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2012
I
CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO - FAE
2012
II
ANDREA SOARES PAES DE MENEZES
Dissertação defendida e aprovada em: 17/02/2012, pela Banca Examinadora constituída pelos
professores:
______________________________________________________________________________
III
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha família, aos meus queridos pais José e Neusa e ao meu amado filho
João Felipe.
IV
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me permitir ter forças para chegar ao fim deste Mestrado.
Agradeço ao meu pai pela vida e por todas as oportunidades para a realização de meus sonhos.
Agradeço à minha mãe pela presença constante em minha vida e pelo carinho dedicado ao meu
filho enquanto eu assistia às aulas do Mestrado.
Agradeço ao meu filho João Felipe, com o qual compartilho a oportunidade constante de
aprendizado.
Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr.Luciel Henrique de Oliveira, pela dedicação que teve ao
longo do curso e pelos ensinamentos transmitidos.
Agradeço aos gestores das entidades participantes pelo apoio durante a realização da pesquisa de
campo.
V
“Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito
está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga,
mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?”
Fernando Pessoa
VI
RESUMO
VII
ABSTRACT
Considering the harsh criticism to public health in relation to the shortage of professionals, scrap
junk equipment, the gap amounts paid to hospitals by the Health System – SUS table, this study
seeks to understand how the philanthropic health care works. These mercy and charity hospitals of
the eastern region of Sao Paulo state, finance their spending in order to maintain financial balance,
since the SUS service unprofitable and, answering to the philanthropy law, these entities provide at
least 60% of its services to the SUS. The paper presents an overview of a regional performance by
studying the liquidity ratios of ten organizations in the eastern area of Sao Paulo state, besides
describing comprehensively the forms of funding and some indices of two entities subject of the
multiple case study, presenting the managers view from the realization of two focus groups. The
study shows the difficulties of managing philanthropic health care whose main activity is provision
of service to SUS, addressing, in general, financial and political aspects that involve the health
management, besides environmental and social implications to the quality of life of the people
served by the system.
VIII
SUMÁRIO
1. Introdução....................................................................................................................................01
1.1. Objetivos.............................................................................................................................03
2. Referencial Teórico......................................................................................................................06
3. Procedimentos Metodológicos.....................................................................................................50
4. Resultados e Discussões..............................................................................................................60
IX
4.3. Análise de liquidez de dez entidades filantrópicas de assistência à saúde da região leste
paulista, comparando os índices das Entidades que têm Operadora de Saúde própria com as
Entidades que não dispõem desse recurso............................................................................69
4.6. Implicações para o desenvolvimento regional com foco no ambiental, econômico e social e para
a qualidade de vida da população atendida pelo SUS.........................................................100
5. Considerações Finais....................................................................................................................103
6. Referências Bibliográficas............................................................................................................108
X
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Índice de reajuste anual autorizado para planos de saúde individuais ou familiares
contratados a partir de janeiro de 1999...............................................................................................46
TABELA 7: Índice de liquidez corrente. Estudo comparativo entre Entidades sem Operadora de
Saúde própria e Entidades com Operadora de Saúde própria............................................................69
TABELA 8: Índice de liquidez geral. Estudo comparativo entre Entidades sem Operadora de Saúde
própria e Entidades com Operadora de Saúde própria.......................................................................70
TABELA 18: Tabela comparativa entre dados da Entidade “H” e Entidade “C” . Exercício de
2010..................................................................................................................................................81
XI
TABELA 19: Déficit financeiro do SUS (2010)...............................................................................81
TABELA 20: Diferença de valores entre a tabela SUS e os valores pagos por convênios e
particulares......................................................................................................................................82
TABELA 21: Índice de liquidez corrente e geral das Entidades “C” e “H”....................................88
XII
LISTA DE QUADROS
XIII
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES
FEHOSP – Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo
XIV
ILC – Índice de Liquidez Corrente
RN – Resolução Normativa
XV
ANEXOS
XVI
APÊNDICES
XVII
1 INTRODUÇÃO
A saúde pública no Brasil sempre foi alvo de duras críticas, tanto da imprensa nacional quanto da
população em geral, principalmente quando se trata da escassez de profissionais, do
sucateamento dos equipamentos e da falta de estoque de medicamentos em hospitais públicos e
privados conveniados ao Sistema Único de Saúde.
Para Andreola (2009), a defasagem dos valores pagos aos hospitais pela tabela SUS, adicionada
aos altos custos de investimento e manutenção da estrutura hospitalar e a constante atualização
tecnológica exigida pela área da saúde, caracterizam os principais motivos da situação em que se
encontram grande parte dos hospitais públicos e conveniados do país.
O ambiente em que as organizações estão inseridas apresenta-se cada vez mais complexo e a
necessidade de informações precisas para auxiliar na tomada de decisão gerencial é cada vez
maior. Os hospitais estão cada vez mais sujeitos à competitividade do mercado e à necessidade de
prestar serviços de qualidade. Como possuem uma estrutura organizacional grande e complexa, é
necessário que exista uma gestão financeira eficiente, bem como o controle dos custos dessas
organizações.
Para Souza et al (2009), a ineficácia da gestão financeira dos hospitais, associada à defasada
remuneração do SUS (Sistema Único de Saúde), agravam o problema das organizações
hospitalares. Observa-se que o endividamento dos hospitais aumenta cada vez mais, levando à
escassez de investimentos em manutenção de equipamentos, em capacitação profissional e em
1
desenvolvimento da gestão da organização. Assim, torna-se importante um acompanhamento do
desempenho econômico-financeiro dos hospitais para que possam ser tomadas decisões que
melhorem a situação financeira dessas organizações.
Os hospitais filantrópicos devem destinar pelo menos 60% de seus leitos aos usuários do SUS em
contrapartida à isenção de impostos de que gozam. Mesmo usufruindo de isenções de impostos, o
atendimento aos pacientes SUS é deficitário.
Desta forma, ao se propor a realização de uma pesquisa de campo com a finalidade de estudar a
gestão dos recursos dessas entidades frente ao déficit ocasionado pelo atendimento ao SUS,
surgiu à seguinte questão norteadora deste projeto:
2
Os resultados deste estudo poderão contribuir com a gestão desses hospitais a fim de mostrar um
panorama regional da situação financeira desse segmento, além de demonstrar as formas de
financiamento de duas entidades (sendo que uma delas possui uma operadora de saúde própria e
outra não), podendo assim servir de modelo para que possa ser feita uma replicagem desse estudo
em outras entidades ou outras regiões.
1.1 Objetivos
c) Levantar o déficit financeiro ocasionado pelo atendimento ao SUS nessas duas entidades no
exercício de 2010;
3
d) Entender a influência financeira de uma Operadora de Saúde própria sobre as entidades
filantrópicas de assistência à saúde;
Para a realização desta pesquisa, foi estruturado um referencial teórico compreendendo a história
da saúde pública no Brasil, além da caracterização das principais legislações vigentes nas
entidades filantrópicas de assistência à saúde. O capítulo 1 apresenta a introdução geral da
pesquisa, compreendendo a questão da pesquisa, a justificativa e o objetivo da pesquisa bem
como o detalhamento de como o trabalho completo está organizado.
O capítulo 2 apresenta o referencial teórico que está dividido em oito partes. As três primeiras
colocam de forma histórica o desenvolvimento da saúde, desde os primórdios da instituição
hospitalar ao desenvolvimento da saúde pública no Brasil, que culminou na formação do SUS. A
quarta parte apresenta a importância das entidades filantrópicas de assistência à saúde no Brasil e
os requisitos para a obtenção do certificado de filantropia. A quinta parte trata do
desenvolvimento sustentável, suas origens e conceituações e a relação com o desenvolvimento
econômico. A sexta parte aborda o tema qualidade de vida. A sétima parte mostra a importância
do índice de liquidez e a sustentabilidade no acompanhamento do desempenho das empresas. Na
oitava e última parte um pouco da história da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e o
impacto das normativas sobre os planos de saúde.
4
tipo de pesquisa, os procedimentos aplicados, os instrumentos para coleta de dados, análise dos
dados e, por fim, um detalhamento das etapas da pesquisa.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
A fim de ilustrar os temas abordados no referencial teórico, foi desenvolvido o quadro 1 que
sintetiza os principais tópicos e autores referenciados.
Buarque (1999)
Desenvolvimento Conceitos de desenvolvimento sustentável Diegues (1992)
Econômico e o tripé Elkington (2001)
da Sustentabilidade Estratégias de desenvolvimento econômico local Rigoletto (2010)
Henriques (2007)
Sacks (2007)
Minayo et al (2000)
Qualidade de vida Conceitos de qualidade de vida Seidl (2004)
Jesus e Souza (2007)
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2.1 A instituição hospitalar
b) Hospitais sem fins lucrativos (filantrópicos e beneficentes, como: santas casas, hospitais
de caridade, entre outros), mesmo privados, oferecem seus serviços preferencialmente aos
pacientes do SUS, atendendo, também, outras clientelas diferenciadas.
Os hospitais privados, por atenderem uma clientela diferenciada, devem ser mais lucrativos e os
hospitais públicos, menos lucrativos, por atenderem a pacientes do SUS.
7
Essas questões são relevantes para analisar o cenário do setor hospitalar, visto que uma das
estratégias mais discutidas em encontros científicos de administração e gestão da saúde é a busca
de receitas alternativas. Dessa forma, Faingluz (2001) aponta a necessidade crescente de uma
gestão competente das instituições hospitalares, onde a competência dos gestores deve estar
alinhada com a busca de resultados.
De acordo com a etimologia, a palavra hospital vem do latim ―hospitale‖, substantivo derivado
de hospes (hóspede, viajante), significando também o que hospeda. Também proveniente do
latim, hospitium, significa lugar onde se hospedam pessoas.
Segundo Faingluz (2001) existem registros da existência de hospitais nos mercados da Babilônia
e no antigo Egito.
Naquela época, hospital era apenas um depósito em que se amontoavam pessoas doentes, com
uma função mais social do que terapêutica, visto que os conhecimentos médicos eram restritos. O
conhecimento sobre doenças limitava-se ao conhecimento dos doentes.
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O imperador Constantino, ao abraçar a fé cristã, mandou destruir os templos de Esculápio (335
D.C.) e construiu, em Constantinopla, um hospital para estrangeiros e peregrinos em demanda da
Terra Santa.
O hospital foi inicialmente estabelecido como instituição filantrópica e agência de auxílio aos
pobres e, simultaneamente, caracterizado como instituição religiosa e espiritual.
Em 1772, após o incêndio do - Hotel de Dieu - hospital em Paris, com capacidade para 1.100
leitos individuais e 600 coletivos, foi reformulado todo planejamento hospitalar da época. Um
novo projeto de concepção física e administrativa das instituições hospitalares, isolando salas,
reduzindo leitos, melhorando a condição ambiental (aeração) e autorizando a edificação de dois
pavimentos no caso de escassez de terreno (três andares em casos especiais), foi criado pela
Academia de Ciências de Paris. (FAINGLUZ, 2001 p.45)
O primeiro hospital da América foi o Jesus Nazareno, construído por Fernão Cortez em 1524, no
México. (MADEIRA, 2007)
Em 1485, de acordo com Faingluz (2001), o Papa Inocêncio VII, autorizou a integração de alguns
pequenos hospitais existentes nas cidades portuguesas em um único hospital. Nascia então, em
1494, o Hospital Real de São José, cujos cuidados e manutenção ficaram sob responsabilidade da
Irmandade de Nossa Senhora da Misericórdia. Esse modelo se espalhou por todo o país, e por
9
determinação de Dom João VI, todos os hospitais deveriam obedecer aos regulamentos e às
disposições da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa.
Mesmo antes de receber o seu primeiro governador-geral, a Terra de Santa Cruz viu surgir uma
obra de Misericórdia, erguida em Santos, por Braz Cubas - o primeiro hospital do Brasil.
A Santa Casa foi inaugurada em 1º de novembro de 1543, sob a proteção de Santa Isabel e tendo
Braz Cubas como seu primeiro provedor, o de maior duração, que permaneceu por 49 anos no
cargo, até sua morte em 1592.
Considerada a mais bem aparelhada da região, a Santa Casa de Santos vem investindo
continuamente na aquisição de equipamentos de alta tecnologia, os quais são colocados à
disposição dos serviços especializados, para um atendimento diferenciado aos pacientes.
10
A Santa Casa de Santos foi declarada ―Hospital de Ensino‖ em novembro de 2007. O hospital
conta com mais de três mil funcionários e uma infraestrutura de primeiro mundo, além dos três
corpos de voluntários, que desempenham funções de fundamental importância para o hospital e
para os pacientes.
A primeira doação voluntária que consta do testamento da senhora Isabel Fernandes em 1599,
dizia: ―Deixo à misericórdia mil réis‖, doados a Santa Casa de Santos. (SILVA, 2010 p. 1305)
As Santas Casas atuaram como principais prestadoras de serviços hospitalares no país, desde o
período colonial, passando pelo Império, República Velha e estendendo-se até o Estado Novo, na
primeira metade do século XX. (ANS, 2010)
Logo após, Olinda construiu seu primeiro hospital e, no final do século XVI, foi criada a Santa
Casa de São Paulo. (GÓES, 2004. p.11)
A influência recebida fez com que proliferassem instituições hospitalares, inspiradas pelo espírito
caritativo do território brasileiro.
11
A complexidade da organização do trabalho nesse espaço hospitalar passou a exigir profissionais
qualificados para a sua administração. Assim, no início do século XX, surgiram os primeiros
cursos de formação de administradores hospitalares na Universidade de São Paulo, na Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, na Universidade de Ribeirão Preto e em diversas outras
instituições de ensino do País. O hospital começa a ser gerido como uma empresa, com técnicas
de gestão empresarial como: planejamento, avaliação de resultados, criação de carreiras
profissionais, profissionalização da função de administrador hospitalar e a racionalização, ainda
que de maneira incipiente.
A Constituição Brasileira de 1988 estabelece (Art. 2º, parágrafo 1º) a saúde como um direito
fundamental do ser humano, e um dever do Estado a sua garantia. Como estratégia para se
conseguir alcançar esse objetivo vem-se implantando como modelo público o Sistema Único de
Saúde.
- prevenção;
- terapêutica;
- reabilitação;
- ensino e pesquisa.
12
- ausência de planejamento na hierarquização do sistema de saúde em âmbito federal, estadual e
municipal.
O setor hospitalar filantrópico no Brasil é atualmente responsável por cerca de 1/3 dos leitos
existentes no país (DATASUS, 2010). É caracterizado como importante prestador de serviços ao
Sistema Único de Saúde, assim como à saúde suplementar. De acordo com Lima et al (2004), o
setor requer ser melhor reconhecido, tendo em vista a formulação mais justa de políticas
governamentais, objetivando a sua manutenção, desenvolvimento e maior integração ao sistema
de saúde brasileiro, nas esferas pública e privada.
Não há como isentar o hospital da relação de semelhança com uma empresa. O hospital possui os
mesmos problemas de receitas e despesas, ordem legal, administrativa, trabalhista, além da
sistemática global do empresariado capitalista, ou seja, a busca pela maximização do superávit
financeiro, indispensável para acompanhar a evolução tecnológica médica e ampliar ou manter
seu capital estrutural.
O objeto social da empresa hospitalar é formado com base na idéia de que os membros
constitutivos têm sobre o ramo de especialização a ser explorado. Dessa forma, ao se constituir
13
uma instituição filantrópica com a finalidade de atuar no campo hospitalar, é bastante provável
que o objeto social envolvido seja proveniente da necessidade que um grupo de pessoas observou
como carência de uma comunidade.
Os hospitais devem ser tratados como organizações profissionais e os resultados das organizações
profissionais não são facilmente medidos ou padronizados. As dificuldades de mensuração têm
sido contornadas, parcialmente, para efeitos gerenciais, usando-se indicadores de desempenho.
De acordo com Almeida (2005) a história da saúde pública brasileira tem início no começo do
século XX, com Emílio Ribas em São Paulo e Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro.
―Gente que aderiu às teorias de Pasteur, abandonando as que atribuíam aos miasmas ou
ao clima as origens das doenças, para buscar um agente causador das enfermidades e
suas formas de transmissão. Entre estes se achavam Emílio Ribas, Adolfo Lutz, Vital
Brasil e Oswaldo Cruz, cujas histórias começam a se cruzar em 1889, por ocasião do
aparecimento de uma estranha doença na cidade portuária de Santos, no litoral paulista.‖
(PONTE, 2010 p. 56)
Cientistas tinham como meta introduzir a teoria bacteriológica, considerada mais adequada para
organizar a intervenção no campo da saúde na escola pasteuriana. Para Merhy e Queiroz (1992),
tanto a saúde como a doença passaram a ser vistas como um processo coletivo, resultado da
agressão externa que o corpo biológico sofria de um meio insalubre.
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De acordo com Ponte (2010), o Brasil chega ao fim do século XIX com graves problemas de
saúde pública, com uma imagem de lugar extremamente insalubre, colocando a vida em risco
constante, pelas precárias condições sanitárias de seus centros urbanos e das epidemias que
costumavam atingir sua população.
De acordo com Merhy e Queiroz (1992), institutos de pesquisa, laboratórios e serviços sanitários
foram organizados como braços auxiliares.
Nesta época, a fim de proporcionar saúde ao povo, buscava-se no Brasil uma ação social para
sanear a zona rural, permitindo, ao mesmo tempo, a ocupação do interior do país, considerada
vital para a integração nacional. A chamada Liga do Saneamento criticava o excessivo urbanismo
e regionalismo da política de saúde então vigente, dando origem ao conceito de "consciência
sanitária", em que se questionava como o meio insalubre atingia os indivíduos.
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―O período é fortemente marcado pela ação de sanitaristas que, ao lado de
intelectuais como Euclides da Cunha, causaram grande impacto no imaginário social
brasileiro. As campanhas sanitárias de Oswaldo Cruz, no início do século; as imagens de
um sertanejo forte, capaz de resistir à natureza hostil e ao avanço das tropas do exército
republicano, trazidas por Euclides da Cunha quando da publicação de Os sertões, em
1902; os relatórios de expedições científicas ao interior do país, realizadas pelo Instituto
Oswaldo Cruz entre 1912 e 1917; e a ação da Liga Pró-Saneamento do Brasil, criada em
1918 sob a direção do médico sanitarista Belisário Penna, tiveram grande divulgação e
repercutiram de forma significativa na intelectualidade brasileira.‖ (PONTE, 2010 p. 74)
Ponte (2010) relata que vários acordos internacionais foram firmados e muitas instituições
criadas ao longo do século XX obedecendo à lógica campanhista. Entre as instituições criadas no
Brasil podemos citar: o Serviço de Malária do Nordeste, criado em 1939 e transformado
posteriormente em Serviço Nacional de Malária (1941); o Serviço Nacional de Febre Amarela, de
1940; o Serviço Especial de Saúde Pública, criado em 1942, mais tarde transformado na
Fundação SESP; a Campanha de Erradicação da Varíola, criada em 1966 como parte de um
programa mundial da Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Pan- Americana
de Saúde (OPAS) na década de 1960, e a Superintendência de Campanhas de Saúde Pública
(SUCAM), criada em 1969.
Medicina e saúde pública eram entendidas como campos distintos; a primeira para curar através
da clínica, patologia e terapêutica, e a segunda para prevenir doenças, prolongar e promover a
saúde através da higiene e da educação sanitária. O setor privado visto pela perspectiva da
caridade deveria ser controlado pelo serviço público. O modelo tecnoassistencial desta proposta
centrou-se na construção de serviços regionais permanentes de saúde pública (os centros e postos
de saúde) comandados por especialistas, em tempo integral.
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―Somente a partir de 1923, com a promulgação da Lei Eloy Chaves, vemos proliferar as
Caixas de Aposentadoria e Pensões. Vinculadas a grandes empresas, destinavam-se a
fornecer serviços de assistência médica e de seguridade social aos trabalhadores e seus
dependentes, em troca de contribuições mensais efetuadas pelos empregados e
empregadores. Inicialmente restritas ao âmbito das empresas, as Caixas, [ ]
transformadas nos Institutos de Aposentadoria e Pensões, ampliaram seu raio de ação,
organizando-se em torno de categorias profissionais, e passaram a ter uma abrangência
bem maior até serem unificadas com a criação do Instituto Nacional de Previdência
Social, em 1966.‖ (PONTE 2010, p. 118)
Na década de 1940, foi implementada a FSESP - Fundação Serviço de Saúde Pública, um serviço
que permitiu a ocupação de regiões importantes para a produção de borracha e minérios.
Em 1948, a exemplo do que ocorria em outros estados, a Fundação SESP tentou influenciar a
constituição da Secretaria Estadual de Saúde no estado de São Paulo. (MERHY E QUEIROZ,
1993)
No final da década de 1940 já era evidente uma inversão dos gastos públicos, favorecendo a
assistência médica em relação à saúde pública. Nos anos 60, a assistência médica e promoção da
saúde pública se expande no interior de um modelo institucional que mostrava ações pontuais e
desordenadas, incapazes de conter a miséria e as péssimas condições de saúde da população
brasileira.
17
Foi criado em 1953 o Ministério da Saúde e, em 1956, o Departamento de Endemias Rurais, que
herdou um conjunto de projetos realizados nos departamentos verticalizados específicos, como o
da malária, existente desde 1939.
De acordo com Merhy e Queiroz (1993), neste período se propagava intensamente a ideia de que
a doença e a miséria só seriam controladas com o desenvolvimento econômico. No campo da
saúde propriamente dito, propunha-se um padrão tecnológico mais racional, de menor custo,
integrado em seus vários campos de atuação e sem a influência das leis de mercado. Esta
perspectiva rompia com a divisão entre assistência médica e saúde pública, subordinando aquela
à lógica desta. Para isso, previa-se a implantação de serviços permanentes (contendo ações
médicas e sanitárias), municipalizados e controlados pelo Estado de acordo com uma hierarquia
de complexidade tecnológica. No sentido de normatizar as ações, racionalizar as atividades e
ajudar os municípios que ainda não tivessem condições de organizar seus próprios serviços,
deveria ocorrer uma ação federal.
A assistência médica, que até 1945, permaneceu acessível a poucos trabalhadores, proporcionada
apenas quando houvesse disponibilidade de recursos, mediante contribuição suplementar, amplia
seus serviços, com a criação do Serviço de Assistência Domiciliar de Urgência da Previdência
Social (SAMDU), em 1949, e do Serviço de Assistência Médica da Previdência Social (SAMPS),
em 1955, custeados pelos saldos orçamentários dos institutos, mas controlados pelo Ministério do
Trabalho.
