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19/06/23, 15:47 Emoção

Emoção
Roberta Curvello

Descrição

O múltiplo conceito da emoção e do sentimento, assim como as perspectivas e abordagens psicológicas que alicerçam os diversos componentes
relacionados ao tema.

Propósito

Ampliar a compreensão sobre o desenvolvimento emocional, os sentimentos, as habilidades socioemocionais e suas inúmeras condições
(individuais e contextuais) por meio de pressupostos teóricos e metodológicos é essencial para os profissionais da área da saúde e da educação.

Objetivos

Módulo 1

Conceituando a emoção
Reconhecer conceitos básicos sobre as emoções e os sentimentos.

Módulo 2

As emoções e suas expressões


Analisar a importância do desenvolvimento das emoções e a expressão dos sentimentos em todo o ciclo de vida.

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Introdução
O estudo das emoções e dos sentimentos envolve uma proposta reflexiva sobre a construção do conhecimento em Psicologia. O tema aponta para
uma diversidade de exigências em termos conceituais e metodológicos necessárias para a sua compreensão, além de despertar interesse em
profissionais de diversas áreas, tais como a saúde e a educação. As emoções podem ser compreendidas por uma variedade de componentes e não
estão restritas a definições que contemplem somente aspectos envolvendo cognição, sistemas neurofisiológicos ou a influência constitutiva do
ambiente sociocultural. Os teóricos da emoção podem divergir em inúmeros aspectos sobre sua definição e suas causas, mas concordam que ela
tem dimensões relativas à quantidade e qualidade/valência.

No que diz respeito aos sentimentos, diferentemente das emoções, eles se referem a estados afetivos e possuem uma dimensão subjetiva e
cognitiva. Aqui, o que está implicado é a experiência pessoal revelada na maneira como a pessoa percebe os estados afetivos e os comunica aos
demais, o que leva à autorreflexão e à reavaliação de eventos emocionais. Além da dimensão biológica e evolutiva (emoção) e também da dimensão
subjetiva (sentimentos), os estados afetivos contam com uma dimensão social, pois são orientados por regras compartilhadas que influenciam a
intensidade com que eles devem ser sentidos, a situação à qual devem ser dirigidos e a sua duração.

1 - Conceituando a emoção
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer conceitos básicos sobre as emoções e os
sentimentos.

Emoção
No sentido etimológico da palavra, emoção se origina da palavra em latim ex movere, que quer dizer “em movimento”. E por qual motivo psicólogos,
educadores e demais profissionais se dedicam a entender do que se tratam as emoções?

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É possível que uma das respostas esteja voltada para a compreensão de aspectos humanos como as condições fisiológicas, mentais e
comportamentais, que são relevantes tanto para o desenvolvimento quanto para as relações humanas.

A discussão sobre emoção reúne estudos indicando que não existe uma separação estrita entre componentes somáticos (ou seja, a vivência
emocional experimentada no corpo), componentes cognitivos e seus processos avaliativos e de outras ordens. Várias teorias convergem para
modelos nos quais se admitem componentes universais (IZARD, 2010). Todavia, é salutar mencionar que a experiência vivida frequentemente gera
um significado particular para cada pessoa.

O desenvolvimento emocional ocorre com base em uma disposição biológica, mas também por intermédio da interação social. Ao que parece, é
mais importante que as investigações explorem ainda mais a imbricação de aspectos genéticos e ambientais e o modo como esses fatores
interagem do que a discriminação entre o que é considerado inato e aquilo que é aprendido.

Exemplo
As crianças têm predisposições genéticas que vão sendo moduladas pelo ambiente. Isso significa que a criança nasce com uma herança genética
e, ao longo do tempo, continua interagindo com seus pais ou cuidadores, que lhe ensinam habilidades sociais e emocionais para que ela possa lidar
com situações e com outras pessoas de seu meio social.

Acredita-se que o termo emoção possa ser identificado como algo simples de entender, porque no vocabulário usual, nas circunstâncias do dia a
dia, é mencionado frequentemente: “o passeio foi emocionante...”, “me emocionei com esta música” ou “minha mãe é emotiva”. Essas frases dizem
respeito a sensações e percepções que temos diante de um evento que provoque emoção. Contudo, a emoção é definida na literatura como
complexa e multidimensional, denotando alterações fisiológicas e psicológicas que são experimentadas desde o ventre materno e que vão se
desenvolvendo, podendo se adaptar ou não ao meio ao longo de todo o ciclo vital.

Uma das primeiras e importantes referências na Psicologia que se debruçou nos estudos sobre as emoções foi William James, que, em seu ensaio
de 1890, explica que os indivíduos primeiramente percebem o estímulo, o que leva a uma reação do organismo. E a percepção desse movimento
das vísceras seria, então, o próprio sentimento. Segundo o exemplo do autor, nós não correríamos porque sentimos medo, mas, sim, sentimos medo
e, por essa razão, começaríamos a correr (JAMES, 2008).

William James
William James (1842-1910) foi um importante psicólogo e filósofo americano, considerado um dos principais pensadores do século XIX e também um
dos fundadores da psicologia funcional.

Comentário
Em outras palavras, segundo James, primeiro pensamos e depois reagimos. Aqui percebemos uma dicotomia entre cognição e emoção, que segue
aquela velha divisão entre corpo e mente, na qual os elementos psíquicos são mantidos separados dos fisiológicos.

Contudo, a perspectiva de James foi contestada e novas abordagens surgiram para explicar o fenômeno emocional. As contribuições
evolucionistas, cognitivistas e sociais também trouxeram uma amplitude de entendimentos voltados ao tema.

As emoções, ou os processos emocionais, já estiveram à margem dos estudos da ciência psicológica e foram preteridos como objeto de pesquisa
tanto pelo behaviorismo quanto pela revolução cognitiva. Os estados mentais e subjetivos eram considerados como desqualificados na primeira
metade do século XX. Contudo, o estudo sobre as emoções passou, progressivamente, a ser objeto de interesse da Psicologia científica após a
década de 1960. Se, antes, as emoções haviam sido relegadas a um plano secundário, atualmente, elas têm se tornado protagonistas no campo dos
estudos científicos, principalmente pela Psicologia Evolucionista e pelas Neurociências.

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Classificação das emoções


Sabemos que existem muitas emoções, que elas são universais e é relevante destacar aquelas que são conhecidas como emoções básicas ou
primárias. Ekman (1999) considera que as emoções básicas possuem sinais universais que as diferenciam das demais e revela ainda algumas
particularidades que as distinguem.

Veja quais são:

Uma fisiologia característica, evidenciada por padrões específicos de ativação do sistema nervoso autônomo.

Uma avaliação automática do evento que provoca a emoção.

A presença em outros primatas.

Uma experiência subjetiva peculiar.

Outra contribuição relevante encontrada na literatura se refere aos estudos de Izard (2010), que propôs um modelo teórico para a compreensão das
emoções. Esse modelo se chama DET (Differencial Emotions Theory) e nele estão prescritas as definições para os conceitos de emoções básicas e
sentimentos.

As emoções básicas são aquelas que têm uma essência neurobiológica antiga, fruto da evolução, assim como um componente referente ao
sentimento e à sua capacidade para se expressar por meio de expressões corporais. São consideradas emoções básicas a alegria, a tristeza, a raiva
e o medo.

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Podemos destacar algumas características importantes dessas emoções citadas previamente:

Alegria

• Pode ser expressa, principalmente, pelo sorriso e por gestos corporais bem abertos.

• Está relacionada à felicidade, à empolgação, ao entusiasmo e ao alto astral.

• É uma maneira de expressar como se sente em situações agradáveis e desejáveis para si e para os outros.

