O documento discute a neuropsicologia da linguagem, incluindo: 1) as bases neurais da linguagem e os déficits linguísticos; 2) os componentes do processamento da linguagem como semântico, fonético e outros; 3) os tipos de afasia como Broca, Wernicke e outros.
O documento discute a neuropsicologia da linguagem, incluindo: 1) as bases neurais da linguagem e os déficits linguísticos; 2) os componentes do processamento da linguagem como semântico, fonético e outros; 3) os tipos de afasia como Broca, Wernicke e outros.
O documento discute a neuropsicologia da linguagem, incluindo: 1) as bases neurais da linguagem e os déficits linguísticos; 2) os componentes do processamento da linguagem como semântico, fonético e outros; 3) os tipos de afasia como Broca, Wernicke e outros.
Investiga as bases neurobiológicas da linguagem; a aquisição da linguagem; o
processamento cognitivo-linguístico (oral e escrito); os déficits linguísticos, adquiridos ou do desenvolvimento; a avaliação; e a reabilitação.
A linguagem manifesta-se na forma de “compreensão” receptiva e de decodificação do
input linguístico (“compreensão verbal”), que inclui a audição e a leitura, ou no aspecto de codificação expressiva e produção, que inclui fala, escrita e sinalização.
Os componentes de representação da linguagem envolvem o processamento nos
seguintes níveis:
a) Semântico: refere-se ao significado das palavras ou ideias veiculadas.
b) Fonético: compreende a natureza física da produção e da percepção dos sons da fala
humana
c) Fonológico: corresponde os sons da fala (fonemas).
d) Morfológico: diz respeito às unidades de significado – palavras ou partes de uma
palavra.
e) Lexical: envolve compreensão e produção de palavras. Léxico é o conjunto de
palavras em uma dada língua ou no repertório linguístico de uma pessoa.
f) Sintático: refere-se às regras de estrutura das frases, às funções e às relações das
palavras em uma oração.
g) Pragmático: compreende o modo como a linguagem é usada e interpretada,
considerando as características do falante e do ouvinte, bem como os efeitos de variáveis situacionais e contextuais.
h) Prosódico: integra a habilidade de reconhecer, compreender e produzir significado
afetivo ou semântico com base na entonação, na ênfase e em padrões rítmicos da fala.
O processamento lexical inclui um conjunto de processos mediante os quais o ouvinte
ou leitor reconhece a forma das palavras (ortográfica ou fonológica), compreende seu significado e tem acesso a outras propriedades armazenadas em seu léxico mental, como o conhecimento sobre as palavras, seu som, ortografia, suas propriedades gramaticais (classe da palavra, gênero), sua estrutura morfológica e seu significado (Hagoort, 1998). No processo de reconhecimento e compreensão das palavras, em um modelo interativo, a informação sensorial da palavra-alvo (processamento botton-up) e a informação contextual, que envolve um processamento top-down (expectativas, contexto, memória e atenção do ouvinte/leitor), são usadas simultaneamente. Assim, o conhecimento lexical (semântico) tem o papel de mediar domínios representacionais diferentes, incluindo forma e significado (Hagoort, 1998). Para uma revisão dos modelos de processamento lexical e semântico pode-se consultar Shelton e Caramazza (1999).
Considerações sobre as bases neurobiológicas da linguagem
Hoje em dia observa-se que nem sempre as dificuldades dos quadros afásicos estão relacionadas a locais de lesão específicos, conforme descreviam essas pesquisas. Assim, estudos baseados no modelo neurológico das afasias têm dado lugar aos que relacionam os déficits com prejuízo em um ou mais componentes da linguagem, uma vez que o localizacionismo não explica por que pacientes com um mesmo local de lesão manifestam características linguísticas diferentes (Devido-Santos, Gagliardi, & Mac-Kay, 2012). No estudo de revisão de Catani e colaboradores (2012), identificaram-se diversas regiões, concentradas principalmente no HE, responsáveis pelas habilidades de linguagem. O hemisfério cerebral direito (HD) também tem um importante papel no processamento da linguagem e da comunicação. Estudos têm demonstrado que o HD armazena os aspectos prosódicos de produção da fala e os componentes lexicais de reconhecimento visual das palavras (Lindell, 2006).
Afasias
A afasia é definida como a perda ou a deficiência da linguagem expressiva e/ou
receptiva, provocada por um dano cerebral, geralmente no HE. Além disso, outros processos cognitivos relacionados à linguagem, como memória, categorização, atenção e funções executivas, podem estar prejudicados (Jordan & Hillis, 2006).
O diagnóstico de afasia é realizado a partir do desempenho do paciente em tarefas de
linguagem oral e escrita que avaliam compreensão, expressão, nomeação e repetição nos níveis da palavra, da sentença e do discurso (Peña-Casanova, Pamies, & Diéguez-Vide, 2005). De acordo com o estudo de Plowman, Hentz e Ellis (2012), o prognóstico da afasia depende da gravidade inicial dessa manifestação clínica, da extensão e do local da lesão cerebral.
