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TEORIA E PRÁTICA DO MÉTODO

ESTRUTURAL DINÂMICO

Jorge Pompei e Colaboradores

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Título original em espanhol: Teoría y Práctica del Método Estructural Dinámico
Direitos reservados: Centro de Estudos Humanistas de Buenos Aires
Projeto editorial: Eduardo Moraes
Capa e diagramação: Yonne Gimenez
Tradução: Ana Carla Bellon, Eduardo Moraes, Erica Costa e Rodrigo Ul
Revisão: Ana Facundes

Impresso em setembro de 2013 por Poloprinter

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NOTA PRELIMINAR

O presente escrito tem como finalidade desenvolver a teoria e a prática do


Método Estrutural Dinâmico e está orientado a servir de apoio a quem
queira introduzir-se no conhecimento desta ferramenta de estudo e ação no
meio.
A denominação “Estrutural Dinâmico” com que designamos esse método
pretende, além de permitir sua correta identificação, expressar as caracterís-
ticas fundamentais da visão do Novo Humanismo Universalista que lhe dá
origem.
Essa visão foi amplamente desenvolvida por Mario Luis Rodríguez Cobos
(Silo) em diversas conferências e livros publicados. Por sua vez, o método
que aqui apresentamos também foi criado por ele, mas deste só contamos
com notas originadas de suas explicações, que circularam como material de
trabalho nos grupos de estudo que se nuclearam em torno de seu pensamen-
to. Destes apontamentos destacamos os do Chile (1972), Argentina (1974)
e Grécia (1975).
Atualmente, depois de mais de três décadas daquelas primeiras explicações,
novos grupos de estudo na Europa e América Latina manifestaram seu inte-
resse em conhecer com maior profundidade essa metodologia, fato que nos
impulsionou a procurar uma forma didática de transmiti-la e trabalhá-la.
Com base nessas primeiras explicações e na experiência de sua aplicação,
desenvolveu-se o presente trabalho que, tomando o núcleo da proposta ori-
ginal, incorporou alguns tópicos e explicações, com a intenção de facilitar
seu estudo e utilização.
Com essa mesma finalidade, optou-se pela forma de Seminário Oficina que
permite, de forma teórica e prática, a aproximação ao tema e o manejo das
operações básicas.
Seu desenvolvimento compreende três sessões de trabalho e cada parte em
que se divide esta obra corresponde ao trabalhado em cada uma delas.
A linguagem utilizada é, em geral, coloquial, já que se tomaram como base
as gravações e apontamentos efetuados nos seminários que realizamos em
Buenos Aires, Santiago do Chile, Barcelona, Madri e Lisboa, entre 2005 e
2006, dos quais participaram membros de diversos Centros de Estudo da
América e da Europa.

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Como anexos, apresentamos o Programa de Trabalho, o Guia de Oficina e
as Referências Bibliográficas utilizadas em tal Seminário, para que sirvam de
orientação aos grupos que queiram encarar o estudo de modo ordenado e
integral.
Por último, uma menção especial à equipe do Centro de Estudos Huma-
nistas de Buenos Aires, que trabalhou na transcrição do áudio e correção
dos rascunhos e aos amigos dos diversos Centros de Estudos, que realizaram
os comentários e as contribuições que fazem deste trabalho uma produção
conjunta.

Buenos Aires, junho de 2008

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Índice
NOTA PRELIMINAR 3

SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

1. GENERALIDADES 9
1.1 Sobre a atitude no trabalho ............................................................................... 9
1.2 O que é um método? ........................................................................................ 10
1.3 A experiência humana. Experiência e pensamento.......................................... 12
1.4 Os métodos da filosofia ................................................................................... 13
1.5 Os métodos da ciência...................................................................................... 23

2. BASES CONCEITUAIS DO NOVO HUMANISMO 25


2.1 A visão do Novo Humanismo ...........................................................................25
2.2 A estrutura dinâmica do pensar ...................................................................... 26
2.3 Os registros do pensar ..................................................................................... 30
2.4 Os Princípios Lógicos ...................................................................................... 33
2.5 As Leis Universais ............................................................................................ 34
2.6 O Método Estrutural Dinâmico (MED). Generalidades................................. 42
2.7 O MED como instrumento de estudo e transformação ................................. 46

3. A PERGUNTA 49
3.1 Delimitação do problema ................................................................................ 49
3.2 Formulação da pergunta ................................................................................. 50
3.3 Definição do objeto de estudo. O interesse......................................................51

SEMINÁRIO OFICINA - Segunda Parte

4. A ANÁLISE 57
4.1 Estudo em estática. A Estrutura. Localização “espacial” do Objeto de Estudo .......................57
4.2 Estudo em dinâmica. O Movimento. Localização “temporal” do Objeto de Estudo ..... 60
4.2.1 Estudo de processo ....................................................................................... 61
4.2.2 Estudo de relações ........................................................................................ 67
4.2.3 Estudo de composição .................................................................................. 69

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SEMINÁRIO OFICINA - Terceira Parte

5. A RESPOSTA 77
5.1 Descrição ......................................................................................................... 77
5.2 Resumo ............................................................................................................ 78
5.3 Síntese ............................................................................................................. 78
5.4 Conclusão ........................................................................................................ 79

6. APLICAÇÕES 81
6.1 Informe Final ................................................................................................... 81
6.2 Outras aplicações ............................................................................................. 82
6.3 Consequências.................................................................................................. 82

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 85

PROGRAMA DE TRABALHO................................................................. 87

GUIA DE OFICINA .................................................................................. 91

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 100

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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

SEMINÁRIO OFICINA

Primeira Parte

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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

1. GENERALIDADES
1.1 Sobre a atitude no trabalho
Para começar, tentaremos nos colocar de acordo com relação à modalidade
que queremos imprimir ao trabalho que vamos realizar.
Embora apresentemos um programa, a fim de nos organizarmos com relação
aos tempos, a ideia é desenvolvê-lo entre todos de uma maneira muito solta,
que facilite a atitude mental adequada para este tipo de trabalho.
O programa é uma sequência de passos. À medida que transitarmos por
eles, iremos preenchendo-os com conteúdos e com nossas próprias vivências.
Desse modo, o resultado dependerá de nossa contribuição em conjunto.
O enfoque que vamos lhe dar é eminentemente prático e, apesar de usar
algumas explicações que nos servirão de enquadramento, vamos privilegiar o
exercício em cada grupo. Contamos, além disso, com material bibliográfico
que pode ser consultado, mas nesta oportunidade nos interessa, sobretudo,
desenvolver a prática no trabalho com o método.
Com relação à atitude que recomendamos para estes desenvolvimentos, po-
demos fazer três propostas.
Primeiro, vamos propor trabalhar com a técnica conhecida como cerco men-
tal. Isso significa que trataremos de construir uma espécie de ambiente temá-
tico dentro do qual nos moveremos e que obviamente está relacionado com
os temas da oficina. Tentaremos deixar de lado outros temas que possam nos
preocupar, mas que não vêm ao caso.
Essa intenção, que trabalha em copresença, permitirá saber quando estamos em
tema e quando saímos dele. Se sairmos do tema, simplesmente trataremos de
voltar e isso certamente possibilitará que o trabalho tenha melhores resultados.
Em segundo lugar, vamos propor intencionar, entre nós, um sistema de re-
lações com a maior soltura possível. Isso vai facilitar que, nos trabalhos de
grupo, em que vamos tratar de gerar e integrar uma grande riqueza de pon-
tos de vista, não estejam atuando tensões que não sejam próprias do trabalho
proposto. A perspectiva – e a intenção – não é a confrontação de ideias, em
que uma se sobrepõe às demais, mas sim a contribuição de ideias e pontos
de vista com um espírito de confluência e integração. A intenção será, então,
que as diversas exposições feitas por cada um, as diversas propostas feitas por
cada um não estejam pensadas para anular aquela que outro tenha feito, mas
para somar e integrar em um plano maior, com maior amplitude e com uma
visão mais clara, aquilo que se está tratando.

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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Em terceiro lugar, vamos propor manter uma atenção distensa no trabalho. Este
é um bom momento para trabalhar e exercitar a atenção, porque estes trabalhos
a requerem. Entretanto, não nos referimos a uma atenção tensa, uma atenção
com semblante franzido, mas àquela que nos permita seguir os temas acompa-
nhados de uma espécie de relaxamento mental. Normalmente, temos a concen-
tração associada a tensão, mas esta, além de nos cansar, dificulta o fluir das ideias
e as relações que queremos estabelecer para avançar na compreensão dos temas.
Por último, como esta é uma proposta de oficina de introdução, não é neces-
sário que os participantes tenham profundos conhecimentos sobre o tema.
Se alguém se aproxima pela primeira vez, é tarefa de cada grupo que ninguém
fique fora, perdido nos desenvolvimentos. Se por acaso alguém se perde um
pouco, não há nada de mais, avisa e tratamos de integrá-lo novamente.
Bem, com essas considerações acredito que podemos ir entrando em tema.

1.2 O que é um método?


O interesse deste encontro é trabalhar com o Método Estrutural Dinâmico
apresentado no Novo Humanismo como ferramenta de estudo e ação no
meio. Portanto, primeiramente deveríamos nos perguntar o que é um méto-
do e qual interesse tem para nós seu estudo.
Poderíamos responder de muitas maneiras, mas em todo caso podemos esco-
lher uma definição que podemos melhorar à medida que o trabalho avança.
O primeiro que diremos é que um método é um conjunto de procedimentos
ordenados no tempo para chegar a um fim. Um conjunto de procedimentos,
distintos procedimentos que possuem certa ordem temporal – primeiro um,
depois o outro. Seu objetivo, como o de todo sistema, é chegar a um fim,
produzir um bem, algo valioso.
Etimologicamente, a palavra método provém do grego. Met significa “depois
de”, “o que está além” e odos, “caminho”. Isso nos sugere que um método
consiste nos passos ordenados de certa maneira para chegar exitosamente ao
fim do caminho.
Se não complicarmos muito, veremos que estamos permanentemente usan-
do métodos. Métodos que, em geral, não chamamos assim, mas que aplica-
mos na vida cotidiana e que certamente também usamos em terrenos mais
especializados como a tecnologia, a ciência e a filosofia.
Em princípio, poderíamos dizer que aplicar um método serve para não es-
quecer nenhum aspecto importante e, além disso, para recordar a ordem dos
passos, dado que um passo se relaciona, em seu resultado, com o seguinte.
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

Se revisarmos nossa vida cotidiana, veremos que temos, em sentido amplo,


muitos pequenos métodos que utilizamos em atividades que requerem certa
ordem, seja para não esquecermos nada ou porque são atividades dependen-
tes do resultado de cada passo. Certamente, também encontraremos pessoas
que são muito meticulosas em seu agir cotidiano. Consideremos, por exem-
plo, como nos preparamos para ir dormir ou quando saímos para as ativida-
des. Alguns o fazem a cada vez de um modo diferente, mas outros têm essas
atividades sistematizadas para não esquecer nada.
Outro caso em que a sequência utilizada resulta fundamental é, por exem-
plo, o das receitas de cozinha. Nelas, além de não esquecer nada, é impor-
tante a ordem em que os passos se desenvolvem. Primeiro, preparamos os
componentes, misturamos, depois cozinhamos e, por último, colocamos no
prato e decoramos. É evidente que, se alterarmos a sequência, o resultado
não será o que desejamos.
Por sua vez, a tecnologia está repleta de métodos e a maioria das coisas que
se produzem e utilizam nesse campo, para não dizer todas, implicam um
desenvolvimento sequencial que muitas vezes se apresenta em um manual
de procedimentos que deve ser seguido com precisão para obter o resultado
desejado. Caso não se atue seguindo as indicações, o resultado poderá ser um
tanto difícil de prever e obviamente procuramos obter o melhor resultado
possível.
De qualquer maneira, não é nosso interesse, nestes trabalhos, dedicarmo-nos
a estudar esse tipo de método. Entretanto, ver como os métodos nos acom-
panham em muitas das coisas que fazemos pode ser de utilidade para entrar
no tema.
Avançando um pouco mais, entraremos agora em terrenos onde o método
é de fundamental importância. Refiro-me à filosofia e à ciência, cujo desen-
volvimento não é imaginável se as separamos dos métodos que se seguiram
nessas atividades e que estão estreitamente ligados ao desenvolvimento do
pensamento e do quefazer humano. Foram, portanto, de grande utilidade,
na medida em que nos permitiram avançar na compreensão do mundo e na
operação que se realiza sobre ele.
Vamos enfocar, então, esse tipo particular de método que tem como obje-
tivo, por um lado, produzir conhecimento e, por outro, atuar no mundo
com ele.
Obviamente, alguém poderia pensar que será difícil obter um conhecimento
sem que este tenha depois consequências no mundo, mas quando vemos
como a filosofia trabalha, está claro que sua orientação é fundamentalmente
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

a busca de certo conhecimento e que não se preocupa tanto com as conse-


quências que isso vai ter depois na operação concreta no mundo das coisas.
Por outro lado, os avanços no pensamento ocorreram em determinado lugar
e momento histórico, e ocorreram simultaneamente aos avanços em outros
terrenos, embora não necessariamente ligados de modo direto ou causal.

1.3 A experiência humana. Experiência e pensamento.


Tratemos por um momento de nos colocar na cabeça de nossos antepas-
sados, daqueles primeiros hominídeos que perambulavam pelo planeta e,
como em uma ficção, tratemos de imaginar o que pode ter acontecido quan-
do começaram a descobrir o mundo externo e seu próprio mundo interno,
mundos que se apresentavam de modo caótico, sem ordem. O mundo exter-
no e o mundo interno apareciam em sua dinâmica sem uma ordem que lhes
permitissem compreender como estavam ali, por que os fenômenos ocor-
riam da maneira como ocorriam, por que ocorriam ou deixavam de ocorrer.
Frente a esse caos, podemos imaginar como surge a necessidade de colo-
car certa ordem na experiência para poder compreendê-la e poder atuar de
modo eficaz e eficiente nessa paisagem incompreensível e hostil.
Como colocar ordem na experiência, se a experiência por sua própria natureza
é caótica, é desordenada, não tem regras? Como, então, colocar certa ordem?
Há uma função, uma capacidade inerente ao humano, que chamamos de pen-
samento. O pensamento é o que nos possibilita deter e ordenar a experiência.
O pensamento nos permite, como em um filme em que atores e paisagens
aparecem de maneira veloz e desordenada, fazer uma fotografia e começar a
ver os quadros, os detalhes. E, assim, descobrir elementos que são diferen-
tes, elementos que, uma vez discriminados, logo permitem ser relacionados
e reconstruir o filme e, a partir do pensamento, começar a organizar esse
mundo caótico.
Certamente, o mundo é tão caótico hoje quanto era há milhares de anos,
quando nossos primeiros amigos começaram esse caminho. Mas o que pa-
rece evidente é que em todo esse transcurso o ser humano pôde ir organi-
zando essa paisagem externa e, de certa maneira, a paisagem interna; isto
lhe permitiu equilibrar um pouco esse desequilíbrio e adaptar-se melhor ao
mundo, à medida que o compreendia e transformava.
Já não era um simples agente passivo dessas coisas que entravam, saíam, acon-
teciam, mas começava a compreender o que ocorria, e podia operar sobre es-
ses fenômenos. E, à medida que essas operações davam resultados positivos,
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

à medida que permitiam uma melhor adaptação, esses procedimentos come-


çaram a se consolidar.
Assim, talvez por acidente ou por tentativa e erro, alguém descobriu que po-
dia, ao bater duas pedras, fazer um gume e construir uma ferramenta de gran-
de utilidade para seu desempenho cotidiano. À medida que foi aperfeiçoando
essas ações, o ato de fazer instrumentos de pedra passou a ser um procedimen-
to mais ou menos preciso, um procedimento que tinha certas particularidades,
certas regras que deveriam ser respeitadas e que podiam ser transmitidas de uns
para outros. Isso significou um avanço importante na possibilidade de atuar no
mundo. Nosso amigo descobriu que, repetindo o procedimento, podia obter
resultados e podia ensinar a outros esse procedimento, esse método.
O método surge, então, como uma necessidade. Uma necessidade frente à
experiência caótica.
O pensamento é uma abstração da experiência, mas quando detemos a ex-
periência com o pensamento deixamos de apreendê-la, porque justamente a
experiência, a vivência, tem a característica de ser dinâmica. Deixamos de ter
a possibilidade de apreender o transcorrer, mas essa detenção do transcorrer
é o que nos permite analisar, decompor, para depois sintetizar, compreender
e poder atuar.
O que dizemos é que aqui ocorre uma espécie de paradoxo – embora o pen-
samento, quando captura essa fotografia do movimento, faça isso tratando
de compreendê-lo, na verdade ao pará-lo, ele escapa, porque o estático é
oposto ao dinâmico.
Para tentar compreender o dinâmico, eu o detenho e isso aparentemente é con-
traditório. Entretanto, graças ao fato de que posso deter o movimento em meu
pensamento, posso começar a entendê-lo – entender como funciona, como
se relaciona e, sobretudo, posso atuar no mundo a partir dessa compreensão.
Porém, não basta parar o transcorrer para compreender. É preciso também
separar seus elementos constituintes, relacioná-lo com outros fenômenos e
entender como se transforma no tempo. Para que essas operações resultem
em uma melhor compreensão, necessito de um método.

1.4 Os métodos da filosofia


Entrando, então, no terreno filosófico, é interessante fazer uma primeira
distinção, que os antigos gregos já faziam, entre o conhecimento vulgar, que
chamavam de “opinião”, a “doxa”, que simplesmente se tem e que se pode
verter como opinião, e o conhecimento que não é ingênuo, mas que provém
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

de haver sido buscado, um conhecimento fundamentado, que denomina-


vam “episteme”.
A episteme é um conhecimento que implica um esforço, uma intenção, um
processo para tratar de desvelar da maneira mais clara, da maneira que mais
nos aproxima de obter o que poderíamos chamar de verdade, conhecimento
cabal, profundo, último.
No terreno filosófico, então, o método é esse conjunto de procedimentos
que permitirão realizar uma série de operações mentais sucessivas, orienta-
das a compreender a essência das coisas.
Nesse sentido, o método aparece como uma ferramenta para nos orientar
nesse caminho de busca. Porque, de outro modo, como faríamos para pro-
curar conhecimento? De fato, existiram diferentes estratégias.
Concentremo-nos em alguns poucos exemplos na história ocidental e basi-
camente europeia. Isso não pretende ser um desconhecimento das impor-
tantes contribuições provenientes de outras culturas, mas uma resposta à
necessidade de demarcar o campo expositivo.

A Maiêutica
Não sabemos como foi exatamente, mas segundo a história conta, o primei-
ro a explicar o método que usava para pensar foi Sócrates (século V a.n.e.).
Obviamente, existiram outros antes dele nessa zona do Mediterrâneo que
fizeram contribuições valiosas, tais como Tales, Pitágoras, Heráclito, Parmê-
nides e muitos outros. Mas o primeiro cujo método conhecemos é Sócrates.
Ele, segundo contam, era filho de uma parteira e seu método foi denomi-
nado Maiêutica, palavra grega que pode ser traduzida como “perícia em
partos”. Qual era seu método? Seu método era “a pergunta”. Quando ele
queria chegar à essência de um conceito, o que fazia era perguntar a quem
supostamente sabia do assunto.
Há uma conhecida anedota contada por Platão, um de seus discípulos, que exem-
plifica esse método da pergunta. Sócrates, como sabem, não escreveu, mas Platão
escreveu muito e por isso todo esse conhecimento de sua obra chega até nós.
Em certa oportunidade, Sócrates queria saber o que era a valentia, o que
era em essência a valentia. Então, saiu à praça pública, parou um general do
exército e lhe perguntou:
– Você deve saber o que é a valentia!
– É obvio – disse o general.
– Bem, e o que é a valentia?
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

Certamente, o general ficou pensando por um momento; era uma pergunta


estranha que nunca lhe haviam feito e disse:
– A valentia é avançar contra o inimigo e não retroceder jamais.
– Ah, – disse Sócrates – mas não acontece às vezes que um general faz
sua tropa retroceder para enganar o adversário, fazendo-lhe acreditar
que está ganhando para assim surpreendê-lo e mudar o resultado?
- É... Sim. – teve que reconhecer o general, que deve ter recordado nesse
momento a história sobre o cavalo de Troia.
– Então, a primeira resposta que me deu não é a mais acertada.
– É... Não. – teve que reconhecer o general.
– E, então, como seria?
E novamente o general tratou de encontrar uma resposta melhor, já um
pouco incomodado com esse Sócrates, que nunca ficava satisfeito e voltava
a perguntar, tratando de fazer com que o outro, guiado por suas perguntas,
pudesse se aproximar de uma definição mais ajustada e que nunca era con-
vincente.
Assim, através da pergunta e da ironia, ele ia se aproximando do conceito
que podia polir, ainda que nunca chegasse à definição perfeita.
Isso que parece um pouco ingênuo, a partir da perspectiva atual, era mui-
to interessante, já que com poucos elementos ele podia construir todo um
sistema de pensamento a partir de um elemento tão primário e tão simples
quanto a pergunta.
E por que Maiêutica? Porque justamente o que ele fazia através das pergun-
tas era dar à luz um conhecimento que o outro tinha. O outro não sabia
que sabia, e então Sócrates na pergunta e repergunta fazia com que a pessoa
pudesse tirar de si mesma as respostas.
Mas essas respostas já não eram uma primeira opinião, uma doxa. Já não
eram essa coisa ingênua que se expressava porque lhe parecia, mas sim por-
que se havia trabalhado em função de obter essa resposta e essa resposta
podia ser fundamentada.

