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Revista de

A UALIDADES
AR
ABR
2023

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Sumário

Atualidades Mundo
Entrada da Finlândia na OTAN e as tensões com a Rússia ........................................................................... 2

Coreia do Norte e os novos teste nucleares ................................................................................................... 6

O Sudão está quase em Guerra e você nem sabia ....................................................................................... 11

Atualidades Brasil
Possível suspensão do novo Ensino Médio e do Novo Enem: por que estamos revisando a educação? 19

Relação commercial Brasil x China ............................................................................................................... 27

Achamos muito petróleo, e agora? ................................................................................................................ 32

Influencers e as redes sociais no Brasil ........................................................................................................ 37


Atualidades Mundo

Entrada da Finlândia na OTAN e as tensões com a Rússia

Em abril de 2023, um antigo temor russo se tornou realidade: a entrada da Finlândia na OTAN. A
manobra finlandesa esquentou ainda mais a guerra de Putin contra a Ucrânia e as tensões russas
com a OTAN no Leste Europeu, prometendo novas camadas para essas disputas na região.

A OTAN é uma aliança militar de apoio mútuo, criada em 1949 para proteger os países membros,
pertencentes ao bloco capitalista, de possíveis guerras contra a URSS e os inimigos socialistas.
Apesar do fim da Guerra Fria e da ameaça socialista ter enfraquecido, as atividades da OTAN se
mantiveram e novos inimigos públicos foram escolhidos, sobretudo entre os países com regimes
não liberais e antiocidentais, como os casos de Venezuela, China, Coreia do Norte, Rússia e outros.
Recentemente, a OTAN atuou diretamente na Guerra do Afeganistão e do Iraque, em 2001 e 2003,
e nos conflitos na Líbia, apoiando a deposição de Muammar Gaddafi.

As tensões entre a OTAN e a Rússia tiveram início já na década de 1990, após a fragmentação da
URSS, mas, com o crescimento do governo de Vladimir Putin e com as ousadas estratégias
geopolíticas do presidente russo, como a anexação da Crimeia em 2014, essas disputas
aumentaram.

Chanceler finlandês cumprimenta secretário de Estado dos EUA durante cerimônia de adesão da Finlândia à Otan — Foto: Johanna
Geron/Reprodução/REUTERS. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/04/04/finlandia-entra-formalmente-na-
otan.ghtml

A OTAN, por sua vez, já declarou abertamente suas críticas ao regime de Putin e, desde os anos de
1990, tem ampliado sua atuação no Leste Europeu, sobretudo com a entrada de países da região
no quadro de membros da aliança. Em 1999, Polônia, República Checa e Hungria entraram para a
organização, seguidas, em 2004, por Albânia, Romênia, Letônia, Lituânia, Estônia, Eslováquia,
Eslovênia e Bulgária e, após a invasão russa na Crimeia, a OTAN aceitou, entre 2017 e 2020:
Montenegro e Macedônia do Norte. A entrada da Ucrânia também era uma possibilidade antes de
2022, mas diante do cerco promovido pela OTAN às fronteiras russas e tendo em vista os interesses
de Moscou na região, o regime de Putin logo se opôs.

Antes mesmo da guerra começar, a aproximação entre Ucrânia e OTAN gerou tensões abertas com
a Rússia e uma série de ameaças, o que provocou um temor nos países vizinhos. Nesse cenário,
ainda em 2021, Suécia e Finlândia se aproximaram da organização e, com a guerra, o apoio popular
nesses países cresceu favoravelmente à aliança. O entrave para as negociações foi, principalmente,
a Turquia, que estava relutante em aceitar a entrada de países nórdicos na OTAN, visto que
atravessava conflitos diplomáticos na região. Entretanto, nas últimas semanas, o parlamento turco
aprovou a entrada e, por unanimidade, os países membros aceitaram a adesão da Finlândia.

A fronteira da Finlândia com a Rússia cobre uma extensão de 1340km, o que era preocupante para
os finlandeses. Mas, agora, com a entrada oficial do país nórdico para a aliança, a fronteira entre os
dois países se tornou uma dor de cabeça para Moscou, visto que a fronteira entre a Rússia e a zona
de influência da OTAN duplicou com a chegada da Finlândia à organização.

O governo de Putin não tomou nenhuma medida radical contra essa manobra da OTAN e da
Finlândia, mas já demonstrou sua insatisfação ao afirmar, através do Kremlin, que esse ato é uma
"violação de nossa segurança e de nossos interesses nacionais" e que essa “ameaça hostil” será
respondida com retaliações e “consequências indesejáveis”. Ainda em abril de 2023, essas
mudanças geopolíticas não chegaram a gerar grandes impactos militares, mas nitidamente
aumentaram as tensões políticas, que devem ser acompanhadas de perto no futuro.
Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2023/04/entrada-da-finlandia-na-otan-mais-do-que-dobra-a-fronteira-
entre-a-russia-e-o-ocidente-veja-mapa.ghtml

Como contextualizar essas informações na redação?


No dia 24 de fevereiro de 2023, completou um ano desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, a partir do
desdobramento de um conflito armado iniciado em 2014. A guerra entre os países já matou
milhares de civis e já desalojou mais de 10 milhões de pessoas, de modo que os impactos desse
confronto vão além da questão humanitária. Leia mais sobre isso em um estudo divulgado pela
Câmara Legislativa aqui.

A partir desse acontecimento que destrói a vida de milhares de cidadãos, cabe pensar quais são as
consequências disso para a sociedade, incluindo os efeitos da guerra para o meio ambiente. Diante
disso, vejamos o que o vestibular da Puc-Rio solicitou aos candidatos.
Puc-Rio (2023)

O progresso humano e suas consequências constituem o tema desta proposta de redação.

A partir das reflexões de André Trigueiro, formule sua resposta para essas questões, produzindo
um texto dissertativo-argumentativo, com cerca de 25 linhas, em que você apresente e justifique
sua posição.

“Qual é a civilização que queremos? A que reforça as expectativas de que para ser feliz, é preciso
um dia consumir o mesmo que um norte-americano médio (ainda que sabendo de antemão que não
há planeta suficiente para isso)? Ou podemos almejar outro modelo civilizatório, em que todos
tenham direito a uma vida digna e plena, com a satisfação de necessidades básicas – alimentação,
saúde, moradia, educação, lazer, etc – e a chance de desenvolver nossas potencialidades? Nessa
civilização, os meios de produção seriam capazes de satisfazer necessidades demarcadas por uma
realidade inexorável: ou a economia se ajusta aos limites do planeta, ou não haverá planeta para
suportar a economia.”
TRIGUEIRO, André. Mundo sustentável 2: novos rumos para um planeta em crise. São Paulo: Globo, 2012. p.304-305. [Publicado em
outubro de 2010, na revista Opiniões.]

O posicionamento deveria discutir, nesta redação, sobre como o progresso humano impacta o meio
ambiente. Inclusive um argumento que poderia ser desenvolvido e é super importante refletir é
acerca das consequências ambientais de um conflito armado como o que acontece entre a Rússia
e a Ucrânia.
Coreia do Norte e os novos teste nucleares

A divisão das Coreias

No início do século XX, o Japão, apesar de ser uma pequena ilha recém industrializada, tornou-se
rapidamente uma potência imperialista no Oriente, alcançando, inclusive, expressivas vitórias
militares na região contra antigos gigantes, como a Rússia. Nesse projeto expansionista, o Império
do Japão visava dominar diversos territórios, disseminando sua cultura, língua e modo de viver para
outros países na região. Desta forma, em 1910, a vizinha Península da Coreia, já ocupada pelo
Império, foi oficialmente anexada, tornando-se um protetorado japonês.

Como uma postura comum do neocolonialismo, o Japão dominou a Coreia, e durante 35 anos
explorou a região de forma violenta, em uma tentativa de assimilação do povo coreano. A cultura, a
língua, as tradições e os diversos hábitos deste antigo país foram proibidos pelos japoneses, que
passaram a impor seus padrões através de leis violentas. Homens e mulheres coreanos foram
forçados a trabalharem em campos de concentração, serviram como cobaias de experimentos
científicos secretos e mulheres foram forçadas à prostituição. Durante a Segunda Guerra Mundial,
esse processo de exploração e violência se tornou ainda mais brutal.

O tratamento japonês aos coreanos gerou embates entre os dois povos e promoveu o crescimento
de grupos anti-imperialistas no país. Um desses principais movimentos foi o “União Abaixo o
Imperialismo”, fundado em 1926 pelo guerrilheiro comunista Kim II-Sung. A liderança de Kim na
resistência contra a ocupação japonesa foi fundamental no norte do país e aproximou-o aos novos
inimigos de guerra do Japão, a China e a URSS, que apoiaram o guerrilheiro em sua causa.

A luta de Kim não foi diretamente responsável pela libertação do país, pois, em 1945, a chegada do
Exército Vermelho na Coreia varreu a presença japonesa do Norte e as bombas atômicas dos EUA,
em Hiroshima e Nagasaki, anularam o poder militar japonês e garantiram a presença militar norte-
americana no Sul.

Nesse cenário, o fim da Segunda Guerra Mundial marcou a histórica divisão da Coreia em dois
países. URSS e EUA ocupavam o país e decidiram separar a nação no paralelo 38, entre Coreia do
Norte e Coreia do Sul. A partir de 1948, o país do norte se tornou socialista e passou a ser liderado
por Kim II-Sung, com apoio soviético; já a parte do sul recebeu o apoio estadunidense e formou um
governo democrático e capitalista. A decisão tomada, entretanto, não agradou os dois países, que
defendiam a soberania de seus governos sobre toda a península. Diante desse impasse, em 1950,
as duas Coreias iniciaram a maior guerra que os dois países já viveram, a “Guerra da Coreia”.

Nesse conflito, os EUA e a OTAN apoiaram abertamente a Coreia do Sul, enviando não só armas,
mas também soldados para conter o avanço das tropas do norte, que inicialmente se demonstraram
superiores. A Coreia do Norte, por sua vez, contou com apoio logístico da URSS e suporte direto da
China, que agora também se destacava como uma potência socialista. O conflito perdurou por 3
anos e cessou em 1953 com um armistício entre as duas Coreias e a criação de uma Zona
Desmilitarizada. Apesar do armistício, nenhum acordo de paz foi assinado entre os países, logo, até
hoje eles estão em um “conflito congelado”.

Kim II-Sung assinando o armistício em 1953.

