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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO - FAE

ANDREA SOARES PAES DE MENEZES

SUSTENTABILIDADE DO ATENDIMENTO AO SUS:


UM ESTUDO DE CASOS MÚLTIPLOS EM ENTIDADES FILANTRÓPICAS
DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA REGIÃO LESTE PAULISTA

São João da Boa Vista

2012

I
CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO - FAE

ANDREA SOARES PAES DE MENEZES

SUSTENTABILIDADE DO ATENDIMENTO AO SUS:


UM ESTUDO DE CASOS MÚLTIPLOS EM ENTIDADES FILANTRÓPICAS
DE ASSISTÊNCIA ÀSAÚDE DA REGIÃO LESTE PAULISTA

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado


do Centro Universitário das Faculdades
Associadas de Ensino – UNIFAE, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de
Vida.
Área de Concentração: Políticas Públicas
Orientador: Prof. Dr. Luciel Henrique de
Oliveira

São João da Boa Vista

2012

II
ANDREA SOARES PAES DE MENEZES

SUSTENTABILIDADE DO ATENDIMENTO AO SUS: UM ESTUDO DE


CASOSMÚLTIPLOS EM ENTIDADES FILANTRÓPICAS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE
DA REGIÃO LESTE PAULISTA

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Centro Universitário das Faculdades


Associadas de Ensino – UNIFAE, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre
em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida.
Área de Concentração: Políticas Públicas.

Dissertação defendida e aprovada em: 17/02/2012, pela Banca Examinadora constituída pelos
professores:

Prof. Dr. Luciel Henrique de Oliveira(Orientador)

______________________________________________________________________________

Profª. Drª. Maria Izabel Ferezin Sares

Profª. Drª. Flávia Luciane Consoni

III
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha família, aos meus queridos pais José e Neusa e ao meu amado filho
João Felipe.

IV
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me permitir ter forças para chegar ao fim deste Mestrado.

Agradeço ao meu pai pela vida e por todas as oportunidades para a realização de meus sonhos.

Agradeço à minha mãe pela presença constante em minha vida e pelo carinho dedicado ao meu
filho enquanto eu assistia às aulas do Mestrado.

Agradeço ao meu filho João Felipe, com o qual compartilho a oportunidade constante de
aprendizado.

Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr.Luciel Henrique de Oliveira, pela dedicação que teve ao
longo do curso e pelos ensinamentos transmitidos.

Agradeço aos meus amigos que compartilharam desse período de aprendizado.

Agradeço aos gestores das entidades participantes pelo apoio durante a realização da pesquisa de
campo.

V
“Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito
está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga,
mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?”

Fernando Pessoa
VI
RESUMO

Considerando as duras críticas à saúde pública em relação à escassez de profissionais, sucateamento


de equipamento, defasagem dos valores pagos aos hospitais pela tabela do Sistema Único de Saúde
- SUS, o presente estudo procura entender como as entidades filantrópicas de assistência àsaúde,
sendo essas santas casas de misericórdia e hospitais beneficentes da região leste paulista, financiam
suas despesas a fim de manter equilíbrio financeiro,visto que o atendimento ao SUS é deficitário
e,atendendo à Lei da filantropia, essas entidades prestam no mínimo 60% de seus serviços ao SUS.
O trabalho traça um panorama regional de desempenho através do estudo dos índices de liquidez de
dez entidades da região leste paulista, além de descrever de modo abrangente as formas de
financiamento e alguns índices operacionais de duas entidades objetos do estudo de casos múltiplos,
apresentando a visão dos gestores a partir da realização de dois grupos focados. O estudo apresenta
as dificuldades em se gerir entidades filantrópicas de assistência à saúde que tem como principal
atividade a prestação de serviço ao convênio SUS, abordando, de forma geral, os aspectos
financeiros e políticos que implicam na gestão da saúde, além das implicações ambientais e sociais
para a qualidade de vida das pessoas atendidas pelo sistema.

Palavras- chave: SUS, Entidades Filantrópicas e Equilíbrio Financeiro.

VII
ABSTRACT

Considering the harsh criticism to public health in relation to the shortage of professionals, scrap
junk equipment, the gap amounts paid to hospitals by the Health System – SUS table, this study
seeks to understand how the philanthropic health care works. These mercy and charity hospitals of
the eastern region of Sao Paulo state, finance their spending in order to maintain financial balance,
since the SUS service unprofitable and, answering to the philanthropy law, these entities provide at
least 60% of its services to the SUS. The paper presents an overview of a regional performance by
studying the liquidity ratios of ten organizations in the eastern area of Sao Paulo state, besides
describing comprehensively the forms of funding and some indices of two entities subject of the
multiple case study, presenting the managers view from the realization of two focus groups. The
study shows the difficulties of managing philanthropic health care whose main activity is provision
of service to SUS, addressing, in general, financial and political aspects that involve the health
management, besides environmental and social implications to the quality of life of the people
served by the system.

Keywords: SUS, Philanthropic Health and Financial Balance.

VIII
SUMÁRIO

1. Introdução....................................................................................................................................01

1.1. Objetivos.............................................................................................................................03

1.2. Organização do trabalho.....................................................................................................04

2. Referencial Teórico......................................................................................................................06

2.1. A instituição hospitalar.......................................................................................................07

2.1.1. Objeto e objetivo das organizações hospitalares......................................................13

2.2. O desenvolvimento da saúde pública no Brasil..................................................................14

2.3. SUS – Sistema Único de Saúde..........................................................................................21

2.4. Entidades Filantrópicas de assistência à saúde...................................................................29

2.5. Desenvolvimento econômico e o tripé da sustentabilidade................................................31


2.6. Qualidade de vida................................................................................................................39

2.7. Liquidez e sustentabilidade.................................................................................................41

2.8. Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS...............................................................44

3. Procedimentos Metodológicos.....................................................................................................50

3.1. Instrumento para coleta de dados........................................................................................55

3.2. Coleta de dados...................................................................................................................55

3.3. Análise de dados.................................................................................................................57

4. Resultados e Discussões..............................................................................................................60

4.1. Panorama das Santas Casas e Hospitais Beneficentes........................................................60

4.2. Análise de liquidez e grau de endividamento comparativo de dez entidades filantrópicas


de assistência à saúde da região leste paulista.................................................................................65

IX
4.3. Análise de liquidez de dez entidades filantrópicas de assistência à saúde da região leste
paulista, comparando os índices das Entidades que têm Operadora de Saúde própria com as
Entidades que não dispõem desse recurso............................................................................69

4.4. Estudo de casos múltiplos....................................................................................................71

4.4.1. Entidade “H”.............................................................................................................71

4.4.2. Operadora de saúde própria da Entidade “H”.........................................................74

4.4.3. Entidade “C”............................................................................................................78

4.4.4. Análise comparativa entre as Entidades “H” e “C”................................................80

4.5. Grupo Focado......................................................................................................................83

4.6. Implicações para o desenvolvimento regional com foco no ambiental, econômico e social e para
a qualidade de vida da população atendida pelo SUS.........................................................100

5. Considerações Finais....................................................................................................................103

6. Referências Bibliográficas............................................................................................................108

X
LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Índice de reajuste anual autorizado para planos de saúde individuais ou familiares
contratados a partir de janeiro de 1999...............................................................................................46

TABELA 2: Participantes da pesquisa...............................................................................................56

TABELA 3: Amostra da tabela de procedimentos SUS em janeiro de 2011.....................................63

TABELA 4: Índice de liquidez corrente.............................................................................................67

TABELA 5: Índice de liquidez geral..................................................................................................67

TABELA 6: Grau de Endividamento.................................................................................................68

TABELA 7: Índice de liquidez corrente. Estudo comparativo entre Entidades sem Operadora de
Saúde própria e Entidades com Operadora de Saúde própria............................................................69

TABELA 8: Índice de liquidez geral. Estudo comparativo entre Entidades sem Operadora de Saúde
própria e Entidades com Operadora de Saúde própria.......................................................................70

TABELA 9: Análise vertical e horizontal da Entidade “H”...............................................................72

TABELA 10: Percentual de receitas: SUS, convênios e particulares (Entidade “H”).....................74

TABELA 11: Paciente dia Entidade “H”.........................................................................................74

TABELA 12: Receita com convênios...............................................................................................75

TABELA 13: Internações, paciente-dia e usuários do plano de saúde ...........................................75

TABELA 14: Receitas/ despesas 2010 – Operadora de saúde........................................................78

TABELA 15: Análise vertical e horizontal da Entidade “C”..........................................................79

TABELA 16: Percentual de receitas: SUS, convênios e particulares (Entidade “C”).....................79

TABELA 17: Paciente dia Entidade “C”.........................................................................................80

TABELA 18: Tabela comparativa entre dados da Entidade “H” e Entidade “C” . Exercício de
2010..................................................................................................................................................81

XI
TABELA 19: Déficit financeiro do SUS (2010)...............................................................................81

TABELA 20: Diferença de valores entre a tabela SUS e os valores pagos por convênios e
particulares......................................................................................................................................82

TABELA 21: Índice de liquidez corrente e geral das Entidades “C” e “H”....................................88

XII
LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: Síntese dos tópicos e principais autores considerados no referencial teórico............06

QUADRO 2: Complementaridade entre os métodos qualitativo e quantitativo..............................52

QUADRO 3: Categorização dos temas............................................................................................57

QUADRO 4: Categorização dos temas e abordagens......................................................................58

QUADRO 5: Custos administrativos da Operadora........................................................................77

XIII
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

ABRASCO – Associação Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva

AIH – Autorização de Internação Hospitalar

AIS – Ações Integradas de Saúde

ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CEBAS – Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social

CEBES – Centro Brasileiro de Estudos em Saúde

CIT – Comissão Intergestores Tripartite

CMB – Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais Beneficentes e Entidades


Filantrópicas

CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social

CNS – Conselho Nacional de Saúde

CONASP – Conselho Consultivo de Administração de Saúde Previdenciária

CTPS – Carteira de Trabalho e Previdência Social

DIOPS – Documentos de Informações Periódicas das Operadoras de Planos de Saúde

FEHOSP – Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo

FSESP – Fundação Serviço e Saúde Pública

IAC – Incentivo de Adesão à Contratualização

IAP – Instituto de Aposentadorias e Pensões

IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

IGPM – Índice Geral de Preços do Mercado

XIV
ILC – Índice de Liquidez Corrente

ILG – Índice de Liquidez Geral

ILI – Índice de Liquidez Imediata

ILS – Índice de Liquidez Seca

INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

INPS – Instituto Nacional de Previdência Social

ISO – InternationalOrganization for Standardization

OMS – Organização Mundial de Saúde

ONU – Organização das Nações Unidas

OPAS – Organização Pan Americana de Saúde

PIB – Produto Interno Bruto

PREV- SAÚDE – Programa Nacional de Serviços Básicos em Saúde

QV– Qualidade de vida

RDC – Resolução da Diretoria Colegiada

RN – Resolução Normativa

SAMDU – Serviço de Assistência Domiciliar de Urgência da Previdência Social

SAMPS – Serviço de Assistência Médica da Previdência Social

SIA – Sistema de Informações Ambulatoriais

SIH – Sistema de Informações Hospitalares

SIOPS – Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde

SUCAM – Superintendência de Campanhas de Saúde Pública

SUDS – Sistema Unificado Descentralizado de Saúde

SUS – Sistema Único de Saúde

SUSEP – Superintendência de Seguros Privados

XV
ANEXOS

Anexo I: Emenda Constitucional 29.............................................................................................115

Anexo II: Nova Lei da Filantropia - Lei 12.101/2009..................................................................120

XVI
APÊNDICES

Grupo Focado 1............................................................................................................................134

Grupo Focado 2............................................................................................................................146

XVII
1 INTRODUÇÃO

A saúde pública no Brasil sempre foi alvo de duras críticas, tanto da imprensa nacional quanto da
população em geral, principalmente quando se trata da escassez de profissionais, do
sucateamento dos equipamentos e da falta de estoque de medicamentos em hospitais públicos e
privados conveniados ao Sistema Único de Saúde.

Para Andreola (2009), a defasagem dos valores pagos aos hospitais pela tabela SUS, adicionada
aos altos custos de investimento e manutenção da estrutura hospitalar e a constante atualização
tecnológica exigida pela área da saúde, caracterizam os principais motivos da situação em que se
encontram grande parte dos hospitais públicos e conveniados do país.

O ambiente em que as organizações estão inseridas apresenta-se cada vez mais complexo e a
necessidade de informações precisas para auxiliar na tomada de decisão gerencial é cada vez
maior. Os hospitais estão cada vez mais sujeitos à competitividade do mercado e à necessidade de
prestar serviços de qualidade. Como possuem uma estrutura organizacional grande e complexa, é
necessário que exista uma gestão financeira eficiente, bem como o controle dos custos dessas
organizações.

Os gestores precisam buscar ferramentas gerenciais de eficácia comprovada, no sentido de


viabilizar a atuação das organizações hospitalares nesse ambiente.

Para Souza et al (2009), a ineficácia da gestão financeira dos hospitais, associada à defasada
remuneração do SUS (Sistema Único de Saúde), agravam o problema das organizações
hospitalares. Observa-se que o endividamento dos hospitais aumenta cada vez mais, levando à
escassez de investimentos em manutenção de equipamentos, em capacitação profissional e em

1
desenvolvimento da gestão da organização. Assim, torna-se importante um acompanhamento do
desempenho econômico-financeiro dos hospitais para que possam ser tomadas decisões que
melhorem a situação financeira dessas organizações.

Os hospitais filantrópicos devem destinar pelo menos 60% de seus leitos aos usuários do SUS em
contrapartida à isenção de impostos de que gozam. Mesmo usufruindo de isenções de impostos, o
atendimento aos pacientes SUS é deficitário.

Através de observações durante trabalhos de auditoria independente em santas casas e hospitais


beneficentes do interior do estado de São Paulo, desenvolvidas pela autora desse estudo, foi
possível verificar as dificuldades na manutenção do equilíbrio econômico-financeiro dessas
entidades filantrópicas de assistência à saúde que atendem os usuários do SUS.

A importância desse estudo versa sobre a averiguação de como as entidades filantrópicas de


assistência à saúde buscam recursos para continuar em operação, mesmo com o déficit causado
pelo atendimento ao SUS.

Desta forma, ao se propor a realização de uma pesquisa de campo com a finalidade de estudar a
gestão dos recursos dessas entidades frente ao déficit ocasionado pelo atendimento ao SUS,
surgiu à seguinte questão norteadora deste projeto:

As entidades filantrópicas de assistência à saúde são capazes de manter sustentabilidade


promovendo atendimento aos pacientes do SUS?

2
Os resultados deste estudo poderão contribuir com a gestão desses hospitais a fim de mostrar um
panorama regional da situação financeira desse segmento, além de demonstrar as formas de
financiamento de duas entidades (sendo que uma delas possui uma operadora de saúde própria e
outra não), podendo assim servir de modelo para que possa ser feita uma replicagem desse estudo
em outras entidades ou outras regiões.

1.1 Objetivos

O objetivo geral desta pesquisa consiste em verificar a sustentabilidade das entidades


filantrópicas de assistência a saúde da região leste paulista a partir da receita com prestação de
serviços hospitalares.

Os objetivos específicos definidos por esta pesquisa foram:

a) Levantar o panorama regional de desempenho financeiro de entidades filantrópicas de


assistência à saúde da região leste paulista;

b) Descrever as formas de financiamento das despesas e obtenção de recursos de duas entidades


filantrópicas de assistência à saúde, objetos de estudo de casos múltiplos;

c) Levantar o déficit financeiro ocasionado pelo atendimento ao SUS nessas duas entidades no
exercício de 2010;

3
d) Entender a influência financeira de uma Operadora de Saúde própria sobre as entidades
filantrópicas de assistência à saúde;

e) Descrever as implicações ambientais e sociais relacionadas com a qualidade de vida das


pessoas atendidas pelo SUS;

1.2 Organização do trabalho

Para a realização desta pesquisa, foi estruturado um referencial teórico compreendendo a história
da saúde pública no Brasil, além da caracterização das principais legislações vigentes nas
entidades filantrópicas de assistência à saúde. O capítulo 1 apresenta a introdução geral da
pesquisa, compreendendo a questão da pesquisa, a justificativa e o objetivo da pesquisa bem
como o detalhamento de como o trabalho completo está organizado.

O capítulo 2 apresenta o referencial teórico que está dividido em oito partes. As três primeiras
colocam de forma histórica o desenvolvimento da saúde, desde os primórdios da instituição
hospitalar ao desenvolvimento da saúde pública no Brasil, que culminou na formação do SUS. A
quarta parte apresenta a importância das entidades filantrópicas de assistência à saúde no Brasil e
os requisitos para a obtenção do certificado de filantropia. A quinta parte trata do
desenvolvimento sustentável, suas origens e conceituações e a relação com o desenvolvimento
econômico. A sexta parte aborda o tema qualidade de vida. A sétima parte mostra a importância
do índice de liquidez e a sustentabilidade no acompanhamento do desempenho das empresas. Na
oitava e última parte um pouco da história da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e o
impacto das normativas sobre os planos de saúde.

