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A história do movimento psicanalítico e o debate

epistemológico em psicanálise
The history of the psychoanalytical movement and epistemological debates in
psychoanalysis

Sugestão de título abreviado: história e epistemologia em


psicanálise
History and epistemology in psychoanalysis

Klecia Renata de Oliveira Batista1

Resumo: O presente artigo se propõe a explorar as articulações entre a história do movimento


psicanalítico e o debate epistemológico em torno da psicanálise. Partindo do pressuposto de
que há uma indissociabilidade entre esses dois elementos no campo psicanalítico, pretende-se
compreender os caminhos através dos quais essa articulação foi se construindo na historia da
teoria freudiana. Para fazer isso, é realizada uma exploração bibliográfica de textos de Freud,
tomando como ponto de partida as ‘Contribuições à história do movimento psicanalítico’. A
exploração desse texto e da leitura que o autor faz das teorias de alguns de seus interlocutores
permitiu constatar o lugar central que o método psicanalítico ocupa na construção da
psicanálise.
Palavras chave: Psicanálise; História; Epistemologia.

Abstract: This paper aims to explore intersections between the history of psychoanalytical
movement and epistemological debates in psychoanalysis. The premise is that history and
epistemology are inseparable in psychoanalysis. From then on, a bibliographic review was
done aiming to understand how this intersection was constituted when Freud was developing
his theoretical arguments. For this, some texts were selected, the main one being the text
‘History of psychoanalytical movement’, written by Freud in 1914. In addition to this text,
more current other texts were selected and the results of the exploration show that the
psychoanalytical method, proposed by Freud, is the point of articulation between history and
the debates epistemological in psychoanalysis.
Keywords: Psychoanalysis; History; Epistemology.

1
Doutora em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(IMS/UERJ)(2016), mestre em Psicologia Social pela Universidade Federal de Sergipe (2011). Professora do
Departamento Psicologia da Faculdade Pio Décimo de Sergipe, do departamento de Psicologia do Centro
Universitário Estácio de Sergipe e do departamento de Medicina da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
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Em Contribuições à História do Movimento Psicanalítico (1914/2012), Freud constrói


uma narrativa acerca da trajetória da Psicanálise, retomando seus primeiros desenvolvimentos
teórico-clínicos e passando por diversos debates que promoveu com seus interlocutores ao
longo desse percurso. Naquele texto, Freud situa algumas ideias que esses mesmos
interlocutores propuseram e que, a seu ver, não correspondem ao que se espera dentro dos
fundamentos teóricos da psicanálise. Ao mesmo tempo, apresenta algumas contribuições que
podem ser vistas como propostas frutíferas para a teoria psicanalítica.
Ao fazer isso, Freud assumiu a posição de avaliar todas as então novas teorias
psicanalíticas: “penso ter o direito de sustentar que [...] ninguém pode mais do que eu saber o
que é a psicanálise, como ela se distingue de outras maneiras de estudar o inconsciente e o
que merece ter seu nome” (Freud, 1914/2012, p. 246).
O presente artigo se propõe a retomar as reflexões empreendidas por Freud naquele
texto, fazendo isso como ponto de partida para um debate epistemológico em psicanálise. É
importante destacar que se trata de um estudo exploratório de caráter bibliográfico. O
pressuposto central é que, no caso da psicanálise, história e epistemologia caminham juntas,
sendo impossível separar uma coisa da outra. O primeiro passo para explorar esse pressuposto
será um exame mais detido do texto de Freud em sua narrativa acerca do movimento
psicanalítico. A seguir, será explorado o debate epistemológico que daí emerge. Por fim, serão
apresentadas algumas discussões acerca de correntes teóricas que, dentro da história do
movimento psicanalítico, pretendem se inscrever no projeto que Freud delineou para sua obra.

História do movimento psicanalítico


A história da psicanálise, segundo a narrativa contada por Freud no texto de 1914, teve
início com as modificações que começaram a ser empreendidas pelo mesmo no método
catártico. Essas modificações, por sua vez, foram oriundas dos achados clínicos: foi a partir da
escuta oferecida às histéricas na busca por compreender seus sintomas, que Freud começou a
teorizar acerca da natureza das cenas traumáticas a partir das quais os sintomas teriam se
desenvolvido.
Vale dizer que a ideia de que um evento traumático estaria na origem da histeria não
foi uma descoberta freudiana. Josef Breuer, médico clínico que se dedicou a tratar de
mulheres histéricas através do método catártico pelo uso da hipnose, já havia formulado esse
princípio quando começou a dividir com Freud suas experiências. Diferentemente de Freud,
contudo, Breuer insistiu em uma explicação fisiológica para um evento traumático: a