A Dialética
Seu discípulo, Platão (427 - 347 a.n.e.), tomou esse método e o desenvolveu
no que conhecemos como dialética.

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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Sobre a base da pergunta, aperfeiçoando-a, cria um método que consiste em


lançar uma proposição e posteriormente fazer uma crítica a essa proposição.
A partir de uma crítica à primeira proposição, tenta-se obter uma nova pro-
posição, porém um pouco mais ajustada, com a ideia de que se vai encon-
trando a verdade à medida que a nova afirmação possa resistir melhor às crí-
ticas. Críticas que, obviamente, não apontam simplesmente a uma disputa,
como muitas vezes se entende o dialético.
A nova proposição integra outros elementos e, então, iremos encontrando
concepções que serão mais sólidas, na medida em que possam resistir melhor
a outras críticas. Até que, finalmente, o sujeito se encontre em uma situação
em que já não haja nenhuma crítica possível, chegando assim à essência da
ideia.
Observem que o interesse que se tem com essa crítica não é anular a anterior,
e sim aperfeiçoá-la. A palavra “crítica” tem diferentes acepções em distintos
filósofos, mas este é o sentido que tem no método de Platão.
A crítica era fundamental em seu método. E por isso não necessitava que
outra pessoa a fizesse, já que o próprio sujeito podia ir desenvolvendo, a
partir de sucessivas críticas, novas proposições que se aproximassem paulati-
namente à essência da questão. Por isso, é um diálogo entre a proposição e a
crítica a essa afirmação.
Nesse processo, para chegar à ideia, podemos observar dois momentos.
Um primeiro momento é o da intuição. A intuição é experiência de captação
direta da ideia, é a apreensão sem intermediários. E um segundo momento é
o esforço crítico para esclarecê-la.
Há distintas questões das quais nós temos percepções diretas, como por exem-
plo desta mesa ou desta janela. Poderíamos dizer que do terreno do sensível,
dos fenômenos que chegam a nossos sentidos, temos uma apreensão direta.
Também temos uma captação direta de uma cor, de uma forma, de um ta-
manho.
Há um primeiro passo que tem a ver com isso. Mas há um segundo passo que
tenta melhorar essa experiência para poder chegar à essência disso que se intui e,
nesse caminho em busca da essência do método platônico, está a crítica dialética.
Por isso, o nome com que se denomina esse procedimento é dialética, é
diálogo. Mas observem que não se está privilegiando o que acontece com a
intuição, e sim o que se faz depois que se tem a intuição.
Para Platão, o mundo das coisas e o das ideias são dois mundos separados e,
para nos explicar isso, apela a uma alegoria e conta o mito da reminiscência.
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

O mito relata que as almas, antes de nascerem em um corpo, viveram nesse


mundo ideal da percepção direta e sem esforço das ideias puras, algo como um
céu platônico (“topos uranos”). Ao nascer, acontece uma espécie de esqueci-
mento de tudo isso; porém, caso se faça o esforço, pode-se chegar a recordar…
Isso se exemplifica muito bem em uma história em que estaria Platão con-
versando com um grupo de amigos em Atenas, explicando-lhes sua teoria, e
estes estavam um pouco céticos em relação à mesma, o que o levou a apre-
sentar um exemplo.
Passava por ali um jovem escravo e, então, chamou-o e perguntou a seu
dono, um de seus interlocutores:
– Seu escravo sabe matemática?
E o outro respondeu:
– Não. Como vai saber? É um escravo, não tem instrução, não sabe nada.
Então, Platão pediu ao rapaz que imaginasse três linhas retas e a partir daí
começou a fazer-lhe perguntas sobre o que acontecia com uma e outra linha e,
a partir das respostas dadas pelo escravo, foi construindo toda uma geometria.
E, então, Platão disse:
– Evidentemente, ele não tinha instrução, não sabia nada, não conhecia
geometria. Então, como pôde dizer essas coisas?
Diante disso, seus amigos devem ter pensado que esse assunto da reminis-
cência não era tão desvairado.
A partir do método dialético, dessas críticas e perguntas bem formuladas,
aquele suposto ignorante podia definir conceitos e realizar afirmações que
jamais poderia haver feito antes e, então, nesse processo Platão ascendia na
busca das ideias puras.

A Lógica
Posteriormente, Aristóteles (384 - 322 a.n.e.) continua o desenvolvimento
da dialética dando-lhe um impulso importante, ao atender ao movimento da
razão, que de uma proposição vai a outra e desta à seguinte. Assim, formula
as leis gerais que, segundo essa concepção, regem o correto raciocínio.
Embora não se possa dizer que inventou a lógica, é ele quem lhe dá a forma
que é praticamente a que conhecemos hoje. A lógica se transforma no méto-
do privilegiado da filosofia, postulando as leis do raciocínio. Entretanto – é
bom esclarecer – não de um ponto de vista psicológico, mas de um ponto
de vista lógico.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

As leis do raciocínio nos permitem afirmar que uma proposição particular é


verdadeira se surge de proposições gerais verdadeiras. Dessa maneira, Aristóte-
les postula como demonstrar, através da dedução, a verdade de uma afirmação.
A partir desse momento, haverá que provar as afirmações para que estas te-
nham valor de verdade e sejam consideradas como parte do saber não apenas
filosófico, mas também científico.
Como exemplo, vejamos um modo simples de aplicar um silogismo, um
raciocínio.
Se afirmo: “todos os que estamos sentados aqui somos estudantes”, pro-
posição geral que consideramos verdadeira.
E “ela está sentada aqui”, proposição que também reconhecemos como
verdadeira.
Então, ela é estudante.
Essa é uma proposição particular que podemos considerar como verdadeira,
porque surge por dedução das duas anteriores, ou seja, tem verdade lógica.
Esse processo da dedução desenvolvido por Aristóteles tem forte vigência ainda
hoje, sobretudo em algumas ciências chamadas formais, como a matemática.
Nelas, se começo aceitando certos conceitos gerais, certos axiomas, depois
posso chegar a particulares que, na medida em que tenham validade em seu
raciocínio, levarão a resultados – e a uma conclusão – também verdadeiros.
Um exemplo clássico é a demonstração de um teorema. São dedutivos, par-
tem do geral e vão ao particular e, se o processo for logicamente válido,
então o resultado deverá ser verdadeiro. Demonstrar com rigor a validade
do processo é a prova da validade do resultado.

A Escolástica
Avançando na história e entrando na Idade Média, vemos que esse método
da dedução e da prova foi herdado pelas escolas filosóficas, principalmente
pelos escolásticos.
Assim se denominou a escola filosófica mais importante daquela época, que
tomou o método aristotélico no intento de conjugar as verdades reveladas
da Igreja Cristã com a razão.
Nessa corrente dos escolásticos, o mais reconhecido é um italiano chamado
Tomás de Aquino (1225 - 1274).
Nesse momento, a intenção da intelectualidade pretendia integrar o pensa-
mento racional dos gregos com as revelações divinas. Difícil tarefa a que se
propuseram, mas eles tinham que fazer essa correspondência.
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

O certo é que existiam distintas posturas. Alguns diziam que as verdades da


razão não podiam ser diferentes ou contradizer as verdades reveladas. Ou-
tros, ao contrário, pensavam que havia duas verdades, a revelada e a verdade
que se podia acessar através do pensamento.
Então, partindo da ideia aristotélica da dedução e da prova, os escolásticos
incorporam também o método platônico da contraposição das ideias com
os dogmas da Igreja. Por exemplo, tinham que fazer inteligível, quer dizer,
explicável racionalmente, a existência de Deus ou a Criação.
Assim, há trabalhos nos quais não somente aparece todo o processo de dedu-
ção, do geral ao particular, mas também onde se antepõem as opiniões que
distintos sábios da época tinham com respeito ao tema para, partindo de
um processo de análise e de comparação, poder chegar a saber onde estava
a verdade que se buscava.
De qualquer maneira, notemos como todo esse período da história dos mé-
todos, desde os gregos até a Idade Média, esteve direcionado a ver o que
acontecia depois da intuição; como, a partir dessa intuição inicial, podia-se
aperfeiçoar um procedimento discursivo que nos aproximasse da verdade, da
essência dos fenômenos.
Era uma tentativa de organizar o pensar através de certos procedimentos
ordenados, um tipo de método.
Resumindo o dito até aqui, do ponto de vista da evolução dos métodos
do pensar, vimos que o primeiro que explicou seu método da pergunta e
da ironia foi Sócrates. Posteriormente, Platão distinguiu dois momentos no
pensar: a intuição e logo a crítica dialética, que permite melhorar a primeira
com a intenção de se aproximar à ideia pura que só existe nesse mundo pla-
tônico, nesse lugar celeste onde estão as ideias perfeitas.
Aristóteles avança sobre essa visão, definindo as leis que regem o raciocínio
correto, que levam de uma proposição a outra e permitem obter uma nova
proposição verdadeira. O que se conhece como raciocínio dedutivo dá sus-
tentação ao método da prova.
Posteriormente, na Idade Média, os escolásticos desenvolvem essas ideias,
integrando o método lógico e a dialética entre as distintas visões religiosas da
época, tratando sempre de encontrar o melhor caminho para aproximação
à verdade. Porém, sempre privilegiando esse aspecto discursivo do método.
Esses passos continuarão assim, até que no século XVII, com o advento da
Modernidade, acontecerá uma virada fundamental no modo de encarar essa
busca das respostas fundamentais.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

A Dúvida Metódica
Em 1600, aparece algo que revoluciona fortemente o pensamento, tanto
que, de uma ou outra maneira, nos distintos pensadores, continua sendo o
método da filosofia.
Quem o postula é René Descartes (1596-1650), um matemático e filósofo
francês que se preocupa em estudar o que acontece antes de ter a intuição.
Recordemos que, até o começo do Renascimento, o método da filosofia era
discursivo, e atendia ao que acontecia depois da intuição.
A partir de Descartes, o interesse estará posto no que acontece antes.
Ele postula que a experiência caótica, desordenada e pouco confiável que as
sensações nos fornecem deve ser esclarecida através da análise. Quer dizer,
devemos decompor a experiência até encontrar uma evidência que seja clara
e distinta, descartando aquilo que não possui essas características.
Por isso, seu método se desenvolve duvidando ordenadamente e analisando
todo objeto que pareça confuso, até que se converta em uma intuição clara e
evidente. Seu método é pré-intuitivo.
A concepção platônica separava o mundo das sensações do mundo das
ideias, as que eram transcendentes ao objeto. Já para Descartes, as ideias se
encontram no mesmo mundo que a percepção sensível e, então, postula a
imanência do objeto filosófico.
Vejamos brevemente como nos expõe seu método, inspirado na maneira que
os geômetras estudam seus problemas. Descartes, em sua conhecida obra O
Discurso do Método, propõe o seguinte.
* Não admitir como verdadeira coisa alguma que não saiba com evidên-
cia que o é.
* Dividir cada uma das dificuldades que examinarei em tantas partes
quanto for possível e em quantas requeiram sua melhor solução.
* Conduzir ordenadamente meus pensamentos, começando pelos obje-
tos mais simples e fáceis de conhecer, para ir ascendendo pouco a pouco,
gradualmente, até o conhecimento dos mais compostos, supondo inclu-
sive uma ordem entre os que não se precedem naturalmente.
* Fazer em todos recontagens tão integrais e revisões tão gerais, até estar
seguro de não omitir nada.
Em sua busca, ao colocar em dúvida todo preconceito, Descartes conclui que
a única coisa de que não pode duvidar é que pensa e, independentemente
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

do que pensa, essa é uma experiência que lhe parece clara e indubitável e, por
isso, dirá: penso, logo existo.
Com isso, a história do pensamento dá um salto fundamental, dando início
ao caminho do idealismo filosófico.

A Dialética de Hegel
Avançando um pouco mais nessa história, encontramos agora a visão de
Hegel (1770 - 1831), considerada a culminação do idealismo alemão.
Em uma de suas obras mais importantes, Fenomenologia do Espírito, explica
que seu propósito é “colaborar para que a filosofia se aproxime da forma de
ciência, despojando-se de seu nome de amor ao saber e seja saber efetivo”.
Para ele, a realidade é o absoluto, que existe em uma evolução dialética de
caráter lógico, racional. Isso ele sintetiza em uma famosa frase que afirma:
“todo o real é racional e todo o racional é real”.
Sua dialética é lógica e se apresenta como superação da lógica formal.
Hegel observa que todas as coisas são contraditórias em si mesmas e que,
enquanto a identidade é a determinação do simples imediato e estático, a
contradição é, em realidade, a raiz de todo movimento e vitalidade.
Seu processo dialético apresenta três momentos: tese, antítese e síntese.
Como tudo é contraditório, da tese devém seu oposto, ou seja, a antítese,
e dela a síntese, entendendo a síntese como um momento onde a tese e a
antítese são conservadas e superadas.
Hegel explica que a evolução das ideias ocorre através de um processo dialé-
tico e este processo não é um passo da mente por vários estágios, mas sim um
movimento do ser. Um conceito enfrenta seu oposto e como resultado desse
conflito surge um superador que se chama síntese e que é mais verdadeiro
que os anteriores.
Com essa concepção, ele explicará de modo sistemático e rigoroso a evolução
dialética da história universal.
Posteriormente, Marx e Engels aplicarão esse conceito aos processos sociais e
econômicos, dando origem ao que se conhece como Materialismo Dialético,
porém afirmando que as ideias são apenas o resultado do determinismo das
condições materiais.

A Redução Fenomenológica
Por último, gostaria que nos detivéssemos brevemente em Husserl (1859 -
1938), discípulo de Brentano e um dos filósofos mais importantes do século XX.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Sua preocupação em dar um desenvolvimento rigoroso e científico a sua filo-


sofia o leva a desenvolver sua fenomenologia como ciência de objetos ideais,
como ciência a priori e universal das essências das vivências.
Vivência é todo ato psíquico, mas compreendendo também os objetos das vi-
vências que são essencialmente intencionais. São intencionais (noese) porque
sempre se referem a um objeto (noema).
Brentano afirmou que a percepção interna era evidente, adequada e infalível.
Husserl avança dizendo que o indubitável é a percepção como tal, mas que
esta aparece acompanhada da crença de sua existência, de sua realidade.
Então, desenvolve um método para acessar esses objetos ideais, superando a
“interferência” da consideração de sua existência.
Husserl nos propõe um método que ele denomina redução fenomenológica
ou epoché e que consiste em colocar “entre parênteses” toda consideração
sobre a existência do objeto percebido.
Entretanto, isso não é suficiente e a epoché deve também se estender ao eu
que percebe, enquanto sujeito psicofísico e posição existencial, abrindo ca-
minho para o “eu puro”.
Esse “eu puro” já não é um sujeito histórico, aqui e agora, mas sim o foco do
feixe, que são as vivências, chegando assim às vivências da consciência pura.
Resta agora um último passo, a redução eidética, que leva a acessar as essên-
cias.
Para Husserl, as essências são o conjunto de todas as notas unidas entre si por
fundação. A fundação é a relação pela qual uma parte está unida à outra, mas
sem estar contida nela. Por exemplo, a cor e a extensão.
Em suma, a fenomenologia é uma ciência eidética descritiva das essências das
vivências da consciência pura, e seu método nos dirige ao conhecimento das
essências, que é tradicionalmente a meta da filosofia.
Husserl representa uma forma mais sutil e refinada do idealismo que se inicia
com Descartes e é também o final de nosso breve percurso por alguns dos
métodos que os filósofos criaram em sua busca pelas primeiras verdades.
Obviamente, este é um pequeno resumo que de nenhuma maneira preten-
de ser uma revisão completa das distintas visões e métodos empregados na
história da filosofia. Tal tarefa excederia amplamente a finalidade destes de-
senvolvimentos.
Pretendemos apenas exemplificar, com alguns poucos casos, como as buscas
dos filósofos, desde o início, exigiu um método, um caminho para poder
avançar.
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1.5 Os métodos da ciência


A partir do século XVI, as explicações derivadas da religião já não são su-
ficientes e a ciência ganha um forte impulso, iniciando seu caminho para
instalar-se como alicerce da cultura atual. É o começo da Idade Moderna.
Essas ciências, desprendidas da velha filosofia, indagaram sobre o mundo sen-
sível, tratando de explicar por que as coisas aconteciam do modo como eram
observadas e, a partir desse conhecimento, como se podiam predizer futuros
acontecimentos e como aplicá-lo para dar resposta às necessidades humanas.
É interessante observar a mudança que ocorre nessa etapa, em que o olhar se
dirige ao mundo externo e começa a se aplicar ao mundo das coisas.
Em termos gerais, podemos ver as ciências, cujos limites às vezes não são
muito precisos, como um grande conjunto de teorias que pretende explicar
como e por que os fenômenos que observamos ocorrem de determinada
maneira.
Nesse sentido, cada ciência se desenvolveu a partir da delimitação de um grupo
de objetos a serem conhecidos e de um método para buscar esse conhecimento.
Em termos clássicos, as ciências se dividiram em ciências formais e ciências
factuais.
As primeiras se referem ao conhecimento de objetos ideais, como a ma-
temática e a lógica, e as últimas, ao conhecimento dos fatos, ou seja, das
manifestações que se dão na realidade dos objetos observáveis.
Por sua vez, dentro das ciências factuais podemos diferenciar aquelas que
estudam os fenômenos do mundo natural, como a física, a química ou a bio-
logia, daquelas que estudam os fatos humanos, como a sociologia, a história,
a psicologia ou a economia.
As distintas ciências realizaram adaptações do método científico para validar
seus desenvolvimentos. Na verdade, mais que um método, existe um con-
junto de estratégias para produzir conhecimento que seja considerado válido
pela comunidade científica.
Na história da ciência, foram desenvolvidas distintas formas de encarar a
resolução dos problemas, mesmo que estes estivessem geralmente associados
a alguma forma de verificação ou prova.
Do ponto de vista da lógica clássica, simplificando, podemos dizer que há
métodos dedutivos e métodos indutivos.
Os primeiros partem de axiomas para derivar a verdade de suas conclusões
por inferência dedutiva. Exemplo disso são as ciências formais.