Discutiu-se no Brasil, pela primeira vez, um modelo tecnoassistencial baseado na integração das
ações individuais e coletivas de saúde, elaborados de acordo com um planejamento
governamental, cujo ponto de apoio seria constituído a partir de serviços básicos de saúde
permanentes.
18
Em 1964, estas propostas foram derrotadas, colaborando no surgimento da estruturação de um
modelo com centro na assistência médica comercializada, que passava pelo setor previdenciário,
sendo a saúde pública reduzida a um braço auxiliar. Houve uma completa separação entre o
campo da assistência médica e o da saúde pública, com grandes investimentos no primeiro e o
sucateamento do segundo. Somente em algumas regiões renasceram experiências no campo da
saúde pública que merecem alguma atenção, como as ações médicossanitárias, em alguns estados
e o "campanhismo", em nível federal.
Para Ponte (2010), a unificação previdenciária de 1966, que cria o Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS), através da junção de todos os IAPs, é que torna possível a inclusão
dos trabalhadores rurais, por meio do Prorural/Funrural (1971), dos empregados domésticos (lei
5.899, de 11/12/1972) e dos trabalhadores autônomos (lei 5.890, de 8/6/1973).
19
atuaram como difusores da reforma sanitária e conseguiram estabelecer a formulação teórica
sobre as principais questões ligadas à saúde, colocando em prática a estratégia de se inserir nos
espaços institucionais e intervir nas decisões parlamentares. (PONTE, 2010)
20
Com a implementação do SUDS, ocorreu uma transferência das responsabilidades de gestão dos
serviços de saúde para o nível estadual, permitindo uma descentralização administrativa. Com a
implementação do SUS, através da nova Constituição Federal, ocorreu a descentralização, em
nível municipal, da gestão dos serviços públicos de saúde.
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado para que toda a população passasse a ter atendimento
igualitário, com cuidados e promoção da saúde. Até a criação do SUS, a saúde não era
considerada um direito social. Havia até então três categorias em que os brasileiros eram
divididos: quem estivesse em melhor situação financeira tinha garantidos os serviços de saúde
privados; os trabalhadores com carteira assinada (CTPS) tinham direito a saúde pública por serem
segurados pela previdência social; e, por fim, os pobres e desempregados, que não tinham direito
algum. O projeto do Sistema Único de Saúde teve como pretensão a materialização de ações
promocionais, assim como a prevenção e assistência à saúde de todos os cidadãos brasileiros.
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O sistema foi viabilizado depois das lutas de um grande número de pessoas interessadas em
melhorar a condição precária da saúde pública no Brasil. O empenho desprendido foi tão eficaz,
que a Constituição Federal de 1988 determinou ser dever do Estado garantir saúde a toda a
população. Assim, foi criado então o Sistema Único de Saúde. Em 1990, o Congresso Nacional
aprovou a Lei Orgânica da Saúde (Lei n. º 8.080, de 19 de setembro de 1990), que detalha o
funcionamento do Sistema.
Hospitais e laboratórios se integram à rede SUS, seguindo suas normas, princípios e diretrizes.
Nos municípios sem infra-estrutura e ausência dos serviços públicos, o SUS deve contratar
serviços hospitalares e laboratoriais, cuidando para que não falte assistência às pessoas.
O princípio constitucional que trata da universalidade dos direitos dos cidadãos, da inclusão
social, é o que garante o amparo de todas as pessoas, no direito a ter assistência nas unidades
públicas de saúde, sob a responsabilidade do SUS. É uma questão de garantia da igualdade, tendo
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em vista que, no sistema de saúde anterior, apenas cidadãos trabalhadores com carteira assinada
tinham direito à assistência médica pelo estado.
Gestores são as entidades encarregadas de fazer com que o SUS seja implantado e
funcione adequadamente dentro das diretrizes doutrinárias, da lógica organizacional e
seja operacionalizado dentro dos princípios anteriormente citados. Haverá gestores nas
três esferas de governo, sendo em nível federal o Ministério da Saúde, em nível estadual
a Secretaria Municipal de Saúde e em nível municipal a Secretaria Municipal da Saúde.
(Campos, 2007 pag. 52)
O maior problema encontrado pelos municípios é o aporte financeiro, nem sempre suficiente para
uma boa gestão e assim não conseguem executar todos os serviços de saúde. Faltam acima de
tudo, recursos humanos, pessoas capacitadas, recursos financeiros e equipamentos suficientes a
um bom atendimento. A regra é equipamento sucateado. Por isso, torna-se necessário que o
serviço seja descentralizado, criando regionais, onde a organização do atendimento seja viável e
direta, sem duplicações e desperdício de tempo e dinheiro, conseguindo eficiência em todos os
tipos de atendimento.
―O SUS é uma das reformas com maior resultado dos últimos 20 anos. Os seus
números de atendimento são fantásticos, incomparáveis mundo afora. Somando tudo,
desde a retirada de uma unha encravada a uma cirurgia cardíaca, foram mais de 4 bilhões
de procedimentos em 2009. Mas há um gargalo hoje e ele se chama financiamento. O
dinheiro é insuficiente.‖ (PERONDI, 2011 pag.11)
Está na Constituição de 1988, a definição de como agir quando o setor público não conseguir dar
o atendimento necessário, e assim, devem ser contratados, como complemento, serviços privados,
sendo obrigatório o seguimento das regras do SUS e do serviço público. A prioridade é sempre
das entidades filantrópicas sem fins lucrativos. (PONTE, 2010, p. 245)
O alicerce legal do SUS é formado por três documentos que são princípios e diretrizes do Sistema
Único de Saúde (SUS) e constituem as bases para o funcionamento e organização do sistema de
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saúde em nosso país. São estes os documentos legais que expressam os elementos essenciais de
sua organização:
1 – a Constituição Federal de 1988, na qual a saúde é um dos setores que estruturam a seguridade
social, ao lado da previdência e da assistência social, em especial na seção II, artigos 196 a 200;
2 – a lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, também conhecida como Lei Orgânica da Saúde,
que dispõe principalmente sobre a organização e regulação das ações e serviços de saúde em todo
o território nacional (Brasil, 1990a); e
Os recursos que financiam o SUS vêm da Seguridade Social, que participa com 30%, assim com
as verbas do tesouro nacional e o orçamento da união, que destinam 3% para a saúde. Esses
recursos irão constituir o Fundo Nacional à Saúde e seu administrador é o Ministério da Saúde,
fiscalizado diretamente pelo Conselho Nacional de Saúde. Recursos esses que serão divididos em
duas partes: uma será retida para o investimento e custeio das ações federais e a outra será
repassada para as secretarias de saúde estaduais e municipais. Em cada estado, os recursos
repassados pelo Ministério da Saúde serão somados aos alocados pelo próprio governo estadual
e, desse montante, uma parte ficará retida para as ações e os serviços estaduais, enquanto outra
será repassada aos municípios. Finalmente, caberá aos próprios municípios destinar a parte
adequada de seu próprio orçamento para as ações e serviços de saúde de sua população e gerir os
recursos federais e estaduais repassados a eles para o custeio das ações e serviços de saúde de
âmbito municipal.
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Implantado no Brasil desde a década de 1990, o Sistema Único de Saúde, o SUS, é um sistema
que atende a todos os brasileiros, indiscriminadamente, pois, desde a promulgação da
Constituição de 1988, a saúde pública, passou a ser direito de todos e dever do Estado, sendo o
Ministério da Saúde responsável pela fiscalização para que a lei seja cumprida em todo o
território nacional.
O sistema único de saúde é financiado pelas três esferas de governo: federal, estadual e
municipal, assim como o setor privado, através de convênios e contratos firmados para garantir a
realização dos serviços garantidores da saúde. Um hospital ou clínica privados, quando prestam
serviços ao SUS, atuam com eficácia de hospital público.
De acordo com o IDEC (2003), o SUS é único e tem por objetivo atuar em todo território
nacional com a mesma vocação e organização.
A dignidade da pessoa humana foi considerada na implantação do SUS - sistema único de saúde,
sendo relevante o atendimento isonômico a todo e qualquer cidadão nacional de acordo com suas
necessidades e sem levar em conta sua condição social, e que o serviço seja sempre gratuito,
garantindo assim o tratamento da pessoa como um todo, considerando em primeiro lugar, o
indivíduo e sua comunidade, garantindo programas de prevenção à saúde.
A luta dos brasileiros sempre foi por um sistema de saúde democrático, justo, equânime, e
voltado aos interesses legítimos da população brasileira. O serviço é descentralizado, todas as
ações e serviços que atendem à população de um município devem ser municipais; as que servem
e alcançam vários municípios devem ser estaduais e aquelas que são dirigidas a todo o território
nacional devem ser federais. Um caminho importante e necessário, porém outros caminhos tão
importantes e necessários deverão ser trilhados.
25
De acordo com o IDEC (2003), o SUS deve garantir a equidade, pois deve oferecer os recursos
de saúde de acordo com as necessidades de cada um; dar mais para quem mais precisa. O SUS
tem um gestor único em cada esfera de governo. A Secretaria Municipal de Saúde, por exemplo,
tem que ser responsável por todos os serviços localizados na cidade.
O SUS conta com participação do setor privado, preferencialmente pelo setor filantrópico e sem
fins lucrativos, por meio de contrato administrativo ou convênio, o que não descaracteriza a
natureza pública dos serviços. Deve-se organizar para oferecer ações e serviços de acordo com as
necessidades da população e com os problemas de saúde mais frequentes em cada região. Uma
cidade não pode, por exemplo, manter um hospital e não dispor de unidades básicas de saúde.
―Os hospitais privados também prestam serviços mediante convênio para o SUS – cujos
recursos provêm do setor público. Em vários deles, principalmente os filantrópicos e
sem fins lucrativos, há leitos especificamente destinados a pacientes sob esta forma de
financiamento.‖ (PAES, 2009, p.51)
―- Saúde como Direito - em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das
condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho,
transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de
saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da
produção, que podem gerar desigualdades nos níveis de vida.
- Direito à saúde significa a garantia, pelo Estado, de condições dignas de vida e de
acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e recuperação
de saúde, em todos os seus níveis, a todos os habitantes do território nacional, levando
ao desenvolvimento pleno do ser humano em sua individualidade.‖
O Sistema Único de Saúde (SUS), concebido pela Constituição Federal de 1988, é o resultado de
um processo de articulação do Movimento pela Reforma Sanitária e de diversas pessoas
comprometidas com o reconhecimento dos direitos sociais de cada cidadão brasileiro, ao
determinar um caráter universal às ações e aos serviços de saúde no País. (BRASIL, 1988)
27
Segundo o artigo 196 da Constituição Federal Brasileira de 1988:
O Sistema Único de Saúde (SUS) é estruturado pelo conjunto de ações e serviços de saúde,
prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração
direta e indireta. A iniciativa privada participa do SUS, com a intervenção de prestadores
privados de serviços de saúde, com fins lucrativos ou sem fins lucrativos. (FASCINA, 2009)
O SUS atende, atualmente, entre 120 e 130 milhões de pessoas. Para Santana (2010), há
problema no acesso ao serviço, mas a avaliação geral do sistema pela população é positiva. ―Uma
vez que a pessoa consegue (atendimento), ela avalia bem. Mas o processo de encaminhamento é
o que a população está avaliando e é, justamente, o que mais demora.‖
De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apud Perondi (2011), o Brasil
está entre os países que menos destinam recursos à saúde em relação ao percentual do PIB. Está
em 169º lugar em uma lista de 198 países, o que explica a crise do financiamento na área federal.
Apesar dos avanços obtidos através da Lei nº 8080/90, dezoito anos depois do início da
estruturação do SUS, questões fundamentais para a sua consolidação ainda não foram resolvidas.
O financiamento é uma delas, e continuará sendo, dado o caráter finito dos recursos. Mas não é,
obrigatoriamente, a mais importante: ganhos de eficiência poderiam ser alcançados com medidas
de gestão, frequentemente subestimadas, que independem de incrementos orçamentários sempre
necessários e desejáveis, porém difíceis, para dizer o mínimo, no cenário fiscal vigente. (PIOLA
ET AL, 2009)
28
2.4 Entidades Filantrópicas de Assistência à Saúde
Visto os esforços para a democratização das atividades e do aumento das carências sociais e das
mudanças econômicas que afetam o país, o governo tem encorajado o desenvolvimento de
organizações não governamentais, sem finalidades lucrativas, para desempenharem parceria,
atividades voltadas ao interesse público e social. Em consequência, estas organizações do terceiro
setor passam a ser importantes agentes para a melhoria da sociedade, da democracia, da
estabilidade social, do desenvolvimento e fortalecimento econômico na adequação do mercado.
29
De acordo com o Decreto no 4.327 de 08/08/2002, que dispõe sobre a concessão do Certificado
de Entidade Beneficente de Assistência Social (CEBAS) para instituições de saúde, alterando o
Decreto no 2.536 de 06/04/1998, foi criada a figura do Hospital Estratégico, reconhecido pelo
Ministério da Saúde que permitiu, além da aplicação do atendimento a 60% de usuários do
Sistema Único de Saúde, a alternativa de justificar a concessão do certificado através da
prestação de 20 % da sua receita bruta em atendimentos gratuitos.
Com a aprovação, a nova Lei das entidades filantrópicas (nº 12.101, de 27 de novembro de 2009),
o processo de concessão do Certificado de Filantropia e flexibilizando o percentual obrigatório de
ocupação dos leitos para atendimento a pacientes do Sistema Único de Saúde tornou-se mais
rigoroso. A Lei estabelece que, para ser considerada beneficente e fazer jus à certificação, a
instituição de saúde deve comprovar o cumprimento de metas estabelecidas em convênio ou
instrumento congênere, firmado com o gestor local do SUS, e ofertar a este a prestação de
serviços no percentual mínimo de 60% do atendimento, considerando-se o somatório das
internações e dos atendimentos ambulatoriais (Lei nº 12.101, art. 4º).
Outra mudança introduzida pela lei é que os pedidos de concessão ou renovação da certificação,
que até então eram solicitados no CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social), passam a ser
atribuição dos ministérios ligados às atividades da instituição, no caso o Ministério da Saúde.
30
Fascina (2009) ressalta em seu trabalho que obter ou manter o Certificado de Filantropia garante
aos hospitais filantrópicos, não usuais prestadores de serviço ao SUS, isenções fiscais, que criam
uma vantagem competitiva diante de outros hospitais privados não filantrópicos, atuantes na
medicina suplementar, resultando em redução de custos e condições de diferenciação nos
serviços prestados.
Para o autor, a filantropia é uma estratégia competitiva, pois, de acordo com Porter (1989)
estratégia competitiva é aquela que visa a estabelecer uma posição lucrativa e sustentável contra
as forças que determinam a concorrência na indústria.
Fascina (2009) conclui que a Filantropia como estratégia competitiva leva as organizações a um
desempenho superior ao dos seus concorrentes, principalmente por uma vantagem competitiva
sustentável de diferenciação e redução de custos.
A teoria da dinâmica da população, apresentada por Malthus (1798), em seu célebre livro: ―An
Essay on the Principle of Population”, expressa os limites do crescimento na economia clássica,
a partir da comparação entre o crescimento populacional dos Estados Unidos e o crescimento da
produção de alimentos na Inglaterra. Malthus concluiu que o ritmo de crescimento populacional
seria mais acelerado (progressão geométrica) que o ritmo de crescimento de alimentos
(progressão aritmética), e que no futuro todos os continentes estariam completamente ocupados
pela agropecuária e as possibilidades de crescimento da área cultivada se esgotariam. Porém a
população mundial continuaria a crescer. (HENRIQUES, 2007)
31
Na atualidade, a realidade econômica e social coloca em evidência aspectos consideráveis das
leis básicas da sobrevivência previstas nos princípios defendidos por Malthus. Apesar de ter
ignorado o avanço tecnológico, sua perspectiva sobre o futuro da humanidade reflete, de uma
forma ou de outra, os acontecimentos com impacto global, sendo apenas um ponto de partida
para o retrocesso que podemos chamar de desenvolvimento desajustado e incompatível com os
recursos que a natureza oferece.
32
"desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem
comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades".
Para que um país cresça economicamente, este necessita de uma política dinâmica no que se
refere a processo produtivo, tanto na agricultura (setor primário), na transformação e
beneficiamento (setor secundário) quanto em serviços (setor terciário). Esse processo de
crescimento depende do processo ideológico onde em que o país se encontra estruturado.
O modelo de gestão desenvolvido por John Elkington, triple-bottom line, desenvolvido em 1998,
com estratégias voltadas aos três pilares da sustentabilidade, o pilar econômico, o pilar ambiental
e o pilar social, se tornou fortemente associado ao conceito de sustentabilidade do meio
corporativo, sendo a combinação destes elementos esforços que nortearão um negócio realmente
sustentável.
33
De acordo com Elkington (2001), a sociedade depende da economia e a economia depende do
ecossistema global. Os três pilares não são estáveis, eles estão em um fluxo constante devido às
pressões sociais, políticas, econômicas e ambientais, aos ciclos e conflitos. O autor ilustra essa
visão de existência de três pilares da seguinte forma:
Rigoletto (2010) ressalta que é importante entender que o conceito de pilares da sustentabilidade
é somente o início do processo. É preciso fazer uma abordagem muito mais abrangente, incluindo
áreas como: meio ambiente, segurança, qualidade, saúde, tecnologia de informação e
responsabilidade social. Só assim o caminho para a sustentabilidade será trilhado.
Para Amorim (2009) a organização deve ser lucrativa (sustentabilidade econômica), estar inserida
de forma equilibrada no ecossistema (sustentabilidade ecológica), ser geradora de emprego e
renda, proporcionar a melhoria da qualidade de vida da comunidade (sustentabilidade social),
utilizar racionalmente os recursos naturais existentes em sua área de atuação (sustentabilidade
espacial), ser independente de tecnologias de produção importadas (sustentabilidade cultural) e
poder ser mantida ao longo do tempo sem restrições ou escassez de insumos e matérias-primas
(sustentabilidade temporal).
É preciso considerar que o pilar de sustentação da economia mundial está pautado no acúmulo de
capital privado através da maximização dos lucros.
34
É necessário pensar que sobre os princípios e dimensões que norteiam a sustentabilidade está a
equidade econômica, e, dessa forma, não se pode falar em desenvolvimento sem atrelá-lo ao
crescimento econômico. Devemos destacar que é necessário um crescimento equilibrado quanto
aos pilares do desenvolvimento e, para isso, é preciso incorporar a sensibilidade com a dimensão
social, a prudência ambiental e a viabilidade econômica de forma a garantir o atendimento aos
objetivos socialmente desejáveis e a minimização dos impactos ambientais.
[...] para que as coisas aconteçam, é preciso que sejam economicamente viáveis. A
viabilidade econômica é uma condição necessária, porém certamente não suficiente para
o desenvolvimento. O econômico não é um objetivo em si, é apenas o instrumental com
o qual avançar a caminho do desenvolvimento includente e sustentável. (SACHS, 2007,
p. 23)
Tratando de políticas públicas, não se pode deixar de considerar que estas fazem parte do
processo de planejamento e, no entanto, estudos, conhecimento técnico e participação social são
necessários para sua implementação, mostrando dessa forma a conexão com o grau de
consciência e responsabilidade que a sociedade tem com sua história e seu posicionamento com
35
relação ao futuro. É preciso entender que as decisões ocorrem de forma localizada, sendo
necessário fortalecer a governança local, por meio do estímulo à participação cidadã.
Agir de forma orientada para o estímulo às políticas públicas com o foco no desenvolvimento
sustentável significa buscar um caminho harmônico de gestão com alicerce nos pilares da
sustentabilidade.
Sachs (2007) contextualiza esse pressuposto, quando afirma que não se deve focar nossa
intervenção apenas no discurso ético e, sim, em práticas direcionadas pelo mesmo, que devemos
criar alternativas viáveis de desenvolvimento. Essa afirmativa deixa implícita a necessidade de
uma gestão harmônica para o uso dos recursos.
36
Em uma realidade sustentável, as metas de crescimento econômico devem ser compatibilizadas
com as metas de bem-estar humano, considerando sempre a moderação do consumo de bens
naturais. Dessa forma, a sustentabilidade requer uma visão integrada do mundo, com indicadores
multidimensionais que mostrem as inter-relações entre a economia, o meio ambiente e a
sociedade.
Será sempre um desafio determinar o grau de sustentabilidade de uma empresa, ainda mais
quando se introduz o conceito dos três pilares. A empresa que tiver capacidade de manter a
biosfera na mesma condição em que a encontrou no início de suas atividades está nesse caminho.
Porém tudo se torna mais complexo ao considerar a dimensão social e ética.
Buarque (1999) ressalta que decisões políticas ou econômicas externas, por mais que venham a
ter papel decisivo na reestruturação de uma localidade, podem não surtir o efeito desejado de
desenvolvimento se não houver a mobilização do atores locais, de forma a internalizar as
mudanças nas estruturas socioeconômicas e culturais locais.
Não existe uma teoria própria para o desenvolvimento econômico local, mas sim, uma série de
percepções e conceitos extraídos das experiências desencadeadas em várias regiões do mundo. Os
fundamentos e conceitos que justificam o desenvolvimento econômico local vêm das práticas
adotadas, baseados em indicadores como: empregos industriais, valores industriais agregados,
empregos no comércio, vendas do comércio, empregos em serviços e receita de serviços.
(BORBA, 2000)
37
É importante entender a relação entre crescimento e desenvolvimento, bem como a forma como
ambos estão interligados. Dessa relação resulta a necessidade da definição de estratégias que
visem à garantia do desenvolvimento sustentável, sendo estas: o papel das políticas setoriais; as
articulações em prol do desenvolvimento local; a prevenção como forma de garantir o usufruto
dos recursos pelas gerações futuras; e mecanismos para a gestão orientada à harmonia entre o
econômico, social e ambiental, demonstram como a existência do planejamento orientado pela
visão de futuro é fundamental para o alcance do desenvolvimento sustentável.
Pelo fato de contribuir diretamente ao bem estar da população, a universalização do acesso aos
serviços sociais afigura-se como uma componente essencial do tripé do desenvolvimento
includente, sustentável e sustentado. A demanda por serviços sociais, mesmo em países ricos,
está longe de ser saturada.
Para Sachs (2007), o debate sobre o desenvolvimento vem sendo travado há algumas décadas,
porém se intensificou recentemente. Em meio às drásticas mudanças políticas que o mundo tem
sofrido, o forte acirramento das tensões sociais e a incessante degradação do meio ambiente,
surge a proposta de um desenvolvimento sustentável como alternativa desejável e possível para
promover a inclusão social, o bem estar econômico e a preservação de recursos naturais.