No capítulo 3 são apresentados os procedimentos metodológicos da pesquisa, compostos pelo

4
tipo de pesquisa, os procedimentos aplicados, os instrumentos para coleta de dados, análise dos
dados e, por fim, um detalhamento das etapas da pesquisa.

O capítulo 4 apresenta os resultados da pesquisa distribuídos em três etapas distintas, a primeira


mostra um panorama das entidades filantrópicas de assistência à saúde da região leste paulista
através do índice de liquidez. A segunda etapa compreende um estudo de casos múltiplos em
duas entidades filantrópicas de assistência à saúde e a terceira etapa mostra a análise de dois
grupos focados, realizados nas duas entidades, objeto do estudo de caso.

O capítulo 5 compreende as considerações finais deste trabalho.

5
2 REFERENCIAL TEÓRICO

A fim de ilustrar os temas abordados no referencial teórico, foi desenvolvido o quadro 1 que
sintetiza os principais tópicos e autores referenciados.

QUADRO 1: Síntese dos tópicos e principais autores considerados no referencial teórico

Temas Tópicos ou Contribuições Principais Referências

A Instituição Caracterização e análise histórica Novaes e Paganini (1992)


Hospitalar Objeto e objetivo das organizações hospitalares Faingluz (2001)
Lima et al ( 2004)
O desenvolvimento A história da saúde pública no Brasil Ponte (2010)
da saúde pública no Merhy (1992)
Brasil Almeida (2005)

SUS – Sistema A trajetória histórica que culminou na formação do Ponte (2010)


Único de Saúde SUS Campos (2007)
Bertone (2002)

Entidades A importância das entidades filantrópicas e a nova Beuren e Colauto (2003)


Filantrópicas lei da filantropia Lei 12.101/2009

Buarque (1999)
Desenvolvimento Conceitos de desenvolvimento sustentável Diegues (1992)
Econômico e o tripé Elkington (2001)
da Sustentabilidade Estratégias de desenvolvimento econômico local Rigoletto (2010)
Henriques (2007)
Sacks (2007)
Minayo et al (2000)
Qualidade de vida Conceitos de qualidade de vida Seidl (2004)
Jesus e Souza (2007)

Liquidez e A importância dos índices de liquidez no Aquedawa (2009)


Sustentabilidade acompanhamento do desempenho das empresas. Zanluca (2010)
Gitman (2009)

Agência Nacional de Histórico e linha do tempo da Agência Nacional de ANS (2010)


Saúde Suplementar - Saúde Suplementar Costa (2008)
ANS Piola et al (2009)

FONTE: Elaborado pela autora

6
2.1 A instituição hospitalar

De acordo com Novaes e Paganini (1992), o hospital é um estabelecimento dedicado à assistência


médica, por meio de atendimento ambulatorial e através de internação, seja de dependência
privada, estatal ou do seguro social, podendo ser classificado de baixa ou alta complexidade, com
ou sem fins lucrativos.

O sistema hospitalar brasileiro se configura da seguinte forma:

a) Hospitais públicos atendem preferencialmente os pacientes provenientes do SUS, sendo


que seus serviços são ressarcidos através de verbas públicas.

b) Hospitais sem fins lucrativos (filantrópicos e beneficentes, como: santas casas, hospitais
de caridade, entre outros), mesmo privados, oferecem seus serviços preferencialmente aos
pacientes do SUS, atendendo, também, outras clientelas diferenciadas.

c) Hospitais com fins lucrativos atendem preferencialmente pacientes privados ou portadores


de convênios privados. Essas instituições têm o seu foco de mercado em uma clientela
diferenciada, e atendem cerca de 41 milhões de pessoas (em torno de 26,42% da
população brasileira). (NOVAES E PAGANINI, 1992)

Os hospitais privados, por atenderem uma clientela diferenciada, devem ser mais lucrativos e os
hospitais públicos, menos lucrativos, por atenderem a pacientes do SUS.

7
Essas questões são relevantes para analisar o cenário do setor hospitalar, visto que uma das
estratégias mais discutidas em encontros científicos de administração e gestão da saúde é a busca
de receitas alternativas. Dessa forma, Faingluz (2001) aponta a necessidade crescente de uma
gestão competente das instituições hospitalares, onde a competência dos gestores deve estar
alinhada com a busca de resultados.

De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), as instituições hospitalares são


definidas como todos os estabelecimentos com pelo menos cinco leitos, para a internação de
pacientes, que garantem um atendimento básico de diagnóstico e tratamento, com equipe clínica
organizada e com prova de admissão e assistência permanente prestada por médicos. Dessa
forma, pode-se afirmar que os hospitais são organizações caracterizadas por atender as
necessidades de saúde da população, procurando reduzir o sofrimento físico e psicológico dessas
pessoas e oferecendo oportunidades de reintegração do indivíduo sadio à sociedade e ao seu meio
de trabalho. (AZEVEDO ET AL, 2002)

De acordo com a etimologia, a palavra hospital vem do latim ―hospitale‖, substantivo derivado
de hospes (hóspede, viajante), significando também o que hospeda. Também proveniente do
latim, hospitium, significa lugar onde se hospedam pessoas.

Segundo Faingluz (2001) existem registros da existência de hospitais nos mercados da Babilônia
e no antigo Egito.

Naquela época, hospital era apenas um depósito em que se amontoavam pessoas doentes, com
uma função mais social do que terapêutica, visto que os conhecimentos médicos eram restritos. O
conhecimento sobre doenças limitava-se ao conhecimento dos doentes.

8
O imperador Constantino, ao abraçar a fé cristã, mandou destruir os templos de Esculápio (335
D.C.) e construiu, em Constantinopla, um hospital para estrangeiros e peregrinos em demanda da
Terra Santa.

O hospital foi inicialmente estabelecido como instituição filantrópica e agência de auxílio aos
pobres e, simultaneamente, caracterizado como instituição religiosa e espiritual.

A caridade (doações, oferendas, terras e construções), financiava as despesas dos hospitais


medievais, consequência de um dos mais fortes sentimentos da época, o desejo da salvação, de
santificação.

Em 1772, após o incêndio do - Hotel de Dieu - hospital em Paris, com capacidade para 1.100
leitos individuais e 600 coletivos, foi reformulado todo planejamento hospitalar da época. Um
novo projeto de concepção física e administrativa das instituições hospitalares, isolando salas,
reduzindo leitos, melhorando a condição ambiental (aeração) e autorizando a edificação de dois
pavimentos no caso de escassez de terreno (três andares em casos especiais), foi criado pela
Academia de Ciências de Paris. (FAINGLUZ, 2001 p.45)

O primeiro hospital da América foi o Jesus Nazareno, construído por Fernão Cortez em 1524, no
México. (MADEIRA, 2007)

Em 1485, de acordo com Faingluz (2001), o Papa Inocêncio VII, autorizou a integração de alguns
pequenos hospitais existentes nas cidades portuguesas em um único hospital. Nascia então, em
1494, o Hospital Real de São José, cujos cuidados e manutenção ficaram sob responsabilidade da
Irmandade de Nossa Senhora da Misericórdia. Esse modelo se espalhou por todo o país, e por

9
determinação de Dom João VI, todos os hospitais deveriam obedecer aos regulamentos e às
disposições da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa.

A assistência hospitalar no Brasil se iniciou logo após o descobrimento do país. As primeiras


organizações da sociedade civil do Brasil foram as Santas Casas de Misericórdia, e se encontram
atuantes até hoje. De acordo Silva (2010), a atuação direta do Estado na área social era mínima e
o atendimento às camadas carentes da população apoiava-se em um modelo importado pelas
Casas de Misericórdias portuguesas, de iniciativas caritativas e cristãs.

Mesmo antes de receber o seu primeiro governador-geral, a Terra de Santa Cruz viu surgir uma
obra de Misericórdia, erguida em Santos, por Braz Cubas - o primeiro hospital do Brasil.

A Santa Casa foi inaugurada em 1º de novembro de 1543, sob a proteção de Santa Isabel e tendo
Braz Cubas como seu primeiro provedor, o de maior duração, que permaneceu por 49 anos no
cargo, até sua morte em 1592.

―A primeira Irmandade da Santa Casa da Misericórdia construída no País e na América


Latina, o hospital de ―todos os santos‖, deu origem ao nome da cidade, que cresceu em
torno da entidade, que por séculos atendeu a navegantes, colonos, nativos, bandeirantes,
imigrantes e hoje é considerado o maior centro de referência em atendimento na área da
saúde, atendendo pessoas vindas dos nove municípios da Baixada Santista, Litoral Norte
e Sul de São Paulo e Vale do Ribeira.‖ (Jornal Rumo Novo, 2008 p.06)

Considerada a mais bem aparelhada da região, a Santa Casa de Santos vem investindo
continuamente na aquisição de equipamentos de alta tecnologia, os quais são colocados à
disposição dos serviços especializados, para um atendimento diferenciado aos pacientes.

10
A Santa Casa de Santos foi declarada ―Hospital de Ensino‖ em novembro de 2007. O hospital
conta com mais de três mil funcionários e uma infraestrutura de primeiro mundo, além dos três
corpos de voluntários, que desempenham funções de fundamental importância para o hospital e
para os pacientes.

A primeira doação voluntária que consta do testamento da senhora Isabel Fernandes em 1599,
dizia: ―Deixo à misericórdia mil réis‖, doados a Santa Casa de Santos. (SILVA, 2010 p. 1305)

As Santas Casas atuaram como principais prestadoras de serviços hospitalares no país, desde o
período colonial, passando pelo Império, República Velha e estendendo-se até o Estado Novo, na
primeira metade do século XX. (ANS, 2010)

Logo após, Olinda construiu seu primeiro hospital e, no final do século XVI, foi criada a Santa
Casa de São Paulo. (GÓES, 2004. p.11)

A influência recebida fez com que proliferassem instituições hospitalares, inspiradas pelo espírito
caritativo do território brasileiro.

Apesar de um grande número de estabelecimentos hospitalares disseminados pelo país, somente


na década de 1930 é que a administração hospitalar começou a se mostrar presente.

No Brasil, a construção e organização do Novo Hospital da Irmandade da Santa Casa de


Misericórdia de Santos e do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, no início do
século XX, marcaram o início de uma nova era hospitalar. (MIRSHAWAKA, 1994).

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A complexidade da organização do trabalho nesse espaço hospitalar passou a exigir profissionais
qualificados para a sua administração. Assim, no início do século XX, surgiram os primeiros
cursos de formação de administradores hospitalares na Universidade de São Paulo, na Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, na Universidade de Ribeirão Preto e em diversas outras
instituições de ensino do País. O hospital começa a ser gerido como uma empresa, com técnicas
de gestão empresarial como: planejamento, avaliação de resultados, criação de carreiras
profissionais, profissionalização da função de administrador hospitalar e a racionalização, ainda
que de maneira incipiente.

A Constituição Brasileira de 1988 estabelece (Art. 2º, parágrafo 1º) a saúde como um direito
fundamental do ser humano, e um dever do Estado a sua garantia. Como estratégia para se
conseguir alcançar esse objetivo vem-se implantando como modelo público o Sistema Único de
Saúde.

A finalidade básica do hospital é o atendimento assistencial em regime de internação, sem excluir


o atendimento ambulatorial. Suas atividades incluem:

- prevenção;
- terapêutica;
- reabilitação;
- ensino e pesquisa.

Hospitais brasileiros, integrantes ou não do SUS, não vêm respondendo adequadamente às


necessidades de saúde da população em vista de situações como:
- insuficiente dotação orçamentária;
- baixos valores remunerados pelo SUS e planos de saúde;

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- ausência de planejamento na hierarquização do sistema de saúde em âmbito federal, estadual e
municipal.

O setor hospitalar filantrópico no Brasil é atualmente responsável por cerca de 1/3 dos leitos
existentes no país (DATASUS, 2010). É caracterizado como importante prestador de serviços ao
Sistema Único de Saúde, assim como à saúde suplementar. De acordo com Lima et al (2004), o
setor requer ser melhor reconhecido, tendo em vista a formulação mais justa de políticas
governamentais, objetivando a sua manutenção, desenvolvimento e maior integração ao sistema
de saúde brasileiro, nas esferas pública e privada.

2.1.1 Objeto e objetivo das organizações hospitalares

As organizações hospitalares têm papel preponderante a cumprir na construção de um mundo


novo e, para isso, é preciso assumir responsabilidades sociais com a comunidade. Segundo
Beuren e Colauto (2003), as organizações modernas devem-se preocupar em ser responsável pela
qualidade de vida, atendendo aos valores básicos, crenças e objetivos fundamentais que norteiam
a época e a sociedade na qual estão inseridas.

Não há como isentar o hospital da relação de semelhança com uma empresa. O hospital possui os
mesmos problemas de receitas e despesas, ordem legal, administrativa, trabalhista, além da
sistemática global do empresariado capitalista, ou seja, a busca pela maximização do superávit
financeiro, indispensável para acompanhar a evolução tecnológica médica e ampliar ou manter
seu capital estrutural.

O objeto social da empresa hospitalar é formado com base na idéia de que os membros
constitutivos têm sobre o ramo de especialização a ser explorado. Dessa forma, ao se constituir

13
uma instituição filantrópica com a finalidade de atuar no campo hospitalar, é bastante provável
que o objeto social envolvido seja proveniente da necessidade que um grupo de pessoas observou
como carência de uma comunidade.

Em relação aos objetivos pelos quais foram constituídas as organizações hospitalares,


compreendem a captação, administração e maximização dos recursos, com a finalidade de
promover atendimento médico de forma contínua.

Os hospitais devem ser tratados como organizações profissionais e os resultados das organizações
profissionais não são facilmente medidos ou padronizados. As dificuldades de mensuração têm
sido contornadas, parcialmente, para efeitos gerenciais, usando-se indicadores de desempenho.

2.2 O desenvolvimento da saúde pública no Brasil

De acordo com Almeida (2005) a história da saúde pública brasileira tem início no começo do
século XX, com Emílio Ribas em São Paulo e Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro.

―Gente que aderiu às teorias de Pasteur, abandonando as que atribuíam aos miasmas ou
ao clima as origens das doenças, para buscar um agente causador das enfermidades e
suas formas de transmissão. Entre estes se achavam Emílio Ribas, Adolfo Lutz, Vital
Brasil e Oswaldo Cruz, cujas histórias começam a se cruzar em 1889, por ocasião do
aparecimento de uma estranha doença na cidade portuária de Santos, no litoral paulista.‖
(PONTE, 2010 p. 56)

Cientistas tinham como meta introduzir a teoria bacteriológica, considerada mais adequada para
organizar a intervenção no campo da saúde na escola pasteuriana. Para Merhy e Queiroz (1992),
tanto a saúde como a doença passaram a ser vistas como um processo coletivo, resultado da
agressão externa que o corpo biológico sofria de um meio insalubre.
14
De acordo com Ponte (2010), o Brasil chega ao fim do século XIX com graves problemas de
saúde pública, com uma imagem de lugar extremamente insalubre, colocando a vida em risco
constante, pelas precárias condições sanitárias de seus centros urbanos e das epidemias que
costumavam atingir sua população.

Os objetivos da teoria bacteriológica tinham em vista a descoberta e o isolamento dos pacientes


doentes contagiantes, o saneamento, a extinção de vetores biológicos e a proteção dos sadios. A
bacteriologia e a engenharia sanitária se tornaram instrumentos das ações de saúde, para assim,
utilizarem-se da medicina, entendida como limitada e pouco eficaz.

De acordo com Merhy e Queiroz (1992), institutos de pesquisa, laboratórios e serviços sanitários
foram organizados como braços auxiliares.

Novas ideias partiram da teoria bacteriológica, e, na década de 1910, influenciaram na formação


de um movimento em saúde pública, conhecido como ―movimento médicossanitário‖.

―Protestos populares contra as desapropriações e as demolições que abriam espaço para


largas avenidas, e contra o novo código de posturas municipais que proibia uma série de
atividades então bastante comuns – como, por exemplo, a criação de porcos nos quintais
e a venda de miúdos nas ruas da cidade – somavam-se ao descontentamento provocado
pelas ações mais pontuais propostas por Oswaldo Cruz para combater as epidemias,
como a lei da vacinação obrigatória contra a Varíola.‖ (PONTE, 2010, p. 60)

Nesta época, a fim de proporcionar saúde ao povo, buscava-se no Brasil uma ação social para
sanear a zona rural, permitindo, ao mesmo tempo, a ocupação do interior do país, considerada
vital para a integração nacional. A chamada Liga do Saneamento criticava o excessivo urbanismo
e regionalismo da política de saúde então vigente, dando origem ao conceito de "consciência
sanitária", em que se questionava como o meio insalubre atingia os indivíduos.