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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Os métodos indutivos, ao contrário, partem de observações particulares e


vão propondo hipóteses e teorias de caráter geral. Exemplo disso são as ci-
ências factuais.
Atualmente, a ciência é muito menos pretensiosa do que em outras épocas e
propõe a construção do conhecimento através da formulação e comprovação
de hipóteses e teorias.
As hipóteses são afirmações realizadas em determinado lugar e momento
histórico, cujo valor de verdade se desconhece no momento de sua formula-
ção e é por isso que se necessita algum procedimento que permita validá-las.
Embora existam várias estratégias para a validação de hipóteses, vamos de-
senvolver, como exemplo, os passos do Método Hipotético Dedutivo, talvez
o mais conhecido da ciência moderna. Este, em sua versão simples, desen-
volve-se nos seguintes passos:
1. Formular uma hipótese.
2. Supor que é verdadeira.
3. Deduzir quais seriam as consequências observáveis que deveríamos
verificar, se a hipótese fosse correta.
4. Observar se são verificadas as consequências previstas.
5. Corroborar ou rejeitar a hipótese.
Com essa metodologia, não se pretende ter certeza da verdade de um enun-
ciado, mas, na medida em que uma hipótese é provada e não pode ser refu-
tada, demonstrar sua fortaleza, sobrevivendo enquanto não surja nenhum
dado empírico que leve à sua rejeição.
Como veremos, essa metodologia, que foi muito frutífera em áreas como a
física, a química e a biologia, encontrou sérias dificuldades quando se tratou
de empregá-la em áreas como a psicologia, a sociologia, a história e a econo-
mia, entre outras, nas quais o fundamental é o fenômeno humano.
O êxito alcançado pela metodologia positiva e experimental no terreno das
ciências naturais, sobretudo nos séculos XIX e XX, teve tal impacto que as
ciências que pretenderam estudar o homem se viram obrigadas a usar esses
mesmos métodos para se validarem cientificamente. Esse fato levou à na-
turalização do fenômeno humano, perdendo-se assim a essência do que se
pretendia conhecer.
Bem, até aqui exemplificamos como os métodos fazem parte do desenvol-
vimento humano e como ajudaram a construir o mundo que conhecemos.
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

2. BASES CONCEITUAIS DO NOVO HUMANISMO


2.1 A visão do Novo Humanismo
O Novo Humanismo é uma visão totalizadora do ser humano e do mundo.
Essa visão se apresenta como uma intuição integral de todo o existente e é,
portanto, uma experiência. Mas a experiência é, substancialmente, perma-
nente movimento e mudança e, por essa característica, não é operativa em si,
não permite atuar no mundo de modo direto. Se contássemos apenas com
a experiência, não poderíamos ter um sistema ordenado do mundo nem de
nós mesmos e não poderíamos atuar nele com coerência.
Por outro lado, para que uma visão possa ser transmitida, deve ser possível
ordená-la através do pensamento, deve ser possível traduzi-la em uma lin-
guagem compreensível para outros e deve poder orientar as ações no mundo
interno ou externo.
Finalmente, para que esse processo seja válido, o pensamento e sua expressão
devem ser coerentes. Isso significa que o pensar deve refletir essa visão, a
linguagem deve refletir o pensado e as operações devem se orientar de modo
eficaz ao mundo a que estão dirigidas.
Então, todas as afirmações que constituem o corpo doutrinário do Novo
Humanismo serão expressões coerentes com essa visão, levadas aos campos
da ontologia, gnoseologia, ética, estética, ciência e da vida humana, e nos
permitirão orientar nossa ação.
A relação entre a experiência e o pensamento é possível graças à dupla ca-
pacidade que observamos na consciência humana. Por um lado, a de captar
de modo direto os fenômenos do mundo externo e interno (intuição) e, por
outro, a capacidade de desdobrar essa experiência através do pensamento, na
tentativa de entendê-la e expressá-la.
Então, o ponto de partida de nossos estudos é a experiência humana, e não
ideias abstratas a respeito das coisas.
Dessa maneira, se esse é nosso ponto de partida, não poderemos começar
com outra coisa que não seja aquilo de que temos experiência imediata,
aquilo que podemos experimentar. E poderemos falar disso porque temos
registros.
Registro é a informação que tenho das variações do meio, tanto interno
quanto externo. É o fenômeno de consciência através do qual me dou conta
de qualquer fenômeno.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Assim como tenho registro de uma parede ou de uma lembrança, também


tenho registros do pensar, e se posso falar do pensar é porque tenho registros
dele. Na verdade, posso pensar graças ao fato de que tenho registros dele.

2.2 A estrutura dinâmica do pensar


Fizemos um breve percurso histórico pelas visões e métodos utilizados na
filosofia e na ciência.
Vamos agora aprofundar um pouco mais e vamos nos perguntar sobre os
fundamentos dessas visões e métodos.
Estabelecemos o horizonte espaço-temporal para nosso estudo basicamente
na experiência ocidental, partindo dos antigos gregos.
Ali encontramos os primeiros filósofos que se perguntaram sobre o “Ser” e
seu comportamento.
Até onde sabemos, foi Parmênides de Eleia (século VI-V a.n.e.) quem enun-
ciou: “o Ser é; o Não Ser não é”, atribuindo ao “Ser” as características de
único, eterno, imutável, infinito e imóvel. Com essa afirmação, poderíamos
dizer que Parmênides inaugura, no ocidente, a metafísica e a filosofia no
sentido estrito.
Tão importante foi seu descobrimento do “Ser” que posteriormente foi to-
mado como base para a formulação dos princípios lógicos fundamentais.
Estamos nos referindo aos princípios de Identidade, Contradição e Terceiro
Excluído. Estes, por sua vez, fundamentam a visão que se tem sobre os fe-
nômenos conhecíveis, servindo de base para a formulação de leis e métodos.
Do ponto de vista lógico, o Princípio de Identidade expressa que “o que é é”
ou, dito de outra maneira, “uma coisa é o que é”. Deste deriva o Princípio de
Não Contradição que pode ser visto como seu inverso: “o que é não é o que
não é”. E da combinação dos dois anteriores deriva o do Terceiro Excluído:
“uma coisa é ou não é e não há outra possibilidade”.
Esses princípios lógicos não são demonstráveis, são axiomas. Isso quer dizer
que são tomados como válidos por se considerar que são “evidentes” e todos
os desenvolvimentos posteriores derivam deles, partindo de sua verdade in-
trínseca.
Resumindo, diríamos que da metafísica (ideia do ser) deriva uma lógica
(princípios lógicos) e eles dão fundamento às leis, teorias e hipóteses uti-
lizadas pela ciência. E toda essa construção se sustenta na “evidência” da
afirmação de Parmênides.
Na visão do Novo Humanismo, um método que se proponha como
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

“regras do correto pensar”, como pretende a lógica, não pode estar funda-
mentado senão na observação da estrutura e dinâmica do próprio pensar.
Em outras palavras, a lógica clássica que fundamenta as leis e os métodos do
quefazer científico, com todas as suas derivações, baseia-se em uma ideia de
“ser” e isso parece uma base pouco consistente.
Tampouco é muito consistente justificar as teorias e os métodos por sua
utilidade. Já mencionamos como o ser humano avançou em sua adaptação
às condições que seu meio natural lhe impunha – a partir da utilidade que
lhe proporcionou a observação e a exposição de hipóteses, teorias e leis à
prova – mas daí derivar a verdade dos princípios em que estas pretendem se
fundamentar é, no mínimo, apressado.
Qual é, então, a estrutura e a dinâmica do pensar em que deveria se basear
uma lógica que pretende ser a fundamentação das leis e métodos que em-
pregamos?
Para responder essa pergunta, vamos descrever de modo geral a estrutura do
pensar, entendendo que uma compreensão mais profunda do tema implica-
ria uma dedicação e um tempo que excedem as pretensões deste seminário.
No entanto, essa visão geral é necessária para fundamentar os passos que
vamos dar.
Quando dizemos que vamos descrever, queremos insistir que não partiremos
de “ideias” sobre o pensar, mas que trataremos de nos localizar dentro do
próprio pensar e, a partir dessa localização particular, apreciar os fenômenos
que se apresentam para nós.
Comecemos, então, dizendo que, quando atendemos aos mecanismos bási-
cos do pensar, à estrutura do pensar, a primeira coisa que observamos é que
pensar é sempre pensar em algo.
Não há pensar sem objeto e não há objeto sem ato de pensá-lo.
Isso define a estrutura essencial do pensar: a estrutura ato-objeto. Porém,
essa não é uma estrutura estática, já que tem uma dinâmica dada em prin-
cípio pela referência do ato ao objeto. Todo ato está estruturalmente ligado
a um objeto e em direção a um objeto. Essa tendência de todo ato a ligar-se
estruturalmente a um objeto chamamos de intencionalidade. O pensar, por-
tanto, tem estrutura e direção.
Entretanto, a referência da consciência a um objeto, esse ato que busca seu
objeto, não ocorre no vazio, mas enquadrado por um interesse.
Por um lado, esse interesse aparece como próprio do ato de consciência.
Interessam-me certas coisas e não outras.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Os objetos, por outro lado, não têm interesse, não têm intenção, embora
condicionem o interesse que têm para mim. Interessam-me por certas carac-
terísticas que lhes são próprias. Interessa-me “algo” que é do objeto e não só
de minha consciência. Além disso, quando a consciência se dirige aos fenô-
menos, estes, por sua natureza, impõem um limite a esse interesse.
O que observamos, então, é um circuito de ida e volta da consciência ao
mundo e do mundo à consciência. Nessa permanente retroalimentação en-
tre o ato e o objeto, entre a consciência e o mundo, está a estrutura dinâmica
que permite, entre outras coisas, a adaptação crescente ao meio.
Fazendo uma nova digressão, notemos que essa visão nos coloca em uma
situação diferente da que postulam os realistas, empiristas e materialistas,
que partem da aceitação da “realidade” intrínseca do “mundo” e imaginam
a consciência como mero reflexo deste. Nossa visão diferencia-se também da
concepção idealista e racionalista que, em sentido oposto, afirma a suprema-
cia da consciência, negando toda impotância ao mundo.
Pois bem, esse interesse que observamos tampouco está quieto, senão que é
móvel. E não poderia ser de outra maneira, dada a realidade dinâmica que se
observa, tanto no meio quanto na consciência.
Mas, por que o pensamento é dinâmico? Em primeiro lugar, graças à capaci-
dade da consciência de abstrair do transcorrer um momento do pensar e, ao
fixá-lo, determinar o pensamento. Por exemplo, observemos o que acontece
quando queremos atender a um som dentro de um fundo de ruído. Veremos
que nosso corpo tende a ficar quieto, a paralisar-se para que nada interfira na
atenção que agora presto a esse som. Isso que nosso corpo manifesta denota
o trabalho do pensamento, tentando fixar um objeto para apreciá-lo melhor.
Graças a essa capacidade de fixar um interesse em determinado momento,
pode-se desdobrar o pensamento.
Quando se fixa o interesse, determina-se o pensamento pelo menos em dois
sentidos: por um lado, fixando o objeto ao qual se refere e, por outro, fixan-
do um âmbito dentro do qual se localizam as operações.
Se não existisse essa capacidade, não poderia existir o pensar coerente, porque
permanentemente estaríamos saltando de um fenômeno a outro sem possibilida-
de de detê-lo e não poderíamos, portanto, realizar elaborações das experiências,
nem atuar de modo efetivo no mundo. Viveríamos em permanente dispersão.
E como funciona esse interesse? Funciona por diferenciação. Ao fixar um in-
teresse, necessariamente descarto tudo o que não se relaciona com ele. Dessa
maneira, quanto mais diferenças estabeleço, mais diferencio o interesse e o
objeto que se refere a ele.
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

Por sua vez, a dinâmica do pensar, esse estabelecer diferenças, leva-me a ob-
servar outros objetos que diferenciei e a estabelecer relações entre esses di-
versos objetos.
Se eu só pudesse diferenciar, não poderia construir nada. Porque tudo se
esgotaria em um processo de infinitas diferenciações. Então, essa capacidade
básica de diferenciar associa-se necessariamente a outra, a de relacionar essas
diferenças.
Essa relação entre diferenças chamaremos de complementação. Comple-
mentação entre diferenças.
Aqui também se estabelecem diferenças, não só entre os termos que compa-
ro, mas também diferenças com outras relações possíveis. Graças a essa capa-
cidade de diferenciar relações, nem tudo está relacionado desordenadamente
por contiguidade. Ou seja, ao comparar, ao relacionar, também estabeleço
diferenças.
Quando Hegel em sua dialética explica que à tese (diferenciação) sucede a
antítese, está fazendo referência a um tipo de relação, a de oposição, mas essa
não é a única relação possível que estabeleço ao pensar.
Por último, essa dinâmica que observo leva-me agora a estabelecer novas
relações, relações entre as relações, que serão, portanto, relações entre dife-
renças de diferenças e que me permitirão compor um todo estrutural que
chamaremos de síntese. Mas essa síntese se dará ponderando, ou seja, dife-
renciando aquilo que não coincide com o âmbito colocado pelo interesse.
Dito de outro modo, a síntese assume as diferenças das relações, mas o faz
ponderando as distintas relações e compondo, assim, estruturadamente, o
fenômeno. Por fim, destacamos que tampouco poderia estruturar o objeto,
se não tivesse a capacidade de diferenciar distintas ponderações possíveis.
Recapitulando, dissemos que o pensar é estrutural e dinâmico; que a estru-
tura ato-objeto reconhece uma direção; que essa direção tende a conectar es-
truturalmente todo ato com um objeto; que esse fenômeno está enquadrado
por um interesse; que esse interesse pode-se fixar graças à capacidade de fixar
um momento no pensar e que isso ocorre por diferenciação. A diferenciação,
em sua dinâmica, leva à relação entre diferenças que, por sua vez, leva à rela-
ção entre relações e à síntese que permite reestruturar o fenômeno.
Essa nova estruturação que faço do fenômeno me permite compreendê-lo
melhor, produzindo um avanço no conhecimento que tenho do mundo ex-
terno e interno. Esse sistema de mecanismos, que na experiência é de grande
complexidade, é o processo que a consciência segue na elaboração do que
chamamos de pensamento.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Certamente, essa estrutura ato-objeto tampouco está quieta. Se fosse assim,


não existiria dinâmica e nossa mente seria como uma galeria de estruturas de
pensamentos estáticos. Pelo contrário, o que vemos é o desdobramento de
uma grande dinâmica dada justamente por atos que não se completaram em
objetos, atos que buscam, atos lançados que ainda não chegaram ao destino.
Essa tendência, essa dinâmica sempre crescente impulsiona o pensar para
regiões cada vez mais amplas. Mesmo que consideremos a estrutura consci-
ência-mundo, veremos essa mecânica de diferenciações, complementações e
sínteses atuando de maneira cada vez mais complexa, orientando a consciên-
cia em permanente crescimento.
O pensamento é sempre dinâmico, e quando pretendo deter o transcorrer,
como se tirasse uma foto, o que faço é colocar uma diferença na sequência
do transcorrer. Tenho a impressão de que detive o movimento, mas não dete-
nho a dinâmica do pensamento. A tensão que observo ao realizar isso é o que
me mostra que a consciência está ativamente tentando deter o movimento.
Vejamos isso na prática. Vamos atender a um objeto, a uma representação,
por exemplo, e vamos tentar manter esse objeto em presença. Ingenuamen-
te, eu poderia dizer que detive o transcorrer em minha consciência, já que
minha atenção está detida nesse objeto. Mas se observar cuidadosamente,
verei que o que fiz foi fixar um momento do pensamento. Mantenho ati-
vamente e com certo esforço meu interesse no objeto, mas não detenho o
transcorrer dos atos de consciência; pelo contrário, é a tensão que registro o
que me indica a atividade e a tendência à variabilidade do interesse.
Quando observamos a visão do ser em Parmênides, do conceito em Só-
crates, da ideia em Platão ou da substância em Aristóteles, apreciamos esse
esforço para deter o transcorrer através da abstração do pensamento. Porém,
esse trabalho intelectual, que é como subtrair o tempo das coisas que são e
transcorrem, não nos coloca em contato com elas, mesmo que nos permita
encontrar uma certa ordem na tentativa de torná-las compreensíveis.

2.3 Os registros do pensar


A descrição que acabamos de realizar nos leva agora, necessariamente, a per-
guntar-nos sobre a base dessas afirmações.
Quando falamos da estrutura do pensar, estamos fazendo uma descrição
mais própria da lógica do que da psicologia. Estamos descrevendo a estru-
tura dinâmica do pensar, sem nos preocupar como isso ocorre em nossa
consciência.
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

Pois bem, como é que posso fazer essa descrição?


Posso fazê-la porque tenho registros dessa estrutura, desse sistema de meca-
nismos, posso experimentá-los, são fenômenos em minha consciência. Gra-
ças a esses registros, posso diferenciar uma relação coerente de uma que não
é coerente.
Quando há duas proposições que não se correspondem, registro isso com
certo “desagrado”, com certa tensão intelectual, e quando há “encaixe” ex-
perimento uma espécie de distensão que me faz reconhecer a coerência que
há nessa operação.
Avançando um pouco mais, posso ver que o processo do pensar vai me dan-
do registros que podem ser reconhecíveis, se minha observação torna-se mais
aguçada.
Um artista pode reconhecer um traço delicado em uma pintura, onde outra
pessoa que não tem o olhar treinado não distingue mais que o aspecto geral
da obra. Da mesma maneira, a observação treinada nos permite distinguir,
por registro, diferenças sutis entre as relações coerentes e as que não são
coerentes.
É óbvio que a intensidade da experiência está relacionada com a importân-
cia que esta tem para mim. Frequentemente, estamos pensando e emitindo
juízos sobre as coisas sem que isso produza um registro de suficiente intensi-
dade para nos darmos conta disso.
Seguindo esse desenvolvimento, poderíamos dizer que o pensar vai-se cons-
truindo graças ao registro que tenho das operações que realizo, embora nor-
malmente não tenha trabalhada a capacidade para reconhecê-las com nitidez.
O desenvolvimento dessa sensibilidade que aprecia a estética da coerência é
alcançado com o exercício atento e permite reconhecer diferenças sutis que
anteriormente não eram detectáveis.
Assim, quando avançarmos no trabalho com o método, será de grande inte-
resse observar como, nas reflexões e intercâmbios, encontraremos proposi-
ções que não se “encaixam”, que não são coerentes, e então não tentaremos
forçar sua relação, senão distender e procurar novos caminhos, guiados por
essa busca de coerência, de encaixe.
Com tentativas e erros, vou construindo o pensar ao reconhecer o engano e,
ao deixar de cometê-lo, encontro o acerto. Nesse sentido, não produzo a sín-
tese – ela se produz. Ela se produz porque, ao estabelecer múltiplas relações
e descartar as que não correspondem, descubro aquela que, ao “encaixar”,
gera uma síntese.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Quando, frente a um fato novo que não compreendo, disponho-me a pen-


sar, tem início um processo de diferenciações e complementações que se
multiplicarão até que, às vezes, e sem entender muito bem como acontece,
descubro a resposta que esclarece o problema. Esse fenômeno, que chama-
mos de síntese, às vezes tem tamanha força que mobiliza não apenas respos-
tas intelectuais, mas também mobilizações emotivas e motrizes.
Contam que um dia o rei de Siracusa, há cerca de 2.200 anos, pediu a Ar-
quimedes que determinasse, sem danificá-la, se uma coroa de ouro que havia
encomendado a um ourives continha todo o metal precioso que este dizia
conter.
Arquimedes passou bastante tempo pensando sem achar a solução, até que
um dia, enquanto tomava banho, observou que, ao submergir na banheira,
seu corpo parecia pesar menos, como se fosse empurrado para cima. Ao mes-
mo tempo, viu que, ao submergir, seu corpo deslocava um volume de água
que relacionou com o peso do corpo. Nesse momento, encontrou a solução.
Seu descobrimento produziu tal entusiasmo que, sem notar, saiu correndo
nu rumo ao palácio gritando: “Eureca, eureca!” – expressão que poderíamos
traduzir como “Encontrei, encontrei!”
Posteriormente, aplicando o que hoje se conhece como o Princípio da Hi-
drostática, determinou que a coroa na verdade não continha todo o ouro que
se esperava e descobriu o engano do ourives.
Nesse exemplo, podemos imaginar como o genial Arquimedes, lançado em
um processo de diferenças e relações entre tudo o que sabia sobre o com-
portamento dos metais e dos corpos, passou algum tempo até que, de tanto
descartar relações que não eram satisfatórias, encontrou uma que respondia
sua pergunta, uma resposta que sintetizava, uma explicação que se encaixava
perfeitamente.
Avançando um pouco mais, observamos que esse mecanismo que nos leva a
diferenciar, complementar e sintetizar ocorre com direção. Ele não se dirige
para qualquer lado – sua tendência, seu tropismo está direcionado pelo inte-
resse que o colocou em marcha.
Tenho registro também dessa orientação do pensamento, o que me permite
levar o processo em direção à resposta que se encaixa, à síntese, e não ficar
perdido no emaranhado de meus pensamentos. E, se isso acontecer, se não
encontrar o rumo, também saberei disso através dos registros que tal situação
produzirá em mim.
Voltando para nosso desenvolvimento, o que queremos destacar é que podemos
falar do pensamento porque deste temos registros e que, se atendermos a eles,
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

veremos que há indicadores no pensar que podem ser reconhecidos e servir


de guia na construção de um pensar coerente.
Como digressão, consideremos quão interessante seria uma pedagogia que,
compreendendo esses processos por dentro, ajudasse no desenvolvimento do
pensar coerente, treinando com relação aos registros e favorecendo a capaci-
dade de relação coerente da informação, em vez da acumulação diferencia-
dora de dados fragmentados.

