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A realidade fenomenológica
O autoconceito
Consideração positiva
Com
o já estudamos, o autoconceito (ou eu percebido) é um conjunto organizado
de características que o indivíduo percebe como particularmente suas, ou seja,
características que o definem. Esse sistema se desenvolve a partir do contato
com outras pessoas, especialmente aquelas que são significativas para nós
como pais, irmãos, amigos, professores. Isso indica que muito do que
acreditamos a nosso respeito, nossa autoimagem, está baseada nas
avaliações que os outros fazem sobre nós, ou seja, passamos a nos avaliar em
termos do que os outros pensam e não do que realmente sentimos.
A razão pela qual confiamos tanto nas avaliações dos outros, segundo Rogers,
é porque desenvolvemos uma forte necessidade por consideração positiva.
Não se sabe se essa necessidade é inata ou se a aprendemos, mas Rogers
entende que mais importante do que descobrir a origem dessa necessidade é
entender seu enorme impacto sobre o indivíduo; todos desenvolvemos muito
cedo uma grande necessidade de amor, aceitação e entendimento.
Infelizmente, muitas vezes aprendemos que só seremos dignos de receber
essa consideração positiva se nos subordinarmos aos valores, opiniões e
crenças das pessoas que são significativas para nós, evitando que sejamos
autênticos.
Como resultado, essa vontade de agradar aos outros como forma de garantir
afetos pode se tornar mais importante do que a disposição de observarmos
nossos próprios sentimentos e percepções, nossa bússola interna (que já
estudamos anteriormente nesse material).
Condições de valor
Atitudes como a citada acima indicam que o autoconceito do indivíduo está
carregado de condições de valor, ou seja, a pessoa considera que certas
experiências e comportamentos são aceitáveis apenas quando estão em
sintonia com a aprovação dos outros, particularmente daqueles que
estimamos. Condições de valor, portanto, são as condições (provenientes das
avaliações das outras pessoas) às quais nos submetemos para obter amor,
aceitação e/ou aprovação, mesmo que isso signifique abrir mão do que
realmente desejamos ou pensamos.
Rogers entende que algumas condições são necessárias para que o sucesso
da terapia possa ocorrer. Primeiramente, o terapeuta deve
apresentar congruência, ou seja, autenticidade, deve ser ele mesmo.
Segundo, ele deve ter uma postura de aceitação incondicional em relação ao
cliente. Terceiro, precisa estar disposto a ouvi-lo com empatia, sem
prejulgamentos.
Embora as três condições sejam necessárias, Rogers afirma que a
congruência é a mais importante e básica para o processo terapêutico, pois
congruência é uma qualidade geral pertencente ao terapeuta, ou seja, a
congruência é uma disposição do terapeuta em relação a si mesmo, já a
aceitação incondicional e a empatia são sentimentos e atitudes que o terapeuta
terá por cada cliente em específico.
Congruência
A primeira condição necessária para o sucesso do processo terapêutico é que
o profissional seja congruente. A congruência existe quando alguém está em
contato com o eu organísmico, o eu real. Ser congruente significa ser
verdadeiro, genuíno, inteiro; ser o que realmente é. O terapeuta congruente
tem a habilidade e o desejo de expressar abertamente seus sentimentos.
Rogers percebeu muito cedo em sua prática terapêutica que, em longo prazo,
não era útil fingir ser aquilo que ele não era. Um terapeuta congruente não é
apenas uma pessoa boa e amigável, mas um ser humano completo que sente
alegria, raiva, frustração, confusão etc. Quando esses sentimentos são vividos,
não são negados nem distorcidos, mas reconhecidos e expressos. O
profissional congruente, portanto, não é passivo, distante nem “não diretivo”.
Em algumas obras, a terapia centrada no cliente ainda é tratada como não
diretiva, mas o fato é que a terapia movimenta-se em uma clara direção, a de
garantir que o cliente entre em contato com seu eu organísmico para que a
mudança terapêutica ocorra, e o terapeuta dirige o processe nesse sentido ao
promover o clima psicológico necessário.
O profissional congruente não é estático. Como a maioria das outras pessoas,
ele está constantemente exposto a novas experiências, mas ao contrário
dessas pessoas, ele recebe tais experiências de maneira consciente, sem
negá-las ou distorcê-las, o que contribui para o seu crescimento psicológico.
Ele não usa máscaras, nem sustenta uma fachada falsamente agradável, e
evita fingir afeição ou amizade quando esses sentimentos não são realmente
sentidos. Da mesma forma, ele não finge raiva, dureza ou ignorância, nem
encobre sentimentos de alegria, euforia ou felicidade. O terapeuta congruente é
capaz de lidar com seus sentimentos de maneira consciente e expressá-los
com honestidade.
Rogers afirma que o terapeuta será mais eficiente se ele comunicar
sentimentos genuínos, mesmo que eles sejam negativos ou ameaçadores. Agir
de outra maneira seria desonesto com os clientes, e eles o perceberiam,
mesmo que de forma não consciente. De toda forma, Rogers entende que
existem diferentes níveis de congruência, ou seja, o terapeuta não precisa ser
absolutamente congruente para facilitar a mudança terapêutica do cliente. Não
é necessário ser perfeito para que alguém seja um terapeuta eficiente.
Aceitação incondicional
Seg
undo Rogers, o terapeuta deve aceitar o cliente como é, sem possessividade,
sem julgamentos e sem reservas. Aceitar sem possessividade significa
importar-se com o outro sem sufocá-lo ou apropriar-se dele; significa importar-
se e permitir que o outro seja autônomo e independente, entendendo-o como
um indivíduo separado que tem direito aos próprios sentimentos e opiniões em
relação ao que é certo e errado. O fato de importar-se com o cliente, não
significa que cabe ao terapeuta guiá-lo em suas escolhas, mas que ele lhe
permite ser como é e decidir o que considera melhor. Como vimos, esse tipo de
atitude permissiva rendeu a Rogers o qualificativo de terapeuta passivo e não
diretivo, mas na terapia centrada no cliente o terapeuta deve estar ativamente
envolvido com o cliente.
A aceitação incondicional quer dizer que o terapeuta preza e aceita seus
clientes sem restrições ou reservas quanto a seus comportamentos. Embora o
terapeuta possa valorizar mais alguns clientes do que outros, sua aceitação
incondicional permanece constante e inabalável. A aceitação incondicional
também indica que o terapeuta não julga seus clientes, nem aceita uma ação e
rejeita outra. As avaliações externas (das outras pessoas), sejam positivas ou
negativas, levam os clientes a comportamentos defensivos e atrapalham seu
crescimento psicológico.
Empatia