15
―O período é fortemente marcado pela ação de sanitaristas que, ao lado de
intelectuais como Euclides da Cunha, causaram grande impacto no imaginário social
brasileiro. As campanhas sanitárias de Oswaldo Cruz, no início do século; as imagens de
um sertanejo forte, capaz de resistir à natureza hostil e ao avanço das tropas do exército
republicano, trazidas por Euclides da Cunha quando da publicação de Os sertões, em
1902; os relatórios de expedições científicas ao interior do país, realizadas pelo Instituto
Oswaldo Cruz entre 1912 e 1917; e a ação da Liga Pró-Saneamento do Brasil, criada em
1918 sob a direção do médico sanitarista Belisário Penna, tiveram grande divulgação e
repercutiram de forma significativa na intelectualidade brasileira.‖ (PONTE, 2010 p. 74)

Com grande repercussão na imprensa, o movimento, formalmente organizado na Liga Pró


Saneamento do Brasil, conduziria a uma grande reforma dos serviços sanitários, com a criação,
em janeiro de 1920, do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), do qual Chagas foi o
primeiro diretor.

Ponte (2010) relata que vários acordos internacionais foram firmados e muitas instituições
criadas ao longo do século XX obedecendo à lógica campanhista. Entre as instituições criadas no
Brasil podemos citar: o Serviço de Malária do Nordeste, criado em 1939 e transformado
posteriormente em Serviço Nacional de Malária (1941); o Serviço Nacional de Febre Amarela, de
1940; o Serviço Especial de Saúde Pública, criado em 1942, mais tarde transformado na
Fundação SESP; a Campanha de Erradicação da Varíola, criada em 1966 como parte de um
programa mundial da Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Pan- Americana
de Saúde (OPAS) na década de 1960, e a Superintendência de Campanhas de Saúde Pública
(SUCAM), criada em 1969.

Medicina e saúde pública eram entendidas como campos distintos; a primeira para curar através
da clínica, patologia e terapêutica, e a segunda para prevenir doenças, prolongar e promover a
saúde através da higiene e da educação sanitária. O setor privado visto pela perspectiva da
caridade deveria ser controlado pelo serviço público. O modelo tecnoassistencial desta proposta
centrou-se na construção de serviços regionais permanentes de saúde pública (os centros e postos
de saúde) comandados por especialistas, em tempo integral.

16
―Somente a partir de 1923, com a promulgação da Lei Eloy Chaves, vemos proliferar as
Caixas de Aposentadoria e Pensões. Vinculadas a grandes empresas, destinavam-se a
fornecer serviços de assistência médica e de seguridade social aos trabalhadores e seus
dependentes, em troca de contribuições mensais efetuadas pelos empregados e
empregadores. Inicialmente restritas ao âmbito das empresas, as Caixas, [ ]
transformadas nos Institutos de Aposentadoria e Pensões, ampliaram seu raio de ação,
organizando-se em torno de categorias profissionais, e passaram a ter uma abrangência
bem maior até serem unificadas com a criação do Instituto Nacional de Previdência
Social, em 1966.‖ (PONTE 2010, p. 118)

Em 1937, a Reforma Federal permitiu a criação dos departamentos nacionais de combate a


problemas específicos, como a febre amarela, a malária, e a saúde das crianças.

Na década de 1940, foi implementada a FSESP - Fundação Serviço de Saúde Pública, um serviço
que permitiu a ocupação de regiões importantes para a produção de borracha e minérios.

―Na interseção entre as reformas na estrutura de saúde nacional e o diálogo dessas


transformações com as diretrizes internacionais de saúde, foi também criado, dentro do
Ministério da Educação e Saúde, o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) em 1941.
Suas atividades se voltaram principalmente para o treinamento e a qualificação
profissional, a educação sanitária e a criação de uma rede integrada de serviços de
saúde.‖ (PONTE, 2010, p. 143)

Em 1948, a exemplo do que ocorria em outros estados, a Fundação SESP tentou influenciar a
constituição da Secretaria Estadual de Saúde no estado de São Paulo. (MERHY E QUEIROZ,
1993)

No final da década de 1940 já era evidente uma inversão dos gastos públicos, favorecendo a
assistência médica em relação à saúde pública. Nos anos 60, a assistência médica e promoção da
saúde pública se expande no interior de um modelo institucional que mostrava ações pontuais e
desordenadas, incapazes de conter a miséria e as péssimas condições de saúde da população
brasileira.

17
Foi criado em 1953 o Ministério da Saúde e, em 1956, o Departamento de Endemias Rurais, que
herdou um conjunto de projetos realizados nos departamentos verticalizados específicos, como o
da malária, existente desde 1939.

De acordo com Merhy e Queiroz (1993), neste período se propagava intensamente a ideia de que
a doença e a miséria só seriam controladas com o desenvolvimento econômico. No campo da
saúde propriamente dito, propunha-se um padrão tecnológico mais racional, de menor custo,
integrado em seus vários campos de atuação e sem a influência das leis de mercado. Esta
perspectiva rompia com a divisão entre assistência médica e saúde pública, subordinando aquela
à lógica desta. Para isso, previa-se a implantação de serviços permanentes (contendo ações
médicas e sanitárias), municipalizados e controlados pelo Estado de acordo com uma hierarquia
de complexidade tecnológica. No sentido de normatizar as ações, racionalizar as atividades e
ajudar os municípios que ainda não tivessem condições de organizar seus próprios serviços,
deveria ocorrer uma ação federal.

A assistência médica, que até 1945, permaneceu acessível a poucos trabalhadores, proporcionada
apenas quando houvesse disponibilidade de recursos, mediante contribuição suplementar, amplia
seus serviços, com a criação do Serviço de Assistência Domiciliar de Urgência da Previdência
Social (SAMDU), em 1949, e do Serviço de Assistência Médica da Previdência Social (SAMPS),
em 1955, custeados pelos saldos orçamentários dos institutos, mas controlados pelo Ministério do
Trabalho.

Discutiu-se no Brasil, pela primeira vez, um modelo tecnoassistencial baseado na integração das
ações individuais e coletivas de saúde, elaborados de acordo com um planejamento
governamental, cujo ponto de apoio seria constituído a partir de serviços básicos de saúde
permanentes.

18
Em 1964, estas propostas foram derrotadas, colaborando no surgimento da estruturação de um
modelo com centro na assistência médica comercializada, que passava pelo setor previdenciário,
sendo a saúde pública reduzida a um braço auxiliar. Houve uma completa separação entre o
campo da assistência médica e o da saúde pública, com grandes investimentos no primeiro e o
sucateamento do segundo. Somente em algumas regiões renasceram experiências no campo da
saúde pública que merecem alguma atenção, como as ações médicossanitárias, em alguns estados
e o "campanhismo", em nível federal.

Para Ponte (2010), a unificação previdenciária de 1966, que cria o Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS), através da junção de todos os IAPs, é que torna possível a inclusão
dos trabalhadores rurais, por meio do Prorural/Funrural (1971), dos empregados domésticos (lei
5.899, de 11/12/1972) e dos trabalhadores autônomos (lei 5.890, de 8/6/1973).

As criações do Centro de Estudos Brasileiros de Saúde e dos departamentos de medicina


preventiva disseminaram essa nova consciência. Aspirava-se a uma reforma sanitária de acordo
com limites financeiros impostos pela crise econômica que pudessem oferecer melhores
condições de saúde à maioria da população.

A estrutura institucional do Ministério da Previdência e Assistência Social foi reorganizada em


1974, porém não alterou o modelo privado prestador de serviços, o chamado complexo médico-
industrial. Em 1975, a instituição do Sistema Nacional de Saúde abriu um novo espaço de
atuação a partir da assistência médica individual, além de medidas de alcance coletivo voltadas às
populações de baixa renda.

A criação do Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes), em 1976, e da Associação


Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), em 1979, teve enorme importância na
luta pela democratização da saúde e da sociedade brasileira. Os membros dessas entidades

19
atuaram como difusores da reforma sanitária e conseguiram estabelecer a formulação teórica
sobre as principais questões ligadas à saúde, colocando em prática a estratégia de se inserir nos
espaços institucionais e intervir nas decisões parlamentares. (PONTE, 2010)

A partir de 1977, o atendimento de urgência se estendeu a qualquer pessoa, previdenciário ou


não, e os "estouros" no orçamento do sistema previdenciário passaram a ocorrer com maior
freqüência. O Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária (CONASP) e os
planos de governo Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde (Prev-Saúde) vieram como
tentativas de promover uma maior racionalidade ao sistema de saúde. O CONASP propunha a
descentralização do sistema de assistência médica através da criação de uma única "porta de
entrada", integrando em uma rede básica de serviços públicos de saúde a capacidade instalada já
existente no Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), nos
estados e municípios, entrando a rede privada apenas onde não existissem unidades estatais.

A municipalização dos serviços de saúde passou a ser o único meio que


permitiria, ao mesmo tempo, maior controle financeiro, racionalização administrativa e
participação democrática da comunidade no gerenciamento do sistema, ao contrário da
excessiva centralização do modelo anterior. Esperava-se, também, que este sistema
estimulasse o desenvolvimento de uma medicina mais holística, gravitasse em torno dos
verdadeiros problemas de saúde da comunidade e provesse uma melhor organização do
sistema, tornando menos oneroso o serviço de saúde. Este processo, embora marcado
pelo baixo custo, permitiu experimentar modelos tecnológicos e assistenciais
alternativos, baseados na medicina comunitária, que mostraram algum sucesso no
interior das instituições públicas. (MERHY E QUEIROZ, 1993 p.180)

O agravamento da crise econômico-financeira da Previdência Social acelerou a reforma no setor


de saúde, principalmente a partir das Ações Integradas de Saúde (AIS), em 1982. As AIS
produziram um deslocamento de recursos financeiros da Previdência para o setor público
prestador de serviços de saúde e promoveram uma integração das ações entre os setores. Esse
processo foi acentuado com a estruturação do Sistema Unificado Descentralizado de Saúde
(SUDS) e com a formação do Sistema Único de Saúde (SUS).

20
Com a implementação do SUDS, ocorreu uma transferência das responsabilidades de gestão dos
serviços de saúde para o nível estadual, permitindo uma descentralização administrativa. Com a
implementação do SUS, através da nova Constituição Federal, ocorreu a descentralização, em
nível municipal, da gestão dos serviços públicos de saúde.

2.3 SUS – Sistema Único de Saúde

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado para que toda a população passasse a ter atendimento
igualitário, com cuidados e promoção da saúde. Até a criação do SUS, a saúde não era
considerada um direito social. Havia até então três categorias em que os brasileiros eram
divididos: quem estivesse em melhor situação financeira tinha garantidos os serviços de saúde
privados; os trabalhadores com carteira assinada (CTPS) tinham direito a saúde pública por serem
segurados pela previdência social; e, por fim, os pobres e desempregados, que não tinham direito
algum. O projeto do Sistema Único de Saúde teve como pretensão a materialização de ações
promocionais, assim como a prevenção e assistência à saúde de todos os cidadãos brasileiros.

Tentando solucionar os inúmeros problemas no atendimento da população em relação à saúde,


deu-se início entre as décadas de 1970 e 1980 à criação de um ―movimento sanitário‖ com
participação em sua maioria de médicos, enfermeiros, sindicatos, donas de casa, religiosos e os
funcionários dos postos de atendimento, que, junto com as secretarias de saúde, objetivavam criar
um novo sistema de saúde público. Esse movimento tinha a convicção de que todos os brasileiros
tinham direto à saúde e que caberia aos governantes, com a participação da sociedade, a
responsabilidade de fazer todo o necessário para viabilizar o objetivo proposto.

―Um Sistema Único de Saúde que efetivamente represente a construção de um novo


arcabouço institucional separando totalmente saúde de previdência, através de uma
ampla Reforma Sanitária‖. Este novo sistema ―deve ser coordenado por um único
Ministério, especialmente concebido para esse fim‖. (BERTONE, 2002, p. 80).

21
O sistema foi viabilizado depois das lutas de um grande número de pessoas interessadas em
melhorar a condição precária da saúde pública no Brasil. O empenho desprendido foi tão eficaz,
que a Constituição Federal de 1988 determinou ser dever do Estado garantir saúde a toda a
população. Assim, foi criado então o Sistema Único de Saúde. Em 1990, o Congresso Nacional
aprovou a Lei Orgânica da Saúde (Lei n. º 8.080, de 19 de setembro de 1990), que detalha o
funcionamento do Sistema.

―O Sistema Único de Saúde (SUS) deveria ser descentralizado – com a obrigação de o


governo federal, por intermédio do Ministério da Saúde, destinar parte do seu orçamento
para as secretarias estaduais e municipais de saúde, que teriam de assumir as ações na
área de forma autônoma e coordenada‖. (PONTE, 2010, p. 245)

Os governos: federal, estaduais e municipais, são os responsáveis pela administração do Sistema


Único de Saúde, garantindo a todos o mesmo tratamento, livre de qualquer preconceito ou
discriminação.

Hospitais e laboratórios se integram à rede SUS, seguindo suas normas, princípios e diretrizes.
Nos municípios sem infra-estrutura e ausência dos serviços públicos, o SUS deve contratar
serviços hospitalares e laboratoriais, cuidando para que não falte assistência às pessoas.

Foram criadas pelo Ministério da Saúde formas de descentralização e prestação de serviços


públicos de saúde, responsabilizando de forma diferenciada os diferentes municípios, havendo
significantes diferenças entre as regiões em nosso país, de proporção continental.

O princípio constitucional que trata da universalidade dos direitos dos cidadãos, da inclusão
social, é o que garante o amparo de todas as pessoas, no direito a ter assistência nas unidades
públicas de saúde, sob a responsabilidade do SUS. É uma questão de garantia da igualdade, tendo

22
em vista que, no sistema de saúde anterior, apenas cidadãos trabalhadores com carteira assinada
tinham direito à assistência médica pelo estado.

Gestores são as entidades encarregadas de fazer com que o SUS seja implantado e
funcione adequadamente dentro das diretrizes doutrinárias, da lógica organizacional e
seja operacionalizado dentro dos princípios anteriormente citados. Haverá gestores nas
três esferas de governo, sendo em nível federal o Ministério da Saúde, em nível estadual
a Secretaria Municipal de Saúde e em nível municipal a Secretaria Municipal da Saúde.
(Campos, 2007 pag. 52)

O maior problema encontrado pelos municípios é o aporte financeiro, nem sempre suficiente para
uma boa gestão e assim não conseguem executar todos os serviços de saúde. Faltam acima de
tudo, recursos humanos, pessoas capacitadas, recursos financeiros e equipamentos suficientes a
um bom atendimento. A regra é equipamento sucateado. Por isso, torna-se necessário que o
serviço seja descentralizado, criando regionais, onde a organização do atendimento seja viável e
direta, sem duplicações e desperdício de tempo e dinheiro, conseguindo eficiência em todos os
tipos de atendimento.

―O SUS é uma das reformas com maior resultado dos últimos 20 anos. Os seus
números de atendimento são fantásticos, incomparáveis mundo afora. Somando tudo,
desde a retirada de uma unha encravada a uma cirurgia cardíaca, foram mais de 4 bilhões
de procedimentos em 2009. Mas há um gargalo hoje e ele se chama financiamento. O
dinheiro é insuficiente.‖ (PERONDI, 2011 pag.11)

Está na Constituição de 1988, a definição de como agir quando o setor público não conseguir dar
o atendimento necessário, e assim, devem ser contratados, como complemento, serviços privados,
sendo obrigatório o seguimento das regras do SUS e do serviço público. A prioridade é sempre
das entidades filantrópicas sem fins lucrativos. (PONTE, 2010, p. 245)

O alicerce legal do SUS é formado por três documentos que são princípios e diretrizes do Sistema
Único de Saúde (SUS) e constituem as bases para o funcionamento e organização do sistema de
23
saúde em nosso país. São estes os documentos legais que expressam os elementos essenciais de
sua organização:

1 – a Constituição Federal de 1988, na qual a saúde é um dos setores que estruturam a seguridade
social, ao lado da previdência e da assistência social, em especial na seção II, artigos 196 a 200;

2 – a lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, também conhecida como Lei Orgânica da Saúde,
que dispõe principalmente sobre a organização e regulação das ações e serviços de saúde em todo
o território nacional (Brasil, 1990a); e

3 – a lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que estabelece o formato da participação popular


no SUS e dispõe sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da
saúde (Brasil, 1990b)

Os recursos que financiam o SUS vêm da Seguridade Social, que participa com 30%, assim com
as verbas do tesouro nacional e o orçamento da união, que destinam 3% para a saúde. Esses
recursos irão constituir o Fundo Nacional à Saúde e seu administrador é o Ministério da Saúde,
fiscalizado diretamente pelo Conselho Nacional de Saúde. Recursos esses que serão divididos em
duas partes: uma será retida para o investimento e custeio das ações federais e a outra será
repassada para as secretarias de saúde estaduais e municipais. Em cada estado, os recursos
repassados pelo Ministério da Saúde serão somados aos alocados pelo próprio governo estadual
e, desse montante, uma parte ficará retida para as ações e os serviços estaduais, enquanto outra
será repassada aos municípios. Finalmente, caberá aos próprios municípios destinar a parte
adequada de seu próprio orçamento para as ações e serviços de saúde de sua população e gerir os
recursos federais e estaduais repassados a eles para o custeio das ações e serviços de saúde de
âmbito municipal.

