Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EXECUTIVAS
Isabela Carvalho Lacerda1
RESUMO
Traduzido pra o português como “Atenção Plena” ou “Consciência Plena”, o mindfulness é um estado
mental de controle sobre a capacidade de concentração nas experiências, atividades e sensações do
presente. Originária a partir das práticas meditativas orientais, principalmente entre os budistas, a
meditação mindfulness tem sido empregada, há algumas décadas, em variadas práticas
psicoterápicas, alcançando resultados bastante satisfatórios. De acordo com estudos, os sintomas
psicológicos como ansiedade generalizada, estresse, depressão, transtorno do pânico, distúrbios de
humor, transtornos alimentares, fobias, bem como sintomas físicos, como dor crônica, dor aguda,
fibriomialgia, psoríase, entre outros, podem ser atenuados com o emprego desta prática. Funções
executivas são definidas como a capacidade para iniciar e terminar uma tarefa de forma eficaz,
criativa e socialmente aceitável. Incluem a capacidade de antecipação, a escolha de objetivos,
planejamento e seleção de comportamento. A disfunção executiva está presente em diversas
psicopatologias. O presente artigo busca verificar, na literatura científica existente, os efeitos da
prática da meditação mindfulness no aprimoramento das funções executivas. Para isso realizou-se
uma revisão bibliográfica, de cunho analítico em publicações sobre o assunto. A literatura revisada
indica que a prática da meditação mindfulness proporciona significativas modificações sobre as
funções executivas, relatando, inclusive, a importância de se pensar, em nível educacional, no uso
destas intervenções em crianças em fase escolar, para melhoria do desempenho acadêmico, e como
contribuição para a formação de adultos bem preparados e desenvolvidos cognitivamente. A prática
do mindfulness surge com uma alternativa viável em detrimento das substâncias psicotrópicas,
utilizadas atualmente, para aprimoramento mental.
1. INTRODUÇÃO
2
Wallace e Shapiro (2006) ressaltam que o bem-estar pode ser
cultivado, desenvolvendo-se a auto-regulação e o equilíbrio emocional
através das quatro dimensões definidas como funções executivas:
a atenção, a cognição, a emoção e a motivação e para alcançar tal
equilíbrio, um auxílio importante pode vir da prática da meditação
mindfulness.
Sendo assim, o presente trabalho procurará evidências, na
literatura existente, da influência da prática da meditação mindfulness
no aprimoramento das funções executivas. Para alcançar tal objetivo,
será abordado os temas mindfulness e funções executivas
isoladamente, buscando conceituá-los, visando compreender melhor a
temática. Após isso, serão apresentados dados da literatura que
tragam comprovação dos efeitos do mindfulness sobre as funções
executivas. O trabalho tem, ainda, a expectativa de poder ser útil para
diferentes profissionais ou interessados no tema.
2. CONCEITO DO MINDFULNESS
3
Kabat-Zinn criou a Clínica de Redução do Estresse, no Centro Médico
da Universidade de Massachusetts (Mindfulness Based Stress
Reduction - MBSR).
Kabat-Zinn (1990), pesquisador de referência no tema, esclarece
que a meditação mindfulness era uma prática usada num contexto
religioso ou espiritual, no princípio, distante do universo da ciência, mas
que passou a interessar a comunidade científica na medida em que
efeitos fisiológicos do seu uso, com impactos sobre a saúde humana
passaram a ser identificados e pesquisados. De acordo com o referido
autor, de maneira prática, mindfulness significa prestar atenção de
forma consciente para experimentar o momento presente, com
interesse, curiosidade e aceitação, ou seja, é estar sempre em
concentração no momento atual, de forma intencional e sem
julgamento, ou ainda, estar plenamente em contato com a vivência do
momento, sem estar absorvido por tal vivência.
Segundo Kabat-Zinn (2003), uma forma de compreender o
mindfulness é entendê-lo como a consciência que vem a tona através
da atenção prestada a um propósito, no presente momento, sem
julgamento e em contato com o que revela a experiência momento a
momento.