• A alegria pode manter a saúde e facilitar as relações sociais. close

Tristeza

• Pode ser expressa pelo choro, pelo declínio da vocalização e pelo corpo.

• Está relacionada a experiências de perda, abandono, desvalorização, incapacidade e não aceitação dos outros.

• Ela nos faz refletir sobre nossas vivências, nossos comportamentos e nossas escolhas. Quando experimentada em doses elevadas e
frequentes, pode conduzir à depressão.

Além da alegria e da tristeza, podemos ressaltar também particularidades das emoções raiva e medo, que vamos observar a seguir:

Raiva

• Pode ser expressa de maneira expansiva, com forte vocalização e intensa expressão corporal.

• É possível sentir fúria, irritação, inveja e rancor.

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• É uma maneira de nos proteger contra quem nos ataca e ofende, ou de expressar um sentimento de injustiça. Quando manifestamos raiva de
maneira adequada, nos sentimos melhor, com mais autoestima e autonomia. O alerta é para o excesso dessa emoção, que pode provocar
comportamentos agressivos e antissociais.

close
Medo

• Pode ser expressa com os olhos "saltados" e o retraimento corporal.

• É possível se sentir desprotegido, frágil, vulnerável, inseguro ou exposto.

• O medo preserva nossa vida e ativa nossa capacidade de nos defender ou fugir. Alerta: sentir medo demais de coisas que não podemos
controlar pode nos trazer danos, impedindo certos enfrentamentos necessários. Já a falta de medo pode nos machucar e pôr a nossa vida em
risco.

Agora que apresentamos algumas características das emoções básicas, é relevante mencionarmos também as emoções morais. Sabemos que, ao
longo da vida, vamos aprendendo a sentir culpa, vergonha e orgulho no convívio social. A consciência dessas emoções emerge por volta dos dois
anos e meio de idade e está associada a fatores maturacionais e cognitivos.

A percepção de atos tidos como certos e/ou errados pode determinar o desenvolvimento de processos socioemocionais. Essa seria uma forma
inicial de expressão da moralidade, que envolve componentes afetivos, cognitivos e comportamentais, todos os três importantes para o
desenvolvimento das habilidades sociais já na tenra infância.

A vergonha e a culpa se referem a afetos vivenciados como negativos, somados a uma autoavaliação de que algo de errado foi feito, geralmente
relacionado a situações interpessoais.

A culpa

A culpa, por exemplo, pode gerar um comportamento de agitação, durante o qual o indivíduo sente remorso, tensão, ansiedade e necessidade
de reparação de algum comportamento percebido como uma violação moral.
close

A vergonha

Já a vergonha envolve sentimentos de desamparo, influenciando na avaliação negativa que o indivíduo pode fazer de si mesmo. Trata-se de um

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comportamento de submissão que pode motivá-lo a se esconder ou a se retirar de eventos sociais.

Todas as emoções são consideradas importantes, pois nos conectam com a nossa vida e com os outros. Elas podem ser vivenciadas de maneira
positiva ou negativa e podem ainda ser adaptativas ou não ao contexto sociocultural e às expectativas do ambiente, tais como a casa, a escola ou o
trabalho.

Atenção!
É importante termos conhecimento sobre as emoções e também aproveitarmos as experiências para podermos adaptar a vivência de cada uma
delas. São muitas as maneiras de se expressar as emoções, e elas são sinais elementares tanto para nós mesmos quanto para os outros sobre
como lidamos com as circunstâncias de nossas vidas.

Para o teórico Henri Wallon (1975), a emoção é tanto biológica quanto social e, segundo ele, ela garante a nossa sobrevivência. O bebê, ao chorar,
manifesta algum tipo de desconforto, o que provoca uma resposta imediata do adulto, que logo se prontifica a atendê-lo para oferecer determinado
suporte que possa sanar esse incômodo, ou para oferecer algum estímulo capaz de promover seu bem-estar geral.

Henri Wallon
Henri Wallon (1879-1962) foi um grande filósofo, médico, psicólogo e político francês com importantes contribuições em todos esses campos do saber,
incluindo a área da Educação.

Assim como Wallon contribuiu para estudos e trabalhos de psicólogos e profissionais da educação, investigando as emoções e a implicação nos
processos de aprendizagem, Goleman, baseado nas referências de Gardner, aprofundou-se no conceito da inteligência emocional, na década de
1990, e o definiu como sendo a capacidade de o indivíduo monitorar as emoções e os sentimentos de si mesmo e dos outros, utilizando essa
informação para guiar seus pensamentos e suas ações.

Inteligência emocional e suas implicações


Para Goleman, a inteligência emocional é vital para que as pessoas alcancem as competências necessárias para terem sucesso no trabalho. Esse
conceito também foi muito incorporado pelos educadores, pois acredita-se que a temática auxilie nos processos de aprendizado social e emocional,
fazendo parte do currículo escolar de muitas escolas atualmente.

Saiba mais
Muitos foram os programas de formação de professores lançados no mundo e também aqui no Brasil que visavam prepará-los para a transmissão
aos seus alunos da importância das conversações na resolução de problemas e conflitos, tratando, portanto, de elementos fundamentais que
compõem as emoções e os sentimentos.

No que diz respeito à base teórica dos programas, três deles (Liv, Second Step e SBie) se utilizam do conceito de inteligência emocional de Goleman.
O programa Semente não especificou a sua base teórica. Por sua vez, o programa Amigos do Zippy atua com o conceito de coping, especialmente
com as habilidades na regulação das emoções. Já o programa Escola da Inteligência está fundamentado na Teoria da Inteligência Multifocal, de
Augusto Cury.

Para ampliar o conhecimento sobre as iniciativas citadas, segue um quadro que descreve os programas e indica quem são os atores capacitados e
as idades e séries das crianças e/ou dos adolescentes envolvidos:

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Programa Participantes capacitados Série e idades contempladas

Professores, alunos e familiares - São beneficiados com mais


Escola da Inteligência Da educação infantil ao ensino médio.
qualidade de vida e bem-estar psíquico.

Professores - A filosofia de implementação do programa foca a O programa foi desenvolvido


capacitação dos educadores, promovendo seu desenvolvimento especificamente para crianças de seis
Amigos do Zippy
emocional e o consequente impacto desse desenvolvimento em a sete anos de idade, com qualquer
suas classes e no ambiente escolar como um todo. aptidão.

Pré-escola/jardim de infância; 1º ao 6º
PATHS Professores.
ano do ensino fundamental

Disponibilizam um kit de treinamento para a equipe Staff-Training


Pré-escolar (Pre-K / 4 a 5 anos);
Toolkit (kit de ferramentas para treinamento de pessoal). Há
Second Step Elementary (K-5 até a 5ª série);
materiais que podem ser disponibilizados para os educadores,
Middle School (6ª a 8ª série).
diretores das escolas e pais.

Laboratório de
Inteligência de Vida Professores e funcionários que atuam com os alunos. Da educação infantil ao ensino médio.
(LIV)

Professores da própria escola são capacitados por meio de um


Programa Semente Da educação infantil ao ensino médio.
programa de educação continuada disponível em um portal.

Projeto SBie nas Todas as pessoas da escola que têm contato com a criança
Da educação infantil ao ensino médio.
Escolas (direção, professores, reunião com pais).

Tabela: Programas de competências emocionais.


Adaptação do grupo de pesquisa DESEP, sob coordenação da Professora Deise Mendes - UERJ.

Os programas citados são comercializados sobretudo nas escolas de rede privada, que investem semanalmente em aulas ou encontros entre
professores e alunos. Algumas ainda estendem a formação com reuniões voltadas aos pais, de modo que todos possam ser conscientizados sobre
a importância do desenvolvimento das emoções e dos sentimentos para a obtenção de bem-estar e a conquista de maior sucesso escolar.