38
2.6 Qualidade de vida
Na área da saúde, o interesse pelo conceito é relativamente recente e decorre, em parte, dos novos
paradigmas que têm influenciado as políticas e as práticas do setor nas últimas décadas. Saúde e
doença configuram processos relacionados aos aspectos econômicos, socioculturais, à
experiência pessoal e estilos de vida.
39
Para Minayo et al (2000), a melhoria da qualidade de vida passou a ser um dos resultados
esperados, tanto das práticas assistenciais quanto das políticas públicas para o setor nos campos
da promoção da saúde e prevenção de doenças.
A partir do início da década de 90, parece consolidar-se um consenso entre os estudiosos da área
quanto a dois aspectos relevantes do conceito de qualidade de vida: subjetividade e
multidimensionalidade. No que concerne à subjetividade, trata-se de considerar a percepção da
pessoa sobre o seu estado de saúde e sobre os aspectos não-médicos do seu contexto de vida. Em
outras palavras, como o indivíduo avalia a sua situação pessoal em cada uma das dimensões
relacionadas à qualidade de vida.
Seidl e Zannon (2004) ressaltam que qualidade de vida só pode ser avaliada pela própria pessoa,
ao contrário das tendências iniciais de uso do conceito, quando QV era avaliada por um
observador.
A conceituação, que foi adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em seu estudo
multicêntrico, teve por objetivo principal elaborar um instrumento que avaliasse a QV em uma
perspectiva internacional e transcultural. A QV foi definida como ―a percepção do indivíduo
sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e
em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações‖ (SEIDL E ZANNON, 2004)
40
constituído num dos maiores desafios da atualidade, sendo tal noção associada ao
desenvolvimento e às políticas urbanas.
As condições e a acessibilidade aos serviços de saúde podem interferir na qualidade de vida das
pessoas. A quantidade de médicos suficiente para atender à população, a qualidade do
atendimento dos hospitais e dos postos de saúde, a cobertura vacinal a fim de prevenir uma série
de doenças tem sido alvo de muitas críticas e reclamações por parte dos usuários do SUS.
(JESUS E SOUZA, 2007)
41
sustentabilidade, o curto prazo é tão importante quanto o longo prazo, visto que um leva ao outro,
sendo este um ―caminho‖, um pré-requisito.
Ressaltando que toda organização é conceitualmente aceita como sistema aberto e sendo assim
interage com o meio onde está inserida, sua saúde financeira está exposta às crises econômico-
financeiras, onde empresas que não apresentam situação saudável no curto prazo e,
consequentemente, preparadas para o longo prazo, em termos financeiros, não são sustentáveis.
Os índices de liquidez podem servir de termômetro na qualificação do mencionado curto e longo
prazo de empresas.
Para vencer crises, e permanecer no mercado com planos sustentáveis, a liquidez é fator
essencial.
O setor de atuação da empresa é o principal determinante dos níveis de liquidez. Assim, em áreas
onde se tem um menor desvio nas previsões de caixa (maior sincronismo/eficiência) prevalecem
níveis menores de liquidez.
Dessa forma, permanece a decisão entre manter ou não uma folga financeira através de índices e
liquidez mais elevados, visto que as crises são na maioria das vezes imprevisíveis.
Segundo Gitman (1997) os Índices de Liquidez podem ser divididos em quatro grupos:
1 - Índice de Liquidez Geral (ILG) – trata-se de um índice que considera a situação de longo
prazo da organização. (ZANLUCA, 2011). Muito amplo e pouco específico por considerar
42
conjuntos com prazos distintos em um mesmo cálculo, sendo obtido através da divisão do Ativo
Total pelo Passivo Circulante juntamente com Passivo Exigível a Longo Prazo (não-circulante);
2 - Índice de Liquidez Corrente (ILC) – restrito ao curto prazo, mede a capacidade da empresa
em liquidar suas obrigações de curto prazo. (GITMAN, 1997). Mostra o grau de pressão de curto
prazo sobre a empresa por parte de terceiros (credores). O mesmo é obtido dividindo-se Ativo
Circulante pelo Passivo Circulante;
3 - Índice de Liquidez Seca (ILS) – diferente do Índice de Liquidez Corrente por excluir do
cálculo ativos de menor liquidez, normalmente os estoques são excluídos por conceitualmente
serem ativos de menor liquidez dentre os circulantes. (GITMAN, 1997). Dessa forma, pode-se
dizer também que considera somente a parte mais líquida ou de maior facilidade de conversão em
caso de necessidade de liquidez imediata. No entanto, deve-se considerar primeiramente contas
com maior facilidade de conversão em numerário, havendo outras contas relativamente ilíquidas,
que deverão ser exclusas do cálculo, como, por exemplo, despesas antecipadas de seguros
(apólices);
43
2.8 Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS
A despeito dos incentivos de natureza fiscal e da ausência de barreiras de entrada e saída para
novas empresas, até o final da década de 1990, o mercado de planos privados de assistência à
saúde no Brasil veio-se desenvolvendo num contexto institucional de baixa regulação. (COSTA,
2008)
Sabemos que hoje o setor brasileiro de planos e seguros de saúde é o segundo maior sistema
privado de saúde do mundo. São oriundos das Santas Casas de Misericórdia, instituições com
forte apelo às ações caritativas e filantrópicas.
A Lei nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000, tornou a ANS uma instância reguladora dos planos de
saúde e de um setor da economia em que não havia um padrão de funcionamento. A Agência
Nacional de Saúde Suplementar – ANS foi criada a partir do Ministério da Saúde para cumprir a
lei nº 9.656 de junho de 1998. (ANS, 2010)
Muito embora a Lei nº 9.656/98 tenha trazido vários desafios regulatórios, um dos mais
instigantes tem sido a regulação da cobertura em saúde e da garantia de assistência dos planos e
seguros saúde.
44
Hoje, garantindo condições saudáveis de concorrência entre as empresas estabelecidas no Setor, a
Agência Nacional de Saúde Suplementar não se descuida da fiscalização, do irrestrito respeito
aos direitos do consumidor e da integralidade da assistência.
Se o plano foi contratado antes do dia 2 de janeiro de 1999 e não foi adaptado à lei nº 9.656/98,
que regulamenta o setor de planos de saúde, é um plano do grupo dos chamados "planos antigos".
Nesse grupo os reajustes devem seguir o que estiver escrito no contrato, ou seja, as regras
previstas pela lei não podem ser aplicadas.
Se o plano tiver sido contratado por intermédio de uma pessoa jurídica, os reajustes não são
definidos pela ANS. Está nessa categoria o plano contratado pelo empregador, sindicato ou
45
associação; plano do tipo "coletivo". Nesses casos, a Agência apenas acompanha os aumentos de
preços.
É responsabilidade da ANS definir anualmente o índice autorizado para reajuste dos planos
médico-hospitalares com ou sem cobertura odontológica, contratados posteriormente à lei nº
9656/98. As operadoras só podem aplicar esse reajuste após avaliação e autorização expressa da
Agência.
TABELA 1: Índice de reajuste anual autorizado para planos de saúde individuais ou familiares,
contratados a partir de janeiro de 1999.
A partir da data de aniversário de cada contrato, o reajuste autorizado em 2010 foi de 6,73%,
aplicável de maio/2010 a abril/2011, sendo permitida retroatividade da cobrança em caso de
defasagem entre a data de aplicação do aumento e a data do aniversário do contrato, desde que
seja de no máximo três meses.
46
As operadoras têm permissão para aplicar a regra de reajuste estabelecida no contrato assinado
entre a pessoa física e a operadora dos planos individuais antigos (anteriores a 2 de janeiro de
1999) com cobertura médico-hospitalar, de acordo com a liminar concedida pelo Supremo
Tribunal Federal (ADIN 1931-8 de 03 de setembro de 2003) . Esse reajuste não depende de
autorização prévia da ANS.
Caso a regra de reajuste prevista no contrato não seja clara, há necessidade de autorização prévia,
pois o reajuste anual deve estar limitado ao reajuste máximo estipulado pela ANS ou por meio da
celebração de Termo de Compromisso com a Agência.
Para facilitar a fiscalização ―in loco‖, o plano de contas viabiliza o fornecimento, por parte das
empresas, de informações gerenciais e cadastrais, mediante o preenchimento do Documento de
Informações Periódicas das Empresas - DIOPS (COSTA, 2008).
A fim de trazer mais segurança para o consumidor e para o mercado, foram estabelecidas em
2001 as primeiras regras de regulação das garantias financeiras a serem constituídas pelas
operadoras. Já em 2004, a ANS editou nova versão do Rol de Procedimentos e Eventos em
Saúde, através da RN nº 82.
47
Em 2006, a ANS realizou uma série de intervenções de regime de direção fiscal e determina
alienação de carteira de beneficiários em várias operadoras de planos de saúde para garantir
assistência aos beneficiários de operadoras que não dispõem de saúde financeira.
48
Rol de procedimentos e Eventos em Saúde, que aumenta a quantidade de procedimentos que as
operadoras de saúde têm obrigatoriamente que atender, de um lado controla os abusos das
operadoras em termos de custo e atendimento aos usuários, mas por outro inviabiliza as
continuidade dessa classe de operadoras, que por não terem iniciado seus produtos, ou seja,
planos de saúde com um preço maior, estão enfrentando dificuldades financeiras.
Cabe destacar, contudo, que a regulação da ANS, com a exigência de 100% de garantias
financeiras para as novas empresas, cria uma barreira à entrada, associada ao acompanhamento
do desempenho econômico-financeiro, com intervenção e, em alguns casos, liquidação de
determinadas carteiras, podendo assim, ser um fator que leve a uma maior concentração de
mercado. (PIOLA ET AL, 2009)
49
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Nesse sentido, apresenta-se a seguir as características dos métodos utilizados e a descrição das
etapas da pesquisa.
Para atingir os objetivos propostos, essa pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa aplicada, de
natureza quantitativa e qualitativa. Quanto aos procedimentos, trata-se de pesquisa bibliográfica e
documental a partir de uma pesquisa de campo.
Foi realizado um estudo de casos múltiplos. O presente trabalho utilizou o método de estudo de
casos para investigar sustentabilidade do atendimento ao SUS em entidades filantrópicas de
assistência à saúde da região leste paulista.
Conforme Eisenhardt (2001) e Yin (2001), a metodologia de estudo de caso deve ser aplicada
para investigar um fenômeno atual inserido em um contexto de vida real, cujos limites entre
fenômeno e contexto não são evidentes. Podem combinar métodos de coleta de dados, como
entrevista, análise de arquivos e relatórios, observações e questionários, propiciando a obtenção
de dados qualitativos, quantitativos ou ambos.
50
literal) ou produzir resultados contrastantes apenas por razões previsíveis (uma replicação
teórica).
O estudo de caso pode ser único ou múltiplo, usando como unidade de analise um ou mais
indivíduos, grupos, organizações, regiões. Mas mesmo quando mais de um caso é pesquisado, a
individualidade de cada um deve ser mantida. (PLATT, 1999)
Eisenhardt (2001) ressalta que o objetivo de casos múltiplos é generalizar e não particularizar,
buscando um modelo simplificado e comum para as organizações estudadas. Um modelo é bom
não por causa do excessivo rigor que lhe é aplicado, medido pelo número de variáveis levadas em
consideração, mas sim pelo fato de modelar e expressar adequadamente a realidade que enfrenta;
importante é reconhecer as variáveis que dele fazem parte e as que são deixadas de fora.
A pesquisa quantitativa é caracterizada como método que utiliza parâmetros quantificáveis, tanto
para a coleta de informações quanto para o tratamento dos dados, os quais se realizam com o
emprego de algumas técnicas estatísticas (RICHARDSON, 1999).
Para Michel (2005, p.34), é importante salientar que as pesquisas quantitativas e qualitativas não
são excludentes e devem sinergicamente completar-se, ―pois é possível fazer uma análise
qualitativa de dados quantitativos ou utilizar dados obtidos por técnicas qualitativas para proceder
51
a uma análise quantitativa‖. O autor observa que ―reconhecer as similaridades e a
complementaridade entre as informações qualitativas e as quantitativas torna acessível uma gama
de novas possibilidades de interpretação que, do contrário, poderiam ser desconsideradas.
1
Richardoson, R.J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.
52
Michel (2005, p.36) relata que ―a pesquisa aplicada procura transformar o conhecimento puro em
elementos, situações destinadas a melhorar a qualidade de vida da humanidade‖.
O tipo de pesquisa neste estudo foi pesquisa de campo em que se objetiva verificar como a teoria
estudada comporta-se na prática. A pesquisa de campo não se limita à coleta de dados no
ambiente real no qual a situação ocorre, mas requer outros procedimentos que fazem parte
integrante da pesquisa descritiva, com o propósito de analisar fatos ou fenômenos em sua
natureza ou características, procurando observar, registrar e analisar suas relações, conexões e
interferências. (MICHEL, 2005 p. 36 e 37)
Este estudo foi realizado a partir da análise de liquidez de dez entidades filantrópicas de
assistência à saúde da região leste paulista (interior do estado de São Paulo), mostrando um
panorama regional. A partir desse estudo foram escolhidas duas entidades para um estudo de
casos múltiplos.
Na primeira fase do estudo foi realizada uma análise de liquidez de dez entidades filantrópicas de
assistência à saúde da região leste paulista (interior do estado de São Paulo).
Na segunda fase foi feita uma análise quantitativa a partir de documentos, sendo estes
demonstrativos contábeis e financeiros. Nesta etapa também foram produzidos alguns indicadores
53
financeiros.
A terceira fase compreendeu a comparação das análises realizadas e dos indicadores financeiros e
operacionais, levando em consideração as particularidades de cada Entidade.
Na quarta fase da pesquisa foram realizados dois grupos focados, um em cada Entidade objeto do
estudo de casos múltiplos. Estes grupos focados foram realizados com os gestores dessas
entidades, a partir das análises realizadas e dos indicadores produzidos.
O grupo focal é um grupo que se organiza em torno de uma tarefa específica: fornecer
informações acerca de um tema anteriormente determinado. O grupo focal é um procedimento de
coleta de dados no qual o pesquisador tem a possibilidade de ouvir vários sujeitos ao mesmo
tempo, além de observar as interações características do processo grupal. Tem como objetivo
obter uma variedade de informações, sentimentos, experiências, representações de pequenos
grupos acerca de um tema determinado. (KIND, 2004)
Para Kind (2004), os grupos focais utilizam a interação grupal para produzir dados e insights que
seriam dificilmente conseguidos fora do grupo. Os dados obtidos levam em conta o processo do
grupo, tomados como maior do que a soma das opiniões, sentimentos e pontos de vista
individuais em jogo.
O grupo focal é uma técnica de muita importância que visa à produção de conhecimentos,
geralmente ligada à prática de pesquisa.
54
A quantidade de grupos focais é muito menos importante do que a qualidade ou riqueza das
discussões, geralmente proporcionada pelo estilo de condução adotado pelo moderador e por um
bom guia de temas.
Os dados foram coletados diretamente nas entidades através de termo de consentimento dos
gestores para a utilização dos documentos das entidades e participação no grupo focado. Quanto
aos balanços patrimoniais das dez entidades para a análise de liquidez, os dados foram coletados
a partir dos balanços publicados em jornais locais.
Partindo das análises dos dados das duas entidades objeto de estudo de casos múltiplos, foram
realizados dois grupos focados, um em cada entidade a fim de entender o ponto de vista dos
gestores perante a sustentabilidade financeira do atendimento ao SUS.
55
As entrevistas tiveram duração entre 60 e 90 minutos e foram realizadas sempre pelo mesmo
entrevistador, no caso a própria pesquisadora. Foram gravadas e posteriormente transcritas. A
opção de a própria pesquisadora realizar as entrevistas foi, em primeiro lugar, para garantir uma
padronização das perguntas e conceitos adotados. Em segundo lugar, para manter junto aos
entrevistados o mesmo viés de percepção.
A garantia da confidencialidade dos dados foi ratificada no início das entrevistas apesar de a
pesquisadora utilizar termo de consentimento por escrito, reforçando e assegurando o direito dos
entrevistados de declinarem responder a quaisquer das questões formuladas, assim como de
manifestarem comentários complementares por iniciativa própria. Optou-se pela não divulgação
dos nomes das entidades, em respeito à confidencialidade declarada.
A categorização dos participantes dos grupos focados foi desenvolvida objetivando classificar os
participantes como grupo focado 1 e grupo focado 2, além de apresentar o gênero do participante,
a idade e o cargo que ocupa dentro da Entidade. No quadro 3 observa-se a categorização dos
temas abordados.
PARTICIPANTES DA PESQUISA
Grupo Focado Gênero Idade Cargo na Entidade
G1S1 Grupo Focado 1 masculino 60 provedor
G1S2 Grupo Focado 1 masculino 58 adminstrador hospitalar
G1S3 Grupo Focado 1 masculino 34 auxiliar contábil
G1S4 Grupo Focado 1 masculino 34 auxiliar contábil
G1S5 Grupo Focado 1 masculino 50 gerente admistrativo plano de saúde
G2S1 Grupo Focado 2 masculino 57 adminstrador hospitalar
G2S2 Grupo Focado 2 masculino 62 tesoureiro
56
A categorização foi feita a partir das próprias questões colocadas para discussão no grupo. Cada
tema, embasado nas informações geradas a partir dos dados quantitativos dessa pesquisa, gerou
uma questão discutida com os grupos que, para fins de análise, foram categorizados.
Categorização
Categoria 1 Remuneração dos serviços prestados ao SUS
Categoria 2 Atendimento a convênios e particulares
Categoria 3 Equilíbrio financeiro
Categoria 4 Sustentabilidade financeira da entidade
Categoria 5 Papel dos políticos
Categoria 6 Sobrevivência sem o SUS
Categoria 7 Plano de saúde próprio
Categoria 8 Emenda Constitucional 29
A análise dos dados da primeira parte do trabalho foi uma análise quantitativa, comparativa a
partir do desempenho dessas entidades e as formas de financiamento das despesas, comparando
as receitas e suas origens e o déficit causado pelo atendimento ao SUS. Foi utilizado o programa
Excel, fazendo-se, então, limpeza dos dados, e obtendo-se o arquivo final a ser utilizado para
análise, armazenados com cópia em local seguro.
Os grupos focados com os gestores tiveram como finalidade legitimar a pesquisa além de
complementar o levantamento dos dados.
57
A análise dos grupos focados foi feita através da análise de conteúdo, tipo de análise que vem se
caracterizando como um instrumento metodológico para a compreensão dos diversos discursos
do ser humano, possibilitando ao pesquisador desmontar a estrutura e os elementos desse
conteúdo para esclarecer suas diferentes características e extrair sua significação.
Bardin (1988) define a análise de conteúdo como um ―conjunto de técnicas de análise das
comunicações‖, tendo como finalidade principal a interpretação dessas comunicações.
Categorização Abordagem
Visão dos participantes quanto à
Remuneração dos serviços prestados ao remuneração paga pelos serviços
Categoria 1 SUS prestados ao SUS
Importância para a saúde financeira da
Entidade em promover atendimento a
Categoria 2 Atendimento a convênios e particulares convênios e particulares
Observação da situação financeira das
Categoria 3 Equilíbrio financeiro Entidades
Percepção da situação financeira da
Categoria 4 Sustentabilidade financeira da entidade Entidade no futuro
Categoria 5 Papel dos políticos Participação política nas Entidades
Possibilidade de declinar o atendimento
Categoria 6 Sobrevivência sem o SUS ao SUS
Importância em ter um plano de saúde
Categoria 7 Plano de saúde próprio próprio
Observação quanto à possibilidade de
Categoria 8 Emenda Constitucional 29 mudanças através da EC-29
Os dados levantados pela pesquisadora foram validados anteriormente ao grupo focado pelos
participantes, contribuindo assim, para a legitimação da pesquisa.
59
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Em 2011, de acordo com a FEHOSP (Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do
Estado de São Paulo), existiam no Brasil 2.100 entidades beneficentes hospitalares, a maioria
Santas Casas, sendo 591 entidades beneficentes no Estado de São Paulo com uma oferta de 45
mil leitos para o SUS. Dessas entidades 81% estão no interior do Estado e em 56% dos casos
estão localizados em municípios com até 30 mil habitantes, omde geralmente são os únicos do
município, senão da região. (SPIGOLON, 2011)
As receitas dessas entidades são, em mais de 60%, provenientes do SUS e 90% desses hospitais
atendem acima de 80% de sua capacidade pelo SUS. (FEHOSP, 2011)
Em cada três leitos no Brasil, um é beneficente. Em vários estados brasileiros, as Santas Casas e
Hospitais Beneficentes respondem por mais da metade das internações hospitalares. Em Minas
Gerais, o setor responde por 60,9% das internações pelo SUS e em São Paulo, 55,6%.
Os hospitais filantrópicos não precisam ter lucro, mas também não podem ter prejuízo, que acaba
sendo bancado por um endividamento muito alto. Em 2003, eles tinham uma dívida de R$ 1,9
60
bilhões com fornecedores, passivos trabalhistas e empréstimos bancários. Fecharam 2009 com
um endividamento acumulado de R$ 6 bilhões (FEHOSP, 2011). O resultado é que os hospitais
filantrópicos estão atrasando o pagamento a fornecedores, o que dificulta boas negociações de
preços de medicamentos e materiais hospitalares. E quem é mau pagador, e não tem recursos para
comprar à vista, acaba pagando mais caro, formando assim um efeito ―bola de neve‖.
Não pode ser: você faz e eu vou ver se eu pago. Hoje, os recursos repassados
pelo SUS à rede conveniada são insuficientes para cobrir os custos. As santas casas, por
exemplo, que destinam 60% dos serviços ao SUS, financiam um terço dos gastos que
têm com o Sistema. A remuneração atual é uma afronta e os hospitais que dependem do
governo estão praticamente falidos. (ALMEIDA, 2011 p. 18)
Para a FEHOSP (2011), o principal fator causador do problema é a defasagem nos preços da
Tabela de Procedimentos do SUS, que cobre em média 60% dos gastos dos hospitais. Como
exemplo, o custo de um parto normal ao hospital é de aproximadamente R$ 800,00, porém o SUS
paga pelo procedimento R$ 443,40.
Outros problemas colocados pela FEHOSP (2011) são os tetos financeiros insuficientes, o atraso
de pagamentos nas esferas: federais, estaduais e municipais, o represamento de AIH (autorização
para Internamento Hospitalar), os quais são procedimentos realizados que ultrapassam o teto
61
financeiro e não são pagos pelo sistema, verbas em atraso, centrais de regulação exigindo
atendimentos que não serão reembolsados, descumprimento de prazos de pagamentos nos
municípios em gestão plena.
Quanto ao atraso nos pagamentos, a FEHOSP (2011) relata que os filantrópicos recebem por
procedimentos realizados e os pagamentos são efetuados entre 30 e 90 dias após o atendimento.