Siegel; Germer e Olendzky (2008) definem mindfulness como
estar alerta momento a momento, ou seja, uma consciência sincera
não julgadora, um estado de presença mental ou atenção plena.
Durante o estado de mindfulness o indivíduo está atento, presente e
consciente ao objeto de sua atenção, seja ela sua realidade interna
e/ou externa.
Menezes; Klamt-Conceição e Melo (2014) explicam que mesmo
no Budismo, essa prática, é clínica e mais diretamente relacionada à
psicologia do que à religião. Sendo também, conhecida como
meditação do insight.
Praticar a atenção plena é manter o foco na tarefa do momento,
evitando que a atenção esteja no passado ou no futuro. Estar presente
de uma maneira incondicional gera energia, clareza mental e alegria. O
4
mindfulness diz respeito a manter as lembranças, mas não viver de
memórias. Recordar é necessário para reorientar a atenção e estar
alerta para a experiência do momento de uma maneira receptiva,
incondicional. Essa reorientação tem o objetivo de desembaraçar a
atenção dos devaneios e vivenciar plenamente o momento presente
(GERMER; SIEGEL; FULTON, 2016).
Danny e Mark (2016) afirmam que estar consciente (mindful) é
acordar e enxergar o que se está vivenciando no momento atual, com
uma reação generosa e de agilidade que permite ser menos reativo de
maneira a vivenciar as provações cotidianas. De acordo com Germer,
Siegel e Fulton (2016), a qualidade de estar alerta é importante em
contextos clínicos, sendo caracterizado por ausência de julgamento,
aceitação, amor-bondade e compaixão. Os referidos autores relatam
que Kabat-Zinn definiu mindfulness como “estar alerta de coração
aberto, momento a momento, sem julgamento”.
Uma resposta de compaixão à própria dor é necessária ao lidar
com emoções intensas e constantes. Se o indivíduo se afasta de uma
experiência desagradável com ansiedade ou repulsa, a capacidade de
trabalhar esta experiência diminui exponencialmente (GERMER;
SIEGEL; FULTON, 2016).
As pessoas, atualmente, estão sempre em alerta e agem
automaticamente, sem refletir sobre o que está acontecendo.
Pensamentos e sentimentos que não são coerentes com o momento
presente invadem a mente. Por isso, o objetivo do mindfulness é que o
indivíduo retome esse controle, a partir da atenção plena permitindo
que o praticante não se deixe levar pela sua reatividade evasiva, o que
é comum na vida corrida dos dias atuais, e substituí-la por respostas
mais conscientes (DANNY; MARK, 2016).
Kabat-Zinn (2003) corrobora com a ideia de que as pessoas
vivem no piloto automático e acrescenta que a prática de mindfulness é
intencional, uma vez que a pessoa escolhe estar plenamente atento e
se esforça para alcançar esta meta. Viver no piloto automático
impossibilita as pessoas de lidarem, de forma flexível, com os eventos
5
do momento que são dolorosos e promove modos rígidos e altamente
limitados de reagir ao ambiente.
De acordo com Brown e Ryan (2003), é raro estarmos com
atenção plena. Em geral, somos pegos em pensamentos desviantes ou
em opiniões sobre o que está acontecendo no momento. Isso é falta de
atenção. Exemplos de falta de atenção incluem os seguintes:
7
benevolência por nós mesmos e com os outros, repetidas vezes, que por
fim brotem como pensamentos, emoções e comportamentos positivos. Em
um sentido mais amplo, qualquer meditação que evoque uma sensação de
felicidade e cordialidade pode ser considerada meditação de amor-bondade
(GERMER; SIEGEL; FULTON, 2016).
9
Autocontrole ou inibição: A capacidade de resistir à uma tentação para
poder fazer aquilo que é certo. Essa capacidade ajuda as crianças a prestar
atenção, agir menos impulsivamente e a manter a concentração numa
tarefa.