Se as crianças passaram a ir à escola cada vez mais cedo e precisaram aprender a se relacionar com seus pares, isso quer dizer que elas, desde
bem pequenas, têm de ser capazes de perceber mudanças de excitação emocional e processar informações para saber enfrentá-las.

Essas informações não só podem gerar reações, mas também precisam ser compreendidas pelas crianças. É importante que essas últimas
percebam o que provocou a excitação emocional, qual foi o evento causador dela e suas possíveis consequências.

Saiba mais
Outro ponto que ainda é debatido é a importância de a criança desenvolver a habilidade de avaliar as emoções de outras pessoas a partir de pistas
das situações vivenciadas. Tal habilidade, segundo esses autores, é essencial para as crianças lidarem com seu meio social desde cedo e está
relacionada a indicadores de bem-estar social e emocional. Conhecer ou saber identificar circunstâncias de determinado evento emocional auxilia
na interpretação das informações que estão sendo apresentadas e isso varia de acordo com a idade e as influências culturais, entre outros fatores.

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Não só as crianças, mas também os adultos precisam desenvolver habilidades para lidar com suas próprias emoções e as das demais pessoas.
Isso é importante para o bem da convivência social e também para lidar com os desafios gerais que podem ocorrer em qualquer circunstância ao
longo da vida.

As crianças e seus cuidadores, sejam eles os pais ou professores, também precisam reconhecer as emoções e
saber lidar com elas quando se manifestam, identificando-as e regulando-as sempre que necessário, com o intuito
de promoverem saúde mental para si mesmos e para o ambiente de convivência.

Sabemos que muitas circunstâncias nos levam a lidar com desafios nem sempre fáceis de serem gerenciados. Contudo, devemos ter em mente que
há profissionais que podem nos auxiliar no processo de compreensão das emoções. Eles nos ajudam a lidar com situações difíceis que nos causam
estresse e também aquelas que nos exigem determinado enfrentamento ou tomada de decisão, requerendo, sobretudo, o aprimoramento da
habilidade de regulação emocional.

Sentimentos
Os sentimentos são, por definição, a experiência mental que nós temos daquilo que está ocorrendo no corpo. É um mundo que se segue após a
experiência emocional, ainda que seja muito rapidamente, em milissegundos. As emoções são visíveis no corpo; os sentimentos, não. Nós os temos
sem que eles sejam diretamente acessíveis ao outro que nos observa. Por isso, o sentimento pode ser disfarçado, enquanto a emoção, não.

William James (2008) afirmava que primeiro se percebe o estímulo, que desencadeia uma reação do organismo. A percepção desse movimento das
vísceras seria, então, o próprio sentimento. Ao se dedicar aos estudos do papel das emoções e dos sentimentos no funcionamento cognitivo em
pacientes com lesões cerebrais, Damásio (2003) encontrou em todos eles uma importante redução da atividade emocional, o que o levou à
conclusão de que existiria uma significativa interação entre a razão e as emoções.

Comentário
Os sentimentos emergem das mais variadas reações homeostáticas e traduzem o estado da vida na linguagem do espírito. Damásio (2003) pontua
ainda que o sentimento se refere a uma percepção de um estado do corpo somado à assimilação de certo modo de pensar ou avaliar uma situação.
Ao que parece, a manifestação do sentimento no cérebro conduz à elaboração do pensamento.

No que diz respeito às investigações de Piaget (1994), os sentimentos atuam como motor impulsionando a ação. Piaget considera também as
tendências e a vontade como componentes que orientam a assimilação, acomodação e adaptação da afetividade humana. O autor explica que um
indivíduo, por “interesse”, guiado pelo sentimento, pode frear uma ação considerada socialmente reprovável. Diante dessa lógica, quando alguém
deixa de roubar por medo de ser preso, pode estar seguindo um interesse pessoal dirigido por uma emoção acompanhada do sentimento que reflete
o medo.

Ao que parece, o sentimento é uma consequência da emoção com particularidades mais duradouras. A emoção é experimentada e avaliada por
meio das funções executivas como o pensamento e a memória, e ainda sofre influência de elementos como a funcionalidade do humor, além do
contexto vivencial. Diferentemente das emoções, os sentimentos são mais vivenciados de maneira privada.

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De acordo com abordagens psicopedagógicas, acredita-se que a afetividade que abrange sentimentos e emoções seja relevante para uma
aprendizagem significativa. Para Wallon (1975), a dimensão da afetividade é um instrumento de sobrevivência inerente ao homem. Se para Piaget a
afetividade é uma energia impulsionadora das ações do sujeito, para Wallon a afetividade é um componente permanente da ação.

Ainda de acordo com Wallon (1975), em todos os estágios do desenvolvimento humano a afetividade se desenvolve e se manifesta em maior ou
menor grau, considerando a interação indispensável a esse processo para a formação do indivíduo como ser social, cultural e inserido, de fato, em
seu contexto de interação.

Nos estudos mais recentes da Psicologia, encontra-se uma perspectiva que ganhou destaque nas últimas décadas, a chamada Psicologia Positiva,
que considera a expressão dos sentimentos e também das emoções como necessária e essencial às nossas vivências relacionais.

Saiba mais
A Psicologia Positiva indica, de maneira especial, a concentração de elementos de promoção de saúde e bem-estar, de pontos fortes, positivos e
funcionais no desenvolvimento humano.

Vale salientar que todos os aspectos integrantes do ser humano, sejam eles funcionais ou não, mostram-se relevantes para compreendermos os
fatores de saúde e de adaptação ao meio, além das reações frente aos episódios emocionais e das relações sociais que o indivíduo encontra ao
longo de sua vida.

Dessa forma, é imprescindível esclarecer que a Psicologia Positiva entende que devem ser observadas as limitações e tudo aquilo que não parece
adaptativo para o indivíduo, mas o foco de atuação para auxiliar o desenvolvimento e a formação humana é amplificar suas forças, não apenas
corrigir suas fraquezas.

É importante destacar os fenômenos ocorridos nos últimos tempos em relação à pandemia da covid-19 como um
desafio sanitário do século XXI para todo o mundo. Essa situação trouxe inúmeros impactos não só para a saúde
da população, mas também para as questões de ordem política educacional e socioeconômica.

Dessa forma, não se pode deixar de mencionar os efeitos gerais de saúde que também atingiram pontos sensíveis no que diz respeito às emoções e
aos sentimentos dos indivíduos. As pessoas sofreram com os sintomas da doença, que também sobrecarregou a esfera afetiva. Podemos refletir
sobre as perdas, o luto, o medo do adoecimento e da morte, a preocupação constante do contato social e os impedimentos de todo tipo de
convivência que trouxeram novos hábitos e rotinas de vida.

Sabemos que há toda uma construção social na narrativa da covid-19. Sendo assim, é possível compreendermos que as informações chegaram aos
indivíduos, que, por sua vez, as assimilaram e enfrentaram as atribulações influenciados pelo contexto social no qual viviam. Mas eles também o
fizeram motivados por aspectos particulares, pois cada um traz consigo sua história, suas vivências e circunstâncias.

Em meio à pandemia, os indivíduos experimentaram tristeza, raiva e medo, e essas emoções não estiveram sozinhas, pois foram seguidas de
sentimentos. As pessoas avaliavam, pensavam e percebiam tudo o que acontecia e atingia a saúde integral. Elas também vivenciaram a negação da
doença, o reconhecimento dela, a preocupação em relação ao posicionamento do governo e precisaram fazer inúmeros enfrentamentos diante da
pandemia, pois os cuidados, o tratamento, o entendimento sobre as melhores práticas de higiene e a necessidade de enfrentar os desafios gerais
exigiram esforço, vontade, além de outras atitudes e comportamentos para superar toda a adversidade.