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ocorrência desses eventos teria se dado durante aqueles momentos aos quais ele denominou
de estados hipnoides e que podem ser caracterizados por condições em que a consciência do
indivíduo encontra-se em estado de rebaixamento, impedindo a ab-reação necessária ao
acontecimento presente. Nos Estudos sobre a Histeria – obra escrita em conjunto com Freud
–, Breuer chegou a expor o princípio do que mais tarde viria a ser uma divergência teórica
fundamental:
Para nós, a importância dos estados semelhantes à hipnose, os estados
‘hipnoides’, reside, além disso e sobretudo, na amnésia e em sua
capacidade de provocar aquela cisão da psique [...]. Mas devo
restringir consideravelmente a nossa tese. A conversão, a produção
ideogênica de fenômenos somáticos, ocorre também fora dos estados
hipnoides, e para a formação de complexos de ideias excluídos do
trânsito associativo Freud encontrou na amnésia voluntária da defesa
uma segunda fonte, independente dos estados hipnoides. Mas, com
essa restrição, ainda penso que estes últimos são causa e condição de
muitas, até mesmo da maioria das histerias grandes e complicadas
(Breuer & Freud, 1893-1895/2016, p.305).

Foi justamente a divergência teórica e técnica com Breuer que marcou o início da
teoria e técnica psicanalítica. É importante sublinhar as contribuições de outros médicos ao
lado de quem Freud e Breuer caminharam durante esse percurso inicial. Como bem destaca
Mezan (2006), Charcot e Janet representaram papéis centrais nos primeiros embates teóricos e
clínicos de Freud. Entre as principais transmutações do método catártico para a psicanálise,
Freud destacou a teoria da repressão e da resistência, a introdução da sexualidade infantil e a
interpretação dos sonhos como instrumento válido para conhecimento do inconsciente (Freud,
1914/2012).
Daí em diante, com essa base conceitual e clínica delineada, a psicanálise começou a
ramificar em diferentes direções. Ao sistematizar suas constatações acerca do inconsciente em
uma teoria, Freud logo começou a reunir em torno de si um conjunto de jovens médicos
interessados em suas ideias – foi justamente aí que teve início isso que ele denominou de
movimento psicanalítico. Entre os mais próximos, criou-se um grupo de discussão – a
chamada Sociedade Psicológica das Quartas Feiras – que se reunia no apartamento de Freud
para debater assuntos diversos: “psicanálise, inconsciente, etiologia e terapia das neuroses,
sexualidade, onanismo, impotência, homossexualidade, incesto, em suma, os temas que a
clínica psicanalítica recém-criada por Freud revelava e dos quais a sociedade em geral sequer
queria saber da existência” (Checchia, Torres & Hoffmann, 2015, p. 13).

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Muitos foram os nomes que compuseram ou passaram pelo círculo mais próximo de
Freud ao longo das quatro décadas que se seguiram até sua morte. Em meio a isso, começou
um movimento de organização de Congressos de Psicanálise, que foram realizados em
diversas localidades. Surgiram periódicos e revistas de psicanálise, através das quais se
disseminavam as ideias e os debates psicanalíticos, sobretudo no meio acadêmico. Além
disso, foram criados núcleos de psicanálise em outros países, reunindo médicos, escritores,
artistas etc. A esse respeito, Freud cita, em seu texto de 1914, ter conhecimento de debates
psicanalíticos nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Índia, no Canadá, na Argentina, na
França, na Itália, na Suécia, entre outros (além das já tradicionais escolas de Viena e Zurique).
Não se pretende aqui acompanhar exaustivamente todas as histórias que compuseram
o movimento psicanalítico desde então. A finalidade desta seção se restringe a explorar os
motivos pelos quais Freud optou por acolher algumas das ideias de seus colegas e excluir
outras delas do campo da psicanálise. Para fazer isso, serão dedicadas algumas linhas à leitura
que Freud fez, na obra aqui explorada, das suas divergências com Adler e Jung. Segundo ele,
esses dois teóricos renegaram os princípios da psicanálise (Freud, 1914/2012).
Sobre Adler, Freud afirmou que sua ‘psicologia individual’ deveria ser vista como
uma corrente psicológica oposta à psicanálise, e cujo desenvolvimento está fora de seu campo
de interesse. Sua principal crítica recai sobre o fato de a teoria de Adler ter se constituído
como um sistema, algo que a psicanálise evitou ser (Freud, 1914/2012, p.307). Para Freud, a
teoria adleriana acabou por deixar de lado o peso das motivações libidinais nas produções
humanas, em nome da afirmação de componentes egóicos que serviriam para tornar a teoria
claramente inteligível nos parâmetros de uma psicologia da consciência. A forma através da
qual Adler conseguiu sustentar essa estrutura teórica, segundo Freud, foi pela via de
reinterpretações e deformações de fatos psicanalíticos observáveis na clínica.
Por caminhos diferentes, mas no mesmo sentido, se deram as divergências com Jung.
Em 1912, este enviou uma carta a Freud afirmando que havia introduzido algumas
modificações na teoria psicanalítica e que, com elas, obteve êxito na superação de resistências
de muitas pessoas que a ela se opunham.