2.4 Os Princípios Lógicos


Retomemos agora o tema do “Ser”, que reconhecemos como a abstração
mais ampla a que podemos chegar com nosso pensamento.
Esse “Ser” e seu comportamento é o que possibilita o que conhecemos como
Princípios Lógicos.
Conforme dissemos, eles estão na base da ciência e são os que dão sustenta-
ção às Leis, às Teorias e aos Métodos Científicos.
Como simples enunciação, recordemos que eles são, basicamente, os princí-
pios da Identidade, da Não Contradição e do Terceiro Excluído.
Esses princípios lógicos, então, derivam de uma metafísica.
A metafísica é a parte da ontologia que estuda o “Ser” em geral, não seres
particulares, e podemos dizer que não há lógica fundamentada que não parta
de uma metafísica.
Então, esses princípios do pensar lógico se fundamentam em uma metafísi-
ca, em uma ideia de Ser.
Para exemplificar, recordemos a ideia metafísica de Ser expressa por Parmê-
nides e que ainda ressoa na época atual. O Ser é; o Não Ser não é. Daí se
desprendem os princípios da lógica clássica que acabamos de enunciar.
Nosso desenvolvimento lógico também parte de uma concepção do Ser e,
nesse sentido, poderíamos afirmar que não há “Ser” em geral, mas sim que
este é a máxima abstração do pensar a que se chega por sucessivas operações
de diferenças no pensar.
Em outras palavras, o “Ser” é um fenômeno da consciência, que o elabora
como a abstração mais ampla e generalizada.
Essa afirmação, que parece uma “antimetafísica”, não nega a existência das
coisas, mas sim desse ser abstrato, detido e atemporal.
Então, o que existe de acordo com a visão do Novo Humanismo? Existe a
indissolúvel estrutura consciência-mundo ou ato-objeto em crescente devir.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Daí, então – dessa afirmação radical baseada na observação da mecânica do


pensar – derivam os Princípios, as Leis e o Método que vamos estudar.
Os Princípios são as articulações mais amplas possíveis do pensar, que ser-
vem para explicar o comportamento dos entes e das coisas. Coerentemente
com o explicado, podemos sintetizar os princípios lógicos dos quais parti-
mos nos enunciados a seguir.
Princípio de Experiência: Não há ser sem manifestação. Isso implica que não
podemos falar daquilo de que não temos alguma manifestação. Não podemos dar
conta de um objeto, se não há um ato referido a ele.
Princípio de Graduação: O que “é” e o que “não é” admitem distintos graus de
probabilidade e certeza. Indica que as coisas não são “verdadeiras” ou “falsas”, senão
que se pode reconhecer um contínuo de probabilidade entre o que “é” e o que “não é”.
Princípio de Não Contradição: Não é possível que algo “seja” e “não seja” no
mesmo momento e no mesmo sentido. Uma coisa pode ser diferente de si mesma,
se muda o momento ou o sentido em que a consideramos.
Princípio de Variabilidade: O que é “é” e “não é” idêntico a si mesmo, conforme
seja considerado como momento ou como processo. É similar ao anterior em outro
contexto e explica que, considerado como momento, o que “é” é idêntico a si mes-
mo, mas considerado como processo “não é” idêntico a si mesmo. Dito de outro
modo, um objeto não será o mesmo, se o considerarmos em diferentes momentos.
Será interessante estudar mais detidamente as diferenças entre os princípios
que derivam de uma lógica baseada na ideia de Ser em geral desta outra ba-
seada na mecânica do pensar, que fundamenta as Leis e o Método do Novo
Humanismo. Não faremos isso neste seminário porque se estenderia demais.

2.5 As Leis Universais


Então, embora acima de tudo esteja a experiência, dela surgem, em primeiro
lugar, os Princípios e os grandes conceitos que denominamos Leis Univer-
sais. Estas Leis são ferramentas de trabalho conceitual, que aplicamos ao
estudo das coisas, fenômenos ou situações.
Esse trabalho conceitual é o que em definitiva nos permite atuar no mundo,
seja mediante o pensamento ou mediante a ação no meio. Ambos, pensa-
mento e ação, constituem a base da experiência humana.
Falamos de Leis Universais porque abarcam a totalidade dos fenômenos que
chegam à nossa experiência. De outro modo, não seriam mais que leis de
uma ciência ou disciplina em particular. Para nós, devem ser leis que sir-
vam para a física, química, biologia, psicologia, sociologia, economia, etc.
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

Essas leis, assim como seu método, servem para orientar o processo do pen-
samento de um modo ordenado e para dar a visão mais ampla possível de
determinado fenômeno.
As Leis são construções humanas operativas que permitem explicar um fenôme-
no e descrever tendências, predizer. São ideias sistematizadas sobre como as coi-
sas funcionam, regularidades que ocorrem em determinada faixa de fenômenos.
No âmbito das ciências factuais, as Leis provêm da observação de fenôme-
nos particulares que dão origem a hipóteses e teorias que, à medida que são
verificadas por novas experiências, permitem construir uma visão “científica”
do mundo.
Nesse contexto, as hipóteses se definem como afirmações cujo valor de ver-
dade se desconhece no momento em que são enunciadas. Por sua vez, as te-
orias são conjuntos de hipóteses que, sustentadas simultaneamente, preten-
dem explicar o comportamento de certos fenômenos em um âmbito dado.
As leis são construções que tentam explicar o comportamento geral de um
conjunto de fenômenos.
A direção do processo da ciência é, nesse sentido, basicamente indutivo, porque
parte de experiências particulares, procurando generalizar em âmbitos maiores.
As hipóteses, teorias e leis da ciência são explicações provisórias que, de qual-
quer maneira, servem para atuar no mundo dos fenômenos.
As Leis Universais das quais partimos, ao contrário, não se explicam surgin-
do de experiências de natureza particular, mas sim de uma visão totalizado-
ra e da compreensão dos mecanismos do pensar. Elas devem dar conta do
comportamento de todos os fenômenos existentes, contanto que caiam no
campo de nossa consciência.
As Leis Universais se expressam através de quatro enunciados básicos.
Lei de Estrutura: “Nada existe isolado, senão em relação dinâmica com outros
seres dentro de âmbitos condicionantes”.
Lei de Concomitância: “Todo processo está determinado por relações de simul-
taneidade com processos do mesmo âmbito e não por causas lineares do movimen-
to anterior de que procede”.
Lei de Ciclo: “Tudo no Universo está em evolução e vai do mais simples ao mais
complexo e organizado, segundo tempos e ritmos cíclicos”.
Lei de Superação do Velho pelo Novo: “A contínua evolução do Universo mos-
tra o ritmo de diferenças, combinações e sínteses de complexidade cada vez maior.
Novas sínteses assumem as diferenças anteriores e eliminam matéria e energia
qualitativamente não aceitáveis para passos mais complexos.”
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Desenvolveremos agora brevemente o significado de cada uma.

Lei de Estrutura
“Nada existe isolado, senão em relação dinâmica com outros seres dentro de âm-
bitos condicionantes.”
Esta lei indica que não são válidos os estudos que se realizam sobre um obje-
to, se este não é relacionado com outros objetos que estão no mesmo meio,
se não se considera que tanto esse objeto de estudo quanto os outros que se
relacionam com ele estão em movimento e se não são compreendidos dentro
de âmbitos maiores que condicionam seu comportamento.
Esse postulado nos indica que não são válidos os estudos que se realizem de
um objeto isolado de seu contexto. O objeto não é separável de seu âmbito,
porque objeto e âmbito formam uma estrutura indissolúvel; se mudar o âm-
bito, o objeto já não será o mesmo.
A partir dessa perspectiva, os esforços da ciência para compreender os fenô-
menos isolando-os do meio em que se dão aparecem como extremamente
limitados.
Tais esforços foram muito frutíferos em certos campos como a física, a química
e a biologia, mas mostram claramente suas limitações quando aplicados às
chamadas ciências humanas, como a psicologia, a sociologia ou a economia.
A complexidade dos fenômenos humanos, sua essência, mostra que não é
possível explicá-los, se apelarmos a esse recurso de separá-los de seu entorno
para estudá-los e compreendê-los.
A consciência não é uma alavanca ou um músculo que se possa cortar para
estudar. Não podemos entender os mecanismos de consciência quando os
separamos do meio cultural e social onde se dão e, nesse meio, sua relação
com outros elementos é ativa e dinâmica.
Acrescentamos, além disso, que seu meio não é somente espacial, mas tam-
bém e prioritariamente temporal. Entretanto, esta não é uma temporalidade
externa e linear, redutível a datas, mas uma temporalidade interna e estrutu-
ral em que o passado, o presente e o futuro se entrecruzam de modo ativo e
ponderam o aqui e agora de cada momento.

Lei de Concomitância
“Todo processo está determinado por relações de simultaneidade com processos do
mesmo âmbito e não por causas lineares do movimento anterior de que procede.”
Com essa Lei, estudamos as relações de simultaneidade com outros proces-
sos que se desenvolvem no mesmo meio.
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

Ela explica que os fenômenos contemporâneos que ocorrem em um âmbito


não podem ser explicados inteiramente pela simples relação causal de uns
fenômenos sobre os outros, nem sobre sua situação em um momento ante-
rior. Eles devem ser compreendidos com relação ao momento de processo do
meio em que estão imersos.
Assim, quando estudamos um fenômeno que ocorre em determinado mo-
mento, sua manifestação não é mera consequência da ação de outro que
atua sobre ele (causa-efeito). Atua simultaneamente sobre eles uma condição
dada pelo âmbito maior em que se encontram.
Essa lei está relacionada com a anterior. Nada está isolado, senão em relação
dinâmica com outros fenômenos que ocorrem dentro de âmbitos condicio-
nantes. A explicação do que se observa não se esgota no simples fato de de-
notar de onde vem em termos imediatos, mas será necessário primariamente
estudar o âmbito condicionante em que ocorre. Esse âmbito é espacial e
temporal, é uma estrutura de relação que muda a cada momento.
Obviamente, essa visão mantém uma forte discussão com o pensamento
linear e causalista, que trata de explicar os fenômenos apenas em função de
causas e efeitos, isolando-os do contexto em que ocorrem.
Não deixamos de apreciar que esse pensamento causalista permitiu um
grande avanço à racionalidade do século XIX. Por exemplo, quando Louis
Pasteur desenvolveu sua teoria microbiológica, esta entrou em choque com
a ideia de geração espontânea aceita pelos cientistas da época. Seu poder
explicativo e sua aplicação abriram caminho para os avanços da medicina
moderna e permitiu a compreensão da etiologia e do processo natural das
doenças infecciosas, que até esse momento eram a principal causa de morta-
lidade da população.
No entanto, à medida que o perfil epidemiológico das populações foi mu-
dando e começou a haver interesse pelas doenças crônico-degenerativas, essa
teoria não foi suficiente e foi necessário desenvolver novos modelos teóri-
cos como os ecológicos e de multicausalidade. Porém, esses modelos já são
insuficientes para explicar os complexos problemas que se apresentam na
medicina atual e se faz necessário um novo salto conceitual que permita dar
conta deles.
Assim, o Pensamento Estrutural Dinâmico poderá servir de base para uma
nova visão geral, superadora das contradições acumuladas pelo pensamento
linear.
Reconhecemos que há certa dificuldade para apreciar a relação entre fe-
nômenos concomitantes, porque estamos muito marcados pelo molde da
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

linha do tempo, a causalidade, o antes e o depois, e é difícil captar que aquilo


que se observa em um momento não é simples consequência do que aconte-
ceu antes, mas sim da existência de um âmbito maior no qual os fenômenos
estão imersos e que os condiciona conforme o momento de processo, como
também condiciona o olhar de quem pretende estudar tais fenômenos.
Como exemplo, poderíamos nos perguntar por que estamos aqui interessa-
dos em estudar o método. É porque cada um de nós fez um processo indivi-
dual que nos trouxe até aqui? Ou é porque, simultaneamente, participamos
de um marco maior que, por momento de processo, está gerando uma influ-
ência em nós que faz com que estejamos interessados nesses temas? Tenderí-
amos a ver coisas diferentes, tomando um raciocínio ou outro. Tentar enten-
der “minha situação”, considerando que esta é puro devir biográfico, apenas
causas e efeitos, não é a mesma coisa que tentar entendê-la relacionando-a
com o contexto social e histórico do mundo em que vivo.
Quando tento entender uma situação, tendo a explicá-la em função de al-
gum elemento pontual que chamo de causa. Mas o sujeito também poderia
se perguntar: só poderia ter feito isso ou poderia ter feito outra coisa, caso
fossem outras as circunstâncias? Qual é a circunstância maior que nos en-
globa? Essa grande circunstância é a estrutura de relações que se dão em um
espaço social e em momento histórico determinado.
Isso que dizemos não nega a liberdade de escolha, mas sim nos leva a refletir
sobre os limites dentro dos quais podemos exercer nossa capacidade de escolha.

Lei de Ciclo
“Tudo no Universo está em evolução e vai do mais simples ao mais complexo e
organizado, segundo tempos e ritmos cíclicos.”
Com essa Lei, estudamos a dinâmica, o ritmo, o ciclo, o movimento para a
transformação do simples ao complexo.
Como tendência geral, um processo pode evoluir, involuir, cristalizar-se ou
pode produzir um salto de qualidade que transforma radicalmente sua iden-
tidade inicial.
Os processos evolutivos não se desenvolvem em linha reta nem com tempos
ou acelerações constantes. Surgem, crescem, desenvolvem-se, declinam e se
desorganizam, mas ao se desorganizarem dão origem a novas formas que
repetem o mesmo processo em outro nível.
Esses processos não estão desconectados – os elementos progressivos do pas-
so anterior continuam no posterior. Desse modo, os ciclos não são círculos
fechados, eles têm “forma” de espiral.
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

Exemplo disso são as civilizações que seguiram o processo de surgimento,


crescimento, desenvolvimento, declínio e desorganização, em que a experi-
ência acumulada mais evoluída passou para outra civilização que desenvol-
veu ainda mais os elementos progressivos de momentos anteriores. De outro
modo, a humanidade sempre estaria recomeçando do mesmo ponto e o ho-
mem seria sempre o cavernícola que toda vez estaria nascendo e morrendo
sem descobrir o fogo.
Alguém colocou o exemplo de certas sociedades muito conservadoras que
fazem muita resistência a qualquer mudança. A partir de nossa perspectiva,
essa é uma postura anti-histórica. Ali tende-se a que nada novo surja, porque
qualquer coisa nova que surja colocará em xeque essa forma que “é”. E isso
vai gerar muito conflito, porque tudo no universo muda e essa tendência,
certamente, vai além da própria vontade.
No nível pessoal, poderíamos dizer: eu queria que as coisas fossem sempre
como hoje. Entretanto, tudo está em evolução e essa evolução tem uma di-
reção. Não quer dizer que tudo se encaminha para o desastre, mas sim que
tudo vai procurando uma organização mais complexa, que permita compen-
sar do melhor modo o desequilíbrio que se gera permanentemente. Isso se
vê nas galáxias, nas moléculas e, certamente, também nas sociedades e nas
pessoas. Nada é sempre da mesma maneira, mas varia, muda, evolui.
É importante compreender essa ideia de que a estrutura sempre está em mo-
vimento, que apreciamos esse movimento ao ver as mudanças que ocorrem
na estrutura em cada momento e que, por sua vez, os distintos momentos se
relacionam entre si com uma lógica de processo.
Essa lógica se refere à direção para uma organização de maior complexida-
de. E qual é a razão da necessidade de uma maior complexidade? A razão é
que o meio varia, as mudanças desequilibram e é necessário restabelecer esse
equilíbrio. Mas essas mudanças no meio também são cada vez mais comple-
xas e exigem da estrutura, para que esta possa se perpetuar, uma mudança
qualitativa; e quando esta mudança não ocorre, a estrutura involui e desapa-
rece. Como toda estrutura tende a se autoperpetuar, a mesma deverá gerar
respostas mais complexas. Isso requer uma mudança de qualidade interna,
uma mudança que implica maior complexidade e organização.
Entretanto, essas mudanças não seguem um ritmo fixo, mas cíclico. Um
ritmo que não tem a regularidade do calendário ou do relógio, porque essas
são formas externas de medir o tempo, e o tempo dos processos, por sua vez,
é compreendido quando se apreciam os ciclos dados pelo devir interno da
estrutura.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

A lei de ciclo nos explica a mudança das estruturas. Estruturas que vão mu-
dando, transformando-se, devindo umas em outras, na busca de uma maior
complexidade que lhes permita adaptar-se melhor às mudanças do meio e
assim perpetuar-se no tempo.
Assim, detendo no pensamento a dinâmica da estrutura, poderemos estudar
um momento de processo e analisar os fenômenos de concomitância que
ocorrem dentro dele, mas sem esquecer que se trata apenas de um artifício
na tentativa de compreender.

Lei de Superação do Velho pelo Novo


“A contínua evolução do Universo mostra o ritmo de diferenças, combinações e
sínteses de complexidade cada vez maior. Novas sínteses assumem as diferenças
anteriores e eliminam matéria e energia qualitativamente não aceitáveis para
passos mais complexos.”
Com essa Lei, estudamos a transformação do indivíduo e sua relação com as
mudanças do âmbito maior dentro do qual se inclui.
Essa lei está relacionada com a anterior e explica que uma estrutura se desin-
tegra porque não pode fazer frente às novas situações que o desenvolvimento
lhe impõe. Por outro lado, os elementos mais novos e de maior vigor se
desenvolvem a partir de seu interior até deslocar o sistema mais velho. Esse
novo sistema é mais complexo e evoluído que o anterior.
Muitos elementos são descartados porque são como vias mortas. Apesar de
que toda experiência é importante, muitos elementos não são construtivos.
Esses elementos que não servem de base para a construção de novas experi-
ências denominamos experiências não construtivas, não progressivas.
Essa ideia explica a superação do velho pelo novo. O novo, entretanto, está
estruturado conforme as experiências anteriores, especialmente sobre as mais
recentes. À medida que uma experiência se apoia sobre outras que são pro-
gressivas, concomitantemente outras, as mais regressivas, ficam de lado.
Esse postulado nos permite estudar a composição de um objeto, fenômeno
ou situação, e explica como se dá a dinâmica dentro de um processo.
Vimos até aqui que todo fenômeno que queiramos estudar não existe isola-
do, mas condicionado pela estrutura maior que o contém; que essa estrutura
está em evolução para formas mais complexas; e que a cada passo se verificam re-
lações de concomitância com fenômenos que ocorrem dentro do mesmo âmbito.
Detenhamo-nos agora no objeto que queremos estudar e analisemos sua
composição.
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

Ao fazer isso, observamos que os componentes internos não estão quietos. Eles
se movem, mas não de maneira anárquica. Neles também encontramos uma
lógica de transformação que indica que esses primeiros elementos se diferen-
ciam, depois se complementam e finalmente se sintetizam, em um processo
contínuo.
Nesses passos de diferenciação, complementação e síntese encontramos uma
chave na dinâmica do processo, o que dá movimento à estrutura.
Diferenciação significa que aquilo que em determinado momento era ho-
mogêneo, no momento seguinte se desagrega, dando lugar a elementos com
características distintas.
Complementação indica que esses elementos diferenciados tendem a se re-
lacionar, a interagir.
Finalmente, síntese implica que essa inter-relação dá lugar a um novo ele-
mento que não é a simples somatória dos atributos anteriores, mas um novo
elemento qualitativamente diferente. Na síntese, há um salto qualitativo que
faz com que este novo elemento seja mais apto para continuar o processo.
Essa lei nos permite, então, o estudo da composição do objeto, mas não de
maneira estática, fixa, senão com uma dinâmica dada pelos passos descritos.
É nessa necessária tendência de superação em que os elementos que não são
aptos para passos mais complexos são desprezados, e os novos elementos
tornam-se a base dos próximos passos.
No estudo da história, por exemplo, o materialismo proposto por Engels e
Marx postula que o motor da história é a luta de classes, em que opressores e
oprimidos, em contínua dialética, explicam porque esses processos se movem.
Para nós, essa é uma visão “de fora” do processo humano, uma visão que
estuda o processo humano como quem estuda a órbita de um planeta.
Por outro lado, a partir da perspectiva que nos expõe a lei em questão, diría-
mos, mais próximos a Ortega, que o motor da história é a luta geracional que
se trava quando novas gerações de coetâneos lutam para deslocar do presente
social as gerações que estão no poder. Esse fenômeno vital é o que explica
como, para além de qualquer outra consideração, a história humana se de-
senvolve. Não são, então, as “condições objetivas” externas as que determi-
nam o fenômeno, mas sim a luta das distintas subjetividades temporais que
cada geração leva consigo. As gerações são o tempo social em movimento.
No terreno pessoal, também poderíamos ver como essa visão atua. Dessa ma-
neira, alguns podem pensar que a conduta pode ser explicada apenas como
reação diante de estímulos externos, como nos experimentos de Pavlov.

