Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INFANTIL
1
Sumário
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICAS NA EDUCAÇAO INFANTIL ....... 1
1 – INTRODUÇÃO................................................................................... 4
2
NOSSA HISTÓRIA
3
1 – INTRODUÇÃO
A Neuropsicologia é uma disciplina científica que estuda, de um modo
geral, as relações entre o cérebro e o comportamento.
A Neuropsicologia infantil se diferencia da neuropsicologia do adulto, pois
estuda as relações entre os comportamentos da criança e seu cérebro em
desenvolvimento. Nesse sentido tanto a dinâmica cerebral como as
consequências de disfunções ou lesões cerebrais na infância são distintas do
adulto. Dessa forma, critérios específicos são empregados para avaliar e intervir
nas dificuldades cognitivas infantis.
A avaliação neuropsicológica na infância consiste na aplicação de uma
série de técnicas clínicas, psicométricas e neurológicas para conhecer o
desenvolvimento cognitivo de crianças normais ou que apresentem algum
transtorno, lesão ou alguma disfunção do sistema nervoso. A avaliação se
propõe a identificar pontos fortes e pontos fracos no desenvolvimento cognitivo
infantil de modo a traçar o perfil neuropsicológico da criança.
Esse perfil neuropsicológico da criança nos permite realizar o diagnóstico
diferencial das dificuldades cognitivas e dos comportamentos desadaptativos,
com o objetivo de visualizar um prognóstico e desenvolver um plano de
intervenção adequado para as dificuldades apresentadas. Desta forma, a
avaliação neuropsicológica torna-se ainda mais importante nos casos em que
não há uma patologia explícita em outros exames de imagem ou mesmo a partir
da investigação neurológica.
Recomenda-se que o exame neuropsicológico seja realizado quando a
criança apresentar alguma destas disfunções: dificuldades de aprendizagem
escolar;, suspeita de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, problemas
de aquisição da linguagem, deficiência intelectual global, quadro de epilepsia,
traumatismo cranioencefálico, transtornos invasivos do desenvolvimento
(autismo), entre outros. A indicação de uma avaliação pode vir de médicos
pediatras, neurologistas, psiquiatras, da própria escola ou de outros profissionais
que acompanhem a criança. Como resultado é apresentado um laudo
neuropsicológico que descreve o perfil cognitivo da criança. Esse laudo poderá
4
ser usado para embasar a indicação dos melhores tratamentos para a condição
de saúde apresentada.
5
2 - AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA INFANTIL
6
Aplicação de instrumentos neuropsicológicos, que avaliem áreas
do funcionamento cerebral, que inclua: atenção, funções
executivas, memória, linguagem, funcionamento sensório-
perceptivo, habilidades visuoespaciais, habilidades motoras finas,
habilidades intelectuais, desempenho acadêmico e funcionamento
comportamental e emocional.
7
3 - AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA NA
CRIANÇA - INDICAÇÕES E CONTRIBUIÇÕES
8
Sem essa condição, a aprendizagem não se processa normalmente, e, neste
caso, podemos nos deparar com uma disfunção ou lesão cerebral.
Ao fornecer subsídios para investigar a compreensão do funcionamento
intelectual da criança, a neuropsicologia pode instrumentar diferentes
profissionais, tais como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos e psicopedagogos,
promovendo uma intervenção terapêutica mais eficiente.
O conjunto dos instrumentos utilizados nos possibilita uma avaliação
global das capacidades da criança, bem como das dificuldades encontradas por
ela em seu desempenho dia a dia. Não se trata de "rotular" ou "enquadrar" a
criança como integrante de grupos problemáticos, e sim de evitar que tais
dificuldades possam impedir o desenvolvimento saudável da criança.
Ainda quanto à avaliação em crianças, torna-se importante salientar
algumas questões, entre elas o fato de o desenvolvimento cerebral ter
características próprias a cada faixa etária. Portanto, dentro desse padrão de
funcionamento cerebral, é importante a elaboração de provas de acordo com o
processo maturacional do cérebro. Por exemplo, "quando se fala de imaturidade
na infância, esta não deve ser entendida unicamente como deficiência", devido
às peculiaridades do desenvolvimento cerebral na infância. Diferentemente do
adulto, o cérebro da criança está ainda em desenvolvimento, tendo
características próprias que garantem uma diferenciação e especificidade de
funções.
Segundo Antunha, as baterias de testes neuropsicológicos adaptados
para crianças são em número bastante reduzido.
Devem contemplar:
a organização e o desenvolvimento do sistema nervoso da criança;
a variabilidade dos parâmetros de desenvolvimento entre crianças
da mesma idade;
a estreita ligação entre o desenvolvimento físico, neurológico e a
emergência progressiva de funções corticais superiores.
9
4 - AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA INFANTIL:
DEMANDA FREQUENTE NO COTIDIANO DO
PSICÓLOGO
10
Ao lado disso, favorece o diagnóstico precoce de alterações no
desenvolvimento, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e demais
atrasos no desenvolvimento global, favorecendo práticas interventivas
interdisciplinares mais precoces e, consequentemente, mais eficazes.
Pesquisas recentes apontam que para cada 62 crianças, ao menos uma
apresenta características no TEA ou algum tipo de atraso no desenvolvimento.
Nos consultórios, a procura pelo neuropsicólogo aumentou muito. Não apenas
para avaliar, como também para estabelecer uma linha terapêutica que
proporcione melhora na vida do paciente e oriente a família quantos aos
procedimentos adequados.
Em relação ao TEA, por exemplo, a avaliação neuropsicológica é
fundamental para a equipe que atende a criança. Segundo o professor do IPOG
e Neuropsicólogo Infantil, Dr. Fernando Silveira, um outro benefício é que por
meio da Avaliação Neuropsicológica Infantil é possível traçar uma assertividade
prognóstica.