Há hospitais que chegam a receber com quatro meses de atraso.
Muitos hospitais chegam a reduzir seu quadro de funcionários e estão diminuindo o número de
atendimento por falta de condições mínimas de trabalho e atrasos de pagamentos.
A insuficiência de verba pública ou falta de critério adequado do SUS criam sequelas para a
saúde do país.
As Santas Casas e Hospitais Beneficentes que deveriam receber apoio do Estado acabam tendo
que recorrer a emendas parlamentares e de doadores por falta de recursos correntes.
62
TABELA 3: Amostra da tabela de procedimentos SUS em janeiro de 2011
É fácil perceber o problema quando se analisa a tabela de procedimentos do SUS (tabela 3), ou
seja, o valor tabelado pelo qual o SUS paga cada um de seus procedimentos, que está muito longe
de cobrir os custos dos procedimentos e mais distante ainda dos preços de mercado,
correspondendo em média a 60% do custo real, tendo os provedores e administradores dessas
entidades que procurar alternativas para não terminar o mês sem condições de sanar suas dívidas.
(FEHOSP, 2011)
De acordo com Spigolon (2011), em 2010 foram 4.535 milhões de internações feitas pelas santas
casas, de um total de 11.128 milhões do SUS. Para prestar esse atendimento, tiveram um custo de
R$ 12,3 bilhões, porém receberam apenas R$ 7,9 bilhões do Sistema. Portanto, teve um déficit
de R$ 4,4 bilhões, o que significa dizer que de cada R$ 100,00 gastos com pacientes do SUS,
foram recebidos apenas R$ 65,00.
63
A defasagem na remuneração da tabela acaba levando ao fechamento de hospitais,
descredenciamento de procedimentos e redução no número de leitos, que caíram 5,1% na rede
privada entre 2004 e 2009 e 9,1% na rede conveniada ao SUS. (SPIGOLON, 2011)
De acordo com Ponte (2010), uma modalidade de financiamento exclusiva para as Santas Casas e
hospitais privados filantrópicos foi o Caixa Hospitais. Criado em 1998, esse programa
governamental que estimulou a formação de um circuito mais amplo, no qual as relações entre o
público e o privado (secretarias de saúde e hospitais filantrópicos) confluem para o sistema
financeiro. Nessa modalidade de custeio, os hospitais antecipam os valores a receber do
Ministério da Saúde pelos serviços ambulatoriais e internações hospitalares que serão realizados,
obtendo financiamento com prestações fixas de 12, 24 ou 30 meses.
64
fiscalização, mas um programa de educação continuada. De acordo com a Confederação
Nacional de Saúde, a ―instituição de saúde interessada em se acreditar poderá pagar os
empréstimos em até 36 vezes, com taxa de juros fixa, sem custos de contratação ou anuidade e
sem necessidade de seguro ou de garantias reais‖ (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE
SAÚDE, 2009, p. 8).
A finalidade das santas casas é realmente atender as pessoas mais necessitadas, mas para exercer
essa função com qualidade é preciso ter, no mínimo, equilíbrio financeiro. Sem isso, há prejuízo
na qualidade da assistência, resultando diretamente na qualidade da saúde do cidadão.
(SPIGOLON, 2011)
No Brasil, apenas 20% da população (em torno de 35 milhões de habitantes) têm acesso à saúde
privada. Os demais 80% ficam sob os cuidados diretos do Poder Público, sendo a maior parte
deste grupo carente de recursos para a contratação de serviços de saúde privada.
(MASCARENHAS, 2007)
Foi realizada uma análise de índices de liquidez de dez entidades filantrópicas de assistência à
saúde da região leste do estado de São Paulo, composta por santas casas de misericórdia e
hospitais beneficentes, com a intenção de verificar a situação financeira dessas entidades. Nesse
momento não foi analisado o índice em particular, mas o percentual de entidades que não obtém
liquidez, ou seja, demonstram índices menores que 1,0.
65
Entendendo que a análise de indicadores de desempenho é uma ferramenta gerencial
extremamente importante para mensurar a situação econômico-financeira dos hospitais, quando
se pretende tratá-los como organizações profissionais, mesmo identificando dificuldade de
padronização do setor, pode-se afirmar que, se tratando de sustentabilidade, o curto prazo é tão
importante quanto o longo prazo, visto que um leva ao outro, sendo este um ―caminho‖, um pré-
requisito.
Os índices de solvência são expressos pelo número de vezes que o numerador contém o
denominador, esses índices costumam ser avaliados pelo critério de ―quanto maior melhor‖. Estes
índices não medem a efetiva capacidade de a empresa liquidar seus compromissos nos
vencimentos, mas apenas evidenciam o grau de solvência em caso de encerramento total das
atividades.
Nesse contexto foi realizada uma análise de liquidez de dez entidades filantrópicas de assistência
à saúde, sendo estas santas casas de misericórdia e hospitais beneficentes, na região leste paulista.
A análise foi feita a partir dos balanços publicados dos exercícios findos em 31/12/2008,
31/12/2009 e 31/12/2010.
66
TABELA 4: Índice de liquidez corrente
A análise de liquidez corrente, com base na divisão do Ativo Circulante pelo Passivo Circulante,
demonstra que, em 31/12/2008, 50% das entidades em estudo não apresentavam liquidez, não
tendo condições de saldar suas dívidas de curto prazo disponibilizando apenas o ativo circulante.
Em 31/12/2009 percebe-se uma piora desse índice em que 60% não apresentavam liquidez eficaz.
Já em 31/12/2010, a análise demonstra que a queda de liquidez se acentua ainda mais com um
índice de 70% das entidades incapazes de liquidar seu passivo circulante utilizando apenas o
ativo circulante.
67
Tratando-se do índice de liquidez geral, a situação é ainda mais grave. Baseado na soma do Ativo
Circulante + Realizável a Longo Prazo dividida pelo Passivo Circulante + Exigível a Longo
Prazo, em 31/12/2010 - 90% das entidades apresentaram indicadores com situação de insolvência
financeira. Em 31/12/2009 - 100% das entidades apresentavam a dificuldade e em 31/12/2008 -
70%.
Isso demonstra que essas entidades não estão conseguindo gerar receita suficiente para pagar suas
dívidas e estão buscando recursos através de capital de terceiros, ou seja, empréstimos e
financiamentos bancários. Observando que o passivo circulante está cada vez maior, significa
que a entidade não está sendo capaz de quitar as dívidas de curto prazo, como fornecedores,
impostos e salários, o que pode trazer um grande prejuízo ao funcionamento da entidade.
68
Essa análise mostra que para saldar a dívida já existente nas entidades seria necessário dispor do
Ativo Imobilizado, ou seja, dos seus bens imóveis, sendo esses prédios, terrenos, máquinas,
equipamentos, veículos entre outros. Na análise é possível verificar que o Grau de Endividamento
em 2010 mostra que 50% das entidades estão com metade do ativo total ―comprometido‖ com a
dívida obtida, ou seja, seria necessário vender boa parte dos bens físicos para pagar todas as
dívidas.
4.3 Análise de liquidez de dez entidades filantrópicas de assistência à saúde da região leste
paulista, comparando os índices das Entidades que têm Operadora de Saúde própria com
as Entidades que não dispõem desse recurso.
Observando os índices de liquidez corrente e geral das dez entidades em estudo, separando as
entidades que têm uma operadora de saúde própria das entidades que não dispõem desse serviço
obtiveram-se as seguintes análises:
TABELA 7: Índice de liquidez corrente. Estudo comparativo entre Entidades sem Operadora de
Saúde própria e Entidades com Operadora de Saúde própria.
69
Comparando as Entidades que têm uma Operadora de Saúde própria com as Entidades que não
dispõem desse recurso, o índice de liquidez corrente mostra que as Entidades que têm uma
Operadora de Saúde própria obtiveram piora relevante quanto à liquidez, o que aponta
dificuldades em gerir uma Operadora de Saúde, setor controlado pela ANS – Agência Nacional
de Saúde Suplementar.
TABELA 8: Índice de liquidez geral. Estudo comparativo entre Entidades sem Operadora de
Saúde própria e Entidades com Operadora de Saúde própria.
Índice de Liquidez Geral
Entidades sem Operadora de Saúde própria Entidades com Operadora de Saúde própria
31/12/2010 31/12/2009 31/12/2008 MÉDIA 31/12/2010 31/12/2009 31/12/2008 MÉDIA
C 0,57 0,75 0,79 0,70 B 0,09 0,09 0,08 0,09
D 0,38 0,68 0,58 0,55 I 0,84 0,93 0,93 0,90
F 0,52 0,47 0,20 0,34 E 0,72 0,71 1,10 0,84
J 0,29 0,24 0,22 0,25 G 0,39 0,52 1,12 0,82
100% 100% 100% L 0,54 0,49 0,33 0,68
H 1,16 0,98 1,09 1,08
83% 100% 50%
A partir dessa análise, é possível verificar que, nas entidades que não possuem operadora de
saúde própria, os indicadores de desempenho são bastante ruins, porém permanecem constantes.
Já nas entidades que possuem operadora de saúde, é possível verificar que a situação vem-se
agravando, o que aponta que os planos de saúde vêm ajudando cada vez menos no equilíbrio
financeiro dessas entidades. Isso significa que a capacidade de pagamento dessas entidades está
piorando ao longo dos anos e que a forma de financiamento das despesas está cada vez mais
sendo proveniente de capital de terceiros, ou seja, empréstimos e financiamentos bancários.
70
4.4 Estudo de casos múltiplos
Dentre as Entidades em estudo foi a que apresentou melhor índice de liquidez, apresentando
solvência da situação financeira, e está representada nas tabelas de índice de liquidez acima pela
letra H. Já a Entidade representada pela letra C é a de melhor índice de liquidez dentre as
Entidades que não possuem Operadora de Saúde própria.
Para a realização do estudo de casos múltiplos, foi feito um estudo de caso dessas duas Entidades,
com a finalidade de entender se é possível manter sustentabilidade financeira a partir da receita
com prestação de serviços hospitalares, descrevendo as formas de financiamento das despesas e
obtenção de recursos e levantando do déficit financeiro ocasionado pelo atendimento ao SUS
nessas duas Entidades, no exercício de 2010.
No estudo de caso da Entidade ―H‖, foi feita uma análise sobre a Operadora de Saúde própria,
com a finalidade de entender a influência financeira de uma Operadora de Saúde na própria
Entidade.
A partir dos dados obtidos nos estudos realizados e dos dados fornecidos pelos gestores das duas
Entidades, foi realizada uma análise comparativa.
A Entidade ―H‖ é uma sociedade civil sem fins lucrativos, fundada em 1907, e tem como objeto
social prestar assistência médico-hospitalar, assim como oferecer meios e modos de assistência e
beneficência à saúde da comunidade. É Entidade declarada de Utilidade Pública Federal,
71
registrada no Conselho Nacional de Serviço Social (MEC) em 24/06/1940. Possui certificado de
entidade de fins filantrópicos.
A Entidade operacionaliza uma Operadora de Saúde, com registro provisório e aguarda análise
da ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar para obtenção de registro definitivo.
SUBVENÇÃO ESTADUAL R$ 462.790,23 3,0% R$ 588.886,03 3,9% R$ 470.889,73 3,0% R$ 507.522,00 3,3%
SUBVENÇÃO MUNICIPAL R$ 308.573,00 2,0% R$ 869.314,49 5,7% R$ 143.000,00 0,9% R$ 440.295,83 2,9%
SUBVENÇÃO PRONTO-
SOCORRO R$ 2.504.321,69 16,4% R$ 1.666.691,90 11,0% R$ 1.458.538,02 9,2% R$ 1.876.517,20 12,2%
RECEITAS FINANCEIRAS R$ 103.515,51 0,7% R$ 160.010,09 1,1% R$ 287.979,65 1,8% R$ 183.835,08 1,2%
HONORARIOS MEDICOS R$ 5.292.422,17 35,2% R$ 5.113.411,08 32,9% R$ 3.900.070,49 24,9% R$ 4.768.634,58 31,0%
DESPESAS COM PESSOAL R$ 4.737.257,40 31,5% R$ 4.864.071,21 31,3% R$ 4.857.285,88 31,0% R$ 4.819.538,16 31,3%
DESPESAS FINANCEIRAS R$ 106.601,86 0,7% R$ 225.282,12 1,5% R$ 118.412,43 0,8% R$ 150.098,80 1,0%
Principais receitas e despesas dos exercícios de 2010, 2009 e 2008 (excluindo receita com contraprestações e
despesas com eventos indenizáveis).
FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.
Foi realizada a análise vertical e horizontal da Entidade ―H‖, durante três exercícios, sendo esses
os exercícios de 2008, 2009 e 2010. Foi feita uma média desses três exercícios, para que não seja
analisado apenas um exercício isolado, minimizando possíveis distorções.
Para melhor análise, está retirada do balanço a receita com contraprestações emitidas que
representam as mensalidades do plano de saúde próprio no montante de R$ 8.829.117,53 (média
dos três exercícios) e despesa com eventos indenizáveis que representa os gastos médicos e
hospitalares do plano de saúde próprio, no montante de R$ 8.677.532,70 (média dos três
exercícios), para possibilitar a análise da receita do Plano de Saúde próprio como convênio.
A partir da análise vertical, apresentada na tabela 9, foi possível verificar que a receita com o
SUS representa na média dos três exercícios analisados 22,5% do total das receitas, enquanto as
internações (paciente/dia) através do SUS representam, no exercício de 2010, cerca de 63,2 % . Já
em 2009 e 2008, o atendimento paciente/dia foi cerca de 50% SUS e 50% convênios. Os 60%
foram alcançados apenas quando analisadas as internações, como era exigido pela Lei da
filantropia até 2009. Já a receita com convênios e particulares representa na média dos três
exercícios analisados 40,6%, sendo 42% no exercício de 2010, conforme tabela 10.
73
TABELA 10: Percentual de receitas: SUS, convênios e particulares (Entidade ―H‖)
RECEITA COM CONVÊNIOS R$ 5.895.352,67 38,7% R$ 4.875.080,37 31,2% R$ 6.687.753,99 42% R$ 5.819.395,68 37,3%
RECEITAS COM PARTICULAR R$ 497.462,42 3,3% R$ 482.780,06 3,1% R$ 555.859,22 3,5% R$ 512.033,90 3,3%
Percebe-se então que de acordo com as tabelas 10 e 11, as receitas com convênios e pacientes
particulares perfazem em seu montante praticamente duas vezes as receitas com o SUS e visto
que o custo hospitalar de atendimento do paciente SUS e dos pacientes de convênios e
particulares é praticamente o mesmo, e que a Entidade ofereceu 63,2% do seu atendimento ao
SUS e 36,8% aos convênios e particulares, no exercício de 2010. É possível verificar que a
receita dos convênios e particulares vem ajudando a custear o atendimento aos pacientes do SUS.
Para entender a influência do plano de saúde próprio da Entidade ―H‖, não basta apenas analisar
as contraprestações do plano de saúde próprio e os eventos conhecidos (receitas e despesas
referentes ao Plano de Saúde). Gerencialmente, o Plano de Saúde é tratado como serviço, ou
74
seja, é como se a Santa Casa prestasse serviço ao Plano de Saúde próprio, assim como é feito
com os demais convênios médicos, como: CASSI, UNIMED, entre outros.
Para poder entender a influência do Plano de Saúde próprio na Entidade ―H‖, é preciso analisar o
percentual de receita do Plano de Saúde próprio em relação aos outros convênios.
De acordo com a tabela 12, é possível verificar que o resultado do Plano de Saúde próprio é
responsável por 36,3% (média dos três exercícios em estudo) das receitas com convênios, porém
se analisarmos esse resultado pelo montante de R$ 2.215.281,89, a partir da média da receita total
de R$ 15.586.421,69, podemos observar que o resultado do Plano de Saúde próprio contribui
com 14,21% da receita da Entidade, comparado à receita SUS (22,5%), é uma forma de receita
bastante relevante, visto que o Plano de Saúde, observando a tabela 13, beneficia a 10.406
usuários (média dos três exercícios em estudo), atendendo em média 6.603 pacientes e 2.180
internações, enquanto a Santa Casa, de acordo com a tabela 11, atendeu 19.359 pacientes (dados
de 2010) e 9.609 internações (dados de 2009) através do SUS.
75
Porém é preciso entender que, por ser uma única ―empresa‖, Santa Casa e Operadora de Saúde,
sendo um único CNPJ, o custo da Operadora está embutido nas despesas da Santa Casa, sendo
necessário analisar qual o custo que a Operadora gera para a Santa Casa, e assim entender se
realmente a Operadora é lucrativa.
Além das despesas administrativas, a Operadora, por exigências da ANS, efetua determinados
procedimentos que interferem na liquidez da Santa Casa e no próprio resultado.
De acordo com a RN 160/07, a ANS exige que seja provisionado um montante para a cobertura
da PEONA - Provisão para Eventos Ocorridos e Não Avisados, calculado pelo maior valor entre
9,5% das contraprestações emitidas líquidas e 12% dos eventos indenizáveis conhecidos. Esse
valor começou a ser provisionado em janeiro de 2008 e poderá ser integralizado em 72 parcelas
mensais.
Pelo valor provisionado até junho de 2011, logo que concluída a provisão, provavelmente a
Entidade terá lançado mais de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) como despesa e terá o
mesmo valor em uma conta de aplicação ―bloqueada‖ pela ANS.
Para poder entender a viabilidade econômica de uma Operadora de Saúde, é preciso analisar o
montante da despesa realizada com provisões técnicas adicionado do custo administrativo da
Operadora e o percentual de eventos indenizáveis (custo do atendimento médico do plano), em
76
relação à receita com contraprestações recebidas (mensalidades recebidas pelo plano), para assim
verificar se a Operadora é rentável ou se o mesmo gera um déficit (prejuízo) à Santa Casa.
Para poder estudar esses custos foi feita uma segregação do custo administrativo da ―Santa Casa‖
e do custo administrativo da Operadora. Segue quadro 5 compondo os custos administrativos da
Operadora.
77
Observando os custos administrativos da Operadora (quadro 5), foi apurado o montante de R$
1.339.229,91. A receita gerada pelo Plano de Saúde à Entidade, que no exercício de 2010 somou
o montante de R$ 10.406.066,00, e a despesa gerada no exercício de 2010 somou o montante de
R$ 10.161.870,00. É possível verificar que Operadora resultou em superávit a Entidade, no
montante de R$ 244.196,00 que ajudou a compor 35,5% do superávit da Entidade no exercício de
2010.
Analisando esses números é possível entender que Operadora de Saúde ainda consegue gerar
superávit (lucro) para Entidade, porém se verificarmos os constantes aumentos no rol de
procedimentos a serem cobertos pelo plano e o montante a ser provisionado como provisões
financeiras e consequentemente garantido em contas de aplicação vinculada a ANS, talvez, nos
próximos anos, possivelmente o plano deixará de ser viável.
A Entidade ―C‖ foi fundada em 22/11/1913 sob a forma de associação beneficente sem fins
lucrativos, com o objetivo de prestar assistência médico-hospitalar de forma gratuita à população
carente e de forma onerosa àqueles que puderem arcar com o custo do tratamento. É reconhecida
pelos órgãos governamentais como de utilidade pública.
78
TABELA 15: Análise vertical e horizontal da Entidade ―C‖
RECEITA COM O SUS R$ 13.742.388,86 56,0% R$ 11.801.231,13 54,5% R$ 10.549.821,52 52,2% R$ 12.031.147,17 54,3%
RECEITA COM CONVÊNIOS R$ 7.719.717,64 31,5% R$ 7.024.210,59 32,4% R$ 6.262.568,36 31,0% R$ 7.002.165,53 31,6%
RECEITAS OPERACIONAIS R$ 1.656.567,62 6,7% R$ 1.085.980,21 5,0% R$ 1.406.140,31 7,0% R$ 1.382.896,05 6,2%
RECEITA COM PARTICULAR R$ 1.025.501,63 4,2% R$ 901.350,45 4,2% R$ 1.161.353,04 5,7% R$ 1.029.401,71 4,6%
SUBVENÇÃO ESTADUAL R$ 1.054.671,73 4,3% R$ 1.406.852,52 6,5% R$ 1.466.757,76 7,3% R$ 1.309.427,34 5,9%
SUBVENÇÃO MUNICIPAL R$ 0,00 0,0% R$ 73.000,00 0,3% R$ 73.000,00 0,4% R$ 48.666,67 0,2%
RECEITAS FINANCEIRAS R$ 134.086,50 0,5% R$ 234.058,35 1,1% R$ 281.456,15 1,4% R$ 216.533,67 1,0%
DESPESAS OPERACIONAIS R$ 13.578.026,94 54,5% R$ 11.925.726,60 54,9% R$ 11.645.499,95 57,6% R$ 12.383.084,50 55,6%
DESPESAS COM PESSOAL R$ 10.836.678,49 43,5% R$ 9.367.718,72 43,2% R$ 8.197.351,74 40,6% R$ 9.467.249,65 42,5%
DEPRECIAÇÕES R$ 510.371,20 2,0% R$ 414.540,15 1,9% R$ 362.776,96 1,8% R$ 429.229,44 1,9%
DESPESAS FINANCEIRAS R$ 287.074,47 1,2% R$ 476.217,58 2,2% R$ 409.414,22 2,0% R$ 390.902,09 1,8%
De acordo com a análise vertical e horizontal apresentada na tabela 15 e 16, é possível verificar
que a receita com o SUS representa na média dos três exercícios analisados cerca de 54,3%,
enquanto as internações (paciente/dia) através do SUS, representam na média dos três exercícios
analisados cerca de 79,3%. Já a receita com convênios e particulares representa na média dos três
exercícios analisados 36,2% e média internações paciente/dia de 20,7%, conforme tabela 17.
Todas as outras formas de receitas, sendo elas doações, subvenções, outras receitas operacionais
e receitas financeiras representam em média o montante de 14%.
A partir dos dados coletados foi elaborada uma tabela comparativa entre as duas Entidades em
estudo, a fim de auxiliar o estudo comparativo e promover melhor entendimento. É possível
perceber que a Entidade ―H‖ é um pouco menor em número de leitos e mais enxuta em número
de funcionários que atende; bem próximo ao percentual mínimo de atendimento ao SUS, de
acordo com a Lei da filantropia e que maximiza seus atendimentos quanto a convênios e
particulares. Já a Entidade ―C‖ promove maior número de atendimentos, porém requer uma
grande quantidade de funcionários. Não tem grande demanda para pacientes particulares e não
promove grande quantidade de atendimentos a convênios médicos. A tabela 18 demonstra os
dados comentados de forma comparativa.
