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Nell

TRABALHO NO ÂMBITO DA DISCIPLINA DE PSICOLOGIA


PROFESSOR ANTÓNIO RODRIGUES

Bernardo Jesus nº5


Guilherme Almeida nº8
Hugo Marques nº9
Jéssica Marques nº10
12ºC

ANO LETIVO
2023/24
ÍNDICE

ÍNDICE..................................................................................................................... 1
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 2
SINOPSE.................................................................................................................. 3
DIVISÃO E ANÁLISE DO FILME EM MOMENTOS...........................................5
CONCLUSÃO.........................................................................................................12
CITAÇÃO DE MICHAEL APTED ACERCA DO FILME “NELL”........................14
CRITÍCA................................................................................................................. 15
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................17

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INTRODUÇÃO

Neste trabalho iremos proceder ao estudo do filme “Nell”, realizado por Michael
Apted em 1994, relacionando-o com a importância do papel do meio. Na realização
deste trabalho, iremos inicialmente contextualizar o filme, fazendo uma breve
sinopse do mesmo; de seguida iremos aprofundar mais a análise do filme, dividindo-
o em partes e relacionar com o que foi estudado sobre o papel do ambiente na
disciplina de Psicologia – a linguagem, as crianças selvagens, a poda neuronal e a
epigénese – sendo bastante acentuado no filme. Ao longo da realização desta
atividade, deparámo-nos com diversas questões, como por exemplo, questionámo-
nos se Nell conseguiria adaptar-se à sociedade moderna que nós todos hoje
conhecemos ou se será capaz de sobreviver sozinha; será ou não Nell uma “criança
selvagem”; e se haverá algum critério que se deve tomar em atenção para dizer
quem educa quem. Continuamente, na conclusão tentámos, em grupo, procurar
possíveis respostas a algumas das questões anteriormente referidas e, também, a
nossa opinião após a visualização do filme. Por fim, decidimos colocar no trabalho
uma citação acerca da opinião e do objetivo que o realizador queria transmitir e uma
critica do mesmo reforçando o sucesso do realizador ao atingir a sua intenção com
este filme.

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SINOPSE

Nas Montanhas Azuis da Carolina do Norte, uma paisagem onde habitam diferentes
espécies, também ali vive Nell, uma jovem que foi criada à margem da sociedade,
ainda que tenha tido algum contacto com os humanos. Na verdade, vivia com a irmã
– ambas nasceram como consequência de uma violação – e com a mãe que se
encontrava paralisada devido a uma trombose. O filme começa quando a mãe de
Nell morre e o seu corpo é descoberto na cabana onde viviam por um rapaz que, de
vez em quando, se dirigia para deixar alimentos. O xerife local pede ajuda ao
Dr.Lovell para certificar a causa da morte. Nell é então acidentalmente descoberta
pelo doutor, escondida. Assim começa a extraordinária aventura no coração da
inocência. Jerry é naturalmente atraído pela beleza selvagem que o rodeia e este
cenário vem acrescentar-se ao mistério que é Nell; o doutor pede ajuda a uma
psicóloga, a Dra. Paula Olsen, para o auxiliar no diagnóstico, mas, esta sua decisão
virá mais tarde a revelar-se problemática pois, como veremos, as soluções que
ambos apresentam são antagónicas. O estranho dialeto que Nell fala é o que mais os
confunde. A mesma usa uma linguagem própria e indecifrável que aprendeu com a
mãe. Jerry e Paula tem perspetivas muito diferentes, ou seja, Paula pretende
recorrer à justiça, com o intuito de enclausurar Nell numa instituição para aí
investigar o seu comportamento, já o Dr.Lovell não concorda, pois prefere mantê-la
no seu habitat natural. O mesmo consegue que o juiz lhe conceda um prazo de três
meses para compreender Nell. Ele e a psicóloga deslocam-se para o local onde ela
vive. A psicóloga leva consigo uma luxuosa casa-barco e uma sofisticada tecnologia
vídeo e Jerry prefere acampar no bosque. Desconfiados um do outro, formam uma
equipa bastante improvável. Ainda que, consigam pouco a pouco comunicar com
Nell, conseguem estabelecer laços de confiança e, assim, começa uma nova etapa
marcada pela possibilidade da educação. No entanto, não é só Nell que vai ser
educada, mas também a relação educativa vai exercer-se nos dois sentidos, ou seja,
experimentados e cultos, o médico e psicóloga começam a conhecer-se melhor a si
mesmos e, pouco a pouco, vão aproximar as suas metodologias. Além disso, a
própria Nell vai exercer o papel de educadora. Numa acesa discussão são