De acordo com o especialista, “a Neuropsicologia é toda pautada em
evidências. Refere-se à uma prática da Psicologia mais confiável devido à
utilização de instrumentos com validade científica”, pontua o professor. Muitas
são as vertentes da psicologia que oferecem suporte clinico para as crianças.
No entanto, a neuropsicologia fornece dados previamente testados,
regados à significância estatística. Como consequência de todo esse
investimento científico, o mercado vem oferecendo a criação de programas de:
Estimulação atencional.
Desenvolvimento das funções executivas (processos responsáveis pelo
emissão de comportamentos mais ajustados às exigências do meio);
Controle da agressividade;
Estimulação da memória operacional (processo responsável pela
manipulação mental das informações);
Estimulação Psicopedagógica de funções vinculadas às dificuldades da
leitura/escrita;
Dentre outros que favorecem o desenvolvimento infantil.
Segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP), apenas os
profissionais da psicologia podem realizar psicodiagnóstico ou avaliação
11
psicológica por meio de testes psicológicos. Essa é a grande diferença entre o
psicólogo e os demais profissionais que buscam a especialização na área.
Os psicólogos possuem conhecimentos e habilidades psicométricas
específicas que garantem a qualidade técnica e ética desta prática junto aos
pacientes. Vale ressaltar que a neuropsicologia utiliza dos testes psicológicos e
neuropsicológicos durante todo o processo de avaliação.
No mercado é possível encontrar ferramentas objetivando a compreensão
da inteligência (à partir de dois anos de idade), dos processos atencionais
(concentração, divisão, seletividade e alternância), dos processos perceptuais,
viso-motores, das funções executivas, das habilidades acadêmicas (atividades
que demandam conhecimento de escolaridade), assim como a compreensão da
personalidade e da dinâmica parental.
Nesse sentido, somente os neuropsicólogos com formação em psicologia
possuem o preparo e o respaldo técnico para a utilização das ferramentas
necessárias. Atualmente, os pesquisadores e as editoras se encontram atentos
à necessidade de novas ferramentas que possam contribuir para esta prática,
desenvolvendo crescentemente novos testes e materiais para a estimulação,
bem como reabilitação.
12
O Neuropsicólogo Infantil, Dr. Fernando Silveira, destaca que um dos
maiores desafios para os profissionais está relacionado com a interpretação
adequada dos resultados e o domínio de todas as técnicas disponíveis.
O profissional reforça que, embora exista um protocolo estruturado, é
importante saber que para cada caso clínico existe uma demanda particular de
ferramentas.
Encontrar profissionais capacitados e especialistas que possam fazer
uma interpretação de forma adequada é um desafio. Outro desafio é o
profissional ser assertivo nas suas impressões, no seu diagnóstico e,
principalmente, na sua conduta terapêutica.
“Para ser um neuropsicólogo de sucesso, ao meu ver, é preciso ter uma
formação de excelência, supervisão constante e conhecimento clínico apurado
de todas as possibilidades disponíveis”, explica Fernando.
Isso ocorre porque a avaliação neuropsicológica infantil tem
características bastantes próprias, vinculada à compreensão detalhada dos
diferentes estágios do desenvolvimento”
No que tange ao exercício da profissão, o neuropsicólogo deve ser
capacitado para analisar e administrar não apenas os testes, mas também um
conjunto de variáveis.
Para realizar uma avaliação neuropsicológica infantil, por exemplo, é
preciso conhecer as diferentes teorias do desenvolvimento, explorar o histórico
de cada caso e suas vicissitudes, realizar observações diretas e indiretas do
comportamento da criança, entrevistar familiares e profissionais das escolas,
assim como manter discussão interdisciplinar e ser capaz de estabelecer uma
proposta interventiva eficaz. Outro ponto fundamental é a elaboração de
documentos.
A Neuropsicologia trabalha com a descrição detalhada dos processos
cognitivos, bem como a apresentação sistemática dos resultados analisados a
quem é de direito. O objetivo do relatório é registrar todo o processo de
avaliação, fornecendo aos profissionais um auxílio diagnóstico e, principalmente,
um direcionamento nas tomadas de decisões.
Na prática, é notório o aumento de médicos, psicopedagogos,
fonoaudiólogos, fisioterapeutas e outros profissionais que solicitam esta
13
avaliação como critério essencial para a administração de medicação ou a
estruturação de propostas interventivas mais adequadas.
A avaliação também é solicitada anteriormente e posteriormente a
procedimentos neurocirúrgicos, garantindo se a atuação médica prejudicou ou
evoluiu as funções cognitivas do paciente.
Assim, um laudo bem elaborado favorece a compreensão do caso clínico
e garante possíveis ajustes necessários. Exemplo disso é o uso indiscriminado
de algumas medicações para regulação intencional. Há alguns anos, os médicos
têm solicitado o parecer neuropsicológico antes de ministrarem quaisquer
remédios. É de praxe a discussão do caso dentro da equipe frente à necessidade
ou não dos remédios.
Cada vez mais, os testes psicológicos vêm sendo utilizados como recurso
indispensável no cenário infantil. Dificuldades no desempenho escolar, seguidas
de déficits na adaptação e socialização estão entre os casos mais frequentes, e
já podem ser mensurados e analisados detalhadamente de modo quantitativo.
Por isso, é importante que os pais fiquem atentos. Caso surjam sinais e
sintomas, é preciso procurar um especialista da área para que possam receber
as orientações necessárias.
A Neuropsicologia vem sendo cada dia mais procurada, além de ser muito
indicada por médicos, psicopedagogos e especialistas, de um modo geral, na
área da Educação. Por meio de ferramentas previamente testadas e
investigadas por cientistas do comportamento e da cognição é possível contribuir
para o desenvolvimento das crianças assistidas.
