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Espiritualidade e Sentido da

vida.
Cristiano Bigonha Schiavon
Josafá Lima de Souza
Lanay Nunes Martins
ESPIRITUALIDADE

 Espírito: sopro de vida, respiração, potência de vida, energia


vital;

 Ancora-se na experiência existencial pessoal;

 Diz respeito a busca pessoal por respostas sobre o significado


da vida e o relacionamento com o sagrado/transcendente.
(Frankl, 1984)
ESPIRITUALIDADE

 O espiritual (noológico) é a dimensão específica do homem, isto


significa que fenômenos tais como a consciência, a liberdade da
vontade, a responsabilidade e a vontade de sentido para a vida
são genuínos, pois não são epifenômenos, e são exclusivos do
Homo humanus, posto que não são compartilhados com os
animais e com as plantas. Pelo fato de possuir esta dimensão,
“o homem é um ser que pode dizer não aos instintos e de modo
algum deve dizer-lhe sim e amém”. Ou seja, por isso, o homem
se faz também maior do que as suas condicionalidades.
(Frankl, 1995).
RELIGIOSIDADE

 Elaboração pessoal da aceitação das respostas prontas para


as perguntas de sentido/existenciais nascidas na dimensão
do espírito.

 Surge da interação entre Espiritualidade e Religião;

(Esperandio, 2017)
VAZIO EXISTENCIAL: A FALTA DE
SENTIDO
 ‘’O termo existencial pode ser usado de três formas: Referindo-se a (1) existência
em si mesma, isto é, ao modo especificamente humano de ser; (2) ao sentido da
existência; (3) à busca por um sentido concreto na existência pessoal’’.
 Perda do sentido sofrida pelo ser humano desde que se tornou verdadeiramente
humano.
 No decorrer da vida, o ser humano foi perdendo alguns dos instintos animais
básicos que regulam o comportamento do animal e garantem sua existência;
 Em seu desenvolvimento mais recente, o ser humano perdeu as tradições que
serviam de apoio para seu comportamento. Fato que vem diminuindo com grande
rapidez (Frankl, 1984).
 O Vazio existencial se apresenta como a doença dos nossos dias, podendo
agravar os quadros de patologias psicológicas e originalizar neurose (noogênica) e
depressão (Carrara, 2016).
VAZIO EXISTENCIAL: A FALTA DE
SENTIDO
 “ (…) Quando me perguntam como explicar o advento desse vazio
existencial, cuido então de oferecer a seguinte fórmula abreviada:
em contraposição ao animal, os instintos não dizem ao homem o
que ele tem de fazer e, diferentemente do homem do passado, o
homem de hoje não tem mais a tradição que lhe diga o que deve
fazer. Não sabendo o que tem e tampouco o que deve fazer, muitas
vezes já não sabe mais o que no fundo, quer. Assim, só quer o que
os outros fazem- conformismo! Ou só faz o que os outros querem
que faça- totalitarismo.”
(Frankl, 1984)
O SENTIDO DA VIDA
O SENTIDO DA VIDA

 Segundo Frankl, o sentido da vida pode ser descoberto através da


atuação de valores, que se dividem em três tipos:
 1. Criando um trabalho ou praticando um ato;
 2. Experimentando algo ou encontrando alguém;
 3. Pela atitude que tomamos em relação ao sofrimento;
 O sentido se relaciona com a maneira que o indivíduo enxerga e enfrenta
a vida;
 Ele não é abstrato, mas sim, subjetivo. A tarefa de busca pelo sentido é
singular;
SENTIDO DA VIDA: A CERCA DAS
CONTRIBUIÇÕES DA ESPIRITUALIDADE
 A espiritualidade atua como importante fator protetivo do sujeito,
direcionando-o a uma busca de sentido para sua vida e que independe de
prática religiosa.

 Frankl (2003) compreende que a partir da abertura do sujeito, em sua


dimensão espiritual, o sujeito estará mais propenso a encontrar um sentido
para suas ações.