Respondi que isso não era razão para se vangloriar, e que quanto mais
ele sacrificasse as – duramente adquiridas – verdades da psicanálise,
tanto mais ele veria se desvanecerem as resistências. A modificação
de que os suíços se orgulhavam era, mais uma vez, o refreamento
teórico do fator sexual. Confesso que desde o princípio entendi esse
‘progresso’ como uma adequação excessiva às exigências da
atualidade (Freud, 1914/2012, p.316)

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A fim de sustentar uma teoria que se enquadrasse nos ditames civilizatórios, Jung
precisou se afastar completamente da observação e da técnica psicanalítica (Freud,
1912/2014). O que Freud denuncia na teoria junguiana, portanto, é o fato de assim como
Adler, Jung ter construído um sistema teórico cujas bases psicanalíticas já não estariam
presentes. A principal dessas bases seria a fidelidade aos dados clínicos e é justamente sobre
isso que o presente artigo vai se debruçar na próxima seção, visando articular a história do
movimento psicanalítico com o debate epistemológico acerca da psicanálise.

O debate epistemológico em psicanálise


Na seção anterior, buscou-se identificar algumas das diretrizes que Freud estabeleceu
para que determinadas teorias pudessem ou não ser reconhecidas como parte do movimento
psicanalítico. Entre essas diretrizes, uma delas foi bastante destacada: o apego aos dados
clínicos. Eis o ponto central da presente argumentação: é impossível definir a psicanálise,
desde os seus primeiros passos até as suas ramificações mais recentes, sem levar em
consideração o aspecto metodológico que lhe é constituinte. Os diversos debates que Freud
empreendeu com a ciência e com os quais os psicanalistas contemporâneos se veem às voltas
no cenário atual são ilustrativos disso.
Ao definir a psicanálise como uma prática clínica, um conjunto teórico e um método
de investigação do inconsciente (Freud, 1923/2011), Freud situou o ponto central da questão:
o procedimento clínico psicanalítico, bem como seu conjunto teórico, está amarrado com as
bases investigativas delineadas ao longo de seu projeto.
Mas essas bases não fundaram a psicanálise, não estavam estabelecidas desde o
começo. O método de investigação psicanalítico - assim como a teoria e a técnica - foi se
constituindo aos poucos e, nessa constituição, um dos eixos fundamentais foram os constantes
questionamentos acerca do estatuto de cientificidade das constatações psicanalíticas.
É importante destacar a natureza da relação de Freud com a atividade científica. Na
biografia de Freud, Jones (1989) conta que o interesse e a admiração do mesmo pela Ciência
(com maiúsculo) desabrochou ainda no período da sua graduação em medicina. Desde então,
segundo o biógrafo, ele “permaneceria resolutamente leal ao aspecto da ciência que representa
o ideal da integridade intelectual” (Jones, 1989, p.53). Não se pode ignorar o fato de que essa
ciência pela qual o jovem Freud nutria tamanha admiração se inscrevia no modelo de

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racionalidade que se tornou hegemônico nas ciências naturais, pautado na experimentação e


