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Mindfulness: um dos possíveis caminhos para o encontro da Transcendência Espiritual

Edilma Edilene da Silva1


Irlanda Cavalcanti da Silva Arruda2
Jéssica de Almeida Félix3
Luciano Fonseca Lins4

Resumo

A origem e a eliminação do sofrimento humano geram várias indagações e é o maior


desejo dos sujeitos. Nesta perceptiva busca-se dissertar acerca do sofrimento psíquico a
luz da espiritualidade, objetivando encontrar um possível caminho para que o sujeito
consiga lidar com seus sofrimentos de forma mais límpida e honesta. Para tanto a
prática de Mindfulness será utilizada como sendo um desses possíveis caminhos que o
sujeito pode estar lançado mão para encontrar o caminho da transcendência espiritual.
Foram realizadas pesquisas de artigos científicos, livros e periódicos de autores que
estudam e aprofundam seus conhecimentos em tais temáticas, objetivando sedimentar a
correlação entre eles. Na literatura foram achados vários indícios que a prática de
Mindfulness pode proporcionar ao sujeito um estreitamento da espiritualidade e com
isso aproximar-se da transcendência espiritual, visto que Mindfulness é reconhecida no
campo científico devido sua eficiência e efeitos benéficos nos sujeitos.

Palavras-chave: Sofrimento humano; Espiritualidade; Mindfulness

1
Mestranda em Psicologia Práticas e inovações Saúde Mental pela Universidade de Pernambuco –
Campus Garanhuns; Especialista em Docência em Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul; Graduada em Psicologia pela Faculdade Integrada da Vitória de Santo Antão.
2
Mestranda em Psicologia Práticas e inovações Saúde Mental pela Universidade de Pernambuco –
Campus Garanhuns; Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental pela Faculdade Franssinette do
Recife; Graduada em Psicologia pela Faculdade Integrada da Vitória de Santo Antão.
3
Mestranda em Psicologia Práticas e inovações Saúde Mental pela Universidade de Pernambuco –
Campus Garanhuns; Graduação em Psicologia pela Universidade de Pernambuco – Campus Garanhuns.
4
Orientador do Programa Mestrado em Psicologia Práticas e inovações Saúde Mental pela Universidade
de Pernambuco – Campus Garanhuns. Pós-Doutorado em Psicanálise Integral pela Universidade do
Porto e Doutor em Ciências da Educação pela Universidade do Porto.
Abstract

The origin and elimination of human suffering generate many questions and is the
greatest desire of the subjects. In this perception it is sought to discuss about psychic
suffering the light of spirituality, aiming to find a possible way for the subject to be able
to deal with their sufferings in a more clear and honest way. For this purpose the
practice of Mindfulness will be used as one of these possible ways that the subject can
be launched to find the path of spiritual transcendence. Researches were carried out on
scientific articles, books and periodicals of authors who study and deepen their
knowledge in such subjects, aiming to sediment the correlation between them. In the
literature were found several indications that the practice of Mindfulness can provide the
subject with a narrowing of spirituality and with that approach the spiritual
transcendence, since Mindfulness is recognized in the scientific field due to its
efficiency and beneficial effects in the subjects.