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interrompidos pela chegada inesperada de Nell que toma o controlo da situação,
segura nas suas cabeças e ordena-lhes que "falem" e, com isto, o médico e a
psicóloga vêem-se forçados a pedir desculpa. Nell possui uma inocência total, pois
ao vê-la nua, num dos banhos noturnos que tem por hábito tomar no lago, por assim
dizer, imersa na Natureza, somos reconduzidos às nossas próprias raízes, lá onde a
culpa e a vergonha não existiam. Surge, porém, o momento de apresentar Nell à
sociedade. As repercussões de uma visita à cidade organizada para esse fim são
desastrosas. Os meios de comunicação, com a sua tradicional apetência por
transformar todas as notícias em escândalos, interessam-se pelo caso e vão até à
floresta violando a intimidade de Nell que reage violentamente. Jerry e Paula vêem-
se então obrigados a retirá-la do local onde vivia, levando-a para um hospital; posto
isto, o comportamento de Nell altera-se de tal modo que o médico decide raptá-la
da instituição sob o olhar resignado de Paula. O caso acaba em tribunal onde Nell
toma a palavra. Afinal, é ela que, com os seus argumentos, decide o seu próprio
futuro.

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DIVISÃO E ANÁLISE DO FILME EM MOMENTOS

Desde 1789 que se registam uma série de casos de crianças selvagens. Esses casos
dividem-se em três categorias:
 as que foram abandonadas e criadas pelos seus próprios meios;
 as crianças criadas por animais;
 as que não tiveram qualquer contacto com os humanos.
Contudo, a protagonista de "Nell" afasta-se destes três modelos de criança
selvagem. Uma das particularidades desta personagem é possuir uma linguagem,
ainda que deficiente, que a sua progenitora lhe havia transmitido.

1º momento - Morte da mãe


A primeira cena leva-nos até uma cabana na floresta, onde Nell enfeita os olhos da
sua mãe com flores do campo. Entretanto, aproxima-se um jovem numa mota que
traz consigo os mantimentos necessários para a sobrevivência de Nell e da mãe.
Como de costume, o dinheiro para pagar esses produtos encontrava-se debaixo de
uma pedra, numa pequena carteira. Ao ouvir sons vindos do interior da cabana, o
rapaz aproxima-se e chama por alguém, mas ninguém responde. O mesmo decide
entrar e depara-se com uma mulher, estendida no chão, morta. Consequentemente
assusta-se e foge.

2º momento - Descoberta de Nell pelo Dr. Lovell


Para certificar a morte da mãe, é chamado o médico da cidade, Dr. Jerry Lovell.
Depois de seguir todas as legalidades em relação ao cadáver, Lovell observa a cabana
e verifica que não há nem eletricidade nem água corrente. De seguida, dirige-se ao
sótão onde encontra um uma pessoa escondida. Tenta comunicar, mas a resposta é
um ataque de histeria por parte da rapariga, pois foi pela primeira vez que teve
contacto com alguém que não fosse a mãe ou a irmã, forçando o médico a sair da
cabana. No entanto, ele tenta um novo contacto, que também não é bem-sucedido,
uma vez que ela lhe fecha a porta na cara. Olhando em volta, o médico descobre

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uma Bíblia. Abre na primeira página, e lê: " O Senhor trouxe-te até aqui ... protege a
minha Nell, uma boa criança ... O Senhor cuidará de ti ... ".