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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Então, chega-se a pensar que é possível domesticar as pessoas em função dos


estímulos a que sejam submetidas. Daí surgem, por exemplo, as ideologias
da repressão ou dos prêmios e castigos para disciplinar a sociedade.
Nós mesmos também podemos nos ver assim e, ao estudar nossas vidas,
acreditar que o que nos acontece é reflexo mecânico do que nos ocorreu.
A partir da perspectiva dessa lei, para compreender a vida de uma pessoa e,
certamente, a própria, é necessário observar como a vida pessoal foi se de-
senvolvendo conforme os elementos progressivos, de maior adaptação cres-
cente, que ao se desenvolverem deslocaram os regressivos. Como se cresceu
quando se pôde avançar nesse processo de diferenciações, complementações
e sínteses contínuas, e como a vida pareceu deter-se quando não se puderam
superar os elementos regressivos.
Entretanto, esses são apenas exemplos e a ideia não é aprofundar neles. Rei-
teramos simplesmente que essa lei nos diz que o que move a estrutura em
sentido evolutivo, em direção a ganhar maior complexidade e adaptação, é
essa espécie de pequeno processo de diferenciações, complementações e sín-
teses, que podemos observar no interior de qualquer fenômeno que ocorre
no mundo e na própria consciência.
Então, essas são as quatro estruturas teóricas que dão sustentação conceitual
ao método que vamos estudar e ao modo como vamos proceder para poder
compreender e atuar.
Esse método não está solto no ar, ele se desprende dessa base teórica que
comentamos anteriormente.
Para sintetizar este capítulo, relembramos que essas leis são apresentadas sepa-
radamente para facilitar sua compreensão, mas valerá o esforço de considerá-las
simultaneamente, construindo em nós um modo de olhar estrutural e dinâmico
que permita nos aproximar de um modo novo dos objetos que vamos estudar.
Mas esse modo de olhar não é habitual, não se dá mecanicamente, necessi-
tamos um guia que nos leve pelo caminho adequado e nos ajude a chegar ao
fim do caminho que vamos empreender.
Necessitamos um método.

2.6 O Método Estrutural Dinâmico (MED). Generalidades.


Mencionamos no começo que cada corrente de pensamento desenvolveu
um método que correspondia a sua visão particular do mundo.
Da mesma maneira, a visão do Novo Humanismo requer um método que
o torne operativo, ou seja, que leve seus postulados ao terreno da aplicação.
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

Esse Método não parte dos princípios da lógica clássica, mas sim dos Princí-
pios que se fundamentam na observação dos mecanismos do pensar.
Então, o fundamento desse método não será uma ideia do “ser”, mas os
mecanismos do pensar, a estrutura dinâmica do pensar.
Os Princípios e as Leis Universais que acabamos de comentar derivam dessa
visão, e agora necessitamos um conjunto de procedimentos que nos per-
mitam de modo ordenado, passo a passo, obter um conhecimento sobre o
mundo e sobre nós mesmos, que integrem essa visão que é essencialmente
Estrutural e Dinâmica.
E são essas características essenciais as que nos levaram a denominá-lo Mé-
todo Estrutural Dinâmico.
Como digressão, digamos que essa denominação não deve ser confundida com
o enfoque estruturalista surgido no século XX que, iniciado pelo linguista Fer-
dinand de Saussure, foi desenvolvido por diversos estudiosos na área das ciên-
cias sociais e teve seu apogeu na etapa posterior à Segunda Guerra Mundial,
com as contribuições de Lévi-Strauss, Lacan e Piaget, entre outros.
Embora resgatemos de sua contribuição a visão dos sistemas e das relações
que se estabelecem dentro dele, esta é uma visão “de fora” do fenômeno e
esse enfoque a diferencia substancialmente da proposta teórica e metodoló-
gica do Humanismo tal como vamos estudar neste seminário, e que certa-
mente leva a consequências muito diferentes.
Voltando a nosso desenvolvimento, destaquemos que, embora com o Méto-
do Estrutural Dinâmico possamos estudar qualquer fenômeno, situação ou
coisa, orientaremos este seminário à sua aplicação no terreno das chamadas
ciências humanas, em que o ser humano é o ator principal.
Como os participantes desta oficina são pessoas aplicadas à ação social trans-
formadora, interessará particularmente o estudo de situações e conflitos so-
ciais com os quais nos encontramos em nosso atuar cotidiano, com a inten-
ção de obter uma visão mais clara dos problemas e das alternativas que sua
formulação nos apresenta.
Então, em um primeiro olhar, o mundo que nos rodeia parece um tanto
caótico, sem ordem, e quando nos dispomos a estudá-lo junto com outros,
vemos que sobre esse mundo podemos ter distintas opiniões, que em alguns
casos poderão coincidir e que em outros serão tão distintas que parecerá que
observamos coisas diferentes.
Também nos encontramos com situações frente às quais não sabemos bem
o que pensar, e isso necessariamente provoca em nós desconcerto ou deso-
rientação.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Pretendemos, portanto, ter um método que nos permita compreender o que


vivemos e nos ajude a ter clareza sobre como atuar no mundo.
Não estamos dizendo que, em princípio, procuramos a verdade ou a essên-
cia das coisas que vamos estudar. Dizemos simplesmente que procuramos
melhorar a clareza e a compreensão sobre nosso olhar e o mundo a que
este se aplica, entendendo que olhar e paisagem configuram uma estrutura
indissolúvel.
Portanto, o Método será uma tentativa de compensação ordenadora frente a
um sistema de experiências desordenadas.
Vejamos agora de modo resumido como procede.
Para facilitar sua aplicação, vamos dividir os procedimentos em três etapas.
A Pergunta. Expomos o problema, formulamos a pergunta e definimos
o Objeto de Estudo.
A Análise. Definimos o enquadramento do Objeto de Estudo e desen-
volvemos a tripla análise de Processo, Relação e Composição.
A Resposta. Elaboramos a síntese e, com esta, a resposta à pergunta da
qual partimos, chegando a uma conclusão que esclareça nosso problema
e permita gerar pautas para a ação.
Então, como primeira condição, é necessário ter um problema. Se não temos
um problema, não necessitamos nenhum método, porque não há nada a
esclarecer ou resolver.
Assim, no contexto deste seminário, estarão aplicados ao estudo aqueles que
tenham encontrado em seu caminho alguma dificuldade que não se resolve
sozinha, uma dificuldade que requeira nossa intervenção e nossa compreen-
são.
Esse problema, para ser trabalhado, deve ser exposto com clareza, de modo
completo e com a maior simplicidade possível.
De sua definição surge a formulação da Pergunta, que será expressada de
modo preciso, evitando termos vagos ou ambíguos. Ela nos indica o que
queremos saber e isso é muito importante porque, se não soubermos o que
procurar, não saberemos o que fazer com o que encontrarmos.
Em função da Pergunta, passaremos a definir o Objeto de Estudo. Para isso,
não será suficiente denominar o objeto que vamos estudar, mas será impres-
cindível explicar o interesse a partir do qual o faremos. Entendemos o Obje-
to de Estudo como uma estrutura objeto-interesse. Assim, ao se modificar o
interesse, modifica-se o objeto.
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

Esse Interesse deverá manter-se presente e imutável ao longo de todo o es-


tudo. Será nosso Fio de Ariadne que, como no mito, ajudará a não nos
perdermos em nossa incursão.
Uma vez resolvido isso, poderemos passar para o momento seguinte, que
consiste no enquadramento e posterior análise.
O Enquadramento nos leva a localizar nosso Objeto de modo conceitual e
espacial. Para isso, teremos que responder três perguntas chave. Qual é seu
âmbito maior? Qual é seu âmbito médio? Qual é seu âmbito menor?
Então, estaremos em condições de desenvolver a tripla análise que o método
nos propõe. Tal análise é um exercício de Ponto de Vista, similar ao que
realiza um observador que, quando quer conhecer um objeto, olha para ele
a partir de distintas perspectivas. Poderá observá-lo de frente, de cima, de
baixo ou de trás e, a partir de cada perspectiva, obterá uma visão diferente.
Em nosso caso, as perspectivas são o Processo, a Relação e a Composição e,
embora a ordem empregada não seja determinante, é fundamental o exercí-
cio dos três Pontos de Vista.
O Interesse é fixo, o Ponto de Vista muda em cada passo de análise que, para
maior clareza, vamos desenvolver seguindo uma ordem que começa com o
Processo, continua com a Relação e culmina com a Composição.
A primeira análise, então, leva-nos a estudar nosso objeto em Processo. Ou
seja, não vamos vê-lo como algo atemporal, senão que vamos visualizar
como se desenvolve no tempo. É nesse devir que vamos fixar nossa atenção
em um momento, o momento que nos interessa, conforme a pergunta que
devemos responder.
Para a segunda análise e localizando-nos em um momento de processo de-
finido, vamos estudar a relação dinâmica que nosso objeto estabelece com
outros elementos presentes de modo concomitante no âmbito médio.
Por último, a terceira análise nos leva à sua composição. Nela, discriminare-
mos os elementos que compõem nosso objeto e que ordenaremos, tratando
de visualizar o processo de transformação que, de acordo com a diferencia-
ção, complementação e síntese, ocorre em seu interior.
Estaremos agora em condições de encarar a última etapa do estudo que nos
leva a obter uma Resposta à Pergunta original.
Para isso, a primeira coisa que faremos será realizar uma descrição minuciosa
de todo o desenvolvimento realizado. Então, resumiremos os aspectos mais
relevantes e, por último, depois de relacionar os elementos trabalhados, ten-
taremos elaborar uma síntese que integre todo o estudado.

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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Essa síntese implica haver obtido uma nova visão, uma nova experiência do
Objeto de Estudo que agora deverá se apresentar a nós com uma nova clareza.
Embora tenhamos dito no início que necessitaríamos informação para o es-
tudo, será evidente que essa nova clareza não estará dada pela simples acu-
mulação de dados, mas fundamentalmente pelo trabalho de análise e síntese
que realizamos, guiados pelos procedimentos que o Método nos propõe.
A partir da síntese do estudo do objeto e com uma nova compreensão, pode-
remos encarar a resposta à pergunta formulada, e esta será a conclusão a que
chegaremos. Porém, esta já não será uma simples opinião vertida sem maior
reflexão, mas sim o resultado do pensar em conjunto, com rigor e de modo
integral sobre o problema que tínhamos formulado.
Restará, por fim, realizar um Informe Final que, de modo claro e sintético,
expresse o trabalho realizado e possa ser compreendido por um interlocutor
que não tenha participado de seu desenvolvimento.

2.7 O MED como instrumento de estudo e transformação


Revisando o dito até aqui e finalizando essas primeiras explicações, gostaría-
mos de chamar a atenção sobre alguns pontos.
As Leis e o Método constituem um sistema e, portanto, mantêm entre si uma
relação harmônica e coerente. Por sua vez, eles encontram seu fundamento na
observação dos mecanismos do pensar e nos Princípios Lógicos enunciados.
Das Leis Universais deriva todo nosso sistema de pensamento e encontramos
estas mesmas leis refletidas nos elementos constitutivos do Método. Por isso,
ao relacionar as leis com o método, aquelas explicam este e vice-versa, dado
que são a mesma coisa aplicada a planos distintos.
As Leis nos dão o marco ou enquadramento conceitual. O Método nos per-
mite melhorar a compreensão que temos dos problemas e, ao mesmo tempo,
serve como ferramenta de transformação daquele que investiga e do mundo
que o rodeia. Não é, então, apenas um modo ordenado de análise que pode-
mos aplicar às coisas; em seu exercício, projeta-se também como instrumen-
to para a transformação pessoal e social.
No nível pessoal, o trabalho com esses procedimentos vai levando o opera-
dor não apenas a ordenar a experiência, mas também a ordenar os hábitos do
pensar, mediante seu exercício repetido.
Esse é um ponto de muito interesse, porque o trabalho com o método não ape-
nas permite ter maior compreensão, o que por si só é algo muito útil, mas tam-
bém tem a característica de que, quando atuamos dessa maneira metódica, com
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

esse enquadramento, a forma de pensar vai se ordenando de outro modo. E essa


ordem particular é o que produz no operador a transformação de sua visão.
Estamos dizendo que é o modo de operar, seguindo a dinâmica própria do
pensar, que nos leva a nos transformarmos e a transformar a visão que temos
das coisas.
Esse modo de operar exige aguçar a capacidade de discriminação, exige o
desdobramento de mecanismos de crítica, autocrítica e de reversibilidade
sobre o que percebemos, recordamos e imaginamos. E essa exigência nos
coloca a necessidade de trabalhar com uma vigília atenta e lúcida.
Vamos ver, quando aplicarmos esse método, que aparecerão resistências, que
estão dadas pelo modo habitual de pensar, em geral desordenado, carente de
níveis e profundidades. Então, o método nos ajudará, ao refletirmos sobre
nossos hábitos de pensamento, e nos guiará para que as coisas possam ir se
encaixando. Isso, obviamente, não pode ser alheio a mim. Sou eu quem faz
isso. Sou eu quem está habilitando outros modos de pensar. Então, um dos
fenômenos que certamente observaremos ao longo do estudo será o de nos-
sas próprias resistências para pensar com ordem e coerência.
Se for este o caso, isso será um indicador de que não estamos acostumados a
ter clareza, a perceber de modo integral e apreender a dinâmica dos proces-
sos. Opostamente, o exercício repetido nos levará a uma nova compreensão
do mundo que nos rodeia e de nós mesmos.
É importante alertar sobre esse fato, porque mais de uma vez ao longo do
trabalho seremos invadidos por uma sensação de frustração e nos sentiremos
tentados a deixar as coisas como estavam. É nesse ponto, sem tensão, mas com
decisão, que teremos que dar o melhor de nós para superar os obstáculos, com
a certeza de que o caminho que empreendemos nos levará a um bom final.
Também dizemos que o Método é um instrumento de transformação social
porque, se aceitamos que nós não estamos isolados do mundo, que somos
nós e nossa circunstância em indivisível estrutura, então aquelas mudanças
que ocorrerem em nossa visão se transportarão para o mundo onde nos
aplicamos.
O método nos ajudará a ter uma melhor compreensão do mundo e das
alternativas de ação que se apresentam.
Ele não apenas ordena meu pensar, mas também meu atuar, constituindo-
se, portanto, em instrumento orientado à transformação pessoal e social.
Por último, e completando o dito no início, gostaria de sugerir uma atitude
para desenvolver estes trabalhos, que tem três qualidades.

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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Por um lado, a atitude perseverante de quem desenvolve um ofício, que


não se deixa abater pelas dificuldades que encontra no caminho e insiste até
concluir o trabalho proposto.
Por outro lado, a atitude do verdadeiro cientista que empreende sua tarefa
com forte rigor, conduzido por raciocínios sólidos e coerentes, mesmo que
isso implique ter que reconhecer e retificar seus enganos.
Por último, a atitude das crianças, que podem se assombrar ou se admirar com
o que descobrem, que estão abertas ao novo, que não têm posturas a defender e
que podem se divertir e desfrutar da magnífica aventura de aprender sem limites.

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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

3. A PERGUNTA
Antes de começar nossos estudos, devemos parar um momento para definir
com precisão o que vamos estudar.
Esse passo é de fundamental importância, porque a partir dele desenvolve-
remos nosso método.

3.1 Delimitação do problema


Quando nos colocamos a necessidade de ter um método para pensar e atuar
é porque nos encontramos com alguma dificuldade que não se resolve meca-
nicamente. Então, dizemos que estamos diante de um Problema.
Um problema é uma situação que não se resolve sozinha e que, em algum
sentido, dificulta ou impede nosso avanço e por isso nos interessa resolver.
Se não temos um problema, não necessitamos do método porque, como
dissemos, este surge como necessidade de dar resposta a uma situação que
em algum sentido não está clara para nós e nos interessa resolver.
No entanto, podemos ter uma sensação difusa do problema. Sabemos que
algo não se encaixa, mas não sabemos bem como expressá-lo.
Para que um problema possa ser trabalhado metodicamente, deve ser claro
e formulado com a maior precisão possível, e isto já implica um primeiro
trabalho de ordenar nosso pensamento.
Então perguntamos: “qual é o problema?” E esse é o ponto de partida. Para tra-
balhá-lo, vamos começar demarcando os limites daquilo que queremos estudar.
O primeiro passo será, então, precisar qual é o âmbito temático onde se dá a
situação que nos interessa ou, dito de outro modo, qual é o tema que vamos
trabalhar. Vamos diferenciar o tema que nos interessa de outros possíveis.
Na prática de nossa oficina, cada grupo escolherá um problema para traba-
lhar e terá que se colocar de acordo com relação ao mesmo.
Sugerimos realizar um amplo intercâmbio sobre o tema escolhido, que per-
mita aproximar-se do problema por rodeio, até que ele apareça com clareza.
Certamente, distintas pessoas terão distintas visões que haverá de se conside-
rar até que, em conjunto, coloquem-se de acordo com respeito a qual seria o
problema que se apresenta. E quando este aparecer com clareza, será possível
avançar para o próximo passo.
Convém ter conexão com o problema, reconhecer nele uma dificuldade que
nos importa resolver. O problema não é indiferente para nós e esta é uma
característica importante que deveríamos observar.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Todavia, podemos ter isso claro, mas nos depararmos com o fato de que não
temos muita informação, que não sabemos muito sobre o problema. Diante
disso, há pelo menos duas alternativas. Podemos suprir essa falta através da
investigação de alguma fonte ou nos deparar com o fato de que tal informa-
ção não existe.
Se for possível obter as informações, será questão de revisar essas fontes, mas se
não temos nenhuma informação e não é possível consegui-la, será melhor pro-
curar outro problema. Porque, ao começarmos a trabalhar, o método exigirá
informação, então nosso trabalho será interrompido e não poderemos avançar.
Procurar outro problema refere-se, obviamente, ao que vamos realizar no
âmbito deste seminário, em que o mais importante é aprender o trabalho
com o método, e não resolver um problema concreto.
Por último, um problema será de maior interesse na medida em que sua
resolução tiver consequências nas decisões que vamos tomar.
Dizíamos que esta oficina está orientada a trabalhar com conflitos sociais,
como os que encontramos, por exemplo, quando interagimos com algum
grupo humano. Então, a clareza obtida será aplicada nas decisões que toma-
remos e estas poderão, então, ter uma consequência interessante.
Ao finalizar o estudo, pretenderemos ter avançado sobre a clareza que temos
com relação ao problema. Mas os problemas fazem com que nos formule-
mos perguntas. Se não há perguntas, não podemos avançar...