 Possibilita a conexão, pertença e percepção de mundo, o que contribui para


uma maior significação existencial, tendo em vista a expressão de
espiritualidade (Frankl 2007 e Comte-Sponville 2007 Apud Sá e Aquino
2017).
 De acordo com Carrara (2016), o indivíduo que cultiva uma
espiritualidade autêntica, consegue se afastar interiormente de
suas circunstâncias, sejam elas quais forem.

 Ao cultivar uma espiritualidade saudável, o indivíduo consegue se


distanciar interiormente de uma doença, seja psíquica ou física,
tendo mais chances de superá-la do que aquele que vê sua vida
resumida á doença.

(Carrara, 2016)
 A espiritualidade permite o sujeito alcançar um alto nível de saúde
psíquica, a partir do momento que possibilita que este encontre
consigo mesmo;

 A pessoa é capaz de adquirir um outro olhar sobre seu passado;

 Por postular o encontro com a transcendência, faz com que o


homem modifique a sua relação com o mundo e com os outros.
(Carrara, 2016)
 influencia a percepção da pessoa em relação a condições traumáticas;

 Pode promover percepções resilientes e comportamentos como:

 A Aprendizagem positiva da experiência;


 O amparo para superação da dor psicológica;
 A autoconfiança para lidar com as adversidades;

(Prieto, Simão e Nasello, 2007)


 Proporciona Sentido, Significado e Identidade, mesmo na doença,
enfermidade, e sofrimento;

 Provê Senso de Controle em situações difíceis e incontroláveis,


que é um aspecto central no enfrentamento da doença;
 Gera conforto, pois promove emoções positivas (paz, gratidão);

 Favorece Conexão e Proximidade nos relacionamentos familiares;


 Suporte social;

 Favorece Transformação, promovendo a aceitação de Suporte e


reorientação;
(Granqvist & Kirkpatrick 2013)
COPING ESPITIRUAL/RELIGIOSO
POSITIVO
 Em uma pesquisa Americana, mais de 80% das pessoas e 71% das
pessoas na pesquisa na Suíça, consideraram que a religião proveu
esperança, propósito e sentido de vida;

 O uso das estratégias de enfretamento espirituais/religiosas foram


capaz de reduzir sintomas psicóticos e aumentar a integração social;

 Reduziu o risco de suicídio, entre outros efeitos.


(HEFTI, 2013)
COPING ESPIRITUAL/RELIGIOSO
NEGATIVO
 Sherman et al 2005 Apud Esperandio (2017), em relação a pacientes com
câncer: maior dor e menos energia.

 Trevino et al. 2010 Apud Esperandio (2017) mostra que a carga viral e os
sintomas de HIV foram positivamente relacionados com o coping religioso
negativo.

 Conflitos existenciais;

 Relação de coping negativo com a previsão de maior risco de mortalidade


entre pessoas idosas com doenças crônicas; (PARGAMENT et al., 2001).
INTERVENÇÃO À LUZ DA LOGOTERAPIA
E ANÁLISE EXISTENCIAL
TÉCNICAS LOGOTERAPÊUTICAS NA
CLÍNICA
 1. Autodistanciamento;
 2. Mudança de atitude;
 3. Redução dos sintomas;
 4. Orientação para o sentido.
 A logoterapia ensina que uma falsa compreensão e um simples reflexo dos
problemas apresentados aprisionam cada vez mais neles, o paciente.
 Se um paciente vem e afirma que a vida já não lhe proporciona nenhuma alegria,
um logoterapeuta não dirá nunca: ‘Queres dizer, então, que não desejas continuar
vivendo, que queres morrer?’ (reflexo), nem tampouco: ‘Compreendo-o muito bem
depois de tudo pelo que passaste...’ (compreensão).
 ...mas dirá talvez: ‘E as tarefas da vida que lhe aguardam?’
(Lukas, s/d, p. 155-156, in Kroeff, 2011).
Diálogo Socrático
 Frankl busca na antiguidade grega um modelo psicoterápico: "(...) toda psicoterapia, em
particular a logoterapia, deve ter por base, e como modelo, o clássico diálogo socrático da
conversa entre dois seres humanos." (Frankl, 1976, p. XI, in: Kroeff, 2011)
 É a técnica utilizada para promover a ampliação do campo de percepção do paciente, e
ajudá-lo a enxergar as possibilidades de sentido.
 A liberdade da pessoa dever ser explorada e confrontada com a sua facticidade (Aquino,
p.81).
 É a principal técnica de trabalho da logoterapia, parte fundamental de seu método
psicoterapêutico, pois objetiva “dar à luz” a pessoa espiritual e ajudar o paciente a descobrir
um sentido (Dicionario de Logoterapia, Guberman e Soto 2005).
 As perguntas não são feitas em tom de oposição, mas de facilitação, esclarecimento.
A pessoa quem sabe de si mesma, de acordo com as suas próprias referências.
 Previne o terapeuta de ser diretivo;