verificação controlada de todas as variáveis.
Antes de explorar os caminhos que Freud percorreu para inscrever seus pressupostos
teóricos nesse modelo, faz-se necessário apresentar o debate epistemológico que antecede a
psicanálise e as demais ciências dos eventos psi. Em primeiro lugar, deve-se enfatizar que
reconhecer a experimentação e a verificação como métricas de avaliação de uma disciplina foi
algo que somente se estabeleceu como paradigma científico a partir do século XVII na
história do conhecimento. Paradigmas são definidos por Kuhn (1962/2013) como “realizações
científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e
soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (p.53). Assim, o
estabelecimento do paradigma daquilo que Kuhn denominou ‘ciência normal’ – exatamente
aquele das ciências naturais com as quais Freud pretendeu caminhar junto – implicou uma
definição rígida do campo de estudos das ciências, incluindo aí os objetos que são passíveis
do interesse científico e os instrumentos que devem guiar essa investigação.
Deve ser colocado aqui como ponto de interesse o modo como três campos de saber se
situaram diante disso: a psicologia, a neurologia e a psiquiatria. A neurologia e a psiquiatria
interessam porque foram os campos tomados como ponto de partida por Freud para a
investigação dos fenômenos psíquicos. Já a psicologia interessa, sobretudo, por ser a
disciplina que vai se dedicar a investigação desses fenômenos.
No caso da Psicologia, pode-se afirmar que as abordagens pioneiras do final do século
XIX já marcavam um contexto de confrontos e polêmicas em relação ao paradigma científico
das ciências naturais. Quando se coloca em perspectiva três grandes correntes psicológicas da
época - a proposta de investigação experimental da experiência imediata de Wundt, a proposta
de observação experimental do comportamento de Watson e a proposta de abordagem
complexa dos eventos psicológicos do movimento gestaltista –, o que se vê na Psicologia é
um insolúvel debate acerca da viabilidade ou não do emprego do método científico no estudo
do objeto psicológico e, em caso positivo, da melhor forma de efetivamente faze-lo (Pacheco
Filho, 2000).
Em relação à psiquiatria e à neurologia, pelo contrário, a inserção no paradigma das
ciências naturais estava garantida pelo substrato orgânico que supria a necessidade da
presença de um objeto palpável e observável. Apesar de também ser um campo marcado por
debates internos, não se contesta o triunfo da racionalidade empírico-positivista nessas
disciplinas durante o século XIX. Ressalte-se, por exemplo, as afirmações organicistas de

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Griesinger – considerado o pai da psiquiatria alemã – segundo o qual as doenças mentais são
doenças cerebrais. “O anatomismo de Griesinger passou a ter hegemonia absoluta durante
todo o período áureo da Psiquiatria clássica. As doenças mentais, desse modo, foram
divididas em dois grupos: as de substrato anatomopatológico já comprovado e as de substrato
anatomopatológico por comprovar” (Barreto, 2013, p.69).

É exatamente nesse ponto de confluência entre a psiquiatria e a neurologia que se


inscrevem os trabalhos do jovem Freud com todo seu apreço pela racionalidade científica
dominante. Apesar desse apreço, contudo, o ponto de partida dos estudos clínico-científicos
de Freud foi um conjunto de fenômenos que não se encaixavam dentro dos limites científicos
estabelecidos por aquelas disciplinas e pelo paradigma científico com o qual elas estavam
amarradas: a histeria, os sonhos, a hipnose e a sugestão.
Diante desses fenômenos, Freud começou a se preocupar com o estabelecimento de
um método de investigação acerca dos processos psíquicos que lhe garantisse a produção de
conhecimento validável cientificamente. É aqui, então, que suas hipóteses teóricas começam a
se inscrever no terreno da psicologia, reivindicando uma concepção científica dos fenômenos
psíquicos que vai se apresentar em um esboço escrito em 1895: o Projeto para uma
Psicologia Científica.
Esse texto tem a característica de apresentar as constatações clínicas de Freud acerca
do funcionamento psíquico em termos fisicalistas e neurológicos, o que pode ser melhor
compreendido quando se lembra que Freud delimitou a clínica dos neuróticos como seu
laboratório de investigação. Nesse laboratório, o teórico chegou a algumas das constatações
mais importantes do seu trabalho, sendo a principal delas aquela que já havia sido feita desde
o seus primórdios contatos com o tratamento hipnótico: a existência de uma região
inconsciente. O afastamento em relação a Breuer e Charcot e a insistência em pensar uma
técnica que constituísse um método de investigação, permitiu a Freud elaborar uma concepção
sistematizada do inconsciente, que passou então a ser tomado como o objeto do novo campo
de saber. A psicanálise se estabeleceu, assim, como a ciência do inconsciente, ou melhor,
como a psicologia do inconsciente. Em um texto publicado em 1940, Freud enfatiza essa
articulação com a psicologia nos seguintes termos:
Enquanto a psicologia da consciência nunca foi além daquelas séries
[de fenômenos] com lacunas, obviamente dependentes de outras
coisas, a nova concepção – de que o psíquico é inconsciente em si –
permite conformar a psicologia numa ciência natural como qualquer
outra. Os processos de que ela se ocupa são, em si, tão incognoscíveis
como os das demais ciências, a química ou a física, mas é possível

