Você está na página 1de 152

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------------------------09

1- ASPECTOS TEÓRICOS-METODOLÓGICOS DA PESQUISA-----------------------------11

1.1- Tema--------------------------------------------------------------------------------------------------11

1.2- Objeto de Investigação-----------------------------------------------------------------------------11

1.3- Problemática-----------------------------------------------------------------------------------------11

1.4- Objetivos---------------------------------------------------------------------------------------------17

1.4.1- Objetivo Geral------------------------------------------------------------------------------------17

1.4.2- Objetivos Específicos----------------------------------------------------------------------------17

1.5- Justificativa------------------------------------------------------------------------------------------18

1.6- Hipóteses---------------------------------------------------------------------------------------------19

1.7- Referencial Teórico---------------------------------------------------------------------------------20

1.7.1- Uma Abordagem Dita Humanista--------------------------------------------------------------20

1.7.2- Estrutura da Personalidade----------------------------------------------------------------------21

1.7.3- Tendência Atualizante ou Regenerativa Formativa------------------------------------------25

1.7.4- Estrutura do Self----------------------------------------------------------------------------------28

1.7.5- O Facilitador e Seu Jeito de Ser----------------------------------------------------------------31

1.7.6- Grupos de Encontro------------------------------------------------------------------------------39

1.7.7- Entendimento Psicopatológico-----------------------------------------------------------------46

1.8- Procedimentos Metodológicos-------------------------------------------------------------------48

2- EXPOSIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS---------------------------------------------------------51

2.1- Descrição Dialogada dos Encontros do Grupo de DA----------------------------------------51

2.1.1- 1º Encontro---------------------------------------------------------------------------------------52

2.1.2- 2º Encontro----------------------------------------------------------------------------------------58
7
2.1.3- 3o Encontro----------------------------------------------------------------------------------------62

2.1.4- 4º Encontro----------------------------------------------------------------------------------------70

2.1.5- 5o Encontro----------------------------------------------------------------------------------------76

2.1.6- 6º Encontro----------------------------------------------------------------------------------------85

2.2- Subdivisões das Fases do Processo de Grupo---------------------------------------------------92

2.2.1- Fase de Hesitação, de Andar em Volta--------------------------------------------------------92

2.2.2- Resistência à Expressão ou Exploração Pessoal---------------------------------------------92

2.2.3- Descrição de Sentimentos Passados-----------------------------------------------------------92

2.2.4- Expressão de Sentimentos Negativos----------------------------------------------------------92

2.2.5-Expressão e Exploração de Material com Significado Pessoal-----------------------------92

2.2.6- Expressão de Sentimentos Interpessoais Imediatos no Grupo------------------------------93

2.2.7- Desenvolvimento de uma Capacidade Terapêutica------------------------------------------93

2.2.8- Aceitação do “Eu” e Começo da Mudança---------------------------------------------------93

2.2.9- O Estalar das Fachadas--------------------------------------------------------------------------93

2.2.10- O Indivíduo é Objeto de Reação (Feedback) por Parte dos Outros----------------------93

2.2.11- Confrontação------------------------------------------------------------------------------------93

2.2.12- Relações de Ajuda Fora das Sessões de Grupo---------------------------------------------94

2.2.13- O Encontro Básico------------------------------------------------------------------------------94

2.2.14- Expressão de Sentimentos Positivos e Intimidade------------------------------------------94

2.2.15- Mudança de Comportamento no Grupo------------------------------------------------------94

2.3- Identificação das Fases nos Encontros do Grupo de DA-------------------------------------95

2.3.1- Manifestações do Grupo, Referente à Primeira Fase---------------------------------------95

2.3.2- Manifestações do Grupo, Referente à Segunda Fase---------------------------------------98

2.3.3- Manifestações do Grupo, Referente à Terceira Fase--------------------------------------105

2.3.4- Manifestações do Grupo, Referente à Quarta Fase-----------------------------------------116


8
2.3.5- Manifestações do Grupo, Referente à Quinta Fase-----------------------------------------116

2.3.6- Manifestações do Grupo, Referente à Sexta Fase------------------------------------------131

2.3.7- Manifestações do Grupo, Referente à Sétima Fase-----------------------------------------132

2.3.8- Manifestações do Grupo, Referente à Oitava Fase-----------------------------------------137

2.3.9- Manifestações do Grupo, Referente à Nona Fase------------------------------------------137

2.3.10- Manifestações do Grupo, Referente à Décima Fase--------------------------------------138

2.3.11- Manifestações do Grupo, Referente à Décima Primeira Fase---------------------------140

2.3.12- Manifestações do Grupo, Referente a Décima Segundo Fase---------------------------140

2.3.13- Manifestações do Grupo, Referente à Décima Terceira Fase---------------------------141

2.3.14- Manifestações do Grupo, Referente à Décima Quarta Fase----------------------------143

2.3.15- Manifestações do Grupo, Referente à Décima Quinta Fase----------------------------144

2.4- Quadro Síntese: Evolução do Processo Psicoterápico, Frente às Fases dos Encontros148

CONSIDERAÇÕES FINAIS------------------------------------------------------------------------149

REFERENCIAL TEÓRICO--------------------------------------------------------------------------155
9
INTRODUÇÃO

Ampliar é a expressão que funda a possibilidade criada no contexto de um grupo.

Os grupos denominados DA (Depressivos Anônimos) possibilitaram esta criação

natural dos movimentos individuais. Parecendo que a filosofia e postura que imprimem

liberdade acabavam por permear o âmago e anseio de desejos personalizados. Para tanto, foi

necessário apenas acreditar que todas as pessoas são livres em seus jeitos de ser.

Para a pesquisa e a cientificidade, fez-se necessário o burocrático e o empírico e para

isto constitui este trabalho. Este trabalho se fundamentou em uma análise de todo o processo

ocorrido no decorrer da existência do grupo experimental denominado DA.

Como o enfoque Humanista utilizado se baseia na concepção da ACP (Abordagem

Centrada na Pessoa), teve-se a crença de que, como comenta Wood (2000), faz-se necessário

um movimento, simplesmente uma abordagem e não a visão determinista de um sistema

psicológico. Porém, utilizando a concepção de Rogers se pode afirmar que a ACP, também é

uma abordagem psicoterapêutica e, assim, inserida dentro da psicologia clínica, apesar de não

ser apenas uma postura psicoterapêutica.

Na concepção deste trabalho, foi encarada a idéia de que DA seria apenas um

pseudônimo utilizado a fim de divulgar a existência de tal grupo. Ou seja, não há concepção

diferenciada do que é um quadro depressivo considerado na psicopatologia ou uma tristeza

indefinida, o que importou no processo de construção deste grupo foi o interesse daqueles que

buscavam o serviço a fim de melhorar a sua dor, não importando qual fosse ela.

Este tipo de grupo foi formado no segundo semestre de 2003. A proposta inicial foi

feita por um aluno do curso de História da Unesc, mas este, logo abandonou o projeto que foi

readaptado pelo professor-orientador Sergio Leonardo Gobbi e implantado na clínica de


10
psicologia. O grupo foi divulgado através de entrevistas realizadas com este professor-

orientador, via rádio e televisão.

Os encontros de grupo tiveram como facilitadores o criador do grupo e sua

estagiária, que cumpria o estágio curricular em Psicologia Clínica. Foram formados dois

grupos e apenas um teve as sessões gravadas (com o consentimento dos participantes) e

transcritas, com a finalidade de obter um estudo empírico, aprofundado nas etapas do

processo grupal, da ACP de Rogers. Conforme os resultados fossem apresentados de forma

progressiva, quanto ao desenvolvimento do grupo, a proposta da implantação definitiva do

grupo seria feita. Como o leitor, poderá observar, os resultados apresentados foram positivos,

passando assim para o próximo passo que será propor a coordenação dos estágios clínicos

uma continuação aos encontros de DA.

Para implantação definitiva dos grupos de DA, seria necessário que se fizesse um

estudo empírico, comprovando a evolução do processo grupal através da análise dos

participantes em seus movimentos centrados na individualidade e como parte do todo,

suscetíveis a ocorrências de mudanças internas, que quando sentidas e externalizadas

alterassem o movimento do grupo, levando-o a um funcionamento mais complexo e

organizado, onde todos os membros se harmonizassem e organizassem.

Para tal, o presente trabalho mostrará a construção gradativa desta pesquisa

curricular, realizada no primeiro semestre de 2004.


11
1- ASPECTOS TEÓRICOS-METODOLÓGICOS DA PESQUISA

1.1- Tema

As fases do processo psicoterápico de grupo, segundo a Abordagem Centrada na

Pessoa (ACP) de Carl Rogers, nos relatos dos encontros do grupo de DA (Depressivos

Anônimos).

1.2- Objeto de Investigação

Fases do processo psicoterápico de grupo, segundo a ACP de Carl Rogers, nos

relatos dos encontros do grupo de DA.

1.3- Problemática

A Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) de Carl Rogers, apresenta um estudo onde

ocorre as etapas pelas quais passa um grupo psicoterápico, os relatos desses grupos citados

por Rogers (2002), são de pequenos grupos e grupos domiciliares, todos limitados em espaço

e período, sem descrição de encontros prolongados em semanas intercaladas e em período de

meses.

É neste contexto que observamos ao final de seu processo evolutivo (final este,

levado em considerações a vida de Carl Rogers e não a própria abordagem) que a ACP é uma

nomenclatura que tem uma abertura a atuação do psicólogo no campo educação, facilitação de

grupo e psicoterapia clínica. Segundo Boianain (1998), Rogers despertou maior interesse em

aprofundar seus estudos de grupos na década de 70, quando a terapia não diretiva estava
12
firmada e mais fundamentada, encontrando-se em sua terceira fase e com a nomenclatura de

Abordagem Centrada na Pessoa.

A ACP de Rogers passou por diversas nomenclaturas até chegar em Abordagem

Centrada na Pessoa, porém, sua evolução histórica, passou por três fases: a fase da Terapia

não-diretiva, fase da Terapia Centrada no Cliente e fase da Terapia Experiencial, até chegar

na abordagem centrada na pessoa, estas afirmações são encontradas em Rogers (1997), Gobbi

e Missel (1998) e Boianain (1998). Estes autores identificam a ACP como a primeira

psicoterapia que usa o termo cliente e o direciona a não passividade no seu processo

psicoterápico, permitindo que ele dê sentido e direcione a terapia.

O que entendo por abordagem centrada na pessoa? Este é o tema principal


de toda a minha vida profissional, foi adquirindo contornos mais claros a
partir da experiência, da interação com outras pessoas e da pesquisa. Sorrio
quando penso nos diversos rótulos que dei a esse tema no decorrer de minha
carreira – aconselhamento não-diretivo, terapia centrada no cliente, ensino
centrado no aluno, liderança centrada no grupo. Como os campos de
aplicação cresceram em número e variedade, o rótulo “abordagem centrada
na pessoa” parece ser o mais adequado. (ROGERS, 1983, pag. 38)

A primeira fase, Terapia Não-Diretiva, aconteceu historicamente na década de 30,

onde Rogers iniciou sua prática numa abordagem psicanalítica no uso de diagnostico e

aconselhamento. Após algumas vivências, Rogers passa a se interessar por um processo

terapêutico a partir de uma escuta compreensiva e empática, na qual o cliente direciona a

terapia. Boianain (1998) confirma que a abordagem não diretiva passou a ser exposta com a

publicação do livro de Carl Rogers em 1942, “Aconselhamento e Psicoterapia”, que tratava

das atitudes do terapeuta.

A segunda fase chamada de Terapia Centrada no cliente, é desenvolvida a partir das

décadas de 40 e 50, este período é referido como o mais importante e construtivo na

abordagem, quando Rogers juntamente com seus colaboradores passam a criar, uma estrutura

para a base teórica que já vinha sendo formulada. Conforme Boianain (1998), nesta fase, são
13
destacadas três atitudes que fazem do terapeuta um facilitador: compreensão empática, a

congruência e a consideração positiva incondicional. Foi publicado nesta época o livro

“Terapia Centrada no Cliente”, por Carl Rogers em 1951, ainda nesta fase, houve uma

abertura para o campo da psicoterapia de grupo, educação, ludoterapia, treinamento de

conselheiros e liderança participativa.

Gobbi e Missel (1998), afirma que a terceira fase teve início na década de 50 e 60,

quando Rogers se aproxima do existencialismo-fenomenológico e passa a usar o termo

fenomenologia psicológica, estudando o comportamento dentro da subjetividade, evitando a

compreensão na análise de causa e efeito.

Carmo (1974), em seus estudos, percebe Rogers introduz Russerl como precursor

dos conceitos fundamentais da ACP, com a descrição do homem como um ser consciente,

onde a intencionalidade da consciência é fundamental; a relação sujeito e objeto, pensamento

e ação são inseparáveis, essa ligação é o estudo do mundo e a consciência que não poderiam

ser compreensíveis separadamente; não há a existência de subjetividade pura e nem de

objetividade pura; as manifestações conscientes antes de alcançarem uma reflexão ou juízo de

valores são intuitivamente percebidos, entendidos então como fenômenos.

Mendes (2000), denomina a falta de compreensão da realidade como conceitos de

realidade pré-concebidos, quando existe uma redução fenomenológica e o indivíduo apresenta

esta pré-concepção da realidade o impedindo de perceber o real fenômeno. O existencialismo-

fenomenológico entende o homem como inteiramente responsável por seus entendimentos,

por si e seus atos, sua existência precede sua essência o indivíduo não é passivo a realidade é

um ser totalmente responsável. A abordagem rogeriana é classificada por Gilles (1989), como

confiante no indivíduo, pois o entende capaz de optar a favor ou contra sua existência, aceitar-

se para além ou com suas contradições, para isto, coloca sua história individual à frente da
14
“História”, compreendendo-se através de sua criatividade e não só de valores históricos e

empíricos.

Mas a fenomenologia também é uma filosofia que recoloca as essências nas


existências e não pensa que seja possível compreender o homem e o mundo
de outra forma que não seja a partir de sua factilidade. É uma filosofia
transcendental, que põem em suspenso para compreender a afirmação da
atitude natural, mas é ainda uma filosofia para qual o mundo está sempre aí,
antes da reflexão como uma presença inalienável... (MERLEAU-PONTY, in
GOBBI e MISSEL 1998, pag. 73)

Então, para esta terceira fase, Rogers pensou em um terapeuta mais humano, que

não atuasse dentro dos padrões resposta-reflexo, centrava-se nas dificuldades envolvidas na

relação, evitando tomar a iniciativa verbal, o foco do facilitador era na relação cliente-

terapeuta. Em 1961,Rogers publica o livro “Tornar-se pessoa” e se torna uma figura

destacável na Terceira Força da psicologia.

Foi no final da década de 60 que Rogers começou a voltar seus estudos para os

grupos e tê-los como enfoque e muda a nomenclatura de sua prática para Abordagem

Centrada na Pessoa. Nesta época Rogers contribui para a formação de pequenos grupos não-

diretivos, em seguida passa a realizar encontros com grandes grupos, conhecidos como

workshops, sempre com o mesmo foco, entendido por Boianain (1998), como a

descentralização da liderança onde cada participante exerce seu poder pessoal junto com os

demais participantes e se organizarem enquanto grupo.

Rogers (2002) inicia um estudo aprofundado nos grupos, por acreditar na

necessidade de haver mais estudo empírico e organizado dos grupos, já que até a época eram

encontradas poucas pesquisas de grupos psicoterápicos. Então, através de seus estudos

empíricos, Rogers passa a perceber e classificar algumas características similares presentes

nos grupos que realizava. Em 1970, publica o livro “Grupos de Encontro”, onde apresenta
15
características dos grupos e nomeia algumas etapas percebidas por ele e sua equipe nos

grupos de encontro.

Entende-se que houve uma época em que as grandes indagações que se faziam eram

a respeito do indivíduo, todo o enfoque do estudo da psicologia estava centrado na

individualidade.Com o passar dos tempos, foi se ampliando o universo do conhecimento da

psicologia, já não bastava estudar somente o comportamento individual, dentro de uma

dinâmica interna, restrita a estrutura da personalidade do indivíduo e sim compreendê-lo nas

suas relações com o mundo exterior, quando em contato com novas pessoas e realidades

subjetivas.

Segundo Campos (2003), os grupos de encontro se originaram em 1946 com um

programa de treinamento para líderes comunitários em Connecticut, EUA. Nesses encontros,

os observadores e treinadores perceberam que os participantes intensificavam seus vínculos a

partir dos feedbacks recebidos e dados uns aos outros.

Rogers (2002), identifica Kurt Lewin e sua equipe do Massachussets Institute of

Tecnology, desenvolvedores da idéia de treino das capacidades em relações humanas em

1947, um importante tipo de estudo esquecido na sociedade moderna. Em 1947, foi realizado

o primeiro T-group (training-group: grupos de treino) pouco depois da morte de Lewin.

Conforme Campos (2003), alguns dos treinadores do grupo de Connecticut

fundaram os “National Training Laboratories”, que inicialmente voltaram seus planejamentos

para as indústrias, por motivos de suporte financeiro. Os participantes dos T-group,

favoreceram-se de uma compreensão mais clara a respeito de seu próprio funcionamento e

tendo uma mudança significativa de personalidade.

Simultaneamente a este movimento, Carl Rogers e seus colaboradores,

desenvolveram grupos de treinamento para conselheiros pessoais à administração de

veteranos de guerra, tinham como objetivo preparar conselheiros para tratarem dos
16
regressores da guerra. A equipe percebeu a eficácia dos grupos intensivos, realizados com

estes conselheiros de guerra, onde eles tinham uma maior percepção de si mesmos e, a partir

disto, desenvolviam um clima psicológico seguro para facilitar o auxílio a estes regressores.

Assim, como a ACP de Rogers desenvolveu como idéia básica, estimular a

capacidade do indivíduo de crescer e se desenvolver harmoniosamente consigo mesmo e com

seu ambiente, também se tornou necessário perceber como acontece esta mudança individual,

facilitadas nas relações grupais, a evolução da relação, quais as características apresentadas

pelas pessoas na fase de caos, até aceitarem o grupo como um organismo complexo,

organizando-se e crescendo através da relação interpessoal.

Rogers (1983) descreve o seu interesse em estudar grupos, também, por perceber que

os indivíduos de algumas sociedades ocidentais, não se organizam a fim de compreender que

existem interesses individuais, elas se percebem como um único, ou seja, a comunidade

ignora a existência de organismos menores, os indivíduos, que formam o todo e apresentam

interesses individuais, que necessitam ser centrados nas pessoas. Seu foco é em facilitar

grupos que coloquem a autonomia individual em primeiro plano e a partir daí atualize o

sistema funcional deste, cada vez mais complexo, atendendo o interesse individual de todos e

de forma organizada. Para explicitar o motivo da busca deste interesse Rogers faz um paralelo

entre os meios de interesse (individual e social) das sociedades, de forma que justifica o foco

na pessoa:
17
Nas comunidades dos índios americanos, encontramos padrões baseados em
ritos e filosofias das quais podemos tirar proveito. As primeiras
comunidades da civilização formam-se em torno de rios e portos e o
comércio mantinha unido seus habitantes.[...] O bem estar do organismo
total, do estado ou da nação é supremo. Autonomia individual torna-se
secundária, e cada pessoa é ajudada a se perceber somente como uma célula
de uma grande estrutura orgânica.
Na cultura ocidental, entretanto, há uma evidencia diferente, uma ênfase na
importância do indivíduo. A filosofia da democracia, dos direitos humanos,
os direitos a autodeterminação são os aspectos enfatizados. A partir desse
terreno, desenvolveu-se uma filosofia de vida específica - a abordagem
centrada na pessoa [...]. (ROGERS, 1983, pág. 54)

Quando faz este paralelo, Rogers (1983), não mostra interesse em fazer uma análise

mais sucinta da formação destas sociedades, seu interesse é apenas refletir sociedades que tem

uma formação centrada na pessoa.

1.4- Objetivos

1.4.1- Objetivo Geral

Compreender as fases do processo psicoterápico de grupo, segundo a ACP de Carl

Rogers, a partir de relatos dos encontros de grupo de DA (Depressivos Anônimos).

1.4.2- Objetivos Específicos

I- Categorizar as fases do processo psicoterápico de grupo que Rogers e seus

colaboradores perceberam em suas análises de grupo em sub-categorias, para que estas

possibilitem uma análise empírica mais detalhada destas etapas.

II- Observar a presença das fases e respectivas características que Rogers e seus

colaboradores perceberam no processo de psicoterapia de grupo da ACP, nos encontros do

grupo de DA.
18
III- Verificar quais as interferências são causadas no processo de grupo dos DA com

a entrada de novos membros no decorrer dos encontros.

IV- Apresentar proposta de continuidade dos grupos de DA à clínica de Psicologia

da Unesc, caso os resultados finais sejam favoráveis quanto ao processo de desenvolvimento

do grupo.

1.5- Justificativa

A escolha deste tema e as propostas de pesquisa têm como justificativa o interesse

da estagiária em aprofundar seus conhecimentos na Abordagem Centrada na Pessoa, linha de

atuação escolhida para cumprir seu estágio curricular em Psicologia Clínica e também

utilizada em sua atuação como facilitadora juntamente com seu professor-orientador nos

grupos de DA, durante este estágio.

As análises descritas por Carl Rogers nos relatos de pequenos grupos e grupos

domiciliares são limitados em espaço e período, não há nenhuma descrição de grupos que

tenham tido encontros semanais e fossem prolongados por várias semanas consecutivas e com

abertura para novos membros no decorrer destes encontros. Daí o interesse em realizar tal

pesquisa, obtendo dados e observando este processo de grupo.

É visto que na Abordagem Centrada na Pessoa o uso de diagnóstico é evitado, o foco

é a pessoa e os seus estados psíquicos, a preocupação não é em resolver um problema

particular e sim ajudar o indivíduo a se desenvolver para poder enfrentar seus problemas.

Porém, foi usado o título de “Depressivos Anônimos” para formar grupos de encontros

facilitados por uma estagiária e um psicólogo que usaram como linha de psicoterapia a

Abordagem Centrada na Pessoa, a intenção deste título, foi o de reunir pessoas que tivessem,
19
aparentemente a mesma queixa e pudessem expressar sentimentos similares, focando, assim,

um assunto de interesse comum a todos.

A escolha deste perfil foi devido a grande procura do público que apresentava

queixas com sintomas de depressão, denominação dada a pessoas que, segundo Jaspers (2000)

e Dalgalarrondo (2000), apresentam uma tristeza patológica, uma queda de humor.

A pesquisa aqui desenvolvida, não visa uma análise dos participantes enquanto

quadro psicopatológico da depressão, mas sim, uma análise dos participantes no processo

grupal da ACP de Rogers, onde a mudança de comportamento e a maior percepção de si,

fazem parte das etapas da psicoterapia de grupo, Rogers (2002).

1.6- Hipóteses

I- As características descritas por Rogers e seus colaboradores, observadas em seus

grupos de encontro, também são percebidas no relato do grupo de DA.

II- As fases do grupo de DA, percebidas no relato dos encontros e analisadas através

da classificação do processo evolutivo identificados por Rogers e seus colaboradores,

correspondem a praticamente todas as fases com exceção da fase 4 que corresponde a

“expressão de sentimentos negativos”.

III- Quando há a admissão de novos membros no grupo de DA, o processo evolutivo

sofre uma regressão, voltando a fases menos complexas, que exigem menor intimidade com o

que diz respeito a expressões de sentimentos pessoais.


20
1.7- Referencial Teórica

1.7.1- Uma Abordagem Dita Humanista

O trabalho de conclusão de curso foi desenvolvido dentro do humanismo com

enfoque na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) de Carl Rogers.

Rogers é o precursor da ACP, tem como base de estudos a fenomenologia-

existencial, porém não considera seus estudos como filosofia, mas sim, como uma abordagem

que acredita na potencialidade individual dos organismos, respeitando-os em uma atitude não-

diretiva, motivando-os em suas potencialidades através de um clima facilitador para a

evolução destes.

Viana (1996), entende Rogers como interessado em descobrir as condições e os

processos que interferem na modificação da personalidade, enquanto outras abordagens

“buscaram descobrir os aspectos constantes, em termos de temperamento e estrutura da

personalidade. (VIANA, 1996, pag 12)”

Para tanto, é necessário citar Carmo (1974), quando se refere a teoria de Rogers,

como de caráter fenomenológico, baseada nos conceitos de Husserl, que acreditava que a

essência do ser jamais esgotaria, independente da intencionalidade da consciência. A

consciência do ser so teria uma experiênciação, através do contato com outras consciências,

sendo assim, a ACP, tornou-se uma teoria baseada no conceito de si mesmo como construtor

explicativo do que foi vivenciado, livre de interpretações ou pressuposições.

Para Campos (2003) a ACP é uma escola teórico-prática flexível, com

reformulações conceituais que ampliam o campo de interesse e atuação do psicoterapeuta, não

dogmática e com grande desenvolvimento dinâmico.


21
1.7.2- Estrutura da Personalidade

Para atender a uma abordagem não-diretiva e com confiança no organismo, Carl

Rogers e seus colaboradores entenderam a estrutura da personalidade partindo do pressuposto

de que as pessoas usam suas experiências para se definirem, estabelecem uma estrutura

através da qual as pessoas podem construir e modificar suas opiniões a respeito de si mesmas

através de seu próprio campo perceptual.

Leitão (1986), afirma que as pessoas são capazes de autodesenvolverem-se, sempre

em direção a uma melhora, cada um com sua capacidade própria, estas são inerentes a cada

indivíduo.

A Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) apresenta um diferencial significativo

quando comparada a outras escolas que enfocam as relações sociais e estímulos do meio, de

forma generalizada, como fatores de influências determinantes no ser e, também, tratam a

personalidade como manipulada e controlada pelo estímulo do meio. Esta abordagem capacita

o ser humano com a visão de ser responsável, independente, determinado, apto a aprender e

solucionar seus problemas e, livre à escolha.

Nenhuma abordagem que se baseia no conhecimento, no treinamento, na


aceitação de algo que é ensinado, se mostra útil. Estas abordagens parecem
tão tentadoras e diretas que, no passado, fiz uso de muitas delas. É possível
explicar uma pessoa a si mesma, prescrever passos que devem conduzi-la para
frente, treiná-la em conhecimentos sobre um modo de vida mais satisfatório.
Porém tais métodos se mostram, em minhas experiências, fúteis e
inconseqüentes. O máximo que podem alcançar é alguma mudança
temporária, que logo desaparece, deixando o indivíduo mais do que nunca
convencido de sua inadequação. (ROGERS, 2001, pag.37)

A ACP acredita que todos os organismos vivos sejam eles, plantas, animais ou seres

humanos, tendem a estar em transformação contínua, vivenciando experiências e

modificando-se, sempre em função de um movimento que tende a uma maior complexidade


22
do dinamismo funcional do organismo. É uma característica funcional da personalidade dos

indivíduos, perceber o mundo de uma maneira particular e individual e reagir de acordo com

o que é percebido por ele mesmo.

De acordo com Rogers e Kinget (1975), o indivíduo que apresenta um

funcionamento ótimo de sua personalidade, tem suas experiências vividas de forma

totalmente aberta, vivendo no presente e afastando-se de suas defesas permitindo o fluxo de

sua mudança. O funcionamento ótimo da personalidade só ocorre quando as experiências

vividas são entendidas de maneira totalmente integrada a realidade do eu, quando a noção de

eu e realidade, estão em perfeita harmonia com a experiência.

A percepção da realidade acontece no organismo e, conforme Justo (2000), cada

indivíduo percebe o mundo de um ponto de vista particular, cada qual tem sua realidade

particular, “nenhum instrumento científico pode nos proporcionar maior riqueza de

conhecimentos do que a percepção do indivíduo por si mesmo” (JUSTO, 2000, pag. 66).

Cada indivíduo vive num mundo subjetivo e pessoal, reagindo a estímulos de acordo com o

que experiencia ou percebe e não a uma realidade totalmente objetiva.

A psicologia organísmica teve como um de seus maiores pensadores Kurt Goldstein,

é entendida por Coppe (2001) como a teoria que mais tem contribuído para a Psicologia,

Psiquiatria e, principalmente para Rogers em sua abordagem não-diretiva. Esta teoria foi

formulada através da observação de soldados da I guerra Mundial com lesões cerebrais e de

estudos sobre distúrbio de linguagem. Para esta teoria, assim como na ACP, o corpo e a mente

são vistos como entidades inseparáveis e que atuam em harmonia para alcançar um

funcionamento ótimo, o que ocorre em uma parte, afeta o todo.

Segundo Gobbi e Missel (1998) o organismo é a totalidade da interação do indivíduo

com o meio, é a organização de ambos, reagindo de acordo com seu campo fenomenológico.
23
Conforme Mendes (2000), não existe a dicotomia entre o psicológico e o biológico

do organismo em relação com o seu meio. O comportamento é entendido como parte da

unidade orgânica, todo fenômeno é percebido no nível psicológico e fisiológico, ocorre como

um todo no contexto do organismo. “O organismo se compõe de membros diferenciados, mas

de tal modo articulados que não podem ser isolados, exceto em situações anormais ou

artificiais, isto é, o organismo é uma só unidade, o que ocorre em uma parte, afeta no todo”

(MENDES, 2000, pag. 12).