As tensões militares atuais


Tendo em vista esse histórico de relações conturbadas entre a antiga Coreia e o Japão, e a Coreia
do Norte e países como EUA, podemos compreender melhor as tensões entre esses países. Em
1994, após a morte de Kim Il-Sung, seu filho Kim Jong-il assumiu o poder na Coreia do Norte,
formando um governo ainda mais autoritário que o de seu pai e muito mais focado no personalismo
ditatorial.

Com o fim da Guerra Fria e a queda da URSS, a Coreia do Norte se tornou um país ainda mais isolado,
com apoio apenas de uma enfraquecida China nos anos 90. Buscando garantir a defesa territorial
e a soberania do país, Kim investiu grandes recursos no desenvolvimento militar norte-coreano,
inclusive em programas de armamento nuclear. Para o ditador, apenas o poderio nuclear garantiria
à Coreia do Norte uma posição forte nas negociações internacionais.

Em 2011, após a morte de Kim Jong-Il, o poder hereditário na Coreia do Norte se estabeleceu com
a oficialização de mais um Kim no poder, desta vez, o filho mais novo de Kim Jong-Il, o general Kim
Jong-Un.

Inicialmente, o governo de Kim Jong-Un demonstrou que manteria os investimentos no programa


nuclear do país, colocando essas armas como ponto fundamental na diplomacia norte-coreana.
Entretanto, Kim Jong-Un chegou a surpreender o mundo entre 2017 e 2018 ao realizar encontros
internacionais com os presidentes dos EUA e da Coreia do Sul e, pela primeira vez em décadas,
acenar para a possibilidade de paz entre os países. O movimento, no entanto, não passou de um
encontro, sem acordos assinados ou decisões tomadas pela paz.
Entre 2020 e 2023, a Coreia do Norte vem ampliando gradativamente a quantidade de testes de
mísseis realizados no Oceano Atlântico. Estima-se que sejam mísseis balísticos, mísseis de
cruzeiro e mísseis hipersônicos, muitos deles testados próximos à costa japonesa ou sul-coreana.
Em 2020, Kim Jon-Un teria realizado apenas 4 testes, dobrando esse número em 2021, e chegando
a 90 mísseis em 2022. Para analistas, as manobras da Coreia do Norte já não são mais testes, mas
sim plenas ameaças que demonstram o poder local e afirmam que o regime não pouparia suas
armas nucleares em uma possível guerra. Os testes em questão são amplamente criticados pela
comunidade internacional, sobretudo Japão, EUA e Coreia do Sul, que falam cada vez mais em
respostas à altura das ameaças.

Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63506372

Como contextualizar essas informações na redação?

Sabemos que o cenário mundial vem passando por diversos desafios e situações de instabilidade
que estão abalando as relações políticas, provocando mortes, entre outras consequências.

Falamos, neste material, sobre a questão da Coreia do Norte e dos novos testes nucleares. No
entanto, a proposta a seguir propõe uma reflexão mais ampla sobre os conflitos mundiais.

Antes de irmos até o tema, colocaremos alguns pontos que podem te ajudar a refletir.

Lembra dos eixos temáticos? Quando falamos de redação, precisamos aliar todos os nossos
conhecimentos acumulados e organizá-los em grandes categorias: os eixos. Aqui a gente estaria
diante de alguns eixos: política, guerra e sociedade.
1. Diante desse cenário, devemos olhar para o passado e refletir sobre o presente a partir dele. Por
exemplo, a Guerra Fria entre URSS e EUA pode nos fazer traçar paralelos. Na época, muitas missões
de paz foram impedidas, pois, para que a ONU envie tropas a um local de instabilidade, é necessária
a aprovação do Conselho de Segurança. Infelizmente, URSS e EUA tinham poder de veto e, por isso,
muitas tomadas de decisão eram engavetadas. Isso nos leva a um terceiro ponto a ser pensado:
missões de paz.
2. Missões de paz são uma ação amenizadora dos conflitos de locais em situação de instabilidade.
Tropas são enviadas para subsidiar as populações locais a viverem melhor. Como? distribuindo
alimentos, garantindo-lhes a segurança, dando-lhes abrigo etc.
3. Importante: O financiamento para as Missões de Paz é um dever dos Estados-membro, como
define o art. 17 da Carta das Nações Unidas. Todos os países contribuem de forma proporcional a
sua riqueza econômica. Isso garante uma arrecadação que não prejudica economicamente os
contribuintes.
4.Impende ressaltar que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança contribuem
com uma quantia maior, por conta de sua “responsabilidade especial para a manutenção da paz e
segurança internacionais”, como informa a página da ONU.

5. Os 10 Estados que mais contribuíram com o orçamento das Missões de Paz em 2018 foram:
1. Estados Unidos (28.47%)
2. China (10.25%)
3. Japão (9.68%)
4. Alemanha (6.39%)
5. França (6.28%)
6. Reino Unido (5.77%)
7. Rússia (3.99%)
8. Itália (3.75%)
9. Canadá (2.92%)
10. Espanha (2.44%)
Disponível em: https://www.politize.com.br/missao-de-paz-o-que-e/

Agora, leia o texto a seguir para fazer sua redação.

Tema: A importância das missões de paz para as relações internacionais.

TEXTO
O QUE É UMA MISSÃO DE PAZ?
É uma operação que serve como instrumento para auxiliar países devastados por conflitos a criar
condições para que a paz seja alcançada no local. A primeira Missão de Paz da ONU foi realizada
logo após a criação da organização internacional, em 1948, e atuou no Oriente Médio. A Força de
Emergência das Nações Unidas (UNEF-1) foi pensada para monitorar a assinatura do Acordo de
Armistício entre Israel e seus vizinhos árabes. Desde então, mais de 60 Missões de Paz foram
realizadas.
[...]
Três princípios básicos regem as ações realizada pelas Nações Unidas para manutenção da paz e
da segurança internacional.
1. Consenso das Partes
Uma Missão de Paz só é realizada pela ONU quando as partes envolvidas em determinado conflito
concordam com a operação. Essa concordância é necessária para que as Nações Unidas contem
com liberdade de ação – tanto política quanto militar – para que as tropas cumpram seus objetivos.
Caso as forças das Nações Unidas fossem enviadas a uma região sem esse consenso, tais tropas
correriam risco de se envolver na disputa em questão, virando parte do conflito.
[...]
2. Imparcialidade
Esse ponto é essencial para que uma das partes não retire seu consenso após uma Missão de Paz
ter sido iniciada. Ao falar em “imparcialidade”, a ONU define que suas tropas não podem tomar um
lado no conflito.
3. Não-uso da Força (a não ser em legítima defesa)
O uso da força por parte dos peacekeepers, como são conhecidos os soldados enviados a uma
Missão de Paz, deve ser feito apenas em legítima defesa. Isso significa evitar ao máximo recorrer
às armas, o que não implica que as tropas permitirão ser agredidas sem buscar se defender. Quando
necessário o uso da força, esse deve ser feito apenas nas proporções necessárias para garantir a
segurança de soldados e civis. O uso indevido da capacidade militar dos peacekeepers pode levar
à perda ou enfraquecimento da legitimidade de uma Missão de Paz.
Disponível em: https://www.politize.com.br/missao-de-paz-o-que-e/

PROPOSTA DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema “A importância das missões de paz para as relações internacionais”,
apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e
relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
O Sudão está quase em Guerra e você nem sabia

Vamos de contextualização?

Disponível em https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/04/19/encontro-de-dois-nilos-rico-em-ouro-e-berco-de-dinastia-de-
faraos-negros-conheca-o-sudao-pais-em-constante-conflito.ghtml

Características da República do Sudão:


● Localização: Continente africano - África do Norte;
● Capital: Cartum;
● Extensão territorial: +/- 1.879.358 km²;
● População: +/- 46 milhões;
● Língua oficial: multilíngue (árabe é uma das línguas oficiais);
● Religião: maioria islâmica;
● Principais recursos: ouro, petróleo, produção agrícola, etc.

A República do Sudão se tornou independente do império britânico e do Egito, em 1956, no processo


de libertação colonial afro-asiática. Entretanto, as diferenças que conviviam dentro desse território,
que, em grande medida, foram impostas por interesses imperialistas dos países europeus e pelos
vizinhos egípcios, acabaram levando a um processo de tensão política, econômica, religiosa e
social.

Essas questões acarretaram um movimento separatista na região, que deu origem a um dos países
mais jovens do mundo, após anos de conflito armado. O Sudão do Sul conquistou sua
independência, em 2011, por meio de um referendo no qual a maioria massiva da população do Sul
votou a favor da separação. A origem dessa guerra se dá na separação de fronteiras africanas
estabelecidas anteriormente por povos europeus, nas quais pessoas de etnias, religiões e culturas
muito distintas ficavam no mesmo território.

O referendo que aprovou a independência estava previsto no Acordo de Paz de Darfur, assinado em
2006, que encerrou décadas de guerra civil. A população sul-sudanesa é de maioria cristã ou
animista e se sentia discriminada pelo governo centralizado em Cartum, no norte do Sudão, de
maioria muçulmana. Esse governo tinha como objetivo impor a lei islâmica na região.

O governo de Cartum, no entanto, reconheceu rapidamente a nova nação, num processo estável de
secessão. Porém, com a independência, o que era uma guerra civil se tornou um conflito
internacional, uma vez que houve muita dificuldade em estabelecer as fronteiras entre os países,
devido à disputa de recursos, como o petróleo.

Na Antiguidade, o Sudão se chamava Núbia. O local tinha uma relação conturbada com o Egito,
chegando a ser dominado por ele durante um período. Apesar disso, os núbios dominaram o império
egípcio durante o século VIII a.C., formando a 25ª dinastia dos faraós, conhecidos como os “Faraós
Negros”. Embora as pirâmides do Egito sejam as mais famosas, o Sudão é o local com o maior número
de construções arquitetônicas desse tipo. Mesmo durante a antiguidade, o local já era reconhecido
por seus recursos naturais, como o ouro.

Em dezembro de 2013, grupos de milícias começaram a atuar na região, com confrontos marcados
e massacres de caráter étnico. Isso ocorreu porque o então presidente Salva Kiir destituiu o seu ex-
vice Riek Machar, acusando-o de tramar um golpe. Kiir pertence a um grupo étnico chamado de
dinka, representando cerca de 15% da população do país, enquanto Machar pertence ao grupo dos
Nuer, representando 10% da população. Apesar desse racha político, que se tornou um conflito
étnico, ambos faziam parte do Exército de Libertação do povo sudanês.

Nesse caso, a situação se agravou, inclusive, por uma inflação anual em níveis altíssimos e uma
grande desvalorização da moeda. O Sudão ainda detinha toda a infraestrutura de produção de
petróleo, que correspondia à maior parte da economia do Sudão do Sul, que hoje vive uma economia
de subsistência.