Como já informado, as alterações no desenvolvimento, por exemplo,
ocupam um lugar privilegiado no ranking das indicações, principalmente no que
diz respeito ao TEA.
Afinal, quanto mais precoce for o diagnóstico e mais imediata for a
intervenção, maiores são as chances da criança desenvolver um repertório
comportamental e cognitivo dentro do previsto para as crianças da mesma idade.
14
Além do mais, conhecer a criança favorece orientação apropriada aos pais e aos
educadores.
A neuropsicologia é uma área que utiliza conhecimentos de disciplinas
acadêmicas que configuram as áreas das neurociências, como a neurofisiologia,
neuroanatomia, neurofarmacologia e neuroquímica, e de atuação profissional do
psicólogo, como psicologia clínica, psicopatologia, psicologia experimental,
psicometria e psicologia cognitiva. A neuropsicologia é o estudo das relações
entre o cérebro e o comportamento, que investiga as alterações cognitivas e
comportamentais que se associam às lesões cerebrais (Hamdan, Pereira, &
Riechi, 2011).
A neuropsicologia é uma especialidade dentro do campo mais amplo da
psicologia clínica. Dentro desta especialidade, por meio de utilização de testes e
entrevistas, pode ser realizada a avaliação neuropsicológica, que estuda a
repercussão de disfunções cerebrais sobre o comportamento e a cognição,
fornecendo informações sobre o potencial cognitivo global, qualificando a
natureza funcional de déficits observados através da análise comparativa e
qualitativa dos resultados obtidos, permitindo a comparação com indivíduos da
mesma idade, sexo e escolaridade (Lesak, 2012).
A avaliação neuropsicológica (AN) é uma avaliação sistemática das
relações entre cérebro e comportamento. Para Zillmer, Spiers e Culbertson
(2008), a avaliação neuropsicológica é um método empírico de exame que se
aplica a vários contextos, consiste então, em um exame sensível para avaliar a
integridade do funcionamento cerebral, explicita dificuldades psicológicas ou
neurológicas. Do mesmo modo é considerado um exame útil nos serviços de
diagnóstico e em ambientes de pesquisa clínica quando estão envolvidos
aspectos cognitivos e comportamentais. A AN agrega fatores etiológicos de
desempenho, fatores emocionais e comportamentais, que servem como base
para o desenvolvimento de intervenções eficazes. Torna-se indispensável o
profissional possuir um bom conhecimento sobre o desenvolvimento e o
funcionamento típico e atípico do cérebro e os padrões de desempenho
cognitivos envolvidos nos diversos tipos de disfunção cerebral. O conhecimento
inclui condições sutis como a deficiência de aprendizagem clássica (por
exemplo, discalculia e dislexia), além de dificuldades de aprendizagem não
verbais, que são conhecidos por terem desenvolvimento com etiologias
15
neurológicas (Zeffiro & Eden, 2000). Demais condições são as síndromes
genéticas, defeitos estruturais do sistema nervoso central, exposição tóxicas,
como a exposição ao chumbo, ou outras lesões do cérebro que pode ocorrer
durante ou depois da gravidez e do parto, além do funcionamento
comportamental/emocional.
Este tipo de avaliação, sistematicamente, avalia todos os domínios
cerebrais, com uma compreensão de como estes domínios se relacionam entre
si e influenciam nas habilidades da criança, principalmente os efeitos na área
escolar. Estes domínios incluem: capacidade cognitiva, atenção, aprendizagem,
memória, linguagem, capacidade visuoespacial, capacidade sensório-motora,
funções executivas e processos sociais e emocionais (Silver et al., 2006;
Oliveira, Calvette, Gindri, & Pagliarin, 2015).
16
Flynn (1984, 2000), que encontrou aumento de 20 pontos percentuais sobre uma
geração em alguns testes não verbais, como o Raven. Descobriu-se que a
tendência geral para o aumento do QI, ao longo do tempo é estimado em 0.3
pontos de QI por ano e pode ser estimado de 3 a 9 pontos por década. Tem sido
observado ganhos, em instrumentos neuropsicológicos, como evidências de que
o efeito Flynn é mais pronunciado no raciocínio fluído, ou seja, em instrumentos
não verbais, do que em instrumentos de raciocínio cristalizado, os verbais
(Kanaya, Ceci, & Scullin, 2003a; Kanaya, Scullin, & Ceci, 2003b). Além desses
aspectos, deve ser verificada a experiência do aplicador com avaliação,
aspectos culturais, escolaridade, língua, além de demais fatores desconhecidos
(Neisser et al., 1996; Strauss, Sherman, & Spreen, 2006).
A escolha dos instrumentos utilizados dependerá das dificuldades
apresentadas pela criança, como sintomas e qualquer suspeita de diagnóstico
anterior. O avaliador utiliza as informações obtidas na avaliação, o conhecimento
da doença em questão, o conhecimento da anatomia e funções cerebrais, além
de conhecimento de aspectos do desenvolvimento evolutivo para prover uma
interpretação eficaz dos resultados observados nos instrumentos. Nas
avaliações neuropsicológicas, por exemplo, são incluídos testes de inteligência,
que podem ser usados para fazer interpretações sobre o raciocínio fluído da
criança (Silver et al., 2006; Rodrigues, Zanotto, & Argimon, 2015).
17
com subtestes, que são divididos em quatro índices, Compreensão
Verbal, Organização Perceptual, Memória Operacional e Velocidade
de Processamento. Pode ser utilizado na faixa etária de 6 anos até
16 anos e 11 meses (Wechsler, 2013).
O SON-R 2½ - 7 [a] avalia a habilidade cognitiva geral através de
quatro subtestes. Os subtestes fornecem escore para Escala de
Execução, que mensura as habilidades visuomotoras e espaciais. A
faixa etária é de 2½ a 7 anos e 11 meses, pode ser utilizada uma
versão reduzida que vai até os 7 anos de idade.