3.2 Formulação da pergunta


Delimitamos e expressamos claramente o problema. Estamos agora em con-
dições de expressá-lo de modo mais operativo, o que denominamos Formu-
lação da Pergunta.
A pergunta é uma interrogação que fazemos com relação ao problema.
A partir do problema, podem surgir muitas perguntas e vamos escolher a que
melhor representa aquilo que queremos conhecer.
Trabalharemos essa pergunta até que seja clara, simples e precisa, dado que,
se não possui estas qualidades, será muito difícil avançar no trabalho.
O estudo nos levará a responder a pergunta formulada e, se esta não for cla-
ra, não poderemos pretender encontrar uma resposta que o seja.
Convém evitar que a pergunta contenha termos vagos, aqueles cujo significado
não é preciso, ou termos ambíguos que possam gerar diversas interpretações.
O trabalho com a pergunta é anterior ao método. O método nos guia para
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SEMINÁRIO OFICINA - Primeira Parte

encontrar uma resposta à pergunta, mas nada nos diz sobre como ela surge
no pensamento do investigador.
Por que uma situação se apresenta como um problema? Por que nos pergun-
tamos sobre certas coisas? Esses não são problemas metódicos, mas uma vez
que tenhamos uma pergunta, o método será de grande ajuda para encontrar
as respostas. Sem pergunta, não há método, porque não há onde aplicá-lo.

3.3 Definição do objeto de estudo. O interesse.


Uma vez formulada a pergunta, passaremos a definir o objeto a ser estudado
para respondê-la.
O Objeto de Estudo é aquele ao qual vamos dirigir nossa atenção com a intenção
de desvelá-lo, de compreendê-lo em profundidade em algum de seus aspectos.
Em sentido amplo, poderá ser um objeto ou uma manifestação observável
de um indivíduo ou um coletivo, ou um elemento ideal não observável. Ou
seja, quando falamos de Objeto de Estudo nos referimos a qualquer fenô-
meno que possamos conhecer, seja este externo ou interno, sempre que for
passível de análise.
Entretanto, ao atender a um fenômeno como os mencionados, observamos
que podemos fazê-lo a partir de diversos interesses ou em diferentes sentidos.
Consideremos, por exemplo, um fenômeno coletivo como a mobilização de
um grupo de jovens desempregados em determinada cidade. O que interessa
para nosso estudo? Seu significado político, sua magnitude, sua capacidade
como força de trabalho, o fenômeno social que representa, a força que o
impulsiona?
Cada um desses interesses recorta de nosso objeto certos atributos, certas ca-
racterísticas ou qualidades e faz com que outras passem para segundo plano
ou não sejam consideradas.
Ao mudar nosso interesse, muda a estrutura do que vemos e, ao mudar o que
vemos, muda o objeto a que atendemos. Ao mesmo tempo, o objeto a que
atendemos impõe certos limites ao interesse.
Dito de outro modo, não existe objeto independente do observador, porque
é ele quem o constitui como tal ao fixar seu interesse.
A consciência estrutura o objeto observado ativamente e a partir de determi-
nado interesse; o objeto, por sua vez, impõe limites ao interesse.
Então, esses distintos interesses que podemos ter com relação a um objeto fa-
zem com que falemos, mais propriamente, de uma estrutura objeto-interesse
que, segundo nossa perspectiva estrutural, não são separáveis na experiência.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

É de fundamental importância no trabalho metódico a definição precisa do


Objeto-Interesse, porque este deve permanecer fixo ao longo de todo o estudo.
Analogamente, o Objeto de Estudo é comparável à representação. Quando
atendemos a um estímulo que provém de algum sentido, falamos de per-
cepção. Entretanto, como nossa consciência não é passiva, esse objeto de
atenção é estruturado conforme necessidades da consciência, gerando o que
denominamos representação, e é desta que, em realidade, temos experiência.
Não temos experiência do objeto como tal, senão na medida em que este é
elaborado, transformado, compensatória e estruturalmente, por nossa cons-
ciência – é disto que temos experiência.
Assim, quando recortamos do “mundo” um objeto para sua análise, este
objeto a que atendemos está trabalhado pelo que aqui chamaremos de inte-
resse, e será este interesse que o elaborará, apresentando-o para nosso estudo,
na medida, em que recorta alguns de seus atributos.
Fixar o interesse é tornar explícito esse trabalho da consciência e isso marca
o compromisso do observador com o observado. Isso rompe a ilusão de um
olhar “objetivo”, como contemplação de uma realidade em si mesma, per-
mitindo compreender a elaboração que fazemos dele. Esse objeto elaborado
denominamos Objeto de Estudo.
Por outro lado, ao trabalhar em conjunto com outras pessoas, o fato de
tornar explícito o objeto-interesse permitirá ter certeza de que estamos tra-
balhando sobre o mesmo Objeto de Estudo e isto será de fundamental im-
portância.
Um erro relativamente frequente no trabalho com o método é o esqueci-
mento ou a modificação do interesse com que se iniciou. Quando isso acon-
tece, podemos acreditar que continuamos falando do mesmo Objeto, mas
não estamos.
Outro erro é considerar o que aqui chamamos de interesse como a aplicação
posterior que queremos dar ao estudo do Objeto. No exemplo da mobiliza-
ção, pode ser que queiramos decidir se participaremos ou não. Essa decisão
será posterior à nova compreensão obtida, e talvez seja a resposta à pergunta
formulada, mas não é o interesse que estrutura o Objeto de Estudo.
O termo “interesse”, então, tem aqui como significado a atividade de minha
consciência que recorta certas características do que atendo, e não o que
pretendo fazer com os resultados do estudo.
Uma vez delimitados esses campos, estamos em condições de começar o
trabalho nos grupos.

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SEMINÁRIO OFICINA

Segunda Parte

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SEMINÁRIO OFICINA - Segunda Parte

SEMINÁRIO OFICINA
Segunda Parte

Apresentamos a seguir a segunda parte do Seminário Oficina sobre o Méto-


do Estrutural Dinâmico.
Na segunda parte, veremos os passos do Estudo em Estática e a Análise em
Dinâmica que formam a estrutura básica deste Método.
Certamente, já nos deparamos com as primeiras dificuldades apresentadas
pela delimitação do problema, formulação da pergunta e definição do Ob-
jeto de Estudo. Longe de nos desencorajar, isso apenas mostra quão pouco
habitual é manejar um tema com rigor e clareza.
O caminho empreendido não é simples, porque não estamos familiarizados
com ele. Mas, à medida que persistirmos, notaremos que aquilo que no co-
meço parecia impossível começa a ser reconhecível e manejável.
A capacidade de discriminação, a precisão, a sensibilidade no tratamento das
ideias são alcançadas com a prática e com uma adequada disposição.
O método nos guia na construção de estruturas coerentes e sólidas. Observar
a estética das ideias poderá abrir para muitos a porta para o registro e a com-
preensão dos mecanismos do pensar.
Continuemos, então, com o caminho iniciado.

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SEMINÁRIO OFICINA - Segunda Parte

4. A ANÁLISE
Começamos agora a segunda parte deste seminário, no qual desenvolvere-
mos o estudo conforme nos propõe o Método Estrutural Dinâmico e que
dividiremos em duas etapas.
A primeira, que chamaremos de Estudo em Estática, levará a enquadrar
com a maior precisão possível a Estrutura na qual localizamos o Objeto de
Estudo.
A segunda, que chamaremos de Estudo em Dinâmica, é aquela em que
desenvolveremos a Tripla Análise, que é o aspecto essencial do Método Es-
trutural Dinâmico.
“Análise” é uma palavra que, como muitas que usamos nesses temas, provém
do grego e significa distinção e separação das partes de um todo até chegar a
conhecer seus princípios e elementos.
Neste dia nos dedicaremos especificamente a isso.
Por outro lado, e considerando que esse Método parte da observação dos
mecanismos do pensar, veremos que cada etapa do estudo reconhecerá um
momento de diferenciação, um momento de complementação e um mo-
mento de síntese.
Isso que agora é apenas um dado vazio, sem experiência, será compreendido
na medida em que percorrermos os passos do Método, preenchendo-os com
nossas próprias vivências. Assim, será necessário um pouco de paciência para
chegar a uma compreensão acabada do enunciado.

4.1 Estudo em estática. A Estrutura. Localização “espacial” do Objeto


de Estudo.
Já definimos nosso Objeto de Estudo. Agora, e antes de entrar na análise
metódica, vamos localizá-lo espacialmente, determinando a extensão con-
ceitual em que desenvolveremos nossa investigação.
Esse passo consiste, então, na localização “espacial” do Objeto de Estudo.
Essa localização expressa a estruturalidade do fenômeno estudado, e é ob-
vio que não falamos aqui de um espaço externo, mas de uma espacialidade
conceitual, uma espacialidade que se dá na representação do investigador.
Coerentes com nossa visão Estrutural, veremos que nosso Objeto não se
encontra isolado, suspenso no vazio, mas sim em relação com outros ob-
jetos dentro de um âmbito condicionante e está composto por elementos
incluídos nele.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Ou seja, vamos localizar o Objeto de Estudo incluído dentro de um âmbito,


simultaneamente incluindo os elementos que o compõem.
É algo parecido com essas bonecas russas, que ao serem abertas nos mostram
a mesma figura em distintos tamanhos inclusivos, ou como as camadas de
uma cebola em que uma contém as outras. Esses âmbitos conceituais são
níveis que se localizam em uma ordem precisa.
Para sua melhor compreensão, vamos apelar a um esquema simples.

Esquema de estrutura
Chamaremos o âmbito que inclui o Objeto de Estudo de Âmbito Maior.
Esse âmbito é o que lhe dá ciclos e ritmos, porque as variações que se produ-
zem neste afetarão e produzirão modificações no objeto estudado.
No exemplo que usamos de uma mobilização de jovens desempregados em
determinada cidade, se a estudamos conforme o interesse sociopolítico, o Âm-
bito Maior poderia definir-se como “a situação social e política dada nessa
cidade e nesse momento”. Nesse âmbito, então, encontraríamos uma estrutura
que contém diferentes expressões sociopolíticas, dentre as quais nosso Objeto é
um elemento relacionado dinâmica e estruturalmente com os demais.
Esse âmbito não se forma pela simples somatória dos objetos contidos nele, mas
deve ser apreciado como a estruturalidade geral que contém todos esses objetos.
Agora, se ampliarmos a extensão conceitual, veremos que por cima da “si-
tuação sociopolítica dessa cidade” encontramos “a situação sociopolítica do
país a que pertence” e assim poderíamos continuar definindo níveis mais
gerais. Ou seja, por cima ou por fora do Objeto de Estudo podem localizar-se
diferentes níveis do Âmbito Maior, mas para o estudo vamos escolher um
que reflete melhor o nível e a extensão da análise que desejamos desenvolver.
Como consequência da Lei de Estrutura, nosso objeto está integrado a
esse conjunto e o que acontecer nesse âmbito afetará o objeto como parte
desse todo.
Se agora nos localizamos no nível do Objeto, observamos que o mesmo se en-
contra em relação com outros elementos que existem no meio que o rodeia, ele
se encontra em relação com outros objetos que compartilham o mesmo âmbito.
Esses outros objetos mantêm relações de concomitância com o nosso Ob-
jeto. Isso significa que observaremos – quando o colocarmos em dinâmica
– certa relação com o que se produz em uns e outros. Essa relação – que
conecta uns objetos com outros – não estará dada por relações de causalida-
de, mas de concomitância, dado que participam do mesmo Âmbito Maior.
Chamaremos esse nível de Âmbito Médio.
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SEMINÁRIO OFICINA - Segunda Parte

Retomando o exemplo, veríamos que a mobilização dos jovens que estamos


estudando se corresponde com outras manifestações que, a partir do interes-
se definido como “significado sociopolítico”, são distintas de nosso objeto,
ainda que compartilhem o mesmo espaço conceitual. Então, nesse plano
médio localizaríamos, por exemplo, “outras expressões sociopolíticas” como
as políticas do governo, as posturas dos partidos políticos, as manifestações
de outros grupos discriminados, etc.
Por último, se descêssemos um nível em nossa visão, encontraríamos os ele-
mentos que compõem o objeto que estamos estudando, os elementos que
observamos se o desagregamos em suas partes constitutivas.
Se recordarmos o interesse que pondera a “mobilização de jovens desempre-
gados”, consideraremos os diferentes elementos que o constituem. O que
compõe essa mobilização enquanto significado social e político? Talvez a rei-
vindicação que expressa, sua influência, sua capacidade de gerar mudanças?
Esse âmbito onde localizamos os elementos que formam o Objeto de Estudo
chamaremos de Âmbito Menor.
Como podemos ver, se essa construção está bem feita, deve apresentar uma
estrutura coerente em que todas as partes coincidam perfeitamente em uma
lógica de planos, de níveis.
Esse exercício é similar ao que realiza um pesquisador que, diante de seu mi-
croscópio, estuda um preparado de tecidos utilizando lentes com diferentes
aumentos: à medida que usa aumentos maiores, entra nos detalhes; no senti-
do oposto, perde os detalhes e ganha uma visão de conjunto; mas, apesar da
mudança de ótica, sempre observa a mesma estrutura.
Sendo assim, nessa espécie de mapa, poderíamos nos deslocar em direção
ascendente ou descendente, para dentro ou para fora, sem notar incongruên-
cias. Poderíamos ir do geral ao particular ou do particular ao geral.
Poderíamos, também, descendo ao nível compositivo, tomar um de seus ele-
mentos e transformá-lo agora em um novo Objeto de Estudo: os elementos
que formavam o Âmbito Menor passarão a ser seu Âmbito Médio e o Ob-
jeto de Estudo original será seu Âmbito Maior, sendo necessário definir um
novo nível compositivo. Chamaremos essa operação de Estudo de Segunda
Ordem.
Com isso, completamos a descrição da estrutura. Primeiro, diferenciamos o
Âmbito Maior, depois o Médio e, finalmente, o Menor. Em seguida, vimos
como se relacionam, como se complementam uns aos outros e agora estamos
em condições de sintetizar uma visão integral da Estrutura.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Essa síntese, que se produz por relação entre as relações mencionadas, tem
como resultado uma captação direta da estrutura global que surge em nós
pela integração de visões que acessamos através da análise.
Resumindo, se esse trabalho for bem feito, dará como resultado uma visão
totalizadora da estrutura e da localização de nosso Objeto de Estudo nela.
Agora sim, podemos dizer que nosso Objeto é preciso, está fixo e em condi-
ções de ser analisado em dinâmica.

4.2 Estudo em dinâmica. O Movimento. Localização “temporal”


do Objeto de Estudo.
Entramos agora na análise metódica propriamente dita. A particularidade
dessa análise é que nos levará a estudar nosso Objeto a partir de três perspec-
tivas diferentes, de três Pontos de Vista.
A ideia de Ponto de Vista tem conotações espaciais e se refere ao fato de
que, frente a um objeto, posso ter diversas visões, conforme olhe a partir de
diferentes perspectivas.
Eu posso – mudando minha localização – vê-lo de cima, de baixo, de frente
ou de trás, e cada localização que adote para observar o objeto mostrará di-
ferentes imagens do mesmo. Agora, se passasse meu olhar por essas diferen-
tes posições, recordando-as, poderia compor uma imagem tridimensional e
completa do objeto. Essa nova imagem, ao final de seu conhecimento, será
mais integral, porque me dará uma visão totalizadora do Objeto. Eu o com-
preendo, capto de um modo melhor.
O que vamos tentar, na análise que o método nos propõe, é justamente
estudá-lo a partir de diferentes perspectivas. Mas essas perspectivas, esses
Pontos de Vista, não serão simples localizações espaciais externas. Elas nos
levarão a apreciar o Objeto de Estudo do Ponto de Vista de seu Processo, de
sua Relação e de sua Composição.
Vamos descrever um pouco melhor esses Pontos de Vista. Imaginemos, por
exemplo, que estamos observando um lote de terra, um terreno.
Podemos apreciá-lo de um ponto de vista compositivo, quando atendemos
à experiência imediata que temos dele, ressaltando então a estrutura de ele-
mentos que o formam. Alegoricamente, chamamos isso de “o olhar do lavra-
dor”, porque ele, em contato com a terra, tem a experiência imediata daquilo
que o rodeia e visualiza com clareza os detalhes.
Também podemos ter um ponto de vista relacional quando, elevando-nos
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SEMINÁRIO OFICINA - Segunda Parte

sobre a experiência anterior, observamos a estrutura de relação dinâmica, na


qual descobrimos nosso objeto ligado com outros elementos com os quais
interage. Chamaremos isso de “o olhar do aviador”, que voando por cima
do campo do primeiro exemplo tem uma nova visão do terreno, apreciando
a relação que mantém com outros campos que estão na região. O caracte-
rístico desse olhar é que – apesar de perder os detalhes que tem o anterior –
ganha em amplitude e nível de compreensão ao apreciar essa nova paisagem,
onde o terreno em questão não se visualiza isolado, mas sim em relação com
o meio que o rodeia.
Por último, podemos ter um ponto de vista processual quando imprimimos
à nossa visão um novo salto que nos permite ver essa estrutura em dinâmi-
ca, em processo. Chamaremos isso de “o olhar do astronauta”, que de uma
altura maior pode apreciar como a região observada pelo aviador está em
movimento, e que as mudanças do dia para a noite e de uma estação para
a outra se compreendem como fenômenos condicionados pelo movimento
da Terra em relação ao Sol, ou seja, pode apreciar a estrutura maior que os
contêm e determina seus ciclos e ritmos.
Notemos nesse exemplo que o que muda, em cada caso, não é o objeto que es-
tudo – o terreno – e sim o ponto de vista com o qual o observo, muda o olhar.
Finalmente, ascendendo e descendendo pelos diferentes níveis, o observador
poderá construir um olhar do fenômeno que não é a simples somatória dos
olhares descritos, mas uma nova experiência integral e integradora do objeto.
Essa experiência de síntese nos dará uma melhor compreensão, esclarecendo
nossa primeira e ingênua visão.
Então, o Ponto de Vista é a perspectiva tomada pelo observador para consi-
derar o objeto e que o compromete como parte do estudo, já que é ele quem
o fixa em cada passo e é também afetado pela perspectiva que adota.

