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CULTURA JOVEM E OS DILEMAS DO MUNDO ATUAL

Silvino R dos Santos

O tema aqui oferecido sugere que o trabalho a ser desenvolvido deva direcionar-se pela idéia
geral de educação. Entendido no âmbito universal, o conceito de educação se realiza na
perspectiva da paidéia grega clássica. A formação da consciência adolescente só pode ser
objeto de uma reflexão em separado, se depois de problematizado e analisado for devolvida
para a totalidade que é uma vida humana. Assim, sob um olhar que não consegue ser nulo de
pressupostos, tenta-se uma reflexão crítica de uma parte da totalidade, para mante-la ou
transforma-la segundo um ideal concebido. É a procura de um meio para atingir um fim.

Objetivos:
O objetivo deste texto é levar ao jovem uma reflexão do tema juventude na cultura do mundo
atual

Justificativas:
O trabalho se justifica pela importância de o próprio jovem tomar a iniciativa pessoal com a
conscientização de sua situação no mundo.

Metodologia
Pela própria dimensão de trabalho que o tema exige, diferentes das possibilidades exeqüíveis
aqui, o tema é desenvolvido em liberdade mas, tendendo para a complexidade.

FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA PARA A


FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA JOVEM

A faixa etária mais interessada na reflexão desse tema, de forma geral, deveria ser o próprio
jovem. É ele que “vive” o período que para quem o analisa com critério metodológico,
normalmente pessoas acima da idade que o compreende, passa a ser um objeto. Porém, neste
caso em particular, sujeito e objeto se relacionam de forma diferente da maioria das relações
de sujeito e objeto de conhecimento. O sujeito já viveu, experienciou, a fase de
desenvolvimento humano que agora se torna seu objeto problematizado. Parte da própria
experiência retida na memória, enriquece-a com conhecimentos adquiridos pela reflexão
humana na história e transformando sua própria visão, projeta-a no seu objeto de reflexão e
estabelece uma relação dinâmica com este; relação dialética em que torna possível estabelecer
ideais de relações entre o período existencial como objeto de reflexão e a inteireza que é uma
vida humana.

Se ao jovem – a todo ser humano em geral - é dado conhecer sobre sua própria condição
existencial, não é possível que esse conhecimento não interfira, ou melhor, não se relacione
com sua personalidade, entendida como a totalidade da sua realização individual. Segundo
Carl G Jung 1875 -1961, formulador da psicologia analítica, fatores inconscientes e
conscientes se relacionam como elementos de uma totalidade: a psíquica. Todo elemento
psíquico inconsciente tornado consciente, realiza uma nova adaptação na personalidade. Daí a
necessidade da Educação, neste caso a formal, mas não se restringindo a ela, como aparelho
do Estado para a formação do cidadão, não poder se ausentar da questão existencial como a
mais radical do ser humano. O Homem, a partir de sua auto-consciência de ser humano,
estabelecerá suas outras dimensões de forma mais conseqüente e responsável, perante seu
grupo social, sua espécie e o universo que o abriga.

Cultura jovem é um termo muito amplo e indefinido porque não estabelece ao jovem de que
cultura se refere. Para o domínio deste texto, nossa referência é o jovem de nossa cultura
ocidental, brasileiro, nos seus aspectos medianos e mais aparentes nos dias atuais.

Se entendermos o termo cultura como o trabalho (e suas necessárias ferramentas) que o


homem realiza na prática de sua existência, nos daremos conta de que cada povo tem sua
própria forma de realiza-lo. Mas dentro de cada cultura também há divisões e subdivisões e
assim, performances e nuances definidas para seus membros, segundo um arranjo interno,
com significados objetivos na própria cultura como sistema parcialmente fechado.

O jovem, em seu caminho existencial, já percorreu a primeira fase, sensivelmente distinta de


sua vida, em que por impossibilidade natural, não pode ser responsabilizado de forma moral
por suas ações. Mas entrou na juventude, justamente por estar adquirindo paulatinamente a
capacidade racional e, portanto, moral; crescentemente torna-se apto a assumir
responsabilidades. Essa fase, um tanto longa em nossa sociedade, se comparada a culturas
menos racionais e cientifizadas, é um período de transformações íntimas intensas, em que se
tem a impressão de que a própria vontade, decisão e poder são suficientes para estabelecer a
posse e o controle do mundo exterior. As coisas parecem ser o que são em si mesmas e
portanto passíveis de apropriação material e espiritual.

Essa característica da juventude, que tende a se arrefecer posteriormente, é essencial para a


conquista do mundo material. Essa possibilidade de vivenciar a experiência íntima de poder
como um impulso natural, como instinto de conservação, é que nos trouxe desde a pedra
lascada até as últimas conquistas tecnológicas, como apropriação do mundo pelo poder. A
materialidade histórica dialética não neutraliza o instinto natural de poder pois , este age no
interior daquela. Portanto, sem a característica, presente predominantemente no espírito do
jovem, o mundo não evoluiria à forma que o conhecemos hoje.