80
TABELA 18: Tabela comparativa entre dados da Entidade ―H‖e Entidade ―C‖. Exercício de
2010.
Observando a tabela 18 é possível verificar que o déficit ocasionado pelo atendimento ao SUS é
bem próximo nas duas Entidades: 21,30% na Entidade ―H‖ e 22,9% na Entidade ―C‖. O que faz
com que uma esteja equilibrada financeiramente e a outra não é o volume de atendimento. A
Entidade ―C‖ atende quase 81% SUS, enquanto a Entidade ―H‖ - 63%. Sendo o atendimento ao
SUS deficitário, quanto mais se atende o SUS, maior o prejuízo se não houver uma contrapartida,
ou seja, outro serviço que gere lucro.
A análise do déficit financeiro do SUS é feita através da soma da receita obtida pelo SUS,
adicionando a esse montante as verbas de subvenções recebidas, divididas pelo custo gerado
pelos pacientes atendidos pelo convênio SUS. O déficit do SUS no exercício de 2010 para a
Entidade ―C‖ foi de 22,9%, enquanto o déficit apurado para o mesmo período na Entidade ―H‖
foi de 21,3%.
TABELA 20: Diferença de valores entre a tabela SUS e os valores pagos por convênios e
particulares.
O SUS chega a pagar 1/3 do valor pago por um convênio médico ou por um paciente particular
para execução do mesmo procedimento. O custo para a execução é o mesmo, tanto para o
paciente SUS quanto para o convênio ou particular. Nota-se a defasagem da tabela de
procedimentos utilizada para o pagamento do SUS. Pacientes particulares e planos de saúde
atendem aos preços de mercado.
82
4.5 Grupo Focado
O primeiro grupo focado foi realizado na Entidade ―H‖, com a participação de cinco pessoas e o
segundo grupo focado foi realizado na Entidade ―C‖, contando com dois participantes. A coleta
desses dados foi realizada por meio de filmagem com câmera filmadora digital e posteriormente
transcrita e categorizada para a realização da análise do conteúdo.
Esta categoria tenta mostrar a visão dos participantes quanto à remuneração paga pelos serviços
prestados ao SUS.
Houve um consenso entre todos os participantes dos dois grupos focados em salientar que a
remuneração dos serviços prestados ao SUS é injusta. Alguns chegaram a julgar essa
remuneração absurda, visto a dedicação e qualidade de atendimento que as entidades oferecem. O
participante G1S3 apresentou dados do estudo realizado por ele relativos a 2011, em que
constatou um déficit de 30% da remuneração dos serviços prestados ao SUS nesse período, sendo
então maior do que o levantado em 2010, mostrando que essa remuneração está cada vez mais
longe de custear o atendimento. O déficit financeiro do SUS na entidade H em 2010 foi de
21,30%.
G2S2 entende essa remuneração como um descaso das autoridades, pois na visão dele o governo
tem ciência de que são as santas casas que sustentam a saúde pública do Brasil.
―O SUS é como uma indústria que dá prejuízo, quanto mais se fabrica, maior é
o prejuízo.‖ G2S2 (29/09/2011)
83
O grande problema discutido em relação à remuneração do atendimento SUS é a defasagem da
tabela. O SUS chega a pagar 40% a menos do que o custo do procedimento. O governo, em vez
de pagar uma tabela justa, acabou criando alguns convênios, como a contratualização2 que de
certa forma induz os gestores a investirem na melhora operacional da entidade. Esse tipo de
convênio é muito bom, mas o problema é que o Integrasus3 e o IAC - Incentivo de Adesão à
Contratualização, não sofreram nenhum reajuste desde a sua criação, e isso ocorreu há seis anos.
Segundo G2S1, na parte da contratualização referente aos procedimentos de média e alta
complexidade houve muitas falhas em relação ao repasse de verba.
De acordo com G1S1, há muito tempo existiu uma subvenção estadual (Estado de São Paulo)
muito importante, antes da criação do SUS. Era uma subvenção do Estado chamada leito - dia,
que, independente do atendimento que fosse feito, o hospital mandava para o Estado (Secretaria
da Saúde) um relatório mostrando quantos pacientes foram internados durante determinados dias
e o Estado fazia o pagamento, e com isso o hospital sobrevivia muito bem. A remuneração era
justa em relação ao custo, tanto que não havia grandes problemas financeiros. Não existia SUS, o
paciente era taxado como não contribuinte, remanescente do denominado indigente, então as
coisas foram mudando e hoje, na verdade, a Santa Casa paga pra atender o SUS. Não é o governo
que subsidia a Santa Casa e sim a Santa Casa que subsidia o Estado, um absurdo que existe no
Brasil.
Não há como ser sustentável sem um equilíbrio financeiro. A saúde é cara e com tecnologias
modernas vem ficando ainda mais cara. Mas a proposta do SUS é promover saúde a todos os
cidadãos brasileiros. É preciso equacionar esse custeio. O SUS vem subfinanciando seus
atendimentos e as entidades filantrópicas vêm sofrendo muito com isso. Apesar da missão da
entidade ser o atendimento humanitário aos menos favorecidos, é obrigação do estado fornecer
2
A implantação da contratualização, considerada como forma de gestão que objetivou substituir o pagamento por
produção, vinculando orçamentação a metas. As partes, hospitais e gestores estabeleceram metas quantitativas e
qualitativas para a atenção à saúde e à gestão hospitalar.
3
Integrasus - Incentivo pago pelo Ministério da Saúde, adicionalmente ao faturamento das entidades, se destina
exclusivamente aos hospitais filantrópicos e aos sem fins lucrativos e tem por objetivo estimular o desenvolvimento
de suas atividades assistenciais e a realização das mesmas em regime de parceria com o Poder Público.
84
esse serviço e não é justo que essas entidades promovam o atendimento previsto no convênio
firmado com o SUS e não recebam o valor justo para manter o hospital financeiramente viável.
Sem uma remuneração adequada e capaz de saldar os custos do atendimento, a entidade se torna
incapaz de manter um equilíbrio financeiro e esse desequilíbrio interfere de forma condizente na
qualidade do atendimento prestado.
Esses atendimentos a pacientes particulares e saúde suplementar seguem tabelas que foram
formuladas a preço de mercado, ou seja, normalmente geram algum lucro ao prestador do
serviço.
85
Todos os integrantes dos dois grupos focados ressaltam a grande importância para a saúde
financeira das entidades em promover esse tipo de atendimento, porém a Entidade ―C‖, além de
não ter um plano de saúde próprio para promover esse atendimento, enfrenta a concorrência de
um hospital muito mais novo e moderno.
De acordo com o G2S2, quando não havia essa concorrência e a Santa Casa era o único hospital
que atendia os convênios médicos na cidade. Havia uma reserva que dava para suportar em torno
de três meses de funcionamento, tinha fluxo de caixa para três meses à frente, o que foi corroído
pelo déficit do SUS. Hoje não existe demanda para se atender 40% de convênios e particulares,
pois os usuários dos convênios preferem ser atendidos pelo hospital concorrente, além da
indicação dos médicos que são sócios desse hospital. A Entidade ―C‖ prestou em 2010 cerca de
81% de seus atendimentos ao SUS.
Para a Entidade ―H‖ a realidade é outra. Apesar de prestar 38% de atendimento a convênios e
particulares, esses atendimentos representam a maior parte da receita, mais de 40% do total.
De acordo com G1S2, como só há um hospital na cidade e a Santa Casa atende 99% dos
convênios que existentes no município, e prestando serviço a outros convênios da região, a
parcela que a Santa Casa recebe supre com certa dificuldade a defasagem do SUS, porém se
amanhã ou depois surgir outro prestador ou outro hospital na cidade possivelmente haverá um
colapso.
―Eu acredito que é a fonte de receita que compensa o déficit do SUS, então
enquanto a gente conseguir manter os convênios funcionando e os atendimentos
particulares vamos conseguir manter o hospital equilibrado.‖ (22/09/2011)
86
É possível perceber a fragilidade em que a Entidade ―H‖ se encontra. Apesar de estar equilibrada
pode-se notar que, caso um novo hospital se instale na cidade ou que a Santa Casa deixe de
atender os convênios que atende hoje, o equilíbrio financeiro deixa de existir. A arrecadação com
atendimentos a convênios e particulares conseguem suprir o déficit do SUS, mas não tem sobrado
dinheiro para um investimento real em instalações e equipamento. Com o tempo, o hospital pode
ficar sucateado. A demanda por novas tecnologias é constante e talvez não seja possível
acompanhar essa necessidade.
No passado da Entidade ―H‖, a arrecadação por convênios e particulares era maior, mas, segundo
G1S1, essa arrecadação vem diminuindo gradativamente.
Percebe-se que realizar 40% dos atendimentos prestando serviços a pacientes particulares e
convênios médicos, e manter a filantropia, são fatores cruciais para um equilíbrio financeiro das
entidades filantrópicas de assistência à saúde conveniada ao SUS. No entanto, se o valor pago
pelo atendimento ao SUS cobrisse seu custo, a Entidade poderia melhorar o atendimento e
buscaria promover melhorias e ampliação nos serviços e atendimento ao SUS.
A realidade das duas Entidades quanto ao equilíbrio financeiro é um pouco diferente. A Entidade
―H‖, apesar de não ter mais o superávit que tinha no passado, ainda encontra-se em equilíbrio
87
saudável, capaz de saldar suas dívidas, porém a Entidade ―C‖ já perdeu esse equilíbrio há algum
tempo e vem lutando para continuar em operação, utilizando capital de terceiros, ou seja,
empréstimos bancários para sanar seus credores. Basta analisar a tabela 21, principalmente
quanto à liquidez corrente, que demonstra que a Entidade ―C‖ ainda mantinha equilíbrio
financeiro até 2008, demonstrado na liquidez corrente, ou seja, era até então capaz de liquidar
suas dívidas de curto prazo, o que deixou de ocorrer a partir de 2009.
TABELA 21: Índice de liquidez corrente e geral das Entidades ―C‖ e ―H‖
Índice de Liquidez Corrente Índice de Liquidez Geral
31/12/2010 31/12/2009 31/12/2008 31/12/2010 31/12/2009 31/12/2008
C 0,69 0,90 1,11 0,57 0,75 0,79
H 1,38 1,09 1,59 1,16 0,98 1,09
FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.
Apesar das opiniões dos grupos focados serem divergentes, é possível verificar que as
divergências são apenas em aspecto temporal, visto que uma Entidade já está sofrendo um
desequilíbrio e a outra está à beira de tal situação. Nota-se na fala dos participantes a preocupação
com o equilíbrio financeiro dessas entidades.
G2S1 ressalta que a Entidade está à beira de um colapso, e que só é possível manter um equilíbrio
do hospital se a tabela SUS sofrer um reajuste real e se a demanda for adequada, ou seja, quanto
maior for a demanda do SUS por atendimento na entidade, maior deve ser o repasse dos recursos,
visto que hoje a Entidade recebe um teto fixo, independente da quantidade de atendimento
prestado. O gestor salienta a importância da participação do setor privado para esse equilíbrio,
através dos convênios e particulares.
88
Para G2S2, a maneira como está é insustentável, e o que ameniza um pouco a situação são as
subvenções estaduais. ―A rotina do administrador é viver pedindo ajuda a deputados e prefeitos
para aliviar a situação.‖
Já no grupo focado realizado na Entidade ―H‖, o participante G1S1 entende que é possível, sim,
manter um equilíbrio financeiro na Entidade, mantendo um alto controle nos gastos, mas isso
limita a incorporação de novas tecnologias e a implementação de novos serviços. ―É possível
custear o hospital, mas não investir‖ G1S5.
Na visão do G1S2, ainda é possível manter o equilíbrio se a situação atual não se prolongar por
muito tempo. É preciso que o governo tome algumas medidas a respeito dos hospitais
filantrópicos.
De uma forma ou de outra essas entidades aprenderam a trabalhar com um orçamento reduzido,
bem enxuto, bem menor que um hospital público. O problema é que esse desequilíbrio vem
aumentando a cada ano e trabalhando com capital de terceiros, ou seja, contraindo empréstimos
bancários e devendo a fornecedores fica difícil investir. A medicina mudou muito e hoje necessita
de alto investimento tecnológico. A grande preocupação é conseguir continuar sendo um hospital
bem equipado e não se tornar um hospital defasado.
89
Nessas condições fica ainda mais difícil manter a parcela do atendimento que é financeiramente
viável, o atendimento a convênios e particulares, pois nenhum cidadão que paga pelo seu
atendimento deseja ser atendido em um hospital mal equipado.
Para tentar expor a visão no grupo focado sobre a sustentabilidade financeira da Entidade, a
questão colocada para discussão foi sobre a situação financeira da Entidade daqui a 5 anos. A
colocação dos participantes foi bastante interessante.
De acordo com o levantamento realizado, a Entidade ―H‖ realizou 63,2% dos seus atendimentos
através do SUS no exercício de 2010, enquanto a Entidade ―C‖ atendeu 80,8% no mesmo
período, mostrando que a Entidade ―C‖ atende um maior percentual de paciente SUS do que a
Entidade ―H‖. Isso ocorre porque a demanda por saúde suplementar (planos de saúde) e pacientes
particulares na Entidade ―H‖ é maior, pois a instituição é o único hospital da cidade, então todos
os convênios médicos da cidade, além de outros planos e convênios de abrangência regional ou
nacional, são atendidos ali, A Entidade ―H‖ se utiliza dos 40% de atendimento permitido (visto
que pela Lei da filantropia um mínimo de 60% dos atendimentos deve ser obrigatoriamente
destinado aos pacientes SUS), para atender essa demanda médica da cidade.
Já a Entidade ―C‖ enfrenta uma ―concorrência‖ quanto à prestação de serviço aos convênios
médicos, pois além da Santa Casa, os usuários dos planos de saúde podem ser atendidos em um
hospital particular concorrente, que por ser um hospital novo e melhor equipado, tem a
preferência desses usuários.
90
G1S4 coloca que na área da saúde é muito difícil prever quais serão as novas exigências e é quase
impossível trabalhar com orçamento para estoque e profissional, pois não se sabe o custo do mês
seguinte, não sendo possível saber qual o tipo de atendimento que irá acontecer. O futuro da
saúde é totalmente instável, pode-se trabalhar com um equilíbrio financeiro agora, tentando
enxugar todas as despesas que puder mensurar, mas é difícil estabelecer uma meta nesse sentido
sem o apoio do governo.
Para G1S1, a sustentabilidade poderia ser alcançada através de novos serviços. Mas para isso é
preciso recursos para adquirir tecnologia e implantar esses serviços. Se não tiver como investir e
o SUS não pagar o custo real hospitalar, não há como avançar.
Para os integrantes da Entidade ―C‖, a visão é um pouco mais pessimista. G2S2 coloca que no
passado a Entidade tinha cerca de três milhões de reais em aplicações financeiras e hoje tem um
empréstimo bancário de três milhões, sendo obrigada a tomar empréstimos para subvencionar a
saúde pública, fazendo empréstimos para pagar o déficit causado pelo atendimento ao SUS.
―Faz tempo que estou aqui e vejo que cada ano está ficando mais difícil e se
continuar dessa maneira é lógico que não vai sobreviver, mas tenho esperança. [...] a
saúde é a principal necessidade em uma cidade, o principal é não morrer, educação é
importante, mas sem saúde não tem educação.‖ G1S1 (22/09/2011)
De acordo com Sachs (2007), para que as coisas aconteçam é preciso que sejam economicamente
viáveis, e que apesar de não ser suficiente, a viabilidade econômica é condição necessária.
91
Sachs (2007) ainda coloca que o econômico não é o objetivo em si, é apenas o instrumental com
o qual se pode avançar a caminho do desenvolvimento. E é exatamente esse instrumento que falta
para essas entidades, sendo muito difícil caminhar dessa forma rumo ao desenvolvimento. É
possível verificar na fala dos grupos a insustentabilidade entranhada nas palavras, caos e colapso,
citados várias vezes nos dois grupos.
Esse tema foi abordado para tentar entender se existe uma preocupação política, principalmente
em âmbito local, quanto à situação da Entidade.
Na Entidade ―H‖, os participantes colocaram que tanto em âmbito municipal quanto estadual os
representantes políticos fazem a parte deles, porém, pela importância da Entidade na cidade e
região, deveria haver um esforço ainda maior dos políticos em buscar recursos para implementar
melhorias e adquirir equipamentos.
Na discussão do grupo focado realizada na Entidade ―C‖, foi colocado que a prefeitura tem feito
o possível, mas o Estado faz muito pouco e na visão deles o problema é o federal, que sabe do
déficit na tabela e não faz o reajuste.
―A Santa Casa representa mais da metade dos leitos do SUS. O governo está com a
tabela na mão, a tabela é dele, é federal. O governo federal não faz e joga para os
92
governos estaduais e municipais. O Estado faz muito pouco e sobra para o município
que está na ponta. O prefeito nunca está por fora do que ocorre na Santa Casa [...] eu sei
que é apertado, mas é preciso fazer alguma coisa, pois o prejuízo é humano.‖ G2S1
(29/09/2011)
Existem hospitais filantrópicos, não usuais prestadores de serviços ao SUS, que adotam modelos
diferentes um do outro de estratégias para contemplar a legislação que lhes permite obter o
Certificado de Filantropia, assim como os Hospitais Filantrópicos, que destinam 60% de seus
serviços aos usuários do SUS em contrapartida à isenção de impostos de que gozam. Esses
estabelecimentos destinam 20% de sua receita ao atendimento gratuito e, apesar da filantropia
que exercem, não são vinculados ao SUS.‖ (FASCINA, 2009)
Com base nessa possibilidade de declinar o atendimento ao SUS e passar a oferecer 20% da
receita bruta da entidade em gratuidade, foi questionada a sobrevivência da entidade sem o SUS.
Esse tema trouxe maior discussão e divergência de opiniões. Na Entidade ―H‖, a discussão
voltou-se para a parte financeira, havendo divergências nas condições de permanência da
estrutura caso deixasse de atender ao SUS, mas na Entidade ―C‖ a discussão ultrapassou os
limites financeiros e se voltaram ao humanitário. O participante G2S1 teve grande dificuldade em
responder a questão, pois não conseguia visualizar a Entidade sem o atendimento ao SUS, sendo
para ele uma opção irreal, visto que não há outro hospital no município que faria tal atendimento.
93
Na opinião de G1S1, se o hospital fosse bem gerido, haveria condições de promover um número
significante de atendimento a convênios e particulares a ponto de a Entidade ser capaz de
promover assistência gratuita a quem não tem condições financeiras. Já G1S3 considerou inviável
a sobrevivência sem o SUS. Na opinião dele, talvez não houvesse demanda de convênios e
particulares da região para manter a estrutura hospitalar existente hoje.
É fácil perceber o descontentamento dos gestores com o SUS. Principalmente com o esforço
desprendido por eles, G1S5 coloca que: ―quem melhor investe acaba sendo prejudicado, pois
melhoramos a nossa UTI e agora precisamos atender pacientes de outras cidades por ter uma boa
UTI.
Para G2S2, o hospital teoricamente sobreviveria, mas na pratica só rompendo o convênio com o
SUS para avaliar. O participante já esteve visitando alguns hospitais que romperam com o SUS e
o que ouviu dos administradores foi: ―É ruim com ele e pior sem ele‖.
94
G2S2 também coloca que antes a essência da Santa Casa era sobreviver de doações, hoje não é
mais assim, hoje em dia com o custo para as empresas e para o assalariado, pois já vem
descontado em folha o INSS, a cota patronal do INSS é de 20% e acrescentando acidente do
trabalho e outros são 27,8% sobre a folha de pagamento. Então como pedir ao empresário uma
ajuda de custo para a Santa Casa, se ele já paga 27,8% sobre a folha de pagamento para o INSS
custear o SUS.
G1S1 foi o participante que mais teve dificuldade em visualizar a Santa Casa sem o SUS, não
pelo aspecto financeiro, mas pelo aspecto humanitário. Para ele seria incompreensível a Santa
Casa não atender o SUS.
―... não parei para pensar ficar sem o SUS, é tão distante, por ser uma santa
casa, acho que não chega a esse ponto, é tão catastrófico humanamente, como ficará sem
o SUS. Somos uma cidade do interior. Numa cidade grande uma santa casa pode ficar
sem o SUS e o SUS pode ficar sem a santa casa, pois existem outros hospitais, mas aqui
no interior é diferente, quem vai atender o SUS?‖ G1S1 (22/09/2011)
O participante coloca ainda que o custeio é diário, alto e complexo, e que emergências acontecem
de sábado e domingo e alguém terá que prestar atendimento. No aspecto financeiro aceita-se que
a santa casa sobreviveria sem o SUS, se trouxesse mais convênios e particulares.
O Certificado de Filantropia é uma excelente estratégia competitiva aos hospitais privados sem fins
lucrativos, para obter uma vantagem competitiva sustentável de diferenciação e de redução de custos
de acordo com o trabalho de Fascina (2009); o déficit causado pelo subfinaciamento do atendimento
ao SUS faz com que a entidade deixe de ser competitiva.
95
Manter o Certificado de Filantropia, através da prestação de 20% da receita bruta em gratuidade, talvez
seja uma alternativa, mas nas pequenas cidades do interior onde a entidade é geralmente o único
hospital da cidade, essa prática se torna inviável pela necessidade de atendimento através do SUS.
Para a análise desse tema foi colocada em debate a importância de ter um plano de saúde próprio.
Os participantes da Entidade ―H‖, que tem uma Operadora de Saúde própria, entendem que seria
melhor ser prestador de serviço do que ter um plano de saúde próprio, pois são cada vez mais
obrigações sem possibilidade de reajustes.
A ANS vem fazendo com que os planos de saúde se tornem cada vez mais onerosos e o governo
não percebe que cada vez que isso ocorre menos pessoas têm acesso aos planos e essas pessoas
acabam migrando para o SUS, onerando as santas casas e entidades filantrópicas que não estão
conseguindo promover atendimento com o que recebem.
―Acredito que em muito pouco tempo teremos poucos planos de saúde funcionando, o que não é
bom, pois irá tornar-se um oligopólio e isso encarecerá ainda mais os planos.‖ G1S1
Apesar dessa colocação, os participantes do grupo focado 1 também acreditam que o plano de
saúde tira os pacientes do atendimento SUS e em suas opiniões os planos de saúde são um
parceiro do SUS, mas, o governo os enxerga como adversários.
96
Já no grupo focado 2, realizado na Entidade ―C‖, os participantes acreditam que apesar de
interessante, não é viável ter um plano de saúde próprio, e dizem que gostariam de prestar serviço
a convênios e não de gerir um plano de saúde.