Goldstein (1961), tem como conceitos explicativos de sua teoria organísmica o

entendimento de que o organismo ora se expressa como figura, oras como fundo. A figura é a

expressão congruente do organismo quando em destaque, emerge do fundo e deve se manter

unida a ele, enquanto o fundo dá limites à personalidade, ou seja, à figura.

Ainda em Goldstein (1961), é encontrada a classificação de figura natural e não

natural. Natural, quando a relação entre figura e a totalidade do organismo são representadas

de forma ordenada ao comportamento, flexível e adaptada a situação. Não natural, quando

não está de acordo ao organismo, quando o comportamento é rígido, não espontâneo, é uma

reação pensada.

(1)Cuanto más completa sea la forma en que el organismo todo encare un


objeto de mundo externo, tanto más constante será el objeto. Como en la
vida corriente acostumbramos considerar de un modo completo el mundo
externo, los objetos de éste son figuras definidas, y en condiciones normales
no ocurre nunca un cambio de figura y fondo y ni siquiera hay una
incertidumbre entre lo que es figura e lo que es fondo. (GOLDSTEIN, 1961,
pag. 28)

(1) Quanto mais completa for a forma pela qual o organismo todo encare um objeto do mundo externo, muito
mais constante será o objeto. Como na vida cotidiana acostumamos a considerar o mundo externo de um modo
completo, os objetos deste são figuras definidas, e em condições normais não ocorre nunca uma troca de figura e
fundo, e nem sequer há uma incerteza do que é figura e do que é fundo. (Tradução do pesquisador)
24
Cada organismo é entendido por Justo (2000), como único, cada qual possui sua

percepção a estímulos e reagem a sua forma, não existem organismos iguais, todos são

diferentes um do outro, mesmo que tenham o mesmo ponto de vista objetivo. Nenhum

organismo reage a todo tempo a uma realidade completamente objetiva, os organismos

reagem a seu campo fenomenológico como um todo.

A ACP demonstra claramente a confiança que tem nestes organismos vivos,

integrados e capazes de porem em ação suas potencialidades no sentido do crescimento e do

desenvolvimento, a partir da percepção que têm da realidade.

Justo (2000) diz que a atmosfera que envolve a teoria de Rogers é a confiança nas

potencialidades do indivíduo, nos recursos que o indivíduo tem consigo para solucionar

situações corriqueiras ou não habituais. Essa potencialidade só precisa encontrar um ambiente

favorável para que se mobilize.

O psicoterapeuta, o orientador, [...] somente ajudam a despertar as forças


inerentes à pessoa; somente podem motiva-la a se ajudar a si mesma [...] O
terapeuta parte do princípio de que o consulente de recursos para solucionar o
problema que apresenta. Procura o profissional criar um clima que possibilite
a mobilização desses dinamismos construtivos”. (JUSTO, 2000, pag. 24)

Leitão (1986), acredita que as pessoas, após uma auto-análise, têm suficiente força

para alterar o conceito que fazem de si mesmas, suas atitudes e comportamento, este potencial

de crescimento é natural do ser humano e inerente a ele. O pensamento de Rogers enfoca o

homem como uma totalidade, um organismo que esta sempre em processo de transformação e

integração.

A hipótese central dessa abordagem pode ser brevemente especificada. Quer


dizer que o indivíduo tem, dentro de si, vastos recursos para auto-
compreensão, para alterar seus conceitos sobre si mesmo, suas atitudes e seus
comportamentos autodirigidos – e que esses recursos podem ser liberados
somente se um clima definido de atitudes psicológicas facilitativas puder ser
promovido. (ROGERS,1987, pag. 67)
25
Segundo Gobbi (2002), experiências vivenciadas nos possibilitam a busca de novas

experiências, propiciando-nos a reconstrução de experiências anteriormente vivenciadas,

essas são facilitadoras ou motivadoras conforme a construção do organismo do homem, sendo

o organismo uma parte integradora da personalidade.

Conforme o ambiente se movimenta, temos uma estruturação alicerçada a


partir de uma face favorável. Assim temos a tendência a nos atualizar
conforme o ambiente favoreça. O funcionamento ótimo da personalidade
é a busca da plenitude do próprio funcionamento do organismo. Se
acreditarmos que o homem se atualiza a partir de uma estruturação
sempre favorável, estaremos sendo utópicos. Isto no sentido de
compreender um homem filosoficamente perfeito. Esta é a constante
busca filosófica da humanidade. (GOBBI, 2002, pag. 30)

Acredita-se que o ser humano tem capacidade para enfrentar seus problemas de

forma construtiva e criativa, buscando o melhor para si e um funcionamento adequado, por

isso todo organismo é digno de confiança e merece que seu ritmo seja respeitado e não

precipitado por outro organismo.

1.7.3- Tendência Atualizante ou Regenerativa e Tendência Formativa

Entende-se que todo organismo tende a complexidade, e quanto mais complexo

maior sua organização funcional. E essa tendência à complexidade é impulsionada por uma

necessidade à realização’é o que torna o organismo confiante. Os organismos estão em

constante criação e deterioração. Não esquecendo, que todo organismo é sujeito a falhas na

sua organização funcional, daí, a importância da tendência à atualização, que é a

potencialidade do organismo que o regula, atualiza ou o regenera para se adaptar a um

ambiente em contínua mudança, Gobbi (2002).

Para Rogers (1983), existem duas tendências que constituem a pedra fundamental da

ACP, a atualizante e a regenerativa. A tendência à realização, uma característica da vida


26
orgânica, em que todo organismo tem um comportamento voltado à sua manutenção,

crescimento ou reprodução, independente de um ambiente favorável ou não.

Além destas características, a tendência atualizante é uma abertura para o novo, para

a criatividade. Parte daí a crença de que é o próprio cliente quem encontra a saída para os seus

problemas, desde que lhe sejam dadas as condições básicas para que estes problemas sejam

superadas.

Podemos dizer que em cada organismo não importa o nível, há fluxo


subjacente em direção à realização construtiva das necessidades que lhe são
inerentes. Há também nos seres humanos uma tendência natural a um
desenvolvimento mais completo e mais complexo. A expressão mais usada
para designar esse processo é a tendência realizadora, presente em todos os
organismos vivos. Essa é a própria natureza do processo a que chamamos
vida. Esta tendência esta em ação em todas as ocasiões. Na verdade, somente
a presença ou ausência desse processo direcional total, permite-nos dizer se
um dado organismo está vivo ou morto. (ROGERS, 1983, pag.40)

Conforme Gobbi (2002), o meio externo pode oferecer as condições necessárias para

que o organismo sinta a necessidade de atualizar-se, estas necessidades podem ser desde as

necessidades mais básicas às mais elevadas (fome, sede, sono, insegurança, desamor, auto-

estima, intelectualidade). O funcionamento ótimo da personalidade, que é característica

principal de estruturação do homem, possui uma tendência a sua regeneração e constituição,

que é a tendência atualizante: “tendência natural, inata que possibilita o crescimento e

desenvolvimento de todas as potencialidades do indivíduo. [...] Designa uma tendência

direcional motivadora”. (ROGERS in GOBBI, 2002, pag. 30)

A tendência atualizante, segundo Justo (2000), é o único tipo de motivação

reconhecido por Rogers, onde qualquer reação do organismo tem o intuito em manter ou

aumentar suas riquezas, dirigindo-se a um funcionamento que tenha o dinamismo cada vez

mais complexo. Essa tendência dirige o organismo para que se desenvolva num sentido de

unidade e autonomia.
27
Entende-se que todo organismo tende a complexidade, e quanto mais complexo,

maior sua organização funcional. Esses organismos são criados, deteriorados e, depois,

transformados. Todo organismo é sujeito a falhas na sua organização funcional. Usemos com

exemplo o corpo humano, ele é formado de átomos que constituem diferentes células e cada

uma com sua função específica, estas formam os tecidos, que formam os órgãos, que formam

os sistemas, que por sua vez formam o corpo humano, um organismo ordenado de forma

complexa com tendência simétrica. Sabemos que durante um bom tempo o corpo é

impulsionado a tornar-se cada vez mais complexo e mais organizado evoluindo de forma

rápida e precisa, porém em determinado tempo sua precisão diminui e entra em processo de

deteriorização, mas com a tendência atualizante trabalhando para a regeneração de um corpo

que um dia deixa de ser um organismo humano e se transforma em outros organismos.

Pagés (1976), tem a compreensão de que todos os organismos possuem sistemas que

identificam experiências atualizadoras ou não, valorizado-as positivamente e se apropriando

ou o contrário.

A tendência atualizante é a mais fundamental do organismo em sua totalidade.


Preside o exercício de todas as funções, tanto físicas, quanto experienciais. E
visa constantemente desenvolver as potencialidades do indivíduo para
assegurar a conservação e seu enriquecimento, levando-se em conta as
possibilidades e os limites do meio. (ROGERS e KINGET, 1975, pag. 41)

A outra é a Tendência Formativa, esta caracteriza o universo como um todo que está

em constante construção e criação, assim como em deteriorização. Há uma tendência a tornar

o caos em ordenado e complexo, pois quanto mais complexo um organismo, mais

especializadas e ordenadas serão suas funções.


28
Defendo a hipótese de que existe uma tendência direcional formativa no
universo, que pode ser rastreada e observada nos espaço estelar, nos cristais,
nos micro organismos, na vida orgânica mais complexa e nos seres humanos.
Trata-se de uma tendência evolutiva para uma maior ordem, uma maior
complexidade, uma maior inter-relação. Na espécie humana esta tendência se
expressa quando o indivíduo progride de seu início unicelular para um
funcionamento orgânico mais complexo, para um modo de conhecer e de
sentir abaixo do nível de consciência, para um conhecimento consciente do
organismo e do mundo externo, para uma consciência transcendente da
harmonia e da unidade do sistema cósmico, no qual se inclui a espécie
humana.
É muito provável que essa hipótese seja um ponto de partida para uma teoria
da Psicologia Humanista. Mas ela é, sem dúvida, o fundamento da
Abordagem Centrada na Pessoa. (ROGERS, 1983, pag. 50)

Então, sabe-se que a Tendência Atualizante e a Tendência Formativa do Universo

são comuns a todos os seres em seus processos vitais e ecológicos de atualização de suas

potencialidades. A Tendência Formativa tem início na complexidade de um organismo menor

ansiando em se tornar num todo com todos os organismos, com uma organização funcional

em perfeita harmonia e sintonia.

1.7.4- Estrutura do Self

Tratando-se do organismo humano, há uma compreensão de que cada indivíduo cria

uma imagem de si, chamada de self, que pode ou não reagir a uma experiência de maneira

realista; ou seja, se o indivíduo se percebe como alguém "bondoso", ou seja, com uma

imagem positiva, e que corresponda as exigências do meio social onde vive, uma reação de

“raiva” quando desencadeada pelo organismo que não trará uma consideração positiva de si,

poderá até nem ser experimentada, ou, na melhor das hipóteses, negada, pois segundo a

imagem que o indivíduo tem de si mesmo, ele não é alguém que experimente este tipo de

sentimento.

Rogers e Kinget (1975), observam que o homem tem uma necessidade de ter

considerações positivas de si. Esta é uma necessidade universal e se faz sentir continuamente
29
por todo ser humano. Então, para ter uma aceitação dentro dos valores sociais, o indivíduo

cria uma imagem de si inexistente.

O self é mutável e instável, inevitavelmente, modifica-se ao mudar algumas

percepções e significações do mundo.

Rogers (1974), conceitua a imagem do “eu”, como self, que consiste numa estrutura

cognitiva construída a partir dos atributos e valores que a pessoa percebeu em si mesmo, esta

auto-imagem é formada a partir de duas fontes: a experiência organísmica e a introjeção de

valores das pessoas socialmente significativas. A elaboração dessa auto-imagem é facilitada

pela tendência atualizante do “eu”, e visa conservar ou potencializar a auto-estima. Assim, o

indivíduo que mobiliza sua energia para o crescimento e desenvolvimento passa a agir de

acordo com sua auto-imagem, elaborada pela experiência organísmica, e não com a imagem

que as pessoas significativas fizeram sobre ela.

O self é caracterizado por “self real” que é a percepção exata de si, e “self ideal” que

são características destorcidas ou inexistentes de si. Comumente o self ideal são

características que indivíduo gostaria de ter, é um ideal que traça para si, estas experiências

são incongruentes e desarmonizadas a realidade.

Segundo Justo (2000), o indivíduo que reage de acordo com a verdadeira

experiência, esta em harmonia entre o self e a experiência, encontrando-se em estado de

congruência. “Congruência é a harmonia entre a experiência e sua representação e,

eventualmente, também, sua expressão”. (JUSTO,2000, pag. 42)

Para Rogers (1997), as religiões e a família vêm a ser as grandes causadoras de

distúrbios psicológicos, com conceitos de proibição ou de idealização do outro. Quando se

tem uma situação que causa desequilíbrio entre a experiência vivida pelo cliente e a percebida

pelo organismo, este se encontra em estado de incongruência. Esse desequilíbrio ocorre a

partir de uma introjeção de valores que não são propriamente do indivíduo, mas de uma série
30
de exigências feitas por sua sociedade. Ainda fundamentado nestas experiências, sabemos que

o organismo vai adotar comportamentos que são compatíveis com a sua imagem do “eu”.

Entretanto, aquelas experiências significativas que não foram simbolizadas e organizadas

congruentemente pelo organismo, por serem ameaçadoras e incompatíveis com esta imagem,

poderão desencadear uma tensão psicológica por essa não vivencia da experiência

organísmica. Quando acontece esta situação, diz-se que o indivíduo está em desacordo e sua

Tendência Atualizante está parcialmente impedida de funcionar.

Cada indivíduo possui um mecanismo de defesa que reprime seus sentimentos

indesejáveis e inaceitáveis, que refletem uma ameaça a auto-estima e a auto-imagem em sua

consideração positiva, os indivíduos tem como base para tal julgamento, valores e pré-

conceitos absorvidos durante suas experiências existenciais. Com isso, censura reais

sentimentos para “se moldar”, a uma imagem aceitável e menos ameaçadora para si.

Rogers e Kinget (1975), exemplificam esse processo de defesa como um

mecanismo que evita o apoderamento do estado de angústia do ser. Isto é, as experiências que

não estão de acordo com o self ideal, são reconhecidas como ameaçadoras, por isso o

processo de defesa impede que esses fatos se produzam.

As conseqüências gerais do processo de defesa são as seguintes: rigidez


perceptual, causada pela necessidade de deformar certos dados da
experiência; simbolização incorreta, causada pela deformação e pela
omissão de certos dados; ausência de discriminação, ou discriminação
perceptual insuficiente.(ROGERS e KINGET pag. 203)

Estas atitudes de defesa causam no indivíduo, uma desorientação pela não

expressão de sentimentos verdadeiros, porém a expressão dos mesmos é desagradável. Por

isso, Justo (2000), acredita na psicoterapia como uma forma de ordenar as experiências do

indivíduo, permitindo que a sua autopercepção da realidade ameaçadora quebre seus

conceitos pré-determinados e aceite seus sentimentos de medo ou vergonha.


31
1.7.5- O Facilitador e Seu Jeito de Ser

O terapeuta na ACP age como um facilitador ou espelho para os sentimentos e

pensamentos do cliente que passa a tomar maior consciência e contato com seu material

vivencial, percebendo aspectos de sua personalidade e de seus comportamentos que lhe

escapavam anteriormente. O facilitador, acredita na potencialidade do cliente em dirigir seu

processo de autoconhecimento e mudança, coloca-se no lugar dele de maneira a captar as

emoções, sentimentos e vivências, criando um envolvimento pessoal, ainda que terapêutico. É

a relação terapeuta cliente que promove o crescimento ao qual se almeja alcançar.

Em termos gerais, o objetivo desse procedimento terapêutico é, proporcionar


ao cliente, condições para que ele possa vivenciar experiências novas que lhe
possibilitem reininciar o processo de crescimento. Estas novas experiências
incluem a relação com o terapeuta. (VIANNA, 1996, pag. 14)

Existem três condições básicas que ajudam na formação de um clima facilitador de

crescimento que são consideradas de suma importância por ROGERS (1987) em qualquer

relação de crescimento (terapeuta e cliente, pai e filho, líder e liderado), pois facilitam as

mudanças de personalidade e comportamento.

O primeiro elemento refere-se a genuinidade, congruência ou autenticidade. Trata-se

da capacidade do terapeuta de ter abertura para a alteridade do cliente, sem precisar se

esconder por trás de uma máscara de profissionalismo, tendo acessível, à sua consciência, os

dados do momento em que se desenvolve a relação e expressar o que sente ou pensa a

qualquer momento em que achar conveniente.

Rogers (2001) acredita que quanto mais genuíno se conseguir ser na relação, mais

útil ela será. O terapeuta deve estar consciente de seus próprios sentimentos e estar disposto

para ser e expressar, pois se mostrar de forma real e genuína, facilita que a outra pessoa

procure pela realidade em si com êxito.


32
Quanto mais o terapeuta é ele mesmo nas relações, sem colocar nenhuma capa
profissional ou fachada pessoal, maior é a probabilidade que o cliente tem de
crescer e mudar de uma maneira construtiva. Isto significa que o terapeuta
está abertamente sendo e os sentimentos e atitudes que estão fluindo de dentro
dele naquele momento. Existe uma grande aproximação ou uma congruência
entre o que está acontecendo num nível visceral, o que está presente na
consciência e o que está sendo expresso para o cliente. (ROGERS,
1987,pag.68)

Acredita Rogers (1977) que indivíduos incongruentes representam papéis, dizem

coisas que não são e não sentem, esta atitude causa a falta de confiança, impedindo que o

outro se revele profundamente. Por isso a necessidade da autenticidade e congruência do

terapeuta, visto que estas condições tornam maior a probabilidade de que ocorra a mudança na

personalidade do cliente.

O segundo elemento é a consideração positiva incondicional, estima ou apreço

sentido com relação ao cliente. Consiste em considerar o cliente como um todo, sem submetê-

lo a qualquer tipo de julgamento de valores sociais ou pessoais, para que este possa

experimentar-se livremente, sem qualquer empecilho ou bloqueio de seus sentimentos ou

atitudes.

A aceitação, segundo Rogers (1975), é uma combinação da atitude de tolerância,

respeito e empatia, fundidos numa atitude de acolhimento. Considerando o material negativo

e positivo e as configurações que esse material é apresentado no ato de relatar e pelo desejo da

mudança.

Por aceitação quero dizer uma consideração afetuosa por ele enquanto uma
pessoa de autovalia incondicional - de valor, independente de suas condições,
de seu comportamento ou de seus sentimentos. Significa um respeito e um
apreço por ele como uma pessoa separada um desejo que ele possua seus
próprios sentimentos à sua própria maneira. Significa uma aceitação de suas
atitudes no momento ou consideração pelas mesmas, independente de quão
negativa ou positiva elas sejam, ou de quanto elas possam contradizer outras
atitudes que ele sustinha no passado.Essa aceitação de cada aspecto flutuante
desta outra pessoa constitui para ela uma relação de afeição e segurança, e a
segurança de ser querido e prezado como uma pessoa parece ser um elemento
sumamente importante em uma relação de ajuda. ( ROGERS, 2001, pag. 38)
33
Bowen (1987) acredita que quanto maior a aceitação do indivíduo pelo seu ser,

maior a facilidade em diferenciar o que realmente é do que é criado pela mente, e mais clara

se torna a percepção. A congruência é a harmonia do que esta na intimidade com o que

transparece por fora.

O terceiro elemento é a empatia, onde o terapeuta sente os sentimentos e os

significados pessoais que estão sendo vivenciados pelo cliente, comunicando este

entendimento e essa atitude de aceitação ao mesmo. Empatia é a capacidade de colocar-se no

lugar do outro como se fosse o outro, fazer com que este outro saiba que está sendo

compreendido e respeitado. As diferenças individuais são para a Abordagem Centrada na

Pessoa, algo de fundamental, pois implica em saúde, em “ser o que se é”, num sentido de não

ser guiado por um outro referencial, que não o da própria avaliação do indivíduo como sujeito

livre.

[...] é somente à medida que compreendo os sentimentos e pensamentos que


parecem tão terríveis para você, ou tão fracos, ou tão sentimentais ou tão
bizarros – é somente quando eu os vejo como você os vê, e os aceito como a
você, que você se sente realmente livre para explorar todos os cantos
recônditos e fendas assustadoras de sua experiência interior e freqüentemente
enterrada. Essa liberdade constitui uma condição importante da relação. Aqui
está implicada uma liberdade para explorar a si próprio tanto em níveis
conscientes quanto inconscientes, o mais rápido do que se puder embarcar
nessa busca perigosa. Há também uma liberdade completa de qualquer tipo de
avaliação moral ou diagnóstica, já que todas estas avaliações são ao meu ver,
sempre ameaçadoras. (Rogers, 2001, pag. 39)

Gobbi e Missel (1998), conceituam a empatia como a capacidade de um indivíduo se

colocar no lugar do outro, de entrar no mundo do outro e compreender o seu significado

pessoal como se fosse o outro. “Em um sentido poético, é habitar temporariamente a vida do

outro, delicadamente, sem causar-lhe prejuízo”. (HOLANDA apud GOBBI e MISSEL, 1998,

pag. 59)
34
Assim, para Rogers (1997) o grande mérito da terapia, portanto, é o de deixar com

que o indivíduo seja livre para experimentar todo e qualquer sentimento sem qualquer medo

de repressões sociais, uma vez que o terapeuta mantém uma atitude de aceitação, empatia e

autenticidade. “O terapeuta estimula a livre expressão de sentimentos em relação com o

problema. Em certa medida essa liberdade é provocada pela atitude amigável, interessada e

receptiva do conselheiro".(ROGERS, 1997, pag.47).

Santos (1987), denomina como “momentos mágicos”, aqueles em que as pessoas se

sentem iluminadas, esclarecidas e induzidas à aprendizagem e produções criativas que até

mesmo curam. Esses são os momentos em que todos os resultados conseguidos fluem,

liberando uma energia e uma vitalidade nos indivíduos capaz de vencer qualquer doença ou

diferença, trazendo harmonia e saúde. Todo esse resultado provém da união com outro, da

fusão interpessoal ou amor.

Ainda, em Santos (1987) existe uma similaridade com outras linhas quando se refere

ao momento mágico, por exemplo, o “mesmo cumprimento de onda” do qual fala Carl

Rogers, ou a “mesma freqüência” da qual fala o Robert Nemiroff, psicanalista.

Convém lembrar que o termo atitudes designa o fato de algo que não pode ser

praticado sem qualquer sinceridade e fora do contexto de uma relação terapêutica específica

com cada indivíduo. Portanto, não se trata ações pré-fabricadas para determinadas situações,

mas de atitudes vividas e experienciadas no momento de uma específica relação, tendo estas

atitudes um total imbricamento entre si, sendo uma totalmente dependente uma da outra.

Na segurança da relação com um terapeuta centrado no cliente, na ausência


de qualquer ameaça presente ou possível contra o eu, o cliente pode
permitir-se examinar diversos aspectos da sua experiência exatamente da
mesma maneira que os sente, tal como os apreende através do seu sistema
sensorial e visceral, sem os distorcer para adaptá-lo ao conceito existente de
eu. (ROGERS, 1997, pag.88-89)
35
Na ACP o único intuito do terapeuta é refletir as idéias e pensamentos junto com o

cliente, sem julgar, ou interpretar o que é falado por ele. Este tipo de reflexão é chamado de

resposta-reflexo e é subdividida em três modalidades que são a reiteração, o reflexo de

sentimentos e a elucidação. Reflexões estas, não tidas como via de regra ou técnica e sim

como meio de auxílio nas intervenções do facilitador.

Viana (1996), entende a abordagem de Rogers, como um processo que não possui

um conjunto de técnicas, onde o terapeuta não resolve o problema do seu cliente ensinando-o,

ou dizendo-lhe o que fazer. O terapeuta deve produzir respostas que facilitem uma reflexão

espontânea do cliente, onde este começará a crescer e mudar utilizando o seu potencial de

crescimento. Estas não são consideradas técnicas, e sim respostas que auxiliam o terapeuta a

motivar o cliente para despertar a sua capacidade regularizadora e se tornar congruente a seu

self real.

Conforme Gobbi e Missel (1998), as respostas-reflexo são uma reformulação dos

significados dos pensamentos e sentimentos expressos pelo cliente.

Para Rogers & Kinget (1975) refletir a fala do cliente, consiste em resumir,

parafrasear ou acentuar a comunicação manifesta por ele. Esta resposta tem por efeito

acentuar o sentimento com é percebido pelo cliente, classificá-lo por meio de contraste,

modifica-lo no sentido da ampliação ou invertê-lo.

Por mais insignificante e repetitivo que possa parecer essa maneira de


responder, ela não deixa de ser de uma eficácia surpreendente. Primeiramente
ela é de natureza a exercer um efeito salutar, que ao mesmo tempo alivia e
estimula sobre o cliente – Habituado, muito freqüentemente, a ser contestado
ou criticado na suas opiniões. Além disso, como não se impõe nenhuma
exigência à intenção do interessado, ela lhe permite absorver totalmente no
seu mundo pessoal, subjetivo. Por isto, ela representa o meio de por
excelência de facilitador a tomada de consciência autônoma da experiência
vivida. (ROGERS e KINGET, 1975, pag. 56)
36
Uma das formas utilizadas para refletir o pensamento ou sentimento do cliente na

ACP é a reiteração, conhecida também como reflexo simples, usado como forma de atitude

investigadora e analítica.

Segundo Gobbi e Missel (1998) a reiteração deve ser breve, de forma que resuma a

comunicação.

Esta forma elementar de reflexo dirige-se estritamente manifesto da


comunicação. É geralmente breve e consiste ou em resumir a comunicação do
cliente, ou em assinalar um elemento relevante dela, ou simplesmente em
reproduzir as últimas palavras de modo a facilitar a continuação da narrativa.
(ROGERS e KINGET, 1975, pag. 66)

A abordagem de Rogers, demonstra total confiança na capacidade de crescimento

dos organismos, sendo assim a ACP centraliza a condução da terapia no cliente, é ele quem

decide quais direções tomar, mesmo porque, cada indivíduo sabe muito mais de si que do

outro.

A atuação do terapeuta é considerada por Coppe (2001), como não diretiva, esta é

uma forma de atuação não autoritária por parte do terapeuta. A idéia básica da ACP é realizar

intervenções que não sirvam como guia no processo psicoterápico. O terapeuta deve estar

confiante no entendimento de seu cliente com relação a seus próprios sentimentos e

experiências.

Esta proposta de não-diretividade influencia na imposição das pessoas no meio em

que vivem. Coppe (explica que a relação cliente/terapeuta, oferece condições para que as

pessoas despertem em si a capacidade de se governarem, libertando-as de condutas alienadas.

Pagés (1976) completa, dizendo que a orientação não-diretiva favorece as pessoas um

prolongamento no domínio de vida social.

Na ACP é o facilitador quem atua em grupos de encontro, este se interessa pela

espontaneidade dialógica do grupo e não tem intenções de liderá-lo. Tem consciência de que
37
a inter-relação dos participantes tem um potencial natural de criação que tende à

complexidade e harmonização.

Deve notar-se que o estilo dos líderes e os seus próprios conceitos do processo
de grupo têm grande importância na conduta da experiência de grupo.
Contudo, tem-se verificado que, nos grupos sem líder em que os indivíduos
simplesmente se encontram intensivamente sem ninguém o que se chama de
facilitador ou líder, o processo que ocorre é semelhante a descrição dada. Por
isso, deve dizer-se que as suas variações depende a maioria parte das vezes,
do estilo ou ponto de vista do facilitador. (ROGERS, 2002, pag. 9)

Conforme Fonseca (1988), o facilitador deve interagir de forma que possibilite o

grupo a criar suas próprias formas e ritmo com naturalidade. É através da contribuição criativa

dos membros, da participação espontânea entre eles, da espontaneidade dos fluxos dos

processos grupais que o grupo se descobre, tomando consciências de si e constituindo sua

realidade. A partir do momento em que o grupo se constituir e se desdobrar, criará processos

de interações onde as intervenções do facilitador se tornarão desnecessárias e raras.

Isto é um valor positivo e interesse do facilitador, de modo que com relação


ao seu poder institucional, haverá sempre, no grupo, a possibilidade de
egocentrização e da desegocentrização. A desegocentrização é tendência
natural do grupo, à medida que este disponibiliza e explicita a multiplicidade
de seus cursos, contingências, demandas e possibilidades criativas e organiza
de um modo descentralizado e auto-sustentado a dinâmica de seu processo.
(FONSECA, 1988, pag. 85)

Rogers (2002) acredita que em um grupo deve haver a existência de um facilitador

ou líder que tem como responsabilidade criar um clima de liberdade de expressão de

sentimento, expressão de pensamentos e a redução de defesas dos membros. Com essa

liberdade de expressão de sentimentos reais, positivos e negativos, os membros desenvolvem

um clima de confiança mútua, facilitando um processo de aceitação individual e grupal, de

escutar e aprender uns com os outros, feedbacks, sem mais se sentir numa condição

ameaçadora.
38
Uma equipe de facilitadores, segundo Rogers (1983), quando entra em um grupo,

deve estar preparada para conhecer e explorar novas áreas de sua própria vida, estar aberto,

aceitar as diferenças de um para com o outro.

