem interna
ou externa e quando fazemos uma avaliação muito imediata da pista emocional
vamos ter uma resposta emocional que dispara e que nos permite sobreviver e que
está condicionada com a experiência prévia. Quando o inicio da emoção acontece
ainda vamos a tempo de a modular e regular. Como as emoçoes são disparadas a
todo o momento, as estratégias de regulação podem ser distinguidas em termos de
quando surgiriam durante os processos de geração da emoçao.

Situação – atenção – avaliação – resposta: regulação da emoção de acordo com este


ciclo

Gross falava-nos do conceito de regulação antecedente a resposta, ou seja, antes da


expressão da emoção inclusivamente. A regulação funciona como um travar a
tempo e é uma modificação na maneira como a interpretação cognitiva é
construída de modo a diminuir o impacto emocional de uma situação antes que as
tendências às respostas emocionais se tornem ativas. Há uma focalização na
resposta emocional e à medida que vamos tendo um domínio cognitivo este travar
torna-se mais fácil. Outra forma de regulação pode ocorrer depois da expressão da
emoção, por exemplo tentar inibir a expressão mesmo estando a acontecer.
As estratégias de regulação que têm um inicio em fases mais precoces do processo
de geração da emoçao produzem resultados diferentes daquelas que atuam mais
tardiamente.

Estratégia de regulação emocional de Gross


Antes da situação podemos tomar medidas para perceber quais as emoções
prováveis que vão surgir. Há a seleção da situação para evitar a revelação de
determinadas emoções. Quando já esta a acontecer podemos tentar modificar a
situação, ou seja, há uma tentativa de resolver os problemas e são feitos esforços
para estabelecer o controle e procura de apoio social (vou passar a palavra para o
representante do grupo). Quando estamos no “durante” podemos mudar o foco
atencional dentro da situação, mas também podemos fazer uma reavaliação.
Quando já acontece a situação fazemos a supressão do pensamento sobre o
momento.
1. Reavaliação cognitiva: altera os componentes da emoçao
2. Supressão: atua na expressão da emoçao

Consequências cognitivas:
- supressão mais exigente cognitivamente
- foco dirige-se a aspetos internos e reduz a capacidade de codificar os
acontecimentos externos
- aumenta a auto-monitorização

Consequências sociais:
- a supressão distrai a pessoa da interação e do outro interlocutor
- esconde os sentimentos, motivos e intenções do individuo tornando a interação
mais stressante
- pode ter efeitos benefícios em situações especificas.

Outras estratégias:
• Exercícios de relaxamento ou exercício físico
• Distração temporária
• Manipulação das emoçoes
• Mindfulness
• Identificação e rotulação das emoçoes
• Normalização das emoçoes
• Perceção da temporalidade das emoçoes
• Exploração das emoçoes como meta
O uso das estratégias vai variar de acordo com o tipo de problema. Se a sensação é
de agitação problemática devemos utilizar o relaxamento e o mindfulness. No
entanto, se for uma sensação insuportável devemos usar a restruturação cognitiva
ou a resolução de problemas.

Desregulação emocional
A desregulação emocional pode manifestar-se por:
• Intensificação excessiva das emoçoes
• Desativação excessiva das emoçoes – despersonalização, desrealização,
entorpecimento emocional em situações onde seria expectável que as
emoçoes fossem sentidas com alguma intensidade;

A regulação emocional depende da pessoa e da situação e permite enfrentar ( to


cope) a situação e as emoçoes que desencadeia.

Coping
O coping é o enfrentar e o lidar. Consiste em esforços cognitivos e
comportamentais que procuram dominar, reduzir ou tolerar uma situação criada
por um fator stressor. Envolve a elaboração de estratégias de coping e de estilos de
coping. Perante uma situação critica há um mal-estar. Face a essa situação há uma
analise do contexto, dos recursos, das experiências prévias, dos riscos associados,
etc. que levam a uma reavaliação secundária e a escolha da estratégia de coping.
Sumariando, o coping é concebido como um conjunto de estratégias utilizadas
pelas pessoas para se adaptarem a circunstâncias adversas.
O coping nasceu enquanto fenómeno teórico da psicologia e o conceito deste dizia
que cada pessoa tinha as suas estratégias que levava até o resto da vida. Este
estudo via o coping enquanto algo estável e o seu estudo era feito muito na
vertente da dicotomia entre saúde e patologia, servindo como um mecanismo de
defesa. Na década de 60-80 este conceito explode e Lazarus fala-nos do coping
como transação entre a pessoa e o contexto e que depende das cognições, traços de
personalidade e da avaliação situacional. Mais tarde, já na década de 80 já falamos
que o ambiente não explica tudo na forma como lidamos com a situação e é
mencionado novamente os traços de personalidade que, supostamente, tornariam
as pessoas mais propensas a lidar melhor com a regulação emocional.
Susan Folkman foi uma das parceiras de Lazarus. No modelo transacional do stress
e coping de Folkman e Lazarus vemos a seguinte ordem: depois do contacto com o
estimulo stressor temos uma primeira avaliação entre o desafio e a ameaça.
Associado ao desafio temos uma ambiguidade entre o positivo e o negativo, o medo
e o entusiasmo. No entanto, se o estimulo for percebido como uma ameaça é feita
uma segunda avaliação para compreender se temos recursos suficientes para lidar
com a situação e isto culmina na distinção entre stress negativo ou stress positivo.
Partimos sempre do meio e da avaliação para saber se a situação é positiva,
negativa ou relevante. A segunda avaliação é mais cognitiva enquanto que a
primeira é mais instintiva.

