Você está na página 1de 34

TEORIA DA PERSONALIDADE

E DA DINÂMICA DO
COMPORTAMENTO
Profa. Dra. Márcia Soares
A teoria da personalidade foi criada na fase
reflexiva do pensamento de Rogers;

Universidade de Chicago – Centro de


Aconselhamento (incentivo Técnico-
Institucional).

Fase responsável por forte vínculo com o


cientificismo, por meio do pensamento
INTRODUÇÃO funcional

Pressão da APA para uma teorização objetiva.

Experiência de atendimento na fase anterior


(20 anos de atendimentos).

Rogers propõe uma teoria fundamentada na


clínica e aberta a pesquisa desenvolvida nesta
(não fechada).
“ESSA TEORIA TEM UM CARÁTER SUMÁRIO

BASICAMENTE FENOMENOLÓGICO E
ESTÁ FORTEMENTE FUNDAMENTADA Organização da personalidade
NO CONCEITO DE SELF COMO (desenvolvimento humano);
CONCEITO ELUCIDATIVO”. Desorganização
(desajuste psicológico);
Reorganização
(ROGERS, 1951, P. 604) (mudança e crescimento).
“Todo indivíduo vive num mundo de
experiências, em constante mutação, do qual
ele é o centro” (ROGERS, 1951, p. 549).

Compreende tudo o que é experimentado pelo


1. ORGANIZAÇÃO organismo em qualquer momento e que está
potencialmente disponível à consciência.
DA PERSONALIDADE
Campo fenomenológico = objetos “Minha consciência e meu conhecimento
efetivos de meu campo fenomenológico são
+ significação
limitados. Ainda é verdade porém, que,
potencialmente, sou a única pessoa que pode
conhecê-lo na totalidade. Uma outra pessoa
nunca poderá conhecê-lo tão completamente
quanto eu”. (CARL ROGERS, 1951, p.550)
ORGANISMO Totalidade da pessoa em sua relação com o meio;

O organismo reage ao campo da maneira como este é experimentado


AQUISIÇÃO
e percebido. O campo perceptivo, é para pessoa a “realidade”;

ATIVAÇÃO Percepção da realidade Comportamento

O organismo reage ao seu campo fenomenológico como um todo


organizado;

O organismo, psicologicamente concebido, é o locus de toda


experiência.

Tendência do organismo para respostas totais; qualquer alteração em uma


das partes pode produzir modificações em qualquer outra. Ex: fenômenos
fisiológicos de compensação; conflitos interpessoais, insegurança,
estresse e desenvolvimentos de doenças (asma, úlcera, etc).
Bioquímico Fisiológico

Histórico Organismo Psicológico

Social Espiritual

Cultural
O ORGANISMO TEM UMA
TENDÊNCIA E IMPULSOS
BÁSICOS - CONCRETIZAR,
MANTER E APERFEIÇOAR O
ORGANISMO
Tendência de preservar-se (assimilar comida, comportar-se defensivamente
diante de ameaças, autopreservação mesmo que por via não usual) e mover-
se na direção da maturação (diferenciação maior de órgãos e de função,
independência, auto-regulação e autonomia maiores).
O ORGANISMO MOVE-SE, EM
MEIO A LUTAS E DORES, NA
DIREÇÃO DO APERFEIÇOAMENTO
E DO CRESCIMENTO.
(ROGERS, 1951, P.557)
Postulado central da
teoria da personalidade

TENDÊNCIA ATUALIZANTE

O ser humano tem uma tendência intrínseca para desenvolver todas as


suas capacidades a fim de manter ou desenvolver seu organismo.
TENDÊNCIA ATUALIZANTE:

1. Preside todas as funções 4. Capacidade de


do organismo como um compreender-se a si
todo, sejam elas físicas ou mesmo e de fazer 6. Sua potencialização
experienciais; escolhas construtivas na requer condições
vida; interpessoais favoráveis /
2. Objetiva diferenciação e limites e condições do
complexidade constantes; 5. Enquanto potencial é meio; percepções do
inerente ao ser humano, indivíduo.
3. Força motriz do no entanto, ela não é
comportamento humano completa e absoluta;
(motivação);
Individual e universal: expressão única para
cada indivíduo, elemento motivacional de
todos os organismos;
Ubíqua e constante: motiva o funcionamento
CARACTERÍSTICAS do indivíduo em todos os níveis e em todas as
DA TENDÊNCIA DA circunstâncias; atua tanto em condições
favoráveis quanto desfavoráveis. Pode ser
ATUALIZANTE PARA distorcida ou interrompida, mas não destruída;
BRODLEY (1999):
Processo direcional: é um processo seletivo
que objetiva uma diferenciação e
complexidade crescentes visando à
integridade, a manutenção e o
desenvolvimento do indivíduo;
Tendência para a autonomia e não para a
heteronomia: move-se no sentido da auto-
regulação organísmica;
CARACTERÍSTICAS Atualização do eu (self): é um subsistema da
DA TENDÊNCIA DA tendência à atualização da pessoa como um
ATUALIZANTE PARA todo;
BRODLEY (1999): Natureza social: dirige-se para o
comportamento social construtivo, dada a
própria condição social do ser humano, mas
sofre influências do contexto sócio-político-
cultural.
A tendência à realização deve ser
entendida a partir de uma
perspectiva fenomenológica, ou
seja, “o que ela procura atingir é