3º momento - Batalha jurídica pela custódia de Nell


Não sabendo como tratar deste caso, o Dr. Lovell recorre a uma instituição de
proteção de adultos. É lá encontra a Dra. Paula Olsen, psicóloga habilitada a tratar de
casos patológicos que, ao ouvir a história de Nell, se interessa imediatamente pelo
caso. Nessa mesma noite, o doutor desloca-se ao lugar onde vive Nell e observa-a a
cortar lenha. No dia seguinte, o médico vai à esquadra onde é informado que aquela
rapariga não tem parentes. Como combinado, o médico e a psicóloga encontram-se
e vão até à cabana onde observam de longe o comportamento de Nell. A psicóloga
sugere que ela deve ser mentalmente atrasada; nesse sentido, pretende fazer-lhe
uma análise ao sangue, de modo a detetar possíveis doenças de infância e de
metabolismo. O médico e psicóloga tem posições muito divergentes acerca do modo
como Nell deve ser tratada. É de notar que ela nunca saiu da cabana, só conhecia a
mãe, nunca viu o mundo moderno nem os objetos que o povoam, os carros, a
televisão, uma arma, um bar, nunca ouviu música, mas sabe falar uma linguagem na
qual são reconhecíveis fortes marcas da língua inglesa – isto mostra que as
estruturas neuronais, que lhe permitiu adquirir alguns dos princípios da formação da
linguagem tiveram alguma estimulação, ou seja, Nell tornou-se quem é em virtude
das sinapses que foram instigadas – devido à sua mãe, uma afásica (doença na qual a
habilidade para falar ou entender uma linguagem não existe ou resulta normalmente
de uma lesão na parte do cérebro que controla a linguagem. Essa perda pode ser
causada por uma trombose, uma lesão no cérebro ou uma infeção. Os sintomas, que
podem variar de pessoa para pessoa, são, normalmente, dificuldade em falar ou
escrever, dificuldade em compreender palavras ou ler. Existem vários tipos de afasia
de entre os quais se destacam a afasia de Broca – forma na qual o discurso é
limitado, mas, no entanto, as pessoas conseguem entender e ler perfeitamente – e a
afasia de Wernicke, que acontece o oposto, ou seja, a pessoa mostra um discurso
com coesão, mas apresenta dificuldades na compreensão do que lhe é dito. Um
excerto do filme mostra a primeira página da Bíblia com uma mensagem escrita em

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inglês pela mãe de Nell; daí conclui-se que a mãe dela conseguia escrever
corretamente, logo a sua afasia seria, provavelmente, uma afasia de Broca.) crítica,
lhe havia certamente ensinado. Não se trata, pois, de uma criança selvagem, mas,
também não se trata de uma criança "normal". O que torna este caso singular é o
facto de não sabermos como se formou a sua personalidade, não sabermos o que
terá provocado o seu comportamento. Poderá Nell sobreviver sozinha? A esta
pergunta ninguém sabe responder. No dia seguinte, Jerry (o doutor) é acordado por
um telefonema do xerife, seu amigo, que o avisa do facto de ter em seu poder uma
ordem de internamento em nome de Nell. Horas depois, Paula desloca-se à cabana
para ir buscá-la. Lá encontra à sua espera Jerry que, com a presença de um
advogado, explica-lhe que não pode levar Nell pois não tem o seu consentimento
expresso e, Jerry acrescenta que, se a levar, processará Paula até ao Supremo
Tribunal. Mas como poderá Nell dar o seu consentimento se não fala inglês
corretamente? A única solução seria encontrar um intérprete, alguém que aprenda a
linguagem dela. O caso segue até à barra do tribunal onde as posições se extremam.
Paula vê em Nell uma vítima de maus-tratos e abandono, uma mulher feita a quem
roubaram metade da vida; por outro lado, Jerry acha que o habitat natural de Nell é
a floresta temendo que ela passe o resto da vida em hospícios do Estado,
abandonada pelos cientistas que prometeram ajudá-la. Acrescenta que Nell tem casa
e vida própria e não pediu ajuda a ninguém. Para deixar a cabana, de modo a ter
uma vida melhor, Nell precisa de conhecimentos que não tem. O Juiz adia a decisão
por três meses, ou seja, estabelece um prazo para que possa ser feita uma melhor
observação e avaliação do caso. Uma solução que, obviamente, agrada a Jerry.