Evolução do conceito de coping


Numa primeira fase, onde predominava a perspetiva psicanalista, o estilo de
coping defensivo era associado a uma patologia. Mais tarde, já numa segunda fase
vemos o coping enquanto um processo hierárquico onde há algo que passa por
diferentes etapas. A terceira fase visiona o coping como um processo que se altera
pelo contexto no sentido de ser adaptativo eficaz para gerir a situação.
Os estilos de coping influenciam as estratégias de coping (cognitivas, emocionais
ou comportamentais) que vamos utilizar e são desenvolvidos desde cedo numa
tentativa de adaptação ao esquema, de modo a lidar com as emoçoes que vão
sendo desencadeadas. Todo o organismo tem três respostas básicas que são fugir,
lutar ou congelar.
As diferenças no estilo de coping devem-se a diferenças inatas de temperamento e
a experiencias de identificação e modelação paterna e materna, ou seja, dependem
de como fomos socializados. As estratégias permanecem na vida adulta, mesmo
quando não mais adaptativas.

Como medir o coping?


Como medir o coping? Há imensos estudos sobre a medição do coping. Existe um
questionário chamado de “Ways of coping” que nos diz qual o tipo de coping
associado a uma pessoa através das resposta dadas.
O instrumento mais famoso é o “Brief Cope” que nos fala de 14 tipos de coping.
1. Coping ativo
Iniciar uma ação ou fazer esforços para remover o stressor
2. Planear
Pensar sobre o modo de se confrontar sobre o stressor e planear os esforços
de coping ativos

3. Utilizar suporte instrumental


Procurar ajuda, informações ou conselhos

4. Utilizar suporte social emocional


Conseguir simpatia ou suporte emocional de alguém

5. Religião
Aumento da participação em atividades religiosas

6. Reinterpretação positiva
Fazer o melhor da situação, crescendo dela e vendo-a de modo mais
favorável

7. Auto-culpabilização

8. Aceitação

9. Expressão de sentimentos

10. Negação

11. Auto distração


Desinvestimento mental do objetivo em que o stress est a interferir

12. Desinvestimento comportamental


Desistir ou deixar de se esforçar na tentativa para alcançar o objetivo

13. Uso de substancias

14. Humor
Estratégias de coping
Como exemplos de estratégias temos as de evitamento que estão relacionadas com
a negação e a crença baseada na realidade do desejo e as de aproximação que são
tomar medicação, procurar um medico, descansar ou conversar com amigos e
familiares. As estratégias de coping são uma tentativa de reestabelecer aquilo que
é a normalidade saudável. Há mais estratégias como os pensamentos positivos, p
conhecimento de que se possui conhecimentos específicos para resolver a situação,
as capacidades sociais e o apoio social.

Tipos de coping:
Há mais tipos de coping que os definidos pela escala acima mencionada. Alguns
tipos de coping são:
- Focar nos nossos sentidos: modificação das sensações corporais através do toque,
som, audição, olfato e paladar;

- Distração: ler livros, fazer puzzles, croché, ver filmes, etc.

- Ação oposta: fazer algo que vai contra os nossos impulsos e que é mais
consistente com uma emoçao positiva

- Mindfulness: meditação, yoga, exercícios de respiração

- Consciencia emocional: uso de um diário, fazer uma lista das emoçoes

- Plano de crise: contacto com família, amigos, 122, etc. para quando as estratégias
de coping não funcionam

Há três grandes dimensões do coping: evitamento, foco no problema, foco na


emoçao.
Coping e inteligência emocional
A inteligência emocional é a habilidade para controlar os sentimentos e emoçoes
em si mesmo e nos demais, discriminar entre elas e usar essa informação para
guiar as ações e os pensamentos. A IE implica o reconhecimento de quem somos e
aquilo que fazemos. As nossas competências em termos de inteligência emocional
tem quatro esferas:

Há um ciclo, pois quem tem mais inteligência emocional utiliza estratégias focadas
na resolução de problemas e não estratégias na gestão inadequada das situações. O
coping focado na tarefa e não nas emoções, faz com que o foco atencional seja
desviado para uma estratégia ativa.

Interligação de conceitos
A ligação entre coping, stress, emoçoes e inteligência emocional é muito complexa
de tal forma que as estratégias podem ser adaptativas, mas também disfuncionais
como é o exemplo da comida de conforto. As emoçoes motivam e modificam
comportamentos, no entanto é necessário termos uma boa regulação emocional de
modo a que elas sejam adaptativas e não disfuncionais.
Abordagens sociocognitivas da emoção
Existem diferentes abordagens para explicar as emoções e aquelas que são mais
complexas utilizam a abordagem sociocognitiva.

Recapitulando
Recapitulando, a emoção é u, fenómeno afetivo intenso, rápido no tempo, que
interrompe a ação e muda a forma de pensar, sentir e agir. A emoção tem uma
componente fisiológica, com expressão na face e no corpo, mas que depende da
avaliação da pessoa no contexto. Por sua vez, o reconhecimento emocional com
atribuição de significado à expressão do outro, com ou sem ajuda das pistas, leva a
uma consequente reação.
O stress pode ser visto enquanto o desequilíbrio entre as exigências e os recursos
numa situação avaliada como importante e que leva a alterações fisiológicas,
cognitivas e comportamentais.
Por sua vez, o coping são os esforços cognitivos e comportamentais para modificar
um estimulo agressor e estados emocionais aversivos, sendo que as estratégias de
coping podem ser focadas na tarefa, na emoçao ou no evitamento.
A regulação emocional é vista como um processo em que a pessoa procura
determinar qual a emoçao a experienciar, quando e como se expressar, o conjunto
de estratégias conscientes e inconsciente para manter / aumentar ou diminuir
componentes da resposta emocional, incluindo sentimentos, comportamentos e
respostas fisiológicas que constroem as emoçoes.