O poder é compartilhado no relacionamento que estabelecemos com o


grupo e seus membros. Permitindo-nos “ser”; permitindo que os outros
sejam. Quando estamos em nossa melhor forma, a vontade de julgar ou
manipular as ações ou pensamentos dos outros é mínima. Quando as
pessoas são abordadas desta forma, quando são aceitas como são,
revelam-se muito criativas e plenas de recursos para examinar e
transformar suas próprias vidas.( ROGERS, 1983, pag. 56)

Em Rogers (2002), encontra-se algumas características de facilitador que podem vir

a ser prejudiciais ao grupo e aos membros. Tais características são aceitáveis quando vindas

de um participante, mas desnecessárias para um facilitador. Essas atitudes são: interesse do

facilitador em fazer publicidade, por interesse pessoal, explorando o grupo; manipulação,

tentativa de dirigir o grupo por interesse pessoal não dito, se houver algum interesse que seja

dito, isto quando percebido pode destruir a confiança dos membros do grupo; avaliar a

eficácia do grupo pelo dramatismo; acreditar apenas num único tipo de atitudes, que exploram

um único sentimento, pois todo sentimento deve ter e ser visto com igual significado e

importância; considerar os problemas pessoais maiores que os apresentados pelos membros

do grupo, isto faz com que o facilitador não esteja disponível e nem profundamente

consciente nos problemas dos outros; fazer interpretações dos motivos ou causas do

comportamento do grupo, pois pode estar um tanto errado, quanto certo, se estiver certo vai

causar uma frustração com o sentimento de incapacidade do conhecimento de si, despi-lo de

sua defesa ou causando uma defesa extrema; apresentar uma proposta utilizando o termo “nós

faremos” isto pode se tornar uma forma manipulativa, cada membro deve ter a abertura para

decidir se participará ou não e; recusar a participação emocional pessoal no grupo, mostrando-


39
se emocionalmente distante e indiferente aos demais. Esse tipo de pessoa nega a

espontaneidade ao grupo e pode servir como modelo de pessoa extremamente fria e analítica.

1.7.6- Grupos de Encontro

Nos grupos de encontro da ACP, o objetivo dos grupos de encontros é favorecer aos

participantes um ambiente confiante, para que todos se interessem e que se sintam à vontade

em criar um movimento que os conduzam a uma maior independência pessoal, despertando

suas capacidades regulizadoras e impulsionando os indivíduos a desenvolverem a capacidade

de se autodirigirem.

Rogers (1983), revela que os grupos de encontro da Abordagem Centrada na

Pessoa, proporcionam experiências de grupo intensivo e planejado, visando acentuar o

crescimento pessoal, desenvolvimento da comunicação, bem como o incremento das relações

interpessoais.

“A vivência coletiva no grupo oferece a oportunidade de auto-regeneração, de

constituição e reconstituição, à medida que ele vive e cria a vivencia grupal de que

participa”. (FONSECA, 1988, pag. 52)

Para Fonseca (1988) os grupos privilegiam a espontaneidade dialógica do encontro

espontâneo dos participantes, no processo de constituição e desdobramento do próprio grupo.

O grupo é entendido como dotado de um potencial holístico organísmico que

envolve as capacidades, necessidades e sentido de cada um e do conjunto de seus

participantes. Para Fonseca (1988) esta potencialidade parte das motivações, interesses,

excitações de suas atualidades existenciais e como sistema psico–socio-cultural-humano, o

grupo é dotado não só destas potencialidades, como também das capacidades de auto-

regulação e auto-atualização.
40
Um grupo de encontro da ACP pode apresentar diversas etapas, algumas dessas

costumam a se revelar cedo, outras mais tarde, porém não há uma seqüência perfeitamente

definida.

Rogers (2002) e outros colaboradores classificam as fases da seguinte forma:

1- Fase de hesitação, de andar em volta.

Quando o facilitador esclarece sua não intenção de dirigir o grupo e que o grupo tem

liberdade de tomar o rumo ou assunto que preferir, a tendência é de ter um período inicial de

confusão, de silêncio embaraçoso, levando os indivíduos a organizarem uma estrutura.

Nesta fase, nos grandes grupos autodirigidos se pode perceber mais


claramente a estrutura que parece ser, nas palavras de Rogers, “um grande
caos”, uma desordenação, até começar o movimento do todo. Essa auto-
organização vai depender do movimento interno de cada partícula que
compõe o movimento grupal passando às etapas de excitação e de resistência
em vivenciar trocas mais profundas. Ou seja, espera-se haver um clima (calor
humano), de receptividade, para então podemos trocar uns com os outros.
(GOBBI, 2002, pag. 83)

Muitas vezes essa atitude de espera gera revolta nos participantes que aguardam a

atitude dominadora e direcional do facilitador, mas ao invés, são eles próprios que tem de

criar uma estrutura organizadora, criar um comando que esteja de acordo com todos e um

clima onde as vivencias possam ser iniciadas.

2- Resistência à expressão ou exploração pessoal

Os membros do grupo oscilam entre o “eu” exterior e o “eu” interior, são

ambíguos, resistem até começarem a revelar gradualmente o eu íntimo e algumas atitudes

pessoais. Há uma certa resistência em expressar o eu verdadeiro, por ainda, não ter criado

confiança no grupo. Primeiramente há a revelação do eu exterior, sem defeitos, que

normalmente seria aceito pelo meio, o “self ideal”, gradualmente vão surgindo expressões

mais pessoais e reais.


41

Depois, à medida que, gradualmente, por tentativas e timidamente,


exploram os sentimentos e atitudes de uns para com os outros e consigo
próprio, torna-se cada vez mais evidente que o que mostraram a
princípio eram fachadas, máscaras. Somente com muita cautela
emergem sentimentos verdadeiros e verdadeiras pessoas. O contraste
entre a concha exterior e a pessoa interior torna-se cada vez mais claro
à medida que as horas passam. (ROGERS,2002, pag. 10)

3- Descrição de sentimentos passados

A expressão de sentimentos começa a ser cada vez mais constante, há uma descrição

de problemas e sentimentos ocorridos no passado, exteriores ao grupo no tempo e no espaço.

As discussões se mantêm nessa superficialidade até que os membros passem a confiar no

grupo.

A preocupação em revelar sentimentos muito íntimos e pessoais, acontece pela

falta de confiança no grupo, receio de não ser aceito ou julgado pelo grupo.

4- Expressão de sentimentos negativos

A primeira expressão de sentimentos de verdadeiro significado no “aqui e agora”,

normalmente é uma expressão de sentimentos negativos em relação a outro membro do grupo

ou ao facilitador. É uma via para avaliar o grau de confiabilidade e liberdade do grupo, é a

forma utilizada para mediar a segurança ou não do grupo. É um tipo de expressão menos

comprometedora e perigosa do que expressar sentimentos positivos.

Por que serão as experiências negativas os primeiros sentimentos atuais a


manifestar-se? [...]É uma das melhores maneiras de se avaliar a liberdade e
confiança do grupo. Será o grupo realmente um lugar em que posso ser eu
próprio e exprimir-me positiva e negativamente? Outra razão diferente,
diferente, é que os sentimento profundos positivos são muito mais difíceis e
perigosos de exprimir do que os negativos. (ROGERS, 2002, pag. 23)

5- Expressão e exploração de material com significado pessoal

O indivíduo percebe que há uma liberdade, começa a desenvolver um clima de

confiança, propiciando a arriscar em deixar que o grupo conheça algumas das suas facetas
42
mais íntimas, então torna a falar de si de uma maneira mais profunda. Isto só ocorre quando o

indivíduo percebe que é aceito e há liberdade para se mostrar no grupo.

Este é um processo difícil, pois nem sempre há a receptividade esperada, porém

percebe-se o respeito ao sofrimento do outro, que muitas vezes é questionado.

Habitualmente, a sua atitude é a de que aquilo que realmente sente deve ser
completamente inaceitável pelos outros membros do grupo. Para seu espanto,
descobre que é um tanto aceito, quanto mais verdadeiro se tornar. [...] Assim
uma das evoluções mais freqüentes é o sentimento de confiança, que começa
lentamente a construir-se e também um sentimento de calor humano e
simpatia pelos outros membros do grupo. (ROGERS, 2002, pag. 10)

6- Expressão de sentimentos interpessoais imediatos no grupo

A expressão de sentimentos interpessoais aparece quando o clima de confiança vai

tornando-se maior. Esses sentimentos são expressos de um membro em relação ao outro, ora

positivos, ora negativos, são expressões de sentimentos experienciadas no aqui agora pelos

membros do grupo.

A atitude que surge no desenvolvimento da confiança do grupo, a partir dos


aspectos individuais é a da expressão de sentimentos interpessoais em relação
ao grupo. Aqui começa a formação do próprio grupo. Aqui o organismo
grupal tem início em sua formação totalitária. As expressões são dirigidas a
membros do próprio grupo como movimento conseqüência do momento
vivencial deste fenômeno. A partir destes fatos passa a integrar-se e ter um
autogerenciamento de suas dificuldades. (GOBBI, 2002, pag. 83-84)

7- O desenvolvimento de uma capacidade terapêutica

É um momento de fascinação para o crescimento de cada um, os membros começam

a mostrar uma capacidade natural, espontânea e terapêutica para tratar a dor e o sofrimento

dos outros, os participantes mostram que se importam com os problemas do outro.

Fica expresso a capacidade dos homens de se ajudarem, de construírem relações

verdadeiras e de ajuda mútua.


43
8- Aceitação do eu e começo da mudança

A aceitação do “eu” é o começo da mudança do indivíduo no grupo. As vivências do

grupo no clima facilitador, favorecem com que as pessoas apresentem e aceitem o

conhecimento do verdadeiro “eu”.

É muito freqüente esta sensação de maior verdade e autenticidade. É como se


o indivíduo aprendesse a aceitar-se a ser ele próprio, lançando assim as bases
para uma mudança. Estar mais perto de seus próprios sentimento que, por
isso, já não são tão rigidamente organizados. (ROGERS, 2002, pag. 31)

Torna-se comum esta sensação de autenticidade, por estar mais perto de sua

verdadeira personalidade, sem impor limitações ao verdadeiro ser, com ânsia em mudar e

melhorar a sua vida.

9- O estalar das fachadas

Com o tempo, o grupo torna-se mais maduro e verdadeiro, passando a exigir de cada

membro a expressão de seu verdadeiro “eu” interior, pois há um clima facilitador que

favorece este acontecimento.

Alguns membros insistem em se manter na fachada social, escondendo seus

sentimentos, causando nos outros membros impaciência com as defesas e intolerância a um

membro que se esconda por detrás de uma máscara ou fachada. “Umas vezes com suavidade,

outras quase brutamente, o grupo exige que o indivíduo seja ele próprio. Que não esconda

seus sentimentos comuns, que retire a máscara do convívio social”. (ROGERS, 2002, pag.

32)

10- O indivíduo é objeto de reação (feedback) por parte dos outros

No contato com os outros, dentro de um clima favorável e sincero, o indivíduo passa

a adquirir dados do modo como é visto, observado e aceito pelos outros. O feedback pode ser

positivo e afetuoso ou negativo. Sejam eles do jeito que forem, são altamente construtivo

desde que se enquadre no contexto do interesse que se desenvolve no grupo.


44
11- Confrontação

São os momentos em que os indivíduos se confrontam um com o outro, são reações

bem menos moderadas que os feedbacks, são mais agressivas, na maioria das vezes são

confrontações negativas. É uma reação mais direta e alterada, onde ocorrem questionamentos

sérios, dificilmente são confrontações positivas.

Este tipo de reação pode deixar confuso o membro que está sendo atacado.

12- Relações de ajuda fora das sessões de grupo

Alguns membros procuram a ajuda de outros fora do grupo e muitas vezes são

auxiliados pelos próprios companheiros de grupo, então, percebe-se que há auxílio entre os

participantes fora e dentro do grupo.

Alguns percebem a capacidade que tem de ajudar, respeitar e perceber no outro uma

necessidade de auxílio, basta ter uma chance de ajudar o outro.

13- O encontro básico

O encontro básico ocorre quando o grupo passa a captar a experiência que alguém

tentou exprimir, quando os sentimentos expressos são vivenciados pelos membros do grupo.

Buber vai mais além e observa que o tu do outro jamais me é acessível


inteiramente através da experiência de apreensão da objetividade dele. Num
certo momento, só um “vôo de minha fantasia” - que ele chama de “fantasia
ativa” -, de minha inteira responsabilidade, é que contém a possibilidade de
aproximação do momento do outro. Aproximação que neste caso é a
expressão de um Eu pontualmente revelado na relação com ele. Um Eu
revelado que é o fundamento da compreensão e da comunicação empáticas.
De modo que estas, ainda que produtos inextrincáveis de um enlace dialógico,
não são um reflexo, não retratam o outro, mas são fundamentalmente
expressão e responsabilidade desse Eu imediatamente revelado. (FONSECA,
1988, pag. 124)

É considerar o outro como um indivíduo como eu, e empaticamente compreender o

outro.
45
14- Expressão de sentimentos positivos e intimidade

Com a continuação dos encontros a confiança e a capacidade de ajuda aumentam,

assim, ocorrem mais pensamentos verdadeiros que são aceitos pelo grupo. O grupo se sente

dentro de um clima de aceitação e liberdade de expressão, tornando-se mais íntimos e com

sentimentos positivos relacionados aos outros.

Podem alguns criticar um líder tão envolvido e tão sensível que chora com as
tensões do grupo que tornou suas. Para mim, é mais uma prova de que,
quando as pessoas são sinceras umas com as outras, têm uma capacidade
espantosa para reconfortar uma pessoa, com afeição verdadeira e
compreensiva, quer essa pessoa seja participante ou líder. (ROGERS, 2002,
pag.42)

O não julgamento ao outro, a aceitação, torna possível uma ajuda verdadeira e um

conforto para a reestruturação do organismo.

15- Mudanças de comportamento no grupo

Há mudança no comportamento dos membros do grupo, nas atitudes, na relação com

membros da família, no ambiente profissional e social. Os membros do grupo aprender a

ouvir e percebem que são ouvidos, passam a se respeitar, tornam-se mais confiantes e seguros.

Para esta reorganização é necessária a desorganização, ou seja, para haver a


troca faz-se necessário a mudança. Esta mudança possibilita um continuum é
definida por Rogers como a desorganização que movimenta no sentido da
organização, o princípio da Entropia. O processo de integração pessoal é uma
situação na qual a pessoa se possibilite a quebrar velhas estruturas (desordem)
num ambiente propício, onde a energia possa fluir e possibilitar o crescimento
enérgico que se expandirá até encontrar o próximo núcleo (grupo) que
considere, também, parte do seu ser; uma situação na qual novas organizações
podem surgir, permitindo ao cliente, adquirir novos padrões de alta ordem,
coerência e complexidade. (GOBBI, 2002, pag.85)

Há a possibilidade de algumas dessas etapas, não serem apresentadas em alguns

grupos, mas essas são características que Rogers (2002) percebeu, juntamente com seus

colaboradores, nos grupos os quais realizou suas pesquisas empíricas.


46
1.7.7- Entendimento Psicopatológico

Na psicoterapia Rogeriana, não há o enfoque no diagnóstico como caminho para

cura, o ponto de partida é o ser em processo de desenvolvimento, o despertar de suas

potencialidades de regulação ou atualização. Potencialidades estas que podem ser

desenvolvidas individualmente ou na interação com outras pessoas.

Não há uma classificação para determinar os processos em que os indivíduos

passam. Há sim, a importância dos efeitos sentidos pelo cliente ao passar por determinadas

experiências, então tenta-se readaptar a pessoa, através de suas potencialidades a um novo

meio.

Rogers (1997), acredita que a consulta psicológica, não precisa ser necessariamente

o único meio utilizado para a readaptação do individuo ao meio. É preciso uma perspectiva

que abra novos caminhos, permitindo que haja outros tipos de interferência para ajudar a

pessoa a se estabelecer num modo de vida mais satisfatório.

Muitas vezes, o tratamento médico, pode ser de grande valia, quando a alteração de

atitudes e de comportamento tem ação sobre cirurgias, dietas alimentares, hormônios e outras

medidas. Estes são tipos de tratamento que estão fora das perspectivas da abordagem, porém

se reconhece sua importância, na perspectiva geral do tratamento. “A conduta do individuo, a

concepção da vida, a capacidade de enfrentar os problemas de adaptação podem ser

diretamente afetadas através da ação médica”.(ROGERS,1997, pag 15)

De uma maneira geral, este método baseia-se numa melhor compreensão do


comportamento humano, à medida que os conselheiros clínicos foram
aprendendo a conhecer mais adequadamente os fatores subjacentes a
conduta e a causa da estrutura de determinados comportamentos,
procuraram estabelecer o diagnóstico das situações individuais da forma
mais perfeita possível. Assim se originou o erro natural de pretender que o
tratamento fosse apenas o diagnóstico em sentido inverso, que para ajudar o
indivíduo, só era preciso explicar-lhe as causas de sua conduta. (ROGERS,
1997,pag 25).
47
Na ACP, o terapeuta junto do cliente, procura através da inter-relação, desenvolver

um processo de atualização, identificando as incongruências das experiências e vivências do

individuo, levando-o a um funcionamento congruente de ser, aproximando o self, ao seu

verdadeiro jeito de ser.

Rogers (1997), afirma que muitas das interpretações podem não ser bem aceitas ou

entendidas pelo cliente, e elas só tem valor se forem compreendidas pelo cliente, caso

contrário não tem valia. O diagnóstico é visto como uma função essencialmente intelectual,

por isso há a preferência em se manter uma postura empática ao invés de interpretar o que é

dito pelo paciente, pois a empatia se enraíza na personalidade de quem a pratica e procura

evitar avaliações.

A pessoa é vista como centro, fazendo com que a preocupação de terapeuta e cliente

não seja o de resolver um problema particular, e sim ajudar o indivíduo a se desenvolver para

enfrentar os seus problemas de uma maneira mais perfeitamente integrada, independente,

responsável e mais organizada. Aprendendo a reagir desta forma, torna-se provável que desta

maneira continuará a ser.

A pessoa é capaz de escutar-se, tomar consciência de seus estados


psíquicos, quer negativo: desânimo, irritabilidade, inveja, ânsia... quer
positivo: ternura, admiração, otimismo, satisfação, alegria, entusiasmo.
(JUSTO, 2000, pag 99).

Para alcançar este objetivo, o terapeuta deve atuar como um facilitador, permitindo

que a pessoa desperte em si uma determinação para a mudança, criando uma relação de

empatia e confiança no organismo do outro, na capacidade da tendência atualizante. O

psicoterapeuta entende que o cliente é o único capaz de perceber seus significados, expressões

pessoais e sua conduta.


48
Abatem-se todos os estímulos impulsivos; em coisa alguma se apraz o
enfermo. A diminuição da impulsão motora e atuativa transforma-se em
completa imobilidade. Não se pode tomar decisão alguma, nem iniciar
qualquer atividade. Não há associações que se possa dispor. Os doentes em
nada pensam; queixam-se do desarranjo total da memória, sentem sua
improdutividade e lamentam-se de insuficiência, insensibilidade,
vacuidade. A profunda taciturnidade, eles a experimentam como sensação
no peito e no corpo, como se fosse coisa tangível, por assim dizer. A
tristeza profunda faz com que o mundo lhes apareça acinzentado,
indiferente e inconsolável. (JASPERS, 2000, pag. 722)

Para tal citação, faz-se importante expor Goldstein (1961), que acreditava que os

sintomas patológicos são interferências do meio externo sobre a organização do todo, ou

então conseqüências de avalias internas. Porém, o organismo uma tendência intrínseca ao

equilíbrio que pode levar o indivíduo a se adaptar ou readaptar à realidade, desde que o meio

apresente condições apropriadas.

Conforme Mendes (2000), a medicina psicossomática salienta a interação corpo e

mente, respeitando os fatores psicológicos e orgânicos como influentes no desenvolvimento

de todas as doenças. Porém, a única dúvida é se sua interferência acontece, antes, no

progresso, no agravamento ou se é uma predisposição da doença.

Neste sentido, explica Justo (2000), que o processo conflituoso ou não saudável da

personalidade, ocorre por conflitos psíquicos causados pela incongruência da personalidade.

1.8- Procedimentos Metodológicos

A pesquisa desenvolvida procurou descrever e classificar fenômenos ocorridos por

análise de atos e fatos escolhidos como tema de pesquisa de campo, dentro da abordagem

qualitativa.

A linha de pesquisa utilizada para fundamentar as propostas de pesquisa é o

Humanismo com enfoque na Abordagem Centrada na Pessoa.

A análise da pesquisa foi desenvolvida em cinco meses (março a junho de 2004).


49
Os dados utilizados na pesquisa foram obtidos no segundo semestre de 2003, quando

a pesquisadora cumpria o estágio curricular em Psicologia Clínica na Unesc.

A população da pesquisa é na média de dezesseis participantes do grupo de

Depressivos Anônimos da Unesc, do sexo feminino e masculino, na faixa etária de 20 a 54

anos.

Não houve seleção para a formação do grupo, apenas abriu-se vagas para pessoas

que se sentiam e se entendiam como depressivas. Estes participantes não passaram por

triagens, assim, não aguardaram na fila de espera da clínica e o serviço de psicologia ampliou

seus atendimentos ao público, para isso, os únicos dados obtidos foram nomes, telefones e

idades.

A divulgação do grupo de DA foi feita via rádio e televisão, através de entrevistas

cedidas pelo professor-orientador. Devido a grande procura, foram abertos dois grupos de

DA, sendo que a inclusão de participantes foi permitida em todos os encontros.

O grupo escolhido para a análise, foi o grupo da tarde, visto que o outro já havia

começado quando surgiu a proposta de utilizar tais dados para pesquisa.

O grupo foi conduzido por dois facilitadores, a estagiária Michele Rodrigues Gabriel

e seu professor-orientador Sergio Leonardo Gobbi, que não esteve presente em três encontros.

A duração dos encontros era de uma hora e meia e realizado uma vez por semana, durante

dois meses (outubro e novembro).

Os dados utilizados para a análise foram obtidos através de gravadores, os

participantes eram avisados, antes que começassem os encontros.

As mulheres foram identificadas pela sigla Pf (participante feminina), e os homens

pela sigla Pm (participante masculino).

Foi feita a descrição dialogada dos encontros, com pequenos comentários do

estagiário, que situa o leitor a alguns movimentos do grupo.


50
A transcrição das falas dos participantes foi submetida a uma correção gráfica, de

modo que seus sentidos não fossem alterados. (as expressões repetidas se mantiveram e as

concordâncias verbais e nominais foram corrigidas).

A identidade dos participantes foi mantida em sigilo, os únicos dados expostos, na

pesquisa, é a idade e o sexo dos mesmos.

Foram realizados seis encontros, todos tinham data e hora marcada, apenas um foi

cancelado, por motivos emergentes, caso contrário, seriam sete encontros relatados.

Em relação a análise de dados, pode se dizer que inicialmente, para a realização de

uma análise mais exata, quanto aos movimentos do grupo, as fases do processo psicoterápico

de grupo foram dividas em suas categorias, assim, formando subcategorias.

A identificação das subcategorias é percebida através das falas dos participantes,

momentos de dialogo entre os participantes e descrição dos movimentos de grupo percebidos

pela estagiária que transcreveu os encontros.

Foi analisada a presença de cada subcategoria, nos seis encontros do grupo de DA.

As falas ou momentos que demonstravam uma categoria de fase, foram expostas em seus

respectivos encontros. Os encontros que não possuíam a categoria em questão, foram

identificados ao final de cada análise de subcategoria.

As falas dos facilitadores são utilizadas, apenas, para classificar os momentos das

categorias.

Para a exposição das fases do processo psicoterápico frente aos encontros do grupo,

criou-se uma tabela.

As considerações finais são as conclusões e entendimentos obtidos através da análise

de dados da pesquisa, com uma comparação das hipóteses levantadas e indicativos sobre

continuidade ou não dos grupos de DA, no serviço de Psicologia da Unesc.


51
2- EXPOSIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

2.1- Descrição Dialogada dos Encontros do Grupo de D.A.

Número de encontros: 6

Início dos encontros: 09/10/03

Término dos encontros: 19/11/03

Idade dos participantes:

Pf 1 (2)- 44 anos

Pf2- 38 anos

Pf3- 52 anos

Pf4- 45 anos

Pf5- 20 anos

Pf6- 39 anos

Pf7- 21 anos

Pf8- 22 anos

Pf 9- 48 anos

Pf11- 54 anos

Pf12- 37 anos

Pf13- 43 anos

Pf14- 48 anos

Pf15- 26 anos

Pm2 (3)- 54 anos

Pm3- 25 anos

(2) Pf: Participante feminino


(3) Pm: Participante masculino
52
2.1.1- 1º Encontro

Data: 09/10/03

Tempo de duração: 16h30 min. às 18h.

(O grupo recebeu a participação de treze membros, totalizando-se em quinze

pessoas, sendo que dois eram facilitadores).

Facilitador: Meu nome é Facilitador, conversei com minha estagiária e falei da idéia

de montarmos um grupo de DA. Bom, como vocês podem ver, a idéia deu certo. Gostaríamos,

que vocês nos vissem como membros do grupo, nossa intenção, é que a condução deste grupo

seja feita por vocês, nós dois estaremos aqui como facilitadores, algumas vezes iremos

intervir, mas não tomaremos frente nem conduziremos as discussões.

Facilitadora: Meu nome é Facilitadora, sou estagiária e estudante de Psicologia, não

tenho experiência com grupos, mas gostaria de aprender aqui com vocês, como membro e

facilitadora deste grupo.

(Silêncio).

Pf12: Bom, já que ninguém se apresenta, eu vou me apresentar. Meu nome é Pf12, a

minha depressão é por causa do meu marido, ele faz eu me sentir muito presa, às vezes, eu

fico muito agitada e ansiosa, dá-me uma agonia, uma raiva dele. Eu não gosto do meu marido

e acho que ele não gosta de mim. Eu tenho problemas no joelho, já pedi ajuda a ele para que

pagasse a ressonância magnética. Ele está lá na Itália trabalhando e ganhando bem, sendo

assim, poderia me ajudar, já que eu cuido dos nossos filhos. Mesmo assim, ele nem me ajuda!

Já cuido e crio os filhos e ele está lá na Itália, ganhando bem, poderia mandar dinheiro para eu

fazer essa ressonância, mas ele diz que não. (Choro) Eu passo dificuldades e sei que ele

poderia me ajudar, mas não está nem aí pra mim, quando ele chegar aqui no Brasil eu vou é

dar um pé na bunda dele, aí ele vai ver, o que custa ajudar a mãe dos filhos dele. (Choro) Eu

fico com ódio.


53
Pf11 mãe da Pf12: Eu sou mãe dela, e vejo que o marido dela não é presente, ele é

muito ruim, nós ligamos para ele e ele não quis ajudar, disse que não tem dinheiro, achou que

era mentira, não acreditou que ela tinha que operar o joelho, ele não está nem aí pra família,

nem ajuda a sustentar os filhos direito.

Facilitadora: Talvez se ele fosse um pai e marido mais presente, diminuiria esta

revolta que vocês tem com ele.

Pf12: É, ele poderia ser um marido de verdade, mas quando ele chegar da Itália ele

vai ver a surpresa que estou guardando para ele, vou me divorciar.

(Silêncio).

Facilitador: Então, alguém gostaria de falar da dor que sente no peito, da angústia

sem motivo, da vontade de chorar que traz uma tristeza?

(Alguns membros cochicharam, afirmando, mas não se expondo ao grupo. Assim

sendo difícil identificar quais membros se mobilizaram).

(Silêncio).

Facilitadora: Quem já sentiu que as atividades, antes prazerosas, não têm mais graça

e o ânimo para fazê-las, não existe mais.

Pf3: Eu acho que todo mundo aqui entende muito bem disso (Suspiro, desta).

(Silêncio).

Facilitador: E então Pm3, como foi para chegar até aqui hoje? (Em seguida,

direcionou a fala ao grupo) O Pm3 já estava no grupo da noite, relatou-nos que havia tido

dificuldades para chegar até aqui, pois tem fobia, então nós o encaminhamos para a psiquiatra

para receber tratamento medicamentoso.

Pm3: Eu vim aqui naquela quinta-feira, ele me recomendou alguns remédios, eu

comecei a tomar e estou me sentindo melhor, deu uma aliviada, hoje foi mais fácil chegar

aqui, não fiquei tão agoniado o coração palpitou, mas nem tanto.
54
Pf12: É, eu também tenho isso, também sinto fobia, fico abafada.

