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Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva

Capítulo 5

Os 5 Pilares da Psicologia Positiva – O


Modelo PERMA

O Modelo PERMA foi desenvolvido pelo psicólogo


norte americano Martin Seligman e publicado em seu
livro “Florescer – Uma nova compreensão sobre a
natureza da felicidade e do bem-estar (Rio de Janeiro:
Objetiva, 2011)”. Conhecida como Teoria do Bem-Estar,
"PERMA" representa os cinco elementos essenciais que
devem estar presentes para que seja possível adquirir
experiências de um bem-estar efetivo e duradouro. O
modelo é o núcleo central de toda a psicologia positiva,
embora novas pesquisas estejam agregando novos
conceitos ao modelo vigente. De forma sucinta, veremos
um resumo de cada elemento do modelo, visto que
dedicarei os próximos volumes da Série Positiva

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Evandro Borges

Psicologia para abordá-los de uma forma mais abrangente.


5 6 7

PERMA

 P - Positive Emotions - Emoções positivas;


 E - Engagement (or flow) – Engajamento, Fluidez;
 R - Relationships - Relacionamentos Sociais Positivos;
 M - Meaning (and purpose) - Sentido no viver;
Propósito;
 A - Accomplishment – Realização; Persistência; Metas.

5
Seligman, M. E. P. Florescer - uma nova e visionária interpretação
da felicidade e do bem-estar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
6
Seligman, M. E. P. Felicidade Autêntica. Rio de Janeiro: Objetiva,
2004.
7
Seligman, M. E. P. & Csikszentmihalyi, M. (2001). Positive
psychology: an introduction. American Psychologist, 55(1), 5-14,
2001.

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Para a psicologia positiva, seja na aplicação clínica,


em psicoterapia, no contexto educacional ou ocupacional,
nossa ‘bússola’ será o Modelo PERMA. Em outras
palavras, os cinco elementos descritos acima, bem como
seus derivados, no caso das emoções positivas, serão
nossos objetos de investigação em relação ao indivíduo e
às organizações. O Projeto Positiva Psicologia, como
mencionei no início deste livro, irá abordar os cinco
pilares da Psicologia Positiva separadamente, ou seja, a
intenção é aprofundar cada elemento do modelo
separadamente, em volumes separados. Apresento-vos
uma prévia a seguir.

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Evandro Borges

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Emoções Positivas (P)

Um dos cinco pilares centrais da psicologia positiva


são as Emoções Positivas. Para tanto, devemos
compreender, inicialmente, o que são emoções, suas
raízes biológicas, bem como as reações fisiológicas, ou
seja, a maneira como sentimos as emoções e o impacto
das mesmas em nossas relações com os outros.
O termo “emoção” origina-se do latim “ex
movere”, que significa, literalmente, “em movimento”. Se
sorrimos, se choramos, se pulamos de alegria, se
corremos de medo, se sentimos um frio na barriga ou
ficamos pálidos diante de um acontecimento, ou corados

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de timidez, o termo faz todo sentido. Nosso corpo,


mesmo que esteja aparentemente em repouso, move-se
internamente. No entanto, há uma distinção entre
emoção e sentimento, afirma Goleman (2001). Para o
autor, sentimentos são informações que seres biológicos
são capazes de sentir nas situações que vivenciam, isso
porque, conforme observado, é um estado psico-
fisiológico. Já o sentimento seria a emoção filtrada através
dos centros cognitivos do cérebro, especificamente o lobo
frontal, produzindo uma mudança fisiológica em
acréscimo à mudança psico-fisiológica. Portanto, o
sentimento seria uma consequência da emoção com
características mais duráveis. Todavia, existem algumas
relações entre sentimentos e emoções, as emoções, por
exemplo, podem ser públicas, ou seja, notáveis, enquanto
que os sentimentos podem ser privados. Para Goleman, a
emoção é inconsciente e o sentimento, pelo contrário,
consciente.
De acordo com Casanova e Siqueira (2009), desde
a Grécia Antiga até meados do século XIX, filósofos,
psicólogos e pensadores acreditavam que as emoções
eram instintos básicos que deveriam ser controlados sob
pena de o homem ter sua capacidade de pensar
seriamente afetada. Até meados do Século XX, o tema
“emoção” foi parcialmente esquecido por influência do
pensamento cartesiano. Mas é no início do Século XX que