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constatar as leis a que obedecem, observar suas relações mútuas e


dependências por largos trechos initerruptamente, ou seja, aquilo que
se denomina compreensão da esfera dos fenômenos naturais em
questão (Freud, 1940/2018, p.207)

Como se afirmou anteriormente, para sustentar esse posicionamento de afirmação da


cientificidade da psicanálise e sua necessária inserção na psicologia, Freud recorreu ao uso de
uma linguagem técnica própria das ciências naturais, como a física (sobretudo, a
termodinâmica) e a biologia. Segundo Birman (1994), por haver iniciado seu percurso
científico nas áreas da anatomia e da fisiologia do sistema nervoso, Freud dominava a
linguagem dessas disciplinas. Apesar disso, segundo o mesmo autor, à medida que as
explorações clínicas avançavam, Freud se deparou com eventos diante dos quais a retórica
fisicalista mostrou-se insuficiente. Trata-se da formulação incontestável de que as neuroses se
inscreveriam no registro do sentido e no registro da história. Isso quer dizer que os sintomas
neuróticos deveriam ser explicados não como resultantes de uma série de perturbações
neurológicas no psiquismo normal. Pelo contrário, a produção desses sintomas faria parte do
próprio psiquismo e dos seus mecanismos de estruturação (Birman, 1994).
A tentativa de conciliação entre esses dois caminhos – uma retórica fisicalista e uma
concepção histórica do inconsciente – permitiu a Freud a promoção de um debate
epistemológico fundamental no interior da psicanálise, que atravessou de forma inequívoca a
escrita da sua obra como um todo. O legado desse debate foi a construção da metapsicologia
freudiana, que tem entre os seus conceitos fundamentais justamente aqueles que não cabem
no registro de uma psicologia da consciência: o inconsciente, o recalque, o narcisismo e a
pulsão.
Dito isto, pode-se então compreender por que é impossível descolar a história da
psicanálise do debate epistemológico que atravessa essa história, pois foi o confronto direto
de Freud com as questões acerca da cientificidade de sua disciplina que o levou a elaborar e
reelaborar toda a sua trama conceitual. Importa dizer e enfatizar que essas elaborações e
reelaborações se mantiveram sobre o solo metodológico estabelecido pelo autor desde os
primórdios de sua obra: a experiência clínica deve vir antes da teoria. Ou seja, a prática
científica deve sempre partir da proposição de ideias abstratas que são evocadas na
experiência para o conceito. No caso da psicanálise, essa experiência possui dois eixos que a
balizam e que garantem seu rigor: a relação transferencial e a interpretação que se faz a partir
dessa relação.

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Resumindo: um método clínico baseado em uma experiência transferencial e na


formulação de interpretações sustentadas estritamente nessa experiência garante, ao mesmo
tempo, uma intervenção técnica sobre as queixas e sintomas dos sujeitos em análise e a
produção do conhecimento acerca da vida psíquica. Isto posto, o que se desenha no debate
epistemológico que acompanha a psicanálise desde sempre é um deslocamento da questão:
em vez de se perguntar se a psicanalise é ou não uma ciência, talvez seja o caso de interrogar
que tipo de cientificidade é aquela que a psicanálise reivindica e, mais do que isso, que tipo de
cientificidade ela propõe quando estabelece os parâmetros do seu próprio método.
É preciso, enfim, chamar atenção para o cuidado que se deve ter quando se coloca o
problema nesses termos. Pode parecer que o que se está afirmando com isso é a não
importância do debate epistemológico para a psicanálise. Sobre isso, Pacheco Filho (2000)
apresenta um posicionamento pertinente:
Uma coisa é aceitar que a busca da cientificidade pela psicanálise não
escapa ao movimento de crítica e revisão da teoria científica de ver e
lidar com o mundo e, até mesmo, concordar que talvez seja nela, e nas
demais disciplinas que constituem as ciências humanas, que essa
necessidade seja mais forte. Outra bem diferente seria admitir a
irrelevância das discussões filosóficas, epistemológicas e
metodológicas, relativas às formas de produção e avaliação do
conhecimento psicanalítico, como se o reconhecimento da influência
das variáveis políticas e sociais as tornassem um empreendimento
falido, antes mesmo de ser iniciado (Pacheco Filho, 2000, p.38).

Com esse cuidado, encerra-se aqui a segunda parte desse artigo no ensejo de que
tenham sido compreendidos os elementos que possibilitam amarrar a história da psicanálise
ao seu debate epistemológico. Na ultima seção, a seguir, serão exploradas algumas breves
discussões que se fazem acerca de correntes psicanalíticas que foram elaboradas pós-Freud e
que, por fazerem parte do movimento psicanalítico, passam pela avaliação epistemológica.