É composto por quatro subtestes: Mosaicos (teste de execução com
enfoque espacial e visuomotor), Categorias (teste de raciocínio), Situações
(teste de raciocínio) e Padrões (teste de execução com enfoque espacial e
visuomotor) (Laros, Tellegen, Jesus, & Camilo, 2015).
Escala de Maturidade Mental Colúmbia (CMMS), fornece uma
estimativa da capacidade de raciocínio geral de crianças, indicando
qual o nível de maturidade mental correspondente. Indicado para
crianças com paralisia cerebral, dificuldade na fala ou perda de
audição e suspeita de deficiência mental. A faixa etária que pode ser
utilizada em crianças com idade entre 3 anos e 6 meses a 9 anos e
11 meses (Alves & Duarte, 2001).
Teste de Inteligência Geral Não Verbal (TIG-NV), mensura
desempenhos característicos dos testes de inteligência não verbais,
mas se distingue, por permitir uma análise neuropsicológica. Mostra
tipos de raciocínios e os processamentos envolvidos na sua
execução, além das classificações do potencial intelectual.
Diferentes estímulos possibilitam a análise das funções cerebrais,
que se combinam e se obtém tipos de desempenho, como, por
exemplo, raciocínio espacial, matemático, memória de
reconhecimento e outros. A faixa etária é de 10 anos de idade em
diante (Tosi, 2008).
Atenção: É uma função que possibilita a pessoa a manter o foco e
as informações no cérebro durante a realização de tarefas,
ignorando demais distratores menos relevantes que possam
interferir na finalização do trabalho.
18
A atenção seletiva refere- -se à capacidade de prestar atenção em alguns
estímulos e concomitantemente ignorar outros. Atenção dividida refere-se à
distribuição de recursos disponíveis na atenção para coordenar a performance
de mais de uma atividade simultaneamente (Sternberg, 2008). A atenção é
considerada uma base para que diferentes processos cognitivos possam
funcionar de forma adequada. Os principais instrumentos para avaliar a
atençãosão: Subteste Dígitos Ordem Direta, Códigos, Aritmética do WISC-IV
(Wechsler, 2013) e D2-Teste de Atenção Concentrada (Cambraia, 2003,
Argimon, Silva, & Wendt, 2015). Também pode ser utilizada Bateria Psicológica
para Avaliação da Atenção (BPA), que tem como objetivo avaliar a capacidade
geral de atenção, além avaliar de forma individualizada tipos de atenção
específicos: atenção concentrada (AC); atenção dividida (AD) e atenção
alternada (AA) (Rueda, 2013).
Funções Executivas: É um conjunto de habilidades cognitivas e
processos críticos do comportamento e pensamento complexo. Tais
funções complexas avaliam organização, planejamento e utilização de
estratégias de resolução de problemas, que inclui o automonitoramento,
analisar e modular o comportamento, de acordo com a demanda. As
funções executivas abrangem adaptação a situações novas, que vão
além do conhecimento adquirido, que desenvolvem novas formas e
recursos de pensar, cumprindo uma função importante na capacidade
de aprender novos conteúdos (Lopes, Ziemniczak, Nascimento, &
Argimon, 2015).
Os instrumentos mais utilizados para avaliação das funções executivas
em crianças são: Compreensão de provérbios para abstração-raciocínio; Torre
de Londres, que avalia planejamento; Controled Word test, que avalia a fluência
verbal; Five-Point Test, para fluência de desenhos; Trail Making Test, que avalia
a flexibilidade mental; Wisconsin Card Sorting Test (WCST) para avaliar a
flexibilidade mental, formação de conceitos, solução de problemas, abstração-
raciocínio; Tarefas Go-No go, que avaliam modulação-inibição de resposta;
Stroop, que mede modulaçãoinibição de resposta; Teste de Raven, que avalia
abstração-raciocínio; California Verbal Learning Test-Children’s Version (CVLT-
C), que mensura a aprendizagem verbal e memória. Além destes, na literatura
são mencionadas as Escalas de Inteligência Wechsler, como Sequência de
19
Números e Letras (SNL), Aritmética (AR), Semelhanças (SM) e Dígitos Ordem
Inversa (Hamdan & Pereira, 2009; Tirapu-Ustárroz, Muñoz- -Céspedes,
Pelegrín-Valero, & Albéniz-Ferreras, 2005).
Memória: compõe componentes verbais, visuais e auditivos que se
referem ao registro inicial, consolidação, evocação e reconhecimento
das informações. O funcionamento adequado da memória depende da
atenção e das funções executivas, que são fundamentais no processo
de aprendizagem, principalmente de novos conteúdos. Memória
auditiva: refere-se à quantidade de informações, recebida via auditiva,
que a pessoa consegue guardar concomitantemente. A amplitude da
memória auditiva compreende reter e recordar o maior número possível
de elementos auditivos, depois de haver escutado. Memória visual:
refere-se à quantidade de informação recebida por via visual, que a
pessoa é capaz de manter simultaneamente. A amplitude da memória
visual envolve reter e recordar o maior número possível de elementos
visuais, depois de ter visualizado. Memória de trabalho (memória
operacional): compreende um sistema de memória, no qual se formam
associações entre metas, estímulos ambientais e conhecimento
adquirido. Trata-se de um espaço na qual se mantém a informação
enquanto está sendo processada (Paterno & Eusebio, S/D).
Os instrumentos mais utilizados para avaliação da memória são: Rey
Verbal Learnig Test (RAVLT) (Rey, 1958; Malloy-Diniz, Lasmar, Gazinelli,
Fuentes, & Salgado, 2007), Memória Lógica I e II da Escala de Memória
Revisada (WMS), Teste de Reprodução Visual I e II (Wechsler, 2009), Subteste
Dígitos WISC-IV (Wechsler, 2013) e Figuras Complexas de Rey (Oliveira &
Rigoni, 2010).