Esse conflito armado, com perseguição étnica e fome, gerou uma crise de refugiados, na qual
estima-se que cerca de três milhões de pessoas se deslocaram para países vizinhos, como
Uganda, Quênia, Sudão, Etiópia, República Democrática do Congo e República Centro-Africana.
Além disso, sete milhões de pessoas dentro do país precisam de assistência humanitária. Em 2018,
essa crise de refugiados se tornou a pior do mundo a níveis de crescimento, superando, até mesmo,
o conflito da Síria.

Dados sobre refúgio no Sudão


2000 -2021

Disponível em: https://www.dadosmundiais.com/africa/sudao/refugiados.php

De acordo com a Acnur (agência da ONU para refugiados), cerca de 10 a 20 mil pessoas precisaram
se deslocar para países vizinhos, como o Chade, nos últimos dias de abril, devido à instabilidade
cada vez maior na região. A tendência é que os números aumentem e a gravidade da crise
humanitária no Sudão chegue a novos patamares com a disputa política.
O que tá rolando?

População se manifestando, em Cartum, após o golpe do grupo militar Forças de Apoio Rápido (RSF). Disponível em:
https://brasil.elpais.com/internacional/2021-10-25/exercito-do-sudao-da-golpe-de-estado-e-dissolve-governo-de-transicao.html

Como vimos até aqui, o Sudão nasceu dentro de um contexto de caos e se mantém assim até os
dias atuais. O conflito mais recente tem sua origem demarcada pelo golpe militar de meados de
2019, quando o então primeiro-ministro Omar Al-Bashir, que já estava há quase três décadas no
comando, foi deposto do poder por um grupo de militares. Vale ressaltar que a saída do então
presidente foi precedida por levantes populares que exigiam um governo democrático.

Acusado de autoritarismo, o parlamentar sofreu um golpe político e, assim, teve início um período
de transição para um governo democrático, que foi uma das reivindicações da própria população
no contexto da saída de Al-Bashir. A formação do novo modelo de governabilidade e a construção
de uma democracia no país contou com a formação de um Conselho Soberano, liderado por
militares e civis.

Os grupos que comandavam a transição, que inicialmente duraria dois anos, somaram forças e
deram um golpe militar no país, no fim de 2021. A tomada de poder por parte dos militares ocorreu
dentro de um contexto de manutenção da crise econômica, de crise médica com a pandemia da
Covid-19, de disputas entre civis e militares, de contestações sobre os recursos naturais e de
instabilidade política.

Os militares chegaram ao poder através da aliança formada pelo general Abdel Fattah al-Burhan,
que se tornou o chefe do exército, o presidente do Conselho, e o general Mohamed Hamdan Dagalo,
conhecido como Hemedti – que se tornou o chefe da organização paramilitar Forças de Suporte
Rápido (FSR) – e o vice-presidente.

Só que, no final de 2022, o jogo virou!!!!! A aliança entre eles começou a ruir, devido a discordâncias
com relação à integração do grupo paramilitar FSR nas Forças Armadas regulares, o que retiraria a
independência e a sua organicidade própria, além da questão de os militares também possuírem
uma regulamentação feita por civis. O conflito atual, que possui suas raízes em questões históricas,
está girando em torno dessa disputa de poder entre os dois chefes militares, e da tentativa do
exército sudanês de subordinar a organização paramilitar Forças de Suporte Rápido (FSR).

Isso tudo ocorre dentro de uma conjuntura de quase concretização da construção de um governo
civil, já que civis e militares assinaram um acordo, em dezembro de 2022, que dava início ao
processo de construção de um regime civil e democrático. Já havia, inclusive, uma previsão para
eleições em julho de 2023.

No cenário internacional, países como os Estados Unidos vêm tentando organizar um acerto
diplomático entre os dois generais, para que o conflito chegue ao fim. Um cessar-fogo de 72 horas
se iniciou no dia 25/04/2023, entretanto, já há relatos de que os conflitos continuam em algumas
regiões.

Como contextualizar essas informações na redação?

A analogia é uma ótima estratégia argumentativa. Digamos que você receba um tema sobre o qual
é preciso debater, na redação, a questão da intolerância religiosa no Brasil – como você verá abaixo.
Sabia que é, sim, possível fazer um paralelo entre a perseguição às religiões no território brasileiro
e a perseguição e imposição religiosa ocorrida no Sudão? Pois é! Essa habilidade de comparar um
elemento ao tema é chamada de analogia. Fazemos isso constantemente: ao relacionarmos o tema
recebido a um filme, uma música, um livro, um fato histórico.... Dessa forma, referente ao tema
antes mencionado, do ENEM 2016, observa-se a possibilidade de contextualizar o fato atual do
conflito no Sudão em uma discussão sobre perseguição religiosa brasileira, desde que realize uma
boa analogia no parágrafo de desenvolvimento

Vejamos os textos de apoio a seguir, referentes a esse tema e, depois, te desafio a produzir uma
redação sobre o tema 2, usando o conteúdo desse material como exemplificação. Bora?

Tema 1: Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil (Enem, 2016)

TEXTO I
Em consonância com a Constituição da República Federativa do Brasil e com toda a legislação que
assegura a liberdade de crença religiosa às pessoas, além de proteção e respeito às manifestações
religiosas, a laicidade do Estado deve ser buscada, afastando a possibilidade de interferência de
correntes religiosas em matérias sociais, políticas, culturais etc.
Disponível em: www.mprj.mp.br. Acesso em: 21 maio 2016 (fragmento).

TEXTO II
O direito de criticar dogmas e encaminhamentos é assegurado como liberdade de expressão, mas
atitudes agressivas, ofensas e tratamento diferenciado a alguém em função de crença ou de não
ter religião são crimes inafiançáveis e imprescritíveis.
STECK, J. Intolerância religiosa é crime de ódio e fere a dignidade. Jornal do Senado. Acesso em: 21 maio 2016 (fragmento).

TEXTO III
CAPÍTULO I
Dos Crimes Contra o Sentimento Religioso
Ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo

Art. 208 – Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir
ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto
religioso:

Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Parágrafo único – Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da


correspondente à violência.
BRASIL. Código Penal. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 21 maio 2016 (fragmento).

TEXTO IV

PROPOSTA DE REDAÇÃO

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”, apresentando
proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma
coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Tema 2: Os desafios dos refugiados no século XXI


TEXTO I

Refugiados
São pessoas que estão fora de seu país de origem devido a fundados temores de perseguição
relacionados a questões de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo
social ou opinião política, como também devido à grave e generalizada violação de direitos
humanos e conflitos armados.
A vida como refugiado pode ser difícil de imaginar. Mas, para 25,4 milhões de pessoas em todo o
mundo, é uma realidade apavorante. Eles contam com o nosso apoio para reconstruir suas vidas.
Disponível em: https://www.acnur.org/portugues/quem-ajudamos/refugiados/

TEXTO II
As dificuldades dos refugiados no Brasil durante a pandemia
Informalidade e dificuldade de acesso à saúde e à língua elevam grau de risco a migrantes e
refugiados
Em janeiro, o governo brasileiro reconheceu de uma só vez 17 mil venezuelanos como refugiados.
De acordo com o Conare (Comitê Nacional para Refugiados), existem, no total, cerca de 45 mil
refugiados no Brasil, destes, cerca de 38 mil são da Venezuela, o que faz com que o país tenha o
maior número de pessoas do país vizinho em situação de refúgio.
Além deles, há sírios, congoleses e angolanos, em sua maioria.
São cidadãos que abandonaram seus países de origem devido a conflitos armados, perseguições
políticas ou religiosas, desastres ambientais ou crises econômicas.
Por contarem, muitas vezes, com condições financeiras e de moradia precárias, documentação
irregular e dificuldade de acesso ao serviço de saúde, os refugiados fazem parte de uma das
populações mais vulneráveis à Covid-19. Não há dados oficiais de refugiados no Brasil infectados,
mas o impacto é evidente, já que muitos também dependem do comércio informal para sobreviver,
área fortemente afetada pela pandemia.
Ações promovidas por organizações do terceiro setor, como a arrecadação e doação de alimentos
coordenada pela África do Coração, ajudam a minimizar os efeitos da crise sanitária. Além disso,
o Acnur também promove ações que visam proteger os refugiados, como a construção de hospitais
de campanha, distribuição de itens de emergência, auxílio financeiro emergencial e realocação para
espaços seguros.
Os apoios são uma forma de manter a dignidade que os refugiados nem sempre encontram em
seus lugares de origem. Receber e acolher pessoas em situação de risco é uma forma de lembrá-
las da sua humanidade para a construção de um futuro possível.
Disponível em: https://www.conectas.org/noticias/refugiados-no-brasil-durante-a-pandemia/

TEXTO III
Acalmou a tormenta
Pereceram
O que a estes mares ontem se arriscaram
E vivem os que por um amor tremeram
E dos céus os destinos esperaram
Atravessamos o mar Egeu
Um barco cheio de Fariseus
Com os Cubanos
Sírios, ciganos
Como Romanos sem Coliseu
Atravessamos pro outro lado
No rio vermelho do mar sagrado
Os center shoppings superlotados
De retirantes refugiados
You
Where are you?
Where are you?
Where are you?
Onde está
Meu irmão sem irmã
O meu filho sem pai
Minha mãe sem avó
Dando a mão pra ninguém
Sem lugar pra ficar
Os meninos sem paz
Onde estás meu Senhor
Onde estás?
Onde estás?
Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito
Que embalde desde então corre o infinito
Onde estás, Senhor Deus?
Compositores: Antonio Carlos Santos De Freitas / Arnaldo Augusto Nora Antunes Filho / Marisa De Azevedo Monte

PROPOSTA DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema “Os desafios dos refugiados no século XXI” apresentando proposta de
intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e
coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
Atualidades Brasil

Possível suspensão do novo Ensino Médio e do Novo Enem: por que


estamos revisando a educação?

No dia 3 de abril de 2023, o atual presidente do Brasil, Luís Inácio “Lula” da Silva, suspendeu a
implementação da proposta do Novo Ensino Médio, adiando seu início para novas discussões. Esse
projeto foi elaborado e aprovado em 2017, referente ao governo de Michel Temer. A ideia inicial era
que, a partir de 2022, as propostas fossem implementadas para que em 2024 os estudantes do
Ensino Médio pudessem fazer o “novo” Enem. Sendo assim, as duas propostas andariam juntas. A
nova proposta para o Ensino Médio visava, entre outros pontos, aumentar a autonomia na escolha
educativa dos alunos. Sendo implementada em 2022, os alunos do primeiro ano estariam aptos
para, em 2024, se depararem com um novo formato do Enem, que seria seriado (em cada ano do
Ensino Médio) e abordaria os Itinerários Formativos relativos às mudanças nos conteúdos
curriculares do Ensino Médio no Brasil.