“Ajuda o paciente a encontrar o seu dever-ser, que ele mesmo conhece através de sua
consciência intuitiva, mas que ignora, pois a resposta sobre o sentido se encontra latente nas
situações, e por isso, inconsciente. O logoterapeuta é o obstetra do espírito, enquanto os
pacientes são parturientes do sentido”. (Aquino, 81)

EXEMPLOS DE QUESTIONAMENTOS SEGUNDO AQUINO (1982) E PAREDES (2014):

• O que ocorreria se...?


• Qual poderia ser...?
• Qual deveria ser...?
• Isto significa que você...
• O que é...
• Como você se sente em relação a isso?
• O que te impede de?
• O que você gostaria que?
• O que te custa ...
• O que você não gostaria que acontecesse?
APELAÇÃO:
 Na Logoterapia se utiliza esta expressão quando há uma convocação para que a
dimensão espiritual manifeste sua capacidade de oposição, ou a faculdade de descobrir
um sentido (Dicionario de Logoterapia, Guberman e Soto 2005).
 ... para tanto, é necessário recorrer a um valor que ainda não implique, como valor ético
puramente formal, nenhum direcionamento para valores concretos: é necessário recorrer
ao valor da responsabilidade (Logoterapia e Análise Existencial, p. 29).

“Ora, a Psicologia ensina que a dedução de sentido se encontra em um nível de


desenvolvimento mais elevado do que a doação de sentido. Nós, psicoterapeutas,
precisamos levar o doente, porém, para a capacidade pessoal de deduzir sentido da própria
vida em sua unicidade e singularidade, ou seja, para a capacidade da descoberta autônoma
de sentido” (Logoterapia e Analise Existencial, p.16).
‘’A entrevista de acareação é um jogo limpo que foge da relação manipulada. O jogo limpo
deverá também estar presente na possível confrontação das concepções de mundo e na
atitude valorativa do paciente e do terapeuta, sem que este interfira na liberdade
daquele’’(Izar Xausa, p.187).
TÉCNICA ANALÍTICO-EXISTENCIAL DO
DENOMINADOR COMUM
 Também conhecida como Técnica das Perdas e Ganhos.
 Pode ser utilizada em dilemas existenciais e/ou de valores.
 Recorre ao conceito de hierarquia de valores e balanço existencial.
 Neste aspecto de intervenção, busca-se reduzir as possibilidades de escolha a um denominador
comum entre ambas.
 Analisar também as implicações de cada escolha.
 Encoraja e Potencializa a Autonomia.
 Diante das possibilidades bem analisadas e esmiuçadas, não é necessário dizer ao paciente que
caminho ele deve tomar.
 Ele mesmo é capaz de tomar sua decisão, com autonomia e com ajuda do esclarecimento do
terapeuta.
MÉTODO DE ÀLFRIED LÀNGLE
 Ele propõe a seguinte ordem de procedimentos:

1. Busca de Sentido:
(4 Fases)
 • Perceber • Avaliar • Decidir • Atuar

2. Fortalecimento da Vontade
(5 passos):
 1. Esclarecer a motivação;
 2. Conscientizar do problemas.
 3. Relação com o Valor.
 4. Expandir o horizonte de sentido.
 5. Fortalecer a vontade em relação ao valor e responsabilidade.
MÉTODO DE ÀLFRIED LÀNGLE

 3. Tomada de Posição:
(3 Passos)

 Focar a situação.
 Mover-se para a posição interior (experiência mais profunda).
 Encontrar a verdadeira motivação e o verdadeiro valor.

