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O uso da respiração controlada ou focalizada

Como indica Ferreira, Brandão e Menezes (2005, p. 269):


Respirar constitui-se em uma função básica para os seres humanos, e
sua simplicidade é uma das principais fontes onde estão ancorados
os potenciais de cura dos exercícios transpessoais. Habitualmente,
não estamos conscientes das 17.000 mil vezes que, em regra,
respiramos por dia. E como a respiração é uma via de mão dupla do
sistema emocional, influenciando e sendo influenciada pelas
emoções, tornamo-nos cada vez mais alienados de nós mesmos. 
Grof (2020) tem aconselhado o uso da respiração como caminho de acesso ao
inconsciente, em especial em níveis perinatais e transpessoais. Atualmente, sua
recomendação é que a respiração deve ser feita de forma atenta, não sendo necessário um
aumento drástico do ritmo respiratório através da hiperventilação.
Quando se lida com a respiração como caminho de cura, deve-se conhecer os
efeitos deste processo sobre a fisiologia do corpo. Dentre os mais destacados está a
síndrome da hiperventilação com seus famosos espasmos carpopedais, que deve ser
adequadamente manejada de forma a trazer benefícios para o crescimento do paciente.
A respiração também afeta os processos psicofísicos favorecendo catarse ou ab-
reação, que consiste em tremores, contrações, movimentos corporais dramáticos, tosse,
vômito, emissão de sons vocálicos e outras manifestações, bem como favorece a
emergência das tensões profundas que encontram espaço de expressão através das
contrações duradouras e espasmos profundos. Em Grof (1997a, p. 167): [...] ao manter esta
tensão muscular contínua por longos períodos de tempo, o organismo está consumindo
uma enorme quantidade de energia contida e, ao conseguir se livrar dessas tensões, estará
simplificando seu funcionamento.
Nossos hábitos respiratórios errôneos e restritos causam um acúmulo de ar viciado
nos nossos pulmões, provocando toxidade semelhante a águas estagnadas nos pântanos. A
tradição yogue enfatiza a respiração como alimento não só do corpo, mas também do
espírito. Nossas dimensões sutis são nutridas pela energia vital denominada prana, em
sânscrito. Quando respiramos, além do oxigênio (que vai nutrir as células do corpo físico,
como o alimento que ingerimos) absorvemos também o referido prana que é energia vital
presente em tudo que está vivo. Aprender a respirar corretamente não somente
desintoxica o organismo como também pode manejar o poder interior, o cuidado da mente
e das emoções. 
Morningstar (2012) apresenta uma enciclopédia da teoria e prática da respiração
contemporânea que contempla os principais trabalhos para o uso da respiração do ponto
de vista Klínico. Nas tradições orientais e amefricanas existem várias técnicas com diversos
objetivos que foram adaptadas para o uso no campo transpessoal. Ferreira, Brandão e
Menezes (2005, p.) indicam que
Em nossa prática, comprovamos ser a respiração consciente uma via
direta de acesso ao mundo interior do indivíduo tornando-o presente
em si mesmo, mobilizando conteúdos do seu inconsciente profundo
e ampliando a consciência para outras realidades. Além de ampliar o
foco, há técnicas respiratórias que reequilibram energeticamente a
pessoa após seu contato com experiências traumáticas, fazendo-a
recobrar o poder sobre si mesma.
Assim, a respiração surge como suporte para experiências de expansão de
consciência em vários níveis, desde apoio ao enfrentamento sombra-persona até acesso a
vivências além das fronteiras do si. O simples fato de conduzir a atenção ao processo
respiratório permite uma maior presentificação da consciência, favorecendo um espaço
para o manejo das emoções que emergem do processo terapêutico.

Cleide, 25 anos, chegou a terapia indicada pelo clínico


geral com um diagnóstico de “transtorno do pânico”.
O medo de morrer a qualquer momento durante os
acessos de pânico eram intensos e a levavam a
internamentos continuados. Como recurso de apoio
inicial, o terapeuta fazia uso da respiração controlada
como uma forma de ajudá-la a manejar o medo da
perda do controle. A aprendizagem de se oferecer
lugar seguro através da respiração possibilitou uma
redução dos acessos de pânico no início da terapia.
Depois de três meses explorando a história de seu
sintoma e mais segura e estável quanto as crises,
Cleide pôde experienciar processos de morte e
renascimento no qual foi utilizada a hiperventilação
associada a músicas ativadoras no intuito de explorar
a dinâmica perinatal presente no processo de pânico.
Assim, a respiração tanto pode ter uma função
tranquilizadora e redutora de ansiedade no início do
trabalho, como pode ser manejada para ativar
processos catárticos de desbloqueio de aspectos
biográficos, perinatais e transpessoais. (Arquivos dos
autores)

O Terapeuta deve ser como uma fonte: nem forte a ponto de afogar o seu
cliente e nem fraca a ponto de matar-lhe por desitratação. (Lika Queiroz
-Dinâmica Energética do Psiquismo). 

