Você está na página 1de 9

A TERAPIA OCUPACIONAL NA SAÚDE MENTAL

Patrícia Queiroz¹
INTRODUÇÃO

A terapia ocupacional é uma profissão de nível superior voltada aos estudos


da ciência da saúde e social, à prevenção e ao tratamento de indivíduos portadores
de alterações cognitivas, afetivas, perceptivas e psico-motoras, decorrentes ou não
de distúrbios genéticos, traumáticos e/ou de doenças adquiridas, através da
sistematização e utilização da atividade humana como base de desenvolvimento de
projetos terapêuticos específicos, na atenção básica, média complexidade e alta
complexidade. (Coffito, 2022)

A profissão Terapia Ocupacional foi criada no início do século XX, nos


Estados Unidos. Em primeiro momento teve sua prática reconhecida no contexto de
reabilitação física e mental pela necessidade de reinserir os traumatizados de guerra
na sociedade.

No Brasil a Terapia Ocupacional foi criado em 1959, onde a área de


psiquiatria tinha a sua prática voltada a assistência hospitalocêntrica, com a tarefa
de apenas ocupar os pacientes. No final da década de 1970 para defender a função
terapêutica foi criado um método de dinâmica relacional entre terapeuta-paciente-
atividade formando então a tríade terapêutica, onde o terapeuta promove a
autonomia e a participação social, a atividade como facilitador do processo de
mudança e de vínculo com o terapeuta, e o paciente como centro dessa tríade,
compartilhando e sendo parceiro dos projetos e processos.

Logo, é na “atividade” que o sujeito restaura sua contratualidade de cidadão


que reestabelece seu papel na sociedade e de produtor de sentido da vida. Portanto
a Terapia Ocupacional não é para ocupar o “tempo” dos pacientes, não é apenas
uma pintura, não é apenas uma roda de conversa. É devolver para o indivíduo seu
papel, é resgatar sua ocupação de pai, mãe, filho(a), trabalhador(a) e principalmente
de cidadão, é ver e respeitar a pessoa como um todo, um ser com suas
experiências, vivencias, vontades, individualidades e subjetividades. É ajudar a
pessoa no seu processo para readquirir sua identidade.

A pessoa quando internada na ala de saúde mental, sendo por alcoolismo,


dependência química e/ou transtornos mental acaba tendo uma dificuldade em
pensar de uma forma clara, de lidar com suas emoções, de tomar decisões e de se
relacionar com os outros, podendo até mesmo causar uma desorganização no
cotidiano, o resultado de tais dificuldades gera uma redução das suas atividades de
autocuidado, produtividade e lazer. A Terapia Ocupacional pode contribuir na
reabilitação desses indivíduos, já que a mesma visa a melhora na qualidade de vida
de um sujeito, auxiliando-o a escolher, organizar e conduzir as atividades cotidianas.
Ao criar/fazer que o Terapeuta propícia ao sujeito a possibilidade de construir novos
caminhos, redescobrir suas potencialidades, resgatar seus desejos e expressar seus
sentimentos e é papel do Terapeuta Ocupacional inserido na saúde mental a buscar
junto ao paciente a resolução dos seus problemas, auxiliar na construção e
reconstrução de sua história.

Terapia Ocupacional e Grupos

Devemos compreender que a atuação como terapeuta não parte apenas das
particularidades dos indivíduos, mas também do seu cotidiano, onde o dia a dia é
composto por outros indivíduos, outros grupos, outras vidas, outras experiências, de
modo que cada sujeito que passa por nós, traz em si mesmo uma multidão.

Mais do que trabalhar as infinidades de possibilidades de grupo, é importante


entender o terapeuta e o paciente como pessoas grupais entre si, repletos de
experiências e relações, respeitando assim ao mesmo tempo a individualidade de
cada um. Os momentos de troca durante esses momentos do individuo com sua
vivencias e grupos, propicia um diálogo com o terapeuta sobre suas próprias
vivencias e grupos.

A partir das configurações grupais, operaram-se novos


sentidos do viver e do trabalho para uma maior autonomia e
reconstrução nos modos de participar da vida. Trata-se de uma
estratégia de cuidado ofertada num espaço relacional pleno de
subjetividades, considerando a singularidade dos sujeitos e projetos
adequados aos seus contextos de vida (Malta e Merhy, 2010).

Sendo assim a terapia ocupacional é a profissão receptiva aos traços,


sentimentos, memórias e desejos de cada um, por cuidar das relações existentes e
das ocupações dos indivíduos.
Meditação Guiada

O grupo de meditação é heterogêneo e aberto mediante convite para


participação do mesmo, é realizado semanalmente nas terças e quarta – feiras.

A meditação tem sido conceituada como um treinamento mental com o


objetivo de acalmar a mente, diminuir processos ruminativos e características
obsessivas do fluxo caótico dos pensamentos (Rubia, 2009; Fortney e Taylor, 2010),
além de promover o controle voluntário do foco de atenção (Stubing , 2015. Apud.
MacLean et al, 2010).