 4. Análise Existencial Pessoal:


(3 passos)
1. Apelar 2. Compreender 3. Responder
MÉTODO DE ÀLFRIED LÀNGLE

 5. Motivações Fundamentais da Existência:

 Cada motivação responde uma pergunta existencial com suas


correspondentes reações psicodinâmicas e possibilidades de levá-las ao
plano da transcendência.
‘’Viva como se já estivesse vivendo pela
segunda vez, e como se na primeira vez
você tivesse agido tão errado como está
prestes a agir agora’’.
(FRANKL, V. Em busca de sentido: Um Psicólogo no campo de concentração, Vozes,
1984/2008)
REFERÊNCIAS:
Aquino, A. A.T.; Logoterapia e Análise Existencial. (2012). Uma Introdução ao Pensamento de
Viktor Frankl. PAULUS Editora. V. 2, 2012.
Bandeira Melo de Sá, L., & Avellar de Aquino, T. (2017). A espiritualidade e o sentido de vida
a partir do discurso do sujeito coletivo ateu. Revista Pistis Praxis, 9(1), 221-241. doi:http://
dx.doi.org/10.7213/2175-1838.09.001.DS11.

Esperandio, M. R. G.; Michel, R. B.; Trebien, H. A. C.; Menegatti, C. L. Coping


Religioso/Espiritual na Antessala de UTI: Reflexões sobre a Integração da Espiritualidade
nos Cuidados em Saúde. Interações - Cultura e Comunidade (Online), v.12, . 2017. p.303 -
322.
Frankl, V. E. (2003). Psicoterapia e sentido da vida (A. M. Castro, trad.). São Paulo:
Quadrante.
FRANKL, V. E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 51.
Petrópolis: Sinodal, 2020.
REFERÊNCIAS:
Guberman e Soto.; Dicionário de Logoterapia. PAULUS Editora. 2016.

Kroeff, Paulo. (2011). Logoterapia: uma visão da psicoterapia. Revista da Abordagem


Gestáltica, 17(1), 68-74. Recuperado em 26 de abril de 2021, de
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S180968672011000100010&lng=pt&tlng=pt.

Neubern, M. (2010). Psicoterapia e religião: construção de sentido e experiência do


sagrado. Interação em Psicologia, 14(2). doi:http://dx.doi.org/10.5380/psi.v14i2.14937.

Paredes, S. K. a.; DIÁLOGO SOCRÁTICO EN LOGOTERAPIA: Socratic .la actitud del


terapeuta y los campos de intervención. Av.psicol. 22(1) 2014 Enero – Julio. Unife
REFERÊNCIAS

Pargament., & Kirkpatrick, LA (2013). Religião, espiritualidade e apego. Em KI Pargament, JJ


Exline, & JW Jones (Eds.), APA handbooks in psychology®. Manual APA de psicologia,
religião e espiritualidade Granqvist (Vol. 1): Contexto, teoria e pesquisa (p. 139-
155). Associação Americana de Psicologia.

Pargament KI, Smith BW, Koenig HG, Perez L. Patterns of positive and negative religious
coping with major life stressors. J Sci Study Relig. 1998;37(4):710–24.

Peres, Julio Fernando Prieto, Simão, Manoel José Pereira, & Nasello, Antonia Gladys. (2007).
Espiritualidade, religiosidade e psicoterapia. Archives of Clinical Psychiatry (São
Paulo), 34(Suppl. 1), 136-145. doi. https://dx.doi.org/10.1590/S0101-60832007000700017.

Xausa. M. A. I.; A Psicologia do Sentido da Vida. 2. Editora Vide. (2016).

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