24
Implantado no Brasil desde a década de 1990, o Sistema Único de Saúde, o SUS, é um sistema
que atende a todos os brasileiros, indiscriminadamente, pois, desde a promulgação da
Constituição de 1988, a saúde pública, passou a ser direito de todos e dever do Estado, sendo o
Ministério da Saúde responsável pela fiscalização para que a lei seja cumprida em todo o
território nacional.

O sistema único de saúde é financiado pelas três esferas de governo: federal, estadual e
municipal, assim como o setor privado, através de convênios e contratos firmados para garantir a
realização dos serviços garantidores da saúde. Um hospital ou clínica privados, quando prestam
serviços ao SUS, atuam com eficácia de hospital público.

De acordo com o IDEC (2003), o SUS é único e tem por objetivo atuar em todo território
nacional com a mesma vocação e organização.

A dignidade da pessoa humana foi considerada na implantação do SUS - sistema único de saúde,
sendo relevante o atendimento isonômico a todo e qualquer cidadão nacional de acordo com suas
necessidades e sem levar em conta sua condição social, e que o serviço seja sempre gratuito,
garantindo assim o tratamento da pessoa como um todo, considerando em primeiro lugar, o
indivíduo e sua comunidade, garantindo programas de prevenção à saúde.

A luta dos brasileiros sempre foi por um sistema de saúde democrático, justo, equânime, e
voltado aos interesses legítimos da população brasileira. O serviço é descentralizado, todas as
ações e serviços que atendem à população de um município devem ser municipais; as que servem
e alcançam vários municípios devem ser estaduais e aquelas que são dirigidas a todo o território
nacional devem ser federais. Um caminho importante e necessário, porém outros caminhos tão
importantes e necessários deverão ser trilhados.

25
De acordo com o IDEC (2003), o SUS deve garantir a equidade, pois deve oferecer os recursos
de saúde de acordo com as necessidades de cada um; dar mais para quem mais precisa. O SUS
tem um gestor único em cada esfera de governo. A Secretaria Municipal de Saúde, por exemplo,
tem que ser responsável por todos os serviços localizados na cidade.

É regionalizado e hierarquizado, pois nem todos os municípios conseguem atender todas as


demandas e todo tipo de problemas de saúde. Os serviços de saúde devem-se organizar
regionalmente e também obedecer a uma hierarquia entre eles. As questões menos complexas
devem ser atendidas nas unidades básicas de saúde, passando pelas unidades especializadas, pelo
hospital geral até chegar ao hospital especializado.

O SUS conta com participação do setor privado, preferencialmente pelo setor filantrópico e sem
fins lucrativos, por meio de contrato administrativo ou convênio, o que não descaracteriza a
natureza pública dos serviços. Deve-se organizar para oferecer ações e serviços de acordo com as
necessidades da população e com os problemas de saúde mais frequentes em cada região. Uma
cidade não pode, por exemplo, manter um hospital e não dispor de unidades básicas de saúde.

―Os hospitais privados também prestam serviços mediante convênio para o SUS – cujos
recursos provêm do setor público. Em vários deles, principalmente os filantrópicos e
sem fins lucrativos, há leitos especificamente destinados a pacientes sob esta forma de
financiamento.‖ (PAES, 2009, p.51)

Em atenção à eficácia e eficiência, deve prestar serviços de qualidade e apresentar soluções


quando as pessoas o procuram ou quando há um problema de saúde coletiva.

O sistema tem mecanismos para assegurar o direito de participação de todos os segmentos


envolvidos com o sistema - governos, prestadores de serviços, trabalhadores de saúde e,
principalmente, os usuários dos serviços, as comunidades e a população. Os principais
26
instrumentos para exercer esse controle social são os conselhos e as conferências de saúde, que
devem respeitar o critério de composição paritária (participação igual entre usuários e os demais),
além de ter caráter deliberativo, isto é, ter poder de decisão.

Saúde não é só atendimento médico, mas também prevenção, educação, recuperação e


reabilitação. Além da saúde, a fome, a habitação, a educação, o lazer e o trabalho deverão ser
percorridos para que tenhamos a verdadeira Reforma Sanitária que garanta, a milhões de pessoas,
emprego, salário, casa, comida, educação, lazer e transporte, fatores que interferem nas condições
de saúde e de vida.

No relatório da 8ª Conferência Nacional de Saúde consta que:

―- Saúde como Direito - em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das
condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho,
transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de
saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da
produção, que podem gerar desigualdades nos níveis de vida.
- Direito à saúde significa a garantia, pelo Estado, de condições dignas de vida e de
acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e recuperação
de saúde, em todos os seus níveis, a todos os habitantes do território nacional, levando
ao desenvolvimento pleno do ser humano em sua individualidade.‖

O Sistema Único de Saúde (SUS), concebido pela Constituição Federal de 1988, é o resultado de
um processo de articulação do Movimento pela Reforma Sanitária e de diversas pessoas
comprometidas com o reconhecimento dos direitos sociais de cada cidadão brasileiro, ao
determinar um caráter universal às ações e aos serviços de saúde no País. (BRASIL, 1988)

O processo de consolidação do SUS implicou em mudanças na legislação brasileira, buscando


uma melhor implementação do sistema onde possa acompanhar as transformações econômicas e
sociais do Brasil.

27
Segundo o artigo 196 da Constituição Federal Brasileira de 1988:

―A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e


econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universitário e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação‖.

O Sistema Único de Saúde (SUS) é estruturado pelo conjunto de ações e serviços de saúde,
prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração
direta e indireta. A iniciativa privada participa do SUS, com a intervenção de prestadores
privados de serviços de saúde, com fins lucrativos ou sem fins lucrativos. (FASCINA, 2009)

O SUS atende, atualmente, entre 120 e 130 milhões de pessoas. Para Santana (2010), há
problema no acesso ao serviço, mas a avaliação geral do sistema pela população é positiva. ―Uma
vez que a pessoa consegue (atendimento), ela avalia bem. Mas o processo de encaminhamento é
o que a população está avaliando e é, justamente, o que mais demora.‖

De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apud Perondi (2011), o Brasil
está entre os países que menos destinam recursos à saúde em relação ao percentual do PIB. Está
em 169º lugar em uma lista de 198 países, o que explica a crise do financiamento na área federal.

Apesar dos avanços obtidos através da Lei nº 8080/90, dezoito anos depois do início da
estruturação do SUS, questões fundamentais para a sua consolidação ainda não foram resolvidas.
O financiamento é uma delas, e continuará sendo, dado o caráter finito dos recursos. Mas não é,
obrigatoriamente, a mais importante: ganhos de eficiência poderiam ser alcançados com medidas
de gestão, frequentemente subestimadas, que independem de incrementos orçamentários sempre
necessários e desejáveis, porém difíceis, para dizer o mínimo, no cenário fiscal vigente. (PIOLA
ET AL, 2009)
28
2.4 Entidades Filantrópicas de Assistência à Saúde

Visto os esforços para a democratização das atividades e do aumento das carências sociais e das
mudanças econômicas que afetam o país, o governo tem encorajado o desenvolvimento de
organizações não governamentais, sem finalidades lucrativas, para desempenharem parceria,
atividades voltadas ao interesse público e social. Em consequência, estas organizações do terceiro
setor passam a ser importantes agentes para a melhoria da sociedade, da democracia, da
estabilidade social, do desenvolvimento e fortalecimento econômico na adequação do mercado.

As instituições sem fins lucrativos merecem lugar de destaque na atividade socioeconômica do


Brasil. Segundo Beuren e Colauto (2003), estas instituições, embora pessoas jurídicas de direito
privado, colaboram de maneira direta e efetiva com os poderes públicos, assumindo inúmeras
tarefas, principalmente voltadas às áreas de assistência social, saúde e educação, em parceria ou
substituição ao Estado. Por essas razões, a Constituição Federal do Brasil tem garantido
imunidade tributária às organizações, instituições ou entidades sem finalidades lucrativas, que
ocupam atividades relevantes nas áreas social ou econômica.

As entidades filantrópicas exploram atividades de prestação de serviços, cuja obrigação está em


oferecer atendimento às áreas de educação, ao adolescente, ao menor, ao idoso, reabilitação ao
trabalho e à saúde, sem finalidade lucrativa, a vinculação com a assistência social da comunidade.

A concessão do Certificado de Filantropia passou a ser regulamentada pelo Decreto no 2.536, de


06/04/1998, que foi revogado pelo Decreto no 7.237, de 20 de julho de 2010 que regulamenta a
Lei no 12.101, de 27 de novembro de 2009, que dispõe sobre o processo de certificação das
entidades beneficentes de assistência social para obtenção da isenção das contribuições à
seguridade social, e dá outras providências.

29
De acordo com o Decreto no 4.327 de 08/08/2002, que dispõe sobre a concessão do Certificado
de Entidade Beneficente de Assistência Social (CEBAS) para instituições de saúde, alterando o
Decreto no 2.536 de 06/04/1998, foi criada a figura do Hospital Estratégico, reconhecido pelo
Ministério da Saúde que permitiu, além da aplicação do atendimento a 60% de usuários do
Sistema Único de Saúde, a alternativa de justificar a concessão do certificado através da
prestação de 20 % da sua receita bruta em atendimentos gratuitos.

Com a aprovação, a nova Lei das entidades filantrópicas (nº 12.101, de 27 de novembro de 2009),
o processo de concessão do Certificado de Filantropia e flexibilizando o percentual obrigatório de
ocupação dos leitos para atendimento a pacientes do Sistema Único de Saúde tornou-se mais
rigoroso. A Lei estabelece que, para ser considerada beneficente e fazer jus à certificação, a
instituição de saúde deve comprovar o cumprimento de metas estabelecidas em convênio ou
instrumento congênere, firmado com o gestor local do SUS, e ofertar a este a prestação de
serviços no percentual mínimo de 60% do atendimento, considerando-se o somatório das
internações e dos atendimentos ambulatoriais (Lei nº 12.101, art. 4º).

Outra mudança introduzida pela lei é que os pedidos de concessão ou renovação da certificação,
que até então eram solicitados no CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social), passam a ser
atribuição dos ministérios ligados às atividades da instituição, no caso o Ministério da Saúde.

O Certificado de Entidades Beneficentes de Assistência Social remete a isenções tributárias, que


estariam beneficiando estas entidades privadas que, mesmo juridicamente definidas como não
distribuidoras de lucros, atendem principalmente à medicina suplementar, e são não usuais
prestadoras de serviços ao SUS. Entre 2002 e 2008, esses Hospitais Privados Filantrópicos, não
usuais prestadores de Serviços ao SUS, vieram-se aproximando dos gestores do SUS, por meio
de contratos de prestação de serviços. (FASCINA, 2009)

30
Fascina (2009) ressalta em seu trabalho que obter ou manter o Certificado de Filantropia garante
aos hospitais filantrópicos, não usuais prestadores de serviço ao SUS, isenções fiscais, que criam
uma vantagem competitiva diante de outros hospitais privados não filantrópicos, atuantes na
medicina suplementar, resultando em redução de custos e condições de diferenciação nos
serviços prestados.

Para o autor, a filantropia é uma estratégia competitiva, pois, de acordo com Porter (1989)
estratégia competitiva é aquela que visa a estabelecer uma posição lucrativa e sustentável contra
as forças que determinam a concorrência na indústria.

Fascina (2009) conclui que a Filantropia como estratégia competitiva leva as organizações a um
desempenho superior ao dos seus concorrentes, principalmente por uma vantagem competitiva
sustentável de diferenciação e redução de custos.

2.5 Desenvolvimento econômico e o tripé da sustentabilidade

A teoria da dinâmica da população, apresentada por Malthus (1798), em seu célebre livro: ―An
Essay on the Principle of Population”, expressa os limites do crescimento na economia clássica,
a partir da comparação entre o crescimento populacional dos Estados Unidos e o crescimento da
produção de alimentos na Inglaterra. Malthus concluiu que o ritmo de crescimento populacional
seria mais acelerado (progressão geométrica) que o ritmo de crescimento de alimentos
(progressão aritmética), e que no futuro todos os continentes estariam completamente ocupados
pela agropecuária e as possibilidades de crescimento da área cultivada se esgotariam. Porém a
população mundial continuaria a crescer. (HENRIQUES, 2007)

31
Na atualidade, a realidade econômica e social coloca em evidência aspectos consideráveis das
leis básicas da sobrevivência previstas nos princípios defendidos por Malthus. Apesar de ter
ignorado o avanço tecnológico, sua perspectiva sobre o futuro da humanidade reflete, de uma
forma ou de outra, os acontecimentos com impacto global, sendo apenas um ponto de partida
para o retrocesso que podemos chamar de desenvolvimento desajustado e incompatível com os
recursos que a natureza oferece.

As preocupações da comunidade internacional com os limites do desenvolvimento do planeta


datam da década de 60, quando começaram as discussões sobre os riscos da degradação do meio
ambiente. Essas discussões ganharam tanta intensidade que levaram a ONU a promover uma
Conferência sobre o Meio Ambiente em Estocolmo (1972). No mesmo ano, Dennis Meadows e
os pesquisadores do "Clube de Roma" publicaram o estudo Limites do Crescimento. O estudo
concluía que, mantidos os níveis de industrialização, poluição, produção de alimentos e
exploração dos recursos naturais, o limite de desenvolvimento do planeta seria atingido, no
máximo, em 100 anos, provocando uma repentina diminuição da população mundial e da
capacidade industrial. (DIEGUES, 1992)

Em 1973, o canadense Maurice Strong lançou o conceito de eco desenvolvimento, cujos


princípios foram formulados por Ignacy Sachs. Os caminhos do desenvolvimento seriam:
preservação dos recursos naturais e do meio ambiente; solidariedade com as gerações futuras;
participação da população envolvida; satisfação das necessidades básicas; elaboração de um
sistema social que garanta emprego, segurança social e respeito a outras culturas; programas de
educação. Foram os debates em torno do eco desenvolvimento que abriram espaço ao conceito de
desenvolvimento sustentável.

Em 1987, Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, apresentou o


relatório Brundtland, a partir do documento ―Our Common Future”, afirmando que

32
"desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem
comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades".

Os princípios do desenvolvimento sustentável são baseados nas necessidades, sobretudo as


necessidades essenciais e, prioritariamente, as necessidades das populações mais pobres; e
limitações que a tecnologia e a organização social impõem ao meio ambiente, restringindo a
capacidade de atender às necessidades presentes e futuras.

A estratégia de desenvolvimento sustentável visa à promoção da harmonia entre os seres


humanos e entre estes e a natureza. Para tal, são necessários: sistema político com efetiva
participação dos cidadãos no processo de decisão; sistema econômico competente para gerar
excedentes e conhecimentos técnicos com base confiável e constante; sistema social capaz de
resolver as diferenças causadas por um desenvolvimento desigual; sistema de produção que
preserve a base ecológica do desenvolvimento; sistema tecnológico que busque novas soluções;
sistema internacional com padrões sustentáveis de comércio e financiamento; sistema
administrativo flexível e capaz de ser corrigido.

Para que um país cresça economicamente, este necessita de uma política dinâmica no que se
refere a processo produtivo, tanto na agricultura (setor primário), na transformação e
beneficiamento (setor secundário) quanto em serviços (setor terciário). Esse processo de
crescimento depende do processo ideológico onde em que o país se encontra estruturado.

O modelo de gestão desenvolvido por John Elkington, triple-bottom line, desenvolvido em 1998,
com estratégias voltadas aos três pilares da sustentabilidade, o pilar econômico, o pilar ambiental
e o pilar social, se tornou fortemente associado ao conceito de sustentabilidade do meio
corporativo, sendo a combinação destes elementos esforços que nortearão um negócio realmente
sustentável.

33
De acordo com Elkington (2001), a sociedade depende da economia e a economia depende do
ecossistema global. Os três pilares não são estáveis, eles estão em um fluxo constante devido às
pressões sociais, políticas, econômicas e ambientais, aos ciclos e conflitos. O autor ilustra essa
visão de existência de três pilares da seguinte forma:

Pense em cada um desses pilares como platôs continentais, que se movimentam


independentemente uns dos outros. As pessoas sempre se esquecem de como dependem
da criação de riqueza; e muitas são ignorantes com relação aos seus impactos sobre o
pilar derradeiro. À medida que os platôs se movimentam sobre, sob e de encontro um ao
outro, as ‗entrelinhas‘ surgem onde ocorrem os efeitos sociais, econômicos e ecológicos
equivalentes aos tremores e terremotos (ELKINGTON, 2001, p. 77).