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Resumindo
Em síntese, percebemos que no âmbito das emoções que vão sendo desenvolvidas desde a tenra infância, sejam elas básicas, morais ou sociais,
também vão surgindo e sendo experimentados os sentimentos, aprendidos gradualmente ao longo do nosso ciclo vital. Cabe ressaltar que esses
últimos emergem na infância, no entanto, ao longo do desenvolvimento, é não apenas possível, mas também importante que o indivíduo possa
aprimorar as competências e as habilidades nessa área.

A seguir, vejamos um quadro ilustrando as emoções e os sentimentos:

Emoções básicas Emoções morais Sentimentos

Alegria Culpa Indignação

Tristeza Vergonha Esgotamento

Raiva Orgulho Elevação

Medo Humilhação Receio

Tabela: Emoções e Sentimentos.


Adaptado de Roberta Curvello.

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Os sentimentos: conceito, importância e desenvolvimento
Neste vídeo, a especialista Julia Teixeira reflete sobre o complexo sistema de sentimentos segundo diversos autores e sua importância na
compreensão e no estudo do comportamento.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

Acredita-se que a aprendizagem é influenciada por fatores afetivos. De que maneira nossos sentimentos e nossas emoções podem favorecer a
formação educacional do indivíduo?

Os outros transmitem informações por meio de expressões, vocalizações e gestos, dessa maneira, aprendemos a captar
A
determinadas pistas afetivas.

Os outros não interferem no nosso processo de aprendizagem e atingimos objetivamente o que desejamos aprender com
B
autonomia.

Os educadores não devem se envolver afetivamente nem receber formação em relação aos impactos afetivos no processo
C
ensino-aprendizagem.

D Os educadores não precisam compreender sentimentos e emoções para favorecer a aprendizagem das crianças.

E Não é relevante aprender por intermédio de nossos grupos sociais.

Parabéns! A alternativa A está correta.


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aprendizagem%20%C3%A9%20cercado%20de%20fatores%20que%20podem%20influenci%C3%A1-lo%20e%20torn%C3%A1-lo%20bem-
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Questão 2

As emoções morais permitem uma boa convivência social. Elas também são conhecidas como emoções autoconscientes e vão se
desenvolvendo gradualmente. Com base nisso, marque a alternativa correta:

A Ao nascer, já desenvolvemos as emoções morais.

B Aprendemos sozinhos as emoções morais ou sociais.

C As emoções morais são também conhecidas como emoções básicas.

Com processos cognitivos mais sofisticados e com o auxílio dos cuidadores ou dos outros, vamos paulatinamente aprendendo
D
as expectativas morais.

E As emoções morais não são relevantes para os processos de aprendizagem.

Parabéns! A alternativa D está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EAs%20emo%C3%A7%C3%B5es%20morais%20v%C3%A3o%20se%20desenvolvendo%20aos%20poucos%2C%20mas%20requerem%20a

2 - As emoções e suas expressões


Ao final deste módulo, você será capaz de analisar a importância do desenvolvimento das emoções e a
expressão dos sentimentos em todo o ciclo de vida.

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Emoções abordadas em algumas perspectivas psicológicas


A emoção representa uma dimensão essencial na natureza humana, parte da herança filogenética (história da evolução de uma espécie ou qualquer
outro grupo) e da adaptação da espécie em seu ambiente físico e social. Dependendo do nicho de desenvolvimento em que se experimentam
particularidades das crenças dos cuidadores, costumes e rotinas de cuidado, o indivíduo precisa responder às circunstâncias que o cercam,
vivenciando muitos episódios emocionais inerentes ao seu desenvolvimento.

A Psicologia Evolucionista explica que os comportamentos relacionados às emoções revelam, dentre outros aspectos, a proteção contra rivais e
predadores no que diz respeito à obtenção do alimento, na procura por parceiros sexuais e no cuidado com a prole (FRIDJA, 2008). As emoções
possuem, ainda, relevante função na comunicação interpessoal, evidenciada por pistas nas expressões faciais, vocais e corporais (IZARD, 2010).

Exemplo
Diante de uma situação que provoque a necessidade de fugir ou lutar com um predador potencialmente perigoso, por exemplo, o organismo precisa
ativar programas que possibilitem a fuga ou luta diante do predador e desativar outros envolvidos na busca pelo alimento. Assim, a operação de um
programa envolve a ativação e desativação de outros, conjuntamente. Para fugir de um predador, é vital para o organismo que a sua energia seja
mobilizada para os músculos. Dessa forma, é necessário que os programas e subprogramas da mente humana sejam orquestrados de tal maneira
que haja uma coordenação entre eles, para que possam lidar com o desafio adaptativo que está sendo enfrentado.

As emoções estão envolvidas em uma classe especial de programas tida como responsável pela consecução da coordenação dos diversos
processos envolvidos no enfrentamento de uma demanda, dirigindo as atividades e interações de subprogramas que regem percepção, atenção,
memória, motivação, reações fisiológicas, aprendizagem, entre muitos outros (TOOBY; COSMIDES, 2008). Tendo isso em vista, a abordagem
evolucionista concebe as emoções como mecanismos superordenados, delineados para regular a atividade de outros programas na solução de um
problema adaptativo.

Desenvolvimento das emoções


Izard (2010) considera as emoções como resultado da interação de sistemas integrados, cujas propriedades servem a funções adaptativas. De
acordo com esse autor, em sua teoria das emoções diferenciais ou distintas enraizada nos pressupostos do darwinismo, emoções como alegria,
raiva, medo e tristeza emergem no início da Ontogênese, com a maturação de circuitos neurais, independentemente do desenvolvimento cognitivo.

Consolidando as concepções acerca desses elementos, Lewis (2010) propõe um modelo de desenvolvimento emocional constituído de algumas
fases principais.

Ontogênese
A ontogênese se refere ao período de desenvolvimento de um indivíduo durante todo o seu ciclo de vida, podendo incluir seu período embrionário.

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Nos primeiros seis meses de idade emergem as emoções primárias como alegria, tristeza, medo e raiva. Processos cognitivos
desempenham um importante papel na emergência dessas primeiras emoções, apesar de serem limitados.

Na segunda metade do segundo ano de vida surge uma nova capacidade cognitiva que permite a emergência da consciência ou
autoconsciência, permitindo o aparecimento de outras emoções como o constrangimento e a empatia, chamadas de emoções
autoconscientes.

Por volta dos dois anos e meio a três anos de idade ocorre um segundo marco cognitivo, sublinhado pela capacidade da criança de
avaliar seu comportamento frente a um padrão. A partir daí, surgem as emoções ditas morais, tais como o orgulho, a culpa e a
vergonha.

Essas emoções requerem que a criança tenha um senso de si mesma e seja capaz de comparar seu próprio comportamento a
parâmetros estabelecidos por seus cuidadores e, num sentido mais amplo, pelo meio sociocultural em que vive. Se a criança falha
diante de um padrão, ela está suscetível a sentir vergonha, culpa ou remorso. Se obteve sucesso, está propensa a sentir orgulho.

Dando seguimento a essa lógica, por volta dos três anos de idade, de acordo com a perspectiva desenvolvimentista de Lewis (2010),
a vida emocional de uma criança se torna altamente diferenciada. Nessa fase, a criança terá atingido um sistema emocional
elaborado e complexo. Enquanto a vida emocional dos três anos de idade continuará a ser elaborada e se expandirá, a estrutura
básica necessária para essa expansão já terá sido consolidada.

Novas experiências, significados adicionais e capacidades cognitivas mais elaboradas servirão para aprimorar e elaborar a vida emocional da
criança, segundo Lewis (2010). Entretanto, por volta dos três anos de idade, a criança já apresenta aquelas emoções que uma concepção darwinista
caracterizou como únicas para a nossa espécie - as emoções da autoconsciência, o que indicaria que a principal atividade de desenvolvimento foi
alcançada.