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o tema ressurge sob uma nova perspectiva. Cientistas de


todo o mundo e de diversas áreas do conhecimento
despertaram para o fato de que as emoções influenciam
na capacidade do indivíduo de se relacionar com o meio
em que vive. Além disso, estudos recentes demonstraram
que as emoções influenciam diretamente em nosso
sistema imunológico. O estresse, por exemplo, pode
originar-se de fatores emocionais.
Para o psicólogo e médico francês, Henri Wallon
(1975), a emoção tem dupla origem. É tanto biológica
quanto social. Em sua Teoria das Emoções ele destaca o
importante papel dos laços de afetividade e ressalta que as
emoções também possuem funções determinantes na
garantia da sobrevivência da espécie humana. Para
Wallon, é na convivência com o outro e com o grupo
social que aprendemos a identificar, nomear e lidar com
nossas emoções, aprender a estabelecer relações de
reciprocidade, de cooperação, de rivalidade,
desenvolvendo assim, nossa sociabilidade.

Inteligência Emocional

Ao longo da história, pesquisas significativas


permitiram uma maior compreensão do intelecto
humano. E munidos de bases mais apuradas, alguns
autores passaram a desenvolver conceitos em torno da

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inteligência e todas as suas vertentes. Em 1920,


Thorndike usou o termo “inteligência social” para
descrever a habilidade de se relacionar com outras
pessoas. Gardner, (1989), formulou a ideia de
“inteligências múltiplas”, incluindo a inteligência
interpessoal e a inteligência intrapessoal. Em 1985 surge
o conceito de “inteligência emocional”, criado por Wayne
Payne e, consequentemente aprofundado por Daniel
Goleman, em 1995, ganhando projeção mundial. Tal
conceito sustenta que “inteligência emocional” é um tipo
de inteligência que envolve as habilidades para perceber,
entender e influenciar as emoções. Para Goleman (2006),
nossas emoções guiam-nos quando temos de enfrentar
situações e tarefas muito importantes para serem
deixadas apenas a cargo do intelecto. Cada emoção
representa uma diferente predisposição para a ação,
afirma o autor. Inteligência Emocional (IE), também pode
ser compreendida como a capacidade de se autoconhecer,
lidar bem consigo, conhecer e lidar bem com os outros,
seja nos relacionamentos familiares, sociais ou
profissionais. A inteligência emocional, portanto,
caracteriza a maneira como cada indivíduo lida com suas
emoções e com as emoções que o rodeiam. Em suma,
abrange tudo o que está relacionado com a capacidade de
perceber e exprimir a emoção, assimilá-la ao pensamento,
compreender e raciocinar com ela, e saber regulá-la em si

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e nos outros. Já a habilidade de reconhecer o que os


outros sentem é denominada “empatia”, que tem origem
na autoconsciência, sendo a base da IE, ou seja,
reconhecer um sentimento no momento em que ele
ocorre é um fator determinante, darei um breve exemplo:

Paulo ama sua esposa, e ela também o ama, estão casados


há cinco anos e a relação estava indo bem, até Paulo
começar a ter problemas no trabalho. Ao que parece, a
empresa pretende fazer uma redução de quadro e o nome
de Paulo está na lista de demissão. Com dívidas à pagar,
ele passou a ficar estressado com frequência. E na sexta-
feira, ao final do expediente, chegou em casa cabisbaixo.
Sua esposa lhe perguntou o que havia acontecido. E ele
teve um surto de raiva, agredindo-a verbalmente.

Se Paulo adquirisse a capacidade de reconhecer que está


estressado por conta do trabalho no momento em que
chegasse em casa, não descontaria sua raiva na esposa.
Essa é a base do “equilíbrio emocional”. Lembram
daquele velho conselho, “Respire fundo e conte até 10?
Faz parte do senso comum, mas pode ser útil. A
respiração alivia a ansiedade e tensão do corpo e os 10
segundos são suficientes para refletir sobre qual postura
tomar diante de uma situação complicada. O pensamento
precede a ação, mesmo que por frações de segundos.