A prática é constituída por um passo a passo, sendo: a apresentação da


técnica, ou seja, esclarecer aos participantes os procedimentos necessários;
relaxamento muscular; relaxamento lógico, onde busca o estado de relaxamento
mental, sem criar expectativas e/ou julgamentos com o que acontece; estado
autoinduzido, apesar de ser conduzido por um instrutor o próprio praticante é
responsável pelo alcance do seu estado meditativo.

Os resultados apresentados após a meditação são: diminuição de relatos de


dores físicas, diminuição dos sintomas ansiosos, redução de sentimentos de raiva,
melhora na concentração e maior senso de controle emocional.

Observa-se com a prática o processo de alguns pacientes, onde em primeiro


momento não se conseguia fechar os olhos e/ou de mantê-los fechados. Já que o
ato de fechar os olhos é um enfrentamento consigo mesmo, é um momento onde
tem que voltar os olhos para si mesmo e lidar com todos os sentimentos ali
internalizados.

Lian Gong

O grupo de meditação é homogêneo e aberto mediante convite para


participação do mesmo, é realizado semanalmente nas quarta - feiras.

O Lian Gong é uma ginástica terapêutica chinesa que foi criada para tratar e
prevenir dores em tendões, músculos, articulações, doenças que se desenvolvem a
partir do mau uso do corpo, além de outros tipos de doenças crônicas. Essa técnica
foi desenvolvida na década de 1970 pelo médico ortopedista Zhuang Yuan Ming. Foi
projetada para a prevenção de doenças e promoção da saúde, por ser uma
atividade física leve, com movimentos suaves e firmes, pode ser praticada por
pessoas de qualquer faixa etária.

O Lian Gong contempla 54 exercícios divididos em 3 partes. Dessa forma, há


3 séries de 18 exercícios cada uma, o que justifica a sua denominação “Lian Gong
em 18 terapias”. A Parte 1: denominada Lian Gong Anterior, constitui-se de 3 séries,
cada uma com 6 exercícios, visando prevenir e trata dores no pescoço, ombros,
costas superiores, região lombar e membros inferiores. Na Parte 2: denominada Lian
Gong Posterior, constitui-se de 3 séries, também totalizando 18 exercícios, que
visam prevenção e tratamento de dores que envolvem articulações de braços e de
pernas, permitindo o relaxamento de contraturas e aderências dos tecidos moles das
articulações, reduz e/ou elimina as dores articulares e melhora o tônus muscular e
funções motoras. Quanto a Parte 3: atua no fortalecimento das vias respiratórias e
cardiovasculares.

Com tal prática percebem-se nos pacientes com maior participação dessa
atividade que há diminuição das queixas dolorosas, melhora na coordenação
visomotora, aprimoramento da coordenação motora grossa e fina, expansão da
amplitude de movimento articular, imitação de segmentos e de consciência corporal.

Arteterapia

A arteterapia desperta a capacidade de quem a realiza de recuperar a auto –


estima, desenvolver o potencial construtivo e da criatividade. A interpretação do
trabalho artístico realizado em Arteterapia não é feita pelo terapeuta; é o próprio
paciente que, auxiliado pelo terapeuta, vai fazendo sua própria interpretação. Alguns
pacientes após a finalização se depara com o resultado abaixo da sua expectativa,

Dança Circular

A prática é realizado em grupo heterogêneo e aberto mediante convite para a


realização, é organizado quinzenalmente nas terça – feiras. A dança é escolhida
pela terapeuta de acordo com a necessidade e limitações de cada grupo e
repassado passo a passo para os participantes, após ensinado os passos é .

A Dança Circular é um instrumento de conscientização, socialização e


resgate de valores humanos. Com a prática das danças, incentivam-se o
entrosamento entre os indivíduos, promovendo a comunicação entre as pessoas e
se desenvolve a organização coletiva através da roda e o senso de ritmo pela
música e pelo movimento do corpo que ela cria.

De acordo com Wosien (2000), em meio a momentos de muita descontração


e também de introspecção, a pessoa que está na roda se percebe como um ser
humano íntegro. Estas danças são praticadas em grupos, em círculo, reunindo a
busca da harmonia e da consciência de pertencer a um todo.

As danças circulares exploram os sentimentos de unidade, auxílio mútuo,


equidade e do senso de responsabilidade por seus atos. A roda em si passa a
mensagem de que a vida é cíclica, que apesar do momento que você esta, ela
continua fluindo, faz lembrar aos participantes que existem ciclos bons e ruins e que
esses ciclos também passam, abre a possibilidade para refletir que as coisas se
encerram, porém, dá oportunidades de um novo recomeço e assim seguir esse
grande movimento que é a vida.

Podemos notar após a realização da dança circular uma melhor interação dos
pacientes entre si mesmo, aumento da disposição para realizar outras atividades
proposta pela equipe, promove a organização interna, propicia estado de
relaxamento físico e mental, expressão corporal, melhora no humor, diminuição de
sintomas depressivos.