Rigoletto (2010) ressalta que é importante entender que o conceito de pilares da sustentabilidade
é somente o início do processo. É preciso fazer uma abordagem muito mais abrangente, incluindo
áreas como: meio ambiente, segurança, qualidade, saúde, tecnologia de informação e
responsabilidade social. Só assim o caminho para a sustentabilidade será trilhado.

Para Amorim (2009) a organização deve ser lucrativa (sustentabilidade econômica), estar inserida
de forma equilibrada no ecossistema (sustentabilidade ecológica), ser geradora de emprego e
renda, proporcionar a melhoria da qualidade de vida da comunidade (sustentabilidade social),
utilizar racionalmente os recursos naturais existentes em sua área de atuação (sustentabilidade
espacial), ser independente de tecnologias de produção importadas (sustentabilidade cultural) e
poder ser mantida ao longo do tempo sem restrições ou escassez de insumos e matérias-primas
(sustentabilidade temporal).

É preciso considerar que o pilar de sustentação da economia mundial está pautado no acúmulo de
capital privado através da maximização dos lucros.

34
É necessário pensar que sobre os princípios e dimensões que norteiam a sustentabilidade está a
equidade econômica, e, dessa forma, não se pode falar em desenvolvimento sem atrelá-lo ao
crescimento econômico. Devemos destacar que é necessário um crescimento equilibrado quanto
aos pilares do desenvolvimento e, para isso, é preciso incorporar a sensibilidade com a dimensão
social, a prudência ambiental e a viabilidade econômica de forma a garantir o atendimento aos
objetivos socialmente desejáveis e a minimização dos impactos ambientais.

Pensar e agir de forma orientada para o desenvolvimento sustentável é colocar o crescimento


econômico como condição necessária para sua ocorrência.

[...] para que as coisas aconteçam, é preciso que sejam economicamente viáveis. A
viabilidade econômica é uma condição necessária, porém certamente não suficiente para
o desenvolvimento. O econômico não é um objetivo em si, é apenas o instrumental com
o qual avançar a caminho do desenvolvimento includente e sustentável. (SACHS, 2007,
p. 23)

Aplicando o princípio da prevenção, é necessário entender quais as características dos


ecossistemas em questão, e como estão inseridos no tempo e no espaço, além de como respondem
às interferências humanas. Para tal, é preciso um protagonista nesse processo: o poder público,
que deve estabelecer as políticas necessárias, assim como medidas restritivas aos interesses do
mercado (instrumentos de regulação, acompanhados de legislação específica), de forma a
salvaguardar o que pressupõe o conceito de desenvolvimento sustentável, de forma a garantir o
usufruto dos recursos para as futuras gerações.

Tratando de políticas públicas, não se pode deixar de considerar que estas fazem parte do
processo de planejamento e, no entanto, estudos, conhecimento técnico e participação social são
necessários para sua implementação, mostrando dessa forma a conexão com o grau de
consciência e responsabilidade que a sociedade tem com sua história e seu posicionamento com

35
relação ao futuro. É preciso entender que as decisões ocorrem de forma localizada, sendo
necessário fortalecer a governança local, por meio do estímulo à participação cidadã.

[...] a visão de desenvolvimento no futuro é um desenvolvimento participativo e


negociado. Ou seja, deve-se organizar o debate em todos os níveis, desde o
desenvolvimento local, por exemplo. Pode-se começar por um fórum de
desenvolvimento local, mais tarde esse fórum se transforma num conselho consultivo
que com o tempo cresce para ser um conselho deliberativo. (SACHS, 2007, p. 28)

Embora conciliar crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável pareça difícil, não se


pode deixar de responsabilizar cada um para com o planejamento direcionado a atingir essa
conciliação. Espera-se que cada localidade se organize de modo a concentrar esforços com a
finalidade de incentivar maneiras sustentáveis de desenvolvimento.

Agir de forma orientada para o estímulo às políticas públicas com o foco no desenvolvimento
sustentável significa buscar um caminho harmônico de gestão com alicerce nos pilares da
sustentabilidade.

Quando se fala em gestão, está inserida no contexto a questão do planejamento. É importante


refletir sobre gestão como estratégia para atingir o desenvolvimento. Somos gestores da nossa
carreira profissional, da nossa casa, das nossas finanças, entre outras tantas coisas que sempre
necessitam de tomadas de decisões.

Sachs (2007) contextualiza esse pressuposto, quando afirma que não se deve focar nossa
intervenção apenas no discurso ético e, sim, em práticas direcionadas pelo mesmo, que devemos
criar alternativas viáveis de desenvolvimento. Essa afirmativa deixa implícita a necessidade de
uma gestão harmônica para o uso dos recursos.

36
Em uma realidade sustentável, as metas de crescimento econômico devem ser compatibilizadas
com as metas de bem-estar humano, considerando sempre a moderação do consumo de bens
naturais. Dessa forma, a sustentabilidade requer uma visão integrada do mundo, com indicadores
multidimensionais que mostrem as inter-relações entre a economia, o meio ambiente e a
sociedade.

Será sempre um desafio determinar o grau de sustentabilidade de uma empresa, ainda mais
quando se introduz o conceito dos três pilares. A empresa que tiver capacidade de manter a
biosfera na mesma condição em que a encontrou no início de suas atividades está nesse caminho.
Porém tudo se torna mais complexo ao considerar a dimensão social e ética.

Buarque (1999) ressalta que decisões políticas ou econômicas externas, por mais que venham a
ter papel decisivo na reestruturação de uma localidade, podem não surtir o efeito desejado de
desenvolvimento se não houver a mobilização do atores locais, de forma a internalizar as
mudanças nas estruturas socioeconômicas e culturais locais.

Não existe uma teoria própria para o desenvolvimento econômico local, mas sim, uma série de
percepções e conceitos extraídos das experiências desencadeadas em várias regiões do mundo. Os
fundamentos e conceitos que justificam o desenvolvimento econômico local vêm das práticas
adotadas, baseados em indicadores como: empregos industriais, valores industriais agregados,
empregos no comércio, vendas do comércio, empregos em serviços e receita de serviços.
(BORBA, 2000)

O desenvolvimento econômico local incentiva o público, o privado, o acadêmico e a sociedade


civil, onde os setores procuram estabelecer parcerias e colaboram em encontrar soluções locais
para desafios comuns em matéria econômica. (UN-HABITAT, 2005)

37
É importante entender a relação entre crescimento e desenvolvimento, bem como a forma como
ambos estão interligados. Dessa relação resulta a necessidade da definição de estratégias que
visem à garantia do desenvolvimento sustentável, sendo estas: o papel das políticas setoriais; as
articulações em prol do desenvolvimento local; a prevenção como forma de garantir o usufruto
dos recursos pelas gerações futuras; e mecanismos para a gestão orientada à harmonia entre o
econômico, social e ambiental, demonstram como a existência do planejamento orientado pela
visão de futuro é fundamental para o alcance do desenvolvimento sustentável.

Literaturas pertinentes ao desenvolvimento sustentável remetem desenvolvimento como foco no


local, ou seja, atrelam ao seu conteúdo o fato do local como espaço, ou território. Visto assim, é
necessário reforçar que territórios são unidades independentes, que fazem parte de um complexo
de relações e realizações.

Pelo fato de contribuir diretamente ao bem estar da população, a universalização do acesso aos
serviços sociais afigura-se como uma componente essencial do tripé do desenvolvimento
includente, sustentável e sustentado. A demanda por serviços sociais, mesmo em países ricos,
está longe de ser saturada.

Para Sachs (2007), o debate sobre o desenvolvimento vem sendo travado há algumas décadas,
porém se intensificou recentemente. Em meio às drásticas mudanças políticas que o mundo tem
sofrido, o forte acirramento das tensões sociais e a incessante degradação do meio ambiente,
surge a proposta de um desenvolvimento sustentável como alternativa desejável e possível para
promover a inclusão social, o bem estar econômico e a preservação de recursos naturais.

38
2.6 Qualidade de vida

Com o crescimento do movimento ambientalista na década de 1970, o questionamento dos


modelos de bem-estar predatório somou à noção de conforto, bem-estar e qualidade de vida, a
perspectiva da ecologia humana que trata do ambiente biogeoquímico, onde vivem o indivíduo e
a população; e o conjunto das relações que os seres humanos estabelecem entre si e com a própria
natureza. Esse conceito não aplica a dimensão evolucionista de uma escalada cada vez maior de
conforto, consumo e bem-estar. Pelo contrário, ele se apoia na ideia de excelência das condições
de vida e de desenvolvimento sustentável. (MINAYO ET AL, 2000)

O discurso da relação entre saúde e qualidade de vida, embora bastante inespecífico e


generalizante, existe desde o nascimento da medicina social, nos séculos XVIII e XIX, quando
investigações sistemáticas começaram a referendar esta tese e fornecer subsídios para políticas
públicas e movimentos sociais.

O conceito de qualidade de vida (QV) é um termo utilizado no contexto da pesquisa científica,


em diferentes campos do saber, como: economia, sociologia, educação, medicina, enfermagem,
psicologia e demais especialidades da saúde.

Na área da saúde, o interesse pelo conceito é relativamente recente e decorre, em parte, dos novos
paradigmas que têm influenciado as políticas e as práticas do setor nas últimas décadas. Saúde e
doença configuram processos relacionados aos aspectos econômicos, socioculturais, à
experiência pessoal e estilos de vida.

39
Para Minayo et al (2000), a melhoria da qualidade de vida passou a ser um dos resultados
esperados, tanto das práticas assistenciais quanto das políticas públicas para o setor nos campos
da promoção da saúde e prevenção de doenças.

A partir do início da década de 90, parece consolidar-se um consenso entre os estudiosos da área
quanto a dois aspectos relevantes do conceito de qualidade de vida: subjetividade e
multidimensionalidade. No que concerne à subjetividade, trata-se de considerar a percepção da
pessoa sobre o seu estado de saúde e sobre os aspectos não-médicos do seu contexto de vida. Em
outras palavras, como o indivíduo avalia a sua situação pessoal em cada uma das dimensões
relacionadas à qualidade de vida.

Seidl e Zannon (2004) ressaltam que qualidade de vida só pode ser avaliada pela própria pessoa,
ao contrário das tendências iniciais de uso do conceito, quando QV era avaliada por um
observador.

O consenso quanto à multidimensionalidade refere-se ao reconhecimento de que o construto é


composto por diferentes dimensões. (SEIDL E ZANNON, 2004)

A conceituação, que foi adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em seu estudo
multicêntrico, teve por objetivo principal elaborar um instrumento que avaliasse a QV em uma
perspectiva internacional e transcultural. A QV foi definida como ―a percepção do indivíduo
sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e
em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações‖ (SEIDL E ZANNON, 2004)

O surgimento de cidades sem um adequado planejamento infra-estrutural pode refletir


negativamente na qualidade de vida dos moradores. A busca da sustentabilidade urbana tem-se

40
constituído num dos maiores desafios da atualidade, sendo tal noção associada ao
desenvolvimento e às políticas urbanas.

As condições e a acessibilidade aos serviços de saúde podem interferir na qualidade de vida das
pessoas. A quantidade de médicos suficiente para atender à população, a qualidade do
atendimento dos hospitais e dos postos de saúde, a cobertura vacinal a fim de prevenir uma série
de doenças tem sido alvo de muitas críticas e reclamações por parte dos usuários do SUS.
(JESUS E SOUZA, 2007)

―Quanto mais aprimorada a democracia, mais ampla é a noção de qualidade de


vida, o grau de bem-estar da sociedade e de igual acesso a bens materiais e culturais.‖
(Matos, 1998)

Valores sociais, o direito de acesso universal – universalidade, integridade e equidade refletem a


opção da sociedade por um sistema de saúde típico de um Estado de bem-estar, em substituição a
um sistema excludente e desigual que existia antes de 1988. (PIOLA ET AL, 2009)

2.7 Liquidez e Sustentabilidade

Relacionar sustentabilidade ao longo prazo faz parte de um raciocínio correto em termos de


amplitude temporal, no entanto é preciso ter cautela nas associações, pois, uma vez que existe um
―longo caminho‖ até o longo prazo, o curto prazo também deve ser considerado, pois é no curto
prazo que se encontram as operações do dia a dia que podem influenciar a condição financeira
futura de uma organização. Visto assim, o curto prazo influencia muito na sustentabilidade das
empresas. As decisões de hoje podem causar impactos no futuro. Para Aquegawa e Souza (2009),
decisões são tomadas esperando o melhor resultado dentro de um determinado período, que
normalmente abrange também o longo prazo. Desse modo, podemos afirmar que, se tratando de

41
sustentabilidade, o curto prazo é tão importante quanto o longo prazo, visto que um leva ao outro,
sendo este um ―caminho‖, um pré-requisito.

Ressaltando que toda organização é conceitualmente aceita como sistema aberto e sendo assim
interage com o meio onde está inserida, sua saúde financeira está exposta às crises econômico-
financeiras, onde empresas que não apresentam situação saudável no curto prazo e,
consequentemente, preparadas para o longo prazo, em termos financeiros, não são sustentáveis.
Os índices de liquidez podem servir de termômetro na qualificação do mencionado curto e longo
prazo de empresas.

Para vencer crises, e permanecer no mercado com planos sustentáveis, a liquidez é fator
essencial.

O setor de atuação da empresa é o principal determinante dos níveis de liquidez. Assim, em áreas
onde se tem um menor desvio nas previsões de caixa (maior sincronismo/eficiência) prevalecem
níveis menores de liquidez.

Dessa forma, permanece a decisão entre manter ou não uma folga financeira através de índices e
liquidez mais elevados, visto que as crises são na maioria das vezes imprevisíveis.

Segundo Gitman (1997) os Índices de Liquidez podem ser divididos em quatro grupos:

1 - Índice de Liquidez Geral (ILG) – trata-se de um índice que considera a situação de longo
prazo da organização. (ZANLUCA, 2011). Muito amplo e pouco específico por considerar

42
conjuntos com prazos distintos em um mesmo cálculo, sendo obtido através da divisão do Ativo
Total pelo Passivo Circulante juntamente com Passivo Exigível a Longo Prazo (não-circulante);

2 - Índice de Liquidez Corrente (ILC) – restrito ao curto prazo, mede a capacidade da empresa
em liquidar suas obrigações de curto prazo. (GITMAN, 1997). Mostra o grau de pressão de curto
prazo sobre a empresa por parte de terceiros (credores). O mesmo é obtido dividindo-se Ativo
Circulante pelo Passivo Circulante;

3 - Índice de Liquidez Seca (ILS) – diferente do Índice de Liquidez Corrente por excluir do
cálculo ativos de menor liquidez, normalmente os estoques são excluídos por conceitualmente
serem ativos de menor liquidez dentre os circulantes. (GITMAN, 1997). Dessa forma, pode-se
dizer também que considera somente a parte mais líquida ou de maior facilidade de conversão em
caso de necessidade de liquidez imediata. No entanto, deve-se considerar primeiramente contas
com maior facilidade de conversão em numerário, havendo outras contas relativamente ilíquidas,
que deverão ser exclusas do cálculo, como, por exemplo, despesas antecipadas de seguros
(apólices);

4 - Índice de Liquidez Imediata (ILI) – consiste em um indicador de curtíssimo prazo, por


considerar a capacidade da empresa em liquidar suas obrigações de curto prazo somente com
disponibilidades imediatas, sendo estas: caixa (numerário), bancos e aplicações financeiras de
liquidez imediata.

Mostrando sua capacidade em absorver falta de sincronismo ou pequenos imprevistos de impacto


imediato. O mesmo é encontrado através da divisão da soma dos elementos de liquidez imediata
do Ativo Circulante pelo Passivo Circulante.

43
2.8 Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS

A despeito dos incentivos de natureza fiscal e da ausência de barreiras de entrada e saída para
novas empresas, até o final da década de 1990, o mercado de planos privados de assistência à
saúde no Brasil veio-se desenvolvendo num contexto institucional de baixa regulação. (COSTA,
2008)

Sabemos que hoje o setor brasileiro de planos e seguros de saúde é o segundo maior sistema
privado de saúde do mundo. São oriundos das Santas Casas de Misericórdia, instituições com
forte apelo às ações caritativas e filantrópicas.

A Lei nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000, tornou a ANS uma instância reguladora dos planos de
saúde e de um setor da economia em que não havia um padrão de funcionamento. A Agência
Nacional de Saúde Suplementar – ANS foi criada a partir do Ministério da Saúde para cumprir a
lei nº 9.656 de junho de 1998. (ANS, 2010)

Muito embora a Lei nº 9.656/98 tenha trazido vários desafios regulatórios, um dos mais
instigantes tem sido a regulação da cobertura em saúde e da garantia de assistência dos planos e
seguros saúde.

