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A natureza das
emoções
DEFININDO EMOÇÃO
Para começarmos, a definição de emoção utilizada neste livro é a seguinte:
Uma emoção é (1) uma experiência multidimensional que (2) se caracteriza por
diferentes níveis de ativação e por graus de prazer-desprazer; (3) associada a ex-
periências subjetivas, sensações somáticas e tendências motivacionais; (4) mar-
cada por fatores contextuais e culturais; e que (5) pode ser regulada, até certo
ponto, por meio de processos intrapessoais e interpessoais.
Essa definição sugere que as emoções abarcam sistemas biológicos que estão
comumente (mas não necessariamente) associados a adaptações evolutivas e
tendências motivacionais e que são moldadas por fatores sociais e culturais, bem
como por outros fatores contextuais. Uma breve revisão da base neurobiológica
contemporânea das emoções é dada no Capítulo 8.
Uma emoção é uma experiência. Assim, quando temos uma emoção, estamos nos
referindo à experiência de uma emoção. Essa experiência é comumente (mas nem
sempre) desencadeada por um estímulo, como uma situação, um evento, outra
pessoa, um pensamento ou uma memória. Na maior parte do tempo (e, novamen-
te, nem sempre), estamos conscientes dessa experiência e do estímulo que a de-
sencadeou. No Capítulo 8, examino mais detalhadamente os diferentes níveis de
processamento (consciente e inconsciente) do material emocional.
A experiência emocional e a resposta emocional estão ligadas funcionalmente.
Em suma, o termo resposta emocional se refere à reação a estímulos ou gatilhos
causadores de emoções, ao passo que o termo experiência emocional se refere à
atribuição de um rótulo a essa resposta. Como será discutido com mais detalhes
posteriormente no capítulo, William James (1884) e Carl Lange (1887) consi-
deraram que uma emoção seria simplesmente a sensação de respostas corpo-
rais específicas a uma situação. Essa teoria ficou conhecida como a teoria das
emoções de James-Lange. Mais tarde, teóricos cognitivistas consideraram que
uma experiência emocional é resultado da avaliação cognitiva de uma ativação
fisiológica geral (Schachter & Singer, 1962).
Emoções, em si mesmas, não são nem boas nem ruins, mas são comumen-
te experienciadas como agradáveis ou desagradáveis, a depender dos fatores
contextuais, como aspectos situacionais específicos e as interpretações que as
pessoas fazem deles. A definição sugere ainda que as emoções podem, até certo
ponto, ser reguladas, tanto de modo intrapessoal, por meio de estratégias cog-
nitivas, como a reavaliação ou a supressão, quanto interpessoal, por meio de
outras pessoas. Além do mais, emoções raramente são experienciadas em esta-
do puro, mas de maneira “confusa”. Elas são experienciadas comumente como
misturas e amálgamas de várias emoções (p. ex., sentir-se feliz e triste, irritado e
amedrontado), e diferentes emoções podem se unir, formando redes complexas
e resultando em emoções sobre emoções (uma noção que discuto mais detalha-
damente no decorrer deste livro).
EMOÇÕES BÁSICAS
Influenciados pela visão de Darwin, muitos teóricos propuseram que as emo-
ções têm sua base em sistemas biológicos que evoluíram para governar com-
portamentos e promover a sobrevivência das espécies, incluindo a raça humana
(p. ex., Tomkins, 1963, 1982; Ekman, 1992a; Izard, 1992). Esses e outros teóri-
júbilo versus sofrimento, raiva versus medo, aceitação versus descontentamento e sur-
presa versus expectativa. Todas as emoções humanas são vistas como resultado
de uma mistura dessas oito emoções básicas, de maneira similar a um espectro
amplo que surge ao misturarmos as três cores primárias. Por exemplo, dentro
desse modelo circumplexo, supõe-se que o amor inclua elementos de alegria e
aceitação.