4º momento - Observação direta dos comportamentos de Nell


O médico e a psicóloga decidem ir para a floresta com o fim de observar o
comportamento de Nell. Enquanto Jerry monta uma tenda à porta da cabana, Paula
opta por um luxuosa casa-barco, equipada com a mais moderna tecnologia,
incluindo um equipamento de vídeo, com o qual observa e regista diretamente
todos os passos de Nell. Jerry começa por gravar as palavras de Nell, vai até à cabana
e diz-lhe algumas palavras na sua própria linguagem. Ela reage de imediato e olha-o

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fixamente, puxa-o e faz com que ele se desloque para outra divisão da cabana onde,
em frente a um espelho, faz gestos com as mãos enquanto fala. Ao registar este
momento, através de um vídeo, Paula analisa os gestos, numa conversa de
psicólogos no instituto e conclui que Nell tem um "eu" objetivo e um "eu" subjetivo.
As análises de sangue não revelaram nada de anormal e, Paula dá ainda uma
explicação para a origem da linguagem de Nell - a sua mãe seria afásica. A cena
seguinte mostra-nos Jerry a tentar de novo comunicar com Nell. O médico tenta
novamente comunicar com ela contando-lhe uma história da sua infância (nela Jerry
diz que não tinha irmãos e que, ao seu lado, vivia uma família numerosa. Recorda-se
de estar por detrás de uma janela a ver os seus vizinhos a divertirem-se. Num certo
dia, Jerry ouviu uma banda que vinha a descer a rua. De repente duas crianças
agarraram-lhe nas mãos e começaram a marchar à frente da banda. O doutor sentiu,
então, que não estava sozinho.) Nell ouve-o com bastante atenção e, a partir desse
momento, proclama Jerry como seu “anjo da guarda”. Jerry dirige-se até à casa-
barco de Paula e, excitado com a reação de Nell, diz-lhe ter falado com ela. Paula
comenta que talvez Nell fale inglês. Assim, juntos tentam compreender a sua
linguagem. Na cena seguinte, Jerry e Nell estão ambos dentro da cabana. Nell segura
uma folha de uma árvore e fala, mas o doutor não a compreende, então começa a
baloiçar o seu corpo com as mãos erguidas para o céu e o mesmo percebe o que Nell
lhe diz: " árvore ao vento". Nell percebe o que ele lhe diz, no entanto, hesita não
quer sair da cabana. Num outro dia, dois rapazes aproximam-se da cabana onde vive
Nell. De súbito ouvem gritos que vêm do interior da cabana e, ao verem Nell à porta
a gritar, fogem, assustados. Jerry vai ver o que se passa e Nell mostra-lhe que a Bíblia
desapareceu do local onde ela a guardava. Então, Jerry esclarece que é ele que tem
o livro e ela pede-lhe que leia em voz alta:
"Uma nação pecadora, um povo cheio de iniquidade. semente de malfeitores, filhos
que são corruptores ignoraram o Senhor."
Paula e Jerry chegam à conclusão de que Nell tem fobia de sair de dia, fobia esta
desencadeada pela mãe. Decidem fazer com que Nell enfrente esta sua fobia de
modo a neutralizar o medo, então dentro da cabana, Jerry começa a comer pipocas

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e oferece-as a Nell; ela come, gosta e pede mais, então o doutor sai da cabana para
que ela o siga. Nell hesita e não sai porque tem medo de que haja malfeitores na
floresta, mas o doutor afirma firmemente que os mesmos não existem. Nell após
compreender as palavras de Jerry, de repente, começa a correr pela floresta dentro,
no que é seguida por Paula e Jerry. Chega ao local onde se encontram as ossadas da
sua irmã gémea e aí, enfeita os "olhos" com flores, como fizera com a sua mãe. Num
bar da cidade, um dos rapazes que havia visto Nell no seu passeio pela floresta
refere aos seus amigos a existência de uma mulher selvagem. Ao ouvi-lo, um homem
aproxima-se e faz-lhe perguntas sobre o assunto. Esse homem é um jornalista do
"Charlotte Tribune" que decide ir até à cabana de Nell. Entra, e ao vê-la pergunta-lhe
se pode tirar-lhe uma fotografia. Com a luz do flash, Nell assusta-se e começa a
gritar, mas o doutor aparece, tira o rolo da máquina e expulsa-o da cabana.