Emoção e cognição
A ligação entre a emoção e a cognição tem suscitado o interesse dos cientistas ao
longo do tempo. O debate principal era: o que acontece primeiro? Emoção ou
cognição?
Descartes e Pascal falam um pouco sobre este debate. Segundo Descartes, haveria
um acontecimento, a perceção do estimulo a cognição e depois a emoção, enquanto
que para Pascal, os dois últimos passos estavam invertidos. Há uma oposição ao
racionalismo puro e uma associação ao coração que seria responsável pelas
sensações.
Modelos do comportamento
Há modelos sobre o comportamento que atribuem importância apenas à cognição
ou apenas à emoção, no entanto, existem outros modelos que fazem uma
interligação entre estes dois processos sendo que existem modelos que incluem a
perceção. A cognição afeta a emoção na autorregulação e na interpretação dos
estímulos, mas a emoção também afeta a cognição porque influencia a nossa
perceção, a nossa memória, a capacidade de decisão e correr riscos e também de
desempenho.
A perspetiva atual vê a emoção como mediadora da cognição e do comportamento.
Temos a mente, o nosso corpo biológico e o contexto (interno ou externo) que são
os três níveis onde teremos a emoção, a cognição e o comportamento.
Quando fazemos a ligação entre a emoção e a cognição enquanto processos
distintos, estamos, ao partir da emoção, a utilizar a emoção como um guia para
avaliar o estimulo num sentido de perceber se ele nos traz prazer/desprazer,
utilidade ou ameaça, beneficio ou prejuízo, gosto ou não gosto. Quando falamos do
processo cognitivo ele avalia a complexidade da situação para fazer compreender
se vamos precisar de enfrentar/lutar ou fugir, dando atenção ao estimulo,
avaliando-o, utilizando a memória para saber se já vivenciamos uma situação
semelhante ou não e a linguagem, nem que seja simbólica para atribuir um nome a
coisa.
Este processo complexo pode funcionar em dois sentidos dependo das pessoas
1. Esquema bottom-up effect: partimos da perceção, do estimulo, da avaliação
direta, quase num instinto que nos faz reagir muito rapidamente Ativação
das estruturas cerebrais e neuronais mais básicas. Reação rápida ao
estimulo.

2. Top-down effect: de cima para baixo onde podemos ter o ponto da


regulação emocional onde vemos se há um contexto com significado, a
memoria a que associamos, a interpretação que fazemos e a capacidade que
temos de controlo.
Se utilizarmos uma perspetiva mais complexa, não há uma relação imediata,
simplista e direta entre a emoção e a cognição. Há toda uma relação complexa com
passos e processos sucessivos.

Do ponto de vista teórico há imensa bibliografia, sendo que todos os estudos estão
bem fundamentados. Do ponto de vista da interação podemos classificar as
diferentes teorias das emoções em:
- psicofisiológicas (alterações fisiológicas desencadeiam emoçoes)
- neurológicas (atividade cerebral desencadeia respostas emocionais)
- cognitivas: (pensamentos desencadeiam e alteram as emoçoes)

As teorias cognitivas e socio-cognitivas


Segundo estas teorias:
• Cognições provocam alterações fisiológicas e comportamentais
• Emoçoes são fundamentais na interação social
• Pistas internas e externas permitem identificar e nomear as emoçoes
sentidas
• Emoçao e cognição têm uma inter-relação complexa e com influencia mútua
• Pensamento deve ocorrer antes de experimentar emoçao.
• A sequência seria: estimulo, pensamento, experiência simultânea de
resposta fisiológica e emoçao.
Contributos
1. Maranon: diz-nos que a emoção resulta de um corpo físico e psicológico em
simultâneo. Ele partiu de estudos de adrenalina na nossa capacidade
ativação e resposta rápida. O psicológico associa alterações fisiológicas a
uma emoçao especifica. A emoção depende da experiência subjetiva.

2. Bull: A emoção seria mediada por atitude ou preparação para responder,


com movimentos involuntários ou incompletos que a consciência orienta e
executa. A emoção resulta da quase consciência desta prontidão.

3. Arnold: Vê a emoção como resultado da avaliação da situação; esta


completa a perceção e provoca uma tendência para fazer algo; memória ou
imaginação desencadeiam emoção e ação mais rápida.

4. Schachter: A emoção resulta de cognições; as alterações fisiológicas são


interpretadas e classificadas cognitivamente atribuindo-lhe uma origem
com base numa perceção; a interpretação pode intensificar a emoção.

5. Siminov: Quando não se pode completar um objetivo por falta de


informação são desencadeadas emoções negativas, se existe excesso de
informação surgem emoções positivas; mais do que avaliar como
dor/prazer é importante a decisão de fugir/lutar.

6. Leventhal: Vê a importância da interpretação do estimulo, expressão da


emoção e desencadear de sensações, perceção de alterações fisiológicas,
sistema de ação ou comportamentos, atribuição de significado; importância
da memória em situações semelhantes e da relação sensação-perceção-
motricidade; processamento da informação.