Itinerário Formativo: conteúdos eletivos que o aluno escolhe de acordo com sua aptidão e
interesse

No entanto, com a pandemia de 2020, a implementação de mudanças para 2022 se tornou algo
inviável. Muitos alunos não tiveram estrutura para assistir às aulas em modelo remoto, causando
grande defasagem no aprendizado; além disso, esse período causou uma série de dificuldades no
retorno ao ambiente escolar. O momento de retorno pós-pandemia, portanto, vem com novos
desafios já referentes aos dois anos de afastamento do ambiente escolar presencial, o que também
enfraqueceu as discussões e implementações das mudanças do Novo Ensino Médio para 2022. Um
questionamento surgiu: “Como voltar para a escola depois de dois anos sem aula ou depois de dois
anos com aulas remotas, com estudantes das mais diversas realidades e num contexto de baixa na
infraestrutura escolar, sobretudo quando discutimos a educação pública? Seria possível
implementar de imediato mudanças ainda pouco definidas?” Ou seja, houve um problema também
de contexto sobre o tempo de implementação dessas medidas.

Discutir novas propostas pedagógicas e reformas gerais para a estrutura do Ensino Médio pode ser
algo que beneficie o universo pedagógico escolar, sobretudo quando são elaboradas a partir de
demandas e discussões internas da comunidade educacional. Contudo, a proposta que estava
correndo foi bastante criticada sobretudo pelas instituições de ensino e profissionais da área, isto
é, quem lidaria diretamente com as implicações do programa. As propostas de mudança foram
estabelecidas sem que houvesse um acompanhamento de medidas que viabilizassem a
infraestrutura necessária para tal; ademais, na própria teoria havia lacunas e falhas difíceis de
serem compreendidas, especialmente considerando o contexto de implementação em escala
nacional.

Um dos problemas da proposta do Novo Ensino Médio é a redução das horas para conteúdos
básicos. Antes de aprofundar nisso, já é fácil perceber que, com as lacunas de dois anos deixadas
pela pandemia e a redução de tempo para conteúdos básicos, a implementação a qualquer custo
causaria mais lacunas e precarização na educação, principalmente para os mais pobres.
O Ensino Médio era composto de 2.400 horas, equivalente a 800 horas por ano. O Novo Ensino
Médio teria um aumento de 600 horas, totalizando 3.000 horas, ou seja, 1.000 horas por ano. Então,
porque haveria redução das disciplinas-base se as horas aumentariam?

A proposta era que essas 3.000h fossem divididas em 2 grupos. Primeiro, 60% da carga nova (1.800
horas) seriam destinados à formação básica geral, ou ao “antigo” Ensino Médio. Isto é, o conteúdo
programático e as disciplinas regulares, que tinham 2.400 horas, passariam a ter 1.800 horas para
realizar a mesma formação básica, por isso a redução nos conteúdos oficiais e básicos. Outro ponto
bastante problemático é que, dentro dessa proposta, apenas Português e Matemática foram
mantidos como obrigatórios para todos os anos, as outras disciplinas não. Então, o estudante
poderia, por exemplo, estudar Ciências Humanas apenas em um ano e não nos outros. Outra
mudança foi o novo entendimento da distribuição dos conteúdos, a partir do qual as disciplinas não
seriam mais os focos, e sim as “áreas do conhecimento”. Ou seja, em vez de falarmos de Biologia,
Química e Física, falaríamos de Ciências da Natureza. Isso pode causar um desequilíbrio entre
escolas e entre as regiões quanto à priorização das diretrizes básicas. É preciso um guia nítido para
padronização da implementação dos planos de estudo, para que o Enem possa cobrar o que todos
os alunos estudaram igualmente.

Além disso, o aumento da carga geral pode sobrecarregar professores ou causar “buracos” onde
não há professores o suficiente para suprir a implementação. Essas 600 horas a mais, que fazem
parte da diretriz do Novo Ensino Médio, foram obrigatórias para escolas públicas e privadas.
Portanto, se houvesse uma ordem federal para implementar as mudanças, mesmo que não
houvesse professores a mais o suficiente, algumas escolas se encontrariam pressionadas a
implementar as mudanças a despeito dos conteúdos básicos. Logo, remanejar professores de suas
disciplinas para uma proposta pouco específica dos Itinerários Formativos era um risco grave que
a educação estava correndo.

Os 40% restantes (1.200 horas) seriam destinados aos Itinerários Formativos, segundo os quais o
estudante poderia escolher um campo de conhecimento para se aprofundar. O Novo Ensino Médio
teria também como objetivo aumentar o ensino profissionalizante, ou seja, aumentar o preparo para
o mercado de trabalho. Isso é algo muito importante, sobretudo para os alunos de baixa renda, que
precisam de emprego e remuneração mais imediata, antes dos quatro ou cinco anos de graduação,
e têm dificuldade de ingressar no Ensino Superior e se manter nele financeiramente. Ademais, há o
receio de que se aumente uma lógica produtivista na escola, enfraquecendo a lógica de formação
humanitária, emancipadora e crítica nas salas de aula. Nesse momento, é importante pontuar a
particularidade do Ensino Médio, que segue a sequência didático-pedagógica do Ensino Básico,
sendo uma preparação que qualifica o estudante para o Ensino Superior. Ele se difere do Ensino
Técnico, que profissionaliza muitas vezes junto ao Ensino Médio, preparando o estudante para o
mercado de trabalho.

O governo definiu algumas diretrizes básicas para que as escolas tivessem autonomia de definir e
compor seus Itinerários Formativos. Algumas diretrizes foram muito criticadas, principalmente
após algumas escolas divulgarem os resultados dos itinerários que haviam concluído. Propostas
viralizaram na internet em forma de piada, como “Brigadeiro gourmet”, “O que rola por aí”, “Por
dentro das redes”, “Panificação”, “Mundo pet” e “Torne-se um milionário”. Quando analisamos mais
a fundo, vemos que por trás dessas propostas existem áreas como empreendedorismo, culinária,
veterinária, habilidades socioemocionais, programação e educação financeira, mas que carecem de
diretrizes comuns e gerais, além de melhor delineamento teórico e padronização temática, para que
sejam implementadas de forma comum.
Ainda há mais problemas: por exemplo, se uma escola desejasse e tivesse a demanda dos
estudantes de estabelecer um Itinerário Formativo na área de audiovisual, que é algo caro para se
desenvolver, existiria a infraestrutura necessária para desenvolver esse projeto? De qualquer forma,
1.200 horas só de itinerários Formativos definidos individualmente pelas escolas, mesmo que a
partir das diretrizes básicas do Governo Federal, poderiam desregular a sincronicidade pedagógica
nacional. Além do que já comentamos: com obrigatoriedade apenas para Português e Matemática
durante os três anos, seria possível que professores de Sociologia, Geografia, Biologia e outras
disciplinas fossem redirecionados para tais Itinerários em detrimento de suas disciplinas de
formação, o que geraria uma precarização geral do ensino.

Outro ponto é que o aumento da carga horária não seria um problema apenas para os professores.
Haveria salas, inspetores, seguranças, merendeiros e servidores-gerais o suficiente para esse
aumento de hora? Há, no cenário da educação brasileira nacional, possibilidade de realizar esse
aumento?

Existem alguns projetos locais interessantes que podem ser utilizados como exemplo de
implementação de mudanças nesse contexto debatido. A Rede CUCA, desenvolvida pela prefeitura
de Fortaleza, ampliou a partir dos Centros Urbanos de Arte, Cultura, Ciência e Esporte uma
diversidade de temas, articulando junto à Coordenadoria Especial de Políticas Pública de Juventude
e ampliando a infraestrutura educacional para guiar diversos projetos pedagógicos fora das
disciplinas regulares, visando, portanto, um ensino de qualidade para as pessoas.

Dessa forma, a questão da infraestrutura deve acompanhar esse tipo de proposta federal.
Obviamente, o orçamento para aplicar um projeto com tantas mudanças a nível nacional é algo alto.
Contudo, também é inviável que o Governo Federal imponha tais mudanças sem que haja um
investimento coerente para a implementação, seja para qualificação específica dos professores
para os novos Itinerários, seja para o funcionamento escolar em período integral, recebendo os
investimentos tecnológicos necessários para ampliar as áreas de conhecimento em diferentes
setores.

Assim, esse período de revisão do Novo Ensino Médio deve chamar nossa atenção para reflexões:
“Quais são as atividades e novidades que devemos implementar para os alunos desse novo
contexto e geração?” “O currículo como está basta?” “Quais as dificuldades cotidianas do ambiente
escolar que uma reformulação pedagógica pode ajudar a solucionar?” E, antes de elaborar qualquer
plano, deve-se gerar a infraestrutura necessária para, aí sim, implementar as mudanças almejadas,
sendo compatíveis à realidade nacional. De qualquer forma, é importante que as mudanças não
reduzam, mas fortaleçam as disciplinas básicas, que não devem ser diminuídas em comparação ao
aumento das eletivas e dos novos projetos de ensino que virão daqui em diante.

Conheça um pouco mais da proposta do Novo Ensino Médio clicando neste link.

Como contextualizar essas informações na redação?

O eixo temático de educação pode ser abordado de diferentes maneiras como proposta de redação,
conforme você verá nos dois exemplos a seguir. Todavia, para além disso, é possível pensar em
educação ao produzir uma proposta de intervenção sobre diferentes temas; afinal, é um dos
possíveis agentes interventivos. Logo, com base nas reflexões levantadas no texto anterior, pense:
as alterações provenientes do Novo Ensino Médio soam como uma proposta de intervenção? Ou,
pelo contrário: você acha que elas, a longo prazo, apenas trarão mais problemas na sociedade
brasileira? Questione esse assunto e formule argumentos sobre esse tópico.