Memória de trabalho: A capacidade de manter as informações na mente,
onde elas podem ser manipuladas. Essa habilidade é necessária para
realizar tarefas cognitivas, tais como estabelecer uma relação entre dois
assuntos, fazer cálculos apenas com a mente e estabelecer uma ordem de
prioridade entre várias tarefas.
Flexibilidade cognitiva: A capacidade de usar o pensamento criativo e
ajustes flexíveis para se adaptar às mudanças. Essa habilidade auxilia as
crianças a utilizar sua imaginação e criatividade para resolver problemas
(GERMER; SIEGEL; FULTON, 2016).
11
sociais, inclusive controlando emoções. As crianças já são capazes,
nessa idade, de avaliar o produto de suas ações (por exemplo, “meu
desenho ficou muito bonito”), o que é um ato metacognitivo. Podem,
ainda, distinguir entre o que devem ou não fazer, que comportamentos
são ou não adequados, e sentem desconforto na transgressão, o que
significa que são capazes de compreender, apesar de nem sempre
serem capazes de seguir as regras que lhes são impostas (ROSÁRIO;
NÚÑES; GOLZÁLEZ-PIENDA, 2007).
De acordo com Dawson e Guare (2010), entre 3 e 5 anos, com a
aquisição da linguagem, a criança ganha uma importante ferramenta
de controle e regulação. A fala autodirecionada pode, assim, ser
utilizada para manejo do comportamento do outro e, depois, do seu
próprio. Essa estratégia é evidente em crianças com idades entre 3 e 5
anos e é totalmente internalizada apenas entre 9 e 12 anos. E, mesmo
após essa idade, essa estratégia ainda pode ser utilizada quando a
dificuldade da tarefa é elevada. A internalização da fala facilita o
cumprimento de regras e o uso de estratégias de solução de
problemas, autoinstrução e automonitoramento.
Bodrova e Leong (2007) ressaltam que até os 3 anos de idade
emergem as habilidades básicas, entre 3 e 5 anos, essas habilidades
ainda em desenvolvimento, são somadas a outras, permitindo à criança
maior controle de seu comportamento. Surge, nesse período, o
desenvolvimento de habilidades tais como inibição, atenção seletiva,
memória de trabalho e de aspectos metacognitivos, que permitem à
criança avaliar o produto de suas ações e saber se um comportamento
é, ou não, adequado às regras ou a contextos específicos. Entre 5 e 6
anos, as crianças se tornam capazes de se engajar em
comportamentos mais complexos, tomar decisões e planejar, dividir
comportamentos complexos em sequências e os recombinar em novas
formas para resolução de novos problemas ou objetivos, o que exige a
atuação integrada de outras habilidades do funcionamento executivo.
O desenvolvimento das funções executivas é lento e progressivo
e um ponto relevante que deve ser levado em consideração, é que
12
esse tempo de desenvolvimento pode possibilitar uma ampla janela de
vulnerabilidade, de modo que alterações precoces no desenvolvimento
dessas habilidades podem acarretar consequências diversas em curto,
médio e longo prazo (GARCÍA-MOLINA et. al., 2009).
Entretanto, de acordo com Dawson e Guare (2010), essa janela
abre possibilidades de estimulação e promoção do desenvolvimento
dessas habilidades. O córtex pré-frontal, uma das principais estruturas
do substrato neurológico das habilidades executivas, é a última região
cerebral a atingir maturação. A mielinização das fibras se inicia em
estágios precoces do desenvolvimento e, especificamente nos lobos
pré-frontais, continua até o início da vida adulta, quando essa estrutura
atinge maturidade. O curso temporal desse processo de maturação
assim como de suas conexões subcorticais encontra alta
correspondência com o curso de desenvolvimento das funções
executivas.