Keywords: Human suffering; Spirituality; Mindfulness

Introdução

Atualmente percebe-se que a temática acerca do sofrimento humano encontra-se


cada vez mais evidencia, seja pela crescente expansão nos meios de comunicação
dissertando sobre a referente temática ou pelo aumento da busca por profissionais da
área da saúde mental.
Existem várias definições para sofrimento humano, porém todas as
conceituações afirmam que possui algo neste sujeito que o inquieta e angustia,
deixando-o perturbado acarretando um prejuízo nas diversas áreas da vida.
Assim, consideramos o sofrimento como sendo um conflito interno no sujeito,
isto é, existe uma discordância entre aquilo que o sujeito afirmar ser daquilo que o
mesmo desejaria ser, estes conteúdos destoante leva a um conflito interno que paralisa e
adoece o sujeito.
Neste sentido, podemos afirmar que a experiência do sofrimento pode estar
atrelada na maneira pelo qual o sujeito se posiciona em sua vida e nas relações
interpessoais, pois segundo Arendt (2007) os homens ao se relacionarem através das
características que julgam ser bem aceita pela sociedade, negligenciando sua
subjetividade e alteridade potencializando seu sofrimento por torna-los ainda maiores
devido o conflito interno entre o Ego ideal e o Ego real.
Nesta perspectiva objetiva-se averiguar a eficácia da prática na Mindfulness
como sendo um dos possíveis caminhos para a busca da transcendência espiritual e
consequentemente a liberdade da mente possibilitando compreender e manejar os
conflitos internos causadores do sofrimento. Sendo realizadas pesquisas de artigos
científicos, livros e periódicos, em sites reconhecidos pelo âmbito acadêmico, de autores
que estudam e aprofundam seus conhecimentos em tais temáticas, objetivando
sedimentar a correlação entre eles.