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Portanto, toda a ação sóbria e lúcida é consciente e


intencional. A ideia de que certas ações sejam frutos de
impulsos do inconsciente tira do sujeito a
responsabilidade por seus atos. De protagonista, passa a
ser vítima. Esse talvez tenha sido o motivo central de meu
ponto de ruptura com a psicanálise, apesar de reconhecer
que a psicanálise é uma faculdade independente e que
somente psicanalistas possuam capacitação suficiente
para aplicá-la. A mim, resta-me a atitude nobre de
recolher-me à seara de minha capacitação. Não incentivo
e nem encorajo que adeptos da psicologia positiva tomem
como descartáveis os conhecimentos advindos de outras
correntes de pensamento. Muito pelo contrário. Até que
se refute uma teoria através do método científico, ela
continua sendo válida.

No entanto, a emoção não tem sempre este caráter


negativo ou explosivo, como no surto imprevisível de
Paulo. Alguém que está apaixonado, por exemplo, pode
experimentar emoções maravilhosas, mas sentir ciúmes e
insegurança ao mesmo tempo. Para que possamos
aprender a regular atitudes impulsivas, devemos aprender
a escoar nossas emoções, mas nunca represá-las. Utilizar
de recursos físicos ou representacionais parece ser a
forma mais eficiente:

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Todo aquele que observa, reflete ou mesmo imagina,


abole de si mesmo a perturbação emocional. Não nos
livramos da emoção apenas ao reduzi-la às suas
corretas proporções, mas sim, e principalmente, pelo
esforço para representá-la" (WALLON, 1995, p. 86).

Uma ampla gama de emoções positivas se


relacionam com o bem-estar, como paz, gratidão,
satisfação, prazer, inspiração, esperança, curiosidade ou
amor. Na psicologia positiva, o primeiro ponto de partida
para uma intervenção psicológica de uma determinada
demanda de um cliente deve ser, ao contrário da
psicologia tradicional, que procura investigar a presença
de experiências dolorosas e negativas, a investigação da
presença ou ausência de experiências positivas.
Devemos nos lembrar de que o corpo precisa
absorver as emoções e dissipá-las naturalmente. Tal
processo também faz parte do processo de homeostase,
uma vez que as emoções dependem de estímulos
neurológicos e descargas de neurotransmissores, como a
endorfina, noradrenalina, a acetilcolina e a dopamina.
Quando há o desequilíbrio emocional, há também o
desequilíbrio hormonal. E não podemos tratar das
questões hormonais com menor relevância, algo que a
psicologia tradicional aparentemente tem menosprezado.
As mulheres, por exemplo, são mais suscetíveis à
mudanças bruscas de humor devido ao ciclo menstrual, e

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não é raro que uma mulher comece a chorar do nada, sem


motivo aparente durante o período de tensão pré-
menstrual. Tais mudanças bruscas de humor ocorrem
devido às alterações hormonais do corpo. Já o homem
pode irritar-se com maior facilidade, chegando a perder o
controle emocional e até mesmo agir com agressividade.
Isso se deve a uma alta concentração do hormônio
testosterona, que em homens adultos possui níveis cerca
de 7 a 8 vezes mais altos do que em mulheres8.
Não estou afirmando, com isto, que as mulheres
estão em desvantagem emocional, muito pelo contrário,
as mulheres possuem capacidades neurológicas e
cognitivas relativamente significativas que permitem-nas
gerenciar emoções com maior facilidade que os homens. E
não somente emoções, mas conflitos sociais provenientes
de conflitos emocionais. Para a psicóloga norte-americana
Janet Hyde, professora de Psicologia e Estudos da Mulher
na Universidade de Wisconsin-Madison , conhecida por
suas mais recentes descobertas sobre sexualidade
humana, diferenças entre os sexos e desenvolvimento de
gênero, enquanto que os homens têm força corporal para

8
Taieb J, Mathian B, Millat F, Patricot M-C, Mathieu E,
Queyrel N, et al. Testosterone measured by 10 immunoassays and by
isotope-dilution gas chromatography–mass spectrometry in sera from
116 men, women, and children. Clin Chem 2003;49:1381-1395