Pf4: Eu, quando estava com depressão profunda, também tinha fobia, entrava em

pânico quando saía de casa, essa é uma sensação horrível, sem explicação, só sentindo para

entender, é algo incontrolável, quem nunca teve não consegue entender, porque é um absurdo

este medo sem explicação.

Facilitador: E você Pf3, como foi à sua semana? (Esta era membro do grupo da

noite, estava esperando iniciar o grupo da tarde para se inserir).

Pf3: Eu tive uma recaída na semana passada, tentei suicídio mais uma vez, é que eu

tenho sentido muito desanimo, não tenho forças para me recuperar. O pior, é que estou

preocupada com minha filha mais nova, de 18 anos. Tenho medo que ela fique igual a mim e

tente suicídio, porque eu vejo que ela está desanimada, triste e se isolando. Estou me sentindo

responsável pela minha filha estar desse jeito, eu sinto como se eu tivesse culpa, que ela está

assim por causa de mim.

Pf11: Capaz, ela não vai fazer isso não. Não se preocupa.

Facilitador: Sim, ela pode fazer isso sim, acontece com alguns depressivos é comum

que aconteça.

Pf12: Há horas que nós ficamos mais ansiosa, né? Que parece que vai dar até uma

coisa. (Direcionando a fala à Pf3).

Pf3: Não, é o contrário, eu fico jogada na cama e não sinto vontade de fazer nada.

Tem dia que eu me estico para desligar a TV com o pé, que é para nem ter que me mexer

muito.

(Todo o grupo concordou, quanto a este aspecto dos depressivos. Falaram e

cochicharam juntos, alguns falaram em voz alta que já passaram por isto, e outros só

concordaram. Não foi possível descrever as falas de todos).

Pf6: A senhora participa de grupo de idosos?


55
Pf3: Já participei, mas não dá vontade, não tenho ânimo.

Pf6: Porque eu fico com um grupo de idosos e nossa! Eles tem um pique, mais pique

que eu, às vezes eu não consigo acompanhar, fico cansada e eles continuam.

Pf12: (Dirigindo a fala para o facilitador) Tu achas, que essa minha depressão é por

causa do meu marido? Tu como psicólogo, o que tu achas que eu tenho?

Pf11: Tu és psicólogo, há muito tempo?

(O grupo dispersou, havia conversas paralelas).

Facilitador: A Pf5 é calada, como é que estas te sentindo?

Pf2: Eu estou me segurando, as coisas tem sido difíceis para mim, mas eu me

recuperei, já estive pior.

Facilitador : Tu já estivesses pior?

Pf2: É, mas eu já melhorei um pouco, eu acho. Só chorei um pouquinho nesta

semana. Não falei porque estou me contendo um pouco.

Pf11: (Chamando a atenção do facilitador) Pois é, a minha filha tem esse problema

no joelho, o marido dela não está nem aí. O senhor como psicólogo, o que acha que ela

deveria fazer em relação ao marido?

(O grupo dispersou, e todos voltaram às conversas paralelas).

Facilitadora: Eu gostaria de dar um palpite... Eu acho que seria interessante se

pudéssemos ouvir o resto do grupo, para nos conhecermos um pouco.

Pf8: Meu nome é Pf8 sou mãe da Pf9, a gente veio aqui para conhecer o grupo.

Pf9: Meu nome e Pf9, estou só conhecendo o grupo, não quero falar ainda.

Facilitador para Pf6: Tu estavas falando que cuida de um grupo de idosos?

Pf6: É, eu participo, nossa é muito bom! Distraio-me bastante, faz muito bem, eu

vejo essa disposição deles. É um exemplo de vida, bastante estimulante, pois eu já entrei em

depressão, fiquei anorexa, mas já consegui me recuperar, assim como me recuperei, gostaria
56
que todos se recuperassem e vissem como é possível. Por isso que eu vim com a Pf5, porque

ela precisa de apoio, de algum um tipo de ajuda.

Pf5: Meu nome é Pf5, sou de Pedras Grandes, atualmente moro em Criciúma com

minha ex-cunhada, tenho 20 anos. A primeira vez que me senti deprimida foi aos 7 anos

quando descobri que fui criada pelos meus avós paternos, os quais tinha como pais. Descobri

que fui abandonada pelos pais, tinha-o como irmão e mesmo como tal, ele não me dava

atenção.

Pf4: Os teus pais de criação são teus avós?

Pf5: Isso. E o meu pai biológico é meu irmão de criação. Quando eu nasci, a minha

mãe biológica foi embora e me deixou com meu pai biológico, que me entregou aos seus pais,

os quais me criaram como filha.

Pf4: Nossa! Confusa essa história!

(O grupo iniciou conversas paralelas voltadas ao comentário da garota).

Pf5: Faz 3 anos que engravidei, os meus pais me obrigaram a casar. O casamento foi

de aparência, para satisfazer a vontade do meu pai. Mas, teve um dia em que cansei e decidi

me separar. O pai quis me mandar para fora de casa, mas, acabou me acolhendo, desde que eu

me mantivesse no quarto, longe dele e das visitas. Vivíamos discutindo porque eles se

preocupavam muito com a aparência, tinham vergonha de ter uma filha solteira e com filho.

Então, houve um dia que decidi sair de casa com meu filho e vim para Criciúma, onde fui

acolhida pela minha ex-cunhada.

Pm2: Só me deixa falar uma coisa... Nossa, com o meu pai era assim também ele

sempre se irritava comigo, brigava por qualquer coisa. De manhã quando eu ia trabalhar, eu

acordava ás cinco da manhã, e o banheiro era no quarto dele. Durante uma semana ele ficou

resmungando. Eu nem fazia tanto barulho assim. Até que um dia, ele se levantou e veio para
57
cima de mim, aí eu larguei um soco na cara dele, arrependi-me depois, mas valeu a pena, pois

adiantou, visto que ele nunca mais me incomodou.

Pf4: Chutou o balde, é? Às vezes, a gente tem que chutar o balde.

Pf5: É, meu pai era assim também. Eu acordava de manhã, ia trabalhar, quando eu

voltava limpava toda a casa, sempre ajudando com as despesas, de certa forma, eu não

precisava deles para me sustentar e nem para sustentar meu filho. A minha irmã não fazia

nada, ficava o dia inteiro dentro de casa. Agora eles estão me convidando para voltar a morar

com eles que eles me aceitam.

Pf4: Tu tinha era que ter chutado o balde, mandar todo mundo para aquele lugar.

Pf1: Ah, sim! Porque isso é o que melhor convém pra eles, sabem que tu fazes falta.

Em certas ocasiões, é melhor sentir saudades mesmo, porque se tu voltares provavelmente vai

ser como antes.

Pf12: É o que eu vou fazer com o meu marido, espera-lo chegar e larga-lo.

(Houve muitas conversas paralelas sobre a necessidade de chutar o balde, às vezes).

Pm2: Quando eu não me sinto bem, gosto de plantar, isso faz com que eu me sinta

melhor.

Facilitador: O senhor gosta de plantar?

Pm2: É, eu tenho uma plantação de aipim, ainda está crescendo, mas eu gosto, gosto

sim, de plantar.

Pf3: Às vezes, eu não tenho força, para fazer nada, nem sei como começar. Depois

que o meu marido se aposentou, começou a fazer os serviços que eu fazia em casa, agora

mesmo que eu não levanto mais da cama.

Facilitador: Pelo que percebo, às vezes, é preciso que nos desfaçamos de algumas

coisas que não nos fazem bem, ou então não fazermos algo que não queremos ou não está no

momento de ser feito.Nem que seja preciso dar um soco no pai, como fez o Pm2, trocar de
58
emprego, reduzir as horas de serviço, conquistar o seu lugar na casa que foi invadido, mesmo

que a intenção de quem invadiu, foi boa. Há horas que é preciso chutar o balde.

(O tempo estava se esgotando).

Facilitador: Então gente, no horário combinado encerra a reunião do grupo, às 18h

horas, já estamos no horário, como fica para vocês?

(Os participantes começaram a se levantar, iniciaram conversas paralelas e foram se

retirando da sala).

Facilitadora: Para quem quiser dar continuidade aos encontros, eles acontecerão todas

as semanas, nesse mesmo horário, até dia 19/11/03.

(Todos demonstraram terem escutado e se despediram).

2.1.2- 2º Encontro

Data: 16/10/03

Tempo de Duração: 16h30min às 18h

(O encontro foi realizado com a presença de dez pessoas, todas vindas do encontro

anteriores. Todos os participantes entraram na sala, cumprimentaram-se e silenciaram)

Facilitador: Então Pf3, como foi a sua semana?

Pf3: Estive na clínica na quinta-feira passada, tu me encaminhaste à psiquiatria,

agora estou fazendo tratamento medicamentoso, estou me sentindo melhor, mais animada. Já

senti a diferença, percebo que estou melhorando. Foi como se Deus tivesse colocado um anjo

no meu caminho. (Referindo-se ao facilitador que a encaixou num horário da psiquiatria).

Facilitador: E a tua semana PF5, como está o teu filho, e tu?

Pf5: O meu filho veio da casa dos meus pais, voltou a morar comigo. Eu gosto muito

dele. Estava morrendo de saudades, mas ele me dá um desgaste muito grande quando fico

cuidando dele, toda a minha atenção se volta ao menino. Seu pai é muito ausente, só vê o
59
menino algumas vezes, mas não faz muita questão, não pede para ver e nem procura. Nesse

final de semana, ele ficou com o menino, mas ficou me ligando, mandando eu ir buscá-lo,

senão ele iria me esquecer e não iria mais me reconhecer como mãe, mas eu só fiquei uma

semana longe do meu filho, ele só fica um final de semana ou outro com o garoto. Meu filho

vai é acabar esquecendo do pai. Na verdade ele queria namorar e com o filho não dá, aí ele

fica jogando o menino nas minhas costas.

Pf1: É, ele faz o que melhor convém, para ele.

Pf4: Sim, o menino pode ficar contigo, sem o pai ver um tempão que não esquece? E

tu ficas uma semana sem vê-lo e o menino já vai esquecer? Capaz! Esse teu ex-marido é um

folgado.

Facilitador: Mas o que tu sentiste, foi relacionado à saudade do menino ou pelo o teu

ex-marido estar namorando?

Pf5: Pelo meu filho, eu estava com saudades dele. Eu fico com raiva porque ele

inventa que eu tenho caso com outras pessoas para só depois, aparecer com outra mulher, para

as pessoas dizerem que eu o troquei por outro e justificar por ele estar aparecendo com outra

mulher. Quando eu era casada, não no papel, só morando junto, nossa união era de aparência,

ele nunca deu importância ao filho, preferia vê-lo longe a dar a tenção e cuidados. Tive que

morar junto com ele por causa dos meus pais, mas ele nunca me tocou depois que casamos,

ele não me dava a menor importância.

Pm2: Se eu encontro esse cara agora, eu nem sei o que faço, acho que eu o

esganaria. O cara tem um filho, que deve ser a coisa mais linda e não se importa, esse cara

merecia era uma boa surra.

Facilitador: (Direcionando a fala à Pf5). É que o Pm2, vive uma situação ao

contrário, tudo que ele queria era ver o filho mais vezes, mas a ex dele, não permite.
60
Pm2: Quando entrei em depressão, tive crises de pânico e a mulher me deixou.

Fizemos a separação de bens, tudo judicialmente.Com isto, foram estipulados os dias de

visitas ao meu garoto e estes são muito pouco. Na época da separação estava no meu pior

momento de crise, então contratei um advogado, não muito bom, ele acabou deixando quase

tudo para a mulher e conseguiu poucos dias de visitas, como eu não estava legal, deixei assim

para não me incomodar. Se eu pudesse, veria o meu filho com mais freqüência.

Pf4: Mas, Pm2, sabias que tu podes recorrer? Se tu estás com licença, tens vários

dias vagos na semana, tem como recorrer.

Pm2: Vou pensar na possibilidade de recorrer, mas pretendo voltar a trabalhar

fazendo poucas horas, a princípio, depois entro no pique normal, se completar um ano de

licença poderei me aposentar por invalidez, por um lado é bom, mas na verdade, isto faria eu

me sentir um inútil, já que sou muito novo.

Facilitador: PM3, como foi sua semana?

Pm3: Foi boa, eu participei de um concurso público para trabalhar na administração

do transporte público de Criciúma. Vamos ver o que dá.

(Silêncio).

Pf4: (Direcionando a fala à Pf7) Fala filha, conta a tua história do acidente.

Pf7: Como vocês estão vendo, estou andando de muletas. Foi um acidente que sofri.

Era a minha melhor amiga quem dirigia. Depois desse dia, ela deixou de ser minha melhor

amiga. Toda sua família começou a falar mal de nós, que queríamos enriquecer à custa deles e

do acidente. Isso foi horrível, porque ela foi culpada pelo acidente, ela estava dirigindo.

Pf4: É naquela: Amigos amigos, negócios à parte.

Pf7: É, eles vivem muito bem, só tiveram que pagar a conta do hospital e alguns

remédios, nós não a processamos, nem nada, só revogamos pelos nossos direitos. Mas eu fico

triste, porque eu não posso fazer nada, aí eu choro, sei que é temporário, mas sempre resolvi
61
as coisas na hora, não deixava para depois. O que está me deixando deprimida é a situação

atual. Estou me sentindo amarrada e mesmo que eu saiba que é por pouco tempo, revolta-me

com o que está acontecendo sem poder fazer alguma coisa, sem poder me defender das

mentiras que ela vem contando aos nossos amigos.

A Pf4: Nós temos uma amizade de muitos anos com a família desta garota, não

temos como cortar relações de uma hora para outra. A família dessa menina é uma família

muito complicada e problemática. Essa garota é a responsável pelo acidente da Pf7, e a mãe

dessa garota que estava dirigindo não admite o erro da própria filha, assim, a põe contra a Pf7

e eu. Inventa mentiras que a filha dela conta a várias outras pessoas.

Facilitadora: Esta parece ser uma situação embaraçosa para vocês.

Pf7: Principalmente para mim.

Facilitador: A Pf2, parece estar melhor esta semana, visto que, na semana passada

não estava muito bem. Como tu estas te sentindo PF2?

Pf2: É, eu estou bem, é que a minha história é um pouco complicada. Quando eu me

casei, o meu marido não passou a noite de núpcias comigo e tem sido assim desde então. Eu

sempre me incomodo com as amantes dele, elas ligam lá pra casa, me enchem de desaforo. Eu

já coloquei Bina no nosso telefone e disse que a próxima vez que eu me incomodar com essas

mulheres, iria me separar dele, mas ele me ameaçou de morte, disse que prefere nos matar, eu

e os filhos, do que viver sem nós. Ele não admite que tem amantes, nega e ri quando é

acusado, mesmo quando eu apresento as provas para ele.

(O grupo permaneceu calado por um tempo).

Facilitador: (Fala direcionada a Pf2). E como tu te sentes nesta relação?

Pf2: Eu gostaria que as coisas não tivessem sido assim, talvez se eu tivesse mais

experiência na época, nada disso teria acontecido, eu não teria me casado com ele.
62
Facilitador: Bom gente, já estamos no horário, antes de encerrar gostaria que vocês

soubessem que tenho mobilizado muito com as histórias de vocês, gostaria de estar presente,

se fosse possível, quando essas coisas desagradáveis acontecem para dar uma ajuda ou um

empurrão em vocês. Mas, de qualquer forma, quero que lembrem que vocês estão no meu

coração e que eu me preocupo muito com vocês.

(Os participantes se despediram, encerrando o encontro).

2.1.3- 3o Encontro

Data: 22/10/03

Tempo de Duração: 16h30min às 18h

(O grupo foi composto por doze pessoas, sendo que duas eram novas e uma era

facilitadora.)

Facilitadora: Boa tarde, gente! Como vocês perceberam, o facilitador não está

presente hoje, ele teve que se ausentar para participar de uma outra reunião.

(Silêncio).

Facilitadora: Vejo que temos novos membros hoje. Gostaria de propor a vocês, se

estiverem se sentindo à vontade, que nos falem dos motivos que as fizeram procurar o grupo.

Pf13: Ah! Eu ouvi no rádio, liguei e decidi procurar.

Facilitadora: E quais os motivos que te levaram a se identificar com o grupo e fazer a

procura?

Pf13: Fiquei sabendo que era um grupo de depressivos e então procurei. Mas assim,

eu não sei o que é a depressão ao certo, vim procurar essas respostas, quero saber como é, o

que é, por que é, o que é sentido?

Facilitadora: Eu posso falar de algumas características que foram apresentadas pelo

grupo, como alguns sentiram em dados momentos. O depressivo, em dados momentos, tem
63
uma sensação de desânimo, falta de vontade de fazer as coisas que gosta e principalmente as

que não gosta. Já ouvi falar em momentos em que há uma doação, e uma entrega, porém esta

entrega e esta doação sente uma necessidade de retorno, reconhecimento ou contribuição.

Pf13: Às vezes, há uma doação muito grande e uma certa necessidade em ter retorno.

Tem uma angústia quando as pessoas são boas para as outras, fazem favores para elas e não

recebem o valor devido.

Pf4: (Para Pf13) Eu acredito que a partir do momento que você dá, é porque você

quer. E se você quer retorno, o problema é seu. Algumas pessoas não estão nem aí se você foi

boa ou não com elas.

Pf1: A partir do momento que te doas para outra pessoa é porque tu queres. Não é um

favor que estás fazendo a ela, é para ti, mesmo que a outra pessoa peça, é tu que fazes por

vontade própria, porque tenta nutrir alguma necessidade tua.

Pf13: Sim, eu sei, mas digo de retorno profissional. Sou formada faz 12 anos e

trabalho na área de assistência social, contribuí muito, mas parece que não tive

reconhecimento, dei tudo de mim e não tive retorno, nem no meio social e nem nos aspectos

profissionais.

Facilitadora: A mudança é lenta e os resultados são poucos.

Pf13: É isso.

Facilitadora: (Direcionando a fala ao Pm3) E os aipins já cresceram?

Pm3: Os aipins agora que saíram umas folhinhas, mas está, está crescendo.

Facilitadora: E o resultado do concurso?

Pm3: Ah! Sai dia 29, mas vamos ver, até que fui bem, acho. Peguei o resultado das

respostas.

Facilitadora: O gabarito?

Pm3: É, mas eu nem conferi, porque senão eu fico ansioso, na expectativa.


64
Pf4: Ah! Então quando sair o resultado nós vamos fazer uma festinha de

comemoração.

Pf7: É, vamos trazer uns salgadinhos e tudo mais.

Facilitadora: Desejo boa sorte no resultado.

(O grupo se manifestou em concordância).

Facilitadora: E então Pm2, viu o filho este fim de semana?

Pm2: Nossa! Eu vi, mas credo! Preparei-me para pegar o menino na sexta à noite,

mas a ex-mulher disse que o traria no sábado de manhã. Não trouxe, liguei e ela disse que o

levaria só à tarde. Então, peguei o carro e fui buscá-lo. Chegando lá, ela disse que o menino

estava meio resfriado, que não era para eu levá-lo. Daí, eu me revoltei, saiu arrancando o

carro e bati no muro. Quando estava quase chegando em Criciúma, ela ligou dizendo que eu

poderia voltar e pegar o menino. Dei a volta no carro, peguei o menino e voltei. É esse tipo de

coisa que me deixa revoltado com ela!

Pf4: Ixe! Ela manda em ti.

Facilitadora: Deixas que as coisas sejam do jeito que ela quer.

Pf4: Já vi tudo! Essa paixão enrustida. A dondoca diz que não vai deixar tu pegar o

menino e tu chegas a bater o carro, aí ela diz: Ai, bateu o carro por minha causa. Depois ela

liga dizendo que tu podes buscar o menino. Do jeito que ela quer, mesmo divorciados, ainda

quer te controlar e tu deixas.

Facilitadora: Essas situações onde tu te anulas, não são saudáveis pra ti. Vejo que na

maioria das vezes, foi assim que aconteceu, e se tu deixares vai continuar. Tu deixas que ela

aja dessa maneira contigo, e acredito que esta anulação não é muito saudável para ti.

Pm2: É, é...

Pf4: É rapaz, mulher é assim, se deixar faz gato e sapato de ti.


65
Pf7: É porque mulher é pior que homem, se tu deres o dedo, ela vai querer a mão, e

se der a mão, ela quer o braço.

Pm2: É que eu fico tão ansioso para ver o eu filho que eu nem ligo para nada. Eu só

tenho o fim de semana para vê-lo, tenho que ficar a semana inteira esperando e ela diz que

não vai dar. Claro que eu brigo com ela, chego a bater boca e tudo.

Pf4: Mas é isso o que ela quer, mostrar que ainda manda em ti.

Facilitador: Pm2, presta mais atenção nestas situações e vê o que tu tiras disto. O que

te faz bem, o que te faz mal, talvez algumas coisas acontecem porque tu permites. Começa

reivindicar o teu espaço, se achares necessário.

Pm2: É isso mesmo.

Facilitadora: Falando em filhos, como é que está o teu filhote Pf5? Estás com uma

cara boa.

Pf5: É só a cara mesmo, porque eu estou um lixo.

Facilitadora: Então conseguiu disfarçar muito bem! Porque está com o cabelo

arrumadinho, com adereços e bem enfeitado.

Pf5: Semana passada, fui receber o pagamento, eu estou afastada, passei pela perícia

e mandaram eu me encostar por causa da depressão. Quando cheguei no escritório, a

secretaria me mandou esperar em outro lugar. Quando saí ouvi ela sussurrando: vai morrer

bem longe daqui. Isto me deixou muito chateada. Senti-me muito mal.Também, recebi uma

ligação do pai do meu menino dizendo que me ajudaria com o dinheiro para o médico e se

precisasse, mandaria o dinheiro para os remédios. Ele se nega a pagar pensão para o menino.

Eu já disse que se ele não pagar por bem, vai pagar por mal. Ele nunca ajuda o menino em

nada. Sempre dizia que não tinha dinheiro para comprar as coisas para a criança, mas quando

era para beber lá com os amigos, ele tinha. Bom, daí como ele me falou que ia mandar

dinheiro para o menino, eu peguei o meu pagamento e comprei uma roupa nova, para dar uma
66
mudada no visual, Depois que aquela grossa disse: Vai morrer pra lá, me senti tão mal, tão

caída que eu pensei: Ah, hoje eu vou mudar, comprar algumas coisas que me deixem com

uma aparência melhor.

Facilitadora: Sim, e ficou!

Pf4: É, está tão bem. Parece ter tido bons dias.

Pf5: Não, credo! Estou tão cansada, meu filho me deixa sem energia, tenho que fazer

todas as vontades dele. Ele não pára, é difícil de controlá-lo. Eu não consigo brigar com ele.

Não tenho coragem de bater nele.

Pf4: Mas, às vezes, dar alguns tapas não é ruim, é preciso para impor limites.

Pf5: É que eu me lembro do meu pai e da minha mãe e eu não quero ser nada do que

eles foram para mim.

Pf1: Olha, nem sempre bater ou brigar é sinal de falta de amor, é para o bem dele.

Sabe, ensinar que existem limites e nem tudo pode ser do jeito que ele quer.

Pf5: É, mas nem sei como fazer e não consigo. Sei que deveria, mas fico com pena,

tenho medo de ele não gostar de mim. Há dias que eu tomo remédio para dormir e fico zonza.

Ele fica chamando a minha atenção, diz que não quer dormir. Algumas vezes, resisto à

vontade dele, outras não. Também se estou muito cansada faço ate as vontades dele pra ele

não ficar berrando no meu ouvido.

Pf4: Tu já pensaste em botá-lo ele numa creche?

Facilitadora: Na creche é um lugar muito interessante, a criança aprende a ter limites.

Pf13: Aprende a se socializar com outras crianças.

Pf7: A minha sobrinha era assim, impossível, foi entrar na creche que melhorou da

água para o vinho. É que são muitas crianças e querendo ou não, as professoras ensinam a dar

limites.
67
Facilitadora: Assim, tu podes ter mais tempo para ti, cuidar-se, arrumar o cabelo, ou

outras coisas como cuidar de si mesma.

Pf7: É mesmo, assim quem sabe tu cuida mais de ti, sair com os amigos.

Facilitadora: Até, para se recompor e se curar.

Pf5: Pior é que não tempo para sair, muito menos pra fazer amigos.

Facilitadora: Olha, então está comprovado que um tempo para ti vai te fazer bem.

Quem sabe tu arrumas um tempo, vai ver tu precisas um pouco disso. Ter tempo para poder se

olhar no espelho, ver como é que estás.

Pf2: (Direcionando-se a Pf5) Tu estás criando o meu marido.

Facilitadora: Lembra quando ela contou do marido, aquela história das outras

mulheres.

Pf2: É, ele foi criado assim, muito sem limites. Os pais dele nunca disseram para ele:

Meu filho, não faz assim com as mulheres. Esse tipo de coisa não é legal. Tanto que hoje ele

faz o que bem entende, sem se preocupar em machucar as outras pessoas. Por isso que eu

acho que tu deve prestar mais atenção nessas coisas, às vezes é preciso um puxão de orelha,

um não, impor limites também é sinal de amor.

Pf5: Eu sei, mas é que, às vezes, não consigo. Também há vezes que eu digo que não,

mas ele insiste muito e como já estou assim, cansada, eu deixo. Credo que gênio ruim! Muito

parecido com o do pai dele, todo mundo diz.

Pf6: É mesmo, mas só diz quem conhece o pai dele de verdade, porque quem não

conhece, diz que ele é um santo.

Pf5: O pai dele não faz nada para ninguém, só o que ele quer. Quantas vezes eu pedi

para ele fazer as coisas para o menino ou para mim e ele nunca fazia.

Pf4: Estão vendo, ainda é apaixonada. Só pode, outra apaixonada recolhida. Não é,

Pf5?
68
Facilitadora: O que é que tu achas Pf5?

Pf5: Não, não sou apaixonada por ele, mas é que fico sentida porque ele nunca fez

nada por mim, não me levava para sair, nem para dar voltinhas comigo, agora que está

namorando outra, fica desfilando com ela por aí.

Pf7: Eu acho que é assim: como tu nunca namoraste mais ninguém, só ele, tu não

consegues imaginar outra pessoa.

Pf5: É! Ele foi meu primeiro namorado, primeiro tudo. Acho que ele só queria tirar

um “sarrinho” mesmo. Aí, eu estava toda apaixonada. Como eu engravidei meu pai fez ele se

casar comigo e ele não queria, ficou revoltado. Depois do casamento ele ficou esses dois anos

sem olhar na minha cara direito, brigava comigo, não ajudava a cuidar do menino, só fazia o

que queria, não ajudava em nada, eu não podia falar nada ele já achava ruim, era tudo muito

ruim, muito mesmo.

Facilitadora: Pois é Pf5, parece-me que estás educando o teu marido, deixando o teu

filho ficar igual a ele.

Pf4: (Falando à Pf5). E o Pm2, vocês têm é que trocar os telefones para dar uma

saidinha, conversarem um pouquinho, aí depois, quem sabe.

Facilitadora: Um pode animar o outro a sair, a Pf5 pode começar fazendo uma

amizade com o Pm2, depois tu tiras ele de casa e vocês podem até sair para dançar.

Pf4: É ir na casa do rock, viu. Um resolve o problema do outro. Ela não tem amigos

para sair e ele tem fobia, um empurra o outro.

Pf4: Nós estamos dando uma de cupidos com o Pm2 e a Pf5. É que nós gostamos

muito de vocês e queremos vê-los bem.

(Risos de todo o grupo).

Pf2: Depois não esquece de pegar o telefone dela.


69
Pf7: Oh! Final de semana com o filho de um e o outro final de semana com o filho do

outro.

Pf4: (Falando ao Pm2) Viste, tu podes suprir a tua carência cuidando do filho dela, já

que tu adoras criança.

Facilitadora: (Para Pf5e Pm2) E daí! O que vocês acham?

Pm2: É, a Pf5 estava falando daquelas coisas do ex, credo, eu já sou bem diferente,

bem explosiva, qualquer coisa eu explodo.

Pf4: É... Trocando de assunto?

Pm3: Ás vezes, eu preciso é dos nervos do Pm2, porque eu deixo as pessoas fazerem

o que elas querem e nem reclamo.

Pf4: Oh! O Pm2 é muito parecido com essa aqui, (referindo-se a filha Pf7), qualquer

coisinha, já explode.

Facilitadora: Pm3, o senhor é sempre calmo, assim tranqüilo?

Pm3: É, mas teve um dia desses que eu combinei com o meu amigo de ele passar às

7h30min lá em casa para nós vermos o nosso estágio. Eu preciso terminar este estágio até o

final do ano, porque se eu passar no concurso, vou precisar do estágio. Aí deu 9h30min e ele

não tinha aparecido, quase que eu não ligo, mas a minha mulher que já é mais nervosinha,

incomodou pra eu ligar. Liguei e disse: Olha, tu vens me buscar pra nós irmos ver esses

negócios do estágio, porque eu preciso fazê-lo até o final do ano. Ele veio e nós fomos atrás,

já conseguimos a escola e estou com o estágio marcado.