Tema 1: Os desafios da educação básica no Brasil

TEXTO I

A Secretaria de Educação Básica (SEB) atua na formulação de políticas para a educação infantil, o
ensino fundamental e o ensino médio. Em articulação com os sistemas de ensino e participação
social, também planeja, orienta e coordena a implementação dessas políticas por meio da
cooperação didático-pedagógica, tecnológica, técnica e financeira. As ações desenvolvidas visam
à melhoria da qualidade das aprendizagens e da valorização e qualificação dos docentes, com o
objetivo de garantir a igualdade de condições para acesso e permanência na educação básica em
consonância com o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação
para o trabalho. Os programas e ações seguem os objetivos estratégicos do Compromisso Nacional
pela Educação Básica, iniciativa anunciada em julho de 2019 pelo MEC, em parceria com o Conselho
Nacional de Secretários de Educação (Consed) e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de
Educação (Udime), com o objetivo de tornar o Brasil referência em educação básica na América
Latina até 2030. Atualmente, os documentos que norteiam a educação básica são a Lei nº 9.394,
que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Básica e o Plano Nacional de Educação, aprovado pelo Congresso
Nacional em 26 de junho de 2014. Outros documentos fundamentais são a Constituição da
República Federativa do Brasil e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao-basica/apresentacao

TEXTO II

Panorama geral

Você sabe o tamanho do nosso sistema educacional? São 47,9 milhões de alunos na Educação
Básica - sendo que 38,7 milhões estão matriculados na rede pública de ensino. Esse número total
de estudantes representa 22,8% da população brasileira e equivale a 500 Maracanãs lotados. Para
atender todos esses alunos, o Brasil tem 180 mil escolas e cerca de 2,2 milhões de docentes
espalhados pelo país.

Qualidade e infraestrutura

Muitas escolas não têm a infraestrutura adequada para o aprendizado, o que é considerado pelos
especialistas um dos fatores que contribuem para o desestímulo dos alunos. O problema estrutural
das escolas acaba impedindo também a aplicação dos protocolos de saúde durante a pandemia.

As regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas pelo déficit na infraestrutura - muitas não
possuem salas de leitura, bibliotecas ou acesso a recursos tecnológicos. Isso dificulta o
desenvolvimento e incentivo a tecnologias educacionais que poderiam ser grandes aliadas dos
professores e alunos.
Disponível em: https://fundacaolemann.org.br/noticias/como-esta-a-nossa-educacao-basica

TEXTO III

O GESTA – Engajamento Escolar investigou a questão e chegou a 14 motivos que fazem o jovem
sair da escola. Confira:

1. ACESSO LIMITADO
A falta de acesso ainda é um problema em todos os estados brasileiros. Quando falamos de áreas
rurais e periferias urbanas, faltam escolas e vagas próximas à residência do jovem e o transporte
público pode ser demorado ou inexistente. [...]

2. NECESSIDADE ESPECIAL
Mais de 5% dos jovens abandonam a escola por conta de limitações físicas, seja por deficiência,
por doenças graves (crônicas ou contagiosas) ou por serem portadores de necessidades especiais.
Quando o jovem não pode ir até a escola, é preciso que a escola vá até o jovem. Quando a questão
é uma necessidade física, visual, auditiva ou cognitiva, é necessário que a escola se adapte às suas
condições especiais – e é importante destacar que a legislação brasileira prevê esses tipos de
atendimentos. Atualmente, 37% dos jovens com necessidade especial beneficiados pelo Benefício
de Prestação Continuada (BPC) do governo federal não frequentam a escola[...]

5. MERCADO DE TRABALHO
Reconhecidamente, um dos fatores de maior importância para afastar os jovens das atividades
escolares é o seu envolvimento, de forma precoce e em intensidade inadequada, com o mundo do
trabalho. Muitos jovens têm que trabalhar, já outros escolhem trabalhar. Os jovens com 17 anos ou
mais são os que mais saem da escola por esse motivo.
6. POBREZA
O jovem às vezes não tem condições mínimas de alimentação, vestuário ou higiene para frequentar
a escola com dignidade ou não tem estrutura em casa para realizar os deveres de casa, como
acesso a energia elétrica, internet, livros e cadernos. Existem diversos programas que buscam
prover as necessidades básicas destas famílias e até condicionam apoio financeiro à frequência
escolar.

7. VIOLÊNCIA
As violências física e psicológica (bullying e assédio, por exemplo) podem acontecer dentro de casa,
na escola ou nas ruas, podendo gerar sérias consequências e traumas que tornam ir à escola uma
experiência insuportável ou impossível, comprometendo o aprendizado dos jovens e desviando sua
atenção dos estudos.
Disponível em: https://www.politize.com.br/abandono-escolar-causas/

PROPOSTA DE REDAÇÃO

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema “Os desafios da educação básica no Brasil”, com proposta de intervenção
que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa,
argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Tema 2: Os desafios dos professores brasileiros na sociedade contemporânea

TEXTO I

Disponível em: https://tirasarmandinho.tumblr.com/post/115708976239/tirinha-original


TEXTO II
Salário mínimo pago ao professor no Brasil é um dos piores do mundo

Pesquisa da OCDE considera rendimentos anuais de cerca de 40 países ou regiões


(11/09/2018 - 06:00 / Atualizado em 30/10/2018 - 12:41)

O Brasil é o que paga pior seus professores do ensino fundamental ao médio entre 40 países ou
sub-regiões, membros ou parceiros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE). Segundo o estudo "Education at a glance", divulgado nesta terça-feira, quando
considerado o salário inicial anual de cada etapa, os professores brasileiros ficam em último em
quase todas, exceto na educação infantil. [...]

Para a especialista em educação e ex-presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de


Educação (Undime), Cleuza Repulho, a falta de atratividade na carreira prejudica diretamente a
qualidade do setor no país.

— É um conjunto de fatores que vão precarizando a educação e impactam diretamente na sua


qualidade. Quando há baixos salários, poucas pessoas se interessam pela profissão e muitas delas
não têm a formação adequada e não investem nela. Isso vai virando uma bola de neve. A maioria
dos professores é dedicada, mas falta condições — opina.
Segundo ela, o cenário seria diferente se o país se dispusesse a cumprir o Plano Nacional de
Educação (PNE), que prevê a valorização do professor.
— O PNE coloca a valorização do professor para garantir a atratividade, mas por conta da crise o
valor do salário não está subindo como deveria. No Brasil, constatamos os problemas, mas não
resolvemos. Precisamos de um governo que tenha como foco a educação e que leve em conta o
professor e o cumprimento do plano, caso contrário, teremos um apagão de professores. E os
professores que temos terão dificuldade de trabalhar — critica.
Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/salario-minimo-pago-ao-professor-no-brasil-um-dos-piores-do-
mundo-23056381 (adaptado)

TEXTO III
'Fui agredido em sala de aula': 3 professores contam histórias de violência, trauma e decepção
(12 de agosto de 2019)

"Um filme de terror". É assim que o professor Thiago dos Santos Conceição, de 32 anos, descreve
os momentos de tensão que viveu no dia 18 de setembro de 2018, quando um grupo de alunos do
9º ano do CIEP Municipal Mestre Marçal, em Rio das Ostras (RJ), começou a hostilizá-lo durante
uma aula de Língua Portuguesa.
"Tive muito medo. Pensei que fosse morrer", admite o docente que, por medida de segurança, se viu
obrigado a pedir transferência para outro município.

Thiago não é o primeiro a sofrer violência física ou verbal em sala de aula. E, a julgar pelos números
da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ele também não será o
último.

Segundo os dados mais recentes, de 2013, o Brasil lidera o ranking de violência escolar: 12,5% dos
docentes brasileiros relataram ser vítimas de ameaças, xingamentos ou agressões ao menos uma
vez por semana. A média mundial da organização que reúne 34 países é de 3,4%.
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-49301295
TEXTO IV

Disponível em: http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2014/06/com-destaque-para-charges-salao-universitario-e-aberto-


em-piracicaba.html

PROPOSTA DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema “Os desafios dos professores brasileiros na sociedade contemporânea”
apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e
relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
Relação commercial Brasil x China

Contextualizando

A visita do governo Lula à China começou na em 12 de abril com a chegada de sua comitiva a
Xangai, primeira parada no país. A viagem começou por essa cidade pois é onde ocorreu a posse
da ex-presidente Dilma Rousseff à frente do Banco do Brics, à qual Lula esteve presente. Já no dia
13, o presidente seguiu viagem para Pequim, onde se encontrou com o presidente da China, Xi
Jinping. No encontro, o governo tratou principalmente da relação comercial com a China – maior
parceira de negócios do Brasil –, mas também da guerra entre Rússia e Ucrânia e de questões de
governança global.

Novo Banco de Desenvolvimento – Banco do Brics


O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também conhecido como Banco do Brics, é uma
instituição financeira multilateral criada pelos países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África
do Sul). Conforme o acordo do NBD, a missão do banco é fornecer suporte financeiro a projetos
públicos ou privados por meio de empréstimos, garantias, ações e outros instrumentos financeiros.
Além disso, o banco deve colaborar com outras entidades financeiras e organizações internacionais
e oferecer assistência técnica aos projetos apoiados pela própria instituição.

A ideia para criação do NBD surgiu durante a Quinta Cúpula do Brics, realizada em Durban, África
do Sul, em 27 de março de 2013. Os respectivos líderes concordaram em criar um banco para
fomentar os diferentes tipos de projetos na economia de seus e outros países que futuramente
decidissem participar. Posteriormente, na Sexta Cúpula do Brics – em Fortaleza, Brasil, 15 de julho
de 2014 –, o grupo de economias emergentes assinou o tão aguardado acordo para estabelecer o
Novo Banco de Desenvolvimento, com um fundo de moeda de reserva no valor de US$ 100 bilhões
(dólares estadunidenses). Esse acordo foi projetado para contrariar a influência das instituições de
crédito tradicionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

FMI, Banco Mundial e Bretton Woods


Essas organizações foram criadas em 1944, na Conferência de Bretton Woods, Estados Unidos,
como uma forma de recuperar a economia do mundo no pós-Segunda Guerra Mundial. A ideia era
que essas instituições (FMI e Banco Mundial) servissem como uma salvaguarda para a
instabilidade financeira e econômica global. É importante lembrar que, no contexto da Grande
Depressão (1929, o mundo entrou em uma grave crise econômica, com diferentes movimentos
nacionalistas e ditatoriais assumindo o poder em vários lugares do mundo, especialmente a Europa.
Tal crise influenciou diretamente na Segunda Guerra Mundial.
Assim, o objetivo principal do FMI seria promover a estabilidade do sistema monetário internacional
a partir de coordenação de políticas cambiais, monitoramento econômico e assistência financeira
em caso de crises. O Banco Mundial, por sua vez, foi criado para financiar projetos de
desenvolvimento em países mais pobres, além da reconstrução de países afetados por guerras.
Desde então, ambas as instituições têm desempenhado um papel significativo na economia global
e na promoção do desenvolvimento econômico.