No que diz respeito à compreensão do desenvolvimento emocional, a abordagem evolucionista, tal como a perspectiva sociocultural, pontua que é
esperado que as crianças aprendam a expressar e a manejar suas emoções a partir de comportamentos que estejam em conformidade com as
especificidades de sua cultura.

Particularmente na infância, cabe ressaltar o importante papel cumprido pelos pais ou cuidadores primários nesse processo de interação com seu
meio de convivência. Esse processo é gradual, dinâmico, cercado de perspectivas em relação às crenças, aos costumes culturais, às práticas de

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parentalidade e de cuidado com crianças de maneira geral. Nesse sentido, uma perspectiva sociocultural ao estudo das emoções ressalta o olhar
necessário às diversidades provenientes do meio social e da cultura.

Saiba mais
As emoções têm merecido atenção destacada também nos estudos das Neurociências, que as percebem como fenômenos intimamente
relacionados a outros processos mentais e que fazem parte de uma grande arquitetura da mente humana. LeDoux (1996) compreende emoção e
cognição como funções mentais interativas, que funcionam em um espaço psíquico e neural.

Segundo Damásio (2003), uma emoção pode ser ativada como reação automática a um estímulo emocionalmente competente. Quando se ativa
uma emoção, explica o autor, prepara-se o organismo para adaptar-se e atingir o bem-estar satisfatório. Ocorrem, assim, consequências imediatas
no estado corporal e nas estruturas cerebrais que correspondem à emoção. Tal ativação responde a algum fator que foi uma espécie de provocador
ou eliciador da emoção. O organismo, no caso de uma criança, se ajusta conforme aprendeu pela expressão emocional na relação com pais ou
cuidadores, pela compreensão das emoções já experimentadas, bem como pelas influências e interferências do contexto sociocultural mais amplo.

A criança possui uma rede relacional que muitas vezes pode não somente contar com o auxílio dos pais no que diz respeito às rotinas de cuidado,
mas com avós, outros familiares, pessoas do bairro, da comunidade e dos grupos sociais em geral que, de alguma forma, também transmitem
maneiras de lidar com as emoções e os sentimentos.

As pessoas podem tanto validar, permitir e compreender as emoções positivamente, como também inibir e rejeitar certas vivências emocionais. Há
sistemas culturais que pensam que determinadas emoções como a raiva e a tristeza devem ser inibidas. Todavia, tais emoções são tão importantes
como a alegria, o medo e o orgulho. Todas têm motivo de ser expressas e sentidas. O que se deve orientar é a maneira de lidar com cada uma delas.

Há padrões socioculturais de gênero que estabelecem a expectativa de que meninos não chorem e que meninas devam ser doces e meigas.

Abordagem cognitivista
A abordagem cognitivista não discorda totalmente da origem evolutiva e da influência das alterações fisiológicas, porém ela destaca a avaliação da
situação como a principal característica da emoção. Tal avaliação se refere a uma atividade cognitiva consciente ou inconsciente por parte do
indivíduo.

Sabe-se que as emoções não são compreendidas como uma reação única, mas como um processo que envolve
múltiplas variáveis. Devemos entendê-las em uma condição complexa e momentânea que podem emergir nas
experiências afetivas, provocando alterações no funcionamento fisiológico e psicológico, despertando no indivíduo
possibilidades de ação.

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Denham (1998) sublinha a importância das emoções e da competência emocional na vida das crianças, além da necessidade de desenvolverem,
desde cedo e ao longo do ciclo vital, um conjunto de habilidades emocionais que incluem expressar, compreender e regular suas emoções. A autora
pontua que crianças pequenas já são consideradas hábeis em muitos aspectos da competência emocional.

Conforme a concepção de Denham (1998), as mencionadas habilidades são entendidas como importantes pilares das competências emocionais.

looks_one
As expressões dizem respeito a gestos não verbais, demonstração de envolvimento empático, saber demonstrar emoções autoconscientes e
expressar um estado emocional que pode até ser diferente do que esteja ocorrendo internamente.

looks_two
A compreensão emocional implica o discernimento do próprio estado emocional e o das demais pessoas, bem como saber utilizar o vocabulário
das emoções de maneira apropriada.

looks_3
A regulação emocional está relacionada ao indivíduo saber lidar com situações emocionais adversas e conseguir utilizar de maneira adequada as
estratégias para se autorregular.

A regulação emocional é compreendida como uma competência emocional. Tal competência se mostra essencial para o desenvolvimento saudável
e o bem-estar psicológico do indivíduo, uma vez que ele tem que lidar com diversos desafios em seu contexto sociocultural. O suporte de adultos
nos esforços de regulação emocional de crianças e as diferenças na socialização emocional delas devem ser explorados a fim de proporcionar uma
compreensão mais ampla desse fenômeno.

Desde o início da ontogênese, crianças manifestam gestos, expressões emocionais e mostram sinais do seu estado emocional para seus
cuidadores, os quais reagem com respostas ajustadas aos sinais e às manifestações de necessidades expressas pelas crianças. Nessa dinâmica
de interações sociais, envolvendo conteúdos emocionais tanto da criança quanto de seus cuidadores, a regulação emocional vai sendo engendrada.

Vale destacar que o processo de desenvolvimento das habilidades de regulação emocional é gradual e, em certo sentido, se dá ao longo de toda a
vida. Na infância, particularmente desde o nascimento e durante os primeiros anos, pressupõe-se a passagem de um mecanismo quase
exclusivamente externo, com um adulto promovendo e auxiliando a regulação do bebê, para uma regulação interna ou autorregulação da criança,
que vai sendo conquistada.

Os componentes das habilidades emocionais


Vamos salientar aqui três componentes - expressão, compreensão e regulação - como importantes para o desenvolvimento das habilidades
socioemocionais.

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A expressão das emoções diz respeito ao envio de mensagens afetivas. Considerando o início das manifestações dessa habilidade na infância,
essas emoções devem estar em consonância com os objetivos da criança e com o contexto social. Desde muito cedo, as crianças já apresentam
expressões faciais de algumas emoções básicas.

Vale a pena salientar a importância de as crianças manifestarem suas expressões para comunicar seus afetos. Desse modo, elas podem
demonstrar aos adultos o que estão sentindo em seu estado emocional interno, tendo em vista os aspectos de linguagem verbal ainda inexistentes
ou em desenvolvimento. As expressões faciais estão envolvidas nas relações de apego por meio das pistas emocionais contidas nas expressões
faciais tanto do bebê quanto de seus cuidadores, que podem responder e atender, ou não, às necessidades apresentadas pela criança.

No que se refere à compreensão emocional, cabe ressaltar sua relevância para que o indivíduo, desde a infância, possa compreender o que são as
emoções, como atuam nas circunstâncias que o cercam e as diferenças entre as pessoas para lidar com os episódios emocionais. Essa habilidade
da compreensão emocional é essencial na construção de um significado para as emoções, significado esse que é compartilhado com outros
membros de seu grupo social e cultural.

Com o desenvolvimento da compreensão emocional é possível para a criança aprender gradualmente a rotular diversas expressões emocionais,
identificar as situações deflagradoras de emoções, inferir causas e consequências de respostas emocionais específicas e, ainda, utilizar da
linguagem emocional para descrever as suas próprias experiências emocionais.

Com relação à regulação emocional, as crianças, mesmo as muito pequenas, necessitam lidar com desafios causados pelas emoções e, para isso,
devem considerar o manejo delas mediante a regulação “para baixo” (diminuindo a intensidade de sua expressão) ou “para cima” (aumentando a
intensidade de sua expressão).