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competir com outros homens, as mulheres usam a


linguagem para conseguir vantagens sociais, através da
argumentação e persuasão.
Hyde (2005) afirma que o cérebro masculino, no
início da vida, desenvolve-se sob uma alta presença de
hormônios androgênicos, enquanto que o cérebro
feminino se desenvolve através de estrógenos pela falta de
androgênios. Voltando às diferenças propriamente ditas
entre os “diferentes” cérebros, existe um feixe de fibras
nervosas que liga os dois hemisférios do cérebro e é
considerado o ponto essencial do desenvolvimento
intelectual, este feixe é maior nas mulheres. Enquanto
que as mulheres usam várias partes do cérebro para
resolverem determinadas questões, os homens pensam
com regiões mais específicas do cérebro9. Se
substituíssemos todos os membros do Conselho de
Segurança da ONU por mulheres, por exemplo, a
possibilidade de ainda haverem conflitos armados no
mundo seria remota e os arsenais nucleares seriam
desmantelados. Em abril de 2017, por exemplo, um grupo
de ativistas fundou o ICAN - International Campaign to
Abolish Nuclear Weapons (Campanha Internacional para
a Abolição das Armas Nucleares), em Melbourne,

9
Vieira, A., Moreira, J. I., & Morgadinho, R. (2008). Inteligência
Emocional Cérebro Masculino Versus Cérebro Feminino. Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal).

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Austrália e, posteriormente em Viena, Áustria. Em 2017 o


ICAN já conta com cerca de 468 organizações parceiras e
está presente em 101 países10. Em 2017 o ICAN recebeu o Prêmio
Nobel da Paz. O ICAN é dirigido por Beatrice Fihn, uma jurista
sueca de 36 anos formada em relações internacionais e ex-membro
da Women's International League for Peace and Freedom -
WILPF (Liga Internacional de Mulheres pela Paz e Liberdade). O
Comitê de Gestão Internacional da campanha sem fins lucrativos
registrada na Suíça é composto por Susi Snyder (presidente),
Josefin Lind (secretária) e Celine Nahory (tesoureira).

10
ICAN (December 23, 2016). "UN General Assembly approves
historic resolution". www.icanw.org. ICAN. Retrieved 12 January 2017.

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Engajamento ou Fluidez (E)

Quando estamos verdadeiramente empenhados em


uma situação, projeto ou atividade, nós experimentamos
um estado de fluidez: o tempo parece parar, esquecemos
os problemas comuns, nos concentramos intensamente
no presente. Quanto mais experimentamos este tipo de
concentração, mais provável é que a experiência de bem-
estar aumente. Enquanto escrevo este livro, perco, por
vezes e sem me dar conta disso, a noção de tempo. É
como se o tempo parasse para mim, como se eu estivesse
desconectado do mundo e minha mente estivesse voltada

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Evandro Borges

apenas ao que escrevo. É o que considero ser meu estado


máximo de fluidez.

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Relacionamentos Positivos (R)

Como seres humanos, somos "seres sociais", e


dentro desse contexto, os relacionamentos positivos são
fundamentais para o nosso bem-estar. Muitas pesquisas já
demonstraram que pessoas envolvidas em
relacionamentos significativos e positivos são mais felizes
que as demais. Os relacionamentos realmente importam!
Com o advento da tecnologia e o surgimento das
redes sociais na virada do Século XXI, surgiram também
os relacionamentos virtuais, dentro das chamadas

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comunidades virtuais ou ciberespaços, que


proporcionaram os mais diversos tipos de relações sociais.
Dentro destas comunidades virtuais são partilhados
valores, sentimentos, gostos em comum, críticas,
manifestações políticas, dentre uma infinidade de outros
tipos de interações. E acredito que o mundo virtual tem
afetado significativamente o comportamento das pessoas,
seja de uma forma positiva, proporcionando novas
experiências e ampliando círculos de amizades, ou até
mesmo negativamente, condicionando o indivíduo ao
isolamento no mundo real e interativo no mundo virtual.
Não é uma afirmativa, mas a psicologia deve estar
preparada para lidar com as novas demandas advindas da
era tecnológica. E esse assunto carece de pesquisas mais
aprofundadas.