Estudos apontam que diversas variáveis ambientais parecem
impactar o desenvolvimento das habilidades executivas, como nível
socioeconômico e cultural, ambiente familiar e estilo de interação entre
a criança e seus pais. A literatura apresenta, recentemente, estudos
que evidenciam artes marciais, práticas contemplativas, como
meditação, e intervenções conduzidas no contexto escolar, como
currículos escolares específicos ou mesmo complementares, também
podem impactar o desenvolvimento das funções executivas e ser
utilizados para promovê-las com resultados bastante promissores
(DIAMOND, 2011).
13
metacognição (Chiesa et al., 2011), entre outros. Os autores sugerem
que essa prática possa influenciar as funções executivas, e
consequentemente melhorar os índices cognitivos.
Através de um estudo baseado na análise dos dados
observados pelos pais e professores de crianças das turmas de 2º e 3º
ano, de uma escola americana, Flook et. al. (2010), afirmam terem
encontrado resultados interessantes acerca dos benefícios de um
programa de práticas de meditação mindfulness nas melhorias de
regulação comportamental, meta-cognição e nos domínios gerais e
específicos da função executiva. Através de exercícios simples de
conscientização, observou-se melhorias nas habilidades das crianças
nas práticas de mudar, iniciar e monitorar. Pais e professores são rica
fonte de informação, pois observam as crianças por várias horas por
dia, através de variadas atividades e são por isso capazes de
perceberem mudanças e melhorias no desenvolvimento cognitivo.
Observou-se, no referido estudo, um paralelo nos resultados
relatados tanto dos pais quanto dos professores, os pesquisadores
ficaram convencidos de que a introdução de práticas de consciência
atentas – nas formas de jogos adequados por idade e exercícios
específicos - são ferramentas úteis para melhora do funcionamento
executivo em crianças de idade escolar elementar. Os achados
revelaram que a prática do mindfulness introduzida em um programa
de educação geral é particularmente benéfica em crianças com déficits
nas funções executivas, pois após treinamento em consciência atenta,
elas passaram a exibir scores de função executiva na faixa da média.
Os autores apontam ainda que os resultados se mostraram intrigantes
em função das significativas diferenças encontradas, que surgiram
mostrando efeitos imediatos, mesmo depois de intervenções
relativamente curtas em termos de período de tempo (apenas 8 horas
de treinamento formal) na amostra estudada. E concluem que a
introdução destes tipos de práticas de conscientização no ensino
fundamental poderia vir a ser um caminho viável e de baixo custo para
melhorar o desempenho das funções executivas nas crianças em geral
14
e, talvez mais especificamente, em crianças com dificuldades nas
funções executivas e assim aumentar o desenvolvimento sócio-
emocional, cognitivo e acadêmico das crianças (FLOOK et. al., 2010).
Em estudo realizado com estudantes do 1º ano de medicina de
uma universidade da Califórnia buscaram relacionar a prática de
meditação mindfulness com melhorias na saúde mental e
comportamental. Pois, na visão dos pesquisadores, os estudantes de
medicina estão sujeitos a altos índices de estresse por causa da alta
demanda cognitiva e, portanto, susceptíveis a respostas de
enfrentamento mal adaptadas (como por exemplo, o abuso de drogas –
principalmente o álcool). Neste contexto, a prática da meditação
mindfulness foi considerada importante porque ela é capaz de
desenvolver a auto-regulação afetiva e de atenção, que são processos
ligados às funções executivas. O estudo revelou que 25% dos
estudantes utilizavam a prática de meditação, que acabou por se
revelar como positiva na proteção ao abuso de drogas, notadamente o
álcool. Por isso, a meditação mindfulness já se encontrava incorporada
a vários programas de ensino de médicos, com bons resultados
(BLACK et. al., 2011).
De acordo com Garland (2007) a meditação mindfulness é eficaz
na redução do estresse e na melhoria dos índices relacionados à
saúde. Estudando um modelo causal de estresse, ele observou a
conexão entre estresse, metacognição e coping e o possível papel do
mindfulness neste modelo. Em sua visão, o mindfulness seria um ponto
de incremento potencial, capaz de desembaraçar os processos mentais
que sustentam os males individuais e sociais, ou seja, um elemento
essencial da resiliência. Apesar das ameaças, danos e perdas serem
fatos inevitáveis da vida, a atenção plena poderia ser a realização de
um projeto que nos permitiria lidar de melhor forma com as
adversidades.