DISCUSSÃO

Ao criar um perfil para pais onde se pode analisar a reação familiar e a forma
de tratar a doença, é possível definir como a criança se desenvolverá (BRANCO E
CIANTELLI,2017). No caso da APAE de ponte Serrada o auxílio e informação dos
pais sobre a deficiência dos filhos vem inteiramente dos profissionais da instituição.

A questão da negação dos pais em relação a deficiência é um ponto que deve


ser discutido, no levantamento pode ser visto que cerca de 5 pais refutam a
necessidade de atendimento dos filhos o que acaba por prejudicar o tratamento
oferecido pela estimulação essencial onde os familiares através de brincadeiras,
contato, leitura e convício realizam o desenvolvimento da criança (RIBEIRO E
SILVA,2017) em apoio com a equipe profissional. A negação do diagnostico faz
parte do processo, pois está relacionado com a forma que a família recebeu o
diagnóstico e como trata seus problemas, então cabe a equipe olhar para o âmbito
familiar pois deve compreender como uma extensão da criança deficiente
(BUSCAGLIA,1993).

O desenvolvimento da criança passa pela família, pois o lar é o primeiro


contato com uma estrutura social, assim irmão e pais devem ser incluídos no plano
de tratamento, pois estes relacionamentos criam influencias que podem levar a
inclusão familiar ou a exclusão da integração da criança deficiente. Os pais e irmãos
devem fazer parte do plano terapêutico no intuito de demonstrar a necessidade de
estímulos e paciência com a criança, e de apresentar outro grupo familiar com a
mesma deficiência para mostrar boas relações familiar (FIAMING E MESSA,2007).

Uma rede de apoio para os deficientes e pais se faz necessário, pois a falta
de informação leva a negação, e o acesso a informação correta e segura diminuí a
preocupação com a forma de desenvolver e tratar a deficiência por partes dos pais,
que pode realizar a aceitação e faz com que os pais se sintam seguros em continuar
com o tratamento (FIAMENGI E MESSA,2007). Os profissionais devem entender
que antes de serem os pais do paciente são pessoas que irão apresentar duvidas,
insegurança e culpa pelo estado clinico do filho, e nos casos mais severos irão
negar afim de não assumir uma responsabilidade de cuidados para não serem vistos
como pais especiais e sofrerem com comentários externos (BUSCAGLIA,1993).

CONSIDERAÇOES FINAIS

Ao estudar a relação família vs diagnostico do aluno da APAE de Ponte


serrada- SC é possível dizer que o acolhimento dessas famílias dentro da instituição
é de extrema importância devido a negação diante do diagnostico que leva ao
afastamento dos pais no processo de reabilitação dos seus filhos que causa um
atraso no programa de tratamento estabelecido pelos profissionais. Assim deve ser
realizado um tratamento completo do aluno incluindo e ensinando a família sobre a
deficiência, que podem ocorrer através de atividades lúdicas ou conversas sobre o
estado do aluno e dificuldades até o momento encontradas.
REFERENCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA LIAN GONG EM 18 TERAPIAS. Sobre Lian Gong.


Disponível em: < https://www.associacaobrasileiralg18terapias.org/sobre-lian-gong
>. Acesso em: 24 fev. 2021.

Bock, Vana, et al. "Grupo de Terapia Ocupacional: Um espaço de construção de


fatos, vivências e história." Rev. ter. ocup (1998): 32-6.

COFFITO. Definição de Terapia Ocupacional. Santa Catarina, 2022


https://www.coffito.gov.br/nsite/?page_id=3382 . 05 de Julho de 2022.

Lima, Edilaine Wúlfila Cordeiro. Intervenções da Terapia Ocupacional com pessoas


com esquizofrenia: Uma Revisão de Literatura. Escola de Educação Física,
Fisioterapia e Terapia Ocupacional Universidade Federal de Minas Gerais Belo
Horizonte - MG. 2010

Malta, D. C.; Merhy, E. E. “O percurso da linha do cuidado sob a perspectiva das


doenças crônicas não transmissíveis”. Interface – Comunicação, Saúde, Educação,
v. 14, n. 34, jul.-set. 2010, p. 593-605.

Ribeiro, Marli B. Santos e Oliveira, Luiz Roberto de. Terapia ocupacional e saúde
mental: construindo lugares de inclusão social. Interface - Comunicação, Saúde,
Educação [online]. 2005, v. 9, n. 17 [Acessado 5 Julho 2022] , pp. 425-431.
Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1414-32832005000200023>. Epub 31 Ago
2012. ISSN 1807-5762. https://doi.org/10.1590/S1414-32832005000200023.

SILVA, M. M.; UVINHA, R. R. Lazer e saúde: a dança circular no processo


terapêutico da saúde mental. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental/Brazilian
Journal of Mental Health, [S. l.], v. 8, n. 18, 2016. DOI: 10.5007/cbsm.v8i18.69443.
Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/cbsm/article/view/69443. Acesso
em: 13 jul. 2022.

Stubing, Katya Sibele. Uma intervenção com meditação para pacientes internados
com transtorno alimentar. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Programa de Psiquiatria. São Paulo 2015.

Você também pode gostar