Retomando a história: O que é uma teoria psicanalítica?


No primeiro momento deste artigo, foram apresentadas algumas críticas que Freud fez
às teorias de Adler e Jung, por considerar que estas não se apoiam sobre os crivos
metodológicos que constituem a psicanálise. Pode-se afirmar que, ao fazer isso Freud estava
notoriamente se enredando com os questionamentos que a comunidade acadêmica colocava
em torno da cientificidade de sua disciplina, uma vez que sua preocupação principal nessas
críticas era a afirmação da base clínica. Isso é verdade em especial no que se refere a crítica
que faz a Jung, tendo em vista que um dos momentos em que ele endurece sua retórica é,

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conforme apresentado anteriormente, justamente quando avalia que este abandona o vínculo
dos fenômenos com a vida pulsional para partir de uma nova visão de mundo que deveria ser
compartilhada por todos.
É sabido que a partir da década de 40 houve uma expansão do movimento
psicanalítico pelo mundo, com a consequente multiplicação de alternativas teóricas. Ora, se a
historia da psicanalise é a historia de seu debate epistemológico, parece justo que essas
alternativas sejam revisadas em seus fundamentos científicos e, portanto, em seus parâmetros
metodológicos.
Não se pode ignorar que, em meio a essa multiplicação de teorias, surgiu um
movimento dogmatista que teve como consequência a construção de frequentes combates
envolvendo a questão de qual seria, enfim, a verdadeira psicanálise. No caso da clínica das
neuroses, já foi pontuado que os elementos que vão justificar, desde Freud, o reconhecimento
de uma teoria como sendo psicanálise é a manutenção do eixo transferência-interpretação. É
preciso ressaltar, entretanto, que existe ainda outro conjunto de teorias que se inscreve no
problema de forma peculiar, exatamente por não tomar como referencia para suas elaborações
teóricas a clínica das neuroses.
Ainda assim, algumas dessas teorias obtiveram esse reconhecimento dos seus pares e
podem ser consideradas parte fundamental da psicanálise contemporânea. Para melhor falar
sobre isso, recorre-se aqui à metáfora proposta por Mezan (2014), a qual trata a história da
psicanálise como a história de um tronco e seus ramos. Para o autor, ao estabelecer o tripé
teoria-técnica-método e ao definir os critérios metodológicos de sua disciplina, Freud criou
um tronco a partir do qual algumas ramificações puderam se desenvolver.
É necessário chamar atenção para o fato incontestável de que o nascimento de
qualquer teoria esbarra nos limites estabelecidos pelo paradigma científico do campo e, dentro
disso, nas problemáticas circunscritas por esse paradigma em determinado contexto cultural.
Isso serve para a psicanálise freudiana e, de igual forma, serve para compreender a
emergência das diferentes ramificações às quais Mezan (2014) vai se referir em sua obra.
Embora tenham desenvolvimentos peculiares, esses ramos estão ligados entre si pelo tronco
que lhes sustenta. Assim, a psicanálise de Melanie Klein, a psicanálise de Lacan, a psicologia
do ego americana e a psicologia das relações de objeto britânica são reconhecidas como parte
do entroncamento psicanalítico iniciado por Freud.
É necessário destacar que aos critérios metodológicos usados por Freud como crivo de
avaliação da pertinência de uma teoria no campo da psicanálise, Mezan (2014) acrescenta