Facilitadora: Ah, já está com o estágio marcado? Tudo no mesmo dia?

Pm3: Tudo no mesmo dia.

Pf4: Viste! Se o senhor não tivesse ligado e exigido, não tinha conseguido marcar

ainda! Viu aprendeu um pouquinho com o Cris!


70
Facilitadora: É, às vezes é preciso se impor. Talvez, não precise ser do jeito

estourado do Pm2, não que não resolva, mas se tentar amenizar o nervosismo, não deixar

passar, impor-se quando preciso.

Pm3: É, é... Temos que ser nervosos de vez enquanto.

Pf2: Eu sou assim, que nem o Pm3, os outros fazem o que bem entender.

Pf7: Eu já sou estourada, de tanto ficar berrando por qualquer coisa, mas ninguém se

importa. O meu caso é o contrario, eu tenho é que não falar nada, ficar quieta, aí eu acho que

as pessoas não dão importância.

Facilitadora: Cada um tem que descobrir seu modo de ser ouvido.

(O tempo estava esgotado)

Facilitadora: Gente, nós estamos no horário! Como fica para o grupo, podemos

encerrar agora? O que vocês preferem?

(O grupo concordou, encerramos o encontro e nos despedimos).

2.1.4- 4º Encontro

Data: 29/10/03

Tempo de Duração: 16h30min às 18h

(O grupo contou com a presença de nove pessoas, entre elas dois facilitadores e um

novo participante).

Pf3: Ai gente, ontem eu fiz uma correria com minha filha. Ela está com problemas na

coluna, escoliose. Aí, eu a levei ao médico e para fazer exames.

Facilitadora: Nos encontros anteriores a Pf3, não tomava iniciativa para falar, ficava

sentada encolhida, surpreendeu-me por ter tomado a iniciativa para falar de um jeito

espontâneo e descontraído.
71
Facilitador: Hoje temos um novo membro. Vou me apresentar a ti. Meu nome é

Facilitador, estou no grupo desde o começo, sou psicólogo e facilitador do grupo, mas vocês

podem me considerar como um membro e se sentirem à vontade para falarem e fazerem o que

quiserem dentro do grupo.

Pf14: Meu nome é Pf14, moro em Criciúma e sofro de depressão desde os 7 anos, ora

melhoro, ora recaio, por isso a gente precisa de ajuda, porque é difícil se recuperar sozinha,

tomo medicamentos, mas eles não me ajudam muito, pois voltei a cair em depressão. Às

vezes eu não consigo dormir, tenho muita dificuldade.

Pf3: Eu me acordo só às 9h horas da manhã, porque o marido me chama, senão, meu

sono vai longe.

Facilitador: Falando nisso, já estás conseguindo dormir, Pf2?

Pf2: Não, ainda não. Eu estou só com dorme-dorme.

Facilitador: É muito fraco, né? Tu já estavas tomando antes e não estava conseguindo

dormir?

Pf2: É, não me adianta nada este remédio.

Pf14: Eu também tenho medicamentos que não conseguem me fazer dormir.

Facilitador: Mas amanhã tu tens consulta para ver se esse teu tratamento

medicamentoso, né?

Pf2: Tenho, amanhã eu venho. Pego a minha menina e venho. Só vou depender do

carro.

Facilitador: E como foi tua semana?

Pf2: Olha, foi bem. Estou me sentindo melhor sabe, mas, mas... Acho que forte não é

bem a palavra, nem mais pra cima... Eu estou um pouco melhor.

Facilitador: Mas, tu pareces estar melhor.


72
Pf2: É! Hoje o meu marido saiu de casa e perguntei se ele vinha cedo porque eu

vinha para o grupo. Ele disse que não sabia. Aí, eu nem me estressei. Não quis bater boca com

ele. Deixei. Se der deu, se não der não deu. Então, as 16h, o meu filho veio me avisar que ele

tinha chegado. Aí, eu tomei um banho e vim.

Facilitador: Já não deu mais tanta importância pras atitudes dele?

Pf2: Ah é… antes eu perdia tempo batendo boca com ele. Entrava em discussão,

brigava, mas hoje eu nem liguei. Deixei como estava, porque não iria adiantar nada, e eu só

iria ficar irritada.

Pf14: (Fala direcionada ao facilitador) Escuta só, a gente pode falar tudo o que

quiser? É porque eu não sei se devo falar as coisas. Porque tu não me falaste nada, nem me

perguntaste nada. Então, eu não sei quando posso falar ou não.

Facilitador: Quando tu te sentires a vontade para falar de ti e sentir que deves falar,

sinta-se à vontade.

Pf14: Ah! Tudo bem! Se bem que eu não sei se vou querer falar tudo o que penso a

hora que eu quiser, porque eu conheço o Pm2, ele é meu vizinho. Aí eu acho que ele vai ficar

um pouco envergonhado, não vai se sentir à vontade comigo aqui... Então, eu posso falar tudo

o que eu quiser, na hora que eu quiser?

Facilitador: Se tu se sentires que convém falar, tudo bem, se contribuir para o

movimento do grupo, será ótimo.

Pf14: É porque, eu acho, que tem é que botar para fora o que está incomodando.

Facilitador: Sim.

(Silêncio)

Facilitador: O senhor seu Pm3, como foi a semana?

Pm3: Foi boa, né! Eu estava escutando o que ela estava falando da filha dela

(referindo-se a Pf4) e lembrei do meu filho. Ele já tem 23 anos e estava trabalhando e teve
73
uma lesão na coluna. Aí, ligaram lá para casa avisando que ele estava no hospital, pois tinha

sofrido um acidente.

Pm2: Mas o senhor não ficou quase louco porque ligaram para tua casa e deram o

recado assim, no seco?

Pm3: É, mas foi quando eu cheguei em casa que me deram o recado, mas o menino já

tinha chegado. Então eu nem me preocupei. Mas já falei que é esse skate que vai dar problema

na coluna, mas ele não escuta, é teimoso disse que ele é que sabe dele.

Facilitador: Sim, ele já tem 23 anos, já sabe o que quer e o que não quer.

Pm3: Eu me preocupo muito com meu filho. Dou conselhos, preocupo-me com as

atitudes que ele tem, atitudes que algumas vezes não são de acordo com o que acho certo, mas

ele parece não estar nem aí.

Facilitador: E como que o senhor se sentiu esta semana?

Pm3: Ah, eu fiquei um pouco triste essa semana. Chorei um pouco, mas já passou.

Não chorei muito, já fiquei bem.

Facilitador: Talvez por essa visão cultural de homem, que homem não chora, tem que

ser forte, às vezes fica difícil para os homens saberem que podem chorar.

Pm3: É... Tem que chorar pouco. Eu acho que o homem que cuida da família, tem

que ser a pessoa mais forte da casa, por isso que eu evito chorar.

Facilitador: Mas é interessante saber que nem sempre a depressão e tristeza são as

mesmas coisas. Às vezes, quando os filhos se tornam independentes começam a cuidar de si,

os pais se preocupam, sentem que eles já são grandes e começam a cuidar de suas vidas, isto

pode deixar os pais tristes, mas não quer dizer que seja depressão.

Pm3: Eu sei o quanto isto é comum, mas sei que posso vir a me sentir sozinho, eu e a

minha esposa moramos em uma casa grande e sem os filhos. O espaço vai ser muito grande.

Pensando nisso já olhei outras casas menores para vender a minha e comprar outra.
74
Facilitador: Sim é um processo natural, os filhos acabam saindo de casa e sobra o

marido e a mulher, nada mais normal de que os pais sintam a falta dos filhos, a falta de gente.

Pf14: Ah! Mas depois vêm os netos, eles vão começar a andar para lá e para cá, vão

fazer bagunça na casa.

Pm3: É, é verdade.

Pm2: (Para Pm3) O senhor não ficou agoniado quando ligaram para sua casa dando

essa notícia sobre seu filho?

Pm3: É, eu fiquei sabendo quando cheguei em casa, mas o meu filho já estava lá.

Pm2: Nesta semana, ligaram para a nossa casa, falando que meu irmão estava jogado

lá no bar, porque alguns garotos haviam batido nele. Eu estava me sentando à mesa para

jantar, a mão tinha posto uma pizza no forno. Putz... Mas depois dessa notícia eu não consegui

engolir mais nada. Fiquei nervoso, não agüento essas coisas.

Facilitador: Foram ligar justamente para ti? Como se não soubessem os problemas

que tu já passa.

Pm2: Nossa! Deu-me um embrulho no estômago que eu não consegui comer mais

nada. Estragou-me o resto da semana.

Facilitador: Eu achei que tu estavas com uma aparência boa. Achei ate que tivesses

ganhado um pouco de peso.

Pm2: Não, ainda estou muito magro, mas já foi pior. Ba! Eu já estive bem mais

magro.

Pf3: Ai, quem me dera se eu perdesse o apetite assim! Mas como eu quero não

consigo.

Pf6: Então eu troco um pouquinho com a senhora.

(O grupo dispersou.).
75
Facilitador: Eu estava conversando com a Pf5 e ela toma quatro tipos de

medicamentos. Também fica meio sonolenta. Então, gente vocês tem que começar a perceber

quando o desânimo e sono são causados pela medicação ou são sintomas de depressão.

Pf6: Eu já falei pra Pf5, eu acho que esta leseira dela é tudo por causa dos remédios

que ela toma.

Facilitador: É, nós já marcamos com a Psiquiatria para ela. Amanhã ela vem aqui.

Falando nisso, como foi o primeiro dia do teu menino na escola? E o aconteceu no teu

serviço?

(Grupo dispersou).

Pf14: Eu também tomo medicamento, ás vezes, eu até me esqueço e tomo duas

vezes.

Pm3: É só fazer uma lista e colocar na parede.

Pf14: Ah! Toma, mas depois esquece que tomou.

Pf3: Quem cuida dos meus remédios é o marido. Quando eu fico jogada é ele que faz

todas as coisas. Quando eu tento me meter para fazer o almoço, ele diz: deixa que eu faço. Eu

deixo mesmo. Ele cozinha bem, nem preciso fazer nada. Fim de semana quando vai gente lá

em casa é tudo ele que faz. Eu nem ligo, é melhor pra mim mesmo.

Facilitador: Dona Pf3, parece estar bem, está com uma carinha ótima.

Facilitadora: Falando alto, gesticulando bastante.

Facilitador: Está com uma cara muito boa.

Pf3: Tem que ser, né meu filho! Se a gente não se levantar, ninguém se levanta por

nós.

(O grupo dispersou-se).

Pm2: Deixe-me contar a vocês... Naquele dia que ligaram para a minha casa, falando

que o meu irmão tinha apanhado. Eu fui para o bar e corri atrás dos caras, mas não consegui
76
alcançá-los. Pulei o muro do dono do bar, mas este disse que ligaria para a polícia e nos

denunciaria por invasão domiciliar. Nossa! A sorte deles que conseguiram fugir, porque se eu

os pego, quase mato, pois encheram meu irmão de porrada, em dois.

Facilitador: Puxa! Tu já tens se incomodado bastante, ainda vem mais estas coisas

para tu ficares se preocupando.

Pf3: Oh! O Cris está mais revoltadinho, quando ele chegou aqui estava de cabeça

baixa, deixando a mulher mandar nele. Agora já quer sair batendo em todo mundo. Antes ele

falava que bateria, mas falava calmo, parecia que quase não tinha força. Agora parece que

está com a bateria a todo vapor.

Pm2: Parece uma coisa! Bati o carro, veio uma multa. Parece que quanto mais tento

me livrar, ajeitar-me, mais eu me incomodo com coisa ruim.

Facilitador: Agora eu quero que tu penses, nessa semana, no que é teu e no que é dos

outros. O que é responsabilidade tua e o que é dos outros.

Pm2: É, parece uma coisa, tudo que é de ruim está vindo pra mim.

Facilitador: Mas, de certa forma isso tudo não é responsabilidade de ninguém, são

coisas que tu procuras e te permite.

Facilitadora: Tanto que não foi o muro que bateu no carro.

(A conversa dispersou mais uma vez, já estava no horário).

Facilitador: Acho que podemos encerrar por aqui, já estamos esgotando o horário.

( O encontro foi encerrado e todos se despediram).

2.1.5- 5o Encontro

Data: 12/11/03

Tempo de Duração: 16h às 18h30min


77
(Este encontro contou com a presença de seis pessoas, sendo que uma era a

facilitadora, quatro eram membros do grupo e uma era convidada de uma das participantes. A

Pf7 conseguiu vaga no atendimento individual, então, teve que abandonar o grupo).

Facilitadora: Boa tarde, gente! Como vocês têm passado?

Pf4: É, não está fácil, ontem levei a filha à delegacia para registrar a ocorrência do

acidente e ela não quis, bateu perna que não queria. Aí, o delegado disse que se der luxação na

perna e mais tarde ela quisesse processar a outra garota por causa do acidente ela não poderia.

Daí ela falou: Está bom, vou pensar, vamos embora que eu vou pensar. Agora, ela está lá

pensando, brava porque não consegue encostar o pé no chão e não consegue andar, então, fica

toda agoniada.

Facilitadora: É, eu imagino, querendo dar um passo maior que a perna.

Pf4: E eu não sei, não conheço a minha filha, tinhosa. Mas agora ela esta melhor,

depois de quarta passada que ela fez a terapia ela ficou melhorzinha.

Facilitadora: Que bom, fico feliz em saber que a Pf7 está se recuperando. Assim será

uma preocupação a menos para ti.

Pf4: Graças a Deus! Porque só o que a gente tem falado lá em casa é acidente,

processo, processo e acidente. Isso já cansou a gente, mas deixa, deixa estar.

(Risos de todos)

Facilitadora: E a senhora Pf3, como tem passado?

Pf3: Eu estou bem, até. Estou me sentindo bem melhor.

Pf2: (Falando para a Pf3) Dá de perceber pela cara da senhora, que estás

melhorzinha.

Pf4: É verdade.

Pf3: Tanto senti, que falei pra essa aqui (Pf15, novo membro) vir comigo que ela iria

se sentir melhor, que o grupo é muito bom.


78
Facilitadora: (olhando para Pf15) Seja bem vinda ao nosso grupo.

Pf3: Eu não sei se ela quer se apresentar.

Facilitadora: Tu queres te apresentar?

Pf15: Eu não sei o que eu faço, se eu me apresento ou se eu posso falar qualquer

coisa.

Facilitadora: Fique à vontade.

Pf4: Podes fazer o que tu quiseres, se quiseres chorar, chora, se quiseres falar, fala.

Pf15: Meu nome é Pf15, vim conhecer o grupo porque a Dona Pf3, têm falado muito

bem de vocês e ela percebeu que eu não tenho estado muito bem, são várias coisas que têm

me acontecido e aconteceram.

Pf3: É que quando ela estava grávida de três meses, o marido dela morreu.

Pf15: É, foi uma barra muito forte, ter que criar minha filha sozinha, sem ninguém

para ajudar. Sem ninguém, não, tinha minha mãe, mas não era o que eu queria. Eu fiquei com

depressão pós-parto de não querer nem olhar a menina. Eu fiquei jogada, cheguei a ser

internada na Casa de Saúde do Rio Maina, pra ver se eu conseguia reagir.

Facilitadora: E como foi?

Pf15: Aí, eu fiquei lá por um tempo, e tive que começar a me recuperar. Bom, eu me

recuperei, mas há vezes que eu olho para minha filha e penso que seria melhor que ela nem

tivesse nascido. É até um pecado, que Deus me perdoe, mas, às vezes, eu imagino que se eu

não estivesse grávida do meu marido na época que ele morreu, não seria tão ruim.

Facilitadora: Talvez, tu não terias sofrido tanto.

Pf15: É o que eu penso. Não teria sido essa barra e que eu não teria entrado tanto em

depressão. Quando eu descobri que estava grávida, o meu marido já tinha morrido.

Facilitadora: Então ele morreu sem saber que era pai.


79
Pf15: Morreu, morreu sem saber de nada. Aí eu achei que a criança me ajudaria na

recuperação, mas foi pior ainda. Hoje eu não me sinto mãe. Eu sei que é horrível, mas para

mim, ela é como uma irmã.

Pf2: Mas isso é normal que aconteça, ainda mais passando pelo que tu passaste.

Pf15: É que a minha menina foi praticamente criada pela minha mãe, na época eu

estava com síndrome do pânico, não conseguia sair de casa. Tudo que eu ia fazer eu ficava

pensando no que poderia dar errado.

Facilitadora: A mente fica maquinando.

Pf15: Bem assim mesmo, sempre maquinando. Quando eu pensava em fazer alguma

coisa a mente começava, pipipi, pipipi e pipipi, aí eu acabava não fazendo nada.

(Risos do grupo).

Pf4: Eu imagino, eu também já tive.(risos).

Pf15: Então tu sabes do que eu estou falando né! Era uma loucura, o estômago

embrulhava, eu me sentia fraca, aí não pegava a menina com medo de deixar cair no chão, ou

me dar uma tontura. Quando eu ficava sozinha, ficava apavorada porque poderia acontecer

alguma coisa e não ter ninguém para me atender.

Pf4: É, eu sei, é bem assim, tudo a gente tem medo de fazer, tudo pode dar errado, a

gente pensa nas diversas maneiras de dar errado e acontecer algo de ruim com a gente.

Pf15: É bem assim mesmo. Com todo esse medo eu não fazia mais nada. Acomodei-

me, deitei na cama e ali fiquei. Foi por isso que mandaram me internar.

Facilitadora: Para tentar te fazer reagir de algum jeito.

Pf15: É bem assim que aconteceu.

Pf4: Bem, agora que a minha filha não participa mais do grupo, está fazendo

individual com a facilitadora, eu me sinto mais à vontade para relatar a minha vida para

vocês. Eu também perdi o meu marido. Eu tinha duas filhas e foi uma barra. A minha vida
80
começou a cair. Tudo começou a cair, foi desagradável demais. Eu acredito que foi onde tudo

começou a explodir. Porque na verdade a minha vida foi assim: perdi o meu pai com quatorze

anos, ele estava no hospital, de repente morreu de um dia para o outro. Mas eu não chorei com

a morte do meu pai. Não sofri muito, também porque ele não era um pai muito presente. Não

era apegado a nenhum filho, só se preocupava em trabalhar e botar comida dentro de casa,

mas em dar atenção aos filhos, carinho, nunca foi o jeito dele. Foi aí que minha vida começou,

porque aos quinze anos, eu pulei a janela do meu quarto e fui embora. Com dezessete para

dezoito anos eu casei. O meu marido era uma pessoa muito boa, era um homem fantástico. A

gente se dava super bem. Ele sempre foi muito carinhoso e muito afetuoso comigo. Foi um

homem maravilhoso. Aí, quando ele morreu, eu perdi toda minha força. Aí o que eu não

chorei quando meu pai morreu, eu chorei quando o meu marido morreu. Eu acho que aí eu

juntei tudo.

Facilitadora: Também porque o teu marido representou uma figura masculina muito

mais presente não é? Era carinhoso, atencioso, afetivo. Quando ele morreu, tu tivesses muito a

perder.

Pf4: É verdade, foi com o meu marido que eu me sentia amada e segura.

Pf15: Sabe que ouvindo ela falar da figura do marido, eu me lembrei que realmente

um homem faz muita falta, porque quando a minha filha nasceu, havia a minha mãe para

cuidar da menina, eu cuidava, não faltava nada pra ela, mas eu queria que o pai dela estivesse

ali, cuidando da filha. Aquela situação me revoltava. Eu sentia falta era daquela figura

masculina, o pai da criança, isso era revoltante. Aí, a minha vida ficou um inferno. Nós dois

nos separamos na época em que engravidei, mas nós ainda nos gostávamos muito. Quando ele

morreu não sabia que eu estava grávida.

Facilitadora: (Para Pf15) É, a historia de vocês é muito semelhante. A perda do

marido de vocês foi marcou muito.


81
Pf4: Ah, sim! Às vezes, eu chego a pensar que seria melhor eu não ter conhecido o

meu marido. Aí eu não sentiria falta de nada, não teria sofrido tudo o que eu sofri. Depois que

ele morreu, eu tive que me desdobrar em duas. Agora eu sou o homem da casa, eu tive que

aprender a me virar sozinha. Eu acho que é por isso que não me caso, porque não tem um

homem que me faça sentir segura. O meu marido era muito tranqüilo, me passava muita

segurança. Eu batia o carro, ligava pra ele, ele me fazia resolver as coisas com muita

facilidade. Ele não esquentava a cabeça por pouca coisa. (Risos). Acho que ele não

esquentava a cabeça com nada. Eu viajava, ficava um mês fora, ele não me fazia nenhum

interrogatório, confiava muito em mim e muito nele, era um casamento muito seguro, a gente

se dava muito bem. Por isso, à vezes, eu imagino que seria melhor que eu não o tivesse

conhecido. Eu não saberia das coisas que me fazem falta. Sabe, depois que ele morreu eu tive

que me tornar uma pessoa muito forte. Eu tive que dar segurança para as minhas filhas, a

sobrinha e o namorado.

Facilitadora: E para ti, quem daria segurança?

Pf4: É, e pra mim, quem vai dar segurança? Eu não tenho mais isso. Foi só o meu

marido quem me fez sentir segura. Tanto que eu nunca falei nada sobre isso nas reuniões

quando a minha filha vinha, para também dar espaço para ela, para cuidar dela primeiro.

Depois que o meu marido morreu, eu tenho feito uma luta diária para não cair em depressão.

Tento me manter ocupada o tempo inteiro, preocupo-me com todas as pessoas, sejam elas

quem forem.

Facilitadora: É, eu vejo que tu és uma pessoa muito forte. Que está sempre dando

atenção para todo mundo, preocupando-se com todo mundo. Mas que não demonstra que tem

fraquezas e que, às vezes, precisa de atenção.


82
Pf4: Não, não demonstro, tanto que eu tento estar sempre ocupada. Às vezes, eu

choro, mas ninguém vê, e depois eu já me levanto, já começo tudo de novo, toco a bola para

frente e vamos lá! Por isso que eu não pego férias.

Facilitadora: Senão, tu cais.

Pf4: Caio, caio e não me levanto mais. Depois que o meu marido morreu, eu fiquei

com uma depressão horrível. Foi muito difícil me levantar. O meu marido morreu de uma

hora para outra, ele estava no hospital. Fazendo tratamento e de repente morreu. Ele tinha que

filtrar o sangue, pois o problema que tinha, criava uma membrana no canal dos rins, assim

produzia pouca urina. No dia que ele recebeu alta, os rins entupiram, o canal fechou e entrou

líquido nos pulmões e outras coisas. Aí que eu vi como é muito fácil morrer. As pessoas

morrem do nada. Foi como eu desenvolvi o pânico, tinha medo de tudo.

Pf15: É, então tu me entendes. É que são mortes muito cruéis, inesperadas.

Pf4: Ele fez falta para muita gente, nossa. Se eu tivesse casado com outro, não teria

sofrido tanto.

Pf2: É, o marido de vocês tão bom, e morre cedo o meu é um credo nosso.

Pf3: (Para Pf15) É que o marido é igual ao teu pai com a tua mãe.

Pf15: (Para Pf2) Não rói, mas não larga o osso.

Pf2: É.

Pf4: Olha, mas você nem deseja a morte dele, porque você não sabe o quanto faz

falta.

Pf2: Não, nem é isso. É que eu entendo assim, né. A falta que o teu marido deve ter

feito. Eu me coloco no teu lugar e imagino como ele deve ter sido importante e a falta que ele

te faz.

Facilitadora: Tu sabes o valor e a importância que uma pessoa dessa tem.


83
Pf2: É a falta que faz, porque eu nunca tive uma pessoa que me amasse e cuidasse de

mim. O meu marido é todo ao contrário. Eu acho que eu preferia ter vivido uma história assim

do que estar na minha história. Na verdade, essa é o tipo de coisa que eu não conheço.

Pf4: (Fala direcionada a Pf2) E tu hoje, ficou tão quietinha, fala um pouquinho.

Pf2: Não, não, hoje eu estou bem. Eu estou aqui quietinha, mas estou só ouvindo.

Nem sempre é preciso falar. Muitas vezes a gente aprende só escutando. Pelo menos eu

aprendi muita coisa no grupo.

Pf4: É verdade, a gente se identifica. Aí pega um pouquinho daqui, outro pouquinho

dali.

Pf15: A gente até vê que existem problemas maiores ou iguais aos nossos. O meu

problema já não parece tão grande. Tem gente que sofre tanto quanto eu.

Facilitadora: O grupo tem essa vantagem. Várias vezes eu vi um dando dica para o

outro aqui dentro, mostrando-se preocupado com o outro e tentando achar uma solução para o

problema de alguém.

Pf4: É, né, a gente se ajuda! (risos).

Pf2: Eu quem diga. Como melhorei depois que vim pra cá.

Facilitadora: Eu também senti a senhora melhor.

Pm3: É, é, é verdade. Estás até mais corada.

Pf4: E o senhor Pm3, como é que estão os aipins? Ficou quietinho, hoje.

Pm3: Já floriu, já têm umas folhas, já esta bem altinho.

Facilitador: É, seu Pm3?

Pm3: Já está, já está.

Facilitadora: Hum! E o curso, passou?

Pm3: Passei, na quarta-feira retrasada saí daqui e fui lá ver, e o pior é que eu passei.

Facilitadora: Pior?
84
Pf4: O que é isso seu Pm3? Pior? O senhor não queria passar?

(Risos do grupo).

Pm3: Foi bom. (risos). É modo de dizer, de trinta e seis eu fiquei em décimo oitavo,

bem no meio.

Pf15: E que concurso é esse?

Pm3: É de transporte, do Transcriciúma.

Pf4: Dos terminais?

Pf15: Ah, sei.

Pm3: Então, é aí onde eu vou trabalhar.

Facilitadora: Só falta terminar o estágio.

Pm3: Já estou dando aula de Química em um colégio.

Facilitadora: Que legal! Como é que está sendo para o senhor?

Pm3: Está sendo ótimo. Ontem, levei-os para terem aula na rua. Dei aula prática, fiz

eles plantarem uma muda de eucalipto, falei da pirita, da substância que se usa para anular o

efeito dela.

Pf15: Aula na rua é muito bom.

Pf4: Eu também adorava ter aula na rua.

Facilitadora: É, muitas vezes, a aula prática faz com que os alunos aprendam melhor

do que a aula teórica.

Pm3: Eu também acho! Agora, quando eles forem plantar alguma coisa, eles vão

lembrar.

(Neste momento o grupo dispersou, falando sobre didática e outra coisas).

Facilitadora: Pessoal, o horário já sta passando, vamos encerrar por aqui?

(Encerraram o encontro e todos se despediram).


85
2.1.6- 6º Encontro

Data: 19/11/03

Tempo de Duração: 16h30min às 18h

(O encontro foi realizado com cinco pessoas, sendo que uma era facilitadora. O outro

facilitador teve que participar de uma reunião na universidade e não pode permanecer no

grupo).

Facilitadora: Bom gente, como vocês sabem, este é o nosso último dia, gostaria que

vocês deixassem seus telefones para nós entrarmos em contato com vocês no semestre que

vem, quando retomarmos o grupo.

Pf6: A Pf5 pediu para avisar que está doente e muito fraca, então teve que voltar a

Pedras Grandes para morar com os pais.

Pf3: É uma pena que o resto do pessoal não veio hoje. O Pm2, o Pm3 e os outros para

a gente saber como é que eles estão. Se já voltaram a trabalhar ou não. Essas coisas, não por

curiosidade, mas é porque a gente gosta deles mesmo. Por exemplo, a Pf5 a gente já sabe que

não volta mais, que está morando com os pais dela.

Pf6: É verdade, a gente se apega às pessoas e fica querendo saber como elas estão, se

o aipim já cresceu (risos), se está trabalhando, se teve uma recaída ou se tudo está na mesma.

Pf3: É mesmo, né? A gente se apega nestas criaturas. Eu estou louca para saber como

eles estão.

Pf6: Nós poderíamos ligar para eles, saber como eles estão. Tu (referindo-se à

facilitadora) poderias ligar para eles, ver como estão e nos ligar dizendo.

Facilitadora: Tudo bem, eu ligo para eles, depois ligo avisando como eles estão, mas

se vocês quiserem posso dar os telefones para vocês.

Pf2: É, pode ser. Ainda bem que acaba hoje, pois estamos em poucos, é melhor

quando o grupo está cheio, né?


86
Facilitadora: Acho que o grupo quando está com mais gente, faz mais trocas de

informações e experiências. Então, gente, eu ligo para eles e dou o retorno para vocês.

Pergunto como eles estão e depois conto pra vocês. E falando nisso como vocês estão. Como

foi a semana de vocês?

Pf3: A minha semana foi uma beleza, há umas meninas que ficavam esperando a

minha filha no terminal para bater nela por causa do namorado que a minha filha tem e elas

querem também. Peguei a guria e perguntei: quantos anos tu tens? Ela me respondeu: 22

anos, com a boca bem cheia. Aí eu falei: Então tu já és maior de idade. Peguei nas tranças

dela e levei até o chão.