Capacidade Visuoespacial, visuoperceptiva e visual: avalia uma
variedade de habilidades relacionadas à percepção e ao
processamento das informações visuoespaciais. São comportamentos
que exigem habilidades específicas, que incluem a atenção
discriminativovisual, raciocínio espacial, a integração visuomotora e a
capacidade construtiva. De forma independente das habilidades
visuoespaciais do avaliado, a performance em instrumentos que
avaliam este domínio é, muitas vezes, altamente dependente de
20
atenção e funções executivas (Lezak, Howieson, Bigler, & Tranel,
2012).
Um dos instrumentos mais utilizados são as Figuras Complexas de Rey
(Oliveira & Rigoni, 2010), que exigem a cópia de uma figura complexa, Subteste
Cubos WISC-IV, Completar Figuras, Quebra Cabeças do WISC-III (Wechsler,
2013).
Funções Sensório-Motoras: Referem-se à capacidade de controlar
movimentos manuais de forma a torná-los mais precisos e rápidos.
Trata-se de uma função essencial para a realização de atividades de
desenho e escrita. Mesmo que muitos componentes do controle motor
aconteçam automaticamente, alguns deles dependem de iniciar,
planejar, implementar e manter a manutenção dos movimentos que
integram as funções executivas. Pode ser avaliado através dos
subtestes, Procurar Símbolos, Códigos e Cancelamento do WISC=IV.
Linguagem: Pode ser identificada pela fala, escrita ou por meio de
sinais. São habilidades que têm como propósito final tornar efetiva a
comunicação entre as pessoas. A avaliação pode ser realizada
analisando a compreensão, fluência verbal, conhecimento de palavras
e associações semântica e fonêmica. A linguagem pode ser avaliada
pela fala impressiva, decodificação e expressão falada, que são
aspectos básicos para avaliar (Sternberg, 2008). Avalia-se através dos
instrumentos: Boston Naming Test, com os subtestes Vocabulário,
Compreensão, Informação do WISC-IV e WISC-III (Wechsler, 2013).
Habilidades Acadêmicas: Facilidades e dificuldades nas disciplinas
escolares. São habilidades que decorrem do funcionamento adequado
e integrado das habilidades anteriormente descritas, das mais simples
às mais complexas. Dificuldades cognitivas podem interferir no
rendimento em diferentes disciplinas como Ciências, História,
Português, Matemática, que podem desmotivar o aprendizado da
criança. Para este domínio são examinados componentes primários
das habilidades de raciocínio aritmético, leitura e de escrita.
Os instrumentos mais utilizados são: Subteste Aritmética, Vocabulário,
Informação (do WISC-IV, WISC-III). Teste de Desempenho Escolar (TDE) (Stein,
21
1994), objetiva avaliar capacidades essenciais para o desempenho escolar, mais
especificamente escrita, aritmética e leitura.
Personalidade/habilidades sociais, emocionais e comportamentais:
avaliação do comportamento e da personalidade pode-se fazer através
da observação direta do comportamento, do contato com profissionais
e familiares envolvidos com a criança. Os instrumentos que podem ser
utilizados são Teste da Casa, da Árvore e da Pessoa (HTP) (Buck,
2003), Escala do Comportamento Infantil para Professor EACI-P, CAT
(Children Apperception Test), (L. Bellak & Bellak, 1981, Marques,
Tardivo, Silva, &Tosi, 2013), atividades de desenho, além da Escala de
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Versão para
professores tem como objetivo avaliar desatenção e a hiperatividade
(sintomas primários), problemas de aprendizagem e comportamento
antissocial (sintomas secundários). A Escala tem por foco, monitorar os
efeitos das intervenções (psicológica, psicopedagógico e
medicamentosa) na escola. Também revela diferenças individuais dos
comportamentos de crianças que manifestam TDAH antes, durante e
após o tratamento. Pode ser utilizada para a faixa etária de 6 a 17 anos
de idade (Benczik, 2000). Pirâmides Coloridas de Pfister avaliam
aspectos da personalidade, destacando especialmente a dinâmica
afetiva e indicadores relativos a habilidades cognitivas da criança.
Trata-se de um método expressivo, que pode ser utilizado dos 6 a 14
anos de idade (Villemor-Amaral, 2014).
8 - INFLUÊNCIAS HISTÓRICOS DA
NEUROPSICOLOGIA CLÍNICA E PEDIÁTRICA
Para entender e apreciar a especialidade emergente da neuropsicologia
escolar, é preciso rever as influências da neuropsicologia clínica adulta,
neuropsicologia pediátrica, psicologia escolar e educação em geral. Vários
autores revisaram a história da neuropsicologia clínica de adultos. Rourke (1982)
identificou os três primeiros estágios históricos da neuropsicologia clínica como:
22
o estágio de abordagem de teste único;
o estágio da bateria de teste/ especificação da lesão;
o estágio do perfil funcional. Este autor rotulou as tendências atuais
em neuropsicologia como o estágio integrador e preditivo. Esses
estágios são analisados a seguir.
23
OC). Uma versão do teste também foi desenvolvida para crianças de cinco a oito
anos, chamada de Bateria de Testes Neuropsicológicos Reitan-Indiana (RINTB).
Reitan e Wolfson (1992) apresentam uma descrição ampliada dos testes HRNTB
e RINTB e Teeter e Semrud-Clikeman (1997) oferecem uma extensa revisão dos
estudos de pesquisa clínica HRNTB e RINTB. Teeter e Semrud-Clikeman (1997)
apontaram que os testes de Halstead-Reitan para crianças devem ser usados
com cautela.