UMA REFLEXÃO SOBRE A CULTURA JOVEM

Uma reflexão sobre a cultura jovem que ficasse na inércia do plano teórico engavetado ou,
passiva no recesso mental do pesquisador, seria inútil. O jovem também sempre desconfia de
uma onipotente sabedoria que não se materializa. Tem a necessidade do contato sensível para
conferir a existência das coisas. Essa desconfiança pode ser dissolvida se a experiência for
demonstrada logicamente. Se a materialidade racional da teoria for levada à sua constatação.
No nosso caso, a própria experiência atual do jovem, tornada objeto do pesquisador,
problematizada sob regras inteligíveis e resultados compreensíveis. O jovem também tem que
oferecer seu olhar à sua própria condição e contribuir ativamente para a formulação de sua
situação real estabelecida e a ideal, a ser buscada inclusive por ele mesmo. A síntese do
trabalho deve ser a ferramenta indispensável e mais apropriada para a formação do jovem.

Os dilemas do mundo atual o são para toda a sociedade. Mas os jovens, aos quais em nossa
cultura (na ocidental de forma geral, mas tendendo a se universalizar) não são oferecidos
espaços definidos de atuação política e relações de poder suficientes para a transformação
material e cultural do sistema, vivem em crise existencial. Os meios econômico-financeiros,
políticos, artísticos, jurídicos etc, estão já definidos segundo uma hierarquia de valores que
contemplam interesses da minoria que detém o capital e, portanto, o poder de decisão.
A indústria cultural, tendo padronizado o gosto, estabelece sob a força dissimulada na
atratividade das imagens, veiculadas pela tecnologia, inicialmente pela televisão, estabelece
valores estéticos desprovidos de qualquer relação com as condições existenciais e materiais
do indivíduo, tornando-o um consumidor de fetiches sem significados relevantes para a sua
existência. O jovem, neste aspecto igualado ao todo social, não aprende a “criar” sentido para
a sua vida. Até a espiritualidade, como exercício de relação com o sagrado, passa a ser
oferecida como mercadoria, com valor de troca, mediada por pessoas que se encarregam de
receber valores monetários.

A alienação do trabalho, do gosto e da espiritualidade, não pode produzir um ser


completamente sadio e crítico, consciente de seu espaço interior íntimo e exterior social-
político. Produz um ser ausente do mundo e de si mesmo; cada vez mais sujeito à
manipulação da vontade e da ação. Um ser que reproduz, potencializa e multiplica o poder
alienante que o destrói como um ser de ricas e múltiplas aptidões reunidas num todo
complexo e harmônico. Torna-o inutilizado para a sua realização plena. A alienação o destrói
como homem.

Uma Educação para o benefício do homem não pode estar a serviço de forças que o destroem.
Um Estado comprometido com o poder do Capital ( através do financiamento de campanhas
políticas de seus gestores) não pode oferecer uma educação que priorize as necessidades
próprias da condição humana e sua identidade, em prejuízo do mercado como veículo da
realização do capital. Uma sociedade razoavelmente esclarecida da essência da sua
humanidade não pode se submeter à escravização imposta pelo mercado. Vivemos num
círculo cada vez mais fechado e realimentado pelo vício. A realimentação é feita pela mass
media que também é mercado e, portanto, membro articulado do capital.

Numa situação em que a inconsciência é a doença, a consciência é o remédio. Faz-se


necessária a conscientização da humanidade toda, pelo fato de o capitalismo ser hoje uma
realidade cada vez mais universal. Mas como no mito da caverna, aquele que quebra os
grilhões, escala a parede e contempla a luz real, não o faz sem dores. Ao voltar para
compartilhar os benefícios da descoberta, no mínimo é recebido sem o crédito da confiança e
pode até mesmo ser morto por insanidade mental. Assim se dá na situação atual. Que
receptividade pode ter uma voz que fala o que ninguém quer ouvir? Um movimento que se
propõe tamanha tarefa, para que atinja resultados sensíveis deve ser institucionalizada; que
abranja interessados das mais diversas origens, reunidos sob uma ideologia comum que
respeite a liberdade e a diversidade cultural como questões de fórum íntimo.

Para os objetivos deste texto, que se refere à consciência adolescente. A Educação é o órgão
formal mais próximo dessa faixa etária e que tem as pessoas mais passíveis de serem
responsabilizadas moralmente pelo ato de educar. Os educadores só podem ser assim
denominados se o forem realmente. Os professores têm a responsabilidade de atuar como
seres humanos conscientes da implicação de suas personalidades sobre a formação do jovem.

A Educação deve ser o veículo que leva ao jovem as ferramentas providas pelo conhecimento,
para que ele atue no mundo objetivo e subjetivo, de forma conseqüente e competente.

O educador deve ser a pessoa que já refletiu suficientemente sobre o processo humano e
técnico-educacional e sua própria formação humana e, por isso, se identifica ideologicamente
com a função humana, social e política de educar.

Em fim, Educação, Educador e Educando são elementos do mesmo órgão social. Aos dois
últimos compete uma relação que transforme a primeira em plasmadora da Paz e da Liberdade
Humana plena.

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