7. Bower: Emoções ligadas a situações relevantes, conjugando ideias,


alterações fisiológicas, padrões musculares, expressões, criando “unidades
”-nódulos (emoção) que se podem interligar e ser ativados por estímulos
internos ou externos; rede de afetos; ligação humor/memória de forma
coerente (evento negativo e humor triste).

8. Oatley e Johnson-Laird: Emoções coordenam planos e objetivos de uma


pessoa, mas também interferem em planos mútuos; interação social através
de expressão emoções e reconhecimento, interação sucessiva.

9. Lazarus: Avaliação dos estímulos e padrão da emoção a nível


comportamental, fisiológico e cognitivo/subjetivo como forma de
coping/enfrentar; reavaliação cognitiva e ajustamento da ação.
10. Ellsworth: Importância da avaliação do estimulo, mas sequências diferentes
que complexificam o processo. Por exemplo,
estimulo/interpretação/emoção/comportamento ou
estímulo/comportamento/emoção/interpretação.

11. Frijda: Avaliação primária focada no significado emocional do estímulo e


avaliação secundária focada na emoção daí resultante; avaliação
“automática”, não consciente e rápida; mutação constante e avaliação da
emoção pode gerar novo estímulo.

Relação entre cognição-emoção


1. Zajonc – emoção separada da cognição e antes desta.

2. Lazarus – emoção e cognição interdependentes e quase simultâneos.

3. Kiesler – reações emoções simples como sistema independente, mas a


maioria das emoções é complexa e implica relação cognição/emoção num
sistema único. Kiesler dizia que as reações emocionais simples seria um
sistema independente, mas a maioria das emoções é complexa e implica
relação cognição / emoção num sistema único.

4. Leventhal e Scherer – fase inicial com sensação-comportamento (instinto e


emoção antes de cognição); fase mais evoluída emoção e cognição
interdependentes e relacionadas com o significado da avaliação e memória
anterior, modificação constante e avaliação precede emoção.

5. Lazarus e Smith – conhecimento e avaliação como cognições, mas avaliação


atribui significado pessoal e para o momento (objetivos) e o conhecimento
sobre como funciona algo afasta-se da emoção.

6. Parrot e Sabini – inter-relação emoção cognição, mas emoção também


afetada por influências não cognitivas (ex: sensoriais como intensidade do
estímulo);
Exemplos:
Os bebés na presença de um estímulo demonstram imediatamente uma emoção,
no entanto, nos adultos pode haver um crescente evoluir da emoção devido a
pistas. Lazarus diz que a emoção pode ser desencadeada antes da cognição de uma
forma mais primitiva e instintiva, mas que, geralmente, há uma avaliação cognitiva
que antecede a ação.

Teorias ambiciosas
A Teoria Diferencial das Emoções de Izard apresenta 11 emoções e diz-nos que:
- A emoção associada a alterações fisiológicas;
- A experiência subjetiva
- O comportamento expressivo e a resposta instrumental a um estimulo
- Os aspetos inatos e adquiridos da emoção são traduzidos em padres de respostas
emocionais cognitivas e motoras
- Há influência social
- Emoções associadas ao comportamento e influenciando este de forma
diferenciada a todos os níveis
-Emoção como fenómeno afetivo complexo que ocorre durante o desenvolvimento
do ser humano;
- Componente cognitiva existe quando a aprendizagem e experiência geram
representações mentais que permitem comparar e discriminar

Há emoções onde a componente cognitiva tem maior impacto e em outras menor.


Há a importância das emoções enquanto inatas ou aprendidas, sendo que a
influência social permite-nos construir padrões de respostas. Há um contexto
permanente de interação social
Papel social da emoção - sociocognitivo
A interação e interpretação dependem da aprendizagem e da integração num
contexto social. Oatley diz que o que aprendemos ajuda na construção das emoções
e que o nosso desenvolvimento em sociedade também molda as nossas emoções.
Ratner, por sua vez, diz que que a biologia permite a emoção e prepara para a ação
com o desencadear de reações fisiológicas, mas é a cultura que desencadeia a
emoção concreta em si. Por fim Levenson diz que há uma função social das
emoçoes que nos ajudam na aproximação, rejeição, ajuda, pena, cólera, etc.
Conteúdos socialmente aprendidos produzem avaliações que, por sua vez,
desencadeiam emoçoes. O autoconhecimento da emoçao em função dos objetivos
do individuo (bloqueia ou facilita), tem importância do pensamento e das
capacidades cognitivas.

Conceções pessoais de inteligência


Contextualização
As teorias da motivação que falamos anteriormente focaram-se no passado ou no
futuro, esta foca-se no presente, isto é, enquanto que a:
a) Teoria Atribucional analisa os acontecimentos passados;
b) Teoria da Avaliação Cognitiva antecipa potencialidades da tarefa para o
exercício da competência;
c) Teoria da Autoeficácia antecipa a possibilidade de controlo sobre os
acontecimentos do futuro

A Teoria das Conceções Pessoais da Inteligência foca-se mais nas mudanças do


comportamento enquanto as tarefas estão a ser realizadas. Esta teoria passa de
uma perspetiva retrospetiva para uma perspetiva presente e tem subjacente a
ideia de que as pessoas desenvolvem crenças que organizam o seu mundo, dao
significado às experiências e orientam o seu comportamento. A palavra crença,
neste sentido, surge do termo mindset do inglês.
Recapitular
Já sabemos que a motivação pode ser definida como um comportamento que é
orientado em função aos objetivos. É adaptado em função do valor que atribuímos
a esses objetivos. Os fracassos podem ser vistos como ameaçadores ou não
dependendo do indivíduo e da sua vulnerabilidade.