As preocupações com os testes HRNTB e RINTB incluem: normas
insuficientes, covariância com inteligência, incapacidade de distinguir condições
psiquiátricas de doenças neurológicas em crianças e incapacidade dos testes
para localizar disfunção ou prever recuperação após insulto ou dano cerebral
(LECKLITER; FORSTER, 1994).
Vários pesquisadores compilaram conjuntos de dados normativos das
baterias HRNTB e RINTB para crianças desde suas publicações iniciais
(BARON, 2004). Em vez de usar os testes originais de Halstead-Reitan para
crianças com base em uma coleção sintetizada de dados normativos que podem
ir até 35 anos de idade, recomenda-se que os profissionais avaliem a bateria
sensório-motor de Dean-Woodcock (DWSMB). A DWSMB incorporou muitos dos
testes de HalsteadReitan quando padronizou os testes usando uma amostra
nacional de base ampla. O DWSMB também foi conormatizado com os Testes
Woodcock-Johnson III de Capacidade Cognitiva (WOODCOCK; MCGREW;
MATHER, 2001).
24
mostra que há poucas evidências sólidas para muitas das recomendações que
os profissionais da área fazem consistentemente.
Sabendo sobre a necessidade de intervenções baseadas em evidências,
por onde o campo deveria prosseguir? Perguntas precisam ser respondidas,
como "O que constitui uma intervenção baseada em evidências?". Kratochwill e
Shernoff (2004) sugeriram que uma intervenção poderia ser considerada
baseada em evidências se sua aplicação à prática fosse claramente especificada
e se demonstrasse eficácia quando implementada na prática.
Várias forçastarefa conjuntas em todas as organizações profissionais têm
trabalhado no estabelecimento de diretrizes para pesquisa de práticas baseadas
em evidências. Esta linha de pesquisa é crucial para a credibilidade da psicologia
escolar e da especialidade da neuropsicologia escolar. Isso faz com que fique
no passado a prática de avaliar uma criança apenas para uma classificação
educacional. Claramente, os legisladores, os educadores, os professores e os
pais exigem uma avaliação que oriente a intervenção. Todavia, há desafios para
a realização de pesquisas baseadas em evidências nas escolas. A obtenção de
permissão para realizar pesquisas aplicadas nas escolas tornou-se cada vez
mais difícil, porque administradores, professores e pais se preocupam com o
tempo da tarefa.
Voltemos à analogia do bolo mais uma última vez. Ao considerarmos o
bolo análogo ao conceito de "organicidade" ou função/disfunção cerebral, os
neuropsicólogos no atual estágio integrativo e preditivo continuariam a defender
a realização de múltiplas amostras de comportamento (ou seja, múltiplas sondas
de palito no bolo). No entanto, nos estágios passados, todas as amostras de
comportamento foram baseadas em amostras de teste comportamental. Isso é
o que realmente veríamos no palito de dente depois que estivesse preso no bolo.
Atualmente, na prática clínica e na pesquisa, existe uma abordagem
interdisciplinar para a compreensão do funcionamento do cérebro com técnicas
de imagem funcional integrada, avanços no desenvolvimento do teste e inclusão
de análises qualitativas do desempenho do teste. Essas múltiplas amostras de
qualquer constructo, tal como a "organicidade", também devem se esforçar para
serem ecologicamente válidas e ter uma boa validade preditiva. Isto é, temos
que aferir a temperatura da sonda do bolo (ou seja, o palito de dente) e analisar
o conteúdo aderindo ao palito de dentes usando a tecnologia e outros testes que
25
fornecem informações qualitativas, químicas, fisiológicas e funcionais. Os futuros
pesquisadores continuarão a avançar a base de conhecimento em todas as
disciplinas, como educação, psicologia (incluindo neuropsicologia),
psicologiaescolar, neuroanatomia funcional, bioquímica, eletrofisiológica,
genética e assim por diante. O conhecimento obtido desses campos remodelará
as formas em que exercemos a nossa profissão.
As influências da neuropsicologia clínica e neuropsicologia pediátrica na
especialidade emergente da neuropsicologia escolar foram revisadas. Na
sequência, iremos mudar o foco para a história da neuropsicologia escolar.
26
explicar as recomendações, lendo o laudo frase por frase e explicando cada uma
delas para que, caso tenham dúvidas, possam ser esclarecidas. Essa entrevista
de devolução dos resultados deve equipar os pais na interpretação do laudo
neuropsicológico. Solicitar autorização dos pais/responsáveis para o psicólogo
fazer a devolução para a equipe educacional da criança e outros profissionais
que já estejam envolvidos com ela. Esta etapa permite que o os profissionais
possam entender o funcionamento da criança para auxiliar na busca de
estratégias de atendimento e/ou estimulação e/ou reabilitação neuropsicológica.
Além disso, ao fornecer uma cópia do parecer para a escola, para os
casos de inclusão escolar,evidenciando forças e fraquezas identificadas, essa
beneficiará a criança principalmente para o trabalho em conjunto. A devolutiva é
realizada aproximadamente duas semanas após o término da avaliação, para o
avaliador ter condições de analisar o caso e elaborar o laudo. No momento da
devolutiva, é entregue o laudo com a exposição de todos os achados e
informações sobre o funcionamento cognitivo da criança, assim como aspectos
emocionais e estilo de aprendizagem, seus pontos fortes e fracos. Trata-se de
um momento que visa contribuir para enriquecer a percepção dos pais para com
seu filho e contribuir para os procedimentos médicos, além de oferecer
sugestões para o desenvolvimento e reabilitação das áreas que se encontram
comprometidas. A seguir, é apresentado um caso com identificação fictícia, mas
com informações que podem ser úteis na esquematização de uma situação de
avaliação.