Facilitadora: Mexeram com a sua filha e a senhora virou uma leoa? Nem parece

aquela mulher que entrou aqui no primeiro dia. Retraída, com a fala baixa e com aparência de

vulnerabilidade.

Pf3: Mas credo, eu nesse estado doente, elas ainda vêm incomodar eu e o meu

marido. Peguei naquelas trancinhas e levei até o chão. Ai, credo, se grudo naquelas trancinhas

de novo!

Pf6: Nossa Dona Pf3, fiquei admirada, não imaginei que a senhora tinha essa garra,

fiquei muito surpresa. (sorrindo)

Pf2: Eu também, não imaginava que a senhora tivesse essa coragem. Mas a gente que

é mãe, entende que quando é com os filhos, essa força aparece não sei de onde.

Pf15 (sobrinha da Pf3): Essas gurias ainda tiveram a audácia de chegar para minha

prima e dizer que ela já podia andar por onde quisesse e fazer o quisesse que não

incomodariam mais.

Facilitadora: Falaram isso depois que tiveram a trança puxada?

Pf15: Mas é claro! Quanta petulância, loucas pra ficarem sem trança.

Facilitadora: Então dona Pf3, mexeu com a sua filha a senhora puxa as tranças.
87
Pf3: (risos) A velha aqui é brava.

(O grupo dispersou e começou a rir, aprovando a atitude da Pf3).

Facilitadora: E tu Pf6, como tens te sentido?

Pf6: Abandonada pelo namorado, o Dr. A. está morando em Joinville. Eu nem sei

mais se é namorado mesmo, faz tempo que a gente não se vê. Andei emagrecendo de novo

com essa correria de final de semestre. Acho que vou reprovar em algumas cadeiras, mas tudo

bem.

Pf3: Vocês eram namorados há muito tempo?

Pf6: Não, não era há muito tempo não, mas eu me apeguei bastante a ele, porque

sempre estava cuidando de mim, fazendo alguma coisa para eu comer, mandando eu fazer

exames de sangue, por causa da minha bulimia. Então era muito bom quando ele ainda estava

morando aqui. E eu sinto falta disso.

Pf15: Mas namorar a distancia, às vezes, é bem melhor, enjoa menos.

Facilitadora: Quando mora perto é mais fácil de enjoar?

Pf15: É, porque se vê quase sempre, quando mora longe não. A gente se vê lá uma

vez ou outra, aí, tem sempre a saudadezinha.

Facilitadora: Tu tens preferência por namoros distantes?

Pf15: Atualmente, sim!

Facilitadora: O que tu estás querendo dizer com isto?

Pf15: (Risos) É que eu estou namorando um cara de Florianópolis hà alguns meses,

mas ninguém da minha família sabe. Eles acham que ele é só meu amigo, nós somos bastante

discretos.

Facilitadora: Então tu está namorando? (Risos)

Pf15: Estou, ele é muito carinhosinho, atencioso. Adora a minha filha e me adora. Eu

acho... (Risos)
88
Pf3: Daqui a pouco está casando de novo.

Pf15: Deixa.

Facilitadora: Seria bom?

Pf15: Oh! Adoraria me casar!

Facilitadora: E o namoro a distância?

Pf15: Um pouco de cada, primeiro a distância para se conhecer devagar, depois que

se conhecer bem, aí pode casar.

(Risos das participantes, seguidos de silêncio).

Facilitadora: E a Pf2, quer nos contar como foi a tua semana?

Pf2: É... Tive uma recaída, por causa daquele lá (referindo-se ao marido), mas vai

passar, sempre foi assim, é só o choque, mas depois passa.

Facilitadora: Queres nos contar o que aconteceu?

Pf2: Acho que não, não quero ficar enchendo vocês com a história da minha vida,

que são, somente, coisas ruins. Ninguém gosta de ouvir coisa ruim.

Pf3: Que nada, deixa de ser boba, cada um escuta cada um, já contei um pouco dos

meus problemas e todo mundo me ouvia. Agora olha aqui como é que eu estou. Tem de falar.

Pf6: É, na semana passada só tu que não falaste, nós estamos aqui pra falar. Se a

gente não falar no grupo, vai falar onde?

Pf15: Semana passada fui só eu quem falou, agora essa semana é a tua vez.

Pf2: Eu tenho um cunhado, que de vez enquando vai lá em casa e fica escutando as

minhas lamentações. É só ele que fico incomodando com as minhas coisas, não quero ficar

falando e enchendo vocês.

Facilitadora: O grupo está disposto a ouvi-la, gostaríamos que compartilhasses

conosco o teu caso.

Pf2: É que eu descobri quem é a amante dessa vez.


89
Pf3: Descobriu?

Pf2: Descobri, é de lá, também.

Pf3: Onde que vocês moram?

Pf2: Lá no Sangão.

Facilitadora: E como foi?

Pf2: Eu fui no mercado fazer as compras e quando fui assinar a nota, estava lá o

nome dela. É quase nossa vizinha, mora bem pertinho da nossa casa. De vez enquanto ela

ligava, eu já estava desconfiada que era ela. Agora eu tenho certeza. Uma vez eu passei lá

pela frente do bar onde eles ficam e ela estava lá. Quando ela viu que era eu dentro do carro,

ela virou bem rápido de costas. O pior é que ela é uma prostituta e nós não vivemos tão bem

assim para ele ficar sustentando estas vagabundas.

Pf3: Viu, já é mais um motivo para ti não transar com ele sem camisinha, tem de se

cuidar!

Pf2: Mas a gente nem tem mais relações sexuais. A gente dorme em quartos

separados. Há noites que ele chega de porre e deita na minha cama onde eu durmo com a

minha filha, mas ele nem me toca.

Pf15: Tu já pensaste em gastar tudo o dinheiro dele para ele ficar sem e não gastar

com a amante?

Pf2: Já, mas não deu certo. Ele ficou mais irritado e nervoso. Ontem eu estava

cozinhando arroz e ele estava todo atacado. É porque não tem dinheiro pra beber e dar pra ela,

aí, ele derrubou a panela de arroz no chão e foi juntando todo atacado, bem envergonhado. O

menino, quando quer alguma coisa, vem pedir para mim e não gosta de pedir ao pai. Aquele

lá não tem amor por ninguém. A única pessoa que ele dá atenção de vez enquando é a menina.

Na rua é bom pra todo mundo, mas é só botar os pés dentro de casa que vira um bicho.
90
Pf15: O meu pai era assim, igual mágica, colocava os pés dentro do portão, fechava

a cara. Era ruim que só ele. Quantas vezes eu vi ele batendo na mãe!

Pf2: Eu já tive com a arma apontada para minha cabeça. Não sei nem como foi que

consegui me livrar dele, foi Deus que me iluminou, fez eu ficar calma, virar as costas pra ele e

sair do quarto.

Pf15: E ele é assim desde quando?

Pf2: Desde que a gente se casou. No primeiro dia em que estávamos casados, ele saiu

de casa e foi pra festa com os amigos, e tem sido assim há 18 anos. Todo dia ele sai para

beber com amigos, e o pior é que a turma dele é toda de lá, é uma influência muito grande,

todos os homens de lá são assim. Um dia ligaram para a minha casa e disseram que meu

marido andava me traindo. Eu disse que já sabia e que o meu marido é assim desde que nos

casamos e isso não é segredo para ninguém.

Pf6: O meu pai já me disse que se um homem encostar a mão em mim, é para eu ir

embora no mesmo dia porque começa com um tapinha e depois ele já está te batendo com

força.

Pf2: É verdade, eu porque era muito ingênua. Casei virgem, e ele teve a coragem de

dizer que não gostou porque eu não sabia fazer nada, que eu era muito ruim na cama. Depois

desse dia, eu nunca mais consegui ficar tranqüila. Sempre me lembrava do que ele disse.

Pf15: Se ele soubesse que tu não eras virgem, aí que ele não casava, isso é só

desculpa para ter do que reclamar.

Pf6: Ainda mais ha 18 anos, a maioria dos homens queriam casar com mulheres

virgens. Isso era muito importante naquela época.

Facilitadora: É que para os homens casarem com mulher virgem, era motivo de

prestígio, sinal de boa moça, de moça recatada. Acredito que a nossa cultura não mudou

muito, tirar a virgindade da mulher, continua sendo importante para os homens.


91
Pf15: Se bem que não são mais nem homens nem mulheres, já são adolescentes,

quase crianças.

Pf2: Eu acho que o meu marido queria que eu tivesse andado com outros homens por

aí.

Pf15: Aí, ele ia reclamar que tu sabias muito.

Pf3: Ah! A minha filha eu já peguei conversando com outra amiga que já fez sexo

com o namorado. Aí eu chamei a para o banheiro e perguntei se ela já deu, porque se já eu

vou levá-la ao médico pra começar a tomar anticoncepcional.

Facilitadora: Os adolescentes, de hoje em dia, precisam ser bem conscientizados, mas

se não aprendem em casa, aprendem nas escolas ou com os amigos.

Pf3: Isso é verdade, mas a gente tem que conscientizar em casa do mesmo jeito para

garantir. Não podemos ficar dependendo dos outros.

Pf6: A dona Pf3, já é uma senhora bem consciente porque isso ainda é um tabu para

algumas famílias conversarem com os filhos.

Facilitadora: Isso é verdade, existem famílias que não conversam sobre sexo com os

filhos e ignoram a possibilidade de tocar no assunto ou não se sentem à vontade para falar.

Já estava no horário, então encerraram os encontros, o grupo se despediu e pegou o

telefone dos facilitadores.


92
2.2- Subdivisões das Fases do Processo de Grupo.

2.2.1- Fase de Hesitação, de Andar em Volta.

1.1- Tendência a um período inicial de confusão e silêncio embaraçoso, causado pela não-

diretividade do facilitador.

1.2- Revolta dos participantes por não perceberem uma atitude dominadora e direcional do

facilitador.

2.2.2- Resistência à Expressão ou Exploração Pessoal.

2.1- Oscilação dos membros entre o eu interior e o eu exterior, por resistência em expressar o

verdadeiro “eu”.

2.2- Surgimento de expressões pessoais e reais.

2.3- Revelação do “eu” exterior sem defeitos, que tem maior facilidade de ser aceito pelo

meio.

2.2.3- Descrição de Sentimentos Passados.

3.1- Descrição de problemas e sentimentos ocorridos no passado.

3.2- Assuntos se mantém na superficialidade.

2.2.4- Expressão de Sentimentos Negativos.

4.1- Normalmente, a primeira expressão de sentimentos no “aqui e agora” é negativo,

expresso de um membro a outro.

2.2.5-Expressão e Exploração de Material com Significado Pessoal.

5.1- Início de expressões de intimidade, com uma fala de si mais profunda.


93
5.2- Respeito ao sofrimento do outro que muitas vezes é questionado.

2.2.6- Expressão de Sentimentos Interpessoais Imediatos no Grupo.

6.1- Expressão de sentimento interpessoal positivo.

6.2- Expressão de sentimento interpessoal negativo.

2.2.7- Desenvolvimento de Uma Capacidade Terapêutica.

7.1- Os membros percebem que possuem uma capacidade terapêutica e passam a exercitá-la

dentro do grupo.

2.2.8- Aceitação do “Eu” e Começo da Mudança.

8.1- A aceitação do “eu” é o começo da mudança do indivíduo no grupo.

8.2- O indivíduo não impõe limitações ao seu verdadeiro ser, fica mais perto de sua

verdadeira personalidade.

2.2.9- O Estalar das Fachadas.

9.1- Os membros passam a exigir que cada um expresse seu verdadeiro eu interior.

9.2- Há intolerância dos membros para com os que se mantém por detrás de uma máscara ou

fachada.

2.2.10- O Indivíduo é Objeto de Reação (Feedback) por Parte dos Outros.

10.1- Feedback positivo e afetuoso.

10.2- Feedback negativo.


94
2.2.11- Confrontação

11.1- Indivíduos se confrontam uns com os outros, são reações menos moderadas que os

feedbacks.

11.2- O membro atacado pela confrontação pode se sentir confuso.

2.2.12- Relações de Ajuda Fora das Sessões de Grupo.

12.1- Há procura e auxílio fora das sessões de grupo.

12.2- Alguns percebem a capacidade que tem de ajudar, respeitar e perceber o outro uma

necessidade de auxílio.

2.2.13- O Encontro Básico.

13.1- Os sentimentos expressos são vivenciados pelos membros do grupo.

2.2.14- Expressão de Sentimentos Positivos e Intimidade.

14.1- O clima de aceitação aumenta e os participantes passam a fazer mais expressões de

sentimentos positivos entre eles, aumentando a intimidade.

2.2.15- Mudança de Comportamento no Grupo.

15.1- Há mudança no comportamento dos membros do grupo.

15.2- Há mudança das atitudes dos membros do grupo na relação com a família, no ambiente

profissional e social.
95
2.3- Identificação das Fases nos Encontros do Grupo de DA.

2.3.1- Manifestações do Grupo, Referente à Primeira Fase

(1.1) Tendência a um período inicial de confusão e silêncio embaraçoso, causado pela

não-diretividade do facilitador.

1º Encontro

Pag.52

“(Silêncio)”

Pag.53

“(Silêncio)”

Pag.53

“(Silêncio)”

Percebe-se que neste primeiro encontro, houve três momentos de silêncio,

exatamente no início do encontro, estes momentos de silêncio, tiveram que ser interrompidos

pelos facilitadores, pois não houve a manifestação de nenhum membro. Houve um quarto

momento de silêncio que pode ser entendido como parte da fase de hesitação, mas este foi

entendido como “encontro básico”.


96
2º Encontro

Pag.58

“( Todos os participantes entraram na sala, cumprimentaram-se e silenciaram)”

Ainda, há neste encontro uma reação inicial do grupo em esperar o direcionamento

dos facilitadores. O silêncio teve que ser quebrado pelo facilitador.

4º Encontro

Pag.72

“Pf14: [...] Então eu posso falar o que eu quiser a hora que eu quiser?”

Fala da nova participante depois de confrontar o facilitador, na fala anterior ela

relatou estar se sentindo confusa quanto o sistema funcional do grupo e suas limitações nele.

5º Encontro

Pag.78

“Pf15: Eu não sei o que eu faço, se eu me apresento ou se eu posso falar qualquer coisa.”

Esta fala é de uma nova participante no início do encontro.


97
3º e 6º Encontro

O grupo não manifestou mais, a necessidade de condução dos facilitadores ao grupo.

Criaram uma estrutura.

(1.2) Revolta dos participantes por não perceberem uma atitude dominadora e

direcional do facilitador.

4º Encontro

Pag.72

“Pf14: (Fala direcionada ao facilitador) Escuta só, a gente pode falar tudo o que quiser? É

porque eu não sei se devo falar as coisas. Porque tu não me falaste nada, nem me perguntaste

nada. Então, eu não sei quando posso falar ou não.”

A participante que apresentou esta fala, vinha pela primeira vez ao grupo, o

facilitador explicou no começo do encontro o processo funcional do grupo a esta participante,

mas, percebe-se que ela não havia se adaptado a este movimento e demonstrou revolta em

relação ao facilitador, que não estava direcionando o grupo.

1º, 2º, 3º, 5º e 6º Encontro

Esta característica, não foi apresentada nestes encontros.


98
2.3.2- Manifestações do Grupo, Referente à Segunda Fase

(2.1) Oscilação dos membros entre o “eu” interior e o “eu” exterior, por resistência em

expressar o verdadeiro eu.

1º Encontro

Pag.52

“Pf12: Bom, já que ninguém se apresenta eu vou me apresentar. Meu nome é Pf12, a minha

depressão é por causa do meu marido, ele faz eu me sentir muito presa, às vezes, eu fico

muito agitada e ansiosa, da-me uma agonia, uma raiva dele. Eu não gosto do meu marido e

acho que ele não gosta de mim. Eu tenho problemas no joelho, já pedi ajuda a ele para que

pagasse a ressonância magnética. Ele está lá na Itália trabalhando e ganhando bem, sendo

assim, poderia me ajudar, já que eu cuido dos nossos filhos. Mesmo assim, ele não me ajuda!

Já cuido e crio os filhos e ele está lá na Itália, ganhando bem, poderia mandar dinheiro para eu

fazer essa ressonância, mas ele diz que não. (Choro) Eu passo dificuldades e sei que ele

poderia me ajudar, mas não está nem aí pra mim, quando ele chegar aqui no Brasil eu vou é

dar um pé na bunda dele, aí ele vai ver, o que custa ajudar a mãe dos filhos dele. (Choro) Eu

fico com ódio.”

Pag.53

Pm3: Eu vim aqui naquela quinta-feira, ele me recomendou alguns remédios, eu comecei a

tomar e estou me sentindo melhor, deu uma aliviada, hoje foi mais fácil chegar aqui, não

fiquei tão agoniado o coração palpitou, mas nem tanto.”


99
Pag.55

“Pf2: Eu estou me segurando, as coisas tem sido difíceis para mim, mas eu me recuperei, já

estive pior.”

Pag.55

“Pf2: É, mas eu já melhorei um pouco, eu acho. Só chorei um pouquinho esta semana. Não

falei porque estou me contendo um pouco.”

É visível, que nestas falas há um pouco de contradição ou confusão, a oscilação entre

o self real e o ideal é nítida.

2º Encontro

Pag.58/59

“Pf5: O meu filho veio da casa dos meus pais, voltou a morar comigo. Eu gosto muito dele.

Estava morrendo de saudades, mas ele me dá um desgaste muito grande quando fico cuidando

dele, toda a minha atenção se volta ao menino. Seu pai é muito ausente, só vê o menino

algumas vezes, mas não faz muita questão, não pede para ver e nem procura. Nesse final de

semana, ele ficou com o menino, mas ficou me ligando, mandando eu ir busca-lo, senão ele

iria me esquecer e não iria mais me reconhecer como mãe, mas eu só fiquei uma semana

longe do meu filho, ele só fica um final de semana ou outro com o garoto. Meu filho vai é

acabar esquecendo do pai. Na verdade, ele queria namorar e com o filho não dá, aí ele fica

jogando o menino nas minhas costas.”

Pag.60/61
100
“Pf7: É, eles vivem muito bem, só tiveram que pagar a conta do hospital e alguns remédios,

nós não a processamos, nem nada, só revogamos pelos nossos direitos. Mas eu fico triste,

porque eu não posso fazer nada, aí eu choro, sei que é temporário, mas sempre resolvi as

coisas na hora, não deixava para depois[...]”

Pag.61

“Pf2: [...] Eu sempre me incomodo com as amantes dele, elas ligam lá pra casa, me enchem

de desaforo. Eu já coloquei bina no nosso telefone e disse que a próxima vez que eu me

incomodar com essas mulheres, iria me separar dele, mas ele me ameaçou de morte, disse que

prefere nos matar, eu e os filhos, do que viver sem nós. Ele não admite que tem amantes, nega

e ri quando é acusado, mesmo quando eu apresento as provas para ele.”

Neste encontro, esta oscilação foi apresentada por uma nova participante, a Pf7 e por

duas participantes que estavam presentes no encontro anterior. No encontro anterior a Pf2

apresentou muita resistência em se expressar, mas conseguiu ser clara quanto a sua história

mesmo com esta resistência.

3º Encontro

Pag.63

“Pf13: Às vezes, há uma doação muito grande e uma certa necessidade em ter retorno. Tem

uma angustia quando as pessoas são boas para as outras, fazem favores para elas e não tem

o valor devido.”
101
Pag.69

“Pm3: É, mas teve um dia desses que eu combinei com o meu amigo de ele passar às 7h30min

lá em casa para nós vermos o nosso estágio. Eu preciso terminar este estágio até o final do

ano, porque se eu passar no concurso, vou precisar do estágio. Aí deu 9h30min e ele não tinha

aparecido, quase que eu não ligo mas a minha mulher que já é mais nervosinha, incomodou

para eu ligar. Liguei e disse : Olha tu vens me buscar pra nós irmos ver esses negócios do

estágio, porque eu preciso fazê-lo até o final do ano. Ele veio e nós fomos atrás, já

conseguimos a escola e estou com o estágio marcado.”

É cabível esta resistência em se mostrar em ambos os membros, pois uma, a Pf13 é

nova no grupo e o outro, Pm3, dificilmente se expressa, sendo assim essa oscilação entre seu

eu interior e seu eu exterior é esperado.

4º Encontro

Pag.72

“Pf14: Ah! Tudo bem! Se bem que eu não sei se vou querer falar tudo o que penso a hora que

eu quiser, porque eu conheço o Pm2, ele é meu vizinho. Aí eu acho que ele vai ficar um

pouco envergonhado, não vai se sentir à vontade comigo aqui...[...]”

Pag.73

“Pm3: É, mas foi quando eu cheguei em casa que me deram o recado, mas o menino já tinha

chegado. Então eu nem me preocupei. Mas já falei que é esse skate que vai dar problema na

coluna, mas ele não escuta, é teimoso disse que ele é que sabe dele.”
102
Percebe-se que mais uma vez, estes tipos de atitudes são tomados por um novo

membro, a Pf14, e por um membro que dificilmente se expressa, Pm3.

6º Encontro

Pag.87

“Pf15: Atualmente, sim!”

Pag.88

“Pf2: É... Tive uma recaída, por causa daquele lá (referindo-se ao marido), mas vai passar,

sempre foi assim, é só o choque, mas depois passa.”

A Pf15, resistiu um pouco em falar do novo namorado, por isso, não foi direto ao

assunto. A Pf2, apresentou resistência em se expressar e contar a sua história desde o 1º

encontro.

5º Encontro

Esta característica não foi apresentada neste encontro.

(2.2) Surgimento de expressões pessoais e reais.

1º Encontro

Pag.53

“Pf3: Eu acho que todo mundo aqui entende muito bem disso (Suspiro, desta).”
103
Pag.54

“Pf12: Há horas que nós ficamos mais ansiosa, né? Que parece que vai dar até uma coisa.

(Direcionando a fala à Pf3).”

Pag.55

“Pf8: Meu nome é Pf8 sou mãe da Pf9, a gente veio aqui para conhecer o grupo.”

Pag.55

“Pf9: Meu nome e Pf9, estou só conhecendo o grupo, não quero falar ainda.”

Pag.55/56

“Pf6: É, eu participo, nossa é muito bom! Distraio-me bastante, faz muito bem, eu vejo essa

disposição deles. É um exemplo de vida, bastante estimulante, pois eu já entrei em depressão,

fiquei anorexa, mas já consegui me recuperar, assim como me recuperei, gostaria que todos se

recuperassem e vissem como é possível. Por isso que eu vim com a Pf5, porque ela precisa de

apoio, de algum um tipo de ajuda.”

Esta fase foi apresentada, apenas neste encontro, percebe-se que o grupo, ainda

estava criando vínculos e os participantes foram pouco expressivos, quase superficiais.

2º Encontro

Pag.60

“Pf4: É naquela: Amigos amigos, negócios à parte.”


104
A Pf4 foi sincera, mas não foi muito clara.

3º Encontro

Pag.70

“Pm3: É, é... Temos que ser nervosos de vez enquanto.”

Este apresenta certa resistência em se expressar, então, algumas vezes deixa as suas

falas subentendidas.

5º Encontro

Pag.78

“Pf15: Meu nome é Pf15, vim conhecer o grupo porque a Dona Pf3, tem falado muito bem de

vocês e ela percebeu que eu não tenho estado muito bem, são varias coisas que têm me

acontecido e aconteceram.”

Esta participante estava no seu primeiro encontro, então começou a se expressar com

um pouco de resistência.

2º, 3º, 4º e 6º Encontro

Esta característica não foi apresentada nestes encontros.

(2.3) Revelação do eu exterior sem defeitos, que tem maior facilidade de ser aceito pelo

meio.

Esta característica não foi apresentada em nenhum dos encontros.


105
2.3.3- Manifestações do Grupo, Referente à Terceira Fase

(3.1) Descrição de problemas e sentimentos ocorridos no passado.

1º Encontro

Pag.54

“Pf4: Eu, quando estava com depressão profunda, também tinha fobia, entrava em pânico

quando saía de casa, essa é uma sensação horrível, sem explicação, só sentindo para entender,

é algo incontrolável, quem nunca teve não consegue entender, porque é um absurdo este medo

sem explicação.”

Pag.56

“Pf5: [...] A primeira vez que me senti deprimida foi aos 7 anos. Quando descobri que fui

criada pelos meus avós paternos, os quais tinha como pais, descobri que fui abandonada pelos

pais. Tinha o pai como irmão e mesmo como tal, ele não me dava atenção.”

Pag.56

“Pf5: Faz 3 anos que engravidei, os meus pais me obrigaram a casar. O casamento foi de

aparência, para satisfazer a vontade do meu pai. Mas, teve um dia em que cansei e decidi me

separar. O pai quis me mandar para fora de casa, mas, acabou me acolhendo, desde que eu me

mantivesse no quarto, longe dele e das visitas. Vivíamos discutindo porque eles se

preocupavam muito com a aparência, tinham vergonha de ter uma filha solteira e com filho.

Então, houve um dia que decidi sair de casa com meu filho e vim para Criciúma, onde fui

acolhida pela minha ex-cunhada.”


106
Pag.56/57

“Pm2: Só me deixa falar uma coisa... Nossa, com o meu pai era assim, também ele sempre se

irritava comigo, brigava por qualquer coisa. De manhã quando eu ia trabalhar, eu acordava ás

cinco da manhã, e o banheiro era no quarto dele. Durante uma semana ele ficou resmungando,

eu nem fazia tanto barulho assim. Até que um dia, ele se levantou e veio para cima de mim, aí

eu larguei um soco na cara dele, arrependi-me depois, mas valeu a pena, pois adiantou, visto

que ele nunca mais me incomodou.”

Pag.57

“Pf5: É, meu pai era assim também. Eu acordava de manhã, ia trabalhar, quando eu voltava

limpava toda a casa, sempre ajudando com as despesas, de certa forma, eu não precisava deles

pra me sustentar e nem para sustentar meu filho. A minha irmã não fazia nada, ficava o dia

inteiro dentro de casa. Agora eles estão me convidando para voltar a morar com eles que eles

me aceitam.”

Este tipo de manifestação se mostrou muito comum e auxiliou os membros do grupo

a esclarecerem suas histórias aos demais, pudessem ter um material rico no momento de criar

a empatia.

2º Encontro

Pag.59

Pf5: [...] Quando eu era casada, não no papel, só morando junto, nossa união era de aparência,

ele nunca deu importância ao filho, preferia vê-lo longe a dar a tenção e cuidados. Tive que
107
morar junto com ele por causa dos meus pais, mas ele nunca me tocou depois que casamos,

ele não me dava a menor importância.

Pag.60

“Pm2: Quando entrei em depressão, tive crises de pânico e a mulher me deixou. Fizemos a

separação de bens, tudo judicialmente. Com isto, foram estipulados os dias de visitas ao meu

garoto e estes são muito pouco. Na época da separação estava no meu pior momento de crise,

então contratei um advogado, não muito bom, ele acabou deixando quase tudo para a mulher e

conseguiu poucos dias de visitas, como eu não estava legal deixei como estava para não me

incomodar.[...]”

Pag.60

“Pf7: Como vocês estão vendo, estou andando de muletas. Foi um acidente que sofri, era a

minha melhor amiga quem dirigia. Depois desse dia, ela deixou de ser minha melhor amiga,

toda sua família começou a falar mal de nós, que queríamos enriquecer a custa deles e do

acidente. Isso foi horrível, porque ela foi culpada pelo acidente, ela estava dirigindo.”

Pag.61

“Pf2: É, eu estou bem, é que a minha história é um pouco complicada. Quando eu me casei, o

meu marido não passou a noite de núpcias comigo e tem sido assim desde então.[...]”

Este processo continuou sendo de grande valia, tanto as histórias dos novos, como

dos que não haviam se expressado, ainda e, dos que traziam novas situações. Isto, porque logo

depois, estes expressaram sentimentos reais.


108
3º Encontro

Pag.64

“Pm2: Nossa! Eu vi, mas credo! Preparei-me para pegar o menino na sexta à noite, mas a ex-

mulher disse que o traria no sábado de manhã. Não trouxe, liguei e ela disse que o levaria só à

tarde. Então, peguei o carro e fui buscá-lo. Chegando lá, ela disse que o menino estava meio

resfriado, que não era para eu levá-lo. Daí, eu me revoltei, saiu arrancando o carro e bati no

muro. Quando estava quase chegando em Criciúma, ela ligou dizendo que eu poderia voltar e

pegar o menino. Dei a volta no carro, peguei o menino e voltei. [...]”