Estudo das conceções pessoais – desistir ou persistir?


Perante um desafio muito complicado há duas formas de nos sentirmos. Na
primeira posição, podemo-nos sentir “burros” porque demoramos a chegar até a
uma resposta, no entanto, também nos podemos sentir espertos porque fomos
persistentes e eventualmente conseguimos ou estivemos perto. Estas duas
abordagens serão a chave para as duas conceções pessoais que esta teoria
preconiza, ou seja, esta teoria diz-nos que há uma conceção mais estática da
inteligência e outra mais dinâmica.
Esta teoria e há semelhança de outras, emergiu com preocupações escolares e
surgiu da constatação de que alguns alunos desistiam precocemente face a
dificuldades enquanto que outros persistem. Carol Dweck queria compreender
como funcionavam estes cursos de ação e de que forma as crenças orientam o
comportamento.

Estudos percursores
Carol tentou identificar quais as cognições, emoções, comportamentos que as
crianças associavam ao fracasso. As suas experiências iniciais foram desenvolvidas
da seguinte forma. As crianças foram selecionadas e testadas inicialmente para
saber se tendencionalmente eram desistentes ou persistentes (avaliadas também
nos níveis de competição para garantir a igualdade).
Depois desta avaliação elas iam para um ambiente não escolar e eras-lhe dado um
cartão com uma imagem, sendo que a criança tinha de reproduzir essa imagem
através da associação de cubos. Inicialmente existia uma serie de 8 problemas
fáceis e depois desse primeiro conjunto era dado um segundo conjunto de
problemas muito difíceis ou insolúveis. Posteriormente era-lhes pedido que
verbalizasse o que estava a pensar e a sentir. Depois deste exercício era dado
novamente um conjunto de problemas acessíveis. A análise do discurso dos
estudantes permitiu identificar dois padrões diferentes.
Alunos Persistentes Alunos desistentes
Padrão orientado para a mestria Padrão orientado para o abandono
Persistência Desistência
Manutenção do nível de realização Redução do nível de realização
Tentativa de resolução do problema Abandono precoce
Atenção centrada no problema Atenção centrada no ego
Estratégias de maior qualidade Estratégias rígidas
Atribuições ausentes Atribuições para a incapacidade
Ativaçao do comportamento Inibição do comportamento
Aumento do esforço / atenção Minimiza o papel do esforço
Discurso de auto-encorajamento Discurso de auto-desvalorizaçao
Pensamentos irrelevantes, temem
Autoinstrução avaliação publica
Recordação de sucessos anteriores Recordação de fracassos anteriores
Afetos positivos Afetos negativos como vergonha
Utilização de reforços intrínsecos Bloqueio dos reforços intrínsecos
Expetativas positivas Expetativas negativas
Avaliação do desempenho positiva Avaliação do desempenho negativa

No Padrão 1 há atribuições a incompetência, rememoração dos fracassos e


minimização do sucesso, desvalorização do papel do esforço, tinham dificuldade a
resolver os primeiros desafios depois do momento de fracasso, afetos negativos
como ansiedade, vergonha, triste, baixa autoestima e preocupação com as opiniões
dos outros e imagem pessoa.
No Padrão 2 face ao fracasso não fazem atribuições depreciativas, pensam mais em
como resolver, verbalizam estratégias e experimentam-nas, aumentam o esforço,
discurso mais positivo e de encorajamento e têm expetativas mais positivas face ao
futuro desempenho

Padrões de realização
Estes dois padrões foram confirmados em contexto escolar habitual de crianças,
adolescentes e universitários. Os padrões não estão associados nem ao nível de
capacidade efetivo, nem com a sorte nem com os resultados escolares anteriores.
Estes padrões surgem depois de uma situação de confronto com o fracasso. O
padrão de abandono também existe em estudantes ditos brilhantes, no entanto,
pode é ser mais difícil de identificar por estarem menos confrontados com
situações de fracasso.
Dweck procurou relacionar como um obstáculo pode ser visto de forma tão
diferente pelas diferentes pessoas, chegando à conclusão de que há uma
valorização de objetivos diferentes, objetivos que estarão depois relacionados com
as duas teorias implícitas.
Enquanto que para alguns uma tarefa é vista como uma oportunidade para ganhar
novas competências, para outros é uma oportunidade de mostrarem o quão
competentes são. Para uns, as tarefas ideais são as fáceis para si e difíceis para os
outros enquanto que para os outros é algo onde se pode aprender algo novo,
mesmo que não obtenha bons resultados. Estes últimos, valorizam mais a
aprendizagem do que o sucesso. Ambos os tipos de objetivos são partilhados pela
maioria dos alunos, no entanto, o problema coloca-se quando os objetivos são
conflituosos e há que escolher um para decidir. Quando temos de escolher uma UC
optativa, por exemplo, temos de escolher entre mostrar a nossa competência ou
escolher a aprendizagem de algo novo, útil e importante, mesmo que essa escolha
nos faça parecer menos inteligente. O ideal seria conciliar ambos, mas quando
temos de escolher o que é que nos faça optar?

Padrões: mestria ou abandono


Objetivos: performance ou aprendizagem
CPI: estática ou dinâmica

Forma como as diferentes CPI afetam a realização de tarefas


TEORIAS ACERCA DE SI
O passo seguinte da teoria foi perceber as orientações mais compreensivas que
orientam estes objetivos. De acordo com Dweck, a escolhe dos objetivos quando
eles se encontram em concorrência depende da CPI que o individuo tenha.