―Diferente de outros países, a regulação brasileira não está calcada apenas no


monitoramento e fiscalização das condições econômico-financeiras das empresas.
Certamente empresas sólidas e capitalizadas são essenciais para qualquer sistema
privado de saúde. No entanto, entre outras atividades inerentes à regulação assistencial, a
ANS tem a responsabilidade de rever, periodicamente, o rol mínimo de procedimentos
de atenção à saúde a serem disponibilizados a todos os contratantes de planos e seguros
de saúde. A normatização e o acompanhamento da assistência à saúde são diferenciais
importantes em nosso país, inserindo, em definitivo, o setor de planos de saúde no
contexto maior da política pública para a saúde dos brasileiros.‖ (ANS, 2010)

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Hoje, garantindo condições saudáveis de concorrência entre as empresas estabelecidas no Setor, a
Agência Nacional de Saúde Suplementar não se descuida da fiscalização, do irrestrito respeito
aos direitos do consumidor e da integralidade da assistência.

O segmento de planos de assistência à saúde compreende um universo diferenciado de


modalidades organizacionais: empresas de medicina de grupo, empresas de autogestão
(públicas e privadas), seguradoras, cooperativas médicas e odontológicas. (COSTA,
2008, p. 1456)

A criação da ANS foi o início do estabelecimento de jurisprudência regulatória sobre a medicina


de pré-pagamento, das cooperativas médicas e dos planos de empresas, segundo Costa (2008). A
SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) era então o órgão responsável pelo seguro-saúde.
Muito embora, persistisse a exclusão de segurados de alto risco e de opções de tratamento ou
diagnósticos onerosos em todos os segmentos.

O controle e a responsabilidade de controlar os aumentos de mensalidades dos planos de saúde


passaram a variar de acordo com o tipo de contrato de prestação de serviços de saúde (pessoa
física ou jurídica) e com o motivo do aumento, segundo a lei nº 9.961/2000, em conformidade
com resolução da ANS.

Se o plano foi contratado antes do dia 2 de janeiro de 1999 e não foi adaptado à lei nº 9.656/98,
que regulamenta o setor de planos de saúde, é um plano do grupo dos chamados "planos antigos".
Nesse grupo os reajustes devem seguir o que estiver escrito no contrato, ou seja, as regras
previstas pela lei não podem ser aplicadas.

Se o plano tiver sido contratado por intermédio de uma pessoa jurídica, os reajustes não são
definidos pela ANS. Está nessa categoria o plano contratado pelo empregador, sindicato ou

45
associação; plano do tipo "coletivo". Nesses casos, a Agência apenas acompanha os aumentos de
preços.

É responsabilidade da ANS definir anualmente o índice autorizado para reajuste dos planos
médico-hospitalares com ou sem cobertura odontológica, contratados posteriormente à lei nº
9656/98. As operadoras só podem aplicar esse reajuste após avaliação e autorização expressa da
Agência.

TABELA 1: Índice de reajuste anual autorizado para planos de saúde individuais ou familiares,
contratados a partir de janeiro de 1999.

Histórico de reajuste por Variação de Custo Pessoa Física


FONTE: ANS (2010)

A partir da data de aniversário de cada contrato, o reajuste autorizado em 2010 foi de 6,73%,
aplicável de maio/2010 a abril/2011, sendo permitida retroatividade da cobrança em caso de
defasagem entre a data de aplicação do aumento e a data do aniversário do contrato, desde que
seja de no máximo três meses.

46
As operadoras têm permissão para aplicar a regra de reajuste estabelecida no contrato assinado
entre a pessoa física e a operadora dos planos individuais antigos (anteriores a 2 de janeiro de
1999) com cobertura médico-hospitalar, de acordo com a liminar concedida pelo Supremo
Tribunal Federal (ADIN 1931-8 de 03 de setembro de 2003) . Esse reajuste não depende de
autorização prévia da ANS.

Caso a regra de reajuste prevista no contrato não seja clara, há necessidade de autorização prévia,
pois o reajuste anual deve estar limitado ao reajuste máximo estipulado pela ANS ou por meio da
celebração de Termo de Compromisso com a Agência.

Para um melhor controle, a ANS introduziu mecanismos na área contábil e econômico-financeira


para o acompanhamento do setor. Atendendo a uma necessidade de padronização do mercado, se
tornando o principal instrumento de controle operacional das empresas, foi criado o plano de
contas padrão pela RDC nº 38, de 27 de outubro de 2000, propiciando uma coleta de dados,
permitindo acompanhar o desempenho das empresas ao longo de sua existência, facilitando à
ANS realizar uma analise do desempenho das empresas.

Para facilitar a fiscalização ―in loco‖, o plano de contas viabiliza o fornecimento, por parte das
empresas, de informações gerenciais e cadastrais, mediante o preenchimento do Documento de
Informações Periódicas das Empresas - DIOPS (COSTA, 2008).

A fim de trazer mais segurança para o consumidor e para o mercado, foram estabelecidas em
2001 as primeiras regras de regulação das garantias financeiras a serem constituídas pelas
operadoras. Já em 2004, a ANS editou nova versão do Rol de Procedimentos e Eventos em
Saúde, através da RN nº 82.

47
Em 2006, a ANS realizou uma série de intervenções de regime de direção fiscal e determina
alienação de carteira de beneficiários em várias operadoras de planos de saúde para garantir
assistência aos beneficiários de operadoras que não dispõem de saúde financeira.

Ampliando ainda mais a segurança do mercado com a RN nº 160/2007, a ANS estende a


obrigatoriedade das garantias financeiras a todas as operadoras.

Em 2008, entrou em vigor nova versão do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde,


assegurando ao consumidor mais de 100 novas coberturas, tais como: consultas
multiprofissionais, procedimentos contraceptivos, transplantes autólogos, entre outras, após
minucioso processo de revisão da ANS com participação de representantes do setor. O Rol de
Procedimentos e Eventos em Saúde foi atualizado em 2010, ampliando as coberturas obrigatórias
para o consumidor, tanto na assistência médica, quanto na odontológica. Entre os destaques,
estão: a oxigenoterapia hiperbárica, o pet-scan, o transplante de medula óssea e a colocação de
coroa e bloco, ficando estabelecida a periodicidade bianual para as próximas revisões do rol.

A ANS busca reduzir problemas de assimetria de informação que limitem a concorrência,


impedir aumentos abusivos de preços e resolver questões relacionadas aos riscos. Para isso, a
agência busca ampliar seu conhecimento do mercado, seja em termos de informações econômico-
financeiras, seja em relação aos produtos comercializados pelas operadoras de planos e seguros.
A recente criação de um índice de qualificação das operadoras busca ajudar os consumidores na
aferição dos produtos que lhes são oferecidos. É um dos resultados dessa estratégia. (PIOLA ET
AL, 2009)

As operadoras de saúde filantrópicas, por usufruírem de isenção de impostos, puderam colocar no


mercado, planos de saúde mais baratos e atender a uma classe da população com menor poder de
consumo. As novas exigências da ANS, o controle do reajuste das mensalidades e a ampliação do

48
Rol de procedimentos e Eventos em Saúde, que aumenta a quantidade de procedimentos que as
operadoras de saúde têm obrigatoriamente que atender, de um lado controla os abusos das
operadoras em termos de custo e atendimento aos usuários, mas por outro inviabiliza as
continuidade dessa classe de operadoras, que por não terem iniciado seus produtos, ou seja,
planos de saúde com um preço maior, estão enfrentando dificuldades financeiras.

Cabe destacar, contudo, que a regulação da ANS, com a exigência de 100% de garantias
financeiras para as novas empresas, cria uma barreira à entrada, associada ao acompanhamento
do desempenho econômico-financeiro, com intervenção e, em alguns casos, liquidação de
determinadas carteiras, podendo assim, ser um fator que leve a uma maior concentração de
mercado. (PIOLA ET AL, 2009)

49
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Observando-se os conceitos de Michel (2005), constata-se que método é apenas um conjunto de


procedimentos que direciona a investigação, caminhos ou maneiras para se chegar a determinado
fim ou objetivo, é a orientação, a condução, a atitude a ser seguida pelo pesquisador.

Nesse sentido, apresenta-se a seguir as características dos métodos utilizados e a descrição das
etapas da pesquisa.

Para atingir os objetivos propostos, essa pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa aplicada, de
natureza quantitativa e qualitativa. Quanto aos procedimentos, trata-se de pesquisa bibliográfica e
documental a partir de uma pesquisa de campo.

Foi realizado um estudo de casos múltiplos. O presente trabalho utilizou o método de estudo de
casos para investigar sustentabilidade do atendimento ao SUS em entidades filantrópicas de
assistência à saúde da região leste paulista.

Conforme Eisenhardt (2001) e Yin (2001), a metodologia de estudo de caso deve ser aplicada
para investigar um fenômeno atual inserido em um contexto de vida real, cujos limites entre
fenômeno e contexto não são evidentes. Podem combinar métodos de coleta de dados, como
entrevista, análise de arquivos e relatórios, observações e questionários, propiciando a obtenção
de dados qualitativos, quantitativos ou ambos.

Segundo Yin (2001), em um estudo de casos múltiplos é importante considerar a lógica da


replicação, em que se deve cuidadosamente prever resultados semelhantes (uma replicação

50
literal) ou produzir resultados contrastantes apenas por razões previsíveis (uma replicação
teórica).

O estudo de caso pode ser único ou múltiplo, usando como unidade de analise um ou mais
indivíduos, grupos, organizações, regiões. Mas mesmo quando mais de um caso é pesquisado, a
individualidade de cada um deve ser mantida. (PLATT, 1999)

Eisenhardt (2001) ressalta que o objetivo de casos múltiplos é generalizar e não particularizar,
buscando um modelo simplificado e comum para as organizações estudadas. Um modelo é bom
não por causa do excessivo rigor que lhe é aplicado, medido pelo número de variáveis levadas em
consideração, mas sim pelo fato de modelar e expressar adequadamente a realidade que enfrenta;
importante é reconhecer as variáveis que dele fazem parte e as que são deixadas de fora.

Para Almeida (2008), a pesquisa qualitativa auxilia o pesquisador no entendimento do fenômeno,


segundo a perspectiva dos participantes da situação estudada, propiciando uma interpretação
própria do fenômeno por parte do pesquisador com a mesma visão. Richardson (1999, p. 79)
afirma que ―a abordagem qualitativa justifica-se, sobretudo, por ser uma forma adequada para
entender a natureza de um fenômeno social‖.

A pesquisa quantitativa é caracterizada como método que utiliza parâmetros quantificáveis, tanto
para a coleta de informações quanto para o tratamento dos dados, os quais se realizam com o
emprego de algumas técnicas estatísticas (RICHARDSON, 1999).

Para Michel (2005, p.34), é importante salientar que as pesquisas quantitativas e qualitativas não
são excludentes e devem sinergicamente completar-se, ―pois é possível fazer uma análise
qualitativa de dados quantitativos ou utilizar dados obtidos por técnicas qualitativas para proceder

51
a uma análise quantitativa‖. O autor observa que ―reconhecer as similaridades e a
complementaridade entre as informações qualitativas e as quantitativas torna acessível uma gama
de novas possibilidades de interpretação que, do contrário, poderiam ser desconsideradas.

Podem-se identificar três instâncias de integração entre ambos os métodos: no planejamento da


pesquisa, na coleta dos dados e na análise das informações, conforme apontado no quadro 2.

QUADRO 2: Complementaridade entre os métodos qualitativo e quantitativo


Instâncias de Aporte do método qualitativo Aporte do método quantitativo ao
integração ao quantitativo qualitativo

Planejamento da A discussão com o grupo que A utilização de um questionário


pesquisa participará da investigação, o prévio no momento da observação ou
uso de entrevistas e a entrevista pode contribuir para
observação podem melhorar a delimitar o problema estudado e a
formulação do problema, o informação coletada, permitindo
levantamento da hipótese e a identificar casos representativos ou
determinação da amostra. não- representativos em nível grupal
ou individual.

Coleta de dados Entrevistas, observações e Na coleta de dados, o questionário


discussões em grupo podem prévio pode ajudar a evitar perguntas
enriquecer as informações rotineiras e a identificar
obtidas, particularmente pela características objetivas, como, por
profundidade e pelo exemplo, geopolíticas de uma
detalhamento das técnicas comunidade, que podem influir no
qualitativas. contexto da pesquisa.

Análise das As técnicas qualitativas As técnicas estatísticas podem


informações permitem verificar os resultados contribuir para verificar informações
dos questionários e ampliar as e reinterpretar observações
relações descobertas. qualitativas, permitindo conclusões
menos objetivas.
Fonte: Adaptado de Richardison1 (1999 apud ALMEIDA, 2008, p.118)

1
Richardoson, R.J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.
52
Michel (2005, p.36) relata que ―a pesquisa aplicada procura transformar o conhecimento puro em
elementos, situações destinadas a melhorar a qualidade de vida da humanidade‖.

O tipo de pesquisa neste estudo foi pesquisa de campo em que se objetiva verificar como a teoria
estudada comporta-se na prática. A pesquisa de campo não se limita à coleta de dados no
ambiente real no qual a situação ocorre, mas requer outros procedimentos que fazem parte
integrante da pesquisa descritiva, com o propósito de analisar fatos ou fenômenos em sua
natureza ou características, procurando observar, registrar e analisar suas relações, conexões e
interferências. (MICHEL, 2005 p. 36 e 37)

Este estudo foi realizado a partir da análise de liquidez de dez entidades filantrópicas de
assistência à saúde da região leste paulista (interior do estado de São Paulo), mostrando um
panorama regional. A partir desse estudo foram escolhidas duas entidades para um estudo de
casos múltiplos.

Os critérios de escolha baseiam-se na estabilidade em termos de gestão, grau de liquidez


satisfatório apresentando solvência financeira, além de atenderem pelo SUS e ter em comum o
fato de serem Filantrópicas e atuarem na mesma região. Foi escolhida uma Entidade que possui
uma Operadora de Saúde própria e uma Entidade que não possua tal recurso, com a finalidade de
entender a influência financeira de uma Operadora de Saúde sobre a Entidade.

Na primeira fase do estudo foi realizada uma análise de liquidez de dez entidades filantrópicas de
assistência à saúde da região leste paulista (interior do estado de São Paulo).

Na segunda fase foi feita uma análise quantitativa a partir de documentos, sendo estes
demonstrativos contábeis e financeiros. Nesta etapa também foram produzidos alguns indicadores

53
financeiros.

A terceira fase compreendeu a comparação das análises realizadas e dos indicadores financeiros e
operacionais, levando em consideração as particularidades de cada Entidade.

Na quarta fase da pesquisa foram realizados dois grupos focados, um em cada Entidade objeto do
estudo de casos múltiplos. Estes grupos focados foram realizados com os gestores dessas
entidades, a partir das análises realizadas e dos indicadores produzidos.

O grupo focal é um grupo que se organiza em torno de uma tarefa específica: fornecer
informações acerca de um tema anteriormente determinado. O grupo focal é um procedimento de
coleta de dados no qual o pesquisador tem a possibilidade de ouvir vários sujeitos ao mesmo
tempo, além de observar as interações características do processo grupal. Tem como objetivo
obter uma variedade de informações, sentimentos, experiências, representações de pequenos
grupos acerca de um tema determinado. (KIND, 2004)

Para Kind (2004), os grupos focais utilizam a interação grupal para produzir dados e insights que
seriam dificilmente conseguidos fora do grupo. Os dados obtidos levam em conta o processo do
grupo, tomados como maior do que a soma das opiniões, sentimentos e pontos de vista
individuais em jogo.

O grupo focal é uma técnica de muita importância que visa à produção de conhecimentos,
geralmente ligada à prática de pesquisa.

54
A quantidade de grupos focais é muito menos importante do que a qualidade ou riqueza das
discussões, geralmente proporcionada pelo estilo de condução adotado pelo moderador e por um
bom guia de temas.

3.1 Instrumentos para coleta de dados

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram as demonstrações contábeis, controles


internos das entidades no âmbito operacional e financeiro dos exercícios de 2008, 2009 e 2010,
além da realização de dois grupos focados com os gestores das entidades.

3.2 Coleta de dados

Os dados foram coletados diretamente nas entidades através de termo de consentimento dos
gestores para a utilização dos documentos das entidades e participação no grupo focado. Quanto
aos balanços patrimoniais das dez entidades para a análise de liquidez, os dados foram coletados
a partir dos balanços publicados em jornais locais.

Partindo das análises dos dados das duas entidades objeto de estudo de casos múltiplos, foram
realizados dois grupos focados, um em cada entidade a fim de entender o ponto de vista dos
gestores perante a sustentabilidade financeira do atendimento ao SUS.

Os entrevistados escolhidos foram executivos diretamente relacionados com as entidades. O


agendamento das entrevistas com os executivos se deu por meio de correspondência eletrônica.
As entrevistas ocorreram entre 22 e 29 de setembro de 2011.