Resumindo, vejamos a seguir um consolidado de informações básicas que podem ajudar nesse entendimento:

Expressão emocional
Habilidade relacionada à capacidade de expressarmos nossas emoções na face, na vocalização e nos gestos corporais.

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Compreensão emocional
Habilidade relacionada à nossa capacidade de compreendermos as emoções que diariamente vivenciamos, bem como aquelas experimentadas
pelos outros.

Regulação emocional
Habilidade relacionada à nossa capacidade de gerenciarmos as emoções vivenciadas como positivas ou negativas, adaptando, por exemplo, sua
intensidade.

As habilidades que vão sendo aprendidas podem ser adaptadas de acordo com as situações ou os episódios emocionais, levando em consideração
o contexto de interação do indivíduo. Elas são importantes desde o desenvolvimento na infância e os resultados escolares, mas também em outros
estágios do desenvolvimento, tais como a adolescência e a vida adulta, tendo em vista as necessidades socioemocionais gerais.

Assim, tal como as crianças precisam se relacionar na escola com professores e com outros pares, atendendo a expectativas provenientes da
instituição, o adulto também vivencia suas experiências no universo organizacional cercado de anseios em relação às competências que requerem
bem-estar psicológico, facilidade na relação interpessoal e na capacidade de lidar com desafios em geral.

Desenvolvimento, estratégias e importância da regulação


emocional
Ao longo da ontogênese, e durante todo o ciclo vital, a habilidade de regulação emocional se desenvolve considerando a experiência individual e o
contexto de interação, como pontua Ponciano (2016). A autora explica que a habilidade ou a capacidade de regulação emocional é alcançada tendo
em vista as seguintes características do processo de regulação emocional:

Varia de processos automáticos / inconscientes a controlados / conscientes.

Tem efeitos em processos geradores da emoção.

Pode ser intrínseco ou extrínseco.

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Pode ser com foco nas emoções, considerando suas valências.

Ainda de acordo com Ponciano (2016) e considerando as características da regulação emocional, devem ser levadas em conta diferentes
estratégias nesse contexto, não havendo, necessariamente e de modo fixo, aquelas que são boas ou más. Como essa autora discute, o mais
importante é que as estratégias empregadas sejam adaptativas, voltadas para a situação que se apresenta e que, no caso da autorregulação,
possam trazer benefícios ao indivíduo e ao contexto de interação no qual ele está imerso.

Os sistemas de autorregulação têm aspectos que incluem atenção, autoestima e recursos cognitivos, tais como a inteligência, o enfrentamento, o
autocontrole, dentre outros que são influenciados pelas pessoas e pelo contexto. Com isso, o indivíduo se autorregula e monitora suas ações com
uma rede de fatores mediados socialmente e pela família, com base em um conjunto de necessidades, objetivos e desejos.

O envolvimento com o outro não é a única via de regulação emocional na infância. Crianças bem pequenas são capazes de autorregularem suas
emoções em alguns momentos e com certa autonomia. Bebês com seis meses de vida reduzem sua excitação emocional, por exemplo, desviando a
atenção de um foco específico para outro, ou apenas fechando os olhos para se acalmarem, utilizando, assim, o autoconforto para regular a
emoção.

Outra importante estratégia que os bebês utilizam nesse estágio de desenvolvimento é a autodistração, que consiste no desvio do olhar para um
estímulo intenso, ou um estímulo inconsistente para regular sua excitação emocional. A autodistração é uma estratégia que tende a aumentar sua
incidência no decorrer do desenvolvimento das crianças.

Por volta do primeiro ano de idade, os bebês apresentam uma variedade de expressões emocionais. A maneira como os pais nomeiam e lidam
com essas expressões influencia, consideravelmente, o sucesso do processo de regulação emocional (GROSS, 2015). Esse autor pontua também
que tão importante quanto as expressões de emoções é a sua compreensão, uma vez que essa capacidade influencia o processo de regulação
emocional.

A partir do segundo ano de vida percebemos a ocorrência da autodistração, já manifestada nos primeiros meses como a mais eficaz estratégia de
regulação emocional perante situações de frustração e de medo. Com os avanços nos processos sociocognitivos, motores, e com o
desenvolvimento da linguagem, se estabelece uma diversidade de possíveis estratégias de autorregulação mais sofisticadas e mais eficazes
(GROSS, 2015).

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Crianças em torno de três a cinco anos de idade já demonstram uma competência mais complexa do que os bebês e que as crianças menores
para regular suas emoções. Sugere-se que esse ganho tenha relação com a sofisticação do pensamento e das habilidades de processamento
representacional. Nessa fase do desenvolvimento as crianças tendem a internalizar mais as regras, começam a manejar melhor sua experiência
emocional e reconhecem mais facilmente as pistas de emoções dos outros.

Ao longo da infância, as emoções vão se desenvolvendo e se tornando mais aprimoradas (DENHAM, 1998; LEWIS, 2010). As crianças vão
adquirindo maiores habilidades na expressão, na compreensão e na regulação de emoções e, aos poucos, essas competências emocionais se
ampliam de modo articulado (DENHAM, 1998).

Denham (1998) explica que crianças de três a cinco anos e até mesmo as mais velhas vão, de maneira gradativa, se tornando mais hábeis em
diferentes competências emocionais, a saber:

Na consciência da experiência emocional.

No discernimento do estado emocional de si mesmo e dos outros.

No uso do vocabulário das emoções.

No entendimento das emoções dos outros.

Na regulação de emoções angustiantes e estressantes.

Na compreensão da diferenciação do estado emocional interno e externo.

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Na consciência da relação social definida pela comunicação das emoções.

As aquisições mencionadas anteriormente dependem da experiência, que é individual, e do desenvolvimento da criança. Gradualmente, as crianças
vão desenvolvendo essas habilidades de acordo com o seu contexto sociocultural e as possibilidades de interação social.

A regulação emocional é uma ferramenta que organiza processos atencionais, facilita estratégias, dá poder às ações, auxilia na superação de
obstáculos e mantém o bem-estar. Não é a valência de uma emoção, mas os processos complexos pelos quais as emoções se relacionam com
fatores cognitivos e comportamentais que levam aos resultados do desenvolvimento.

Ao que parece, há diferenças individuais no que se refere à reatividade, e isso pode influenciar a relação com os cuidadores.

Crianças pequenas reativas e irritadiças podem gerar intensas e numerosas interações com seus cuidadores. Além
disso, crianças pequenas mais reativas a eventos, tanto desagradáveis quanto agradáveis, podem fornecer aos
cuidadores mais informações sobre seu nível ideal de estimulação.

Cabe ressaltar, contudo, que somadas às diferenças individuais, há de se levar em conta as características do ambiente sociocultural no qual a
criança se desenvolve.

Comentário
Compreender e regular as emoções reduz a probabilidade de comportamento agressivo e diminui o risco de psicopatologias. As práticas parentais
são sensíveis à cultura e exercem grande impacto no desenvolvimento da competência emocional das crianças.

A educação sobre as emoções, as reações dos pais em relação às emoções dos filhos, as ações de encorajamento ou não à manifestação
emocional pelas crianças, o ensino de alternativas para lidar com as emoções e de estratégias de regulação emocional são alguns dos exemplos
que fazem parte da prática parental referente à regulação emocional.

A reação de suporte dos pais vai ao encontro de efetivas possibilidades dos filhos de conseguirem resolver problemas. Tal suporte pode promover
conforto e encorajamento aos filhos. Essa reação pode ser entendida como uma atitude que tende a ampliar as habilidades para manejar a
experiência emocional e desenvolver um repertório vasto de estratégias regulatórias. As reações de não suporte dos pais que habitualmente punem,
desmerecem e desvalorizam a expressão das emoções dos filhos tornam pobre a regulação emocional, podendo aumentar, assim, os traços de
labilidade.