Relacionados a emoções básicas estão processos emocionais primários
(Panksepp & Biven, 2010) ou sistemas arcaicos programados biológica e evo-
lutivamente (i.e., sistemas que evoluíram cedo no processo evolutivo). Esses
sistemas incluem o sistema do medo (fear), que permite ao organismo se retirar
reflexamente, esconder-se ou fugir; o sistema do luto (grief) — ou da separação-
-aflição, antes chamado de pânico (panic) —, que é ativado quando o organismo
experiencia a perda, que está associada ao luto e à aflição; o sistema da ira (rage),
que fica ativo durante atos de agressão; o sistema da busca (seeking), que fica ativo
quando o organismo está em busca de comida ou parceiros sexuais; o sistema da
luxúria (lust), que fica ativo durante atos sexuais; o sistema do cuidado (care), que
fica ativo quando se está criando a prole; e o sistema do jogo (play), que fica ativo
quando se está brincando com a prole, bem como quando estamos desenvolven-
do habilidades sociais. Esses sistemas distintos podem ser coativados e traba-
lhar sinergicamente. Por exemplo, o sistema do pânico e do cuidado propiciam,
juntos, vínculo e apego sociais.
Leis gerais
Frijda (1988) descreveu algumas das leis gerais (12 no total). A primeira é que
uma emoção depende da interpretação que se faz da situação. Essa lei tem sido
chamada de a lei do significado situacional. Essa observação simples, porém im-
Cognições e emoções
As características das experiências emocionais destacam a importância do
contexto de referência em que essas emoções são experienciadas, do contex-
to situacional e, mais ainda, das avaliações cognitivas. Considere os seguintes
insights de alguns grandes pensadores: “As pessoas não são movidas pelas coi-
sas, e sim pela visão que têm delas” (o filósofo estoico grego Epictetus, 55-134
d.C.); “Se você está incomodado por algo exterior, a dor não se deve à coisa em
si, mas à sua estimativa dela, e isso você tem o poder de revogar a qualquer
instante” (o imperador romano Marcus Aurelius, 121-180 d.C.); e “Nada é bom
ou mau em si; depende do julgamento que fizermos” (o dramaturgo William Shakes-
peare, em Hamlet).
Esses insights podem ser reduzidos à simples proposição de que situações,
eventos ou gatilhos não causam diretamente uma resposta emocional, mas é a
avaliação cognitiva da situação, do evento ou do gatilho que conduz à resposta
emocional. Em outras palavras, não são os gatilhos que nos deixam com raiva,
ansiosos, felizes ou tristes, e sim a interpretação desses gatilhos. Portanto, é im-
portante identificarmos o pensamento relacionado a uma emoção.
Embora pensamentos frequentemente levem a emoções, pensamentos e
emoções (bem como comportamentos) não se relacionam de maneira unilate-
ral. Emoções também podem afetar pensamentos quando as pessoas as utili-
zam para dar sentido ao que ocorre ao seu entorno. Por exemplo, sentir muita
ansiedade enquanto aguarda sua esposa chegar em casa pode levar o marido a
pensar que “algo terrível deve ter acontecido”. O cérebro humano está programa-
do para levar informações ameaçadoras a sério, pois ignorá-las poderia pôr em
risco nossa sobrevivência. Relações parecidas entre pensamentos e sentimentos
existem para outras emoções, como tristeza, raiva, e assim por diante.
Pensar e raciocinar são processos que muitas vezes ocorrem em nível au-
tomático. Monitorar e observar seus próprios pensamentos pode retardar o
processo e criar uma oportunidade de se estudar a natureza dos pensamentos.
Estratégias de meditação, que são abordadas no Capítulo 7, encorajam a cons-
ciência do momento presente. Essas estratégias interrompem tendências auto-
máticas e intensificam experiências positivas.
Pensamentos não são fatos, mas “hipóteses”, que podem ou não estar cor-
retas. Algumas hipóteses (pensamentos) são mais prováveis que outras (p. ex.,
“minha tosse é um sinal de câncer de pulmão” vs. “estou resfriado”); já outros
pensamentos são imprecisos (“amanhã o mundo acabará”); e, ainda, outros
pensamentos estão corretos, mas são mal-adaptativos (“vou morrer, todos va-
mos morrer, e o mundo acabará”). Não importa quais tipos de pensamentos se
apresentam a nós, é importante destacá-los, a fim de avaliar sua validade, pro-
babilidade adaptativa, e assim por diante.
No curso da história da psicologia, várias teorias foram propostas para ex-
plicar a relação entre cognições e emoções e, especificamente, a sequência de
eventos e a direção de causalidade. A teoria das emoções de James-Lange postu-
la que os estímulos situacionais desencadeiam respostas fisiológicas específicas
e únicas, como o aumento das frequências cardíaca e respiratória. Ao mesmo