Criar um plano de saúde pode parecer uma boa alternativa para hospitais que lidam com o déficit
causado pelo subfinanciamento do SUS e outros problemas financeiros. No entanto, sem gestão
profissionalizada e foco nos negócios, o que deveria ser uma solução poderá tornar-se um grande
problema.
Gerir um plano de saúde é muito diferente de gerir um hospital. Apesar de a área ser saúde, são
atividades completamente distintas. Não há uma fórmula específica para gerir um plano de saúde
hospitalar, mas é necessária grande capacitação técnica e profissionalização.
97
As definições legais dadas pela EC-29 constituem importante mecanismo de garantia dos
recursos para a saúde. Assim, o cumprimento das exigências deve ser monitorado e avaliado para
garantir tais recursos.
―Os municípios já estão gastando mais do que podem. Em relação aos estados, metade
cumpre e os outros 50% mascaram. Os recursos da União são insuficientes. A EC 29
tinha que ser regulamentada quatro anos depois e já se passaram 11 anos.‖ (PERONDI,
2011 p. 11 e 12)
Na discussão nos grupos, foi solicitada a opinião dos participantes quanto à melhoria que a EC-
29 poderia trazer à saúde no Brasil.
Na análise desse tema, houve um consenso quanto à percepção dos participantes de que o
problema é a forma como se administra o dinheiro público destinado à saúde.
G2S1 acredita que as prefeituras vão gastar mais com saúde, mas de forma errada, pois vão
continuar fazendo pouco e caro. Já G2S2 acha que não vai mudar nada, ou muito pouco se o
dinheiro não for bem administrado.
O que os dois grupos colocaram nesse momento é que muitos gestores públicos investem em
transportes (ambulâncias), e não em saúde. Mandam seus pacientes para cidades vizinhas,
98
dificultando ainda mais a condição de atendimento desses hospitais. ―Se for empregar dinheiro
apenas em transporte de pacientes, não está melhorando a saúde.‖ G1S1. ―Muitos gestores de
pequenas cidades não querem um hospital, preferem colocar os pacientes na ambulância e
mandar para a capital.‖ G2S1
Também colocaram que se o investimento for feito em hospitais públicos muito pouco irá
melhorar, visto que os hospitais públicos em sua maioria têm custos altíssimos e são mal
administrados.
G2S2 colocou que o custo que se discute para o poder público é muito pequeno. Se o poder
público assumir a saúde, o custo é muito maior, três a quatro vezes mais e não terá a mesma
qualidade da santa casa. É uma questão de bom senso administrativo. No governo Covas, vários
hospitais públicos foram terceirizados e mostraram-se mais econômicos e eficazes. Ficou
provado que é muito melhor para o estado terceirizar para quem tem competência para a gestão.
Para G2S1, é preciso tirar os hospitais das capitais, descentralizar. O estado de São Paulo é
diferente, mas, no restante do país, a saúde é centralizada.
―É muito ruim a administração dos recursos, não tem dinheiro para saúde, mas tem dinheiro para
fazer a copa do mundo. É uma questão de interesse.‖ G2S2
99
Todos concordam que alguma coisa precisa ser feita, pois é deplorável o retrato da situação da
saúde no Brasil.
A questão dos recursos financeiros é uma das poucas em que foi possível estabelecer consenso
entre atores sociais, públicos e privados comprometidos com o desenvolvimento do sistema de
saúde brasileiro. O desafio remanescente é obter a aprovação no Congresso da Lei complementar
que regulamenta a EC nº 29, dando condições de um acompanhamento mais efetivo e
transparente do comprometimento dos recursos públicos para o SUS. (PIOLA ET AL, 2009)
4.6 Implicações para o desenvolvimento regional com foco no ambiental, econômico e social
e para a qualidade de vida da população atendida pelo SUS
Para Amorim (2009), a organização deve ser lucrativa (sustentabilidade econômica), estar
inserida de forma equilibrada no ecossistema (sustentabilidade ecológica), ser geradora de
emprego e renda, proporcionar a melhoria da qualidade de vida da comunidade (sustentabilidade
social), utilizar racionalmente os recursos naturais existentes em sua área de atuação
(sustentabilidade espacial), ser independente de tecnologias de produção importadas
(sustentabilidade cultural) e poder ser mantida ao longo do tempo sem restrições ou escassez de
insumos e matérias-primas (sustentabilidade temporal).
100
Ao longo da história da saúde pública no Brasil, é possível perceber a evolução e melhora dos
aspectos ambientais e sociais para a população. A criação do SUS proporcionou um atendimento
abrangente de grande valia para o desenvolvimento; a saúde preventiva tem proporcionado uma
melhora relevante na qualidade de vida das pessoas, porém é preciso refletir sobre os aspectos da
sustentabilidade econômica e sustentabilidade temporal, voltadas à escassez de insumos e matéria
prima.
O SUS está aquém do que poderia e deveria ser, porém pensar em sua privatização como solução
para os problemas seriam um erro e um retrocesso. A experiência dos EUA mostra que o
mercado não é capaz de resolver questões sociais profundas como as relacionadas à área da
saúde.
O SUS é um sistema que tem servido de modelo para outros países, inclusive para os EUA, na
reforma do sistema de saúde promovida pelo atual presidente Barack Obama. Seu problema está
no controle e no custeio, seu subfinanciamento, que implica diretamente na sustentabilidade
econômica e temporal das entidades que prestam serviço ao sistema.
Considerando ainda que cerca de 70% da população do Brasil não tem plano de saúde, sendo,
portanto, usuários dos serviços públicos, filantrópicos, universitários e privados credenciados
pelo SUS, espera-se ação do governo.
Para Porter (2010), em qualquer campo de atuação, melhorias e prestação de contas dependem da
existência de um objetivo comum que une os interesses e atividades de todas as partes
interessadas. Na saúde, as partes interessadas têm muitas vezes objetivos e interesses conflitantes,
e isso inclui o acesso aos serviços, a lucratividade, a contenção de custos e a satisfação.
A falta de clareza sobre os objetivos leva ao lento progresso quanto ao desempenho e melhorias.
101
Mensurar o custo real permite a reforma do sistema de reembolso. O custo deveria ser
recompensado através de pagamentos cobrindo o ciclo do atendimento completo e não apenas o
procedimento.
No final da década de 1940, de acordo com Merhy e Queiroz (1993), já se tinha idéia de que
doença e miséria só seriam controladas com o desenvolvimento econômico.
É necessário pensar que sobre os princípios e dimensões que norteiam a sustentabilidade está a
equidade econômica, e, dessa forma, não se pode falar em desenvolvimento sem atrelá-lo ao
crescimento econômico. Devemos destacar que é necessário um crescimento equilibrado quanto
aos pilares do desenvolvimento e, para isso, é preciso incorporar a sensibilidade com a dimensão
social, a prudência ambiental e a viabilidade econômica, de forma a garantir o atendimento aos
objetivos socialmente desejáveis e a minimização dos impactos ambientais.
A saúde é a maior fronteira social que todo o mundo tem e isso exige gestão e recursos. Hoje a
gestão gradualmente melhora no país. Saúde não é só atendimento médico, mas também
prevenção, educação, recuperação e reabilitação.
102
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através dos levantamentos e análises realizadas neste estudo foi possível compreender que nem
todas as entidades filantrópicas de assistência à saúde mantêm sustentabilidade promovendo
atendimento aos pacientes SUS. É preciso ressaltar que algumas dessas entidades já se tornaram
insustentáveis, visto a incapacidade de liquidar suas dívidas, devido ao déficit financeiro gerado
pelo atendimento ao SUS. Mas ainda existem entidades que conseguem, com boa gestão, prestar
um percentual máximo de serviços não relacionados ao convênio SUS, ou seja, 40% de
atendimentos permitidos pela Lei da filantropia a convênios e particulares, além da captação de
outras fontes de recursos, e conseguem, ainda que com bastante dificuldade, manter suas contas
em dia.
Apesar de o país contar com recursos financeiros em níveis razoáveis, em setores como saúde e
educação, de forma geral, não vêm conseguindo gerir bem a sua aplicação. A incapacidade de
gestão vem permitindo que entidades filantrópicas de assistência a saúde, como é o caso de
milhares de santas casas e hospitais beneficentes em todo o país, venham sofrendo com a má
remuneração do maior convênio para quem prestam serviço, o SUS.
O SUS – Sistema Único de Saúde, criado e aprovado pela Constituição Federal de 1988 (Lei
8.080/1990), que reconhece o direito de acesso universal à saúde para toda a população, é
entendido como uma das mais bem sucedidas reformas da área social empreendida sob o novo
regime democrático, tendo em vista o seu caráter universal e igualitário. Tal sistema permitiu
incluir a vasta camada da população brasileira, que anteriormente estava excluída do acesso aos
serviços e ações da saúde, não apenas básicos, mas também de média e alta complexidade. O
sucesso de algumas políticas e programas como o combate a Aids e a paralisia infantil são
exemplos concretos desse avanço, porém o sistema de saúde brasileiro apresenta um caráter
contraditório. Ao mesmo tempo em que é um dos poucos no mundo que possibilita a realização
de transplantes cardíacos, acesso à hemodiálise e dispensação gratuita de medicamentos contra a
103
Aids, muitas vezes não consegue garantir a distribuição de antibióticos ou a realização de
consultas médicas básicas, obrigando milhares de pessoas a amontoarem-se diariamente nas salas
de espera das emergências sem um atendimento adequado. No plano das práticas de saúde, é um
sistema que traz como princípio a integralidade da atenção, mas na realidade dos serviços se
traduz em um tratamento ―desumanizado‖, fragmentado e com pouca ênfase na promoção da
saúde.
Estudando o índice de liquidez de dez entidades da região leste paulista, foi possível perceber que
grande parte dessas entidades já não apresenta sustentabilidade financeira. Com este estudo foi
possível verificar que a capacidade de pagamento dessas entidades vem piorando ao longo dos
anos e que a forma de financiamento das despesas está cada vez mais sendo proveniente de
capital de terceiros, ou seja, empréstimos e financiamentos bancários e também de eventuais
subvenções e contribuições intermediadas por políticos.
Não se ampliará a capacidade do SUS de gerar respostas aos problemas de saúde da população
sem a superação dos limites do seu financiamento (ou da sua sustentabilidade financeira).
Foi possível também dimensionar a contribuição e influência de um plano de saúde próprio. Apesar de
os atendimentos aos planos de saúde gerarem algum retorno financeiro para essas entidades, visto
que as tabelas pelas quais os procedimentos são pagos atendem a um preço de mercado, enquanto
a tabela SUS gera déficit, cada vez menos os planos de saúde estão sendo capazes de contribuir
104
financeiramente como receita para as santas casas e hospitais beneficentes. O estudo demonstra que as
entidades querem prestar serviço e não gerir um novo negócio, como no caso de criar uma operadora
de saúde própria, que necessita de gestão técnica especializada.
Existem vários fatores que colaboram para a situação atual das entidades filantrópicas de
assistência à saúde. O trabalho ressalta a má remuneração que o SUS oferece pelos
procedimentos executados, fator crucial para a dificuldade de se manter um atendimento de
qualidade.
O SUS chega a pagar 1/3 do valor pago por um convênio médico ou um paciente particular para
execução do mesmo procedimento, sendo o custo para a execução é o mesmo, tanto para o
paciente SUS quanto para o convênio ou particular. Percebe-se a defasagem da tabela de
procedimentos.
Levantar o déficit do atendimento ao SUS durante o exercício de 2010 em duas entidades foi
imprescindível para legitimar a pesquisa confirmando índices referentes ao déficit descrito em outras
pesquisas, mostrando que, nas guardadas proporções, as entidades em estudo representam o que ocorre
em muitas outras entidades deste país.
105
Vale observar que as relações público-privadas na assistência ainda permanecem pouco
reguladas, fazendo com que boa parte da atenção à saúde não se organize em função de
necessidades, mas sim em função da perspectiva de maior lucratividade das instituições privadas
prestadoras de serviços ao SUS, focadas principalmente na produção de procedimentos de média
complexidade. Este desafio exige maior capacidade de o Estado regular os prestadores de
serviços, com foco nos resultados assistenciais e financeiros e com aumento da prestação de
contas para financiadores e usuários.
O SUS ainda representa uma reforma social incompleta, com implantação heterogênea e desigual
nas diversas regiões e estados do país. Ainda há um certo descrédito da população quanto à
capacidade de o setor público prover adequadamente atenção às suas condições de saúde, sendo o
plano privado o sonho de consumo e perspectiva de segurança de boa parte da população.
106
Perseguindo a sustentabilidade a população torna-se promotora de qualidade de vida e
consequentemente de cidadania.
A participação e o controle social das entidades filantrópicas, sendo essas santas casas e hospitais
beneficentes, devem ser fortalecidos e atualizados, com destaque para processos de formação e
empoderamento do conjunto das instâncias e das representações organizadas da sociedade. Estes
aspectos podem ser sintetizados na necessidade de defesa de políticas e projetos que assegurem o
continuado processo de melhoria do SUS, que pode ser alcançado através da Emenda
Constitucional 29.
O trabalho realizado foi de grande valia para a pesquisadora, apontando a importância da prestação de
serviços médicos a outros convênios além do SUS, para a sustentabilidade das entidades filantrópicas
de assistência à saúde da região leste paulista e a necessidade em se manter uma gestão eficiente e
criativa dentro dessas entidades, capazes de maximizar serviços a fim de produzir receita e garantir um
bom atendimento. O trabalho mostrou-se interessante às próprias entidades, por dimensionar a situação
financeira em um prisma ainda não abordado pelos gestores, porém limitado a uma região que é
considerada privilegiada no país. Seria bastante interessante reaplicar este estudo em outras regiões do
Brasil, a fim de entender a sustentabilidade dessas entidades em todo país, mostrando também a
importância da filantropia na gestão da saúde brasileira.
107
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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prejuízo. In INTERFARMA. Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa. Políticas públicas
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114
ANEXO I
Altera os arts. 34, 35, 156, 160, 167 e 198 da Constituição Federal e acrescenta artigo ao Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, para assegurar os recursos mínimos para o
financiamento das ações e serviços públicos de saúde.
Art. 1º A alínea e do inciso VII do art. 34 passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art.34............................................
......................................................"
"VII-..............................................
......................................................"
"Art.35............................................
......................................................"
"III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde;" (NR)
Art. 3º O § 1º do art. 156 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art.156................................................................................"
115
"§ 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo a que se refere o art. 182, § 4º, inciso II, o
imposto previsto no inciso I poderá:" (NR)
"II – ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso do imóvel." (AC)
"................................................."
Art. 4º O parágrafo único do art. 160 passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art.160............................................"
"Parágrafo único. A vedação prevista neste artigo não impede a União e os Estados de
condicionarem a entrega de recursos:" (NR)
"Art.167...........................................
......................................................"
"................................................."
Art. 6º O art. 198 passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 2º e 3º, numerando-se o atual
parágrafo único como § 1º:
"Art.198...........................................
......................................................"
116
"§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações e
serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados
sobre:" (AC)
"I – no caso da União, na forma definida nos termos da lei complementar prevista no § 3º;" (AC)
"II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se
refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II,
deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios;" (AC)
"III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que
se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º." (AC)
"§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá:" (AC)
"II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios,
objetivando a progressiva redução das disparidades regionais;" (AC)
"III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal,
estadual, distrital e municipal;" (AC)
Art. 7º O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias passa a vigorar acrescido do seguinte
art. 77:
"Art. 77. Até o exercício financeiro de 2004, os recursos mínimos aplicados nas ações e serviços
públicos de saúde serão equivalentes:" (AC)
"a) no ano 2000, o montante empenhado em ações e serviços públicos de saúde no exercício
financeiro de 1999 acrescido de, no mínimo, cinco por cento;" (AC)
"b) do ano 2001 ao ano 2004, o valor apurado no ano anterior, corrigido pela variação nominal do
Produto Interno Bruto – PIB;" (AC)
"II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, doze por cento do produto da arrecadação dos
impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea
a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios; e" (AC)
117
"III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, quinze por cento do produto da arrecadação
dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I,
alínea b e § 3º." (AC)
"§ 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que apliquem percentuais inferiores aos
fixados nos incisos II e III deverão elevá-los gradualmente, até o exercício financeiro de 2004,
reduzida a diferença à razão de, pelo menos, um quinto por ano, sendo que, a partir de 2000, a
aplicação será de pelo menos sete por cento." (AC)
"§ 2º Dos recursos da União apurados nos termos deste artigo, quinze por cento, no mínimo,
serão aplicados nos Municípios, segundo o critério populacional, em ações e serviços básicos de
saúde, na forma da lei." (AC)
"§ 3º Os recursos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinados às ações e
serviços públicos de saúde e os transferidos pela União para a mesma finalidade serão aplicados
por meio de Fundo de Saúde que será acompanhado e fiscalizado por Conselho de Saúde, sem
prejuízo do disposto no art. 74 da Constituição Federal." (AC)
"§ 4º Na ausência da lei complementar a que se refere o art. 198, § 3º, a partir do exercício
financeiro de 2005, aplicar-se-á à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios o
disposto neste artigo." (AC)
118
Senador Nabor Júnior
Deputado Jaques Wagner
3º Secretário 3º Secretário
119
ANEXO II
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
CAPÍTULO II
DA CERTIFICAÇÃO
120
Art. 3o A certificação ou sua renovação será concedida à entidade beneficente que
demonstre, no exercício fiscal anterior ao do requerimento, observado o período mínimo de 12
(doze) meses de constituição da entidade, o cumprimento do disposto nas Seções I, II, III e IV
deste Capítulo, de acordo com as respectivas áreas de atuação, e cumpra, cumulativamente, os
seguintes requisitos:
I - seja constituída como pessoa jurídica nos termos do caput do art. 1o; e
Parágrafo único. O período mínimo de cumprimento dos requisitos de que trata este artigo
poderá ser reduzido se a entidade for prestadora de serviços por meio de convênio ou instrumento
congênere com o Sistema Único de Saúde - SUS ou com o Sistema Único de Assistência Social -
SUAS, em caso de necessidade local atestada pelo gestor do respectivo sistema.
Seção I
Da Saúde
Art. 4o Para ser considerada beneficente e fazer jus à certificação, a entidade de saúde deverá,
nos termos do regulamento:
II - ofertar a prestação de seus serviços ao SUS no percentual mínimo de 60% (sessenta por
cento);
III - comprovar, anualmente, a prestação dos serviços de que trata o inciso II, com base no
somatório das internações realizadas e dos atendimentos ambulatoriais prestados.
§ 1o O atendimento do percentual mínimo de que trata o caput pode ser individualizado por
estabelecimento ou pelo conjunto de estabelecimentos de saúde da pessoa jurídica, desde que não
abranja outra entidade com personalidade jurídica própria que seja por ela mantida.
121
Art. 5o A entidade de saúde deverá ainda informar, obrigatoriamente, ao Ministério da Saúde,
na forma por ele estabelecida:
Art. 6o A entidade de saúde que presta serviços exclusivamente na área ambulatorial deverá
observar o disposto nos incisos I e II do art. 4o.
Art. 6o A entidade de saúde que presta serviços exclusivamente na área ambulatorial deverá
observar o disposto nos incisos I e II do art. 4o, comprovando, anualmente, a prestação dos
serviços no percentual mínimo de 60% (sessenta por cento). (Redação dada pela Lei nº 12.453, de
2011)
Art. 8o Não havendo interesse de contratação pelo Gestor local do SUS dos serviços de saúde
ofertados pela entidade no percentual mínimo a que se refere o inciso II do art. 4 o, a entidade
deverá comprovar a aplicação de percentual da sua receita em gratuidade na área da saúde, da
seguinte forma: (Redação dada pela Lei nº 12.453, de 2011)
I - 20% (vinte por cento), se o percentual de atendimento ao SUS for inferior a 30% (trinta
por cento);
II - 10% (dez por cento), se o percentual de atendimento ao SUS for igual ou superior a 30
(trinta) e inferior a 50% (cinquenta por cento); ou
122
III - 5% (cinco por cento), se o percentual de atendimento ao SUS for igual ou superior a
50% (cinquenta por cento) ou se completar o quantitativo das internações hospitalares e
atendimentos ambulatoriais, com atendimentos gratuitos devidamente informados de acordo com
o disposto no art. 5o, não financiados pelo SUS ou por qualquer outra fonte.
Art. 9o (VETADO)
Art. 10. Em hipótese alguma será admitida como aplicação em gratuidade a eventual
diferença entre os valores pagos pelo SUS e os preços praticados pela entidade ou pelo mercado.
Art. 11. A entidade de saúde de reconhecida excelência poderá, alternativamente, para dar
cumprimento ao requisito previsto no art. 4o, realizar projetos de apoio ao desenvolvimento
institucional do SUS, celebrando ajuste com a União, por intermédio do Ministério da Saúde, nas
seguintes áreas de atuação:
§ 2o O recurso despendido pela entidade de saúde no projeto de apoio não poderá ser inferior
ao valor da isenção das contribuições sociais usufruída.
I - a complementação não poderá ultrapassar 30% (trinta por cento) do valor usufruído com a
isenção das contribuições sociais;
123
II - a entidade de saúde deverá apresentar ao gestor local do SUS plano de trabalho com
previsão de atendimento e detalhamento de custos, os quais não poderão exceder o valor por ela
efetivamente despendido;
III - a comprovação dos custos a que se refere o inciso II poderá ser exigida a qualquer
tempo, mediante apresentação dos documentos necessários; e
Seção II
Da Educação
Art. 12. A certificação ou sua renovação será concedida à entidade de educação que atenda
ao disposto nesta Seção e na legislação aplicável.
Art. 13. Para os fins da concessão da certificação de que trata esta Lei, a entidade de
educação deverá aplicar anualmente em gratuidade, na forma do § 1o, pelo menos 20% (vinte por
cento) da receita anual efetivamente recebida nos termos da Lei no 9.870, de 23 de novembro de
1999.
a) no mínimo, uma bolsa de estudo integral para cada 9 (nove) alunos pagantes da educação
básica;
b) bolsas parciais de 50% (cinquenta por cento), quando necessário para o alcance do número
mínimo exigido.
124
§ 2o As proporções previstas no inciso III do § 1o poderão ser cumpridas considerando-se
diferentes etapas e modalidades da educação básica presencial.
§ 6o Para a entidade que, além de atuar na educação básica ou em área distinta da educação,
também atue na educação superior, aplica-se o disposto no art. 10 da Lei no 11.096, de 13 de
janeiro de 2005.
Art. 14. Para os efeitos desta Lei, a bolsa de estudo refere-se às semestralidades ou anuidades
escolares fixadas na forma da lei, vedada a cobrança de taxa de matrícula e de custeio de material
didático.