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Sentido no viver, significado ou propósito (M)

O sentido no viver, geralmente vem de servir a uma


causa maior que nós mesmos. O encontro de um sentido
para o que fazemos pode vir de uma crença, uma religião,
uma causa humanitária ou um simples objetivo, desde
que seja significativo para o indivíduo. As pessoas tendem
a procurar por um sentido em suas vidas, um propósito,
uma resposta que dê sentido à própria existência. Muito
do que conhecemos como angústia, tema que foi
amplamente estudado no último século, incluindo
depressão, ansiedade, insônia, fobia social e síndrome do
pânico, dentre outras sintomas, parecem ser advindos de

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Evandro Borges

duas fontes distintas: o medo de viver e o medo de


morrer. O medo de viver está aparentemente relacionado
aos sintomas da angústia e depressão, enquanto o medo
de morrer parece estar relacionado a comportamentos de
fuga e esquiva, um mecanismo de defesa inato, presente
nos sintomas da fobia social, síndrome do pânico, dentre
outros. Para o Dr. Viktor Frankl (2012), psiquiatra
austríaco e idealizador da Logoterapia, a angústia é
sofrimento sem sentido. A Logoterapia, segundo Frankl,
concentra-se no sentido da existência humana, bem como
na busca do indivíduo por um sentido no viver. O autor
também aborda alguns outros temas, como esperança,
objetivos e metas de vida, espiritualidade, altruísmo,
sentimento de pertencer a uma comunidade, de ser
acolhido e colaborar para o desenvolvimento do bem-estar
coletivo.

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Realização (A)

Muitos de nós dedicamos esforços para melhorar a


nós mesmos de alguma forma, seja procurando dominar
uma habilidade ou alcançar um objetivo significativo.
Como tal, a realização é uma outra coisa importante e
contribui para nosso bem-estar e nossa capacidade de
florescer.11
Realização pessoal é algo subjetivo e pode variar de
pessoa para pessoa. Na antiguidade, diversos filósofos
gregos refletiram sobre o conceito de realização pessoal,

11
Munhoz, Fábio. Introdução à Psicologia Positiva. Centro de
Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental, 2016.

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com um grande destaque para Aristóteles12, que dedicou


boa parte de sua vida ao propósito de desvendar o real
objetivo da vida humana. Segundo o filósofo, esse
objetivo seria o de alcançar a felicidade a fim de se atingir
a realização pessoal. No entanto, há, hoje em dia,
reflexões diversas sobre o real significado de realização
pessoal. E interessa-nos aqui a reflexão de um psicólogo
que, a meu ver, lançou as bases para uma psicologia mais
humana e voltada para as potencialidades humanas.
Refiro-me a Abraham Maslow (1943), que desempenhou
um papel fundamental na reformulação da psicologia
como ciência das potencialidades, e dedicou longos anos
de pesquisas ao estudo das motivações humanas.

A Teoria da Hierarquia de Necessidades de


Maslow, também conhecida como A Pirâmide de Maslow,
afirma que os seres humanos possuem necessidades que
obedecem a um nível hierárquico. Na base da pirâmide
estão as necessidades básicas e fisiológicas, como comer,
beber, dormir, respirar, ter relações sexuais, manter o
organismo em homeostase e, por fim, sobreviver. Uma
vez que as necessidades básicas são atendidas, a
motivação se desloca para o próximo nível da pirâmide,

12
Aristóteles. Ética a Nicômaco. 2.ed. Editora Universidade de
Brasília. 1985.

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onde o indivíduo busca segurança pessoal, como moradia,


saúde, segurança do corpo, emprego e recursos para
manter-se.

No terceiro estágio, de acordo com Maslow, a


motivação do indivíduo estaria voltada às necessidades de
afeto, como amor, intimidade, relacionamentos, amizades
e afeto familiar. No quarto estágio a motivação estaria
voltada aos sentimentos de estima, autoestima, confiança,
conquista e respeito mútuo. Por último, no topo da
pirâmide, a motivação estaria dirigida à realização pessoal
ou autorrealização.

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Maslow (1943) afirma que a autorrealização


somente pode ser atingida quando o indivíduo é capaz de
suprir as necessidades anteriores.

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