4.2.1 Estudo de processo


Essa análise nos leva a considerar o Objeto de Estudo em movimento. Vê-lo
em movimento é vê-lo em processo. Interessa-nos conhecer de onde vem e
para onde vai.
Isso significa que todo objeto que eu queira conhecer não está congelado no
tempo, mas surgiu em algum momento e sofreu variações que o levaram a
modificar-se no tempo.
Esses processos podem apresentar diversas formas e estudaremos primeira-
mente um tipo de processo que chamaremos de Processo Evolutivo.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Nesse modelo, seguindo a Lei de Ciclo, veremos que nosso Objeto surgiu
em determinado momento e – seguindo certo ritmo de acelerações e desa-
celerações – vai se transformando, mudando, tornado-se mais complexo,
dando melhores respostas às variações do meio, até chegar a um ponto de
apogeu. Esse é o momento em que nosso Objeto expressa suas qualidades
com maior plenitude.
A partir daí, veremos um declínio. Às vezes esse declínio é lento até sua
dissolução, às vezes culmina de modo abrupto. Chamamos essa unidade de
processo de “ciclo” e poderíamos representá-la com um círculo que, come-
çando em um ponto, desenvolve-se até seu apogeu e declina em uma espécie
de volta à sua origem.
Entretanto, esses ciclos não são fechados – em sua etapa final vão aparecendo
novos fenômenos, novos elementos progressivos que permitem que um novo
ciclo continue depois do anterior, gerando a imagem de uma espiral aberta,
em vez de um círculo que se fecha sobre si mesmo.
Assim, um processo evolutivo nos mostra nosso Objeto em movimento que,
sem perder sua identidade, vai se desenvolvendo, descrevendo ciclos ligados
uns aos outros, em uma tendência superadora de momentos anteriores.
Um exemplo desse tipo de processo são as civilizações que, ao declinar, dão
lugar a novas civilizações qualitativamente mais complexas e com melhor
adaptação às condições que o meio lhes impõe.
No entanto, nem todos os processos seguem essa mesma dinâmica, poden-
do-se observar alguns processos especiais.
Assim, podemos considerar que há processos involutivos quando o objeto,
em vez de avançar para formas mais complexas e de maior adaptação, parece
retroceder para formas já superadas. Poderíamos ter um exemplo disso em
uma sociedade democrática atual que, em vez de avançar para formas de
maior participação e integração social, gerasse movimentos que a fizessem
regressar a formas do tipo feudal, já superadas em etapas anteriores.
Também pode haver processos que tendam a se cristalizar, quando suas mu-
danças vão se tornando lentas, até chegar a um estado em que parece que os
movimentos se detiveram. Poderíamos ver um exemplo disso em sociedades
fechadas que, por diversos motivos, ficaram isoladas e, ao estudá-las, pare-
cem detidas no tempo em comparação com o desenvolvimento de outras
sociedades contemporâneas.
Por último, também vamos considerar a possibilidade de processos de
mudança radical, em que esta é tão profunda que podemos dizer que nos-
so objeto se transformou em outro, perdendo sua identidade de origem.
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SEMINÁRIO OFICINA - Segunda Parte

Uma imagem que nos aproxima dessa ideia é uma revolução que gerasse
mudanças tão profundas em uma sociedade, que seria difícil reconhecê-la ao
compará-la com momentos anteriores.
Bem, com essas ideias, podemos começar nossa análise de um Ponto de Vista
Processual, tomando como modelo um Processo Evolutivo.
Para isso, então, devo considerar meu objeto transitando no tempo. Estu-
daremos como surge, como se desenvolve, como se desdobra, até chegar
ao momento de seu apogeu. A partir daí, e com o ritmo que é próprio de
cada processo, poderemos ver como nosso Objeto vai perdendo sua capaci-
dade de adaptação relativa às condições que o meio lhe impõe. Falamos de
adaptação relativa porque o que declina, em princípio, é sua velocidade de
mudança, sua força de adaptação, ainda que em termos absolutos continue
dando respostas de equilíbrio. Essa dinâmica levará a um declínio – lento
ou veloz – que o colocará em situação de ter que produzir as mudanças que
permitam iniciar um novo ciclo com um sistema de respostas mais comple-
xas e eficientes.
Para ordenarmos o estudo e facilitar seu desenvolvimento, vamos utilizar al-
guns esquemas. Isso nos leva a realizar uma pequena digressão para esclarecer
os esquemas que utilizaremos nas três análises que vamos realizar.
A utilização de esquemas, de figuras geométricas, segue a tradição própria de
muitos filósofos que se apoiaram na geometria para fazer suas reduções e se
aproximar da essência dos fenômenos estudados.
Assim, quando queremos apreender o básico das estruturas que se apresen-
tam em diversos campos, recorremos a formas geométricas básicas que, re-
movendo da presença os elementos acessórios, permitem observar as linhas
fundamentais de uma coisa, situação ou fenômeno.
Essa operação de redução era considerada tão importante por alguns filóso-
fos que, por exemplo, Platão havia colocado na entrada de sua Academia um
cartaz que dizia: “Não entre aqui ninguém que não seja geômetra”.
Sem tanta pretensão, vamos utilizar essas figuras para apoiar nossos desen-
volvimentos, destacando que, além de sua utilidade ordenadora, têm um
interesse adicional no fato de que cada esquema apresenta relações a priori
de sua utilização que poderão ser úteis.
Sobre esses esquemas, montaremos distintas escalas.
As escalas são instrumentos de medição que nos servirão para ordenar a aná-
lise. São meros apoios, mas de grande valor no estudo, e apesar de existirem
diferentes tipos de escalas, vamos utilizar um tipo especial que se denomina
escala ordinal.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Essa escala é um conjunto ordenado de possíveis valores que podem ser ob-
servados em nosso objeto.
Então, antes de considerar as diferentes observações que posso realizar, defi-
nirei primeiramente os possíveis valores que poderei encontrar.
Uma característica da escala é que deve ser exaustiva. Isso significa que deve
contemplar todas as observações possíveis e nenhuma pode ficar de fora.
Por outro lado, os diferentes valores devem reconhecer uma ordem implíci-
ta. Ou seja, não poderão ser colocados de modo aleatório ou voluntarioso,
senão que cada um deve, necessariamente, ter um valor determinado antes
e outro depois.
Por último, as posições na escala devem ser mutuamente excludentes. Se
uma observação corresponde a uma posição, não pode simultaneamente cor-
responder a outra.
Voltando a nosso desenvolvimento, para estudar esse processo, vamos recor-
rer ao uso de um esquema que nos sirva para ordenar nossas observações.
Esse esquema é uma escala de 4 ou 12 posições possíveis, que montaremos
sobre um círculo para melhor visualização.

Esquema de processo de 4 posições

4 3

2
1

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SEMINÁRIO OFICINA - Segunda Parte

Esquema de processo de 12 posições

10 9
11
8
12
7
1
6
2
5
3 4

Se nosso estudo é simples, podemos recorrer à escala mais reduzida. No


entanto, se nosso interesse é desenvolver um processo com mais detalhes,
usamos o esquema de 12 posições.
Além do esquema que utilizaremos, o primeiro que definiremos é a faixa
temporal em que vamos trabalhar.
Observo que meu estudo pode começar muito atrás no tempo e isso talvez
seja interessante quando quero estudar grandes tendências. Ao contrário,
posso reduzir muito minha faixa temporal de estudo, se quero observar com
mais detalhes uma determinada etapa.
Como é próprio do Método e do uso de escalas, estas se apresentam como
esquemas vazios que preencho conforme meu interesse.
Então, vamos considerar um primeiro momento que determino como o de
surgimento do Objeto de Estudo, e outro que é o último momento que estu-
darei, correspondente ao momento de mudança e passagem para outro ciclo.
A partir desses pontos, poderei completar a escala, que será uma série orde-
nada de momentos de processo pelos quais nosso objeto poderá transitar,
sempre considerando o que foi dito com relação à ordem e à exclusividade
que as observações devem ter.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Assim, utilizando uma escala simples de 4 posições como exemplo, poderei


nomear cada uma como início, desenvolvimento, declínio e final. Cada uma
delas será um valor em minha escala e, com essas posições a priori, iniciarei
o estudo de processo.
Começo, então, localizando o primeiro momento, o de início.
Voltando ao exemplo da mobilização de jovens segundo seu significado so-
ciopolítico, teremos que determinar o começo. Talvez a partir da primeira
mobilização desse tipo registrada nessa cidade? Ou nos interessa estudá-la
mais delimitadamente, a partir das mobilizações ocorridas há um ano ou
alguns meses atrás? Como veem, isso é determinado pelo investigador em
função de seu interesse e também da informação de que possa dispor.
Da mesma maneira, poderia localizar uma situação final, que talvez não se
tenha verificado ainda, porque não temos observações que correspondam a
ela. Recordemos que, quando falamos de momento final, não nos referimos
necessariamente ao desaparecimento total do Objeto, mas ao final de um ciclo.
Depois, poderemos localizar o fenômeno na situação atual. Se estamos uti-
lizando uma escala de 4 posições, perguntaremos se no momento atual a
mobilização se encontra em seu início, em desenvolvimento, passando pelo
momento de apogeu após o qual se encontrará em declínio, ou o processo
vai se esgotando em sua etapa final.
Uma vez fixados esses momentos, posso reconstruir o processo, localizando
as diversas observações nos pontos intermediários.
Assim, terei uma visão da composição do processo conforme os diferentes
momentos, reconhecendo, em cada um, uma estrutura característica de si-
tuação.
Agora, poderei avançar um pouco mais e considerar a relação que existe
entre os diferentes momentos. Isso se torna mais claro quando trabalho com
uma escala de 12 posições, na qual posso observar relações de oposição, de
inércia ou de diferentes graus de influência de um momento sobre outros,
mas como este é um estudo introdutório, não avançaremos mais, assinalan-
do simplesmente a possibilidade de fazer uma análise mais completa.
Essa explicação permitirá construir uma espécie de filme que mostra de onde
vem o fenômeno em estudo e, a partir daí, analisando as tendências ob-
servadas, projetar os momentos seguintes. Isso não implica que estejamos
“adivinhando” o que vai acontecer, mas sim que podemos realizar hipóteses
a respeito do que pode acontecer, caso persistam as tendências observadas
– tendências em que atuarão fatores progressivos e fatores regressivos em
relação ao processo em estudo.
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SEMINÁRIO OFICINA - Segunda Parte

Ou seja, primeiro diferencio os distintos momentos, depois os relaciono


observando o que há em comum e de diferente entre eles e, por último,
sintetizo na medida em que relaciono as relações realizadas, encontrando a
tendência geral do processo.
Com essa análise, poderei localizar nosso Objeto em um momento de seu
processo e visualizar, de modo sintético, a dinâmica das mudanças que nele
acontecem.

4.2.2 Estudo de relações


Na análise anterior, visualizamos nosso Objeto em dinâmica. Agora, na fase
final do estudo, devemos determinar o momento de processo em particular
que nos interessa, em função da pergunta original.
Assim, nosso interesse pode nos levar a estudar o momento atual, um mo-
mento passado ou futuro. Para o momento escolhido, estudaremos sua Re-
lação e sua Composição, que variará em cada passo de processo.
Então, depois de termos escolhido um momento de Processo, estamos em
situação de desenvolver a segunda análise: a das Relações.
Para isso, devemos nos perguntar, para esse momento determinado, com
quais outros objetos, enquadrados pelo interesse do estudo, nosso Objeto se
relaciona. Esse âmbito onde se encontram esses outros objetos constitui seu
Âmbito Médio.
No exemplo da “mobilização de jovens desempregados vista a partir do
interesse sociopolítico”, estudado no Momento Atual, e tendo definido o
Âmbito Médio como aquele formado por “outras expressões sociopolíticas”,
reconhecemos que esses outros objetos do Âmbito Médio são manifestações
de diversos tipos.
Deveríamos fazer, então, uma lista de todos os tipos de manifestação que
observamos, diferenciando-as de acordo com esse significado.
Veremos, talvez, que manifestações como as políticas de governo, as posturas
dos partidos políticos, as manifestações dos formadores de opinião, as rea-
ções da população em geral, etc., expressam diferentes valores que questio-
nam ou não o sistema político em que estão imersas, que são revolucionárias
ou conservadoras, etc.
Ou seja, estamos em um momento de diferenciação em nossa análise das
relações. Essa lista deve considerar – com a maior discriminação possível –
todos esses fenômenos, visualizando os elementos que ocorrem contempora-
neamente e se relacionam com nosso Objeto.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Por enquanto, é uma lista desordenada. A seguir, como na Análise de Pro-


cesso, vamos ordenar essas observações e para isso nos apoiaremos em outra
escala. Essa é uma escala de 5 posições que se constrói a partir de um critério
de qualidade crescente e que nos permite ordenar o Âmbito Médio e as rela-
ções que estabelece com nosso Objeto.

Esquema de relações
Valores superiores

+
5

-
Valores inferiores

Essa escala é apresentada na vertical, como se fosse uma coluna, um medidor


no qual localizaremos, nos valores inferiores, os elementos que mais repre-
sentam atributos que ponderaremos como regressivos ou negativos, e nas
posições superiores, os objetos que representam os valores que nos parecem
mais progressivos ou positivos. Veremos, então, que os extremos apresentam
polaridade.
Para construir essa escala, devemos explicitar quais são esses valores e, em
função deles, ordenar nossa lista.
Uma vez feito isso, colocaremos no ponto central, o ponto 3 do esquema,
nosso objeto, que então se relacionará com elementos que mostram diferen-
ças qualitativas conforme a valoração escolhida.
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SEMINÁRIO OFICINA - Segunda Parte

Voltando a nosso exemplo, se os valores positivos de uma mobilização, con-


forme seu significado político, referem-se a sua capacidade de transformar
positivamente o conflito que a gera, colocaremos na posição 5 (superior)
aquelas que melhor representam esses atributos e na posição 1 (inferior)
aquelas que são de característica francamente oposta.
Temos assim localizados os elementos que correspondem a três pontos: o superior,
o médio e o inferior. Basta agora completar o preenchimento da escala com a lo-
calização de elementos intermediários, tanto em sentido superior quanto inferior.
Esses pontos intermediários servem como posições de ajuste, dado que mui-
tas das observações não terão identidade suficiente para pertencer às catego-
rias extremas.
Esse trabalho, como os anteriores, requer certa capacidade de discriminação
e de encaixe com o que vamos colocando em cada posição, até que final-
mente seja possível apreciar com clareza esse novo mapa de relações que se
apresenta diante de nós.
A ideia não é forçar a localização das observações na escala. Além disso, po-
deria ser que encontrássemos uma posição da escala que não correspondesse
a nenhuma observação. Nesse caso, deixaríamos essa posição em branco,
destacando os atributos que uma observação deveria ter para ser colocada ali.
Em nosso caso, talvez não encontremos nenhuma expressão efetiva no sen-
tido mencionado, por exemplo. Então, o ponto superior ficará em branco,
mas indicando os atributos correspondentes.
Esse arranjo nos permite considerar as relações que o Objeto de Estudo es-
tabelece com outros objetos, mas agora com maior clareza dada pela ponde-
ração realizada.
Então, primeiro diferenciamos os distintos elementos que encontramos no
Âmbito Médio, depois os relacionamos seguindo o critério que o Esquema
de Relações nos oferece e, por último, se integrarmos as diferenças dessas
relações, estaremos em condições de realizar uma nova síntese.
Com essa síntese, poderemos visualizar nosso Objeto em situação, em rela-
ção dinâmica com outros que participam do mesmo âmbito – objetos que
também estão em processo, que participam do mesmo momento geral e que
se manifestam em concomitância com o Objeto de Estudo.

4.2.3 Estudo de composição


Avancemos agora para a terceira análise, a análise a partir do Ponto de Vista
Compositivo.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Para isso, em primeiro lugar, devo diferenciar os elementos que constituem


o Objeto de Estudo no momento de processo escolhido.
Também nesse caso, e para facilitar o estudo, posso começar realizando uma
lista ampla com tudo aquilo que considero como componentes, recordando
que seus constituintes definem-se de acordo com o interesse que determinei
no começo do estudo.
No exemplo que estamos desenvolvendo da “mobilização de jovens desem-
pregados, segundo seu significado sociopolítico”, poderíamos identificar
como os elementos que a constituem: a situação de discriminação que esse
grupo sofre, sua capacidade de influência sobre o resto da população, os va-
lores políticos que afirmam, sua capacidade de gerar mudanças, etc.
Quando essa lista estiver suficientemente desenvolvida, poderemos então or-
dená-la para sua melhor compreensão. Para esse ordenamento, vamos contar
com o auxílio de um novo esquema, formado por 9 pontos dispostos em
uma circunferência.

Esquema de composição

}
9
} 8 1

7 2

6 3

5 4
}

Assim, dada uma circunferência no sentido dos ponteiros do relógio, vou


marcar 9 pontos equidistantes. Neles, colocaremos em pares os elementos
compositivos, deixando em branco três pontos nas posições 3, 6 e 9, que
servirão para indicar a entrada de eventos externos à compositiva.
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SEMINÁRIO OFICINA - Segunda Parte

Ou seja, em nosso gráfico, teremos 6 pontos ocupados pelos elementos com-


positivos (1, 2, 4, 5, 7 e 8) e 3 pontos que representam o contato externo
deste microssistema (3, 6 e 9).
Para atribuir um lugar preciso a cada observação, devo ter um critério orde-
nador. Este critério será também de qualidade crescente, conforme o interes-
se do estudo, mas agora dos elementos compositivos.
No caso da mobilização, colocaríamos no ponto 1 “a situação de discrimi-
nação” que os jovens desempregados experimentam e no 8, sua “capacidade
de transformação social, de mudança das condições de postergação”, com-
pletando os pontos intermediários, localizando em pares as observações, se-
gundo o critério explicado.
A seguir, consideraremos os pontos de contato externo, ou seja, os pontos
em que essa estrutura se conecta com fenômenos que provêm do exterior e
que permitem impulsionar o sistema de transformações internas.
Em nosso exemplo, podemos postular que influenciam, como elementos
externos, as condições do conflito que levam os jovens a se organizarem para
dar uma resposta conjunta (3), ou os valores ideológicos que os influenciam
para orientá-los em um tipo de resposta (6), ou as reações que geram no
meio a partir de sua mobilização (9).
Como vemos, esses elementos não são partes constitutivas do processo so-
frido por seus elementos compositivos – eles provêm do meio, mas são os
que explicam como uns devêm em outros em uma sequência determinada.
Esse ponto é fundamental porque dá conta de que a estrutura considerada
não se encontra isolada, senão que suas transformações internas ocorrem
em relação com seu meio. Não é a visão aristotélica de ato e potência, que
considera o objeto isoladamente.
Pode ser que minha lista seja muito ampla e, então, através de reduções su-
cessivas, posso ir encontrando os denominadores comuns que me permitem
completar o esquema de modo preciso.
Assim como nos passos anteriores, esse é um trabalho em que vou perma-
nentemente propondo e corrigindo, até que o esquema vá ganhando encaixe
e todos os elementos sejam colocados em um lugar preciso.
Dessa maneira, diferenciamos os elementos que formam sua composição.
Veremos agora como se relacionam, como se complementam.
Por um lado, existe uma relação linear que vai de um ponto ao seguinte. Isso
se verifica do ponto 1 ao 2, do 4 ao 5 e do 7 ao 8. Por sua vez, cada par se rela-
ciona da mesma forma com o par seguinte. Por último, os pontos localizados
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

do lado direito (1, 2 e 4) são opostos ou complementares aos do lado esquerdo


(5, 7 e 8).
Também poderíamos encontrar outras relações que esse esquema nos apre-
senta, mas a ideia não é desenvolvê-las aqui.
Isso que parece um pouco complicado vai se esclarecendo, na medida em
que nos colocamos a trabalhar e vemos que podemos construir um sistema
muito sólido, muito consistente, uma construção conceitual muito clara.
O que observamos com a ajuda desse esquema é a transformação da qualida-
de dos elementos compositivos do Objeto de Estudo.
Dito de outro modo, a composição do Objeto não é homogênea e seus di-
ferentes elementos podem ser ordenados, fixando-se um critério conforme
o interesse. A partir dessa ordem, estabelece-se uma série de relações que
permitem observar sua dinâmica interna.
Agora estamos em condições de realizar uma nova síntese que integre a visão
dinâmica da compositiva desse microssistema.
Para isso, revisaremos novamente esta parte do trabalho, observando que
os elementos compositivos ganham dinâmica, sofrem impacto pela ação de
fenômenos externos e, em seu desenvolvimento, observaremos as diferenças,
complementações e sínteses que dão vida a nosso Objeto.
Como nos passos anteriores, essa síntese será uma captação direta, uma in-
tuição intelectual que nos coloca em presença de uma nova visão. E será essa
visão que tentaremos expressar em uma breve redação.
Com isso, terminamos a última análise metódica.
Ao longo desse trabalho, tentamos discriminar, ordenar e relacionar ao má-
ximo possível os diferentes elementos que, dos Pontos de Vista Processual,
Relacional e Compositivo, constroem o Objeto de Estudo que nos propo-
mos conhecer.
Certamente, ampliamos o limite de nosso conhecimento e amanhã estare-
mos em condições de iniciar um caminho particular de regresso, tentando
encontrar uma resposta para o problema que nos propusemos.

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SEMINÁRIO OFICINA

Terceira Parte

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SEMINÁRIO OFICINA - Terceira Parte

Seminário Oficina
Terceira Parte

Apresentamos a seguir a terceira e última parte do Seminário Oficina sobre


o Método Estrutural Dinâmico.
Como se pode observar, esta é menos extensa que a segunda, que por sua vez
é menos extensa que a primeira. Isso acontece justamente porque acompa-
nha a dinâmica da oficina, em que no início se apresentaram muitas explica-
ções que serviram de enquadramento, mas na medida em que se desenvol-
veu o trabalho, o centro de atenção foi se deslocando para os grupos e sua
produção.
Certamente, se transcrevêssemos todos os exercícios, comentários e contri-
buições que se realizaram nas oficinas, esse trabalho seria mais rico, mas pre-
ferimos reduzir sua extensão ao mínimo para privilegiar sua aplicação. No
entanto, insistimos que sua riqueza reside na experiência dos participantes e
nas produções realizadas.
Chegamos agora à última etapa de nosso seminário. Nela, percorreremos os
passos que nos levam da análise à síntese final e às conclusões.
Essas conclusões serão a resposta à pergunta que formulamos ao começar o
trabalho e esperamos que sejam suficientemente claras e precisas para escla-
recer o problema proposto.
Por último, veremos as aplicações que podemos dar a este trabalho, que
acreditamos serem valiosas para fundamentar e desenvolver uma nova visão
de mundo que nos permita atuar com maior clareza e coerência.