Mindfulness: uma prática de meditação

Mindfulness é a tradução inglesa do termo ― Sati, que significa recordar,


consciência, intencionalidade da mente, mente vigilante, atenção plena, alerta, mente
lúcida, e auto-consciência, tendo seu início há mais de 2.500 anos com embasamento
nos ensinamentos de Siddharta Gautama, mais conhecido como Buda (HAHN, 1976). A
priori, foi utilizada no contexto religioso e espiritual, porém com o passar dos tempos, a
sociedade cientifica interessou-se pela prática com o objetivo de investigar os efeitos
fisiológicos e os benefícios do uso de Mindfulness na saúde humana (KABAT-ZINN,
1990; VANDENBERGHE & ASSUNÇÃO, 2009).
Tal conceito está relacionado com qualidades particulares de atenção e
consciência, que podem ser cultivadas e desenvolvidas através da meditação
(SILLIFANT, 2007). Assim, Mindfuless será considerada neste texto, como atenção
plena por se tratar de uma antiga prática budista que passou a ser utilizada por volta dos
anos 90 de forma isenta do cunho religioso com o objetivo de potencializar o uso da
atenção e da consciência em vivências através da meditação.
Salientando que uma das definições da consciência encontra-se ligada a
dimensão subjetiva, na qual se refere à atividade psíquica em que o individuo percebe a
realidade em sua volta. Ou seja, é a capacidade do sujeito entrar em contato com a
realidade conhecendo-a através da relação do Eu com o ambiente
(DALGALARRONDO, 2008).
Portanto, Mindfulness consiste na “capacidade de prestar a atenção, no momento
presente, a tudo o que surgir interna ou externamente, sem se emaranhar ou enganchar
em julgamentos ou no desejo de que as coisas sejam diferentes” (ROEMER &
ORSILLO, 2010, p. 18).
Dessa forma, Mindfulness não é uma percepção julgadora, mas sim uma forma
de visualizar os acontecimentos da maneira como eles realmente são, aceitando-os em
sua totalidade – partes negativas e positivas – (ROEMER, ORSILLO, 2010). Dessa
forma, podemos afirmar que a prática de mindfulness possibilita no sujeito o encontro
com uma consciência sincera, intencional, ao que está acontecendo de momento a
momento, sem julgar, a vivência enquanto ela ocorre. Vale frisar que tal prática é a
habilidade de estar consciente dos seus pensamentos, emoções, sensações e ações, no
momento presente sem julgar ou criticar a si mesmo ou a própria experiência
(VANDERBERGHE & ASSUNÇÃO, 2009).
Kabat-Zinn (1990) define mindfulness como uma maneira de experienciar a
atenção de forma plena, ou seja, concentrando-se no presente, intencionalmente e livre
de julgamentos; busca-se não ficar submergido em lembranças e cognições sobre
situações passadas e ou futuras, objetiva-se apenas vivenciar o momento atual.
Atualmente percebe-se que os sujeitos vivem de forma automatizada gerando
angústia e o vazio; assim tal prática seria exatamente trazer mais para próximo do
sujeito o uso da atenção plena para estimular a vivência de situações de forma mais
genuína, pois Krishnamurti (2008) afirma que enquanto a humanidade estiver temerosa
à vida, a morte, a Deus, ao pecado e ao inverno jamais poderá ser livre e feliz. Ou seja,
o uso de Mindfulness seria uma possibilidade do sujeito se libertar o automatismo que o
Ego o aprisiona através dos seus desejos e necessidades, tornando-o um ser subordinado
aos condicionamentos mentais e sociais.
Na prática de Mindfulness o terno intencional refere-se ao sujeito escolher estar
plenamente atento e se comprometer para conseguir permanecer atento ao presente, pois
o quê gera sofrimento nas pessoas seria está tendência de se manterem desatentas, ou
apegadas a julgamentos e reflexões que alienam sua mente, aos quais formam um
padrão peculiar de críticas que os mantem limitados e robotizados; outro termo usado
no Mindfulness é o sem julgar, que significa aceitar todos os sentimentos, pensamentos
e sensações como autênticos; assim procura contrapor-se a tendência automatizada das
pessoas vivenciarem as situações de forma fragmentada, ou seja, experienciando apenas
aquilo ao qual julgar ser bom ou menos nocivo para si (KABAT-ZINN, 1990).
Tendo em vista tal percepção, acredita-se que estes julgamentos, críticas e
classificações que os sujeitos fazem de suas vivencias são frutos da linguagem do
homem, pois esta linguagem é o discurso, é a tradução interna que o sujeito faz daquilo
que é inerente a si próprio, que o faz sofre e ou expressa um sofrimento (FOUCAULT,
1987); por está razão Mindfulness busca abster-se dos julgamentos pois, estão
contaminados pelos desejos do Ego.
Está tendência automotiva, refere-se ao que chamamos de Esquiva experiencial,
na qual foi descrita por Hayes (2004) como a tentativa de não ter e ou experienciar
determinados sentimentos, pensamentos, memórias, ou estados físicos, por estes serem
julgados negativamente. Evitamos pensamentos, sentimentos e situações que nos
deixam tristes, inseguros ou envergonhados ou porque achamos que não aguentaríamos
ou por julgarmos ser bastante doloroso, assim evitamos o contato com o sofrimento
psíquico.
Vale salientar que tal estratégia causa um prejuízo importante na formação
perceptiva do sujeito no momento da vivência cotidiana, pois ao excluir sensações,
pensamentos e sentimentos considerados como negativos, eles serão tidos como
danosos para si, no qual não são, mas sim sinais de condições de vida que deveriam ser
enfrentados. Tal tática utilizada de forma exacerbada pelo sujeito tornará a vivência de
acontecimentos internos (sensações e sentimentos) como sendo uma experiência interna
dolorosa e insistente, na medida em que a pessoa tenta não tê-los, mais os terá (HAYES,
2004).
Neste viés a prática de Mindfulness é eficaz, pois ocasionaria a reduz do
processo de tentativas de supressão de tais conteúdos mentais, isso porque a esquiva de
conteúdos e sentimentos considerados pelo sujeito como aversivos causam ruminação
mental e levam ao aumento involuntário da atenção seletiva para tais conteúdos
(Roemer & Borkovec, 1994), gerando assim um bloqueio mental que aprisiona o sujeito
numa vivência parcial da situação tornando-o alienado na parte vista como dolorosa e
danosa, potencializando a esquiva emocional e alienação ao Ego condicionado.
Salientando que tal Ego refere-se aos ensinamentos considerados pelo sujeito como
verdades absolutas aos quais gerenciam suas atitudes diante das vivências cotidianas.
Em suma, o exercício de Mindfulness proporciona uma intensa mudança na
relação perceptiva do sujeito com os seus próprios processos internos, no qual o sujeito
terá um distanciamento dos seus pensamentos, considerando-os apenas cognições e não
significando-os como verdades obsoletas fortalecendo ainda mais o ego (BAER, 2003).
Transcendência Espiritual: uma das maneiras de libertar a Alma da prisão do Ego

Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria cerca de 30% da população


brasileira desenvolverão algum tipo de transtorno mental durante sua vida, porém alerta
que este número populacional aumentaria para cerca de 60 a 70% considerando o
quadro sintomatológico em si, independente do nível de gravidade relatada pelo sujeito.
Diante desse dado estatístico percebe-se o quão a sociedade vem adoecendo
psicologicamente. Na atualidade os sujeitos estão muito mais empenhados em alimentar
a parte externa do corpo com bens materiais, finanças, vestuários, dentre outros; e
desnutrindo cada vez mais o lado interno, que é a alma (CAMPBELL, 1990).
Anteriormente mente e almas eram consideradas algo diferente que não se
misturava hoje se percebe a dualidade como sendo indissolúvel.
A Mente e ou Ego neste contexto será considerada uma rede de crenças que
influencia significativamente a vida dos sujeitos, através dos condicionamentos
programados advindos da tal rede. Estes condicionamentos por sua vez, tornarão o
sujeito alienados em ideias, dogmas, conceitos, que são formados pelos registros
ideológicos derivados da família, cultura, sociedade, nacionalidade e auto percepção das
situações cotidianas ao qual o sujeito está inserido e sendo considerados pelo mesmo
como verdades absolutas.
No geral, vivemos e estamos hipnotizados por fantasias mentais, que não possui
fundamento real na realidade, isso por que estamos submersos num egoísmo egoíco que
suga as potencialidades e fluxo vital do sujeito, deixando o cada vez cego distante de tal
fluxo.
Em outras palavras, criamos uma realidade embasada em nossas crenças e
dogmas, estabelecendo consequentemente, uma relação de verdade com tudo àquilo que
criamos, tornando assim seres hipnotizados e alienados em nossos próprios dogmas.
Então, quando algum foge dessa realidade criada por nós, entramos num conflito interno
gerando assim o sofrimento.
Sabemos que o sofrimento humano tem ligação direta com o desejo advindo da
rede de crenças, fonte da elaboração das ilusões, pois mantem a mente hipnotizada por
tais dogmas, tornando-a compulsiva e embotada. Os padrões de crenças são
características do Ego desempenhando um papel primordial na significação do sujeito
em relação a si ao ambiente social.
O ego anseia por sobrevivência, seja através do viés físico, psicológico ou social.
E nesta busca por sobrevivência o ego acaba apegando-se a ídolos fabricados pela
compulsão egoíca, como dinheiro, poder, fama, culto a aparência; isso porque o ego é
uma instância mental repleta de insatisfação. A mente é uma fonte significativa de
realizações podendo criar efeitos ilusórios, dependendo da programação elaborada
durante toda a vida.
Em consonância a está ideologia do apego, Krishnamurti (2009) lança
indagações acerca do desapego a todos os processos de identidade e identificação
programada pela família, sociedade, educação, religião e cultura. E o que resta é a
Alma, límpida e autêntica.
A Alma é o mesmo que Consciência Pura, ou seja, a consciência é a alma do
Ser. Salientando que Consciência Pura seria uma consciência desprovida de identidades
egoíca e conflitos, nos quais são frutos das relações de apego a tais fantasias de posse da
verdade (KRISHNAMURTI, 2009).
Em consonância Lins (2016) afirma que a Alma é a experiência genuinamente
humana, advinda através dos símbolos, mitos e sonhos; no qual faz uma ponte com o
abismo influenciando assim nossas vivências cotidianas. Salientando que abismo refere-
se à impossibilidade de olhar ou saber o que se passa em nossa alma quando deixamos
de existir como ego ou mesmo como humanos. Em outras palavras, o abismo seria algo
que está para além da compreensão do homem, assim percebe a presença do medo,
medo do invisível, este espaço imperceptível a nossos olhos seria o abismo, pois
somente uma parte de nós está no mundo e outra está no infinível.
A alma possui três aspectos. O primeiro refere-se aos condicionamentos que
criamos a partir da nossa subjetividade, filogênese e ontogênese; nos quais estão
inseridos a nossa cultura, regras sociais para sustentar o sentido da sobrevivência
humana. O segundo trata-se do aspecto funcional da alma humana, que seria a
capacidade do sujeito de olhar para si mesmo, ampliando a qualidade de discernimento
e auto responsabilidade na tomada de decisão. O terceiro é a capacidade de
compreensão dos próprios condicionamentos e a qualidade de transcendência espiritual
advinda da percepção para além dos fatos e objetos percebidos através dos símbolos
(LINS, 2016).