ESTUDOS EMPIRICOS
Alguns alunos do 8º ano tiveram as suas conceções avaliadas previamente e,
posteriormente, foi-lhes dada a opção de escolher uma de três tarefas.
Tarefa A – objetivo de performance – tarefa muito facil
Tarefa B – objetivo de performance – tarefa difícil para mostrar capacidade
Tarefa C – objetivo de aprendizagem
Os resultados demonstraram que 82% dos alunos com uma CPI estável escolhiam
tarefas de performance e que 61% dos alunos com uma CPI dinâmica escolheram
as tarefas de mestria. Vimos que os estudantes teriam escolhas de objetivos
distintos dependendo da sua CPI. Estudos subsequentes mostraram que isto é
estável para outras idades e que pessoas com CPI estável tendem a não fazer
formações extras para não revelarem aquilo que eles menos sabem.
CPI
Qual a sua prevalência? A prevalência é bastante idêntica sendo que 40% dos
indivíduos têm uma CPI estável, 40% dinâmica e 20% indefinidos, sendo que não
há relação entre o tipo de CPI e o nível efetivo de inteligência. Será que é possível
termos uma conceção estática num traço e mais dinâmica noutra? Há conceções
diferentes e focando até em domínios particulares. Por exemplo, a capacidade
matemática tende a ser vista como mais estável e a verbal mais maleável. As
conceções dinâmicas podem ser mais benéficas e por isso podemos tentar mudar
as conceções de estáticas para dinâmicas. Há uma abordagem que faz a indução
experimental dos dois tipos de CPI.
Numa situação experimental era dado aos alunos uma brochura com referências a
diferentes personalidades e os seus traços:

Alguns alunos liam o laranja que mencionava o esforço e o desempenho das


celebridades e outros liam o branco que apelava mais aos traços estáticos. Depois
de lerem as biografias foram dadas tarefas onde existiam objetivos de mestria ou
objetivos de desempenho. A indução afetou os objetivos escolhidos.
CPI e padrões de realização
Uma conceção dinâmica leva as pessoas a fazerem escolhas com mais potencial de
aprendizagem. Será que há uma relação entre a CPI e o resultado académico? Sim.
Por um lado, alguns estudos longitudinais, verificaram que os alunos que tinham
uma CPI dinâmica tinham um desempenho mais positivo. Parece haver um aspeto
positivo de uma CPI dinâmica em termos afetivos, comportamentais e de
desempenho. No entanto, não é uma relação linear. Há alunos ditos brilhantes que
poderão ter uma CPI estática e um desempenho elevado. O que parece estar em
causa é auto perceção de competência. Estes alunos brilhantes com uma CPI
estável têm uma perspetiva de competência elevada e por isso o seu risco de
fracasso é mais baixo.
As pessoas com um elevado autoconceito de competência parecem adotar um
comportamento mais orientado para a mestria de persistência e de não desistência
face aos erros. Pessoas com um baixo autoconceito têm como grande propósito que
as pessoas façam juízos de valor sobre as suas competências e, por isso, há o
evitamento que os leva a desistir ou a escolher tarefas mais fáceis.
A vulnerabilidade face as ameaça de fracasso explicam a diminuição dos resultados
escolares dos alunos com uma CPI estática, o que pode explicar o padrão de
abandono. A CPI estática está associada a resultados escolares mais negativas, mas
isto só afeta os que têm um autoconceito baixo.
Impacto destas CPI
• Desempenho
• Objetivos
• Crenças de esforço
• Atribuições
• Estratégias
• Classificações
• Autoestima

Desenvolvimento das CPI


Chamamos de conceções pessoais aos construtos organizadores sobre vários
atributos do indivíduos. Esta visão estruturante orienta os comportamentos e as
ações das diferentes pessoas. As conceções dinâmicas parecem ser mais uteis para
ultrapassar situações de insucesso porque têm uma visão mais positiva e
construtiva dos obstáculos.
Inicialmente pensava-se que as crianças em idade de pré-escolar estavam
protegidas dos efeitos do insucesso porque mesmo quando elas não conseguem
fazer uma tarefa, demonstram-se envolvidas e persistem. O que as experiências
demonstraram foi que isto pode não ser bem assim. Estes estudos foram
importantes, pois, por um lado, é difícil avaliar crianças pequenas com
procedimentos mais clássicos. E, por outro, muitas das tarefas experimentais não
era familiares e significativas e o tipo de perguntas nem sequer era compreendido
por elas, pois era complicado numa idade tao precoce fazerem apreciações sobre
as suas competências. Assim sendo, tendencialmente, as crianças pequenas
interpretam o seu sucesso através da reação de adultos como os pais ou
educadores, não tanto em função da sua capacidade intelectual.
Dweck e colaboradores implementaram um conjunto de procedimentos para
colocar em evidência os padrões de realização. Com crianças com 3 anos e meio e
outras mais velhas (4 – 5 anos), era-lhes dado puzzles de madeira com o desenho
da banda desenhada mais famosa da época. Estes puzzles deveriam ser feitos em
conjuntos de 4, onde os três primeiros eram difíceis, de modo a causar o estado de
insucesso, e o ultimo seria o fácil. Após os 4 puzzles questionaram as crianças
sobre qual puzzle queriam fazer de novo e porquê? Algumas escolheram o facil,
pois já o sabiam resolver e os outros escolheram os difíceis porque disseram que
ainda não o tinham conseguido fazer. Foi então possível perceber que em tão
tenra idade existem respostas de desânimo face ao insucesso.
Algumas explorações ainda com estas crianças permitiram ainda descobrir outras
informações, nomeadamente:
- O grupo dos persistentes acredita mais no papel do esforço
- O grupo dos não persistentes escolhe a alternativa mais facil porque acreditam
não ter falta de capacidade
Há ainda uma relação com os afetos, pois as crianças não persistentes revelavam
emoções mais negativas do que as outras.