Muitas são as dimensões envolvidas na experiência emocional e que merecem constante investigação de como se articulam os processos de
regulação emocional, tendo em vista as influências ambientais e socioculturais. Além disso, as estratégias de regulação emocional podem
apresentar variadas modalidades que se estabelecem tendo em vista o nicho de desenvolvimento, bem como as características individuais das

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crianças e dos próprios pais. Assim, estratégias parentais consideradas mais acolhedoras podem favorecer o bem-estar psicológico e o
desenvolvimento adequado da regulação emocional das crianças.

Comentário
Parece fazer sentido pensar que, por meio das estratégias de regulação emocional usadas em relação a si próprios, os indivíduos tentem manejar
suas emoções, incluindo o momento em que as expressam e as vivenciam (GROSS, 2015). Diante disso, influenciam também a maneira com que os
outros vivenciam suas emoções.

Tomar conhecimento das emoções, assim como das várias estratégias possíveis de regulação emocional, permite que mães e pais possam
alcançar manejos eficazes no das emoções dos filhos. A experiência passada usada na regulação de determinadas emoções também se torna
relevante tanto quanto o treinamento de estratégias específicas, pois aumenta a probabilidade de sucesso na abordagem da regulação.

O conhecimento, a experiência e o treino das habilidades de regulação emocional são oportunidades para pais e filhos expressarem adequadamente
suas emoções de acordo com o que é esperado no ambiente de convivência social. É plausível que as respostas calorosas às emoções (como, por
exemplo, tomar conhecimento delas, compreender sua importância no desenvolvimento global e utilizar estratégias adequadas à sua regulação)
sejam uma opção considerável para as habilidades inerentes às competências socioemocionais.

Além do conhecimento e da experiência em relação à regulação emocional, parece pertinente que mães e pais consigam adaptar maneiras
favoráveis e flexíveis para a socialização emocional dos filhos. Para tanto, é válido que os cuidadores possam ajustar o próprio manejo emocional,
adaptando suas habilidades emocionais autorregulatórias.

Há diversos fatores importantes a serem investigados no engajamento da regulação emocional entre pais e filhos. Muitas são as dimensões
envolvidas na experiência emocional e que merecem constante investigação de como se articulam os processos de regulação emocional, tendo em
vista as influências ambientais e socioculturais. Além disso, as estratégias de regulação emocional podem apresentar variadas modalidades que se
estabelecem tendo em vista o nicho de desenvolvimento, bem como as características individuais das crianças e dos próprios pais. Assim,
estratégias parentais consideradas mais acolhedoras podem favorecer o bem-estar psicológico e o desenvolvimento adequado da regulação
emocional das crianças.

De modo a facilitar o entendimento sobre as estratégias de regulação emocional consideradas favoráveis no que diz respeito ao suporte que os pais
ou cuidadores podem utilizar em relação a seus filhos, apresentamos o quadro sintético a seguir:

Estratégias de RE Reação dos pais Como pode ocorrer?

Os pais podem ajudar a criança a avaliar e reinterpretar a situação


Os pais se envolvem na reação da
emocional de maneira diferente da experimentada por ela. Eles
Reavaliação cognitiva criança, que manifesta uma
podem indicar propósitos ou perspectivas diferentes diante do
expressão emocional.
episódio emocional.

Os pais podem mostrar um objeto ou brinquedo existente na casa,


Os pais se envolvem na reação da
Redirecionamento conversando ou contando uma história que possa interessar à
criança, que manifesta uma
atencional criança, ou fazendo-a lembrar um evento que tenha sido importante
expressão emocional.
ou marcante.

Os pais se envolvem na reação da Pegar no colo, verbalizar frases como “está tudo bem”, fazer
Conforto físico criança, que manifesta uma carinho/afago, ou ter comportamentos que denotem suporte de
expressão emocional. calma e calor humano como dar as mãos e abraçar.

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Estratégias de RE Reação dos pais Como pode ocorrer?

Os pais não se envolvem na reação


É possível que os pais não se engajem, podendo desvalorizar, inibir ou
Supressão emocional da criança, que manifesta uma
até mesmo menosprezar a situação emocional.
expressão emocional.

Adaptado de Roberta Curvello.

Gross (2015) menciona que na literatura científica encontram-se estudos sobre a regulação emocional referindo-se somente aos processos
intrínsecos, outros focados nos processos extrínsecos e alguns estudos focalizando ambos os processos.

Parte deles está centrada na vida adulta e abrange, na maioria das vezes, processos intrínsecos, investigando a autorregulação. Por outro lado, há
os que exploram os processos extrínsecos, evidenciando os cuidados na primeira infância, quando os outros, sejam eles os pais ou cuidadores em
geral, auxiliam no desenvolvimento das habilidades de regulação emocional.

Atenção!
Vale ressaltar a influência da interação social e do contexto, uma vez que as reações dos adultos percebidas pelas crianças direcionam as
respostas emocionais que elas exibem.

A necessidade de compreender as estratégias de regulação emocional de pais dirigidas a si próprios e ao apoio aos filhos está diretamente
relacionada à importância de seu papel como agentes privilegiados de socialização emocional de filhos ainda crianças e ao impacto da
parentalidade, sobretudo no início do desenvolvimento emocional infantil.

Pais e educadores não direcionam ou tecem essas oportunidades de maneira unilateral. A criança participa ativamente dos processos de
socialização, não apenas sendo impactada em seu desenvolvimento global e particularmente no de sua regulação emocional, mas também
influenciando as reações emocionais dos adultos, além dos seus modos de agir e de pensar. Assim, seguem sendo engendradas as formas com
que ela aprende a lidar com as suas emoções e as de outras pessoas.

Compreendemos que há uma dinâmica bidirecional no processo de socialização emocional. A criança manifesta suas expressões e estados
emocionais, desenvolvendo suas capacidades autorregulatórias. Ao mesmo tempo, recebe influências e suporte por meio de estratégias de
regulação emocional de adultos, pais e educadores, para construir e vivenciar ativamente sua experiência emocional e, desse modo, se desenvolver
emocionalmente.

Acreditamos na necessidade de se desenvolver formas de suporte e promoção de conhecimento aos professores em relação à habilidade de
regulação emocional, particularmente diante de eventos estressores. No momento em que um aluno está sob estresse, boa parte de seu
funcionamento cerebral se volta a necessidades de sobrevivência, tais como a defesa e a busca de atenção.

É importante entender a relevância de os educadores terem alguma ideia de como funciona esse mecanismo, de forma a procurarem evitar a
inserção de estresse, a perceberem a necessidade da regulação emocional e usarem esse conhecimento para melhorar a aprendizagem dos alunos.

As investigações mais atuais têm indicado que a regulação da emoção tem um lugar valioso na sala de aula, pois permite que o indivíduo possa ter
algum controle sobre seu comportamento. Ela também possibilita que alunos e professores administrem as experiências emocionais vivenciadas
como negativas e promovam experiências emocionais vivenciadas como positivas. O emprego de estratégias de regulação da emoção pode manter
o bem-estar individual e melhorar o funcionamento interpessoal (GROSS, 2015).

Saiba mais
Existem estratégias que focam a respiração e também aquelas que direcionam o pensamento para outras coisas ou para deliberadamente se
distrair utilizando metas de atenção com uma função psicológica orientada. Há variadas estratégias que podem favorecer a regulação emocional e
os professores podem facilitar esse processo. Eles podem demonstrar para os alunos os eventos emocionais, seus eliciadores, suas consequências

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e como esses eventos os fazem se sentir. Dessa maneira, professores e alunos podem aprender melhores formas de atingir o bem-estar
socioemocional.