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critérios teóricos. Para o autor, além de sustentar-se sobre a experiência, uma teoria
psicanalítica precisa se desdobrar em quatro dimensões: 1) uma teoria da psique
(metapsicologia); 2) uma teoria da gênese e do desenvolvimento psíquico; 3) uma teoria do
funcionamento normal e patológico; e 4) uma teoria do processo psicanalítico.
Apesar de considerar estes critérios válidos para a avaliação de um corpo teórico em
psicanálise, ressalta-se aqui que eles são insuficientes. Sustenta-se aqui o pressuposto
apresentado desde o início de que é a discussão em torno da cientificidade que atravessa e
constitui a história do movimento psicanalítico, sendo imprescindível reafirmar o método
como o requisito básico, após o qual os critérios teóricos podem ser colocados. Julga-se
necessário colocar as coisas nesses termos para evitar a falsa impressão de que uma teoria que
cumpra os critérios acima citados seria reconhecidamente uma ‘verdadeira’ teoria
psicanalítica, como buscavam os dogmatistas do século passado.
Ou seja, para além de cumprir esses requisitos, é importante que a teoria seja
desenvolvida a partir de constatações feitas a partir da experiência psicanalítica da qual o
psicanalista é parte. E ele é parte em dois sentidos: em primeiro lugar, ele tem uma atuação
clínica e, juntamente com isso, ele observa – como investigador do inconsciente que é –
aquilo que a sua atuação produz no encontro transferencial com o outro. Qualquer teoria
pretensamente psicanalítica que não conte, em sua construção, com os dados oriundos desse
encontro, pode ser caracterizada como aquilo a que Freud (1910/2013) chamou de
‘psicanálise selvagem’, termo utilizado para fazer referencia à simples aplicação de conceitos
psicanalíticos para fazer a leitura de fenômenos clínicos, sem a análise devidamente pautada
na relação transferencial.
Para ilustrar essa ideia Freud apresenta um caso que lhe foi encaminhado. Tratava-se
de uma senhora que sofria de estados de angústia precipitados desde a separação do último
marido. Essa senhora procurou um médico que a encaminhou, então, para o consultório de
Freud, informando que seus sintomas seriam oriundos de carência sexual e que Freud teria o
conhecimento sobre a causa. Ao fazer isso, diz Freud, o médico deixa de observar os preceitos
técnicos da psicanálise, além de demonstrar ser um mau entendedor de uma série de teorias
científicas psicanalíticas. Quando ocorre uma interpretação selvagem desse tipo, perde-se a
oportunidade de conhecer o funcionamento psíquico que jogo no caso, pois o próprio método
psicanalítico é subjugado. Foi o que aconteceu no caso relatado, pois o tal médico afirmou
para aquela senhora que ela tinha três caminhos para recuperar sua saúde: ou voltava para o
marido, ou arranjava um amante ou buscava satisfazer a si mesma. “Curiosamente, nessas

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alternativas terapêuticas do suposto psicanalista não sobra espaço para – a psicanálise! [...]
Onde ficaria o tratamento analítico, em que vemos o principal recurso para os estados de
angústia?” (Freud, 1909/2013, p.330).
Assim, não há intervenção psicanalítica válida e também não se colocam as condições
de investigar a dinâmica psíquica em funcionamento. A transferência é o espaço privilegiado
para que ambas as coisas aconteçam de forma rigorosa, pois é nesse espaço que o objeto
científico da psicanálise – o inconsciente – se manifesta de forma mais vívida para o
psicanalista.
A transferência cria uma zona intermediária entre a doença e a vida,
através da qual se efetua a transição de uma para a outra. O novo
estado [transferência] assumiu todas as características da doença, mas
representa uma enfermidade artificial, em toda parte acessível à nossa
interferência. Ao mesmo tempo, é uma parcela da vida real, tornada
possível por condições particularmente favoráveis, porém, e tendo
uma natureza provisória” (Freud, 1914/2010).

Pode-se compreender, assim, que as preocupações epistemológicas de Freud


encontraram na transferência a possibilidade de enunciação de um enquadre clínico que
satisfaria os parâmetros de rigor científico buscados. E é justamente esse enquadre que é
tomado como critério de avaliação acerca de outras teorias psicanalíticas, como acontece na
crítica à metapsicologia de Jung. Conforme já citado anteriormente, Freud considera que a
teoria de Jung não corresponde a uma teoria psicanalítica, por não cumprir o requisito básico:
o apego aos fatos clínicos, aos fatos da experiência do psicanalista diante da demanda que lhe
é apresentada.
Cabe aqui abrir um breve parêntese para argumentar que o próprio Freud, em alguns
momentos da sua obra, parece desviar-se desse crivo que ele utiliza de forma tão rígida com
alguns seus pares. É o que fica claro no debate entre Freud e a Associação Internacional de
Psicanálise (IPA) acerca da publicação da obra Perspectivas da Psicanálise de Sandor
Ferenczi e Otto Rank, em 1924. Enquanto a IPA via na referida obra uma repetição do que
havia acontecido com Jung (o uso de abstrações teóricas sem o embasamento em dados
clínicos), Freud defendeu as ideias ali contidas, afirmando que não representavam uma
afronta aos fundamentos do saber psicanalítico (Birman, 1989).
No entanto, apesar de ser possível identificar passagens como essas na vida e obra
freudiana, é notória de forma muito mais veemente: 1) que há uma preocupação em
estabelecer a psicanálise como um campo de saber científico; 2) que seu percurso clínico o fez
desenhar um método de investigação calcado nos eixos da transferência e da interpretação.
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Em resumo pode-se conceber que a teoria psicanalítica refere-se a um conjunto de