27
fatorial (FLANAGAN; HARRISON, 2005). Medidas de múltiplas habilidades
cognitivas foram analisadas fatorialmente, e os fatores resultantes foram
rotulados como constructos neurocognitivos (por exemplo: velocidade de
processamento, memória de curto prazo, processamento auditivo etc.).
O modelo CHC fornece a base para testes como a Bateria de Habilidades
Cognitivas Woodcock-JohnsonIII – WJ-III, a Escala de Inteligência Stanford-
Binet, quinta edição, e o K-ABC-II, que pode ser interpretado usando a teoria
luriana ou modelo CHC e as Escalas de Habilidade Diferencial-II – DAS-II,
segunda edição.
O terceiro modelo de avaliação que orienta a prática contemporânea é a
abordagem de avaliação do processo. Esta abordagem foi denominada
Abordagem de Processos de Boston em 1986 e tem sido chamada de
Abordagem de testagem de hipóteses de Boston (TEETER; SEMRUD-
CLIKEMAN, 1997). A abordagem agora é genericamente chamada de
abordagem de avaliação de processo e foi incorporada em testes como o SAC,
a Escala de Inteligência Wechsler para crianças – WISC-III – como instrumento
de processo, o Sistema de Funções Executivas Delis-Kaplan – D-KEFS e o
NEPSY-II. Todos esses testes têm uma coisa em comum: os escores para
comportamentos qualitativos são observados durante a administração do teste,
além dos escores quantitativos tradicionais. A abordagem de avaliação do
processo auxilia os neuropsicólogos escolares na determinação das estratégias
que uma criança está usando durante o desempenho de uma determinada
tarefa. Os editores de testes e os autores dos testes anteriores estabeleceram
parâmetros base para comportamentos qualitativos comuns. Por exemplo, uma
criança que pede repetições é um comportamento qualitativo comum que
fornece informações sobre as habilidades receptivas linguísticas da criança ou
de atenção seletiva. Os parâmetros básicos refletem a frequência de crianças
da mesma idade que exibem um comportamento qualitativo particular.
É necessário fazer uma distinção importante entre essas três abordagens.
A abordagem luriana é a única das três baseada em uma teoria
neuropsicológica, enquanto a abordagem CHC é baseada em uma classificação
estatística dos fatores de desempenho humano e a abordagem de avaliação do
processo é mais um modelo interpretativo baseado em análise comportamental
qualitativa e testagem de limites. Para as três abordagens de avaliação, é
28
necessária uma pesquisa básica que correlaciona a função cerebral com o que
os testes estão mensurando. Por exemplo, será que um teste que é projetado
para mensurar a transferência deinformações da memória imediata para
armazenagem de memória de longo prazo realmente ativa a área do hipocampo
do cérebro, que é o local neuroanatômico para tais atividades neurocognitivas?
Atualmente, técnicas de imageamento cerebral, como a ressonância magnética
funcional (IRMf), já começaram a auxiliar pesquisadores e clínicos a validar
avaliações comportamentais e podem se tornar uma medida direta da eficácia
da intervenção (FLETCHER, 2008). Simos et al. (2002) já demonstraram como
a ativação cerebral específica do disléxico foi normalizada após a remediação
usando fMRI. Essas abordagens mantêm a promessa de uma avaliação mais
precisa e de uma intervenção direcionada ao futuro, mas onde isso deixa
aqueles na prática atual? Na sequência, veremos o modelo de resposta à
intervenção que está sendo amplamente promovido em círculos educacionais,
bem como o modelo de Testes das Hipóteses Cognitivas (CHT) e um modelo
proposto que combina os dois juntos.
29
pessoas que apresentam algum tipo de dificuldade na vida diária, no trabalho ou
estudos e nas relações sociais.
Entre o público infantil uma das dificuldades mais notadas é o baixo
rendimento escolar. Déficits de desempenho escolar são recorrentemente
encontrados nos transtornos do neurodesenvolvimento, sendo esta
característica muito sensível nessas condições, porém ela é pouco específica.
Isso significa que o desempenho escolar é facilmente afetado por diferentes
fatores (alterações cognitivas, comportamentais, sociais e família) e sinaliza que
há algo de errado no desenvolvimento da criança (sensibilidade). Todavia,
somente com essa informação não é possível decifrar as causas dos problemas
(pouca especificidade) e é neste ponto que a AN entra como uma aliada da
família e da escola. Através dos seus procedimentos e métodos de descrição
minuciosa das dificuldades é possível identificar a origem das dificuldades da
criança e propor estratégias de intervenção, sendo isso documentado em um
laudo.
Para ficar mais claro, é preciso compreender o que é uma avaliação
neuropsicológica e quais são seus objetivos. Este é um procedimento que
procura investigar detalhadamente as funções cognitivas, emocionais e sociais
da criança. Todas essas características são influenciadas por fatores genéticos,
familiares (incluindo práticas parentais), escolares e culturais e por isso precisam
ser bem interpretadas. Com isso, o objetivo da avaliação é traçar o perfil
neuropsicológico do indivíduo (potencialidades e fraquezas) com o intuito de
identificar as causas dos problemas observados e assim direcionar a criança
para intervenções adequadas.
Vamos ver um exemplo para compreender melhor o benefício da AN.
Imagine duas crianças com a mesma idade (8 anos) e demanda: dificuldade de
aprendizagem da leitura. Após a investigação neuropsicológica, o laudo da
primeira criança sintetiza que há um déficit de processamento fonológico, sendo
uma das principais dificuldades observadas a associação do grafema (letra) com
o fonema (som) e sugerindo de um quadro de Dislexia do Desenvolvimento.
Já a segunda criança o laudo descreve boas habilidades fonológicas, mas
há presença de desatenção e impulsividade. Apesar das mesmas dificuldades
(leitura) o manejo é diferente porque a origem do problema é outro.
