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Texto

A atividade foi motivada pelo conceito de psicanálise, apresentado na apostila do módulo 1, e pelo
fragmento do texto:

“Conceitualmente o termo psicanálise é utilizado para se referir a um constructo teórico baseado nos
preceitos da hermenêutica (campo de estudo, que tem por referência, a explicação que compreende os
sentidos implícitos, ou seja, possui um caráter investigativo que busca a interpretação do que está além do
objeto). Nesse sentido, a psicanálise pode ser considerada um campo teórico e um método de investigação,
que culminam em uma prática clínica dotada de técnicas específicas.”

Título

Psicanálise: corpo de ideias ou modo de tratamento?

A psicanálise tem o seu conceito embricado em um conjunto de teorias psicológicas e técnicas terapêuticas
originárias na obra e nas teorias de Sigmund Freud. O eixo central da psicanálise é a crença de que todas as
pessoas possuem pensamentos, sentimentos, desejos e memórias inconscientes. Além disso, psicanálise
também sugere que: o comportamento de uma pessoa é influenciado por seus impulsos inconscientes;
problemas emocionais e psicológicos, como depressão e ansiedade, muitas vezes estão enraizados em
conflitos entre a mente consciente e inconsciente; o desenvolvimento da personalidade é fortemente
influenciado pelos eventos da primeira infância; as pessoas usam mecanismos de defesa para se proteger
das informações contidas no inconsciente.

O progresso nas disciplinas relacionadas com a mente tem sido notável. Dentro do pensamento
psicanalítico freudiano encontramos – nele e em seus contemporâneos – uma profusão de conceitos e uma
abundância de estratégias e técnicas clínicas, apesar de que nem todas são mutuamente compatíveis.
Todas estas reflexões teóricas seladas sobre o aparelho psíquico podem ser responsáveis por uma certa
dificuldade em identificar fatores curativos no tratamento psicanalítico, diretamente relacionado às
limitações da base clínica da investigação psicanalítica. As teorias e terapias psicanalíticas se esforçam para
compreender a fenomenologia única de uma pessoa. Ao fazer isso, o significado e os valores que dão
significado às nossas vidas são honrados e apoiados.

De fato, quando pesquisamos melhor a base de literatura, identificamos que o impacto da psicanálise é
observado além da sintomatologia, em medidas de funcionamento do trabalho e de reduções nos custos de
saúde. Em termos populacionais e considerando a saúde pública, este ponto de análise justificaria a técnica
como um importante método de tratamento coadjuvante da terapêutica em saúde mental. Um exemplo
mais prático e concreto pode ser o relato do estudo de Bateman & Fonagy (1999), onde indivíduos com
diagnóstico de transtorno de personalidade limítrofe foram encaminhados para um tratamento de hospital-
dia de orientação psicanalítica ou tratamento usual. Pacientes que realizaram o acompanhamento
psicanalítico obtiveram ganhos consideráveis de melhora, em relação aos demais e essas diferenças não
foram apenas mantidas após a alta, mas aumentaram ao longo do tempo. A relação custo-benefício desses
tratamentos é pode ser impressionante, uma vez que consideramos aqui a melhora do paciente e a
economia do sistema de saúde.

A psicanálise sugere que, com a evolução do tratamento, as pessoas podem experimentar a catarse e obter
uma liberação sobre seu estado mental atual, trazendo o conteúdo do inconsciente para a
consciência. Durante este processo, o indivíduo pode encontrar alívio para o sofrimento psíquico. Uma
catarse é uma liberação emocional. De acordo com a teoria psicanalítica, essa liberação emocional está
ligada a uma necessidade de aliviar os conflitos inconscientes. Por exemplo, sentir estresse por causa de
uma situação relacionada ao trabalho pode causar sentimento de frustração e tensão.
Estresse, ansiedade, medo, raiva e trauma podem causar sentimentos intensos e difíceis de se desenvolver
ao longo do tempo. Em certo ponto, parece que há tanta emoção e turbulência que se torna opressor.  As
pessoas podem até sentir que vão "explodir", a menos que encontrem uma maneira de liberar essa emoção
reprimida. Em vez de expressar esses sentimentos de maneira inadequada, o indivíduo pode liberá-los de
outra modo, como por meio de atividade física ou outra atividade para aliviar o estresse. A catarse pode
ajudar as pessoas a lidar com emoções difíceis ou dolorosas. Essa liberação emocional também pode ser
uma ferramenta terapêutica importante da psicanálise, para lidar com o medo, a depressão e a ansiedade.

Os relatos dos resultados do tratamento psicanalítico são expressos além da dimensão das perturbações e
das doenças da mente. Também conseguimos identificar repercussão física da terapia, como relatado por
Moran et al. (1991), quando comparou dois grupos de crianças diabéticas grave, com repetidas internações
hospitalares. As crianças que foram submetidas ao tratamento de psicoterapia psicanalítica, obtiveram
melhor eficácia do controle diabético, se mantendo em controle, sem recorrência, em um
acompanhamento de 1 ano. Diferentemente, o grupo de crianças que recebeu apenas o tratamento
médico convencional retornaram ao nível de necessidade de controle metabólico em hospitalização, em
um período de 3 meses após a alta. A psicoterapia, neste caso, foi coadjuvante ao tratamento médico e
contribuiu para melhores resultados, durante um período maior.

As terapias psicanalíticas não são soluções rápidas, de modo a permitir a facilitação dos processos de
amadurecimento. Como um sistema para compreender a doença mental ou o sofrimento humano – físico
ou não, os modelos psicanalíticos fornecem uma perspectiva compassiva e normalizadora. Embora os
sintomas sejam expressões de sofrimento, eles também representam o melhor esforço de uma pessoa em
reter qualquer sanidade que essa pessoa tenha alcançado. O objetivo do tratamento psicanalítico é ajudar
o paciente a obter uma melhor qualidade de vida, não simplesmente reduzir os sintomas ditos como
problemáticos. Este objetivo pode ser alcançado reduzindo a sintomatologia indesejada até certo ponto,
mas também pode incluir a aceitação de si mesmo e que alguns dos problemas da vida precisam ser
sobrevividos em vez de consertados.

Bateman A. Fonagy P. The effectiveness of partial hospitalization in the treatment of borderline personality
disorder - a randomised controlled trial. Am J Psychiatry. 1999;156:1563–1569.

Moran G, Fonagy P, Kurtz A, Bolton A, Brook C. A controlled study of psychoanalytic treatment of brittle
diabetes. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 1991;30(6):926-935.

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