Pag.65/66

“Pf5: Semana passada, fui receber o pagamento, eu estou afastada, passei pela perícia e

mandaram eu me encostar por causa da depressão. Quando cheguei no escritório, a secretaria

me mandou esperar em outro lugar. Quando saí ouvi ela sussurrando: vai morrer bem longe

daqui. Isto me deixou muito chateada. Senti-me muito mal.Também, recebi uma ligação do

pai do meu menino dizendo que me ajudaria com o dinheiro para o médico e se precisasse,

mandaria o dinheiro para os remédios. Ele se nega a pagar pensão para o menino. Eu já disse

que se ele não pagar por bem, vai pagar por mal. Ele nunca ajuda o menino em nada. Sempre

dizia que não tinha dinheiro para comprar as coisas para criança, mas quando era para beber lá

com os amigos ele tinha. Bom, daí como ele me falou que ia mandar dinheiro para o menino,

eu peguei o meu pagamento e comprei uma roupa nova, pra dar uma mudada no visual.

Depois que aquela grossa disse: Vai morrer pra lá, me senti tão mal, tão caída que eu pensei:

Ah, hoje eu vou mudar, comprar algumas coisas que me deixem com uma aparência melhor.”
109
Pag.68

“Pf5: É! Ele foi meu primeiro namorado, primeiro tudo. Acho que ele só queria tirar um

sarrinho mesmo. Aí, eu estava toda apaixonada. Como eu engravidei meu pai fez ele se casar

comigo e ele não queria, ficou revoltado. Depois do casamento ele ficou esses dois anos sem

olhar na minha cara direito, brigava comigo, não ajudava a cuidar do menino, só fazia o que

queria, não ajudava em nada, eu não podia falar nada ele já achava ruim, era tudo muito ruim,

muito mesmo.”

4º Encontro

Pag.71

“Pf14: Meu nome é Pf14, moro em Criciúma e sofro de depressão desde os 7 anos, ora

melhoro, ora recaio, por isso a gente precisa de ajuda, porque é difícil se recuperar sozinha,

tomo medicamentos, mas ele não me ajudam muito, pois voltei a cair em depressão. Às vezes

eu não consigo dormir, tenho muita dificuldade.”,

Pag.74

“Pm2: Nesta semana ligaram para a nossa casa, falando que meu irmão estava jogado lá no

bar, porque alguns garotos haviam batido nele. Eu estava me sentando à mesa para jantar, a

mão tinha posto uma pizza no forno. Putz... Mas depois dessa notícia eu não consegui engolir

mais nada. [...]”

Pag.75/76

“Pm2: Deixe-me contar a vocês... Naquele dia que ligaram para a minha casa, falando que o

meu irmão tinha apanhado. Eu fui para o bar e corri atrás dos caras, mas não consegui
110
alcançá-los. Pulei o muro do dono do bar, mas este disse que ligaria para a polícia e nos

denunciaria por invasão domiciliar.[...]”

5º Encontro

Pag.78

“Pf15: É, foi uma barra muito forte, ter que criar minha filha sozinha, sem ninguém para

ajudar. Sem ninguém, não, tinha minha mãe, mas não era o que eu queria. Eu fiquei com

depressão pós-parto de não querer nem olhar a menina. Eu fiquei jogada, cheguei a ser

internada na Casa de Saúde do Rio Maina, pra ver se eu conseguia reagir.”

Pag.78

“Pf15: Aí eu fiquei lá por um tempo, e tive que começar a me recuperar. Bom, eu me

recuperei [...]”

Pag.79

“Pf15: É que a minha menina foi praticamente criada pela minha mãe. Na época eu estava

com síndrome do pânico, não conseguia sair de casa. Tudo que eu ia fazer eu ficava pensando

no que poderia dar errado.”

Pag.79

“Pf15: Bem assim mesmo, sempre maquinando. Quando eu pensava em fazer alguma coisa a

mente começava, pipipi, pipipi e pipipi, aí eu acabava não fazendo nada.”


111
Pág.79

“Pf15: Então tu sabes do que eu estou falando, né! Era uma loucura, o estômago embrulhava,

eu me sentia fraca, aí não pegava a menina com medo de deixar cair no chão, ou me dar uma

tontura. Quando eu ficava sozinha, ficava apavorada porque poderia acontecer alguma coisa e

não ter ninguém para me atender.”

Pag.79/80

“Pf4: [...] Eu também perdi o meu marido. Eu tinha duas filhas e foi uma barra. A minha vida

começou a cair. Tudo começou a cair, foi desagradável demais. Eu acredito que foi onde tudo

começou a explodir. Porque na verdade a minha vida foi assim: perdi o meu pai com quatorze

anos. Ele estava no hospital, de repente morreu de um dia para o outro. Mas eu não chorei

com a morte do meu pai. Não sofri muito, também porque ele não era um pai muito presente.

Não era apegado a nenhum filho, só se preocupava em trabalhar e botar comida dentro de

casa, mas em dar atenção aos filhos, carinho, nunca foi o jeito dele. Foi aí que minha vida

começou, porque aos quinze anos, eu pulei a janela do meu quarto e fui embora. Com

dezessete para dezoito anos eu casei. O meu marido era uma pessoa muito boa, era um

homem fantástico, a gente se dava super bem. Ele sempre foi muito carinhoso e muito

afetuoso comigo. Foi um homem maravilhoso. Aí, quando ele morreu, eu perdi toda minha

força. O que eu não chorei quando meu pai morreu, eu chorei quando o meu marido morreu.

Eu acho que aí eu juntei tudo.”

Pag.80

“Pf15: [...] Porque quando a minha filha nasceu, havia a minha mãe para cuidar da menina, eu

cuidava, não faltava nada pra ela, mas eu queria que o pai dela estivesse ali, cuidando da filha.

Aquela situação me revoltava. Eu sentia falta era daquela figura masculina, o pai da criança,
112
isso era revoltante. Aí, a minha vida ficou um inferno. Nós dois nos separamos na época que

eu engravidei, mas nós ainda nos gostávamos muito. Quando ele morreu não sabia que eu

estava grávida.”

Pag.82

“Pf4: [...] O meu marido era muito tranqüilo, me passava muita segurança. Eu batia o carro,

ligava pra ele, ele me fazia resolver as coisas com muita facilidade. Ele não esquentava a

cabeça por pouca coisa. (Risos). Acho que ele não esquentava a cabeça com nada. Eu viajava,

ficava um mês fora, ele não me fazia nenhum interrogatório, confiava muito em mim e muito

nele, era um casamento muito seguro, a gente se dava muito bem.[...]”

Pag.82

“Pf4: [...] Depois que o meu marido morreu, eu fiquei com uma depressão horrível. Foi muito

difícil me levantar. O meu marido morreu de uma hora para outra. Ele estava no hospital,

fazendo tratamento e de repente morreu. Ele tinha que filtrar o sangue, pois o problema que

tinha, criava uma membrana no canal dos rins, assim produzia pouca urina. No dia que ele

recebeu alta, os rins entupiram, o canal fechou e entrou líquido nos pulmões e outras coisas.

Aí que eu vi como é muito fácil morrer. As pessoas morrem do nada. Foi como eu desenvolvi

o pânico, tinha medo de tudo.”

É visto que estas duas participantes descreveram situações e sentimentos no passado,

porque foi a primeira vez que se expuseram ao grupo, ao mesmo tempo em que relataram suas

histórias, falaram de sentimentos presentes.


113
(3.2) Os Assuntos se mantém na superficialidade.

1º Encontro

Pag.53

“Pf12: É, ele poderia ser um marido de verdade, mas quando ele chegar da Itália ele vai ver a

surpresa que estou guardando para ele, vou me divorciar.”

Pag.54

“Pf12: É, eu também tenho isso, também sinto fobia, fico abafada.”

Pag.57

“Pf12: É o que eu vou fazer com o meu marido, esperá-lo chegar e larga-lo.”

Esta participante esteve muito superficial em suas falas, interrompia a fala de outros

membros e não fazia uma expressão de sentimentos, apenas deixava suas falas “jogadas no

ar”.

3º Encontro

Pag.63

“Pm3: Os aipins agora que saíram umas folhinhas, mas está, está crescendo.”

Pag.63

“Pm3: Ah! Sai dia 29, mas vamos ver, até que fui bem, acho. Peguei o resultado das
114
respostas.”

Pag.69

“Pm2: É, a Pf5 estava falando daquelas coisas do ex, credo, eu já sou bem diferente, bem

explosivo, qualquer coisa eu explodo.”

Percebe-se que o Pm3, dificilmente se expressa e quando fala se mantém superficial,

não fala de emoções ou sentimentos. Quanto a fala do Pm2, poderia ser classificada como

uma fala de si mais aprofundada, mas essa foi a resposta quando perguntaram na possibilidade

de ele e a Pf5, se envolverem emocionalmente.

4º Encontro

Pag. 72/73

“Pm3: Foi boa, né! Eu estava escutando o que ela estava falando da filha dela (referindo-se a

Pf4) e lembrei do meu filho, ele já tem 23 anos e estava trabalhando e teve uma lesão na

coluna. Aí, ligaram lá pra casa avisando que ele estava no hospital, pois tinha sofrido um

acidente.”

Em mais um encontro, o Pm3 evitou falar dele, começou com a história, mas não

entrou em contato com a emoção.


115
5º Encontro

Pag.83

“Pm3: Já floriu, já têm umas folhas, já esta bem altinho. Pm3: Já está, já está. Pm3: Passei, na

quarta-feira retrasada saí daqui e fui lá ver, e o pior é que eu passei.”

Pag.84

“Pm3: Foi bom. (risos). É modo de dizer, de trinta e seis eu fiquei em décimo oitavo, bem no

meio.”

Pag.84

“Pm3: Está sendo ótimo. Ontem, levei-os para terem aula na rua. Dei aula prática, fiz eles

plantarem uma muda de eucalipto, falei da pirita, da substância que se usa para anular o efeito

dela.”

Pag.84

“Pm3: Eu também acho! Agora, quando eles forem plantar alguma coisa, eles vão lembrar.”

Apenas o Pm3 apresentou esta postura neste encontro, como dito anteriormente, ele é

um membro que não se expressou muito durante todos os encontros, foram poucas as vezes

em que ele se aprofundou nas falas.

2º e 6º Encontro

Esta característica, não foi apresentada nestes encontros.


116
2.3.4- Manifestações do Grupo, Referente à Quarta Fase.

(4.1) Normalmente, a primeira expressão de sentimentos no “aqui e agora” é negativo,

expresso de um membro a outro.

Esta característica não foi apresentada em nenhum dos encontros.

2.3.5- Manifestações do Grupo, Referente à Quinta Fase

(5.1) Início de expressões de intimidade, com uma fala de si mais profunda.

1º Encontro

Pag.54

“Pf3: Eu tive uma recaída na semana passada, tentei suicídio mais uma vez, é que eu tenho

sentido muito desânimo, não tenho forças para me recuperar. O pior, é que estou preocupada

com minha filha mais nova, de 18 anos. Tenho medo que ela fique igual a mim e tente

suicídio, porque eu vejo que ela está desanimada, triste e se isolando. Estou me sentindo

responsável pela minha filha estar desse jeito, eu sinto como se eu tivesse culpa, que ela está

assim por causa de mim.”

Pag.54

“Pf3: Não, é o contrário, eu fico jogada na cama e não sinto vontade de fazer nada. Há dias

que eu me estico para desligar a TV com o pé, que é para nem ter que me mexer muito.”
117
Pag.55

“Pf3: Já participei, mas não dá vontade, não tenho ânimo.”

Pag.57

“Pf3: Às vezes, eu não tenho força, para fazer nada, nem sei como começar. Depois que o

meu marido se aposentou, começou a fazer os serviços que eu fazia em casa, agora mesmo

que eu não levanto mais da cama.”

Percebe-se que neste primeiro encontro, a Pf3 foi a única que se aprofundou na

expressão de sentimentos. Interessante é que mais tarde, esta é uma das únicas pessoas que

apresenta uma mudança de comportamento no grupo.

2º Encontro

Pag.59

“Pf5: Pelo meu filho, eu estava com saudades dele. Eu fico com raiva porque ele inventa que

eu tenho caso com outras pessoas para só depois, aparecer com outra mulher, para as pessoas

dizerem que eu o troquei por outro e justificar por ele estar aparecendo com outra mulher.”

Pag.59

“Pm2: Se eu encontro esse cara agora, eu nem sei o que faço, acho que eu o esganaria. O cara

tem um filho, que deve ser a coisa mais linda e não se importa, esse cara merecia era uma boa

surra.”

Pag.60
118
“Pm2: [...] Se eu pudesse, veria o meu filho com mais freqüência.”

Pag.60

“Pm2: Vou pensar na possibilidade de recorrer, mas pretendo voltar a trabalhar fazendo

poucas horas, a princípio, depois entro no pique normal, se completar um ano de licença

poderei me aposentar por invalidez, por um lado é bom, mas na verdade, isto faria eu me

sentir um inútil, já que sou muito novo.”

Pag.61

“Pf7: [...] O que está me deixando deprimida é a situação atual. Estou me sentindo amarrada e

mesmo que eu saiba que é por pouco tempo, revolta-me com o que está acontecendo sem

poder fazer alguma coisa, sem poder me defender das mentiras que ela vem contando aos

nossos amigos.”

Pag.61

“Pf2: Eu gostaria que as coisas não tivessem sido assim, talvez se eu tivesse mais experiência

na época, nada disso teria acontecido eu não teria me casado com ele.”

Neste encontro, houve mais participantes que se expressaram e foram honestos em

relação aos seus sentimentos, sem deixar suas expressões subentendidas.


119
3º Encontro

Pag.63

“Pf13: Sim, eu sei, mas digo de retorno profissional. Sou formada faz 12 anos e trabalho na

área de assistência social, contribuí muito, mas parece que não tive reconhecimento, dei tudo

de mim e não tive retorno, nem no meio social e nem nos aspectos profissionais.”

Pag.63

“Pm3: É, mas eu nem conferi, porque senão eu fico ansioso, na expectativa.”

Pag.64

“Pm2: [...] É esse tipo de coisa que me deixa revoltado com ela!”

Pag.66

“Pf5: Não, credo! Estou tão cansada, meu filho me deixa sem energia, tenho que fazer todas

as vontades dele. Ele não pára, é difícil de controlá-lo. Eu não consigo brigar com ele. Não

tenho coragem de bater nele.”

Pag.66

“Pf5: É que eu me lembro do meu pai e da minha mãe e eu não quero ser nada do que eles

foram para mim.”

Pag.66

“Pf5: É, mas nem sei como fazer e não consigo. Sei que deveria, mas fico com pena, tenho

medo de ele não gostar de mim. Há dias que eu tomo remédio para dormir e fico zonza. Ele
120
fica chamando a minha atenção, diz que não quer dormir. Algumas vezes, resisto à vontade

dele, outras não. Também se estou muito cansada faço até as vontades dele pra ele não ficar

berrando no meu ouvido.”

Pag.67

“Pf5: Pior é que não tempo para sair, muito menos pra fazer amigos.”

Pag.67

“Pf5: Eu sei, mas é que, às vezes, não consigo. Também há vezes que eu digo que não, mas

ele insiste muito e como já estou assim, cansada, eu deixo. Credo que gênio ruim. Muito

parecido com o do pai dele, todo mundo diz.”

Pag.68

“Pf5: Não, não sou apaixonada por ele, mas é que fico sentida porque ele nunca fez nada por

mim, não me levava para sair, nem para dar voltinhas comigo, agora que está namorando

outra, fica desfilando com ela por aí.”

Pag.69

“Pm3: Ás vezes eu preciso é dos nervos do Pm2, porque eu deixo as pessoas fazerem o que

elas querem e nem reclamo.”

Pag.70

“Pf2: Eu sou assim, que nem o Pm3, os outros fazem o que bem entendem.”
121
Pag.70

“Pf7: Eu já sou estourada, de tanto ficar berrando por qualquer coisa, mais ninguém se

importa. O meu caso é o contrario, eu tenho é que não falar nada, ficar quieta, aí eu acho que

as pessoas não dão importância.”

Neste encontro as expressões de sentimentos se mostram mais constantes, os

participantes param de oscilar entre o eu exterior e o eu interior, esta oscilação só é comum

em novos membros.

4º Encontro

Pag.71

“Pf3: Eu me acordo só as 9h da manhã, porque o marido me chama, senão, meu sono vai

longe.”

Pag.71

“Pf2: Olha, foi bem. Estou me sentindo melhor sabe, mas, mas... Acho que forte não é bem a

palavra, nem mais pra cima... Eu estou um pouco melhor.”

Pag.73

“Pm3: É... Tem que chorar pouco. Eu acho que o homem que cuida da família, tem que ser a

pessoa mais forte da casa, por isso que eu evito chorar.”

Pag.73

“Pm3: Eu sei o quanto isto é comum, mas sei que posso vir a me sentir sozinho, eu e a
122
minha esposa moramos em uma casa grande e sem os filhos. O espaço vai ser muito grande.

Pensando nisso já olhei outras casas menores para vender a minha e comprar outra.”

Pag.74

“Pm2: [...] Fiquei nervoso, não agüento essas coisas.”

Pag.75

“Pf3: Quem cuida dos meus remédios é o marido. Quando eu fico jogada é ele que faz todas

as coisas. Quando eu tento me meter para fazer o almoço, ele diz: deixa que eu faço. Eu deixo

mesmo, ele cozinha bem, nem preciso fazer nada. Fim de semana quando vai gente lá em

casa é tudo ele que faz. Eu nem ligo é melhor pra mim mesmo.”

Pag.75

“Pf3: Tem que ser né, meu filho! Se a gente não se levantar, ninguém se levanta por nós.”

Pag.76

“Pm2: [...] Nossa! A sorte deles que conseguiram fugir, porque se eu os pego, quase mato,

pois encheram meu irmão de porrada, em dois.”

5º Encontro

Pag.77

“Pf4: Graças a Deus! Porque só o que a gente tem falado lá em casa é acidente, processo,

processo e acidente. Isso já cansou a gente, mas deixa, deixa estar.”


123
Pag.77

“Pf3: Eu estou bem, até. Estou me sentindo bem melhor.”

Pag.78

“Pf15: [...] mas há vezes que eu olho para minha filha e penso que seria melhor que ela nem

tivesse nascido. É até um pecado, que Deus me perdoe, mas, às vezes, eu imagino que se eu

não estivesse grávida do meu marido na época que ele morreu, não seria tão ruim.”

Pág.78

“Pf15: É que eu penso que não teria sido essa barra e que eu não teria entrado tanto em

depressão. Quando eu descobri que estava grávida, o meu marido já tinha morrido.”

Pág.79

“Pf15: Morreu, morreu sem saber de nada. Aí eu achei que a criança me ajudaria na

recuperação, mas foi pior ainda. Hoje eu não me sinto mãe. Eu sei que é horrível, mas para

mim, ela é como uma irmã.”

Pág.79

“Pf4: Bem, agora que a minha filha não participa mais do grupo, está fazendo individual com

a facilitadora, eu me sinto mais à vontade para relatar a minha vida para vocês.[...]”

Pág.80

“Pf4: É verdade, foi com o meu marido que eu me sentia amada e segura.”
124
Pág.80

“Pf15: Sabe que ouvindo ela falar da figura do marido, eu me lembrei que realmente um

homem faz muita falta,[...]”

Pág.81

“Pf4: Ah, sim! Às vezes, eu chego a pensar que seria melhor eu não ter conhecido o meu

marido. Aí eu não sentiria falta de nada, não teria sofrido tudo o que eu sofri. Depois que ele

morreu, eu tive que me desdobrar em duas. Agora, eu sou o homem da casa, eu tive que

aprender a me virar sozinha. Eu acho que é por isso que não me caso, porque não tem um

homem que me faça sentir segura. [...] Por isso, à vezes, eu imagino que seria melhor que eu

não o tivesse conhecido. Eu não saberia das coisas que me fazem falta. Sabe, depois que ele

morreu eu tive que me tornar uma pessoa muito forte. Eu tive que dar segurança para as

minhas filhas, a sobrinha e o namorado.”

Pág.81

“Pf4: É, e pra mim, quem vai dar segurança? Eu não tenho mais isso. Foi só o meu marido

quem me fez sentir segura. Tanto que eu nunca falei nada sobre isso nas reuniões quando a

minha filha vinha para também dar espaço a ela, para cuidar dela primeiro. Depois que o meu

marido morreu, eu tenho feito uma luta diária para não cair em depressão. Tento me manter

ocupada o tempo inteiro, preocupo-me com todas as pessoas, sejam elas quem forem.”

Pág.82

“Pf4: Não, não demonstro, tanto que eu tento estar sempre ocupada. Às vezes, eu choro, mas

ninguém vê, e depois eu já me levanto, já começo tudo de novo, toco a bola para frente e

vamos lá! Por isso que eu não pego férias.”


125
Pág.82

“Pf4: Caio, caio e não me levanto mais.[...]”

Pág.82

“Pf4: Ele fez falta para muita gente, nossa. Se eu tivesse casado com outro, não teria sofrido

tanto.”

Pág.83

“Pf2: É a falta que faz, porque eu nunca tive uma pessoa que me amasse e cuidasse de mim, o

meu marido é todo ao contrário. Eu acho que eu preferia ter vivido uma história assim, do que

estar na minha história. Na verdade, essa é o tipo de coisa que eu não conheço.”

Pág.83

“Pf2: Não, não, hoje eu estou bem, eu estou aqui quietinha, mas estou só ouvindo. Nem

sempre é preciso falar. Muitas vezes a gente aprende só escutando, pelo menos eu aprendi

muita coisa no grupo.”

Os conteúdos emocionais que as participantes trouxeram, foram muito profundos

neste encontro, as expressões de sentimentos íntimos foram constantes, nota-se que há

confiança de um membro para com o outro. Esta foi a primeira vez, em que a Pf4

compartilhou suas histórias e sentimentos com o grupo. A Pf15, participava do grupo pela

primeira vez, mas foi muito intensa.


126
6º Encontro

Pag.85

“Pf2: É, pode ser. Ainda bem que acaba hoje, pois estamos em poucos, é melhor quando o

grupo está cheio, né?”

Pag.86

“Pf3: Mas credo, eu nesse estado doente, elas ainda vem incomodar eu e o meu marido.

Peguei naquelas trancinhas e levei até o chão. Ai, credo, se grudo naquelas trancinhas de

novo!”

Pag.86

“Pf3: (risos) A velha aqui é brava.”

Pag.87

“Pf6: Abandonada pelo namorado, o Dr. A. está morando em Joinville. Eu nem sei mais se é

namorado mesmo, faz tempo que a gente não se vê. Andei emagrecendo de novo com essa

correria de final de semestre. Acho que vou reprovar em algumas cadeiras, mas tudo bem.”

Pag.87

“Pf6: Não, não era há muito tempo não, mas eu me apeguei bastante a nele, porque sempre

estava cuidando de mim, fazendo alguma coisa pra eu comer, mandando eu fazer exames de

sangue, por causa da minha bulimia. Então, era muito bom quando ele ainda estava morando

aqui. Eu sinto falta disso.”


127
Pag.87

“Pf15: Mas namora a distância, às vezes, é bem melhor, enjoa menos?”

Pag.87

“Pf15: É, porque se vê quase sempre, quando mora longe, não. A gente se vê lá uma vez ou

outra, então, tem sempre a saudadezinha.”

Pag.87

“Pf15: (Risos) É que eu estou namorando um cara de Florianópolis hà alguns meses, mas

ninguém da minha família sabe. Eles acham que ele é só meu amigo, nós somos bastante

discretos.”

Pag.88

“Pf15: Estou, ele é muito carinhosinho, atencioso. Adora a minha filha e me adora. Eu acho...

(Risos)”

Pag.88

“Pf15: Oh! Adoraria me casar!”

Pag.88

“Pf15: Um pouco de cada, primeiro à distância para se conhecer devagar, depois que se

conhecer bem, aí pode casar.”

Pag.88

“Pf2: Acho que não, não quero ficar enchendo vocês com a história da minha vida, que são,
128
somente, coisas ruins. Ninguém gosta de ouvir coisa ruim.”

Pag.88

“Pf2: Eu tenho um cunhado, que de vez enquando vai lá em casa e fica escutando as minhas

lamentações. É só ele que fico incomodando com as minhas coisas, não quero ficar falando e

enchendo vocês.”

Pag.89

“Pf2: É que eu descobri quem é a amante dessa vez.”

Pag.89

“Pf2: Descobri, é de lá, também.”

Pag.89

“Pf2: [...] O pior é que ela é uma prostituta e nós não vivemos tão bem assim para ele ficar

sustentando estas vagabundas.”

Pag.89

“Pf2: Mas a gente nem tem mais relações sexuais. A gente dorme em quartos separados. Há

noites que ele chega de porre e deita na minha cama onde eu durmo com a minha filha, mas

ele nem me toca.”

Pag.91

“Pf2: Eu acho que o meu marido queria que eu tivesse andado com outros homens por aí.”
129
Percebe-se que neste ultimo encontro, as participantes continuaram expressando suas

intimidades, demonstraram confiança no grupo.

(5.2) Respeito ao sofrimento do outro que muitas vezes é questionado.

1º Encontro

Pag.56

“Pf4: Os teus pais de criação são teus avós?”

Pag.56

“Pf4: Nossa! Confusa essa história!”

3º Encontro

Pag.66

“Pf4: Tu já pensaste em botá-lo numa creche?”

Pag.67

“Pf4: Estão vendo, ainda é apaixonada. Só pode, outra apaixonada recolhida. Não é, Pf5?”

4º Encontro

Pág.72

“Pm2: Mas o senhor não ficou quase louco? Porque ligaram pra tua casa assim deram o
130
recado assim, no seco.”

Pag.74

“Pm2: (Para Pm3) O senhor não ficou agoniado quando ligaram para sua casa dando essa

notícia sobre seu filho?”

5º Encontro

Pag.84

“Pf4: O que é isso seu Pm3? Pior? O senhor não queria passar?”

Pag.84

“Pf15: E que concurso é esse?”

Pag.84

“Pf4: Dos terminais?”

As participantes direcionaram algumas perguntas ao Pm3, mas ele continuou se

mantendo na superficialidade, evitando se expressar.

6º Encontro

Pag.87

“Pf3: Vocês eram namorados há muito tempo?”


131
Pag.89

“Pf3: Descobriu?”

Pag.89

“Pf3: Onde que vocês moram?”

Pag.90

“Pf15: E ele é assim desde quando?”

Percebe-se que neste encontro as participantes estavam mais íntimas, tomaram

liberdade para se questionarem mais.

2º Encontro

Esta característica não foi apresentada neste encontro.

2.3.6- Manifestações do Grupo, Referente à Sexta Fase

(6.1) Expressão de sentimento interpessoal positivo.

3º Encontro

Pag.68

“Pf4: Nós estamos dando uma de cupidos com o Pm2 e a Pf5. É que nós gostamos muito de

vocês e queremos vê-los bem.”


132
Esta foi a primeira expressão de sentimento interpessoal positivo que o grupo

apresentou.

1º, 2º, 4º, 5º e 6º Encontro

Esta característica não foi apresentada nestas fases.

(6.2) Expressão de sentimento interpessoal negativo.

Esta característica, não foi apresentada em nenhum dos encontros.

2.3.7- Manifestações do Grupo, Referente à Sétima Fase

(7.1) Os membros percebem que possuem uma capacidade terapêutica e passam a

exercitá-la dentro do grupo.

1º Encontro

Pag.54

“Pf11: Capaz, ela não vai fazer isso não. Não se preocupa.”

Pag.57

“Pf4: Tu tinha era que ter chutado o balde, mandar todo mundo para aquele lugar.”

Pag.57

“Pf1: Ah, sim! Porque isso é o que melhor convém pra eles, sabem que tu fazes falta.”
133
2º Encontro

Pag.59

“Pf1: É, ele faz o que melhor convém, para ele.”

Pag.59

“Pf4: Sim, o menino pode ficar contigo, sem o pai ver um tempão que não esquece? E tu ficas

uma semana sem vê-lo e o menino já vai esquecer? Capaz! Esse teu ex-marido é um folgado.”

Pag.60

“Pf4: Mas, Pm2, sabias que tu podes recorrer? Se tu estás com licença, tens vários dias vagos

na semana, tem como recorrer.”

3º Encontro

Pag.64

“Pf4: É rapaz, mulher é assim, se deixar faz gato e sapato de ti.”

Pag.65

“Pf7: É porque mulher é pior que homem, se tu deres o dedo ela vais querer a mão, e se der a

mão, ela quer o braço.”

Pag.65

“Pf4: Mas é isso o que ela quer, mostrar que ainda manda em ti.”
134
Pag.66

“Pf4: Mas, às vezes, dar alguns tapas não é ruim, é preciso para impor limites.”

Pag.66

“Pf1: Olha, nem sempre bater ou brigar é sinal de falta de amor, é para o bem dele. Sabe,

ensinar que existem limites e nem tudo pode ser do jeito que ele quer.”

Pag.66

“Pf13: Aprende a se socializar com outras crianças.”

Pag.67

“Pf2: É, ele foi criado assim, muito sem limites. Os pais dele nunca disseram para ele: Meu

filho, não faz assim com as mulheres. Esse tipo de coisa não é legal. Tanto que hoje ele faz o

que bem entende, sem se preocupar em machucar as outras pessoas. Por isso que eu acho que

tu deve prestar mais atenção nessas coisas, as vezes é preciso um puxão de orelha, um não,

impor limites também é sinal de amor.”