5º momento - Primeira ida à cidade


A Dr. Paula Olsen e o Dr. Lovell decidem levar Nell para a cidade de carro. Esta
observa tudo com surpresa e expectativa. Vão a um supermercado onde Nell retira
diversos artigos das prateleiras, essencialmente guloseimas. Enquanto o médico e a
psicóloga pagam, Nell foge para um bar, e lá encontra um dos rapazes que a viu na
floresta. Consequentemente, dirige-se a Nell e levanta a camisa e, ao vê-lo, Nell
decide imitá-lo sem qualquer receio – pois, não estando familiarizada com o
ambiente humano, local do ensino da cultura que, como seres humanos, nos
caracteriza esta criança privada da interação social não sabe o que é correto ou não
fazer – levantando ela própria o seu vestido. Esta cena é interrompida com a
chegada do doutor que, ao perceber o que se passa, agride o rapaz.

6º momento - De volta à floresta


O doutor e a psicóloga oferecem a Nell um livro sobre sexualidade. Ao observar o
livro, Nell pergunta o que significa uma imagem em que se veem duas pessoas a
fazer amor. Nell associa a imagem a Jerry e Paula, pega na mão dele e encosta-a à
cara de Paula.

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7º momento - Ida para um Hospital
Este momento começa com a chegada do xerife à cabana. Traz consigo uma folha de
jornal que mostra ao médico e à psicóloga, onde se lê: "Mulher selvagem encontrada
na floresta vale milhões.". Jerry dirige-se a Paula e comenta a notícia com ironia. O
médico e a psicóloga chegam à conclusão que a tem de tirar daquele local e levá-la
para um hospital. Esse é o único sítio onde Nell estará segura.
De repente ouvem um barulho e apercebem-se que se aproxima um helicóptero de
uma rede de televisão. Nell assusta-se e Jerry, de modo a tranquilizá-la, explica-lhe
que tem de sair dali por uns tempos. Afirma-lhe que estará sempre com ela para a
defender pois é o seu anjo da guarda. Chegados ao hospital, Nell resiste, agarra-se às
paredes, pois nesse momento teve uma visão e viu a sua irmã, com isto, o doutor é
obrigado a transportá-la ao colo. Após algum tempo de internamento, Paula não
compreende o comportamento de Nell que, há semanas, que se mantém fechada
sobre si mesma. Este comportamento pode ser explicado pelo facto de Nell estar
deslocada do seu ambiente natural. O doutor reconhece que nunca a devia ter
trazido para ali e diz a Paula que é necessário retirá-la do hospital. Paula não aceita a
decisão, então Jerry decide raptar Nell e levá-la para um hotel, mas Nell continua
sem reagir, surgindo um grande problema para eles porque no dia seguinte tem de a
apresentar no tribunal. Partindo de conceções muito diferentes quanto ao método
de tratar Nell, o recuo de Paula acaba por aproximá-la de Jerry tornando-se ambos
aliados numa mesma causa.

8º momento - No tribunal
Nell, no tribunal, demonstra uma certa maturidade, autonomia e conhecimento da
vida e dos sentimentos humanos, que surpreendeu a todos. Certamente, todos
aprenderam muito com ela, que mostrou saber mais do que os ditos cultos,
enaltecendo a sua simplicidade e natureza.

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9º momento - Cinco anos depois
É o aniversário de Nell. Na cabana está o doutor, a psicóloga e filha deles, entre
outros convidados. Nesta cena observa-se Nell a brincar com a filha, nas pedras do
lago, mostrando ser uma pessoa feliz, que fala inglês corretamente.