Ao desenvolverem um estudo sobre um possível efeito da
prática da meditação mindfulness sobre o controle executivo, Teper e
Inzlicht (2013) descobriram que a aceitação emocional e o
15
monitoramento de desempenho, resultados característicos da
meditação mindfulness, realizam papéis importantes neste processo.
Segundo eles, a prática da meditação mindfulness, ao enfatizar a
consciência do momento presente (chamada meditação da mente
aberta) e a aceitação dos estados emocionais (ou auto-distanciamento
emocional) acaba por reforçar o controle executivo. Foi usada uma
tarefa de Stroop e os correlatos neurais do monitoramento de
desempenho medidos, através de eletroencefalografia, utilizando uma
resposta neurofisiológica [negatividade relacionada ao erro (NRE) –
que é um sinal elétrico que surge no cérebro 100 milissegundos depois
que uma pessoa comete um erro, ou seja, bem antes que ela possa
estar consciente do erro]. Diante disso, puderam observar que os
meditadores mostraram maior controle executivo, ou seja,
apresentaram menos erros na tarefa de Stroop do que os controles. Os
participantes apresentaram uma maior amplitude nos índices da NRE e
como ele – o sinal elétrico da NRE - possui um componente
motivacional ou afetivo – ou seja, ele traz uma sensação ruim quando
se comete uma falha – essa sensação acaba por motivar a pessoa a
fazer as coisas de maneira melhor e a cometer menos erros.
Entretanto, isso só é possível se a pessoa estiver consciente de suas
emoções para poder detectar essa sensação sutil. As pessoas que
praticam meditação mindfulness estão mais conscientes de suas
emoções, por isso elas captam a sensação mais rapidamente e se
mobilizam para fazer melhor, de acordo como os autores do estudo. E
concluem que a meditação está relacionada com um melhor controle
executivo e que este efeito é implementado no córtex cingulado
anterior e que possivelmente o aumento da aceitação emocional (via
meditação mindfulness) pode ser uma das explicações para a melhora
do funcionamento executivo.
O impacto de um período intenso de treinamento de meditação
mindfulness sobre a função cognitiva e o afeto foi avaliado,
comparando os resultados de um grupo de meditadores inexperientes
submetidos a um intenso retiro de meditação mindfulness por 10 dias
16
com um grupo que não sofreu qualquer treinamento de meditação. Os
resultados mostraram que aqueles que foram submetidos ao
treinamento, demonstraram melhorias significativas no auto-relato da
atenção plena e sintomas depressivos, na ruminação reflexiva, no afeto
negativo e no desempenho de memória de trabalho e atenção
sustentada, além de, em menor grau, na redução de ansiedade. No
quesito ruminações, foi aplicada uma Escala de Respostas
Ruminativas (RRS) usada para medição das tendências ruminativas e
observou-se uma redução significativa do comportamento
excessivamente reflexivo, o que foi considerado um ponto positivo, já
que a tendência da pessoa ficar refletindo sobre o significado de suas
ações e sentimentos é incoerente com o foco do aqui-e-agora que é o
cerne da meditação mindfulness aplicada no estudo. Também positivo
foi a meditação mindfulness ter aumentado a capacidade de memória
de trabalho, o que, de acordo com os autores, poderia qualificá-la para
ser aplicada de forma geral como intervenção em uma ampla gama de
condições psicológicas, tais como: déficits de memória de trabalho,
TDAH, transtorno de personalidade borderline, transtornos de estresse
pós-traumático e esquizofrenia. Nas diferentes tarefas e testes
aplicados, o grupo que realizou treinamento em mindfulness exibiu uma
diminuição significativa total dos tempos de resposta (RTs), indicando
uma melhoria da capacidade de atenção sustentada durante as tarefas
(CHAMBERS et. al., 2008).