interpretações e que essas interpretações só podem advir da experiência transferencial.
Retomando o percurso feito até aqui, pode-se concluir que os questionamentos
colocados a Freud acerca da cientificidade da sua disciplina o mobilizaram no sentido de
continuar a perseguir parâmetros científicos para seu método de investigação da vida psíquica
e do inconsciente.
Mas o movimento de Freud não se resumiu a transformações interiores à psicanálise.
Em vez disso, promoveu outro conjunto de questionamentos, dessa vez nos próprios debates
epistemológicos no seio da filosofia. Ao falar sobre isso, Birman (2003) afirma que a
psicanálise, ao promover o descentramento do sujeito da consciência para o inconsciente e
para o registro pulsional, permitiu a reformatação da própria racionalidade científica,
produzindo – pelo estabelecimento dos critérios da experiência psicanalítica – novos sentidos
para as ideias de objetividade e replicabilidade.
Ou seja, a questão não é se o caminho empreendido por Freud possibilitou ou não que
sua teoria se encaixasse no rol das ciências, mas como esse caminho possibilitou uma revisão
nos próprios critérios científicos até então impostos. Em certa medida, pode-se aproximar essa
história do movimento psicanalítico do debate que Kuhn (2013) havia chamado atenção: a
ciência é ruptura e não evolução; os paradigmas se tornam hegemônicos, mas é o confronto
com o campo dos fatos que vai delinear sua perpetuação e seu tensionamentos.
É importante lembrar que Kuhn chamou de ciência normal aquela que se estabelece de
forma, instituindo-se como um paradigma científico até que crises se instaurem, colocando
em questão esse paradigma. Nesse sentido, se faz importante colocar aqui algumas questões
acerca dessa aproximação entre o debate epistemológico em psicanálise e a leitura que Kuhn
faz dos paradigmas científicos. Ora, se as revoluções científicas produzem paradigmas novos,
é possível falar que Freud estabeleceu um novo paradigma no campo das ciências psi, de tal
forma a delimitar o campo e os problemas de interesse de todo esse campo?
Para Pacheco Filho (2000), não resta dúvidas de que podem ser encontrados indícios
daquilo que Kuhn chama de uma ciência normal. “Suas propostas incluem não apenas leis e
teoria sobre os fatos psíquicos, mas também a construção de métodos para sua investigação e,
finalmente, propostas de aplicação” (p.249).
Conclui-se aqui este artigo deixando, então, algumas constatações e um
questionamento. Em primeiro lugar, constatou-se que o movimento psicanalítico foi marcado
pela preocupação, emergida desde Freud, com o estatuto de cientificidade da psicanálise.

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Constatou-se, ainda, que essa preocupação foi a base da construção de um conjunto de


procedimentos clínicos válidos e, ao mesmo tempo, um método – pautado na transferência e
na interpretação. Por fim, constatou-se que essa construção mobilizou os pilares da ciência
psicológica, inserindo entre seus objetos e problemas de pesquisa, temáticas que até então
ficavam relegadas a campos como a magia, a religião etc. Diante dessas constatações, resta
aqui indagar se, com essa mobilização, é possível afirmar que a psicanálise se instituiu ou não
como um novo paradigma científico. Este artigo não pretende se debruçar sobre essa
indagação agora. Mas, de qualquer forma, parece suficiente afirmar que aquilo a que Freud
denominou de movimento psicanalítico se amplia para além dos limites da psicanálise e
opera, de fato, movimentos importantes no debate epistemológico como um todo.

Considerações finais
Em Contribuições à História do Movimento Psicanalítico (1914/2012), Freud
construiu uma narrativa acerca da trajetória da Psicanálise e avaliou algumas teorias que, a
seu ver, não deveriam ser reconhecidas como teorias psicanalíticas. A partir daquele texto, o
presente artigo se propôs a compreender questões metodológicas e o debate epistemológico
em psicanálise, mostrando como esses dois elementos marcam a história do campo.
Considera-se que Freud deu início a um campo teórico que impõe, até os dias atuais, a
necessidade de se deparar com questões como essas. Pelo objeto em torno do qual giram as
teorizações psicanalíticas, é preciso manter vivo o debate epistemológico, pois somente a
partir disso a história do movimento psicanalítico pode seguir com suas ramificações se
precavendo em relação ao risco de constituir uma visão de mundo.

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Submetido em: 10 de fevereiro de 2020


Aceito em: 3 de junho de 2020

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