55
As entrevistas tiveram duração entre 60 e 90 minutos e foram realizadas sempre pelo mesmo
entrevistador, no caso a própria pesquisadora. Foram gravadas e posteriormente transcritas. A
opção de a própria pesquisadora realizar as entrevistas foi, em primeiro lugar, para garantir uma
padronização das perguntas e conceitos adotados. Em segundo lugar, para manter junto aos
entrevistados o mesmo viés de percepção.

A garantia da confidencialidade dos dados foi ratificada no início das entrevistas apesar de a
pesquisadora utilizar termo de consentimento por escrito, reforçando e assegurando o direito dos
entrevistados de declinarem responder a quaisquer das questões formuladas, assim como de
manifestarem comentários complementares por iniciativa própria. Optou-se pela não divulgação
dos nomes das entidades, em respeito à confidencialidade declarada.

A categorização dos participantes dos grupos focados foi desenvolvida objetivando classificar os
participantes como grupo focado 1 e grupo focado 2, além de apresentar o gênero do participante,
a idade e o cargo que ocupa dentro da Entidade. No quadro 3 observa-se a categorização dos
temas abordados.

TABELA 2: Participantes da pesquisa

PARTICIPANTES DA PESQUISA
Grupo Focado Gênero Idade Cargo na Entidade
G1S1 Grupo Focado 1 masculino 60 provedor
G1S2 Grupo Focado 1 masculino 58 adminstrador hospitalar
G1S3 Grupo Focado 1 masculino 34 auxiliar contábil
G1S4 Grupo Focado 1 masculino 34 auxiliar contábil
G1S5 Grupo Focado 1 masculino 50 gerente admistrativo plano de saúde
G2S1 Grupo Focado 2 masculino 57 adminstrador hospitalar
G2S2 Grupo Focado 2 masculino 62 tesoureiro

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora

56
A categorização foi feita a partir das próprias questões colocadas para discussão no grupo. Cada
tema, embasado nas informações geradas a partir dos dados quantitativos dessa pesquisa, gerou
uma questão discutida com os grupos que, para fins de análise, foram categorizados.

QUADRO 3: Categorização dos temas

Categorização
Categoria 1 Remuneração dos serviços prestados ao SUS
Categoria 2 Atendimento a convênios e particulares
Categoria 3 Equilíbrio financeiro
Categoria 4 Sustentabilidade financeira da entidade
Categoria 5 Papel dos políticos
Categoria 6 Sobrevivência sem o SUS
Categoria 7 Plano de saúde próprio
Categoria 8 Emenda Constitucional 29

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

3.3 Análise dos dados

A análise dos dados da primeira parte do trabalho foi uma análise quantitativa, comparativa a
partir do desempenho dessas entidades e as formas de financiamento das despesas, comparando
as receitas e suas origens e o déficit causado pelo atendimento ao SUS. Foi utilizado o programa
Excel, fazendo-se, então, limpeza dos dados, e obtendo-se o arquivo final a ser utilizado para
análise, armazenados com cópia em local seguro.

Os grupos focados com os gestores tiveram como finalidade legitimar a pesquisa além de
complementar o levantamento dos dados.

57
A análise dos grupos focados foi feita através da análise de conteúdo, tipo de análise que vem se
caracterizando como um instrumento metodológico para a compreensão dos diversos discursos
do ser humano, possibilitando ao pesquisador desmontar a estrutura e os elementos desse
conteúdo para esclarecer suas diferentes características e extrair sua significação.

Bardin (1988) define a análise de conteúdo como um ―conjunto de técnicas de análise das
comunicações‖, tendo como finalidade principal a interpretação dessas comunicações.

A organização da análise deverá basear-se na pré-análise, na exploração do material e no


tratamento dos resultados, podendo o pesquisador utilizar-se de sua interferência e interpretação,
sendo vista como a reconstrução do sentido de um conteúdo; conteúdo esse que muitas vezes não
é entendido nem por quem o prefere, nem por quem o recebe. A análise do conteúdo tem esse
objetivo último: dar sentido às palavras. (BAPTISTA, 2007 p. 265, 266 e 287)

QUADRO 4: Categorização dos temas e abordagens

Categorização Abordagem
Visão dos participantes quanto à
Remuneração dos serviços prestados ao remuneração paga pelos serviços
Categoria 1 SUS prestados ao SUS
Importância para a saúde financeira da
Entidade em promover atendimento a
Categoria 2 Atendimento a convênios e particulares convênios e particulares
Observação da situação financeira das
Categoria 3 Equilíbrio financeiro Entidades
Percepção da situação financeira da
Categoria 4 Sustentabilidade financeira da entidade Entidade no futuro
Categoria 5 Papel dos políticos Participação política nas Entidades
Possibilidade de declinar o atendimento
Categoria 6 Sobrevivência sem o SUS ao SUS
Importância em ter um plano de saúde
Categoria 7 Plano de saúde próprio próprio
Observação quanto à possibilidade de
Categoria 8 Emenda Constitucional 29 mudanças através da EC-29

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.


58
As categorias foram desenvolvidas a partir das questões colocadas e discutidas nos grupos
focados, a fim de legitimar os dados quantitativos da pesquisa complementando o levantamento
dos dados e mostrando a visão dos gestores que estão, operacionalmente, vivenciando a situação.

Os dados levantados pela pesquisadora foram validados anteriormente ao grupo focado pelos
participantes, contribuindo assim, para a legitimação da pesquisa.

59
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A fim de propiciar ao leitor uma melhor contextualização da situação em que se encontram as


entidades filantrópicas de assistência à saúde em geral, o resultado deste trabalho apresenta em
seu início o panorama das santas casas e hospitais beneficentes no Brasil, trazendo assim de
forma clara e objetiva, dados que complementam os resultados deste estudo.

4.1 Panorama das Santas Casas e Hospitais Beneficentes

Em 2011, de acordo com a FEHOSP (Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do
Estado de São Paulo), existiam no Brasil 2.100 entidades beneficentes hospitalares, a maioria
Santas Casas, sendo 591 entidades beneficentes no Estado de São Paulo com uma oferta de 45
mil leitos para o SUS. Dessas entidades 81% estão no interior do Estado e em 56% dos casos
estão localizados em municípios com até 30 mil habitantes, omde geralmente são os únicos do
município, senão da região. (SPIGOLON, 2011)

As receitas dessas entidades são, em mais de 60%, provenientes do SUS e 90% desses hospitais
atendem acima de 80% de sua capacidade pelo SUS. (FEHOSP, 2011)

Em cada três leitos no Brasil, um é beneficente. Em vários estados brasileiros, as Santas Casas e
Hospitais Beneficentes respondem por mais da metade das internações hospitalares. Em Minas
Gerais, o setor responde por 60,9% das internações pelo SUS e em São Paulo, 55,6%.

Os hospitais filantrópicos não precisam ter lucro, mas também não podem ter prejuízo, que acaba
sendo bancado por um endividamento muito alto. Em 2003, eles tinham uma dívida de R$ 1,9

60
bilhões com fornecedores, passivos trabalhistas e empréstimos bancários. Fecharam 2009 com
um endividamento acumulado de R$ 6 bilhões (FEHOSP, 2011). O resultado é que os hospitais
filantrópicos estão atrasando o pagamento a fornecedores, o que dificulta boas negociações de
preços de medicamentos e materiais hospitalares. E quem é mau pagador, e não tem recursos para
comprar à vista, acaba pagando mais caro, formando assim um efeito ―bola de neve‖.

O Sistema Único de Saúde (SUS) vive hoje um cenário de extrema dificuldade


por conta do seu subfinanciamento. E quando o SUS vai mal, os hospitais filantrópicos,
que são entidades privadas sem fins lucrativos, também vão mal. Por Lei, eles devem
destinar 60% dos seus serviços ao Sistema Público e, em 2009, responderam por 41% de
todas as internações realizadas pelo SUS, nos 2,1 mil hospitais que as 2,1 mil
instituições filantrópicas têm espalhados pelo Brasil. (SPIGOLON, 2011, P.16)

O subfinanciamento a que vem sendo submetidas está causando um empobrecimento progressivo


das santas casas, que estão vendendo parte de seus patrimônios em imóveis, os quais
asseguravam uma renda mensal, para tentar reduzir suas dívidas.

Não pode ser: você faz e eu vou ver se eu pago. Hoje, os recursos repassados
pelo SUS à rede conveniada são insuficientes para cobrir os custos. As santas casas, por
exemplo, que destinam 60% dos serviços ao SUS, financiam um terço dos gastos que
têm com o Sistema. A remuneração atual é uma afronta e os hospitais que dependem do
governo estão praticamente falidos. (ALMEIDA, 2011 p. 18)

Para a FEHOSP (2011), o principal fator causador do problema é a defasagem nos preços da
Tabela de Procedimentos do SUS, que cobre em média 60% dos gastos dos hospitais. Como
exemplo, o custo de um parto normal ao hospital é de aproximadamente R$ 800,00, porém o SUS
paga pelo procedimento R$ 443,40.

Outros problemas colocados pela FEHOSP (2011) são os tetos financeiros insuficientes, o atraso
de pagamentos nas esferas: federais, estaduais e municipais, o represamento de AIH (autorização
para Internamento Hospitalar), os quais são procedimentos realizados que ultrapassam o teto
61
financeiro e não são pagos pelo sistema, verbas em atraso, centrais de regulação exigindo
atendimentos que não serão reembolsados, descumprimento de prazos de pagamentos nos
municípios em gestão plena.

Quanto ao atraso nos pagamentos, a FEHOSP (2011) relata que os filantrópicos recebem por
procedimentos realizados e os pagamentos são efetuados entre 30 e 90 dias após o atendimento.
Há hospitais que chegam a receber com quatro meses de atraso.

Muitos hospitais chegam a reduzir seu quadro de funcionários e estão diminuindo o número de
atendimento por falta de condições mínimas de trabalho e atrasos de pagamentos.

―Meses para marcar consulta, falta de médicos em postos de saúde e falhas na


distribuição de remédios são só algumas das dificuldades que fazem parte do dia a dia de
quem precisa do Sistema Único de Saúde (SUS).‖ (OLIVEIRA JUNIOR, 2010).

A insuficiência de verba pública ou falta de critério adequado do SUS criam sequelas para a
saúde do país.

As Santas Casas e Hospitais Beneficentes que deveriam receber apoio do Estado acabam tendo
que recorrer a emendas parlamentares e de doadores por falta de recursos correntes.

62
TABELA 3: Amostra da tabela de procedimentos SUS em janeiro de 2011

TABELA SUS - MÊS DE JANEIRO DE 2011


ANESTESIA GERAL R$ 84,00
ANESTESIA OBSTÉTRICA PARA CESARIANA R$ 61,18
ANESTESIA OBSTÉTRICA P/ CESARIANA EM GESTACAO DE ALTO RISCO R$ 96,60
ANESTESIA REGIONAL R$ 22,27
ANEURISMECTOMIA DE AORTA ABDOMINAL INFRA-RENAL R$ 1.622,26
BIÓPSIA DE BEXIGA R$ 41,68
CAUTERIZAÇÃO DE CÓRNEA R$ 19,14
CERCLAGEM DE CÓLO DO ÚTERO R$ 12,97
COLOSTOMIA EM ONCOLOGIA R$ 740,00
CULTURA DE BACTÉRIAS P/ IDENTIFICAÇÃO R$ 5,62
ECOCARDIOGRAFIA DE ESTRESSE R$ 165,00
EXAME ANATOMOPATOLOGICO DE MAMA - BIÓPSIA R$ 24,00
TRATATAMENTO DIALÍTICO INICIADO R$ 111,42
HISTERECTOMIA TOTAL R$ 634,03
IMPLANTE DE MARCAPASSO DE CAMARA DUPLA EPIMIOCÁRDICO R$ 793,15
NUTRIÇÃO ENTERAL EM PEDIATRIA R$ 18,00
PARTO NORMAL R$ 443,40
RADIOGRAFIA DE ARTICULAÇÃO ACROMIO-CLAVICULAR R$ 7,40
RADIOGRAFIA DE ARTICULAÇÃO COXO-FEMORAL R$ 7,77
RADIOGRAFIA DE ARTICULAÇÃO ESCAPULO-UMERAL R$ 7,40
REDUÇÃO CRUENTA DE FRATURA DOS OSSOS PRÓPRIOS DO NARIZ R$ 252,40
REMOÇÃO DE CISTO R$ 19,18
REMOÇÃO DE DENTE RETIDO (INCLUSO / IMPACTADO) R$ 22,72
RETIRADA DE PLACA E/OU PARAFUSOS R$ 225,16
SUTURA DE CÓRNEA R$164,08
SUTURA DE PÁLPEBRAS R$ 82,28
TRAQUEOSTOMIA R$ 554,73
VASECTOMIA R$ 306,47
VIDEOLARINGOSCOPIA R$ 45,50
FONTE: DATASUS (2011)

É fácil perceber o problema quando se analisa a tabela de procedimentos do SUS (tabela 3), ou
seja, o valor tabelado pelo qual o SUS paga cada um de seus procedimentos, que está muito longe
de cobrir os custos dos procedimentos e mais distante ainda dos preços de mercado,
correspondendo em média a 60% do custo real, tendo os provedores e administradores dessas
entidades que procurar alternativas para não terminar o mês sem condições de sanar suas dívidas.
(FEHOSP, 2011)

De acordo com Spigolon (2011), em 2010 foram 4.535 milhões de internações feitas pelas santas
casas, de um total de 11.128 milhões do SUS. Para prestar esse atendimento, tiveram um custo de
R$ 12,3 bilhões, porém receberam apenas R$ 7,9 bilhões do Sistema. Portanto, teve um déficit
de R$ 4,4 bilhões, o que significa dizer que de cada R$ 100,00 gastos com pacientes do SUS,
foram recebidos apenas R$ 65,00.

63
A defasagem na remuneração da tabela acaba levando ao fechamento de hospitais,
descredenciamento de procedimentos e redução no número de leitos, que caíram 5,1% na rede
privada entre 2004 e 2009 e 9,1% na rede conveniada ao SUS. (SPIGOLON, 2011)

No último século, ocorreu o maior avanço científico da história e a população cresceu


exponencialmente. Em 1859, cerca de 30 mil pessoas viviam em São Paulo, hoje são cerca de 18
milhões. Outro aspecto a ser considerado é que o avanço científico da medicina proporciona um
leque maior de opções de tratamentos a serem pagos, gerando maior demanda por investimento
em pesquisa, porém os investimentos públicos em saúde diminuem ano a ano. O Brasil investiu
em 2011 cerca de 8% do PIB em saúde, contudo somente 3,5% destinam-se à rede pública. A
tabela SUS teve um reajuste de 46% desde 1994, enquanto o IGPM no mesmo período indica
uma inflação de 450%. (MARTINS E PASTORE, 2011)

De acordo com Ponte (2010), uma modalidade de financiamento exclusiva para as Santas Casas e
hospitais privados filantrópicos foi o Caixa Hospitais. Criado em 1998, esse programa
governamental que estimulou a formação de um circuito mais amplo, no qual as relações entre o
público e o privado (secretarias de saúde e hospitais filantrópicos) confluem para o sistema
financeiro. Nessa modalidade de custeio, os hospitais antecipam os valores a receber do
Ministério da Saúde pelos serviços ambulatoriais e internações hospitalares que serão realizados,
obtendo financiamento com prestações fixas de 12, 24 ou 30 meses.

No final de 2008, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social lançou o Programa


de Financiamento da Acreditação para os hospitais privados do país, por meio do Cartão BNDES,
disponibilizando recursos da ordem de R$ 250 milhões por três instituições financeiras: Banco do
Brasil, Caixa Econômica Federal e Bradesco. A Acreditação Hospitalar é uma certificação
semelhante ao ISO, mas exclusiva para instituições de Saúde. É um método de avaliação
voluntário, periódico e reservado dos recursos institucionais de cada hospital para garantir a
qualidade da assistência por meio de padrões previamente definidos. Não é uma forma de

64
fiscalização, mas um programa de educação continuada. De acordo com a Confederação
Nacional de Saúde, a ―instituição de saúde interessada em se acreditar poderá pagar os
empréstimos em até 36 vezes, com taxa de juros fixa, sem custos de contratação ou anuidade e
sem necessidade de seguro ou de garantias reais‖ (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE
SAÚDE, 2009, p. 8).

A finalidade das santas casas é realmente atender as pessoas mais necessitadas, mas para exercer
essa função com qualidade é preciso ter, no mínimo, equilíbrio financeiro. Sem isso, há prejuízo
na qualidade da assistência, resultando diretamente na qualidade da saúde do cidadão.
(SPIGOLON, 2011)

No Brasil, apenas 20% da população (em torno de 35 milhões de habitantes) têm acesso à saúde
privada. Os demais 80% ficam sob os cuidados diretos do Poder Público, sendo a maior parte
deste grupo carente de recursos para a contratação de serviços de saúde privada.
(MASCARENHAS, 2007)

4.2 Análise de liquidez e grau de endividamento comparativo de dez entidades filantrópicas


de assistência a saúde da região leste paulista.