É nesse contexto que se observa uma significativa “dolarização” da economia mundial, isto é, o
mundo passa a usar o dólar americano como moeda de reserva e de troca nas relações comerciais
de grande porte. O problema é que depender do dólar americano, especificamente nas transações
entre países emergentes, pode levar a grandes flutuações na taxa de câmbio. Em outras palavras,
qualquer coisa que aconteça com a economia estadunidense e resulte, por exemplo, numa
valorização de sua moeda afeta diretamente as trocas comerciais entre outros países, muitas vezes
negativamente. Assim, depender menos do dólar nas trocas comerciais pode ser uma saída para
evitar essa flutuação da moeda americana.

É por isso que Brasil e China firmaram na última semana um acordo para realizar transações
comerciais com suas moedas, deixando o dólar de fora. A iniciativa visa diminuir a dependência da
moeda estadunidense e fortalecer as relações sino-brasileiras. A notícia foi entendida como a
“desdolarização” da economia. Contudo, é necessário ter muito cuidado, pois o dólar é usado como
principal moeda em crédito, dívidas, comércio, pagamentos e várias outras relações financeiras
desde 1940. Logo, a moeda americana é muito forte. De acordo com dados do sistema de
pagamentos internacionais SWIFT, o dólar estadunidense é a moeda mais usada no comércio
mundial, com uma participação de cerca de 40% das transações globais em 2020. O euro é a
segunda moeda, com cerca de 20% das transações. O yuan chinês representa 3% das transações
globais. Dessa forma, não há de fato uma “desdolarização” da economia, mas o início de um longo
e bem demorado (bota demorado nisso...) processo de diversificação das moedas no comércio
internacional e diminuição da hegemonia do dólar.

A presidente Dilma Rousseff


É nesse contexto de importância do FMI, do Banco Mundial e da “dolarização” da economia mundial
que o NBD ganha uma importância maior, pois ele serve como alternativa financeira a esses
clássicos instrumentos da economia americana para financiar o desenvolvimento no mundo. O
grupo executivo do banco é composto por membros indicados pelos países-membros, e a
presidência é rotativa, com um novo nome indicado a cada cinco anos. Dilma Rousseff foi indicada
por Lula para substituir Marcos Troyjo, brasileiro que havia sido indicado em 2020 pelo ex-ministro,
Paulo Guedes. O mandato de Dilma Rousseff como presidente do organismo vai até 2025. De
acordo com informações divulgadas aos investidores, o Banco do Brics aprovou financiamentos
que totalizam US$ 30 bilhões desde sua criação, com US$ 14,6 bilhões já desembolsados. O Brasil
já teve projetos no valor de US$ 5 bilhões, incluindo a expansão da rede de água e esgoto em
Pernambuco, melhorias no sistema de transporte urbano em Curitiba e obras para mobilidade
urbana em Sorocaba (SP). China e Índia lideram o ranking de aprovações, com US$ 7,4 bilhões e
US$ 7 bilhões em projetos aprovados, respectivamente.

Lula e sua visita a Pequim


Depois de acompanhar a posse da presidência do NBD, o presidente Lula e sua comitiva seguiram
viagem para Pequim (capital da China), onde foram recebidos por Xi Jinping, atual presidente da
China. No encontro, eles assinaram 15 acordos de comércio e parceria. Os acordos incluem
cooperação no desenvolvimento de tecnologias e outros setores, com um impacto previsto de R$
50 bilhões em investimentos. Durante seu discurso ao lado do presidente chinês, Lula expressou
seu desejo de fortalecer a relação entre Brasil e China e afirmou que a aproximação não será
proibida por ninguém – em clara referência aos Estados Unidos.

A agenda de compromissos do presidente na China encerrou na sexta, 14 de abril. Entre os


destaques, podemos falar sobre o posicionamento do governo Lula como um “jogador” global
independente, fazendo diversas sinalizações positivas para os chineses, o que busca representar
uma independência em relação aos Estados Unidos. Além dos acordos já mencionados, a visita do
governo Lula busca atrair investimento externo para o Brasil e reindustrializar o país. A ideia é que
o Brasil seja mais atraente para investimentos chineses e também americanos, sendo um local ideal
para instalar novas indústrias e aumentar a exportação de produtos com maior valor agregado, uma
vez que o Brasil consegue transitar entre o mundo ocidental (Estados Unidos e União Europeia) e
oriental (China, Rússia, Oriente Médio) com mais credibilidade que outros países.

Como contextualizar essas informações na redação?

A ex-presidente da República Dilma Rousseff tomou posse, no dia 13 de abril de 2023, do cargo de
presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido também como Banco do Brics,
com sede em Xangai, na China. O mandato de Rousseff, que é a primeira mulher a assumir o cargo,
vai até julho de 2025.

Por ser a primeira mulher a assumir o cargo, uma discussão é levantada: a falta de
representatividade feminina na sociedade. Essa questão também é frequentemente abordada em
vestibulares. Veja, a seguir, um tema solicitado pela Universidade Católica de Pelotas.

UCPEL (2023)
A partir das ideias dos textos motivadores e dos seus conhecimentos, redija um texto dissertativo-
argumentativo sobre o tema As ciências e o espaço feminino: suas conquistas que respeite a
norma padrão da língua portuguesa e os direitos humanos. Estruture e relacione argumentos e fatos
para defender o seu ponto de vista, atentando para a coesão e a coerência.
TEXTO I

Marie Curie nasceu em Varsóvia, na Polônia, onde não era permitido que mulheres estudassem.
Então, ela se mudou para a França, para cursar a Universidade de Paris. Lá, se interessou pelo
curioso brilho emanado dos sais de urânio e descobriu que esse brilho era produzido por ele mesmo.
Marie Curie foi a primeira a nomear e estudar as partículas radioativas, descobrindo o urânio, o
polônio e o rádio. Ela também percebeu que, ao mesmo tempo que os efeitos radioativos causavam
sintomas negativos no corpo, o rádio também poderia combater o câncer, auxiliando então na
criação da radioterapia. Em 1903 e 1911, Marie Curie ganhou os Prêmios Nobel de Física e Química,
respectivamente, pelas suas descobertas. Até hoje, ela é a única mulher a possuir dois prêmios
Nobel na história.
Disponível em: https://leiturinha.com.br/blog/mulheres-cientistas

TEXTO II

Proibições, discriminação e preconceito marcaram o ideal das primeiras mulheres que ousaram
desafiar tudo e levar adiante o sonho de se formarem médicas no Brasil. Mesmo que em um lugar
separado na sala de aula – inicialmente no Rio de Janeiro e depois na Bahia – que a gaúcha Rita
Lobato Velho Lopes frequentou as aulas e tornou-se a primeira médica formada no Brasil,
defendendo em 1887 a tese “Paralelo entre os métodos preconizados na operação cesariana”. Além
de brilhante no exercício da Medicina, foi a primeira mulher eleita vereadora em Rio Pardo, em 1934,
pouco depois das mulheres conquistarem direito ao voto. Permaneceu na política apenas três anos,
pois foi cassada pelo Estado Novo, durante a ditadura do presidente Getúlio Vargas. Nascida em
1966, ela foi a primeira mulher brasileira a receber um diploma.
Disponível em: http://prodoctor.net/blog/presenca-das-mulheres-na-medicina-historia-de-conquistas

A redação sobre as ciências e o espaço feminino demanda a leitura e compreensão dos textos de
apoio que constituem a proposta, além de repertório construído ao longo da formação escolar.
Neste texto, é possível falar acerca da pouca representatividade feminina em cargos importante e
também na ciência; mesmo que tenha havido uma evolução ao longo dos anos, ainda não é um
cenário de igualdade entre os gêneros. Pode-se, também, mencionar a ex-presidente Dilma Rousseff
como uma figura feminina que conquistou um cargo de importância na sociedade e discorrer acerca
dessas questões.
Achamos muito petróleo, e agora?

A Petrobras não está medindo esforços para a exploração de petróleo numa fronteira chamada de
Margem Equatorial. Essa descoberta foi apelidada de “novo pré-sal”. Apesar do nome, a reserva de
petróleo encontrada não se dá da mesma forma que o pré-sal. O apelido se deu pois o pré-sal foi
uma grande descoberta e atraiu investimentos, o que deu um grande retorno pro Brasil. Contudo,
essa nova reserva não está exatamente numa camada de pré-sal.

O fundo do oceano é muito vasto em relevo e diversidade, sobretudo em profundidades. A


humanidade ainda evolui vagarosamente nas descobertas relacionadas aos oceanos. Vamos
entender como se deu o petróleo do pré-sal e porque o Brasil ganhou tanto destaque nessa
revolucionária descoberta e exploração.

A camada pré-sal e suas dificuldades

Essa camada corresponde a uma faixa que ocupa 800 quilômetros entre os estados do Espírito
Santo e Santa Catarina, abaixo do leito do mar, e engloba três bacias sedimentares: Espírito Santo,
Campos e Santos. O petróleo encontrado nessa área está localizado em profundidades que variam
entre 5.000 e 8.000 metros, abaixo de uma extensa camada de sal, que, segundo geólogos,
conserva a qualidade do petróleo. Tal condição é o maior desafio na exploração do pré-sal.

Foi dito que o complexo de poços do pré-sal tem capacidade de gerar 100 bilhões de barris, o que
levaria o Brasil para o posto de “top 10” exploradores desse recurso. Veja, na página a seguir, um
esquema ilustrando.
Disponível em: https://www.jornalgrandebahia.com.br/2012/11/depois-de-aprovado-no-senado-e-camara-projeto-dos-royalties-do-
petroleo-volta-a-causar-polemica/.

A exploração inicial ocorreu no litoral do Espírito Santo, norte da bacia de Campos, no Parque das
Baleias. Em 2018, após dez anos do início da exploração, o pré-sal registrou a marca de 1,5 milhão
de barris de petróleo por dia, batendo recordes de países como Reino Unido e Omã.

O pré-sal também é de enorme importância para o desenvolvimento da Petrobras; pois, com uma
descoberta dessa proporção, fica fácil receber investimentos mais pesados do governo e até de
empresas privadas. Sua exploração foi uma aposta do governo Lula; e, apesar do alto custo de
investimento para extração, a técnica desenvolvida pelo Brasil acabou compensando. Essa
conquista elevou a Petrobras a outro nível no cenário internacional.

A descoberta do pré-sal elevou o patamar da estatal brasileira no ramo, demonstrando


competência técnica para explorar novos desafios. Importante frisar que isso ocorreu num período
de animosidade geopolítica pelas tendências neoliberais. A grande mídia e outros setores proferiam
um discurso esperançoso de que o pré-sal não existia, contrariando inclusive argumentos
científicos. Guilherme Estrella, importante geólogo que trabalhou diretamente na descoberta do pré-
sal, revela que empresas, como a Shell, renunciaram à descoberta por falta de conhecimento
técnico e medo de investir.
E a nova descoberta? Como se deu?