OBSERVAÇÃO aquilo que o sujeito percebe como


valorizador ou enriquecedor, não
necessariamente o que é objetiva
ou intrinsecamente enriquecedor”
(ROGERS & KINGET, 1959, p.41)
Uma parte do campo da percepção SELF
total torna-se gradualmente
diferenciada como Self;
É o conjunto organizado, porém
mutável, de percepções que se referem Campo fenomenal
ao próprio indivíduo, reconhecidas
como descritivas de si mesmo
(qualidades, falhas, capacidades,
limitações, valores, recordações, ...); Organismo
Gênese: criança, paulatinamente,
começa a perceber os objetos de seu
ambiente e a ligar significados a esses Self
objetos;
Self ideal = conjunto de características
que o indivíduo gostaria que fossem
suas.
Encontra-se em fluxo contínuo; CARACTERÍSTICAS
DO SELF
É disponível à consciência;
Configuração experiencial composta de
É também abrangido pela percepções referindo-se a:
tendência ao desenvolvimento:
Ao indivíduo;
tendência à atualização ou
realização do self;
Às suas relações com os outros; com o
ambiente; e a vida em geral;
É o elemento regulador,
orientador do comportamento. Assim como aos valores por ele atribuídos a
essas percepções.
SOBRE A FORMAÇÃO DO SELF

Resultante do “A rede de pensamentos,


Valores
processo de sentimentos, opiniões, Como o self está ligado a
conceitos, valores; a valores, muito deles não são
socialização conexão biológica entre experienciados de forma
as pessoas influenciam a direta, mas introjetados dos
Valores, concepções e outros, principalmente de
maneira como uma
ideologias aprendidas pessoas socialmente
também constituem os
pessoa se expressa”
significativas.
modos de ser e agir no (WOOD, 1995, p. 211).
mundo
A criança, que introjeta valores dos outros, possui posturas e concepções rígidas,
falseia e distorce aquilo que experimenta, o que provoca um conflito entre o
autoconceito (self) e o que ela experiencia.

Dessa forma, atribui a certos comportamentos um valor positivo que, a nível


organísmico, experimenta como negativo ou desagradável.

A pessoa tenta ser o “eu” que as outras pessoas querem que ela seja, em lugar do “eu”
que ela é realmente. Por isso a família e outras relações institucionalizadas em nossa
cultura parecem ser responsáveis por algumas áreas férteis para o desenvolvimento
das “doenças” psicológicas (ROGERS, 1978, p. 197).
PESSOAS SOCIALMENTE
SIGNIFICATIVAS
Se o afeto dispensado por elas é de certa forma condicional, a criança, para manter sua
necessidade básica de apreço e consideração positiva, passa a introjetar os valores dessas
pessoas, incluindo-os em seu autoconceito, mesmo que eles não provenham de suas próprias
experiências organísmicas.
O SELF SELECIONA AS
EXPERIÊNCIAS
Aceita as que lhe convém, rejeita as que acha nocivas,
ignora as que não lhe interessam e distorce as
ameaçadoras.
1. Simbolizadas (possuem alguma
relação com o self);
A MEDIDA QUE
2. Ignoradas (por não ter relação
OCORREM, AS com a estrutura de self);
EXPERIÊNCIAS
PODEM SER: 3. Negadas ou distorcidas (porque
são incoerentes com a estrutura de
self).
RELAÇÃO ENTRE SELF E
ORGANISMO: CONGRUÊNCIA
E INCONGRUÊNCIA
Uma pessoa é congruente quando A incongruência entre o
as experiências simbolizadas que Self e o Organismo faz
constituem o seu self espelham com que os indivíduos se
fielmente as experiências do sintam ameaçados ou
organismo. As experiências ansiosos. Comportam-se
organísmicas são aceitas sem defensivamente e seu
ameaça ou angústia. Se está apto pensamento se torna
a pensar realisticamente. restrito e rígido.
DINÂMICA DA
PERSONALIDADE
Se o Self e a experiência total do Organismo são
relativamente congruentes, a tendência de realização
fica relativamente unificada. Em caso de incongruência,
a tendência geral de realização do Organismo poderá
chocar-se contra o subsistema daquele motivo – a
tendência para realizar o Self. A Pessoa dividida tende
a tensão, se sente pouco a vontade, de mau humor.
DINÂMICA DA PERSONALIDADE

Para proteger a
Nem sempre o intelecto
integridade do Self, Exemplo: trabalhador que é dá conta daquilo que é
as experiências competente mas se experimentado
ameaçadoras não desvaloriza ou até mesmo diretamente pelo
são simbolizadas, tem um baixo desempenho indivíduo. Essas
ou então são para justificar essa experiências encontram-
desvalorização.
simbolizadas de se no nível do pré-
modo distorcido. reflexivo, do vivido.
O modo como o indivíduo se comporta
depende do campo fenomenal (realidade
subjetiva) e não das condições de estimulação
(realidade externa);

“A consciência é a simbolização de algumas de


nossas experiências” (Rogers, 1959, p.198).