Associação entre resposta de persistência e outras características


Num outro conjunto de experiências, os investigadores pretendiam perceber a
relação entre a persistência e outras características de caráter, para isso usaram a
estratégia de roleplay onde a criança tinha duas bonecas e uma seria um adulto e
outra a criança. Estas crianças deveriam fazer o puzzle e depois verbalizar com as
bonecas aquilo que o adulto diria quando havia o confronto da criança com o
fracasso. As crianças com padrão de persistência faziam poucas verbalizações de
criticas e mais de elogio e incentivo, por exemplo, “Fizeste o melhor que podias”. As
crianças com padrão de não persistência revelavam tendência para a critica e para
a punição. Estas crianças pensavam que o seu insucesso era passível de repreensão
e essas expetativas de punição eram verbalizadas em frases do tipo “Estou
zangado, vai para o teu quarto”. Não ficavam somente frustradas, mas achavam
inclusivamente que podiam e mereciam ser punidas.
Crianças mais pequenas não persistentes acabam por ser crianças mais velhas
orientadas para o fracasso. A desistência precoce leva a atribuições para o fracasso
à falta de capacidade. As crianças pequenas persistentes acabam por ser crianças
mais velhas orientadas para a mestria. A persistência face ao fracasso leva a
atribuições sobre o fracasso à falta de esforço. O esforço é para elas o meio de
atingir o sucesso.
Relação entre padrões de realização e conceções de moralidade
Estas crianças foram ainda questionadas se eram boas ou más crianças. A maioria
das crianças no cenário de persistência disseram que eram boas crianças. Isto leva
a pensar que na sua realização avaliam uma visão global do self. A maioria das
crianças nos cenários de desistência (60%) diziam que eram más crianças. Uma
das principais conclusões é que as crianças mais pequenas, embora possam
parecer mais persistentes e mais otimistas, elas não são de todo invulneráveis, pois
os resultados de realização e os seus comportamentos são avaliados por referência
a uma dimensão global do self relacionada com o bem e com o mal.

EVOLUÇAO DAS CP (INTELIGENCIA)


Um estudo feito com crianças entre 5 e 10 anos revelou que as conceções mais
estáticas emergem no domínio social e depois no intelectual. Primeiro há
apreciações no domínio da interação e depois da inteligência. Primeiro surgem as
apreciações para as conceções para o sucesso e só depois para o fracasso. Outro
estudo, com crianças entre os 5 e os 11 anos, diferenciou o desenvolvimento das
CP sobre vários atributos e foi verificado que há crianças com conceções estáticas e
dinâmicas em todas as idades. Mas…
Nos primeiros anos de escolaridade as conceções são globais e simplistas e do
mesmo tipo para vários domínios. No 3º ano de escolaridade a criança começa a
distinguir atributos e a ter conceções diferentes para atributos diferentes. No 5º
ano as conceções determinam avaliação os atributos dos outros e preveem os
padrões de realização perante o fracasso.
COMO SE COMUNICAM AS CPI?
O tipo de elogio, mais focado em características da pessoas, vs. elogios mais
centrados no esforço, comunicam diferentes tipos de CPI. Estudos mais recentes,
nomeadamente de 2013, procuraram em contexto natural perceber o impacto dos
elogios dependendo do seu tipo, pois há um impacto dos elogios na sua CPI, assim
como da critica tem também o mesmo efeito.
Com crianças de 8 a 12 anos eram dados elogios ou à pessoa ou ao processo e
estratégia. Seis meses depois foi avaliada a CPI. Mais elogios à pessoa resultam
numa conceção mais estática.

As criticas, quando centradas na pessoa, são igualmente prejudiciais, pois a


apreciação do desempenho pela criança é mais negativa, tendo afetos negativos e
menos estratégias construtivas de resolução de problemas. A critica centrada no
processo tem efeitos mais positivos, pois as crianças sentem-se melhor e
desenvolvem estratégias.

Conceções dos professores


Os professores podem fazer a avaliação em função de comparação face aos outros
colegas ou em função do desempenho anterior do aluno, sendo que no primeiro
caso há uma avaliação injusta, pois o aluno não controla o desempenho dos outros.
Se a avaliação tiver em consideração o desempenho anterior há um progresso e
crença no esforço. Para além disso, a forma como os conteúdos são apresentado
tem impacto.
Num estudo de 2007, com estudantes de ensino básico, eram vistos dois vídeos
sobre a mesma coisa (geometria). Num desses vídeos, era induzida uma CPI
estática e noutra dinâmica dependendo da forma como apresentavam os
matemáticos em estudo. Depois da visualização do vídeo, os alunos faziam um
teste de matemática difícil que mediria as capacidades dos estudantes para a
matemática. Os resultados foram:
- Houve resultados mais positivos na CPI dinâmica
-Houve diferença de género. As raparigas que viram a CPI estática tiveram um pior
desempenho do que os rapazes. No entanto, as que viram a CPI dinâmica, tiveram
um desempenho idêntico devido ao efeito de ameaça do estereótipo. Por um lado,
as raparigas estão muito mais sujeitas à visão estereotipada de que terão menor
desempenho na matemática. Ao verem vídeos sobre a capacidade inata isto
acentua-se e o dinâmica mitiga.