§ 1o A bolsa de estudo integral será concedida a aluno cuja renda familiar mensal per capita
não exceda o valor de 1 1/2 (um e meio) salário mínimo.
§ 2o A bolsa de estudo parcial será concedida a aluno cuja renda familiar mensal per capita
não exceda o valor de 3 (três) salários mínimos.
Art. 15. Para fins da certificação a que se refere esta Lei, o aluno a ser beneficiado será pré-
selecionado pelo perfil socioeconômico e, cumulativamente, por outros critérios definidos pelo
Ministério da Educação.
§ 1o Os alunos beneficiários das bolsas de estudo de que trata esta Lei ou seus pais ou
responsáveis, quando for o caso, respondem legalmente pela veracidade e autenticidade das
informações socioeconômicas por eles prestadas.
125
§ 3o As bolsas de estudo poderão ser canceladas a qualquer tempo, em caso de constatação
de falsidade da informação prestada pelo bolsista ou seu responsável, ou de inidoneidade de
documento apresentado, sem prejuízo das demais sanções cíveis e penais cabíveis.
Art. 16. É vedado qualquer discriminação ou diferença de tratamento entre alunos bolsistas e
pagantes.
Art. 17. No ato de renovação da certificação, as entidades de educação que não tenham
aplicado em gratuidade o percentual mínimo previsto no caput do art. 13 poderão compensar o
percentual devido no exercício imediatamente subsequente com acréscimo de 20% (vinte por
cento) sobre o percentual a ser compensado.
Parágrafo único. O disposto neste artigo alcança tão somente as entidades que tenham
aplicado pelo menos 17% (dezessete por cento) em gratuidade, na forma do art. 13, em cada
exercício financeiro a ser considerado.
Seção III
Da Assistência Social
Art. 18. A certificação ou sua renovação será concedida à entidade de assistência social que
presta serviços ou realiza ações assistenciais, de forma gratuita, continuada e planejada, para os
usuários e a quem deles necessitar, sem qualquer discriminação, observada a Lei nº 8.742, de 7 de
dezembro de 1993.
§ 1o As entidades de assistência social a que se refere o caput são aquelas que prestam, sem
fins lucrativos, atendimento e assessoramento aos beneficiários, bem como as que atuam na
defesa e garantia de seus direitos.
Art. 19. Constituem ainda requisitos para a certificação de uma entidade de assistência
social:
126
I - estar inscrita no respectivo Conselho Municipal de Assistência Social ou no Conselho de
Assistência Social do Distrito Federal, conforme o caso, nos termos do art. 9º da Lei nº 8.742, de
7 de dezembro de 1993; e
Seção IV
Da Concessão e do Cancelamento
127
§ 4o O prazo de validade da certificação será fixado em regulamento, observadas as
especificidades de cada uma das áreas e o prazo mínimo de 1 (um) ano e máximo de 5 (cinco)
anos.
Art. 22. A entidade que atue em mais de uma das áreas especificadas no art. 1o deverá
requerer a certificação e sua renovação no Ministério responsável pela área de atuação
preponderante da entidade.
Parágrafo único. Considera-se área de atuação preponderante aquela definida como atividade
econômica principal no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do Ministério da Fazenda.
Art. 24. Os Ministérios referidos no art. 21 deverão zelar pelo cumprimento das condições
que ensejaram a certificação da entidade como beneficente de assistência social, cabendo-lhes
confirmar que tais exigências estão sendo atendidas por ocasião da apreciação do pedido de
renovação da certificação.
CAPÍTULO III
128
Art. 27. Verificado prática de irregularidade na entidade certificada, são competentes para
representar, motivadamente, ao Ministério responsável pela sua área de atuação, sem prejuízo das
atribuições do Ministério Público:
I - dar ciência da representação à entidade, que terá o prazo de 30 (trinta) dias para
apresentação de defesa; e
§ 2o Se procedente a representação de que trata o inciso II, após decisão final ou transcorrido
o prazo para interposição de recurso, a autoridade responsável deverá cancelar a certificação e dar
ciência do fato à Secretaria da Receita Federal do Brasil.
CAPÍTULO IV
DA ISENÇÃO
Seção I
Dos Requisitos
Art. 29. A entidade beneficente certificada na forma do Capítulo II fará jus à isenção do
pagamento das contribuições de que tratam os arts. 22 e 23 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de
1991, desde que atenda, cumulativamente, aos seguintes requisitos:
129
I - não percebam seus diretores, conselheiros, sócios, instituidores ou benfeitores,
remuneração, vantagens ou benefícios, direta ou indiretamente, por qualquer forma ou título, em
razão das competências, funções ou atividades que lhes sejam atribuídas pelos respectivos atos
constitutivos;
III - apresente certidão negativa ou certidão positiva com efeito de negativa de débitos
relativos aos tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil e certificado de
regularidade do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS;
IV - mantenha escrituração contábil regular que registre as receitas e despesas, bem como a
aplicação em gratuidade de forma segregada, em consonância com as normas emanadas do
Conselho Federal de Contabilidade;
VI - conserve em boa ordem, pelo prazo de 10 (dez) anos, contado da data da emissão, os
documentos que comprovem a origem e a aplicação de seus recursos e os relativos a atos ou
operações realizados que impliquem modificação da situação patrimonial;
Art. 30. A isenção de que trata esta Lei não se estende a entidade com personalidade jurídica
própria constituída e mantida pela entidade à qual a isenção foi concedida.
Seção II
Art. 31. O direito à isenção das contribuições sociais poderá ser exercido pela entidade a
contar da data da publicação da concessão de sua certificação, desde que atendido o disposto na
Seção I deste Capítulo.
Art. 32. Constatado o descumprimento pela entidade dos requisitos indicados na Seção I
deste Capítulo, a fiscalização da Secretaria da Receita Federal do Brasil lavrará o auto de infração
relativo ao período correspondente e relatará os fatos que demonstram o não atendimento de tais
requisitos para o gozo da isenção.
130
§ 1o Considerar-se-á automaticamente suspenso o direito à isenção das contribuições
referidas no art. 31 durante o período em que se constatar o descumprimento de requisito na
forma deste artigo, devendo o lançamento correspondente ter como termo inicial a data da
ocorrência da infração que lhe deu causa.
CAPÍTULO V
Art. 33. A entidade que atue em mais de uma das áreas a que se refere o art. 1o deverá, na
forma de regulamento, manter escrituração contábil segregada por área, de modo a evidenciar o
patrimônio, as receitas, os custos e as despesas de cada atividade desempenhada.
§ 1o Caso a entidade requerente atue em mais de uma das áreas abrangidas por esta Lei, o
pedido será remetido ao Ministério responsável pela área de atuação preponderante da entidade.
§ 2o Das decisões proferidas nos termos do caput que sejam favoráveis às entidades não
caberá recurso.
§ 3o Das decisões de indeferimento proferidas com base no caput caberá recurso no prazo de
30 (trinta) dias, dirigido ao Ministro de Estado responsável pela área de atuação da entidade.
§ 2o Das decisões de indeferimento proferidas com base no caput caberá recurso no prazo de
30 (trinta) dias, com efeito suspensivo, dirigido ao Ministro de Estado responsável pela área de
atuação da entidade.
Art. 38. As entidades certificadas até o dia imediatamente anterior ao da publicação desta Lei
poderão requerer a renovação do certificado até a data de sua validade.
CAPÍTULO VI
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 41. As entidades isentas na forma desta Lei deverão manter, em local visível ao público,
placa indicativa contendo informações sobre a sua condição de beneficente e sobre sua área de
atuação, conforme o disposto no art. 1o.
Art. 42. Os incisos III e IV do art. 18 da Lei n o 8.742, de 7 de dezembro de 1993, passam a
vigorar com a seguinte redação:
.......................................................................................
................................................................................‖ (NR)
Art. 43. Serão objeto de auditoria operacional os atos dos gestores públicos previstos no
parágrafo único do art. 3o, no art. 8o e no § 4o do art. 11.
III - o art. 5o da Lei no 9.429, de 26 de dezembro de 1996, na parte que altera o art. 55 da Lei
nº 8.212, de 24 de julho de 1991;
IV - o art. 1o da Lei no 9.732, de 11 de dezembro de 1998, na parte que altera o art. 55 da Lei
nº 8.212, de 24 de julho de 1991;
VII - o art. 5º da Medida Provisória nº 2.187-13, de 24 de agosto de 2001, na parte que altera
os arts. 9º e 18 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993.
133
APÊNDICE I
GRUPO FOCADO 1
22/09/2011
G1S1 – Todo mundo sabe que não, qualquer discussão nesse sentido é supérflua, qualquer pessoa
por mais desinformada que seja sabe que não.
G1S3 – De acordo com a tabela que já foi apresentada pela coleta de informação, é possível
identificar cientificamente, que o serviço prestado não é bem remunerado e até pelo trabalho que
a gente levantou pelos pacientes da santa casa atendidos pelo SUS, existe um déficit de 30% em
2011, mostrando que não é justo.
G1S5 – É realmente absurdo o que se paga pelo serviço que se presta, a santa casa faz questão de
manter a qualidade, mas o déficit é absurdo.
G1S1- Os convênios e particulares são uma pequena parcela do atendimento gira em torno de
38%, mas eu acredito que é a fonte de receita que compensa o déficit do SUS, então enquanto a
gente conseguir manter os convênios funcionando e os atendimentos particulares, a gente vai
conseguir manter o hospital equilibrado.
134
G1S2 – Como só tem um hospital na cidade e nós atendemos 99% dos convênios que tem aqui e
prestamos serviço a outros convênios da região, ainda essa parcela que recebemos, ela supre
ainda com certa dificuldade a defasagem do SUS, porem se amanhã ou depois surgir num futuro
próximo, outro prestador ou outro hospital na cidade possivelmente nós teremos um colapso.
G1S4 – Como tem que atender 60% do SUS e 40% de convênios a importância é grande, pois é
necessário cumprir a meta da filantropia.
G1S3 – O atendimento dos particulares pelo que nós conseguimos levantar todo o operacional da
Santa Casa 63,20% foi ocupado por paciente SUS e em tese o atendimento a particulares 38%
então nesse contexto geral, se a gente pegar a arrecadação SUS que corresponde 24% e a
arrecadação de convênios e particulares chega a 44% , está identificada ai a cobertura desses
particulares para cobrir o déficit do SUS, então já está evidenciado a importância de atendimento
desses particulares, de uma certa forma, sem os particulares, não seria possível de forma alguma
o atendimento ao SUS.
Já foi diferente no passado, essa arrecadação por convênios era maior e melhor no
passado?
G1S1 - A muito tempo existiu uma subvenção estadual muito importante, antes de criar o SUS,
pela lei Alípio Correia Neto, uma subvenção do estado chamada leito- dia, independente do
atendimento que fosse feito, o hospital mandava para o estado, secretaria da saúde, um relatório
mostrando quantos pacientes foram internados durante tantos dias e vinha um pagamento pra
isso, e com isso o hospital sobrevivia muito bem.
G1S1 - Era justa em relação ao custo, tanto é que não tinha problema, não existia SUS, o paciente
era taxado com não contribuinte, remanescente do antigo indigente que existia a 50 anos atrás,
135
então as coisas foram mudando e hoje, na verdade, a gente paga pra atender o SUS. Não é o
governo que subsidia a Santa Casa e sim a Santa Casa que subsidia o estado, um absurdo que
existe no Brasil.
No inicio do SUS, em 1990, quando foi criado o SUS a remuneração naquela época era justa
pelo o custo que se tinha?
G1S1 – Justa não era, mas era pelo menos ate certo ponto compatível com a qualidade do
serviço. O que aconteceu foi que a medicina mudou muito houve incorporação de muitos
procedimentos, começou a se exigir da pratica medica uma grande quantidade de instrumentos, a
medicação encareceu tremendamente.
A nossa Santa casa era auto-suficiente em medicação, tinha um laboratório industrial aqui que
supria 80% das necessidades, a gente só comprava praticamente antibiótico injetável, o resto era
tudo feito aqui, soro, inclusive o hospital passou a fornecer a toda a região, tinha uma combe com
2 motoristas entregando soro e medicação pra todo mundo.
Isso começou a incomodar, os laboratórios começaram a fazer pressão e acabou inviabilizando e
foi fechado o laboratório.
Durante muito tempo a santa casa era uma santa casa diferente das outras por causa disso, nos
sempre tivemos um desempenho bem acima da média. Até 1979-80 o laboratório funcionou onde
é a quimioterapia aqui, era um laboratório onde se fazia comprimidos, injetáveis, soro, pomadas,
com matéria prima comprada com o preço bastante acessível e funcionava muito bem.
O laboratório Cristália de Itapira teve suas origens aqui, nos manipulávamos psicotrópicos para
eles aqui e como a matéria prima importada por eles, eles usavam no sanatório psiquiatra.
As coisas mudam muito e para fazer um hospital para funcionar tem que ter criatividade, mas
agora não é mais permitido ter criatividade, a regulamentação é muito grande e nós somos
tratados pelas autoridades de saúde como débil mentais. Nós fizemos aqui uma quimioterapia, foi
inaugurada em 2005 e até hoje não funciona por causa da regulamentação.
Além disso tudo, tem o aumento do custo e da implementação tecnológica dos hospitais que
encarece e se modifica muito rápido.
136
G1S1 - Inclusive no plano de saúde, com a regulamentação, os pacientes vão a justiça e o juiz
manda dar remédios de ultima geração que não irá trazer nenhum beneficio ao paciente e quebra
financeiramente o plano de saúde. O plano acaba tendo um prejuízo e desperdício tremendo onde
poderia prestar um serviço de qualidade.
3ª questão – É possível gerir esse hospital apenas com a receita prestação de serviço
hospitalar?
G1S1 - Olha se deixar o hospital sozinho sem gerencia governamental dá pra gerir muito bem,
mas do jeito que a coisa é feita não. Sou defensor da iniciativa privada, acho que a iniciativa
privada com um pouquinho de competência faz muita coisa. A burocracia atrapalha tudo e gera
absurdos e trás prejuízos, haja visto que mais de 50% do gasto de saúde é gasto com ambulância,
para transportar o paciente, não temos que transportar o paciente, temos que prestar atendimento.
O paciente é enganado e o político desonesto acha que dando transporte ao paciente esta fazendo
um favor, isso é clientelismo e não leva a nada.
G1S2- Para se ter idéia, não há aumento de teto do SUS há quase 3 anos, porém todas as
implementações e exigências que impõe dentro da saúde, não há complemento financeiro para a
implementação, exemplo, dispositivo de segurança perfuro cortante que tem que ser
implementado, o aumento do custo irá corroer durante 1 ano o valor de 1 teto mensal,
aproximadamente 200 mil reais, entra a legislação a santa casa implementa e quem manda o
dinheiro? Ninguém. Então tudo o que tem que ser implementado aumenta o custo e o não há
aumento do teto do SUS, que não manda nenhum dinheiro para a santa casa cumprir essa
implementação.
G1S1 – realmente todos tem um tratamento digno, não fazemos restrição nenhuma, tem pacientes
que chegam a 100 mil reais em 1 mês e pouco de internação e está tudo dentro do teto e temos
que suportar tudo isso, então realmente a santa casa paga para prestar serviço ao SUS.
Fabio – O teto é fixo e nem a inflação é corrigida.
137
4ª questão – É possível manter um equilíbrio financeiro dentro do hospital com essa
situação?
G1S1 – É. Apertando o cinto e gastando dentro das verbas disponíveis, agora, com isso ai limita
um pouco a incorporação de novas tecnologias e a implementação de novos serviços,
G1S2 - É possível manter as contas e manter o equilíbrio, desde que essa situação não se
prolongue por muito tempo e o governo tome algumas medidas a respeito da filantropia, fazendo
alguma ajuda de alguma maneira, pois se ao passar do tempo se não for feita implantação de
novas tecnologias, o atendimento vai ficando pra trás e e vai perder a qualidade, e sem tecnologia
nova a vai manter pacientes com grandes períodos de internações, podendo causar um problema
para o hospital.
Hoje o hospital, na situação atual, consegue se manter, mas não consegue implementar tecnologia
e serviços como deveria pois não é viável financeiramente e a médio prazo irá perder qualidade.
G1S5 - Nos últimos meses chegaram 10 -12 novas exigências da ANS, que custa dinheiro e
encarece o custo da operadora, então existe uma tendência em se tratar pequenas operadoras de
uma forma que cada vez está mais difícil sobrar algum dinheiro.
Os beneficiários que tem planos antigos, com custo baixo passam a ter todos os direitos de um
plano novo com um baixo reajuste (máximo 21%), tudo isso está secando a receita das
operadoras de santa casa, não sei até quando elas vão agüentar.
138
G1S3 – Para trabalhar nesse equilíbrio é uma situação de risco grande, pois qualquer
eventualidade tanto na santa casa quanto na operadora pode gerar um déficit que por não possuir
uma receita extra ou um faturamento maior, não será possível manter essa equilíbrio, cobrir essa
eventualidade, podendo perder esse equilíbrio e sair dessa situação que não é confortável, ai sim
entra o auxilio governamental em termos de subvenção a cada 1 ano ou seis meses que seja para
tentar cobrir essa defasagem que vai se acumulando mês a mês, para sair dessa situação de risco.
Ficar no empate zero a zero é uma situação de risco.
G1S3 – Na área da saúde é difícil prever quais as novas exigências e impossível trabalhar com
orçamento de estoque e profissional, pois não e sabe o custo do mês seguinte pois não se sabe o
tipo de atendimento que ocorrerá, quanto ao futuro na saúde é totalmente instável, pode-se
trabalhar no equilíbrio financeiro agora, tentando enxugar todas as despesas que puder mensurar,
mas é difícil estabelecer uma meta nesse sentido sem o apoio do governo.
G1S5- Você me deu um dado espantoso, 45% de reajuste da tabela SUS e 450% de correção do
IGPM, o mínimo que o governo tem que fazer é corrigir. Uma tabela pagando pelo menos o custo
já é um primeiro passo.
G1S2 – A sustentabilidade dos hospitais filantrópicos só vai ocorrer quando houver os repasses
coerentes com o custo do atendimento SUS, enquanto não for compatível e tiver uma parcela de
receita do atendimento com particulares e convênios para suprir o hospital ainda vão conseguindo
se manter, mas se um dia essas receitas forem diminuindo o hospital vai entrar num caos.
A única sugestão que tem pra melhorar é abrir novos serviços, mas é preciso ter um volume de
dinheiro para comprar essa tecnologia pra ter novos serviços, se não tiver como investir e o SUS
não pagar o custo real hospitalar, não há como avançar.
O SUS não paga o custo, mas em contrapartida a filantropia te dá uma isenção de impostos,
o que se pode dizer sobre isso?
139
G1S2- Hoje ela já não cobre mais essa defasagem que existe com o beneficio.
G1S1 – Isso não resolve, porque a defasagem é maior que a isenção e tem uma coisa muito
importante que se tem que levar em conta que no hospital a gente não investe no paciente o que a
gente tem em verba, a gente tem que investir no paciente o que é necessário para suprir as
necessidades do caso dele. O paciente entra e a gente nunca sabe quanto vai custar, e a única
maneira de se manter o hospital filantrópico com sustentabilidade seria uma atitude mais séria
dos poderes públicos, eles manter algumas ilhas de excelência, como o INCOR, o ICESPE –
(instituto do câncer novo em SP) que tem um atendimento de primeiro mundo, mas eles
concentram tudo lá.
Eles deveriam remunerar a qualidade dos serviços prestados, através de uma auditoria idônea e
honesta. Isso é fundamental e não existe, é preciso que o Brasil melhore muito.
G1S5 - é sintomática, na nossa região, quantas santas casas estão à beira de fechar as portas e
quantas operadoras já fecharam.
6ª questão – Como vocês vêem o papel da prefeitura e dos políticos perante a Santa Casa?
G1S1 – Me recuso responder essa pergunta, nas entrelinhas dá pra entender minha posição, ou
acho que ou a gente entra na política e levanta uma bandeira ou fica quieto.
G1S2 – A prefeitura faz o papel dela assim como os políticos, mas quem é que pode mudar essa
situação? A emenda está sendo discutida no congresso, se houver esforço como aparentemente
está acontecendo vai ser muito importante.
G1S5 – Pela importância que a santa casa tem na cidade e na região, na minha opinião, deveria
estar havendo mais empenho dos políticos na tentativa de trazer melhorias e trazer equipamentos.
O que a gente recebe salvo raras exceções é o que a lei determina e a gente não vê nenhum
esforço pra ajudar a gente a melhorar.
140
A EM-29 foi votada ontem na câmara dos deputados. O que foi regulamentado é o que é
considerado saúde, por exemplo, saneamento básico e merenda escolar agora não poderão
mais ser considerados saúde, até então entrava no orçamento do estado como saúde. Isso é
considerado por vocês um avanço? Essa regulamentação pode ajudar à melhorar a situação
atual?
G1S1 – Muito bem desde que não houvesse tanta ingerência aqui dentro. Se não existisse o SUS
teríamos um numero significativo de atendimentos particulares, e teríamos condições de oferecer
assistência gratuita a quem não tem condições, como era feito antigamente e funcionava muito
bem.
G1S2 – Eu não tenho experiência e não posso fazer uma avaliação como o Dr Marcos fez pela
minha vivência, mas se você comparar que hoje os 40 % da receita que se tem com atendimento a
convênios e particulares financeiramente é viável parar de atender pelo SUS.
G1S1 – Para de atender pelo SUS é inviável aqui, pois nosso hospital, além de ser o único da
cidade, é um hospital comunitário, para atender as necessidades população.
Vanderlei – Dentro do objetivo da entidade por ser filantrópica não seria viável.Falam que o
SUS é um mal necessário, paga-se pouco mas ainda consegue suprir essa meta do atendimento
141
filantrópico. Somente com particulares, alem da alta carga de impostos, talvez não haveria
demanda de convênios e particulares da região para manter a estrutura hospitalar existente hoje.
G1S1 – Ai eu discordo um pouco, pois antigamente existia o atendimento anterior ao SUS do não
contribuinte, que atendia a finalidade as santas casas, a misericórdia, prestavam caridade. Com o
SUS passou a ser direito do cidadão, mas o SUS não remunera, e hoje prestamos caridade sem
remuneração. O SUS deveria ter o hospital dele e dar assistência e ver quanto custa dar
assistência, pois é muito cômodo obrigar a gente a trabalhar e não remunerar. É uma exploração
política da santa casa e do trabalho médico. As santas casas historicamente perderam a finalidade.
G1S5- e quem melhor investe acaba sendo prejudicado, pois melhoramos a nossa UTI e agora
precisamos atender pacientes de outras cidades por ter uma boa UTI.
G1S1 – o plano de saúde é a mesma coisa, a ANS não libera o reajuste para dar a população uma
alternativa de se ter atendimento a baixo custo.