Nesta perspectiva podemos considerar Alma como sendo sinônimo de
Consciência, então o Despertar dessa Consciência Pura pode ser considerado um dos
caminhos para libertar o ego dessas programações, nos quais tornam e mantem o sujeito
alienado. A Consciência Desperta poderia ser considera o desapego da auto-referência
constituídas pelo Ego e suas programações, ou seja, é uma mudança perceptiva que
possibilitaria uma visão da realidade para além da rede de crenças egoícas.
A mente é o ser alienado pelo ego. Desalienar o ego poderia ser despertar a
consciência para que ela possa ficar livre de programações, e consequentemente
potencializar a qualidade de se tomar decisões mais autenticas possíveis reconhecendo
sua capacidade de transformação.
Krishnamurti (1982) em suas palestras já evidenciava a importância do sujeito
condicionado despertar a consciência através da observação interna, pois havendo uma
mudança substancial na singularidade possibilitando um despertar da consciência.
O despertar não ocorre advindo simples desejo de desertar, mas de forma
singular, pois o despertar advêm da percepção da realidade como ela é de fato e não
subordinada a crenças, desejos e opiniões egoícas.
Assim, a transcendência espiritual é considerada um dos caminhos para o
despertar da consciência. Mas o que seria está transcendência espiritual?
Transcendência espiritual é o espaço vazio entre os condicionamentos egoícos e a
realidade inefável, isto é, é a realidade que não está condicionada pela cultura, crenças e
sociedade.
Neste contexto, a prática de Mindfulness poderia ser um dos caminhos para
despertar a consciência, pois tal prática orienta os sujeitos a observar os pensamentos,
sentimentos, sensações e comportamentos que não estão apegados a desejos pessoais
(SEIDL-DE-MOURA, 2012). Assim busca-se desenvolver a capacidade de prestar a
atenção de forma plena no momento presente buscando uma orientação flexível e
adaptativa diante das experiências emocionais (LEAHY, TIRCH, NAPOLITANO,
2013).
Mindfulness é comumente praticado através da meditação e esta é considerado
um processo de alteração da atenção do foco no mundo externo para um foco interno
(SEIDL-DE-MOURA, 2012). Porém, existem alguns tipos de meditação, as que
chamamos de concentrativa que consiste na delimitação da atenção a um único objeto,
podendo este ser interno ou externo, busca-se focar a atividade mental num estímulo
específico, como som, imagem, respiração; este tipo de meditação pode incluir a yoga,
meditação transcendental e a budista samatha. E as meditações contemplativas
acontecem através da junção de duas coisas, a habilidade de focalizar e de se abrir; neste
seguimento temos a meditação judaica e causadas por algumas orações (CAHN &
POLICH, 2006). Nesta mesma vertente aparece à prática de Mindfulness sendo
considerada uma terceira categoria de meditação, esta mais voltada para o cunho
cientifica, pois é necessário o sujeito habilitar sua concentração para um determinado
estímulo para só então, ser possível a abertura à observação livre de julgamentos dos
condicionamentos egoícos (GOLEMAN, 1988).
O despertar da consciência através da meditação possibilita a grande presença
descontaminada pela mente e suas ilusões, pois a partir do momento que em prestamos
atenção aos acontecimentos internos livres de julgamento e sem se apegar a tais
acontecimentos internos, significa que temos a possibilidade de vivenciar as
experiências de forma mais autenticas e livres de programações aos quais nos
condiciona.
Sabe-se que a meditação destaca o autoconhecimento, e isso é considerado um
indicador da Consciência Desperta, pois tal consciência possibilita o sujeito conhecer e
enxergar a si próprio sem restrições e julgamentos, deixando sua alteridade explicita e
sendo quem genuinamente é, despindo-se dos condicionamentos egoícos. Dessa forma o
Mindfulness reafirma sua eficácia, pois tal prática busca desenvolver uma postura de
aceitação das sensações, sentimentos, processos mentais que ocorrem durante a vivência
cotidiana, sem se agarrar a julgamentos e condicionamentos do ego.
Vale salientar que o despertar da Consciência não é algo que ocorre
intencionalmente, mas sim de forma espontânea. Então a prática de Mindfulness poderia
potencializar uma aproximação do fluxo vital na medida em que busca desenvolver uma
Consciência pura das vivências e experiências cotidianas, aceita-las como elas
realmente são e não se emaranhar nelas tornando-o um ser em sofrimento na maior parte
do tempo, distanciando cada vez mais do fluxo vital.