30
No caso da primeira criança a intervenção adequada seria a estimulação
cognitiva do processamento fonológico juntamente com a utilização do método
fônico para alfabetização. Já a segunda criança também se beneficiaria de uma
intervenção Psicopedagógica, mas como as dificuldades escolares são um
desfecho secundário dos déficits atencionais e de autorregulação, ela precisaria
de outras intervenções. Seriam necessárias intervenções comportamentais que
atuassem sobre os déficits primários.
Nosso exemplo é bem simplista, mas o objetivo é apontar como um laudo
de avaliação neuropsicológica pode ser útil para escola e também para todos
que trabalham com o indivíduo avaliado. Quando as crianças apresentam
problemas de aprendizagem, mais importante que identificá-lo é entender suas
origens para que assim sejam utilizadas práticas de intervenção mais
personalizadas e baseada em evidências científicas.
Por fim, lembre-se que a AN não se resume à aplicação de testes e
escalas. Ela é muito mais ampla e global e pressupõe o trabalho em equipe. A
escola, família e profissionais são aliados nessa empreitada que tem como
objetivo final trabalhar em conjunto em prol da criança com algum tipo de
transtorno ou dificuldade.
Texto escrito por:
Annelise Júlio-Costa e Andressa M. Antunes
31
qualidade da investigação e igualmente auxiliar a comunicação dos resultados
para outros profissionais, que ajudarão a produzir uma melhor compreensão da
relação entre o cérebro e o comportamento e melhorar a prática da
neuropsicologia clínica.
Desta maneira, de acordo com o que foi pesquisado nos aspectos teóricos
e empíricos, fundamentalmente este tipo de avaliação é realizada através de
testes, no entanto, ainda existe uma carência de instrumentos neuropsicológicos
no Brasil. Sendo, então, necessário desenvolver novos instrumentos ou adaptar
instrumentos internacionais, visto que a mera tradução pode comprometer a
manutenção da qualidade dos instrumentos assim como interferências quanto à
população estudada. Também a importância dos profissionais que atuam com a
área estar sempre se atualizando, procurando conhecer profundamente os
instrumentos que irão utilizar.
E, por fim, a AN é a avaliação de escolha, quando pais, cuidadores,
educadores e técnicos da saúde querem responder não só o que está
acontecendo academicamente, mas o porquê, o que exige do profissional
elevado grau de conhecimento de neuroanatomia, fisiopatologia e psicologia.
Neste sentido, o especialista em neuropsicologia infantil distingue as
particularidades tanto neurológicas quanto os fatores comportamentais e
emocionais, que podem afetar o funcionamento escolar. Além de fornecer uma
explicação dos pontos fortes e fracos atuais, relacionadas com o cérebro da
criança e oferecer recomendações adequadas. Assim, os profissionais e
cuidadores, ao escolherem este tipo de avaliação, irão mais eficazmente atender
às necessidades da criança, além de tomar uma decisão mais adequada de
intervenção.
32
10. BIBLIOGRAFIA
Lefèvre, B. H. F. W. (2004). Avaliação Neuropsicológica Infantil. In: V. M.,
Andrade, Santos, F. H. S., & Bueno, O. F. A. Neuropsicologia Hoje (pp. 249-264).
São Paulo: Artes Médicas.
Portellano, J. A. Neuropsicología Infantil. Madrid: Editorial Sintesis.
WICKSTROM, K. F.; WITT, J. C. Resistance within school-based
consultation. In: ZINS, J. E.; KRATOCHWILL, T. R.; ELLIOTT, S. N. (Eds.).
Handbook of consultation services for children: applications in educational and
clinical settings. San Francisco: Jossey-Bass, 1993.
WILKINSON, R. T.; ALLISON, S. Age and simple reaction time: Decade
differences for 5, 325 subjects. Journal of Gerontology: Psychological Sciences,
v. 44, p. 29-35, 1989.
WOODCOCK, R. W. Theoretical foundations of the WJ-R measures of
cognitive ability. Journal of Psychoeducational Assessment, v. 8, p. 231-258,
1990.
WOODCOCK, R. W.; MCGREW, K. S.; MATHER, N. Woodcock-Johnson
III Tests of Cognitive Abilities. Itasca, IL: Riverside Publishing, 2001.
YABUTA, N. H.; SAWATARI, A.; CALLAWAY, E. M. Two functional
channels from primary visual cortex to dorsal visual cortical areas. Science, v.
292, p. 297- 300, 2001. 297
YOUSEM, D. M. et al. Gender effects on odor-stimulated functional
magnetic resonance imaging. Brain Research, v. 818, p. 480-487, 1999.
YSSELDYKE, J. E. et al. Classroom teachers’ attributions for students
exhibiting different behaviors. Minneapolis, MN: Minneapolis Institute for
Research on Learning Disabilities, 1983. YU, P. et al. Cortical surface shape
analysis based on spherical wavelets. IEEE Trans Med Imaging, v. 26, n. 4, p.
582-597, 2007.
ZAFEIRIOU, D. I. Primitive reflexes and postural reactions in the
neurodevelopmental examination. Pediatric Neurology, v. 31, n. 1, p. 1-8, 2004.
ZEKI, S. A Vision of the Brain. Oxford: Basil Blackwell, 1993.
ZINS, J. E.; MURPHY, J. J. Consultation with professional peers: a
national survey of the practices of school psychologists. Journal of Educational
and Psychological Consultation, v. 17, p. 175-184, 1996.
33
ZONFRILLO M. R.; PENN J. V.; LEONARD, H. L. Pediatric psychotropic
polypharmacy. Psychiatry, v. 8, p. 14-19. 2005.
ZORZETTO, Ricardo. Recontagem de neurônios põe em xeque ideias da
neurociência. Pesquisa FAPESP, v. 192, p. 18-23, 2012. Disponível em: . Acesso
em: 25 dez. 2017.
34