Afasia de Broca (produção da fala)
As afasias de Broca caracterizam-se por fala espontânea e repetição de sentenças não
fluentes (extensão da frase reduzida, melodia e agilidade articulatória alteradas, menor número de palavras por minuto, produção de sentenças agramáticas), com anomias associadas à relativa preservação da compreensão da linguagem. Frequentemente, coocorrem dificuldades na associação fonema-grafema na leitura e na escrita de palavras não familiares e maior dificuldade em nomear verbos do que substantivos, dificuldades essas que não podem ser explicadas por um único déficit subjacente (Hillis, 2007). Nas afasias de Broca, apesar do déficit de expressão da linguagem ser mais preponderante, há também dificuldades na compreensão de sentenças, que podem estar relacionadas aos processos léxico-semânticos (Baumgaertner & Tompkins, 2002).
Afasia Transcortical Motora
A afasia transcortical motora é identificada nos pacientes que apresentam melhor
desempenho na repetição de sentenças do que na linguagem espontânea. Geralmente, a fala é lenta, com pouca iniciativa, estando a compreensão preservada. A leitura pode apresentar pouco ou nenhum déficit, enquanto a escrita mostra-se lentificada, tal como a fala (Ortiz, 2005). A nomeação fica comprometida, embora o paciente consiga beneficiar-se de pistas contextuais e fonêmicas, além de se observarem erros do tipo perseveração (Peña-Casanova et al., 2005).
Afasia transcortical mista
Nos casos com afasia transcortical mista, observam-se maiores dificuldades em
compreender sentenças e em nomeação, mas com preservada capacidade de repetição. A expressão da linguagem mostra-se prejudicada, sendo comuns as estereotipias e a ecolalia (Beeson & Rapcsak, 2008). As habilidades de leitura e escrita mostram-se deficitárias (Peña-Casanova et al., 2005).
Afasia global
Na afasia global, a fala espontânea consiste em estereotipias e perseverações, em que a
compreensão mostra-se severamente prejudicada, podendo ser compreendidos apenas comandos simples. Além disso, a repetição mostra-se comprometida, embora algumas palavras possam ser corretamente repetidas (Alexander & Hillis, 2008). Pode- -se notar que a afasia global é um dos mais graves quadros afásicos, havendo prejuízo severo na expressão e na compreensão da linguagem, tanto oral quanto escrita (Ortiz, 2005).
Afasia de Wernicke (compreensão da fala)
A afasia de Wernicke caracteriza-se por linguagem expressiva espontânea e repetição
fluentes, mas desprovidas de sentido (jargão), além de comprometimento da compreensão de palavras, sentenças e conversação. Os prejuízos na compreensão da linguagem parecem refletir inabilidade de acessar, usar ou manipular informações semânticas, mais do que uma perda nas representações semânticas das palavras (Kahlaoui & Joanette, 2008). Frequentemente, a produção escrita é semelhante à oral, e a compreensão de leitura encontra- -se preservada em grau semelhante à oral. Os déficits têm sido atribuídos à dificuldade do paciente em selecionar a palavra, o som ou o significado apropriado das unidades linguísticas que estão em competição, sendo todas ativadas (Hillis, 2007)
Afasia de condução
A afasia de condução é reconhecida por linguagem espontânea relativamente fluente,
adequada compreensão, mas dificuldade na repetição, que pode ser observada de modo inconsistente. Observam-se maiores erros na repetição de palavras de baixa frequência ou de estrutura fonológica complexa e em pseudopalavras, sendo recorrentes as parafasias fonológicas e verbais (Bernal & Ardila, 2009). Embora sejam predominantes os erros do tipo fonológico (omissões, substituições, transposições ou inserções de sons ou sílabas), podem acontecer também erros semânticos, bem como para certas categorias lexicais (p. ex., números e palavras de função). Os pacientes com afasia de condução são geralmente conscientes de seus problemas de fala, o que muitas vezes leva-os a repetitivas autocorreções (Bartha, Mariën, Poewe, & Benke, 2004). Afasia anômica
Na afasia anômica, a linguagem expressiva mostra-se fluente, com adequadas
compreensão, repetição e articulação, mas dificuldade na evocação lexical, que ocorre geralmente na linguagem espontânea, e que pode ser menos evidente na denominação por confrontação visual (Peña-Casanova et al., 2005). Os afásicos com anomias não conseguem acessar a informação fonológica e/ou ortográfica da palavra, apesar de acesso semântico intacto. Assim, esses pacientes podem recuperar nomes semântica ou fonologicamente relacionados, mas têm consciência de que estes não são aqueles que estão tentando falar (Hillis, 2007). A escrita mostra-se semelhante à linguagem oral, com erros do tipo paragrafia, enquanto a habilidade de leitura parece estar adequada (Ortiz, 2005).