Considerações

Diante do exposto percebe-se que o sofrimento humano é uma temática que gera
indagações constantes relacionada às melhoras formas de elucida-lo, porém várias
receitas são passadas e nenhuma se aproxima do resultado que os sujeitos desejam.
O sofrimento é algo inerente ao ser humano e não existem formas de elucida-lo,
o que existe são maneiras de lidar com o sofrimento. Neste sentido, a prática de
Mindfulness surgiu como sendo uma das possibilidades de manejo do sofrimento, visto
que tal prática possibilitaria no sujeito formas de se libertar as grades egoícas que o
alienam e aprisiona numa teia repleta de desejos e necessidades ilusórias aos quais
potencializa e prolonga o sofrimento, além de contaminar a Alma com ilusões que
automatizam e hipnotiza o homem.
Neste sentido, Mindfulness possibilitaria tal liberdade no sentido experiencial,
sentir as sensações, pensamentos, sentimentos, lembranças sem se fixar nos julgamentos
oriundos do condicionamento do Ego, tornando-o um ser autentico e límpido à luz da
Alma.

Referencias

ARENDT, H. A condição humana. 10°ed – Rio de Janeiro: Forence Universitária:


2007.
BAER, R. Mindfulness Training as a Clinical Intervention: A conceptual and
empirical review. American Psychological Association, 10, 125-143, (2003).
CAHN, B. R. & POLICH, J. Meditation states and traits: EEG, ERP and
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FOUCAULT, M. A Arqueologia do saber. 3°ed. Rio de Janeiro: Forence-
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GOLEMAN, D. J. The meditative mind: The varieties of meditative experience. New
York: G.P. Putnam’s Sons, (1988).
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Press (2004).
LINS, F. L. Consciência e Espiritualidade. Olinda: Livro Rápido, 2016.
KABAT-ZINN, J. Full Catastrophe Living: Using the wisdom of your body and mind
to face stress, pain, and illness. New York: Delta (1990).
KRISHNAMURTI, J. Pense nisso. Rio de Janeiro. Nova Era, 2008.
KRISHNAMURTI, J. A rede de Pensamento. São Paulo: Cultrix, 1982.
ROEMER, L. & BORKOVEC, T. D. Effects of suppressing thoughts about
emotional material. Journal of Abnormal Psychology, 103, 467-474 (1994).
ROEMER, L.; ORSILLO, S. M.; A prática da terapia cognitivo-comportamental
baseada em mindfulness e aceitação. Porto Alegre: Artmed, 2010.
VANDERBERGHE, L.; SOUZA, A. C. A. Mindfulness nas terapias cognitivas e
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cogn. v.2 n.1 Rio de Janeiro. Jun, 2006. Disponível em:
<hptt://www.pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1808-56872006000100004&script=
sic_arttext> .

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