É possível melhorar a regulação emocional na sala de aula falando sobre as emoções. Os professores podem aprender e ensinar sobre conteúdos
de compreensão e regulação emocional, além de dar apoio por meio de um ambiente que proporcione a meditação e as práticas de mindfulness.

Práticas de mindfulness podem favorecer o bem-estar, o comportamento não reativo, ajudam a lidar melhor com desafios e a ter uma escolha mais
consciente de pensamentos, reações e emoções. Como outras práticas, elas também podem estimular maneiras criativas e favoráveis ao trabalho
dos educadores na rotina escolar, especialmente na promoção do bem-estar e do desenvolvimento adequado da regulação emocional das crianças,
de acordo com o contexto sociocultural.

As oportunidades de socialização emocional entre as crianças e os cuidadores, sejam eles pais ou educadores, são dinâmicas, bidirecionais e vão
se constituindo ao longo do desenvolvimento. Todos os agentes envolvidos nesse processo vão aprendendo gradualmente a regular as emoções e a
desenvolver suas competências emocionais, consideradas importantes para o bem-estar psicológico, para as relações sociais e para o sucesso
acadêmico da criança.

video_library
O desenvolvimento de estratégias de regulação emocional
Neste vídeo, a especialista Julia Teixeira reflete sobre a importância e as diferentes formas como acontece o desenvolvimento de estratégias de
regulação emocional nas crianças.

Os processos emocionais no trabalho


É valido explorar não somente a socialização emocional entre os cuidadores e as crianças, mas também como as emoções são experimentadas
pelos adultos sem o desdobramento particular da parentalidade. Há estudos voltados para a influência das emoções na rotina de trabalho, outros
sobre a regulação alimentar e também alguns sobre particularidades da terceira idade.

Sabemos que as emoções podem ser entendidas pela valência (positiva ou negativa), pois é dessa maneira que elas são orientadas na literatura
internacional. Contudo, também podemos compreendê-las como experiências possíveis de serem vivenciadas de maneira positiva e negativa.

Desse modo, ressaltamos a ideia de que todas as emoções são relevantes, mas elas podem ser experimentadas de
maneiras diversas ou até mesmo diametralmente opostas, a depender do contexto e da situação ocorrida no
episódio emocional.

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Com isso, destacamos que a esfera afetiva tem sua importância no universo do trabalho por causa das interações humanas, pela maneira que as
emoções e os sentimentos são interpretados quando são experimentados pelos outros. Tal interpretação gera efeitos diversos no ambiente e no
clima organizacional, e também na forma como se estabelecem os conflitos.

Muitas foram as pesquisas realizadas no mundo e aqui no Brasil envolvendo a repercussão das emoções no trabalho e as implicações causadas
por fatores como o sexo, o poder e os aspectos de cultura em geral.

Muitas indagações foram realizadas, por exemplo:

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Atribui-se mais emoções positivas ao empregador do que ao empregado?

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A experiência de trabalho como supervisor ou empregado em cada país influencia as emoções desses profissionais em seus diferentes cargos?

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Diferenças de sexo e de hierarquia profissional (líder ou liderado) influenciam as emoções no trabalho?

Tais perguntas exploram metodologicamente repercussões, influências e interferências das emoções nas relações e nos processos de trabalho. O
investimento das organizações em pesquisas nessa temática pode contribuir para a saúde mental dos trabalhadores, conseguindo, ainda, facilitar o
desempenho das funções de trabalho e conduzir a melhores resultados.

Pesquisar as relações humanas e a influência das emoções no dia a dia do trabalho é de suma importância para levar os indivíduos a refletirem
sobre suas próprias emoções e as dos demais. As pesquisas podem ainda ampliar a consciência e a percepção quanto à necessidade de se regular
as emoções, além de promover bem-estar e fomentar estratégias favoráveis de autocuidado.

Atenção!
Vale ressaltar que as intervenções no plano emocional devem alcançar homens e mulheres, líderes e liderados, jovens profissionais e os de posição
mais elevada. Dessa forma, elas podem contemplar ações preventivas e também aquelas que, por alguma razão peculiar, necessitem de suporte
específico e de mudanças na maneira de lidar com os desafios que envolvam os sentimentos e as emoções dos indivíduos.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

Ao que parece, o contexto sociocultural influencia o desenvolvimento socioemocional. Sobre isso, marque a alternativa correta:

Os cuidadores expressam suas emoções, mas as crianças não recebem influências de tais expressões e vivenciam suas
A
emoções de maneira totalmente independente.

O contexto sociocultural é relevante ao desenvolvimento humano, entretanto, ele não denota ser essencial ao desenvolvimento
B
emocional.

O processo de interação, principalmente aquele vivido entre pais e filhos, é significativo para se aprender a expressão e a
C
compreensão emocional.

D O contexto de crenças e hábitos de cuidado é cercado por elementos afetivos que prejudicam a compreensão emocional.

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E As experiências emocionais não são marcantes para o aprendizado socioemocional.

Parabéns! A alternativa C está correta.


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paragraph'%3EMesmo%20antes%20de%20nascer%2C%20vivenciamos%20as%20experi%C3%AAncias%20por%20meio%20das%20respostas%20emo

Questão 2

Marque a alternativa verdadeira com relação às estratégias de regulação emocional:

A Todas as respostas emocionais são consideradas estratégias de regulação emocional.

B As estratégias de regulação emocional se restringem a ensinar sobre as emoções.

C As estratégias de regulação emocional consistem em fornecer avaliações emocionais.

D Há estratégias favoráveis, tais como a distração atencional, o conforto físico e a reavaliação cognitiva.

E As estratégias de regulação emocional devem ser utilizadas somente de pais para filhos.

Parabéns! A alternativa D está correta.


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Considerações finais
Ao estudar ou pesquisar sobre as emoções precisamos compreender que elas são multidimensionais e que sofrem repercussões de intensidade,
valência, da cultura ou do contexto de interação. As emoções podem ter força instantânea quando experimentadas em um momento determinado,
mas também podem ter duração prolongada quando encontramos dificuldades para realizar a sua regulação.

As emoções são vivenciadas somaticamente, ou seja, o corpo reage ao que lhe acontece. No entanto, elas também são vividas num processamento
mental porque, dentre outras funções executivas envolvidas, também é feita uma avaliação interna. As emoções transcorrem em um plano
evolucionista, pois se adaptam de acordo com as circunstâncias do ambiente e do tempo; mas também são sociais, porque ocorre uma construção
entre os grupos de interação do indivíduo. Vale destacar que crianças pequenas não se apropriam somente das capacidades autorregulatórias dos
pais, mas suas capacidades para regulação emocional emergem de múltiplas características que vão desde as respostas emocionais dos pais até
as suas próprias expressões emocionais.

Além das relações entre os cuidadores e as crianças, sabemos que em qualquer idade o indivíduo experimenta as emoções, reagindo e se utilizando
de variadas estratégias e influenciado por múltiplos aspectos, a depender do contexto e da cultura em que vive.

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19/06/23, 15:47 Emoção

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Agora, a especialista Julia Teixeira falará sobre como o psicólogo pode reconhecer e trabalhar as estratégias de regulação emocional em diversos
contextos da sua prática profissional.

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Pesquise na internet o artigo intitulado Razão, emoção e ação em cena: a mente humana sob um olhar evolucionista, de Angela Donato Oliva,
Emma Otta e outros colaboradores, publicado na revista Psicologia: Teoria e Pesquisa, em 2006.

Entre no site da Escola da Inteligência e leia o texto Programa Escola da Inteligência: desenvolva a educação socioemocional em seu colégio. O
programa foi idealizado pelo médico, psiquiatra e escritor Dr. Augusto Cury e é aplicado em muitas escolas no Brasil.

Referências
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