Afasia sensorial transcortical
Os pacientes com afasia sensorial transcortical mostram discurso fluente, com
dificuldade na compreensão, sendo observadas as parafasias semânticas, dificuldades em encontrar palavras (anomias) e circunlóquios. A repetição mostra-se preservada, podendo, às vezes, ocorrer perseverações (Beeson & Rapcsak, 2008). A nomeação e a leitura de palavras são adequadas, embora o paciente possa não compreender o que leu (Boatman et al., 2000).
AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM EM UMA ABORDAGEM
NEUROPSICOLÓGICA
A avaliação neuropsicológica da linguagem deve permitir a compreensão dos déficits,
em termos de manifestações superficiais, causas subjacentes e componentes afetados, além de mostrar as potencialidades em todos os níveis de descrição (funções linguísticas, atividades comunicativas e questões psicossociais) (Turgeon & Macoir, 2008). A avaliação deve ser direcionada pelas hipóteses formadas na observação, sendo, portanto, um processo cíclico, em contínua revisão de hipóteses, até fornecer bases suficientes para a reabilitação (Nickels, 2008).
Na entrevista, é importante: investigar hábitos de leitura e de escrita para além do
nível de escolaridade, buscando informações sobre fatores individuais e socioculturais que podem impactar na comunicação. As tarefas selecionadas para avaliar a linguagem oral e escrita geralmente envolvem expressão (linguagem espontânea, linguagem automática, nomeação, repetição) e compreensão, nos níveis de palavras, frases e discurso. A literatura internacional mostra que há várias ferramentas e métodos de avaliação disponíveis para mensurar a linguagem, principalmente na língua inglesa (para uma revisão ver Lezak, Howienson, & Loring, 2004; Turgeon & Macoir, 2008). No Brasil, contudo, segundo Serafini, Fonseca, Bandeira e Parente (2008), apenas um quarto das publicações sobre avaliação da linguagem faz referência especificamente à avaliação neuropsicológica da linguagem e, entre estas, os instrumentos mais usados foram o Teste de Nomeação de Boston, o Teste de Fluência Verbal Semântica (Categoria Animais), o Teste de Vocabulário por Imagens Peabody e o Token Test. O Teste de Nomeação de Boston costuma ser utilizado para avaliar se o paciente apresenta anomia, sendo necessário comparar o desempenho dos adultos de acordo com a sua escolaridade (Mansur, Radanovic, Araújo, Taquemori, & Greco, 2006). Influência da idade e da escolaridade também foi observada no Token Test (Moreira et al., 2011), que avalia a compreensão de sentenças. Pode-se, ainda, obter medida de produção espontânea de palavras por meio das tarefas de Fluência Verbal. Há normas brasileiras para adultos idosos divididos em grupos por idade e escolaridade (Machado et al., 2009). O teste Pirâmides e Palmeiras (Pyramids and Palm Trees) mostra-se adequado para avaliar o acesso às representações semânticas no nível da palavra (Mansur, Carthery-Goulart, Bahia, Bak, & Nitrini, 2013). Para avaliar as habilidades de escrita de palavras, pode-se utilizar a Tarefa de Escrita de Palavras e Pseudopalavras (Rodrigues & Salles, 2013), buscando identificar o tipo de disgrafia adquirida que o paciente apresenta, de acordo com a abordagem da neuropsicologia cognitiva. Além de tarefas específicas, há baterias como o Teste de Boston para o Diagnóstico das Afasias – versão reduzida (Boston Diagnostic Aphasia Examination – short form) (Bonini, 2010; Goodglass, Kaplan, & Barresi, 2001). No Brasil, foi realizada também a adaptação do Teste MT Beta – 86 Modificado – Montreal Toulousse (Soares et al., 2008) para diagnosticar as afasias. Para avaliar demais habilidades cognitivas nos pacientes que apresentam dificuldade na expressão da linguagem, pode-se utilizar o Instrumento de Avaliação Neuropsicolinguística Breve NEUPSILIN-Af, adaptado para pacientes afásicos expressivos (Fontoura, Rodrigues, Parente, Fonseca, & Salles, 2011). A investigação dos aspectos funcionais da linguagem pode ser feita por meio da Bateria Montreal de Avaliação da Comunicação – Bateria MAC (Fonseca, Parente, Côté, & Joanette, 2008). Por fim, aspectos mais pragmáticos e qualitativos da linguagem podem ser avaliados com o Questionário de Habilidades Funcionais de Comunicação (Functional Assessment of Communication Skills for Adults – ASHA-Facs) (Frattali, Holland, Thompson, Wohl, & Ferketic, 1995; Garcia & Mansur, 2006).