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CONCLUSÃO

A primeira pergunta que se pode colocar é será que é possível saber se Nell é ou não
uma “criança selvagem”. Podemos dizer que o único modelo, anteriormente
referido, em que Nell se podia inserir seria o dos meninos que não tiveram contacto
com outros seres humanos, o que, no caso de Nell, não é também totalmente
verdade. Embora não tenha tido contacto com outros seres humanos, ela contactou
com a mãe e a irmã durante um certo tempo no seu crescimento; além disso, Nell
não vivia enclausurada pois saía à noite e quando foi encontrada sabia falar e não
possuía hábitos de locomoção similares aos dos animais.
Outra das questões que é levantada neste filme é o facto de a Dr. Olsen e o Dr. Lovell
apresentarem no início soluções bastante antagónicas para o caso de Nell. Por um
lado, temos uma psicóloga que vê na jovem uma oportunidade para a sua própria
carreira. Trata-se de um caso muito raro, que não pode ser construído em
laboratório e do qual, por isso mesmo, Paula tenta tirar todo o proveito. É com o
intuito de ganhar algum protagonismo profissional que sugere levá-la para um
hospital. Seria ali que poderia aprofundar o conhecimento da sua personalidade,
através de um acompanhamento médico permanente; por outro lado, temos Jerry
que ganhou de imediato uma grande empatia por Nell, por isso tenta mantê-la no
seu habitat natural. Foi aí que sempre viveu e é com a floresta que ela mais se
identifica. Será então legítimo tirar Nell do meio onde sempre viveu? O que se sabe é
que sempre viveu feliz, com tudo o que tinha à sua volta e que nunca precisou das
comodidades que a sociedade nos oferece. De outro modo, uma vez que nunca teve
nenhuma experiência no mundo moderno, não poderá saber se esse mundo será
melhor ou não para ela. É a consciência desta situação que leva Jerry e Paula a
colocarem-se de acordo para lhe proporcionar essa experiência, levando-a à cidade.
No início, Nell sente-se seduzida com tudo o que vê, agindo com uma naturalidade
ingénua de quem nunca conviveu com outros seres humanos. Por essa razão é que
se dá a tentativa de aproveitamento dessa pureza, tanto pelos habitantes da cidade
como até pela psicóloga; com isto, surge-nos esta questão: poderia Nell adaptar-se a
essa sociedade moderna? O filme mostra que todos os encontros que Nell tem com

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a sociedade - o encontro com os media, a ida ao bar e até as análises ao sangue - só
servem para ela se fechar mais ainda no seu mundo.
Vimos já que os métodos utilizados por Jerry e Paula são antagónicos: o método
utilizado pela psicóloga é bastante impessoal, mas, apesar disso, permite chegar a
resultados positivos, por exemplo, permite aperceber-se que Nell fala uma
deformação da língua inglesa; já Jerry utiliza um método de aproximação mais
humano, baseado numa presença constante na casa de Nell, com diálogos em que
começa por utilizar as palavras da mesma. Esta aproximação tem como principal
objetivo a obtenção da confiança de Nell - missão bastante difícil - porque ela nunca
havia contactado com ninguém a não ser com a mãe e a irmã, por isso é que, ao
ganhar a sua confiança, Jerry se torna o seu “anjo da guarda”. A partir deste
momento, o médico tenta aprofundar a sua educação que era baseada unicamente
naquilo que a mãe lhe havia transmitido, sobretudo a sobreviver e a defender-se do
mundo exterior. Em termos de valores, centrava-se essencialmente na Bíblia, livro
onde Nell extraía os princípios, as normas, os heróis que constituíam o seu mundo. O
objetivo do médico é prepará-la para viver em sociedade, pois não sabe qual vai ser
a decisão final do juiz.
Outro aspeto que este filme levanta é o da circularidade das figuras educativas. Nell
foi educada pelo médico e pela psicóloga e, de modo inverso, também podemos
dizer que ela os educou. O que permite perguntar: qual é o critério que se deve
tomar em atenção para dizer quem educa quem? Será válido considerar que apenas
as pessoas com mais experiência poderão educar outras? Ou pelo contrário,
qualquer pessoa pode educar e partilhar com outro aquilo que sabe do mundo. O
filme mostra que Jerry e Paula aprenderam que os pontos de vista de Nell, apesar de
diferentes, poderiam ser úteis para a sua vida. Paula acaba mesmo por abandonar os
seus desejos de protagonismo a favor da defesa do estilo de vida que Nell deseja
levar. Outra coisa que aprendem com Nell é o valor da liberdade, é um ser singular
que preserva cuidadosamente a sua liberdade, a mesma que implica o isolamento e
a solidão. Ora, ela aceita este estado pois não quer depender de outras pessoas ou
de outras coisas, aliás, como é que alguém pode precisar de algo que não conhece?