Garland et. al. (2010) explicam que grande parte dos
tratamentos aplicados aos dependentes de álcool acabam por fazer
com que as apetitivas reações cognitivo-emocionais para o álcool
transitem do campo da consciência para dentro do inconsciente,
tornando o comportamento em relação ao álcool automático. No
domínio da vida mental inconsciente os processos automáticos
funcionam sem problemas e de forma eficiente, não regulados pelo
controle volitivo. Desta forma, mesmo que o dependente busque lutar
contra sua dependência, por causa das reações apetitivas estarem
desviadas para o inconsciente, o indivíduo acaba por ver sua resposta
17
ao álcool aumentada. Sendo assim, o treinamento de mindfulness
também foi utilizado para modificar aspectos cognitivos, afetivos e
psicológicos do comportamento em pacientes dependentes de álcool,
pois, o treinamento mindfulness pode servir para desfazer este
processo, fazendo com que as respostas inconscientes se tornem
conscientes. Assim, a prática da atenção plena promoveria a
recuperação das pessoas dependentes do álcool através de:
a) desautomatização do esquema de ação do uso de álcool, através do
aprimoramento da habilidade atencional para pistas subliminares do maior
desejo do álcool, provocando a interrupção do automatismo;
b) atenuando a supressão do pensamento – comum à alcoólatras – o que
resulta em um aumento da consciência do desejo do álcool incitado ao
longo do tempo, possibilitando ao sujeito a criação de estratégias de
enfrentamento de seu vício. O treinamento mindfulness para dependentes
de álcool promove a prática gradual da consciência, sendo que o
dependente é convidado a trabalhar com suas emoções negativas em um
contexto meta-cognitivo, resultando em uma não-reatividade aos conteúdos
mentais difíceis e na melhora da auto-regulação em face dos agentes
estressores da vida (GARLAND et. al., 2010).
18
Ao comparar meditadores experientes em mindfulness e não-
meditadores, Moore e Malinowski (2009) encontraram correlação
positiva entre a meditação mindfulness e a atenção e a flexibilidade
cognitiva. Utilizou-se medidas de efeito Stroop e de testes de
resistência e concentração. Os meditadores mindfulness mostraram
níveis mais elevados de consciência, melhor desempenho da atenção
e de flexibilidade cognitiva, que podem estar relacionados à velocidade
de processamento e à susceptibilidade a interferência. O aumento da
flexibilidade cognitiva fornece espaço mental para a detecção de
avaliações cognitivas incorretas e doentias – que passariam
despercebidas – e que levam a atitudes e emoções erradas, que por
sua vez acabam por afetar o bem-estar geral das pessoas. Níveis mais
elevados de bem-estar psicológico são associados com melhor
desempenho em vários domínios cognitivos e, portanto, com melhoria
da função cognitiva global (retroalimentação).
Greenberg et. al. (2012), na tentativa de comprovar que a
meditação mindfulness é capaz de reduzir a rigidez cognitiva,
estabeleceram um estudo controlado e randomizado utilizando como
prática experimental a tarefa de jarras de água de Einstellung. Os
resultados revelaram:
19
técnicas de neuroimagem, favoreceu o desenvolvimento de protocolos
de estudo que correlacionam medidas de funções cognitivas e
alterações no padrão de atividade de áreas específicas do Sistema
Nervoso Central, produzidas pela prática do mindfulness. Estudos que
abordam correlatos neurais da ação da prática da meditação
mindfulness indicam participação de áreas cerebrais especificamente
envolvidas, com os distintos aspectos da função executiva.