A exploração atual não se dá sob uma camada de sal, mas o apelido se deu em razão do potencial
de fornecimento de petróleo e gás natural. Ela está em reservas também encontradas em territórios
vizinhos, no mesmo contexto geológico; então, seu método de exploração não será uma novidade.
Desde 2015, já houve mais de 25 descobertas de hidrocarbonetos no mar da Guiana, 5 delas em
2022. Outro ponto é que, na chamada Margem Conjugada Africana, que tem similaridade geológica
com a Margem Equatorial Brasileira (pela antiga Pangeia, quando os territórios eram juntos),
também tem havido descobertas promissoras, o que aumentou as expectativas da Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP).

Disponível em: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/11/11/margem-equatorial-e-o-novo-alvo-da-petrobras.ghtml.

Para iniciar a exploração, ainda estão em andamento as licenças do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Após essa licença, a primeira perfuração
será a 160 quilômetros da costa, em águas ultra-profundas (2,8 mil metros de profundidade), numa
região que pertence ao estado do Amapá, na bacia da Foz do Amazonas. Até 2027, a Petrobras (que
não é a única com licença para exploração na região) planeja investir cerca de US$ 2,94 bilhões
(dólares estadunidenses) em atividades de exploração na Margem Equatorial, para perfurar 16
poços, o que também vai depender de licenças ambientais correspondentes. Até o momento, a
maior parte da produção da Petrobras vem da camada do pré-sal, e essa nova descoberta é
promissora pois pode superar nossa produção atual. A forma como esses royalties serão
distribuídos podem trazer muitos lucros para o Brasil. Com essa exploração, podemos nos tornar o
5º maior produtor de petróleo do mundo, que é o recurso natural energético mais valioso do planeta.
A expectativa é que nós passemos da produção de, em média, 3 milhões de barris por dia para 5,2
milhões de barris de petróleo por dia.

Um paralelo com o Projeto Willow

Esse é um projeto de exploração de petróleo no Alasca, que é um estado estadunidense com muita
área preservada ambientalmente. O projeto de exploração se dava numa área específica, chamada
de North Slope, prometendo também que a quantidade de recursos valeria os custos de exploração.
Todavia, os estudos de impactos ambientais preveem que a exploração poluiria o equivalente a dois
milhões de carros todo ano. Em decorrência, cresceu um movimento chamado de Stop Willow.
Mesmo assim, o projeto foi aprovado, a despeito da agenda ambiental do Joe Biden, que prometia
nenhuma perfuração nova em área nacional.

Como a crise econômica dos Estados Unidos vem se agravando, o presidente acabou ficando numa
“sinuca de bico”, considerando também que as eleições estão próximas. Os ambientalistas,
contrários ao ex-presidente Donald Trump, acabaram fazendo uma oposição à postura do Joe
Biden. No Brasil, Lula escolheu Marina Silva como ministra do Meio Ambiente a fim resgatar uma
agenda ambiental, o que também traz questionamentos quanto à viabilidade da exploração na
Margem Equatorial e seus possíveis riscos às populações locais, à fauna e à flora da foz
amazônica.

Como contextualizar essas informações na redação?

O meio ambiente é sempre uma temática apresentada em provas de vestibulares por ser uma
questão que pode trazer problemas irreversíveis para as gerações futuras. Atrelada a isso, a
discussão acerca do petróleo também não é novidade nos vestibulares, uma vez que é a principal
matriz energética no Brasil, utilizada principalmente no setor de transporte.

No entanto, qual é a relação entre exploração de petróleo e meio ambiente? Como apresentado
neste material, esses dois assuntos estão relacionados, uma vez que a extração pode prejudicar a
fauna e a flora local. Tais informações não só podem, como devem aparecer como argumento na
sua redação caso seja solicitada uma perspectiva acerca da questão ambiental. No Enem, também
é possível abordar a questão, dado que a Cartilha do Participante informa que o tema pode ser de
ordem cultural, social, científica ou política. Essa exploração é uma questão política, científica (pois
precisamos de conhecimento técnico para isso) e social (porque pode prejudicar e/ou beneficiar
uma sociedade).

Veja, a seguir, o tema da Universidade Tecnológica Federal do Paraná que solicitou uma discussão
acerca de um problema ambiental.
UTFPR (2017)

Pela 1ª vez, abelhas se tornam espécies ameaçadas de extinção


Sete espécies das abelhas amarelas do Havaí são consideradas perigosamente ameaçadas pelo
Serviço Americano de Pesca e Vida Selvagem

Pela primeira vez, as abelhas entraram na lista de espécies ameaçadas de extinção dos Estados
Unidos. Sete espécies da subfamília Hylaeus, encontradas no Havaí, foram listadas pelo Serviço
Americano de Pesca e Vida Selvagem (U. S. Fish and Wildlife Service), após um detalhado estudo
feito em conjunto com a Sociedade Xerces, organização americana de conservação de
invertebrados. A informação foi anunciada na última sexta-feira pelo órgão americano.
Segundo as pesquisas, no começo do século passado, as abelhas listadas eram as mais
abundantes da região. Em 2015, Matthew Shepherd, diretor de comunicações da Sociedade Xerces,
havia publicado no site da organização alguns motivos para a diminuição dessas abelhas havaianas
e apresentou petições pedindo a proteção dos órgãos federais às espécies ameaçadas. “As abelhas
estão sumindo devido à perda de habitat, invasão de predadores e mudanças climáticas da ilha”,
afirmou.
Incêndios florestais, causados pela ação humana, e o aparecimento de espécies não nativas, como
as “formigas aliens”, que se alimentam das larvas das abelhas, também foram apontados como
responsáveis pela escassez dos insetos.
Segundo cientistas, as abelhas amarelas são essenciais para a polinização do ecossistema no
Havaí. “Elas são decisivas para a preservação de plantas e outros animais da ilha”, disse Gregory
Koob, do Serviço Americano de Pesca e Vida Selvagem (U. S. Fish and Wildlife Service)
(...)
Disponível em: http://veja.abril.com.br/ciencia/pela-1a-vez-abelhas-se-tornam-especies-ameacadas-de-extincao/. Acesso em
06.10.2016

O texto acima trata dos riscos de extinção das abelhas havaianas, o que viria a comprometer o
ecossistema da ilha. A partir da leitura, produza um texto argumentativo abordando o papel do ser
humano em relação ao meio ambiente.

Para a produção deste texto, é importante refletir acerca dos impactos da ação humana no meio
ambiente. “Qual é o impacto da ação humana no ambiente?” é uma questão que pode ser feita para
ajudar a organizar as ideias para o planejamento do texto. Na redação, é possível mencionar como
a extração de petróleo afeta o meio ambiente e pensar em políticas de preservação do ecossistema
para amenizar essa questão.
Influencers e as redes sociais no Brasil

O crescimento de influencers no Brasil

O Brasil é um país que tem se destacado no mercado de influenciadores digitais. De maneira


simples e objetiva o ponto crucial para você entender o crescimento desse fenômeno está
relacionado a popularização dos smartphones no país. De acordo com o IBGE (2022), há mais de
242 milhões de smartphones em uso no país, enquanto a população é de 214 milhões de pessoas.
A pesquisa mostra que, ao adicionar notebooks e tablets nessa conta, são ao todo 352 milhões de
dispositivos portáteis no Brasil, o equivalente a 1,6 por pessoa. É nesse cenário que o surgimento
de novos influenciadores é favorecido à medida que também se observa o aumento da demanda
por esse conteúdo digital uma vez que há mais pessoas conectadas

Segundo um estudo realizado pela Nielsen Media Research, mais de 500 mil pessoas atuam como
influenciadores no Brasil, tendo pelo menos 10 mil seguidores cada um. O número é maior do que
dentistas, jornalistas, arquitetos e engenheiros civis. Esse número demonstra a relevância desse
mercado no país e evidencia a importância do marketing de influência para as empresas, para as
marcas. De acordo com uma pesquisa do Influencer Marketing Hub (IMH), em 2022, no mundo todo,
o mercado de influenciadores movimentou cerca de US$ 16,4 bilhões. O estudo também revelou
que existem atualmente 18.900 empresas de marketing que oferecem serviços especializados com
influenciadores.

No Brasil, não é diferente e as marcas estão reconhecendo a relevância dos influenciadores para
alcançar novos públicos e aumentar as vendas de seus produtos ou serviços. O mercado de
influencers cresceu no país a partir da década de 2010, com a massificação do uso de redes sociais.
São indivíduos, em sua maioria desconhecidos, que decidiram tornar público algum aspecto de suas
vidas e, consequentemente, passaram a ser acompanhados por uma audiência de milhares ou até
milhões de pessoas.

De acordo com o Conselho Executivo das Normas-Padrão (CENP), organização que reúne
importantes anunciantes, veículos de comunicação e agências publicitárias do país, o mercado
publicitário investiu cerca de R$ 1,43 bilhão em campanhas lideradas por influenciadores em 2021.
No universo dos influenciadores, aqueles que produzem conteúdo sobre estilo de vida, incluindo
moda, bem-estar, autoconhecimento e lazer, são os que possuem maior número de seguidores e,
consequentemente, recebem maiores remunerações. De acordo com uma pesquisa divulgada pela
agência Nexxt PR em abril, 18 dos 30 influenciadores mais populares do Brasil se enquadram nesse
segmento acima.

Assim, cada vez mais os influenciadores digitais são capazes de transmitir mensagens publicitárias
de maneira mais natural e autêntica, aumentando a confiança do público em relação à marca. Dessa
forma, fica evidente que esse mercado, no Brasil e no mundo, tende a crescer ainda mais nos
próximos anos, acompanhando também a evolução da tecnologia e a mudança dos hábitos de
consumo do público.
A necessidade de regulamentação da atividade e das redes

É daí que surge a necessidade de regulamentar a profissão de influencer e de estabelecer cuidados


com as informações disponibilizadas nas redes sociais. Essas questões são assuntos diferentes,
mas conectados. A primeira é relativa à profissão específica de influencer. No Brasil, a atividade
profissional de influenciador ainda não é oficialmente regulamentada. Atualmente, existem dois
projetos de lei em andamento no Congresso que buscam reconhecer essa profissão. Um deles foi
criado lá em 2018, mas teve alguns problemas técnicos e foi arquivado. Já no ano de 2022, o atual
senador Eduardo Gomes apresentou um novo Projeto de Lei para regular o influenciador social
digital. Entre os principais pontos da o projeto destaca-se:
“Art. 2º É vedada ao influenciador social digital a divulgação de conteúdo que vise ou
configure a perseguição ou discriminação de pessoas ou grupos por motivos sociais,
econômicos, políticos, religiosos, raciais ou étnicos, de gênero, de orientação sexual, de
situação familiar, de condição física ou mental, ou de qualquer outra natureza.
Art. 3º É dever do influenciador social digital respeitar, sob as penas da Lei:
I – o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem das pessoas;
II – o direito autoral e intelectual e de imagem em todas as suas formas;
III – os direitos das crianças, dos adolescentes, das mulheres, dos idosos, dos negros, povos
indígenas e demais grupos étnicos e raciais, bem como dos demais grupos sociais, nos
termos do art. 2°.”