G1S1 – Eu particularmente sou vendedor do plano de saúde, acho que seria melhor ser prestador
de serviço do que ter um plano de saúde próprio. Cada vez mais obrigações sem possibilidade de
reajustes, somente no aniversário do plano. Acredito que em muito pouco tempo nos teremos
muitos poucos planos de saúde funcionando, o que não é bom, pois vai se tornar um oligopólio e
isso vai encarecer os planos.
G1S2 – a ANS coloca encargos em cima dos planos de saúde e o governo não enxerga que cada
vez que isso ocorre, menos pessoas tem acesso aos planos e essas pessoas vão acabar migrando
para o SUS, onerando as santas casas e entidades filantrópicas que não vão conseguir promover
atendimento com o que recebem.
142
Esse paciente irá migrar para o SUS não para fazer exames, e sim para as internações de alto
custo, que o governo terá que pagar, mas se não há repasse quem quebra são as santas casas. Isso
deveria ser visto de forma a não sobrecarregar tanto os planos de saúde para que estes pudessem
sobreviver e atrair essa classe social que tem condições de pagar, diminuindo a quantidade de
pessoas que precisam de atendimento SUS.
G1S1 – O plano de saúde, mesmo não sendo lucrativo, tira pacientes do atendimento SUS
G1S5 – a tabela que o SUS cobra dos convênios, pelo ressarcimento ao SUS, ou seja, pelos
atendimento do SUS aos beneficiários do plano de saúde, é absurdo e injusto.
G1S2 – Não sei se tenho uma visão distorcida, mas os planos de saúde em minha opinião são um
parceiro do SUS, mas o que parece é que o governo enxerga os planos como adversário.
G1S5 – o nível de exigência sem contrapartida no nosso poder, não temos poder de gerir o nosso
custo, não prestamos um serviço pelo custo, ninguém leva em consideração o nosso custo e é
muito difícil trabalhar dessa maneira.
G1S1 – o Brasil e muito grande, existe diferenças regionais enormes, não sendo possível ter um
critério único o tempo todo. Não é possível que o SAVISA seja cobrado da mesma maneira que
a AMIL, como ocorre, não podemos ter que oferecer especialidades que não temos demanda por
elas, é uma discrepância enorme que inviabiliza o serviço.
G1S1 – Imprescindível eu digo que talvez não seja, temos que levar em consideração que ela
compõe a renda da santa casa, mas por mais que façamos auditoria médica, por mais controle que
se tenha existe um numero muito grande de má utilização, exames, internações e cirurgias
desnecessárias gerando custo para a santa casa. Se todo mundo trabalhasse direitinho com os
princípios éticos, seria imprescindível, mas essas distorções diminuem muito a rentabilidade, sem
a receita do plano as coisas iriam bem também.
143
G1S5- A parte do faturamento do plano que fica na santa casa é muito pequena, o que se gasta
com consulta, exames e procedimentos em outros locais, muitas vezes desnecessários, é muito
grande.
G1S1 – o plano de saúde está ruim para o plano, para o médico e para o usuário, não existe um
grau de satisfação de 100% para todo muito, e temos notado que há muitos médicos manifestando
desejo de descredenciamento, dificultando o atendimento e restringindo horários, forçando o
pessoal a procurar o consultório por via particular.
G1S2– O plano não é bom, mas sem ele também hoje não é bom, se você pensar que o número
de vidas (beneficiários) desse plano deixar de estar na santa casa, eu não tenho certeza que eles
migrarão para outros planos ou se eles vão para o SUS.
Síntese
144
Em relação a emenda constitucional 29, todos estão de acordo que ela pode sim modificar
a situação mas isso depende da gestão, de que forma esse dinheiro será empregado na
saúde se é que será empregado na saúde, visto o que ocorreu com a CPMF.
―Todo cidadão brasileiro tem direito ao atendimento pelo SUS, toda entidade filantrópica deveria
ter direito a receber os custos reais de atender essa necessidade.‖ G1S2
145
APÊNDICE II
GRUPO FOCADO II
29/09/2011
G2S1 - Nunca foi justa, desde o tempo do INPS. Nessa época ainda era mais ou menos, pois a
auditoria era feita mais em loco. Não há acompanhamento da tabela do SUS. Quando há reajusta
na tabela SUS, é feito um reajuste pontual dos procedimentos que ocorrem muito pouco que
acaba prestigiando um hospital muito especializado, como transplante, sendo apenas reajustado 5
ou 6 procedimentos, os outros 6000 procedimentos não sofrem nenhum reajuste.
Na política, a implantação da CPMF foi muito boa pra saúde, mas os recursos da CPMF entraram
por uma porta e os outros recursos que vinham pra saúde, saíram pela outra.
O novo convênio, contratualização veio melhorar os recursos, o integrasus e o IAC ajudou
bastante. Na primeira contratualização, dividida em 3 partes: recursos próprios, integrasus e IAC
e média e alta complexidade, nessa ultima parte, média e alta complexidade houve muitos erros
quanto ao repasse, porém ajudou bastante no início, mas esse convênio existe a 6 anos e nunca
houve reajuste, até hoje está congelado o IAC e o integrasus.
É preciso melhorar bastante essas ajudas de custo, para diminuir esse déficit, a remuneração não é
justa, ou a nossa situação seria diferente.
Em algumas especialidades o SUS paga o justo, mas a maioria não. Veja a pediatria, paga-se
muito pouco e dessa forma os médicos deixarão de fazer pediatria. O reajuste quando ocorre em
um procedimento de R$ 12,00 é reajustado em 2%, o que não ajuda muito.
Os médicos não conseguem trabalhar mais com a tabela do SUS, então eles vão forçando os
plantões de disponibilidade e os plantões presentes, porque se for atender apenas pela tabela SUS,
não fica um médico. Para pagar essa conta, apenas conseguimos com os recursos próprios, ou
seja, verba municipal. E o custo vai subindo e só podemos recorrer ao gestor municipal, ou ao
pouco que entra dos convênios.
G2S2 – nunca foi justa, tanto que se vê uma situação de penúria em todas as Santas Casas, não
encontra-se uma Santa Casa em boas condições financeiras.
146
O SUS é como uma indústria que dá prejuízo, quanto mais se fabrica maior é o prejuízo. É um
descaso das autoridades, os governantes sabem que as filantrópicas ainda são o sustentáculo da
saúde pública no Brasil.
Não sei se eles mantém essa remuneração baixa para nivelar por baixo porque acham que ainda
existe Santas Casas que conseguem incrementar a receita através de AIH, o que hoje eu acho
muito difícil de acontecer. A tabela está achatada, sem correção, não dá pra comparar se é justo
ou injusto. É um absurdo.
G2S1 - O SUS na sua ideologia é maravilho. O problema é o seu custeio e o seu controle. Está
galgando, é visto os agentes comunitários e outras implantações, mas os hospitais estão na
penúria.
Quando os governantes vêem que os hospitais estão com a corda no pescoço, eles viabilizam
alguma verba, assim como um elixir, só para não morrer, mas logo tudo volta a ficar difícil
novamente.
G2S1 – Tanto os convênios como os particulares trazem a Santa Casa uma margem de lucro, mas
a concorrência é muito grande, pois os hospitais fazem leilões de preços para atender esses
convênios.
No atendimento entre convênios e SUS, se o hospital tem qualidade na parte de humanização,
mão de obra e equipamento ele faz o serviço, o que difere realmente é a hotelaria. Só que se não
tem demanda de convênios e particulares, fica mais difícil atender o SUS, pois as filantrópicas
buscam o equilíbrio e é preciso que sobre algum dinheiro para investimento, que vem do giro do
capital ou de verbas governamentais, mas isso está acabando, pois todo o lucro vindo de
convênios e particulares é utilizado pra cobrir o déficit do SUS (e muitas vezes não consegue) e a
Santa Casa tem que cumprir sua missão. Há necessidade de convênios e particulares e isso vai ser
sempre assim, pois o governo jamais irá amparar sozinho o SUS.
Nos hospitais próprios do governo o custo é muito maior que o nosso, os hospitais públicos não
são enxutos.
G2S2 – Para nossa Santa Casa é muito importante o atendimento de convênios e particulares,
mas nós enfrentamos a concorrência de um hospital muito mais novo e mais moderno, o hospital
São Francisco. Isto já ocorre a um bom tempo e dificultou muito a situação financeira. Estou na
tesouraria da Santa Casa desde 1986 e me lembro de quando não havia a concorrência do hospital
São Francisco e a Santa Casa era o único hospital que atendia a UNIMED, nós tínhamos uma
reserva que dava pra suportar em torno de 3 meses de funcionamento, tinha fluxo de caixa para 3
meses a frente, o que foi corroído pelo déficit do SUS. Hoje não existe demanda para se atender
147
40% de convênios e particulares, pois os usuários da UNIMED preferem ser atendidos pelo
hospital São Francisco e os médicos que são sócios do Hospital São Francisco indicam o hospital
deles aos usuários dos convênios.
3ª questão - É possível gerir esse hospital apenas com a receita prestação de serviço
hospitalar?
G2S1 – Os hospitais filantrópicos não conseguem. Se não houver subvenção, como a de energia
elétrica que nós temos em parte, a isenção da cota patronal, a ajuda políticos e o pró- santa casa
não daria. Já são lançados programas como o pró- santa casa por que eles sabem que não dá.
Daria se atendêssemos apenas convênios e particulares, pois teríamos lucro na maioria dos
procedimentos. As santas casas são parceiras do SUS e eles sabem que podem contar. O
problema é a tabela, se o SUS fosse remunerado a altura, a população não precisaria de convênios
particulares, o hospital iria fluir muito bem e atenderia a todos.
G2S2 – Atendendo o SUS não é possível gerir esse hospital apenas com a receita de prestação de
serviços, teria que o SUS remunerar, com recursos próprios ou do ministério da saúde, cobrir
pelo menos o custo. Não é necessário que dê lucro, mas se não tiver prejuízo, o superávit que
vem dos convênios e particulares, embora não seja muito, daria pra santa casa reinvestir em
modernização das instalações e equipamentos, e ter mais condições de enfrentar as concorrências
dos novos hospitais.
Para área da saúde não tem recursos, mas para fazer olimpíadas e copa do mundo tem.
G2S1 – É possível manter um equilíbrio desse hospital se houver outros fatores que ajudem nesse
equilíbrio: primeiro – a tabela do SUS tem que sofrer reajuste, segundo – é preciso adequar a
demanda, se a demanda do SUS for maior, deve-se aumentar os recursos e é preciso também a
participação maior do setor privado através de convênios e particulares.
Tentamos manter o equilíbrio trabalhando também com o hospital enxuto, com rigor nas compras
e no gasto, mas somos os responsáveis pelo SUS no município, principalmente da urgência e alta
complexidade.
148
É preciso ter uma solução em curto prazo, ou corre-se o risco de uma desestrutura e o gasto
público será muito maior.
G2S2– Da maneira como está não é possível, o que ameniza um pouco são as subvenções
estaduais, mas a rotina do administrador é viver pedindo ajuda a deputados, prefeito para aliviar a
situação.
G2S1 – Estamos à beira de um colapso na saúde. Muitas vezes o gestor municipal não consegue
atender as necessidades da saúde na sua cidade e investe no transporte de seus pacientes para as
cidades vizinhas, sobrecarregando o atendimento do hospital dessa cidade vizinha.
G2S1 – Faz tempo que estou aqui e vejo que cada ano está ficando mais difícil e se ficar dessa
maneira é lógico que não vai sobreviver, mas tenho esperança.
A saúde é cara, sempre foi muito cara por causa dos cartéis e tecnologia moderna, as prefeituras
estão despreparadas para fazer saúde. A saúde preventiva dá pra programar, agendar, mas a
corretiva é urgente, ou o doente morre. Falta dinheiro, e se o gestor não se utilizar das santas
casas como parceiro, se for fazer sozinho, fica 3 ou 4 vezes mais caro. A preventiva já é cara.
O poder público não tem condições de gerir a saúde sozinho, a maquina publica não é enxuta,
funcionários públicos trabalham menos horas.
A saúde é o principal em uma cidade, o principal é não morrer, educação é importante, mas sem
saúde não tem educação.
O governo estadual não consegue acertar a PPI (negociação que falta em uma cidade para atender
em outra), mas com essa tabela não tem como. O serviço é caro. Quanto mais sofistica a
medicina, mais caro fica.
Os hospitais não querem ter UTI neo-natal, pois dá um enorme prejuízo, eu tenho para tentar
resolver a questão, não para ter lucro, eu tento não deixar morrer crianças, nem Campinas
consegue aceitar, falta leitos.
Quando você consegue estabilizar uma alta especialidade e ter o outro lado, convênios,
particulares e subvenções o hospital cresce, o médico quer ampliar seus conhecimentos, é preciso
acompanhar, mas vai muito dinheiro.
149
G2S2– Como eu tinha dito pra você, num passado recente tínhamos uma aplicação de 3 milhões,
hoje temos um empréstimo de 3 milhões, a santa casa é obrigada a tomar empréstimo para
subvencionar a saúde publica, faz empréstimo para pagar o déficit do SUS.
Pela emenda constitucional 29 devem ser destinados 15% pra prefeitura, 12% para o estado e
talvez 10% pra união, a prefeitura, soma e diz que está aplicando os 15%, mas é preciso ver como
e onde está aplicando esse montante.
G2S2 – É preciso rever o contrato do SUS, a contratualização, o gestor municipal através dos
15%, ou buscar os 12% do estado ou do federal, ou redirecionar essa verba. Temos acesso entre
aspas, fala que é transparente, mas não se sabe onde é que a verba, que vem do ministério da
saúde está sendo aplicada. Sabemos que pra santa casa não vem todo esse dinheiro, e se esse
dinheiro está sendo bem empregado. Como o José Carlos falou, o que o hospital municipal faz
com 10 a santa casa faz com 2.
Em 1992, o hospital municipal tinha 12 cargos de confiança, cerca de 289 funcionários e 20-30
leitos. A santa casa tinha 200 leitos, 1 cargo de confiança e 350 funcionários e resolvia o
problema. É uma incoerência. O prefeito mesmo fala que a santa casa é quem mantém a saúde do
município, mas precisa sair do discurso e ir para a prática, já que a santa casa é a ―jóia da coroa‖
é preciso cobrir esse prejuízo.
Acabamos até pensando e temos feito estudos para ver se não é melhor parar de atender o SUS.
A santa casa de Mogi Mirim está pensando realmente em rescindir o convênio com o SUS.
G2S1 – É preciso equacionar a parte das tabelas, das subvenções dos recursos próprios e tentar
também enxugar ainda mais a entidade, trabalhando com pulso firme, sendo parceiro do serviço
particular, do serviço municipal e dos médicos, não adianta brigar, tem que tentar equacionar.
7ª questão - Como vocês vêem o papel da prefeitura e dos políticos perante a Santa Casa?
G2S1 – No federal o governo tenta ver o problema, o PT tem uma linha de vigilância, gostaria
que os hospitais do governo dessem conta, mas são poucos e com problemas. A santa casa
representa mais da metade dos leitos do SUS. O governo está com a tabela na mão, a tabela é
dele, é federal. O federal não faz e joga para o estado e o município. O estado faz muito pouco e
sobra para o município que está na ponta. O prefeito nunca está por fora do que ocorre na santa
casa. Ele sabe o que nós precisamos, temos um prefeito médico, trabalha aqui e sabe o que a
gente precisa. Eu sei que é apertado, mas é preciso fazer alguma coisa, pois o prejuízo é humano.
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8ª questão - A santa casa sobreviveria sem o SUS?
G2S2 – Teoricamente sobreviveria, mas na pratica só rompendo o convenio com o SUS pra
saber, já tive visitando alguns hospitais que romperam com o SUS e o que eu ouvi dos
administradores foi: ― É ruim com ele e pior sem ele‖, então é complicado falar, pelos
demonstrativos que temos, fizemos os cálculos, tirando o movimento do SUS, dá um bom
superávit, mas isso tendo o SUS, pois temos uma estrutura que tem um custo alto e tem o aspecto
tributário e talvez seja muito difícil pra Santa casa manter as isenções de PIS, COFINS e imposto
de renda, então corre esse risco, mesmo aplicando 20% da receita em gratuidade, não sei como o
SUS vai ver isso, a gente entende que aplicando 20% de gratuidade tem o direito do certificado
de filantropia, mas vemos que algumas santas casas, mesmo atendendo 60% SUS está tendo
dificuldade em renovar o certificado de filantropia.
Antes a essência da santa casa era sobreviver de doações, hoje não é mais assim, hoje em dia com
o custo para as empresas e mesmo para o assalariado que é o mais prejudicado, pois já vem
descontado em folha o INSS, a cota patronal do INSS é 20% para o SUS mas na verdade
colocando acidente do trabalho e outros são 27,8% sobre a folha de pagamento, o que as
empresas pagam para o SUS via INSS, então como você vai pedir ao empresário uma ajuda de
custo para a santa casa, se ele já paga 27,8% sobre a folha de pagamento para o INSS custear o
SUS.
É muito ruim a administração dos recursos, volto a dizer não tem dinheiro pra saúde mas tem
dinheiro para fazer a copa do mundo. É uma questão de interesse.
G2S1 – Fica até engraçado a santa casa não atender o SUS, não parei pra pensar ficar sem o SUS,
é tão distante, por ser uma santa casa, acho que não chega a esse ponto, é tão catastrófico
humanamente, como vai ficar sem o SUS, somos uma cidade do interior, numa cidade grande
uma santa casa pode ficar sem o SUS e o SUS pode ficar sem a santa casa, pois existem outros
hospitais, mas aqui no interior é diferente, quem vai atender o SUS?
Discutir a rescisão como SUS é uma coisa, na pratica é outra. Todos irão atacar a santa casa, é o
primeiro hospital da cidade, os doentes daqui vão pra onde? Se o governo tiver outra estrutura
montada é uma situação, nós temos um hospital municipal a caminho, se o SUS for atendido lá,
vai custar mais caro.
Foi-se o tempo das doações, hoje é muito pouco, o custeio é diário, alto e complexo, emergências
acontecem de sábado e domingo. Alguém vai ter que atender.
A santa casa sobreviveria sem o SUS se trouxesse mais convênios e particulares.
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G2S1 – Minha análise pode ser errônea, pois eu preciso de um tempo maior pra ver isso e pelas
exigências da ANS, no momento de mercado que se encontra a nossa cidade, acho que não é
viável, eu gostaria de prestar serviço a convênios e não de gerir um plano de saúde, pois já tem
um cartel da UNIMED na cidade, o corpo clínico da cidade é da UNIMED, poderia ser diferente
se tivesse feito no passado, agora fica difícil pois tem um hospital particular na cidade e a
UNIMED leva tudo pra lá. Não adianta gerir um plano de saúde sem um corpo clinico pra
atender.
Da forma como a ANS está fazendo, vão deixar de existir os pequenos planos de saúde, só
sobrarão os grandes, é preciso muito dinheiro, e como uma filantrópica vai bancar um plano de
saúde pra sair de concorrentes, sem hotelaria a altura, tendo o SUS nas costas. A santa casa
mescla, mas não pode descriminar o atendimento. Para ter um plano de saúde é preciso estudar
muito bem o mercado, mas se nem os planos de saúde estruturados e com dinheiro estão
conseguindo, acho que pra nossa santa casa é muito difícil.
G2S2 – Interessante e importante seria, mas pelo nosso mercado e com as exigências da ANS é
inviável e a dificuldade de mercado na nossa região é grande a UNIMED domina. O bom seria
que viesse outro plano de saúde forte para que a santa casa prestasse serviços, já tivemos uma
proposta no passado, mas o corpo clínico da santa casa, sendo da UNIMED, não quis atender esse
outro plano de saúde.
10ª questão - A EM-29 foi votada ontem na câmara dos deputados. O que foi regulamentado
é o que é considerado saúde, por exemplo, saneamento básico e merenda escolar agora não
poderão mais ser considerados saúde, até então entrava no orçamento do estado como
saúde. Essa regulamentação pode ajudar à melhorar a situação atual?
G2S1 – o que vai acontecer é que as prefeituras vão gastar mais com saúde, mas de forma errada,
pois vão continuar fazendo pouco e caro. Vingar vai ser preciso, pois o dinheiro não está dando,
cada estado faz 2 ou 3 hospitais na capital e nada no interior, é preciso tirar os hospitais das
capitais, descentralizar, o estado de São Paulo é diferente, mas o restante é assim. Fazem 500
leitos e tem 1000 para internar, amanhã tem 1200 – 1300, não têm condições. Não resolve, isso é
desumano para o paciente, eles ficam como cigano prá lá e pra cá.
Muitos gestores de pequenas cidades não querem um hospital, preferem colocar na ambulância e
mandar pra capital.
Alguma coisa tem quer ser feita, já está na mídia o retrato da situação da saúde no Brasil.
Se o hospital não resolve o problema da emergência bem feito tanto na parte médica com
hospitalar, pode sofrer um processo e corre o risco de perder, e o serviço público não estará lá na
hora pra ajudar a santa casa a responder esse processo, e perdendo esses processos a santa casa
fica em uma situação pior ainda.
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G2S2 – Acho que não vai mudar nada, ou muito pouco, se o dinheiro não for bem administrado
não muda nada, dizem que precisa de um novo imposto para custear a saúde, mas já tivemos esse
imposto e não mudou nada.
O valor que se discute, para o poder púbico é muito pequeno, o custo é muito pequeno, se eles
assumirem a saúde o custo e muito maior, 3 a 4 vezes mais e não vai ter a mesma qualidade da
santa casa. É uma questão de bom senso do administrador, no governo Covas vários hospitais
públicos foram terceirizados por ficar muito mais barato, é muito melhor para o estado terceirizar
para quem tem competência para gerir, ai funciona.
Estivemos em São Paulo numa palestra ministrado por um conselheiro do tribunal de contas do
município de São Paulo, que disse que a prefeitura de SP está fazendo PPP para a construção de
hospitais, e ele entende que o estado tem que gerir o recurso, mas não ser o executor, construir
hospitais com a qualidade e de acordo com todas as normas e portarias, dando um prazo de 15
anos para gerir o hospital e o gestor responsável por tudo e o poder público entra com o recurso
para viabilizar, é muito mais barato, tanto que nas próprias santas casas dá pra ver uma diferença
de custo entre uma administração e outra, imagina a diferença entre os custos dos hospitais
públicos e as santas casas, a discrepância é enorme.
Síntese
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A EM - 29 depende de como vier esse dinheiro, acreditam que pode ajudar a melhorar
situação atual, mas que não vai resolver efetivamente a situação de penúria da saúde
publica no Brasil.
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