Segundo Consenza (2018), várias estruturas cerebrais são
modificadas pela prática da meditação. Tais como:
21
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
22
diferentes desordens psicossomáticas e transtornos mentais,
principalmente com o advento das psicoterapias de 3ª onda, resultando
no crescente investimento que tem sido empregado na investigação
sobre o tema. Por ser uma técnica que pode trazer inúmeros benefícios
e ser relativamente de baixo custo, estudos posteriores deveriam
avaliar a possibilidade de ampliação do seu uso, para que um número
cada vez maior de pessoas possam se beneficiar dela, através de um
pleno desenvolvimento potencial. Funções executivas podem ser
ensinadas e melhoradas, por meio de atividades adequadas é possível
proporcionar oportunidades para desenvolvimento dessas habilidades.
Sendo assim, é necessário ampliar o conhecimento atual acerca
dessas intervenções, investigando, por exemplo, seu impacto, não
apenas em curto ou médio prazo, mas também em longo prazo, sobre
a aprendizagem, comportamento, funcionalidade e mesmo índices de
saúde mental.
Ao realizar essa revisão bibliográfica, além de constatar que a
meditação mindfulness acarreta efeitos positivos sobre as funções
executivas, facilitando o aprimoramento mental, constatou-se, também
a necessidades de estudos de construção, adaptação, validação e
precisão de medidas para mindfulness, de modo a fornecer
ferramentas adequadas para atuação dos profissionais ou interessados
nessa prática.
REFERENCIAS
BBC, (2012). Scans show mindfulness meditation brain boost. Disponível em:
URL: http://www.bbc.co.uk/news/health-16406814
BODROVA, E.; LEONG, D. J. Tools of the mind. OH: Merrill / Prentice Hall; 2007.
GREENBERG, J.; REINER, K.; MEIRAN, N. (2012). “Mind the trap”: Mindfulness
practice reduces cognitive rigidity. PLoS ONE, 7(5): e36206 doi:
10.1371/journal.pone.0036206.
HAASE, L.; THOM, N. J.; SHUKLA, A.; DAVENPORT, P. W.; SIMMONS, N. A.;
PAULUS, M. P.; JOHNSON, D. C. (2014). Mindfulness-based training attenuates
insula response to an aversive interoceptive challenge. Social Cognitive and
Affective Neuroscience (SCAN), doi:10.1093/scan/nsu042.
HÖLZEL, B. K.; HOGE, E. A.; GREVE, D. N.; GARD, T.; CRESWELL, J. D.;
BROWN, K. W.; BARRETT, L. F.; SCHWARTZ, C.; VAITL, D.; LAZAR, S. W. (2013).
Neural mechanisms of symptom improvements in generalized anxiety disorder
following mindfulness training. Neuroimage: Clinical, 25(2); 448-458.
25
HUIZINGA, M.; DOLAN, C. V.; VAN DER MOLEN, M. W. Age-related in
executive function: Developmental trends and a latent variable analysis.
Neuropsychol 2006; 44:2017-36.
KABAT-ZINN, J. Vivir con la plenitud las crisis: cómo utilizar la sabiduría del
cuerpo y de la mente para afrontar el estrés, el dolor y la enfermedad.
Barcelona: Kairós. 2003.
____________. Full catastrophe living: Using the wisdom of your body and
mind to face stress, pain, and illness. New York: Delta, 1990.
LU, H.; SONG, Y.; XU, M.; WANG, X.; LI, X.; LIU, J. (2014). The brain structure
correlates of individual differences in a trait mindfulness: a voxel-based
morphometry study. Neuroscience, 272C: 21-28.
26
SIEGEL, R. D.; GERMER, C. K.; OLENDZKY, A. Mindfulness: What is it? Where
does It come from? 2008. Disponível em:
http://www.mindfulselfcompassion.org/articles/nicamb_mindfulness.pdf
SINGLETON, O.; HÖLZEL, B.K.; VANGEL, M.; BRACH, N.; CARMODY, J.; LAZAR,
S. W. (2014). Change in brainstem gray matter concentration following a
mindfulness-based intervention is correlated with improvement in
psychological well-being. Fontiers in Human Neuroscience, 8(33): doi:
10.3389/fnhum.2014.00033
27