CONTEXTOS DIFERENCIAIS
Alguns indicadores em Portugal vão mostrando que as CPI evoluem num sentido
progressivamente dinâmico. No entanto, isto pode não ser positivo, porque pode
não indicar um aumento de alunos com uma CPI dinâmica, mas sim o abandono
dos estudantes com uma CPI estática. Os estudantes que atinge maiores níveis de
escolaridade possuem uma CPI dinâmica.
Voltando ao género, os estudos feitos sobre as CPI tendem a mostrar que as
raparigas possuem padroes de desistência quando enfrentam o fracasso, insucesso
ou pressão e por isso tendem a escolher tarefas mais fáceis para não terem juízos
de valor. Isto tem impacto no futuro, pois revela que as mulheres tendem arriscam
menos nas suas escolhas vocacionais. As crenças não refletem a competência
efetiva.

As raparigas tendem a provar a


sua competência e a proteger a
sua autoestima. Os rapazes
tendem a testar mais as suas
competências. Em Portugal as
diferenças de género não são
assim tao evidentes e
significativas.
Porque é que existem estas distinções de género em termos de CPI? As raparigas
tipicamente possuem notas mais elevadas e são mais bem avaliadas pelos
professores, tendo menos respostas de feedback negativo e sendo vistas como o
tipo de aluno ideal. No entanto, os professores tendem a ver os alunos rapazes
como mais competentes em algumas áreas e por esse motivo tem de haver maior
esforço para as raparigas obterem esses resultados. Os rapazes são criticados pelos
seus comportamentos e elogiados pela sua realização e o contrario observa-se nas
raparigas. Portanto, as raparigas embora tenham menor feedback negativo, as
atribuições e a ação dos professores criam uma maior vulnerabilidade.

Nos pais a mesma coisa verifica-se. Os pais tendem a ter expetativas de sucesso
mais elevadas de sucesso para os rapazes no que diz respeito à matemática. Para
além disso, atribuem o sucesso à maior capacidade aos rapazes, mas nas raparigas
a causa desse sucesso é o trabalho árduo e os hábitos de estudo. A escolha distinta
dos brinquedos, o discurso e a expetativa vocacional são diferentes de rapazes
para raparigas. Há mais ajuda não solicitas às raparigas.
Em termos de NSE, há poucos estudos sobre este assunto, mas os que existem
tendem a demonstrar que os indivíduos pertencentes a um NSE alto possuem
conceções mais dinâmicas. Uma das explicações refere o facto de as pessoas do
NSE baixo terem menos probabilidade de ascensão social o que os leva a CPI mais
estática dos atributos pessoais porque parece que não conseguem ter este
progresso.

INTERVENÇAO
A premissa de base nos programas de intervenção é que se alteramos o mindset
das pessoas vamos também alterar a sua forma de dar significado às experiências,
assim como as aprendizagens e a própria realização dos indivíduos.
Um estudo experimental foi feito com estudantes do 7º e, nessa situação
experimental, foram dados diversos workshops aos alunos. A um grupo (controlo)
foram ministrados somente workshops sobre competências de estudo. No entanto,
no grupo experimental, eram ministrados workshops sobre competências de
estudo, mas também sobre a CPI dinâmica. Antes desta situação experimental já
havia sido notado um declínio dos resultados nos testes de matemática em ambos
os grupos. Os resultados de matemática foram monitorizados ao longo do ano
letivo, depois dos workshops também, e, o que se constatou foi que o grupo
experimental teve uma recuperação e uma alteração na tendência de declínio
enquanto o grupo experimental manteve essa tendência.
Um outro estudo, desta vez com alunos do secundário, mencionava um processo de
mentoria com alunos universitários num processo de criar uma pagina web. Um
dos grupos (experimental) teve de desenvolver uma página sobre as conceções
dinâmicas enquanto o outro (controlo) desenvolveu uma página sobre o consumo
de drogas. Os estudantes do primeiro recebiam textos e liam informação que se
baseava na expansão da inteligência. No final do ano compararam-se os resultados
académicos em leitura e matemática. O grupo experimental apresentou melhores
resultados nas áreas estudadas, sendo que esta tendência foi mais benéfica e
evidente nas raparigas.
A magnitude dos efeitos desta experiência evidencia que o efeito e relevante para
os resultados de todos, mas especialmente na matemática nas raparigas.

RELAÇAO ENTRE CPI E OUTROS CONSTRUTOS


As CPI podem ser vistas como um sistema do self estático ou dinâmico. Quando há
a prossecução de objetivos centrados no resultados há uma tendência para
proteger a autoestima e ter um sentimento de competência pessoal. Quando há a
prossecução de objetivos centrados na aprendizagem há a tendência para manter e
promover sentimentos de competência pessoal e autoestima.
A autoestima é o conjunto de juízos de valor que o individuo produz sobre si
mesmo, ou seja, o seu valor pessoal, o respeito por si, a sua autoconfiança e o amor
próprio.
Numa CPI estática:
- Preocupação em demonstrar capacidade
- Ansiedade pela ameaça do fracasso o que leva a um padrao defensivo de
realização
- Autoestima vulnerabilizada

Numa CPI dinâmica:


- Os desafios são vistos como estímulos para a aprendizagem
- O fracasso faz parte do processo
- A autoestima depende do processo - positivo
Numa CPI estática há uma regra compensatória do esforço e da capacidade. Numa
CPI dinâmica há uma regra cumulativa positiva entre o esforço e a capacidade.

Avaliação da teoria

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