Pag.67

“Pf7: É mesmo, assim quem sabe tu cuida mais de ti, sai com os amigos.”

Pag.68

“Pf7: Eu acho que é assim: como tu nunca namoraste mais ninguém, só ele, tu não consegues

imaginar outra pessoa.”


135
Pag.68

“Pf4: (Falando à Pf5). E o Pm2, vocês têm é que trocar os telefones para dar uma saidinha,

conversarem um pouquinho, aí depois quem sabe.”

Pag.70

“Pm3: É, é...De vez enquanto é preciso ser nervoso.”

Neste encontro, o grupo passou a ser mais terapêutico, os participantes se

aconselhavam, mostrando-se interessados em ajudar o outro.

4º Encontro

Pag.75

“Pf6: Eu já falei pra Pf5, eu acho que esta leseira dela é tudo por causa dos remédios que ela

toma.”

5º Encontro

Pag.78

“Pf4: Podes fazer o que tu quiseres, se quiseres chorar, chora, se quiseres falar, fala.”

Pag.79

“Pf2: Mas isso é normal que aconteça, ainda mais passando pelo que tu passaste.”
136
Pag.82

“Pf4: Olha, mas você nem deseja a morte dele, porque você não sabe o quanto faz falta.”

Pag.83

“Pf4: E o senhor Pm3, como é que estão os aipins? Ficou quietinho, hoje.”

6º Encontro

Pag.88

“Pf3: Que nada, deixa de ser boba, cada um escuta cada um, já contei um pouco dos meus

problemas e todo mundo me ouvia. Agora olha aqui como é que eu estou. Tem de falar.”

Pag.88

“Pf6: É, na semana passada só tu que não falaste, nós estamos aqui para falar. Se a gente não

falar no grupo, vai falar onde?”

Pag.91

“Pf3: Isso é verdade, mas a gente tem que conscientizar em casa do mesmo jeito para garantir.

Não podemos ficar dependendo dos outros.”

2º Encontro

Esta característica não foi apresentada neste encontro.


137
2.3.8- Manifestações do Grupo, Referente à Oitava Fase

(8.1) A aceitação do eu é o começo da mudança do indivíduo no grupo.O indivíduo não

impõe limitações ao seu verdadeiro ser, fica mais perto de sua verdadeira personalidade.

Esta manifestação é percebida em todos os encontros, quando as pessoas começam a

se expressar, a falar de seus verdadeiros sentimentos, aceitando-se ser quem são, sendo cada

vez mais profundo.

2.3.9- Manifestações do Grupo, Referente à Nona Fase

(9.1) Os membros passam a exigir que cada um expresse seu verdadeiro eu interior.

3º Encontro

Pag.83

“Pf4: (Para Pf13) Eu acredito que a partir do momento que você dá, é porque você quer. E se

você quer retorno, o problema é seu. Algumas pessoas não estão nem aí para se você foi boa

ou não com elas.”

Esta característica foi apresentada por um novo membro, logo após esta

intervenção, a participante clareou seu sentimento.

1º, 2º, 4º, 5º e 6º Encontro

Esta característica não foi apresentada nestes encontros.


138
(9.2) Há intolerância dos membros para com os que se mantém por detrás de uma

máscara ou fachada.

Esta característica não foi apresentada em nenhum dos encontros.

2.3.10- Manifestações do Grupo, Referente à Décima Fase

(10.1) Feedback positivo e afetuoso.

3º Encontro

Pag.66

“Pf4: É, está tão bem. Parece ter tido bons dias.”

Pag.69

“Pf4: Viste! Se o senhor não tivesse ligado e exigido, não tinha conseguido marcar ainda!

Viu, aprendeu um pouquinho com o Cris.”

4º Encontro

Pag.76

“Pf3: Oh! O Cris está mais revoltadinho, quando ele chegou aqui estava de cabeça baixa,

deixando a mulher mandar nele. Agora já quer sair batendo em todo mundo. Antes ele falava

que bateria, mas falava calmo, parecia que quase não tinha força. Agora parece que está com a

bateria a todo vapor.”


139
6º Encontro

Pag.86

“Pf6: Nossa, Dona Pf3, fiquei admirada, não imaginei que a senhora tinha essa garra, fiquei

muito surpresa. (sorrindo)”

Pag.91

“Pf6: A dona Pf3, já é uma senhora bem consciente porque isso ainda é um tabu para algumas

famílias conversarem com os filhos.”

1º, 2º e 5º Encontro

Esta característica não foi apresentada nestes encontros.

(10.2) Feedback negativo.

3º Encontro

Pag.64

“Pf4: Ixe! Ela manda em ti.”

Pag.64

“Pf4: Já vi tudo! Essa paixão enrustida. A dondoca diz que não vai deixar tu pegar o menino e

tu chegas a bater o carro, aí ela diz: Ai, bateu o carro por minha causa. Depois ela liga

dizendo que tu podes buscar o menino. Do jeito que ela quer, mesmo divorciados, ainda quer

te controlar e tu deixas.”
140
Pag.67

“Pf2: (Direcionando-se a Pf5) Tu estás criando o meu marido.”

Pag.69

“Pf4: Oh! O Pm2 é muito parecido com essa aqui, (referindo-se a filha Pf7), qualquer coisinha

já explode.”

1º, 2º,4º, 5º e 6º Encontro

Esta característica não foi apresentada em nenhum dos encontros.

2.3.11- Manifestações do Grupo, Referente à Décima Primeira Fase

(11.1) Indivíduos se confrontam uns com os outros, são reações menos moderadas que os

feedbacks.

(11.2) O membro atacado pela confrontação pode se sentir confuso.

Ambas as características não foram apresentada em nenhum dos encontros.

2.3.12- Manifestações do Grupo, Referente a Décima Segunda Fase

(12.1) Há procura e auxílio fora das sessões de grupo.

(12.2) Alguns percebem a capacidade que tem de ajudar, respeitar e perceber o outro

uma necessidade de auxílio.

Ambas as características não foram apresentadas em nenhum dos encontros, porém, o

facilitador foi procurado inúmeras vezes por alguns dos participantes, nestas procuras,

informaram-no que alguns dos membros estavam se vendo e se ajudando fora do grupo.
141
2.3.13- Manifestações do Grupo, Referente à Décima Terceira Fase

(13.1) Os sentimentos expressos são vivenciados pelos membros do grupo.

1º Encontro

Pag.53

“Pf3: Eu acho que todo mundo aqui entende muito bem disso (Suspiro, desta).

(Silêncio).”

Pag.54

“(Todo o grupo concordou, quanto a este aspecto dos depressivos. Falaram e cochicharam

juntos, alguns falaram em voz alta que já passaram por isto, e outros só concordaram. Não foi

possível descrever as falas de todos).”

Pag.57

“(Houve muitas conversas paralelas sobre a necessidade de chutar o balde, às vezes).”

3º Encontro

Pag.64

“(O grupo se manifestou em concordância)”


142
5º Encontro

Pag79

“Pf4: É, eu sei, é bem assim, tudo a gente tem medo de fazer, tudo pode dar errado, a gente

pensa nas diversas maneiras de dar errado e acontecer algo de ruim com a gente.

Pf15: É bem assim mesmo. Com todo esse medo eu não fazia mais nada. Acomodei-me,

deitei na cama e ali fiquei. Foi por isso que mandaram me internar.”

Pag.82

“Pf15: É, então tu me entendes. É que são mortes muito cruéis, inesperadas.”

Pag.83

“Pf4: É verdade, a gente se identifica. Aí pega um pouquinho daqui, outro pouquinho dali.

Pf15: A gente até vê que existem problemas maiores ou iguais aos nossos.

[...]

Pf4: É né, a gente se ajuda! (risos).”

6º Encontro

Pag. 85

“Pf3: É mesmo, né? A gente se apega nestas criaturas[...]”

2º e 4º Encontro

Esta característica não foi apresentada nestes encontros.


143
2.3.14- Manifestações do Grupo, Referente à Décima Quarta Fase

(14.1) O clima de aceitação aumenta e os participantes passam a fazer mais expressões

de sentimentos positivos entre eles, aumentando a intimidade.

6º Encontro

Pag.85

“Pf6: É verdade, a gente se apega às pessoas e fica querendo saber como elas estão se o aipim

já cresceu (risos), se está trabalhando, se teve uma recaída ou se tudo está na mesma.”

Pag.85

“Pf3: [...]A gente se apega nestas criaturas. Eu estou louca para saber como eles estão.”

Pag.85

“Pf6: Nós poderíamos ligar para eles saber como eles estão. Tu (referindo-se à facilitadora)

poderias ligar para eles, ver como estão e nos ligar dizendo.”

Esta característica foi manifesta apenas no último encontro, onde as participantes se

expressaram em relação ao grupo, relatando a criação de vínculo que criaram entre elas e os

demais.

1º, 2º, 3º, 4º e 5º

Esta característica não foi apresentada nestes encontros.


144
2.2.15- Manifestações do Grupo, Referente à Décima Quinta Fase

(15.1) Há mudança no comportamento dos membros do grupo.

4º Encontro

Pag.70

“Pf3: Ai gente, ontem eu fiz uma correria com minha filha. Ela está com problemas na coluna,

escoliose. Aí, eu a levei ao médico e para fazer exames.

Facilitadora: Nos encontros anteriores a Pf3, não tomava iniciativa para falar, ficava sentada

encolhida, me surpreendeu por ter tomado a iniciativa para falar de um jeito espontâneo e

descontraído.”

Pag.75

“Pf3: Quem cuida dos meus remédios é o marido. Quando eu fico jogada é ele que faz todas

as coisas. Quando eu tento me meter para fazer o almoço, ele diz: deixa que eu faço. Eu deixo

mesmo, ele cozinha bem, nem preciso fazer nada. Fim de semana quando vai gente lá em

casa é tudo ele que faz. Eu nem ligo, é melhor pra mim mesmo.

Facilitador: Dona Pf3, parece estar bem, está com uma carinha ótima.

Facilitadora: Falando alto, gesticulando bastante.

Facilitador: Está com uma cara muito boa.”

Pag.75/76

“Pm2: Deixe-me contar a vocês... Naquele dia que ligaram para a minha casa, falando que o

meu irmão tinha apanhado, eu fui para o bar e corri atrás dos caras, mas não consegui alcançá-
145
los. Pulei o muro do dono do bar, mas este disse que ligaria para a polícia e nos denunciaria

por invasão domiciliar. Nossa! A sorte deles que conseguiram fugir, porque se eu os pego,

quase mato, pois encheram meu irmão de porrada, em dois.

Facilitador: Puxa! Tu já tens se incomodado bastante, ainda vem mais estas coisas pra ti

ficares se preocupando.

Pf3: Oh! O Cris está mais revoltadinho, quando ele chegou aqui estava de cabeça baixa,

deixando a mulher mandar nele. Agora já quer sair batendo em todo mundo. Antes ele falava

que bateria, mas falava calmo, parecia que quase não tinha força. Agora parece que está com a

bateria a todo vapor.”

Estas situações são referentes aos momentos em que os membros demonstram uma

mudança e os membros percebem e dão o feedback a estes.

5º Encontro

Pag.83

“Pf2: Eu quem diga. Como melhorei depois que vim pra cá.

Facilitadora: Eu também senti a senhora melhor.

Pm3: É, é, é verdade. Estás até mais corada.”

A Pf2 relata ter percebido uma mudança e um outro membro do grupo confirma a

percepção desta mudança.

1º, 2º, 3º e 6º Encontro

Esta característica não foi apresentada nestes encontros.


146

(15.2) Há mudança das atitudes dos membros do grupo na relação com a família, no

ambiente profissional e social.

4º Encontro

Pag.72

“Pf2: É! Hoje o meu marido saiu de casa e perguntei se ele vinha cedo porque eu vinha para o

grupo. Ele disse que não sabia. Aí, eu nem me estressei. Não quis bater boca com ele. Deixei.

Se der deu, se não der não deu. Então, às 16:00h, o meu filho veio me avisar que ele tinha

chegado. Aí, eu tomei um banho e vim.

Facilitador: Já não deu mais tanta importância pras atitudes dele?

Pf2: Ah é… antes eu perdia tempo batendo boca com ele. Entrava em discussão, brigava, mas

hoje eu nem liguei. Deixei como estava, porque não iria adiantar nada, e eu só iria ficar

irritada.”

A Pf2 relata uma atitude que teve dentro de casa com o marido, uma reação diferente

as que ela apresentava até então.

6º Encontro

Pag.86

“Pf3: A minha semana foi uma beleza, há umas meninas que ficavam esperando a minha

filha no terminal para bater nela por causa do namorado que a minha filha tem e elas querem

também. Peguei a guria e perguntei: quantos anos tu tens? Ela me respondeu: 22 anos, com a
147
boca bem cheia. Aí eu falei: Então tu já és maior de idade. Peguei nas tranças dela e levei até

o chão.

Facilitadora: Mexeram com a sua filha e senhora virou uma leoa? Nem parece aquela mulher

que entro aqui no primeiro dia, retraída, com a fala baixa e com aparência de vulnerabilidade.

Pf3: Mas credo, eu nesse estado doente, elas ainda vem incomodar eu e o meu marido.

Peguei naquelas trancinhas e levei até o chão. Ai, credo, se grudo naquelas trancinhas de

novo!

Pf6: Nossa, Dona Pf3, fiquei admirada, não imaginei que a senhora tinha essa garra, fiquei

muito surpresa. (sorrindo)

Pf2: Eu também, não imaginava que a senhora tivesse essa coragem. Mas a gente que é mãe

entende que quando é com os filhos, essa força aparece não sei de onde.”

Neste, a Pf3 relata uma situação que passou fora do grupo e surpreende a todos pela

atitude que tomou.

1º, 2º, 3º e 5º Encontro

Esta característica não foi apresentada nestes encontros.


148
2.4- Quadro Síntese: Evolução do Processo Psicoterápico, Frente às Fases dos Encontros

Características Encontros do Grupo


1ª Fase 1º 2º 3º 4º 5º 6º
1.1 X X X X
1.2 X
2ª Fase
2.1 X X X X X
2.2 X X
3ª Fase
3.1 X X X X X X
3.2 X X X X
4ª Fase
4.1
5ª Fase
5.1 X X X X X X
5.2 X X X X X
6ª Fase
6.1 X
6.2
7ª Fase
7.1 X X X X X X
8ª Fase
8.1 X X X X X X
9ª Fase
9.1 X
9.2
10ª Fase
10.1 X X X
10.2 X
11ª Fase
11.1
11.2
12ª Fase
12.1 X X X X X X
12.2 X X X X X X
13ª Fase
13.1 X X X X
14ª Fase
14.1 X
15ª Fase
15.1 X X
15.2 X X
149
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho realizado se constituiu numa análise efetuada sobre as quinze fases do

processo de psicoterapia de grupo, desenvolvido em seis encontros. Estes aconteceram um em

cada semana, durante dois meses consecutivos. A análise em questão objetivava compreender

as fases descritas por Rogers em um grupo de DA. (Depressivos Anônimos).

Na formação do grupo de DA não houve uma concepção diferenciando o que é um

quadro depressivo considerado na psicopatologia ou uma tristeza indefinida. A abertura foi

concedida a quem se interessasse em participar sem que houvesse uma seleção de indivíduos

ditos depressivos.

Nesta pesquisa realizada pude perceber a constituição das fases a partir de vários

aspectos de um todo.Estes aspectos, aqui denominados subcategorias, mostraram-me a

possibilidade de um todo muito maior, aquele que configura uma caracterização do processo

Integrativo de um Grupo. Podemos perceber nesta pesquisa a fragmentação de cada item

apresentado por Rogers, que em sua totalidade faz a junção do sentido, mas que na

parcialidade percebemos uma partícula do todo de um processo terapêutico.

Quanto as fases da totalidade destas categorias podemos, após a análise,

afirmar que: A fase de “hesitação, de andar em volta” é comumente percebida nos encontros

iniciais com momentos de silêncio e por novos participantes (não todos), que se mostram

confusos quanto ao sistema funcional do grupo, às vezes, mostrando revolta. Os membros

esperam uma reação direcional do facilitador que, muitas vezes, tem que explicar a estes a sua

não-diretividade ou quebrar os momentos de silêncio. Após se adaptarem ao método do

facilitador, o grupo não manifesta mais a necessidade de ser conduzido, criam uma estrutura

funcional e centrada na individualidade de cada um, até serem interrompidos pelo movimento

novos membros.
150
A fase de “resistência à expressão ou exploração pessoal” é superada por alguns

membros no decorrer dos encontros que começam a descrever sentimentos íntimos e

verdadeiros, assim acontece com os que se inserem no decorrer dos encontros. É possível que

alguns membros resistam em se expressar ou se manter na superficialidade, oscilando entre o

“eu” exterior e interior, por muitos encontros. Também é apresentada antes de algumas

pessoas mostrarem seu verdadeiro ser, por estar trazendo uma novidade ao grupo ou por medo

de não ser aceito.

A fase de “descrição de problemas e sentimentos passados” é percebido em todos os

encontros, principalmente a descrição de sentimentos passados que é utilizada para auxiliar os

membros do grupo a esclarecerem suas histórias aos demais, para que estes possam se “situar”

em seu contexto no momento de criar empatia. Após descreverem fatos ocorridos no passado,

eles trazem situações atuais e expressam sentimentos presentes. Já a superficialidade é

mostrada por novos membros ou pelos que resistem em se expressar, por vários encontros.

Estas atitudes, muitas vezes, interrompem as falas de outros participantes.

A fase de “expressão de sentimentos passados” não é apresentada.

A fase de “expressão e exploração de material com significado pessoal” é

apresentada em todos os encontros, cada vez mais constante e profunda, a expressão de

sentimentos reais e o interesse pelos demais à vivência do relator. O mesmo acontece aos que

vão chegando ao grupo. Porém existem pessoas que participam de muitos encontros,

descrevem sentimentos passados, mas não entram em contato com seus sentimentos atuais.

A fase de “expressão de sentimentos interpessoais imediatos no grupo” acontece

apenas em um encontro do grupo e esta demonstração de sentimento é feita por uma

participante que fala em nome do grupo a dois membros, numa brincadeira. Mas, no último

encontro alguns membros falam do quanto passaram a se importar com a existência dos

colegas do grupo, mas estes não estavam presentes, por isso foi identificado em outra fase.
151
A fase do “desenvolvimento de uma capacidade terapêutica” é encontrada em quase

todos os encontros, de uma maneira progressiva. Os membros passam a se aconselharem

mais, mostrando-se interessados em ajudar o outro.

A fase de “aceitação do eu e começo da mudança” é entendida quando as pessoas

ingressam na expressão de material com significado pessoal, quando começam a se expressar,

falar de seus verdadeiros sentimentos, aceitando-se ser quem são aos demais e sendo cada vez

mais profundos. Por isso, a identificação desta fase é analisada através do “início de

expressões e intimidades, com uma fala mais profunda de si”, categoria da 5ª fase. Então as

mudanças individuais ocorrem desde de o primeiro encontro, ou talvez, ao ingressarem em

um grupo com o pseudônimo de DA, que é rotulado como grupo para pessoas depressivos.

A fase do “estalar das fachadas” aparece em apenas um encontro, onde uma

participante vinda de encontros anteriores, acostumada a não utilização de máscaras aos

sentimentos, intervem um novo membro quanto a sua fala oscilante entre o verdadeiro e o

falso ser. Esta, logo se explica e não deixa sua fala subentendida.

A fase em que “o indivíduo é objeto de reação de feedback por parte dos outros”

acontece poucas vezes a partir do terceiro encontro, tanto o positivo quanto o negativo, sendo

que o negativo aparece em menor escala. Os feedbacks positivos foram muito afetuosos e os

negativos construtivos e em forma de brincadeira.

Nenhum membro apresentou atitudes ou falas que correspondesse à fase de

“confrontação”, todos foram sempre muito equilibrados e moderados quando se

interrelacionavam.

A fase de “relação de ajuda fora das sessões de grupo” não é identificada por falas

dentro do grupo, mas foi manifestada desde de o primeiro encontro e está sendo relatada,

porque a pesquisadora esteve a par de quando alguns participantes procuraram o facilitador,


152
buscando auxílio para os seus problemas ou relatando estar encontrando outro membro fora

do grupo.

A fase do “encontro básico” é percebida desde o primeiro encontro, mas poucas

vezes, muitas por manifestações de silêncio ou falas que não puderam ser identificadas, pois

todos falavam ao mesmo tempo de como vivenciavam a sensação de empatia.

A fase de “expressão de sentimentos positivos e intimidade” é vivenciado apenas no

último encontro, onde as participantes percebem que o grupo chegou ao fim e se dão conta da

separação que terá que acontecer. Então, sentem a falta dos que não estão presentes, relatam

ter criado vínculo com estes e que se sentem interessados pelo bem estar de todos.

A fase de “mudança de comportamento no grupo” é percebida pelos momentos em

que os participantes reagem de determinada forma ou relatam acontecimentos onde a sua

mudança de atitude é percebida por alguém que dá um feedback. A mudança de

comportamento dentro do grupo é vista em apenas três participantes e desses três apenas dois

apresentaram mudança fora do grupo, uma se expressou muitas vezes e a outra se expressou

pouquíssimas vezes. Estas mudanças aconteceram após o quarto encontro. O garoto que

mostrou mudança dentro do grupo, sempre relatava histórias em que era agressivo, mas se

mantinham introvertido dentro do grupo, um tanto desanimado.

Na análise, de todas as hipóteses desenvolvidas, duas hipóteses tiveram corroboração

e uma refutação.

A primeira hipótese acreditava na presença das características de grupo descritas por

Rogers e seus colaboradores no grupo de DA. Com a utilização do gráfico é visível que treze

das quinze fases estão presentes e as fases com características mais profundas aparecem

gradualmente. A não presença de duas fases, não altera este resultado. Pois em Rogers as

revelações das etapas não são percebidas em uma ordem pré-estabelecida, umas aparecem

mais cedo, outras mais tarde e outras nem aparecem. O que se torna importante é a reflexão de
153
que há um aprofundamento terapêutico no processo deste Grupo, independente de que

algumas fases, como disse anteriormente, não tenham aparecido.

Apesar de não ser significativa para a análise desta pesquisa o motivo do não

surgimento de duas fases (4ª e 11ª) que dizem: Expressão de sentimentos negativos e

Confrontação. Pode-se averiguar que tanto uma quanto a outra referem-se a comportamentos

hostis em relação a outros membros do grupo. Pode-se inserir múltipla variáreis que

determinariam a ausência deste tipo de comportamento. Um dos motivos pode ser o estado de

humor mais depressivos, a inserção de novos membros, ou qualquer outra variável do

processo em si e que há como induzir conclusões determinantes a este fato.

A segunda hipótese acreditava que a terceira fase “expressão de sentimentos

negativos” não aconteceria. Ela não aconteceu. Assim, como a décima segunda fase

“confrontação”, também não aconteceu. Isto representa uma postura equilibrada no inter-

relacionamento dos participantes ou na aceitação entre eles. Também podemos conceber que ,

com o fato de que algumas pessoas ingressavam no Grupo acabava trazendo a possibilidade

do diferente, e que, muitas vezes, poderia inibir os participantes na confrontação. Podemos

inserir, também, que esta inibição pode fazer parte do quadro de comportamentos

sintomáticos os quais configuravam os membros do Grupo, porém isto traria uma

possibilidade arbitrária de informações a respeito do comportamento que poderia ser

observado, mas que não era foco desta pesquisa.

Já a terceira hipótese acreditava que o processo evolutivo das fases de grupo sofre

regressão com a admissão de novos, pois volta a fases menos complexas e que exigem menor

intimidade com o que diz respeito à expressão de sentimentos pessoais. Quanto ao que diz

respeito à regressão as fases iniciais e menos complexas, é verdade, pois estes novos membros

se mostram confusos quanto ao funcionamento não-diretivo do grupo, voltando a apresentar


154
características da primeira fase, porém não intimidam os demais participantes a se

aprofundarem nas expressões de sentimentos.

É visto que esta hipótese não corroborou. Talvez uma análise comparativa um grupo

fechado e outro aberto para novos membros, possa aprofundar a análise desta hipótese.

Fazendo uma análise geral da pesquisa, chega-se a conclusão de que o grupo de


encontro de Depressivos Anônimos apresenta resultados progressivos em suas fases, causando
mudança no comportamento de alguns membros, característica esta, classificada nas fases
mais complexas da Abordagem Centrada na Pessoa. Com estes dados, posso apresentar a
proposta à coordenação da clínica de Psicologia de dar continuidade aos grupos de DA, pois
os resultados apresentados mostraram ma continuidade do processo terapêutico com seus
resultados positivos, apesar de variações particulares do estilo de Grupo que se constituiu.
Mas que a estes grupos possa-se inserir a modalidade de Grupos Fechados e Abertos,
constituindo assim foco de continuidade de Pesquisas, pois nosso processo de aprendizagem
constitui-se em sua plenitude na aglutinação da pesquisa com o ensino.
155
REFERENCIAL TEÓRICO

BOIANAIM, Elias. Tornar-se Transpessoal: Transcendência e Espiritualidade na Obra


de Carl Rogers. São Paulo, ed. Summus, 1998.

CAMPOS, Ronny Francy. A Abordagem Centrada na Pessoa na História da Psicologia no


Brasil. Tese de Doutorado, ed. Pantifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,
2003.

CARMO, Raimundo E. do. Fenomenologia Existencial – Estudos Introdutórios. Belo


Horizonte, ed. O Lutador, 1974.

COPPE, Antonio A. Favaro. As vivencias em grupo de encontro: Um estudo


Fenomenológico de Depoimentos. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001.

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto


Alegre, ed. Artes Médica Sul, 2000.

FONSECA, Afonso H. Lisboa da. Grupo- Fugacidade, Ritmo e Forma: Processo de


Grupo e Facilitação na Psicologia Humanista. São Paulo, ed. Agora, 1988.

GILLES, Thomas R., História do Existencialismo e da fenomenologia. São Paulo, ed.


Pedagígica e Universitária Ltda., 1989.

GOBBI, Sergio L.. Teoria Do Caos e a Abordagem Centrada na Pessoa: Uma Possível
Compreensão Do Comportamento Humano. São Paulo, ed. Vetor, 2002, 1ª Edição.

GOBBI, Sergio L. e MISSEL, Sinara T.. Abordagem Centrada na Pessoa: Vocabulário e


Noções Básicas.Tubarão, ed. Universitária Unissul, 1998.

GOLDSTEIN, Kurt. La Natureza Humana a la Luz de la Psicopatoplogia. Editorial


Paidos, Buenos Aires, 1961.

JASPERS, Karl. Psicopatologia Geral: Psicologia Compreensiva, Explicativa e


Fenomenologia 2. São Paulo, ed. Atheneu, 2000, 8ª edição
156
JUSTO, Henrique. Cresça e Faça Crescer: Lições De Carl Rogers. Canoas, ed. La
Salle,2000, 6ª edição.

LEITÃO, Virgínia Moreira. Da Teoria Não-diretiva à Abordagem Centrada na Pessoa:


Breve Histórico, in: Revista de Psicologia 4. Janeiro/Junho de 1986, Fortaleza.

MENDES, Adriane M. Moro. Psicossomática: Uma Compreensão Humanista. Trabalho de


Investigação Psicológica II, Unissul, Palhoça, 2000.

PAGÉS, Max. Orientação Não-diretiva em Psicoterapia e em Psicologia Social. Rio de


Janeiro, Forense, Ed. Universidade de São Paulo, São Paulo, 1976.

ROGERS, Carl R.. De Pessoa Para Pessoa. São Paulo, ed. Pioneira, 2a edição, 1977.

_______________. Grupos de Encontro. São Paulo, ed.Martins Fontes, 8a edição,2002.

_______________. Sobre o Poder Pessoal. Tradução de Wilma Millan Alves Penteado.São


Paulo, ed. Martins Fontes, 1986, 2ª edição.

_______________. Psicoterapia e consulta Psicológica. Tradução de Manuel José do


Carmo. São Paulo, ed. Martins Fontes, 1997, 2ªedição.

_______________ .Tornar-se Pessoa. São Paulo, ed. Martins Fontes, 5a edição, 1997.

_______________ .Um Jeito de Ser. São Paulo, ed. EPU, 1983.

ROGERS, Carl R. e KINGET, Marian. Psicoterapia e Relações Humanas I e II. Belo


Horizonte, ed. Interlivros, 1a edição, 1975.

SANTOS, Antonio Monteiro; ROGERS, Carl R. E BOWEN Maria Constança. Quando Fala
o Coração: A essência Da Psicoterapia Centrada na Pessoa. Porto Alegre, ed. Artes
Médicas, 1987.
157
VIANNA, Blandina G.. As Fases do Processo Psicoterápico, Segundo Rogers, em um
Relato de Psicoterapia Infantil. Trabalho de Conclusão de Curso, Tubarão, 1996.

Você também pode gostar