Assim, o Campo Fenomenal em um dado


momento é constituído a partir de
COMPORTAMENTO experiências conscientes (simbolizadas) e
E EXPERIÊNCIA inconscientes (não simbolizadas);

O organismo pode, entretanto, discriminar e


reagir a uma experiência que não esteja
simbolizada (subcepção).

TA = fator dinâmico, motivacional


Self - fator regulador, orientador

Geralmente, comportamo-nos de forma


congruente com o self
Capacidade do indivíduo de discriminar entre
estímulos ameaçadores e de reagir de acordo
com isso, mesmo que não seja capaz de
reconhecer conscientemente os estímulos a
SUBCEPÇÃO que está reagindo.

Segundo Rogers o objeto ou Pode produzir reações viscerais, como


situação da ameaça pode ser palpitações experimentadas conscientemente,
percebido inconscientemente, ou como sensações de ansiedade, sem que a
pessoa saiba identificar a causa do distúrbio.
subceptado (registro organísmico
prévio à simbolização). Ansiedade: tensão pelo conceito organizado
do self quando “subcepções” indicam que a
simbolização de certas experiências seria
destrutiva para a sua organização.
MAIOR PARTE DOS
COMPORTAMENTOS ESTRUTURA DE SELF
ADOTADOS

NECESSIDADES NÃO
COMPORTAMENTO
SIMBOLIZADAS PELA
QUE A PESSOA NÃO
INCOERÊNCIA COM A
ASSUME COMO SEUS
ESTRUTURA DE SELF
Alto grau de incongruência entre o self e a
experiência;

2. DESORGANIZAÇÃO
DA PERSONALIDADE Experiências não são organizadas na estrutura
do self;
Ou desajuste psicológico,
comportamento neurótico
Comportamento do indivíduo torna-se confuso
e dividido, vive-se uma tensão psicológica
básica ou potencial;
EXPERIÊNCIA INCOERENTE COM A ORGANIZAÇÃO DO SELF

ESTRUTURA DO SELF
RIGIDEZ
AMEAÇA SE ORGANIZA PARA
PERCEPTIVA
SE PRESERVAR.
RIGIDEZ PERCEPTUAL
Necessidade de deformar certos dados da
experiência;
Simbolização incorreta ou discriminação
perceptual insuficiente.
LIBERDADE
EXPERIENCIAL
Condição em que a pessoa se sente livre
para reconhecer e elaborar suas
experiências e sentimentos pessoais sem
que se sinta obrigada a negar ou deformar
suas opiniões ou atitudes intimas para
manter a afeição e o respeito de pessoas
socialmente significativa para ela.
Condição para o funcionamento autêntico
da personalidade. Abertura à experiência.
Como integrar harmoniosamente Self e
experiência organísmica?

Self: flexível, aberto, aceita e simboliza


experiências antes negadas ou distorcidas.
3. REORGANIZAÇÃO
DA PERSONALIDADE
Promover redução da tensão interna;
integração; aberta; sensação de autonomia;
confiança; espontaneidade; consideração de si
e do outro.

Não mudança duradoura no comportamento


sem mudança no self (relação self real x self
ideal)
“Sob determinadas condições que incluem, fundamentalmente, a ausência da ameaça
à estrutura pessoal, as experiências que estejam em desacordo com ela podem ser
percebidas e examinadas, e a estrutura do Self revista para assimilar e incluir tais
experiências” (Rogers, 1951, p. 587)

EXPANSÃO DO SELF
SEGURANÇA NA EXPLORAÇÃO
DA EXPERIÊNCIA E DO CAMPO
FENOMENOLÓGICO
ACEITAÇÃO
“À medida que a pessoa percebe e aceita em
sua estrutura de Self uma maior parcela de
suas experiências organísmicas, verifica que
está substituindo seu sistema atual de valores
– baseado amplamente em introjeções, que
foram deformadamente simbolizadas – por
um processo contínuo de avaliação”
(ROGERS, 1951, p. 593)
UMA DISCUSSÃO ATUAL
SOBRE A ACP BRASILEIRA
“Quando um ser humano pretende imitar outro já não é ele mesmo.
Assim também a imitação servil de outras culturas gera uma sociedade
alienada ou uma sociedade objeto. Quanto mais alguém quer ser outro,
tanto menos é ele mesmo (...) É necessário partir de nossas
possibilidades para sermos nós mesmos. O erro não está na imitação,
mas na passividade com que se recebe a imitação, ou falta de análise
ou autocrítica” (FREIRE, 1983 apud MOREIRA, 2007, p.59)

Você também pode gostar