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SEMINÁRIO OFICINA - Terceira Parte

5. A RESPOSTA
Começamos agora a última parte do seminário. Nela, tentaremos encontrar
resposta precisa para a pergunta que formulamos no começo do estudo, mas
faremos isso depois de realizar um trabalho minucioso de discriminação, de
diferenciação de todos os aspectos importantes que o Objeto de Estudo nos
apresenta.
O Objeto do qual partimos está agora mais claro e o trabalho consiste preci-
samente nisto: esclarecer nosso olhar sobre o Objeto.
No começo do estudo nos perguntamos: com qual problema queremos tra-
balhar? E nesse momento vimos que ele era um pouco difuso e, então, o
primeiro trabalho consistiu em esclarecê-lo.
Depois, passamos por uma etapa que nos permitiu compreender o Objeto
em sua estrutura e processo, identificando o momento que nos interessava
investigar para responder à Pergunta. Vimos como esse Objeto de Estudo
estava relacionado com outros objetos dentro de um âmbito condicionante
e, por último, estudamos a composição desse Objeto.
Agora, vamos iniciar o caminho de regresso, para voltar a olhar esse Objeto
e ver como nos aparece. Veremos se continua sendo tão confuso como no
princípio ou se podemos apreciá-lo com mais clareza. Se for este o caso,
poderemos tentar uma resposta à pergunta e com esta uma orientação para
a abordagem do Problema.
Podemos resumir o trabalho realizado conforme os seguintes passos:
* Colocamos um problema.
* Formulamos uma pergunta.
* Definimos um Objeto de Estudo.
* Enquadramos o espaço em que localizamos nosso Objeto.
* Analisamos seu Processo, Relação e Composição.
Estamos agora em condições de continuar nosso estudo, realizando uma
descrição detalhada do que foi feito por cada grupo.

5.1 Descrição
Realizaremos, então, um relato ordenado de todos os passos dados e dos
aspectos analisados. Começaremos com o problema, a pergunta, a definição
do Objeto de Estudo, até chegar, por último, à análise da compositiva.

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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Na descrição, devemos imaginar que estamos relatando esse processo para


alguém que não participou do trabalho, que não esteve aqui, que não sabe
nada disso. Portanto, temos que buscar uma expressão que seja suficiente-
mente clara para que nosso destinatário imaginário a compreenda.
Isso servirá para recuperar tudo o que foi realizado e colocá-lo em presença.
Então, poderemos avançar na elaboração do resumo.

5.2 Resumo
Elaborar um resumo significa destacar os aspectos principais da descrição,
aqueles que são a coluna vertebral do desenvolvimento e que nos permitem
produzir um texto muito menor que o original, sem perder nenhum ele-
mento importante.
Para resumir esse relato extenso, tomaremos os elementos mais significati-
vos. Não modificaremos o relato, mas extrairemos aqueles pontos que po-
dem ser ligados em um relato, sem tantos detalhes.
Se em algum momento não tivermos certeza se algo é primário, retirare-
mos esse dado e veremos se o desenvolvimento mantém sua coerência. Se
o relato mantiver a conexão de uma proposição com a seguinte, sem que se
produzam saltos que o tornem ininteligível, poderemos dizer que esse era
um elemento secundário e não o consideraremos.
Também devemos considerar que o desenvolvimento do resumo deve res-
peitar a sequência e o sentido que a descrição apresenta.
No resumo, então, começamos diferenciando os elementos principais.
Depois, vamos relacioná-los, ver a complementação que existe entre as dife-
rentes partes que o compõem. Para isso, realizaremos um percurso do prin-
cípio ao fim e depois do fim ao começo, destacando agora a relação que há
entre os diferentes elementos considerados.
Feito isso, estamos em condições de ensaiar uma síntese final.

5.3 Síntese
A síntese se define como a composição de um todo pela reunião de suas partes.
Entretanto, essa síntese, diferentemente das anteriores que fizemos e que
foram parciais, pretende dar conta da totalidade do Objeto de Estudo.
A síntese não é um resumo do resumo, mas uma reformulação do Objeto
que estou estudando e que me permite descobrir aspectos que antes não
havia contemplado.
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SEMINÁRIO OFICINA - Terceira Parte

Recordemos o que foi dito a respeito: a síntese origina-se no ato de rela-


cionar as diferenças das relações estabelecidas e se produz ponderando es-
sas diferenças conforme o interesse, construindo, assim, uma nova visão do
Objeto de Estudo – visão em que o apreendemos com maior clareza e com
registro de evidência, de encaixe.
Com isso, poderemos ensaiar uma nova descrição do Objeto de Estudo, mas
agora esquecendo dos passos dados para chegar até aqui e o apresentando
com uma nova compreensão.
Na Síntese, então, há um trabalho de elaboração. Pode ser um breve escrito,
uma frase, uma palavra ou um esquema. O significativo é que essa apresen-
tação refere-se a uma nova compreensão totalizadora do Objeto estudado.

5.4 Conclusão
Resta agora elaborar a conclusão, que será a resposta à pergunta com a qual
começamos o estudo.
Essa resposta implicará um salto do Objeto para a Pergunta e certamente
deverá haver uma forte coerência entre ambos, porque a fundamentação da
resposta será a visão que obtivemos do Objeto.
A resposta será, então, a conclusão do estudo realizado e a que nos permitirá
esclarecer o problema proposto.
Com certeza, se seguimos o estilo que pretendemos no decorrer de todo o
trabalho, essa resposta deve ser clara e precisa. Não somos um oráculo e ne-
cessitamos expressar com clareza essa nova visão do problema para que seja
compreensível para nós e para outros.

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SEMINÁRIO OFICINA - Terceira Parte

6. APLICAÇÕES
6.1 Informe Final
Já concluímos o trabalho e agora chegou o momento em que cada grupo
o comunica aos demais participantes. Certamente, também nos interessará
fazê-lo chegar a outros que, mesmo que não estejam aqui, possam estar in-
teressados no que estudamos.
Isso poderá ser realizado de diversas formas, mas, para fins operativos e para
não esquecermos de nada importante, vamos sugerir um esquema simples
que recapitula tudo o que foi trabalhado.
Compõe-se de três partes: Introdução, Desenvolvimento e Conclusões.

1o Introdução
Começaremos colocando um breve título que expresse o tema do trabalho.
Depois, exporemos o problema, seu contexto, o enquadramento espaço-
temporal em que se localiza e os motivos que impulsionam a realizar o es-
tudo: por que isso é um problema? Qual a importância de resolvê-lo? Isso
esclarece, explica a outros o que me levou a realizar o estudo, formalizar o
problema e buscar uma solução?
A seguir, formulo a pergunta que quero responder e, em função disso, defi-
no o Objeto de Estudo, explicitando o interesse, ou seja, o sentido em que
observo o Objeto.
Contexto, fundamento, delimitação do problema, formulação da pergunta e
definição do Objeto-Interesse são passos prévios ao trabalho metódico propria-
mente dito, mas sem estes não temos o enquadramento de seu desenvolvimento.

2o Desenvolvimento
Aqui relato brevemente os elementos analisados no estudo em Estática, des-
crevendo os Âmbitos Maior, Médio e Menor.
Depois, o estudo em Dinâmica, descrevendo o Processo e o momento que
estudei, a Relação com outros objetos presentes concomitantemente no Âm-
bito Médio e os elementos em transformação que compõem o Âmbito Me-
nor com seus pontos de conexão com o meio externo.
Por último, apresentamos a Síntese a que chegamos como resultado do estudo.

3o Conclusão
Na Conclusão, com base na Síntese realizada, daremos resposta à pergunta
formulada. Essa resposta, por sua vez, deverá esclarecer o problema proposto.
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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

Se seguimos os passos corretamente, a resposta deve ser coerente com o pro-


blema. Isso significa que, quando concluirmos, o problema deverá esclare-
cer-se como consequência da resposta.
Resta finalmente indicar no informe as fontes de consulta utilizadas e os
autores do trabalho, com alguma indicação que permita comunicar-se com
eles, se houver interessados em algum esclarecimento.

6.2 Outras aplicações


O que mais podemos fazer com esse trabalho? Poderíamos fazer diversas coisas.
Uma delas poderia ser comunicar a outros, que não participam deste âmbito,
a visão que agora temos da situação estudada. Podemos fazer isso de diversas
formas, dependendo de nossos gostos ou interesses. Alguns podem tender a um
escrito de estilo técnico, outros a formas literárias, como a novela ou o conto.
O certo é que, independentemente da forma escolhida, não necessitamos
detalhar todos os passos realizados, que foram apenas os andaimes da cons-
trução. O que nos interessa é transmitir nossa compreensão sobre o tema.
Outra coisa que poderíamos fazer é aplicar nossas descobertas à ação. Dissemos
no início que o Método é uma ferramenta de transformação pessoal e social, e em
muitos casos as perguntas que trabalhamos estão motivadas por problemas imedia-
tos, por decisões que temos que tomar para atuar no meio. Pois bem, ajudar-nos a
tomar essas decisões é outra aplicação interessante que poderíamos dar ao trabalho.

6.3 Consequências
Também será bom observar, ao longo do tempo, se esse modo de encarar o
estudo dos problemas que nos propomos tem alguma utilidade. Se não for
assim, então só teremos que esquecer dele. Entretanto, se notarmos que com
seu uso aumenta nossa compreensão sobre nós e o mundo, então será bom
exercitá-lo e fazê-lo chegar a outros.
Essa metodologia, com todos os seus passos, serve para o estudo e para a
reflexão ordenada, mesmo que não pensemos que seja adequada para encarar
as situações de nosso dia-a-dia.
No entanto, como consequência do trabalho, será interessante observar se
nosso olhar sobre as situações cotidianas começa a se modificar.
Normalmente, tendemos a ver as coisas isoladamente, sem contexto e de ma-
neira estática. Será interessante, então, observar se nosso modo de ponderar
esses fatos cotidianos vai se transformando. Refiro-me a começar a vê-los em
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SEMINÁRIO OFICINA - Terceira Parte

contexto e em processo, experimentando uma compreensão maior e, como


consequência, uma conduta mais adequada.
Se for este o caso, isso significará que o trabalho transpôs os limites do la-
boratório e as coisas já se apresentam com uma nova dimensão, com mais
volume e movimento, permitindo-nos ver de um modo novo, mais plástico,
com mais opções e, portanto, com maior liberdade.
Esta, talvez, seja a consequência mais interessante.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se seguimos corretamente os passos explicados, teremos chegado satisfato-
riamente ao final do caminho.
Em certos casos, ficará claro que teremos que estudar com mais profundida-
de alguns aspectos ou talvez necessitemos contar com mais informação, mas
esperamos que tenha ficado clara a linha geral do trabalho.
Essa linha geral se refere à consideração da existência da estrutura consciên-
cia-mundo (ato-objeto) como o ponto de partida para compreender a visão
do Novo Humanismo. Derivam desta visão uma metafísica, uma lógica, um
conjunto de leis e o Método Estrutural Dinâmico.
Isso forma um corpo teórico e prático, rigoroso e coerente, que espera ser
enriquecido e ampliado pela contribuição de pessoas preocupadas em fazer
avançar a compreensão e o conhecimento sobre o ser humano e o mundo
atual.
Sendo assim, e a partir dos interesses com os quais empreendemos esse semi-
nário, daremos por cumpridos nossos objetivos.
O Método Estrutural Dinâmico, como agora o denominamos, começou a
ser desenvolvido há várias décadas nos grupos de estudo do Novo Humanis-
mo, mas observamos agora um interesse renovado em seu estudo e aplicação
com o surgimento dos Centros de Estudos Humanistas que vão se multipli-
cando em diversos países.
Acreditamos que em pouco tempo esse interesse será ampliado para outros
âmbitos de estudo, necessitados neste momento da contribuição de novas
perspectivas e ferramentas capazes de dar respostas aos complexos problemas
atuais.
Esperamos, então, que esses estudos que empreendemos sejam úteis para
nessa direção.

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SEMINÁRIO OFICINA

PROGRAMA DE TRABALHO

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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

1. GENERALIDADES
1.1 Sobre a atitude no trabalho
1.2 O que é um método?
1.3 A experiência humana. Experiência e pensamento.
1.4 Os métodos da filosofia
1.5 Os métodos da ciência

2. BASES CONCEITUAIS DO NOVO HUMANISMO


2.1 A visão do Novo Humanismo
2.2 A estrutura dinâmica do pensar
2.3 Os registros do pensar
2.4 Os Princípios Lógicos do Novo Humanismo. Princípio de Experiência. Princípio de Graduação.
Princípio de Não Contradição. Princípio de Variabilidade.
2.5 As Leis Universais. Lei de Estrutura. Lei de Ciclo. Lei de Concomitância. Lei de Superação
do Velho pelo Novo.
2.6 O Método Estrutural Dinâmico (MED). Generalidades.
2.7 O MED como instrumento de estudo e transformação

3. A PERGUNTA
3.1 Delimitação do problema
3.2 Formulação da pergunta
3.3 Definição do objeto de estudo. O interesse.
Trabalho em grupo. Delimitar o Problema que se vai trabalhar na oficina. Formular a pergunta
e definir o Objeto-Interesse que vai ser estudado.

4. A ANÁLISE
4.1 Estudo em estática. A estrutura. Localização “espacial” do Objeto de Estudo.
4.1.1 O âmbito maior
4.1.2 O âmbito médio
4.1.3 O âmbito menor
Trabalho em grupo. Fixar os âmbitos maior, médio e menor do Objeto de Estudo.
4.2 Estudo em dinâmica. O movimento. Localização “temporal” do Objeto de Estudo.
4.2.1 Estudo de processo
4.2.1.1 Descrição de diferentes tipos de processo
4.2.1.2 Diferenciação: diferentes momentos de um processo
4.2.1.3 Complementação: a relação entre diferentes momentos. Esquemas de 4 e 12 passos.
4.2.1.4 Síntese: localização temporal do Objeto de Estudo. Visão de nosso objeto em processo.
4.2.1.5 Trabalho em grupo. Localizar o início, apogeu e declínio do processo estudado.
Fixar o momento que se deseja estudar. Construção do esquema do processo.
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Programa de Trabalho

4.2.2 Estudo de relações


4.2.2.1 Descrição das relações com o meio no momento escolhido
4.2.2.2 Diferenciação: identificação de outros objetos que compartilham o meio
4.2.2.3 Complementação: relação entre os distintos elementos. Esquema de 5 níveis.
4.2.2.4 Síntese: Localização relativa e relação dinâmica de nosso objeto com relação aos demais.
4.2.2.5 Visão de nosso objeto em relação dinâmica com outros objetos no momento de
processo escolhido.
4.2.2.6 Trabalho em grupo. Localizar outros objetos dentro do mesmo âmbito e analisar a
relação dinâmica de nosso Objeto de Estudo com os demais. Construção do esquema de relações.
4.2.3 Estudo de composição
4.2.3.1 Descrição dos elementos compositivos do Objeto de Estudo no momento escolhido
4.2.3.2 Diferenciação: identificação dos elementos compositivos
4.2.3.3 Complementação: ordenamento e relação entre os elementos com positivos. Esquema de
6 elementos e 3 pontos de contato externo.
4.2.3.4 Síntese: transformações nos elementos compositivos. Visão da composição dinâmica
de nosso objeto.
4.2.3.5 Trabalho em grupo. Identificar e ordenar os elementos compositivos do Objeto de
Estudo. Construção do esquema de composição.

5. A RESPOSTA
5.1 Descrição. Descrição ordenada da situação estudada, compreendendo todos os aspectos
analisados.
5.2 Resumo. Resumo dos aspectos relevantes do estudo. Problema, Pergunta, Objeto de Estudo,
Enquadramento e Tripla Análise, conforme Pontos de vista de Processo, Relação e Composição.
Percursos ascendentes e descendentes através do estudo, mantendo o Interesse fixo.
5.3 Síntese. Apresentação da nova visão do Objeto de Estudo.
5.4 Conclusão. Elaboração da Conclusão como Resposta à Pergunta inicial.
Trabalho em grupo. Descrever, resumir e sintetizar o trabalho realizado. Formular as conclusões
do estudo.

6. APLICAÇÕES
6.1 Informe Final. Pautas para a preparação de um Informe Final.
6.2 Outras aplicações
6.3 Consequências
Trabalho em grupo. Preparar o Informe Final.Trabalho conjunto.Apresentação em reunião conjunta
do Informe Final de cada grupo.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
7.1 Considerações dos participantes sobre o trabalho realizado
7.2 Considerações finais

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A PERGUNTA
DELIMITAÇÃO do Problema: Definir o tema, os alcances e a
estrutura do problema. Indicar sua importância e as possíveis conse-
quências de sua resolução.

Formulação da Pergunta
Formular a pergunta que melhor expresse o aspecto que se quer esclarecer
do problema proposto.

Definição do Objeto de Estudo


Definir com precisão o Objeto-Interesse que se vai estudar.

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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

A ANÁLISE
Estática: Localização Espacial do Objeto de Estudo
FIXAR O ÂMBITO MAIOR: Precisar e descrever o alcance do âmbito
que dá ciclos e ritmos.

FIXAR O ÂMBITO MÉDIO: Precisar e descrever o âmbito em que o


Objeto de Estudo estabelece Relações Dinâmicas com outros elementos.

FIXAR O ÂMBITO MENOR: Precisar e descrever o âmbito em que se


encontram os componentes do Objeto de Estudo.

Âmbito Maior

Âmbito MÉdio

Âmbito Menor

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GUIA DE OFICINA - Terceira Parte

A ANÁLISE
Dinâmica: Localização Temporal do Objeto de Estudo.
Tripla Análise Metódica. Exercício do Ponto de Vista.
ESTUDO DE PROCESSO: Completar o esquema de 4 ou 12 passos e
fixar o momento a ser estudado.

4 3
4
4 3
3

1
2
1 2
1 2

10

9
11 10 9
11 8
8
12 12
7
7
1
1 6 6
2
5
2 3 4
5
3
4

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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

ESTUDO DE RELAÇÕES: Completar o esquema de 5 níveis e fixar as


Relações Dinâmicas do Objeto de Estudo com os distintos elementos.

+
5

-
ESTUDO DE COMPOSIÇÃO: Completar o esquema, fixando os 6
componentes e os 3 pontos de contato externo.

} 8
9

1 }
7 2

6 3

5 4
}

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A RESPOSTA
Resumo: Mencionar os aspectos relevantes do estudo conforme foi
desenvolvido.

Síntese: Descrever a nova visão do Objeto de Estudo.

CONCLUSÃO: Explicitar de modo breve, claro e preciso a resposta à


pergunta que originou o estudo e como ela esclarece o problema pro-
posto.

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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

INFORME FINAL
TÍTULO:

CONTEXTO: Breve descrição do problema proposto. Importância de


seu estudo. Formulação da Pergunta.

OBJETO DE ESTUDO (OBJETO-INTERESSE):

LOCALIZAÇÃO ESPACIAL:

PROCESSO E MOMENTO DE ESTUDO:

RELAÇÕES DINÂMICAS:

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GUIA DE OFICINA - Terceira Parte

COMPOSIÇÃO DINÂMICA:

SÍNTESE:

CONCLUSÃO (RESPOSTA):

FONTES DE CONSULTA:

AUTORES:

LUGAR E DATA:

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MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

MÉTODO ESTRUTURAL DINÂMICO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Apresentamos a seguir uma lista básica de autores e obras que podem ser
consultadas pelos interessados em aprofundar algum dos temas propostos
ao longo do seminário.
Aquino, Tomás de. Suma Teológica
Aristóteles. Metafísica
Bunge, Mario. A ciência, seu método e sua filosofia
Descartes, René. O Discurso do Método
Ferrater Mora, José. Dicionário de Filosofia
García Morente, Manuel. Lições preliminares de Filosofia
Hegel, Georg Wilhelm Friedrich. Fenomenologia do Espírito
Heidegger, Martin. Ser e Tempo. A pergunta pela coisa
Hume, David. Tratado da natureza humana
Husserl, Edmund. A filosofia como ciência estrita. Meditações cartesianas
Kant, Immanuel. Crítica da razão pura
Klimosky, Gregorio. As desventuras do conhecimento científico
Marías, Julián. História da Filosofia
Ortega y Gasset, José. Em torno a Galileu. A História como sistema
Platão. Diálogos
Silo. Contribuições ao pensamento. Quarta carta a meus amigos. Apontamentos
de Psicologia
Xirau, Ramón. Introdução à história da Filosofia

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