O terapeuta centrado no SER: Exercício básico para refinar a percepção na relação


clínica.

Algumas estratégias básicas

1. Ter o Corpo como estratégia: 


 Atividades direcionadas para que cada um entre em contato com o seu
corpo, 

 reconhecendo nele a sede de impregnações, marcas e condicionamentos


herdados do meio e do passado (campos morfogenéticos),

 mover-se e poder “entregar-se” ao fluxo da Vida que realiza todo o


metabolismo de transformação.  

2. Ser essencial como fonte para autodesenvolvimento: recursos que ajudam o


sujeito a fazer o caminho de busca de si mesmo. 
2. Vivências de silêncio investigativo e transformador: escuta do silêncio e
percepção flutuante.  

Como podemos operacionalizar esse trabalho de centramento no SER?

Comecar pelo enraizamento:  Enraizar é trazer a atenção para o corpo e para a


nossa presença no aqui-e-agora.  A palavra para enraizamento em inglês é grounding. De
acordo com Basso e Pustilnik podemos nos referir a três tipos de enraizamento.  

O primeiro é o Grounding externo: Ao nos conectar com a terra, recebemos a


energia que vem dela, que chega ao Hara (plexo solar) e isso traz Vitalidade,
despertando nosso 1º. Triangulo ascendente, nossa firmeza, nossa força de vida.  

O segundo é o Grouding interno: olhar para si e fazer a conexão com o principio


informacional, com o Ser. Traz a Presença e o sentir-se no “colo de Deus”. 

O terceiro é o Grounding ocular: Possibilita o Vínculo. Nesse olhar o terapeuta


pede permissão ao cliente para entrar em seu campo energético e trabalhar com ele.

Foque no processo da sua respiração. Lowen & Bodella, cada um em seu tempo
e considerando seus sistemas terapêuticos, concordam que a respiração é ferramenta
imprescindível para o desbloqueio de conteúdos aprisionados no corpo. Para a DEP, a
respiração é também chave de acesso aos impedimentos e às potencialidades.

Comece respirando no baixo ventre(Respiração em pé): Ativação Tan Tien(2,5


cm abaixo do umbigo):  nesse espaço temos o impulso para o movimento. Leve em
seguida, a respiração para o centro Hara (plexo solar): naquela localidade, temos
acesso à percepção dos bloqueios ou do fluxo energético.

Enquanto estiver respirando, seja sentado ou em pé, procure manter-se


sustentada no seu próprio eixo. Atenção para que o corpo não entre em colapso. Ou
para que não fique excessivamente rígido. Muito cuidado para que enquanto respira
conscientemente, você não acabe por conectar-se com um ciclo vicioso. Este trabalho
não é para que você re-encene  e perca-se nos dramas infantis. Por essão razão tenha
inequívoca a certeza de que: Por-se de pé é sustentar a si mesmo. É alinhar-se com
propósito superior.

Quando estiver mais habituada a esse processo, passe a dar trabalhar o seu
processo atencional. Chamamos atenção flutuante a uma atenção generalizada, que
procura se apercebar do todo e das partes sem se fixar em nenhum elemento
isoladamente. O foco na respiração intercostal é a estratégia para que esse
aprendizado seja eficiente. Ele aciona o sistema nervoso parassimpático.  Ocorre a
expansão da percepção consciente pela ativação do fluxo de energia na medula. Há o
relaxamento dos anéis energéticos em que se encontram os bloqueios.  O sujeito sai
da posição “ataque/defesa”.  Facilita contato com emoções e sensações  de conteúdos
passados  e/ou novas perspectivas.

Trabalhadas as etapas anteriores, agora é possível passar para um novo cultivo


de escuta. De acordo com Basso e Pustilnik, podemos denominá-la de escuta do
silêncio. Quando respiramos no espaço vazio, respiramos em um espaço de
indeterminação. É como se estivéssemos em um mar de possibilidades. Não estamos
presos aos nossos pais, ao controle em relação ao nosso cônjuge, aos determinismos
sociais... Esse é um espaço de vida, porque é um espaço de criação. Por outro lado, ao
nos fixarmos na ordem que paulatinamente se enrijece e obriga o organismo a operar
sempre a partir de uma referencial moldada, estamos na forma que ao invés de
informar, deforma, põe em fôrma, gera morte, porque é uma constante repetição,
uma compulsão a reproduzir o mesmo uma vez que o psiquismo( Ego em particular)
não suporta perder a sensação de estabilidade, de constância. 

Esses procedimentos ultrapassam a mera preparação para um atendimento,


não são técnicas para realização de uma boa sessão simplesmente. São
recomendações para a maestria que precisamos adquirir, de nos colocarmos à escuta
e em comunhão com o Ser que somos.

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