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Em conclusão podemos dizer que Nell não é anormal, trata-se apenas de um ser
humano que se afasta enormemente dos nossos padrões de vida. Ela nunca pediu
nada a ninguém, apenas pede que a deixem continuar a viver uma vida simples. Ao
olharmos para este filme, ficámos com a sensação de que ela nos quer dar uma lição
a nós espectadores; sabe-se que sempre tivemos tendência para tomar o diferente
como anormal. Ora, a diferença não é uma doença, apenas é uma diferença, que
temos de aceitar, das pessoas que nos rodeiam, não devendo olhar para elas como
seres inferiores, mas sim como pessoas que olham para o mundo de outro modo, ou
seja, o seu mundo também é o nosso mundo e, como tal, não devem ser excluídas,
mas sim compreendidas. Vive-se num mundo com diferentes culturas que nem
sempre são respeitadas, mundo no qual se geram conflitos que muitas vezes se
podiam evitar, sendo a solução para acabar com esta situação é olhar para o
próximo como o nosso igual. Como afirma Nell, as pessoas deviam olhar-se olhos nos
olhos, e aceitar-se nas suas diferenças.

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CITAÇÃO DE MICHAEL APTED ACERCA DO FILME “NELL”

“(...) Trabalho tanto mais difícil quanto não tínhamos


nenhuma referência real para nos inspirarmos. Lemos a
literatura sobre crianças selvagens, vimos o filme de Truffaut.
Mas o problema é que Nell não é uma criança selvagem. É
uma pessoa que aprendeu a falar defeituosamente porque a
sua mãe sofreu uma paralisia, que teve uma experiência
social limitada ao conviver unicamente com a mãe, o que a
afasta das outras crianças selvagens da história e faz com que a personagem seja
complexa e conflituosa. Uma complexidade que aumenta em virtude do desejo que
ela tem de se comunicar com a personagem de Liam Neeson. A história do filme é
um mistério. Quem é Nell? Primeiro, aparece quase como um animal. Mas, à medida
que o filme avança, vamos conhecendo-a melhor e, finalmente, vemo-la como uma
mulher igual a muitas outras da nossa sociedade, capaz de fazer a sua própria vida.
Parte deste mistério vem da relação com a sua irmã gémea."
Extraído da Revista Interfilms, março de 1995, pág. 7

CRÍTICA

“Vocês não olham nos olhos uns dos outros... E tem fome de sossego…” Estas são as
palavras de Nell, traduzidas pelo Dr. Lovell, que nos levam para o nosso próprio
senso de isolamento e solidão. Este é um filme que aquece o coração. Foi bastante
criticado como sendo irreal na sua tentativa de retratar uma rapariga eremita,
perdida nas florestas da Carolina do Norte. Com todo o respeito para com esses
críticos, este filme nunca tentou ser esse retrato. Quanto a isso, como disse Jodie
Foster, "ele apresenta uma natureza secreta que todos perdemos no nosso caminho.
Nell é extraordinariamente vulnerável e inocente; não sabe que quando estamos a
sofrer podemos não chorar e que devemos ter vergonha e tapar o nosso corpo."
Jodie Foster representa o papel dessa jovem vulnerável com um grau de sofisticação
que nos deixa enfeitiçados. Vale a pena ver este filme apenas por esta razão. Liam

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Neeson e Natasha Richardson, que na vida real são casados, trazem o romance a
este filme. E é aí, com o seu relacionamento, que o filme se aproxima da realidade. "
Rachel Marshals, The New York Times, 30 de novembro de 1995

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BIBLIOGRAFIA

 Fadigas, N., Freixo, N., Sousa R (2023) Identidade (1ªedição). Porto: Porto
Editora.
 https://webpages.ciencias.ulisboa.pt/~ommartins/cinema/dossier/nell.pdf
 https://encenasaudemental.com/post-destaque/nell-a-aprendizagem-do-
desenvolvimento-para-vygostky/´

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