Isso já mostra uma preocupação do projeto ao regular o papel do Influencer e sua relação com a
informação, o que nos permite falar da segunda grande questão sobre as redes sociais que é a
disseminação de Fake News. Para isso foi criado o Projeto de Lei das Fake News que tramita no
Congresso desde 2020 e já sofreu diversas alterações. O Nexo Jornal fez uma excelente reportagem
destacando o que é a PL das Fake News e abordando as mudanças recentes que você pode conferir
completa por aqui. Porém, vamos fazer um resumo dos principais pontos.

PL 2630/2020 – Fake News

O Projeto de Lei 2.630 de 2020 conhecido como "Projeto de Lei das Fake News", tem como objetivo
estabelecer novas regras para plataformas de redes sociais, ferramentas de busca e aplicativos de
mensagem a fim de garantir mais "liberdade, responsabilidade e transparência" na internet brasileira
e combater a disseminação de desinformação política desde as eleições de 2018.

Foi apresentado em 2020 pelo pela deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), pelo senador
Alessandro Vieira (PSDB-CE) e pelo então deputado Felipe Rigoni (União Brasil-ES). O projeto foi
aprovado no Senado em junho do mesmo ano e seguiu para à Câmara dos Deputados, onde recebeu
várias alterações e continua em tramitação. A proposta é alvo de controvérsias e divisões entre
parlamentares. A comunidade jurídica, setores da imprensa e empresas de tecnologia também
estão envolvidos na discussão do projeto, seja com críticas ou com contribuições para a proposta.
Tentaram aprovar o projeto antes das eleições de 2022, mas não conseguiram, até que o projeto
voltou a ganhar força após os atentados de 8 de janeiro de 2023. Importante lembrar que quando
aprovado pela Câmara ele deverá voltar para o Senado, que dará um novo aval.

O que o projeto fala de desinformação


Entre os principais pontos do PL sobre a desinformação podemos destacar que ele:
• Restringe os disparos em massa de mensagens nas plataformas para fins políticos e
partidários, permitindo apenas uso comercial ou institucional.
• Criminaliza do uso ou financiamento de contas-robôs para disseminar desinformação, com
pena de prisão de 1 a 3 anos mais multa.
• Defende a rastreabilidade em aplicativos de mensagens instantâneas. Aqui é um ponto
controverso devido à criptografia desses aplicativos. Como isso será feito, não há certezas,
além da possibilidade de violação da privacidade de comunicação.
• Por fim, estende imunidade parlamentar às plataformas digitais, o que pode causar
distorções nas campanhas eleitorais e favorecer candidatos que já têm mandato em
detrimento dos que não têm.

O que o projeto fala da responsabilidade das plataformas digitais

O projeto de lei também propõe a criação de regras para responsabilizar as plataformas digitais
pelos conteúdos que seus usuários veiculam e por suas políticas de moderação dessas postagens.
Aqui está uma das maiores complexidades, pois envolve também grandes empresas
transnacionais. Os principais pontos do projeto sobre as plataformas digitais destacam que elas:
• Publiquem relatórios de atividades e garanta direito de defesa para usuários com postagens
submetidas à moderação e remoção.
• Disponibilizem canais para envio de pedidos de revisão de decisões e respondam de forma
fundamentada.
• Criem seus próprios códigos de conduta seguindo as diretrizes do Comitê Gestor da Internet.

Contudo, em meio a essa discussão entra a questão do Marco Civil da Internet que acabou não
prevendo esses problemas e isenta as redes sociais de responsabilidade. Dessa forma, a PL das
Fakes News também precisaria contemplar a flexibilização do Marco Civil, responsabilizando e
obrigando as plataformas a remover alguns tipos de conteúdo mesmo sem ordem judicial.
Importante destacar que isso não é só no Brasil. A União Europeia levantou a mesma discussão e
definiu punições caso a plataforma tenha conhecimento de postagens violadoras e não aja. No
geral, as grandes empresas do setor argumentam de forma contrária a essas mudanças afirmando
que seus modelos de negócios serão afetados significativamente.
Por fim, mesmo diante da pressa do poder público e parte da sociedade civil em regulamentar a
internet após o 8 de janeiro, é importante ter cautela. Qualquer projeto de lei que busque regular um
tema tão significativo precisa ser amplamente debatido, levando em consideração as questões
problemáticas, vácuos legislativos e soluções que podem não ser apoiadas. É crucial que o texto
não seja aprovado rapidamente, sem uma discussão adequada. Caso contrário, há o risco de que o
projeto se torne obsoleto rapidamente devido à rápida evolução da internet. Além disso, existe o
perigo de que os eventos ocorridos em 8 de janeiro resultem em um projeto de lei excessivamente
vigilante e punitivo, mesmo quando não for a abordagem apropriada.

Como contextualizar essas informações na redação?

Uma reflexão interessante acerca do impacto dos influencers na sociedade contemporânea é a


questão da autoimagem. Inclusive, essa pauta não se restringe apenas àqueles que trabalham com
a imagem constantemente, como os influenciadores, mas é algo que se expande para a população
que tem contato constante com as redes sociais. Dessa forma, é importante pensar sobre os
impactos que esse tipo de fixação pela imagem e pela representação de si no contexto virtual
podem acarretar a problemas na qualidade de vida do indivíduo. Esse tipo de questionamento pode
ser aproveitado no Tema 1, abaixo, do vestibular da Fuvest.

Outra reflexão é o caráter voltado à constante felicidade, típica entre as redes sociais. Um estado
recorrente de alegria em que não há espaço para defeitos, dificuldades e problemas. Isso se
manifesta tanto no quesito estético – influencers com corpos e rostos cada vez mais esculturais –
, quanto nas temáticas apresentadas – um mundo de aparências, sem espaço para dores e
insatisfações humanas. Esse tipo de reflexão é possível de ser aproveitado no Tema 2, abaixo, do
vestibular da Unesp.

Referências!
Cultura POP: a atual novela das 19h, transmitida na Globo e intitulada “Vai na fé”, é uma referência
da cultura popular sobre o impacto dos influenciadores digitais. A personagem Guiga, por exemplo,
interpretada pela atriz Mel Maia, é uma influenciadora que registra todos os momentos de sua vida
e está constantemente preocupada com o número de seguidores, curtidas e a imagem que
transparece para o público.

Filosofia: a obra “Sociedade do Cansaço”, de Byung-Chul Han, não aborda diretamente o papel dos
influenciadores digitais, mas menciona os efeitos negativos do excesso de produtividade no
contexto contemporâneo. É possível estabelecer um elo entre essa teoria e a rapidez estimulada
pelo mundo tecnológico, potencializada pelos influenciadores, inclusive, no atual contexto em que
não há espaço para o ócio.
Tema 1: Um mundo por imagens (Fuvest 2010)

TEXTO I

TEXTO II
A imaginação simbólica é sempre um fator de equilíbrio. O símbolo é concebido como uma síntese
equilibradora, por meio da qual a alma dos indivíduos oferece soluções apaziguadoras aos
problemas.
Gilbert Durand.

TEXTO III
Ao invés de nos relacionarmos diretamente com a realidade, dependemos cada vez mais de uma
vasta gama de informações, que nos alcançam com mais poder, facilidade e rapidez. É como se
ficássemos suspensos entre a realidade da vida diária e sua representação.
Tânia Pellegrini. Adaptado.

Na civilização em que se vive hoje, constroem-se imagens, as mais diversas, sobre os mais variados
aspectos; constroem-se imagens, por exemplo, sobre pessoas, fatos, livros, instituições e
situações.
No cotidiano, é comum substituir-se o real imediato por essas imagens.

Dentre as possibilidades de construção de imagens enumeradas acima, em negrito, escolha apenas


uma, como tema de seu texto, e redija uma dissertação em prosa, lançando mão de argumentos e
informações que deem consistência a seu ponto de vista.
Tema 2: A tristeza em tempos de felicidade compulsória (Unicamp 2022)

TEXTO I

É melhor ser alegre que ser triste


Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
(Vinicius de Moraes/Baden Powell. “Samba da bênção”. In: Vinicius de Moraes. Livro de letras, 2015.)

TEXTO II

TEXTO III
Época: Como a felicidade se tornou uma tirania?
Pascal Bruckner: No século XVIII, felicidade já deixara de ser um direito para se tornar um dever.
Mas essa inversão de valores só se consolidou no século XX, depois de 1968, quando se fez uma
revolução em nome do prazer, da alegria, da voluptuosidade. A partir do momento em que o prazer
se torna o principal valor de uma sociedade, quem não o atinge vira um indivíduo fora da lei.
Época: Sofrimento virou doença?
Pascal Bruckner: Sempre detestamos o sofrimento, é normal. A novidade é que agora as pessoas
não têm mais o direito de sofrer. Então, sofre-se em dobro. Querer que as pessoas se calem sobre
a dor física ou psicológica é apenas agravar o mal.
(Pascal Bruckner. “O mal da felicidade”. http://revistaepoca.globo.com, 16.02.2018.)

TEXTO IV
Naomi Osaka afirmou na capa da revista Time há alguns dias: “It’s ok to not be ok”. A tenista, que
havia abandonado Roland Garros para cuidar de sua saúde mental, confirmou em um texto em
primeira pessoa a pressão que sofreu nos últimos meses. Falou também da importância de trazer
à tona o debate sobre a saúde mental em nosso tempo, e não só no esporte: “Espero que as pessoas
entendam que está bem não estar bem, e está bem falar disso. Há pessoas que podem ajudar e, em
geral, há luz no fim de qualquer túnel.”

(Noelia Ramírez. “‘Tudo bem não estar bem’, o lema da nova era que dá adeus ao pensamento positivo”. https://brasil.elpais.com,
15.07.2021. Adaptado.)

PROPOSTA DE REDAÇÃO
Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto
dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
“Tudo bem não estar bem”?: A tristeza em tempos de felicidade compulsória

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