Foi realizada uma análise de índices de liquidez de dez entidades filantrópicas de assistência à
saúde da região leste do estado de São Paulo, composta por santas casas de misericórdia e
hospitais beneficentes, com a intenção de verificar a situação financeira dessas entidades. Nesse
momento não foi analisado o índice em particular, mas o percentual de entidades que não obtém
liquidez, ou seja, demonstram índices menores que 1,0.

65
Entendendo que a análise de indicadores de desempenho é uma ferramenta gerencial
extremamente importante para mensurar a situação econômico-financeira dos hospitais, quando
se pretende tratá-los como organizações profissionais, mesmo identificando dificuldade de
padronização do setor, pode-se afirmar que, se tratando de sustentabilidade, o curto prazo é tão
importante quanto o longo prazo, visto que um leva ao outro, sendo este um ―caminho‖, um pré-
requisito.

Os índices de liquidez podem servir de termômetro na qualificação do mencionado curto e longo


prazo dessas entidades. Para se vencerem crises e permanecer no mercado de forma sustentável, a
liquidez é fator essencial.

Os índices de solvência são expressos pelo número de vezes que o numerador contém o
denominador, esses índices costumam ser avaliados pelo critério de ―quanto maior melhor‖. Estes
índices não medem a efetiva capacidade de a empresa liquidar seus compromissos nos
vencimentos, mas apenas evidenciam o grau de solvência em caso de encerramento total das
atividades.

Nesse contexto foi realizada uma análise de liquidez de dez entidades filantrópicas de assistência
à saúde, sendo estas santas casas de misericórdia e hospitais beneficentes, na região leste paulista.

A análise foi feita a partir dos balanços publicados dos exercícios findos em 31/12/2008,
31/12/2009 e 31/12/2010.

66
TABELA 4: Índice de liquidez corrente

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

A análise de liquidez corrente, com base na divisão do Ativo Circulante pelo Passivo Circulante,
demonstra que, em 31/12/2008, 50% das entidades em estudo não apresentavam liquidez, não
tendo condições de saldar suas dívidas de curto prazo disponibilizando apenas o ativo circulante.
Em 31/12/2009 percebe-se uma piora desse índice em que 60% não apresentavam liquidez eficaz.
Já em 31/12/2010, a análise demonstra que a queda de liquidez se acentua ainda mais com um
índice de 70% das entidades incapazes de liquidar seu passivo circulante utilizando apenas o
ativo circulante.

TABELA 5: Índice de liquidez geral

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

67
Tratando-se do índice de liquidez geral, a situação é ainda mais grave. Baseado na soma do Ativo
Circulante + Realizável a Longo Prazo dividida pelo Passivo Circulante + Exigível a Longo
Prazo, em 31/12/2010 - 90% das entidades apresentaram indicadores com situação de insolvência
financeira. Em 31/12/2009 - 100% das entidades apresentavam a dificuldade e em 31/12/2008 -
70%.

Isso demonstra que essas entidades não estão conseguindo gerar receita suficiente para pagar suas
dívidas e estão buscando recursos através de capital de terceiros, ou seja, empréstimos e
financiamentos bancários. Observando que o passivo circulante está cada vez maior, significa
que a entidade não está sendo capaz de quitar as dívidas de curto prazo, como fornecedores,
impostos e salários, o que pode trazer um grande prejuízo ao funcionamento da entidade.

TABELA 6: Grau de Endividamento

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

Analisando os balanços patrimoniais dos exercícios de 31/12/2008, 31/12/2009 e 31/12/2010 e


comparando o Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo com o total do Ativo, obtém-se um
Grau de Endividamento crescente, em que, em 31/12/2010, 50% das entidades tem mais de 50%
de seu Ativo Total comprometido, mostrando um alto grau de endividamento dessas entidades.

68
Essa análise mostra que para saldar a dívida já existente nas entidades seria necessário dispor do
Ativo Imobilizado, ou seja, dos seus bens imóveis, sendo esses prédios, terrenos, máquinas,
equipamentos, veículos entre outros. Na análise é possível verificar que o Grau de Endividamento
em 2010 mostra que 50% das entidades estão com metade do ativo total ―comprometido‖ com a
dívida obtida, ou seja, seria necessário vender boa parte dos bens físicos para pagar todas as
dívidas.

4.3 Análise de liquidez de dez entidades filantrópicas de assistência à saúde da região leste
paulista, comparando os índices das Entidades que têm Operadora de Saúde própria com
as Entidades que não dispõem desse recurso.

Observando os índices de liquidez corrente e geral das dez entidades em estudo, separando as
entidades que têm uma operadora de saúde própria das entidades que não dispõem desse serviço
obtiveram-se as seguintes análises:

TABELA 7: Índice de liquidez corrente. Estudo comparativo entre Entidades sem Operadora de
Saúde própria e Entidades com Operadora de Saúde própria.

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

69
Comparando as Entidades que têm uma Operadora de Saúde própria com as Entidades que não
dispõem desse recurso, o índice de liquidez corrente mostra que as Entidades que têm uma
Operadora de Saúde própria obtiveram piora relevante quanto à liquidez, o que aponta
dificuldades em gerir uma Operadora de Saúde, setor controlado pela ANS – Agência Nacional
de Saúde Suplementar.

TABELA 8: Índice de liquidez geral. Estudo comparativo entre Entidades sem Operadora de
Saúde própria e Entidades com Operadora de Saúde própria.
Índice de Liquidez Geral
Entidades sem Operadora de Saúde própria Entidades com Operadora de Saúde própria
31/12/2010 31/12/2009 31/12/2008 MÉDIA 31/12/2010 31/12/2009 31/12/2008 MÉDIA
C 0,57 0,75 0,79 0,70 B 0,09 0,09 0,08 0,09
D 0,38 0,68 0,58 0,55 I 0,84 0,93 0,93 0,90
F 0,52 0,47 0,20 0,34 E 0,72 0,71 1,10 0,84
J 0,29 0,24 0,22 0,25 G 0,39 0,52 1,12 0,82
100% 100% 100% L 0,54 0,49 0,33 0,68
H 1,16 0,98 1,09 1,08
83% 100% 50%

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

A partir dessa análise, é possível verificar que, nas entidades que não possuem operadora de
saúde própria, os indicadores de desempenho são bastante ruins, porém permanecem constantes.
Já nas entidades que possuem operadora de saúde, é possível verificar que a situação vem-se
agravando, o que aponta que os planos de saúde vêm ajudando cada vez menos no equilíbrio
financeiro dessas entidades. Isso significa que a capacidade de pagamento dessas entidades está
piorando ao longo dos anos e que a forma de financiamento das despesas está cada vez mais
sendo proveniente de capital de terceiros, ou seja, empréstimos e financiamentos bancários.

70
4.4 Estudo de casos múltiplos

Dentre as Entidades em estudo foi a que apresentou melhor índice de liquidez, apresentando
solvência da situação financeira, e está representada nas tabelas de índice de liquidez acima pela
letra H. Já a Entidade representada pela letra C é a de melhor índice de liquidez dentre as
Entidades que não possuem Operadora de Saúde própria.

Para a realização do estudo de casos múltiplos, foi feito um estudo de caso dessas duas Entidades,
com a finalidade de entender se é possível manter sustentabilidade financeira a partir da receita
com prestação de serviços hospitalares, descrevendo as formas de financiamento das despesas e
obtenção de recursos e levantando do déficit financeiro ocasionado pelo atendimento ao SUS
nessas duas Entidades, no exercício de 2010.

No estudo de caso da Entidade ―H‖, foi feita uma análise sobre a Operadora de Saúde própria,
com a finalidade de entender a influência financeira de uma Operadora de Saúde na própria
Entidade.

A partir dos dados obtidos nos estudos realizados e dos dados fornecidos pelos gestores das duas
Entidades, foi realizada uma análise comparativa.

4.4.1 Entidade “H”

A Entidade ―H‖ é uma sociedade civil sem fins lucrativos, fundada em 1907, e tem como objeto
social prestar assistência médico-hospitalar, assim como oferecer meios e modos de assistência e
beneficência à saúde da comunidade. É Entidade declarada de Utilidade Pública Federal,

71
registrada no Conselho Nacional de Serviço Social (MEC) em 24/06/1940. Possui certificado de
entidade de fins filantrópicos.

A Entidade operacionaliza uma Operadora de Saúde, com registro provisório e aguarda análise
da ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar para obtenção de registro definitivo.

TABELA 9: Análise vertical e horizontal da Entidade ―H‖


2010 2009 2008 MÉDIA

RECEITA R$ 15.227.593,36 100% R$ 15.217.964,84 100% R$ 15.860.004,94 100% R$ 15.435.187,71 100%


RECEITA COM O SUS R$ 3.397.973,15 22,3% R$ 3.545.777,70 23,3% R$ 3.562.338,88 22,5% R$ 3.502.029,91 22,7%
RECEITA COM
CONVÊNIOS R$ 5.895.352,67 38,7% R$ 4.875.080,37 32,0% R$ 6.687.753,99 42,2% R$ 5.819.395,68 37,7%
RECEITAS
OPERACIONAIS R$ 4.397.428,12 28,9% R$ 6.874.104,55 45,2% R$ 6.009.036,01 37,9% R$ 5.760.189,56 37,3%
RECEITA COM
PARTICULAR R$ 497.462,42 3,3% R$ 482.780,06 3,2% R$ 555.859,22 3,5% R$ 512.033,90 3,3%

DOAÇÕES R$ 299.020,02 2,0% R$ 196.538,24 1,3% R$ 159.289,80 1,0% R$ 218.282,69 1,4%

SUBVENÇÃO ESTADUAL R$ 462.790,23 3,0% R$ 588.886,03 3,9% R$ 470.889,73 3,0% R$ 507.522,00 3,3%

SUBVENÇÃO MUNICIPAL R$ 308.573,00 2,0% R$ 869.314,49 5,7% R$ 143.000,00 0,9% R$ 440.295,83 2,9%
SUBVENÇÃO PRONTO-
SOCORRO R$ 2.504.321,69 16,4% R$ 1.666.691,90 11,0% R$ 1.458.538,02 9,2% R$ 1.876.517,20 12,2%

RECEITAS FINANCEIRAS R$ 103.515,51 0,7% R$ 160.010,09 1,1% R$ 287.979,65 1,8% R$ 183.835,08 1,2%

DESPESA R$ 15.024.152,23 100% R$ 15.523.948,55 100% R$ 15.657.977,78 100% R$ 15.402.026,19 100%


DESPESAS
OPERACIONAIS R$ 14.917.550,37 99,3% R$ 15.298.666,43 98,5% R$ 15.539.565,35 99,2% R$ 15.251.927,38 99,0%

HONORARIOS MEDICOS R$ 5.292.422,17 35,2% R$ 5.113.411,08 32,9% R$ 3.900.070,49 24,9% R$ 4.768.634,58 31,0%

DESPESAS COM PESSOAL R$ 4.737.257,40 31,5% R$ 4.864.071,21 31,3% R$ 4.857.285,88 31,0% R$ 4.819.538,16 31,3%

DEPRECIAÇÕES R$ 304.935,84 2,0% R$ 268.307,91 1,7% R$ 220.807,99 1,4% R$ 264.683,91 1,7%

DESPESAS FINANCEIRAS R$ 106.601,86 0,7% R$ 225.282,12 1,5% R$ 118.412,43 0,8% R$ 150.098,80 1,0%

Principais receitas e despesas dos exercícios de 2010, 2009 e 2008 (excluindo receita com contraprestações e
despesas com eventos indenizáveis).
FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

A situação financeira de uma empresa refere-se à sua capacidade de liquidar os compromissos já


assumidos e ao seu potencial de crédito junto aos fornecedores, instituições financeiras etc. Em
72
outras palavras, a situação financeira correspondente à liquidez da empresa vista de forma
bastante ampla. No balanço, a análise vertical e horizontal fornece indicadores que facilitam a
avaliação da estrutura do ativo (como os recursos estão sendo aplicados) e das suas fontes de
financiamento.

Foi realizada a análise vertical e horizontal da Entidade ―H‖, durante três exercícios, sendo esses
os exercícios de 2008, 2009 e 2010. Foi feita uma média desses três exercícios, para que não seja
analisado apenas um exercício isolado, minimizando possíveis distorções.

Para melhor análise, está retirada do balanço a receita com contraprestações emitidas que
representam as mensalidades do plano de saúde próprio no montante de R$ 8.829.117,53 (média
dos três exercícios) e despesa com eventos indenizáveis que representa os gastos médicos e
hospitalares do plano de saúde próprio, no montante de R$ 8.677.532,70 (média dos três
exercícios), para possibilitar a análise da receita do Plano de Saúde próprio como convênio.

A partir da análise vertical, apresentada na tabela 9, foi possível verificar que a receita com o
SUS representa na média dos três exercícios analisados 22,5% do total das receitas, enquanto as
internações (paciente/dia) através do SUS representam, no exercício de 2010, cerca de 63,2 % . Já
em 2009 e 2008, o atendimento paciente/dia foi cerca de 50% SUS e 50% convênios. Os 60%
foram alcançados apenas quando analisadas as internações, como era exigido pela Lei da
filantropia até 2009. Já a receita com convênios e particulares representa na média dos três
exercícios analisados 40,6%, sendo 42% no exercício de 2010, conforme tabela 10.

73
TABELA 10: Percentual de receitas: SUS, convênios e particulares (Entidade ―H‖)

2010 2009 2008 MÉDIA


RECEITA COM O SUS R$ 3.397.973,15 22,3% R$ 3.545.777,70 22,7% R$ 3.562.338,88 22,4% R$ 3.502.029,91 22.5%

RECEITA COM CONVÊNIOS R$ 5.895.352,67 38,7% R$ 4.875.080,37 31,2% R$ 6.687.753,99 42% R$ 5.819.395,68 37,3%

RECEITAS COM PARTICULAR R$ 497.462,42 3,3% R$ 482.780,06 3,1% R$ 555.859,22 3,5% R$ 512.033,90 3,3%

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

Percebe-se então que de acordo com as tabelas 10 e 11, as receitas com convênios e pacientes
particulares perfazem em seu montante praticamente duas vezes as receitas com o SUS e visto
que o custo hospitalar de atendimento do paciente SUS e dos pacientes de convênios e
particulares é praticamente o mesmo, e que a Entidade ofereceu 63,2% do seu atendimento ao
SUS e 36,8% aos convênios e particulares, no exercício de 2010. É possível verificar que a
receita dos convênios e particulares vem ajudando a custear o atendimento aos pacientes do SUS.

Tabela 11: Paciente dia Entidade ―H‖


ENTIDADE "H"
INTERNAÇÕES
PACIENTES DIA
2010 % 2009 % 2008 %
SUS 19.359 63,19% 9.609 63,89% 6.516 60,19%
CONVÊNIOS E PARTICULARES 11.275 36,81% 5.432 36,11% 4.309 39,81%
TOTAL INTERNAÇÕES 30.634 100,00% 15.041 100,00% 10.825 100,00%
INTERNAÇÕES
FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

4.4.2 Operadora de Saúde própria da Entidade “H”

Para entender a influência do plano de saúde próprio da Entidade ―H‖, não basta apenas analisar
as contraprestações do plano de saúde próprio e os eventos conhecidos (receitas e despesas
referentes ao Plano de Saúde). Gerencialmente, o Plano de Saúde é tratado como serviço, ou

74
seja, é como se a Santa Casa prestasse serviço ao Plano de Saúde próprio, assim como é feito
com os demais convênios médicos, como: CASSI, UNIMED, entre outros.

Para poder entender a influência do Plano de Saúde próprio na Entidade ―H‖, é preciso analisar o
percentual de receita do Plano de Saúde próprio em relação aos outros convênios.

TABELA 12: Receita com convênios


2008 2009 2010 MÉDIA
PLANO DE SAÚDE PRÓPRIO R$ 2.187.020,00 32,7% R$ 1.991.416,71 44,5% R$ 1.997.354,09 33,7% R$ 2.115.281,89 36,3%
OUTROS CONVÊNIOS R$ 4.500.733,92 67,3% R$ 2.883.663,66 55,5% R$ 3.924.006,01 66,3% R$ 3.710.803,80 63,7%
TOTAL CONVÊNIOS R$ 6.687.753,92 100% R$ 4.875.080,37 100% R$ 5.921.360,10 100% R$ 5.826.085,69 100%

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

De acordo com a tabela 12, é possível verificar que o resultado do Plano de Saúde próprio é
responsável por 36,3% (média dos três exercícios em estudo) das receitas com convênios, porém
se analisarmos esse resultado pelo montante de R$ 2.215.281,89, a partir da média da receita total
de R$ 15.586.421,69, podemos observar que o resultado do Plano de Saúde próprio contribui
com 14,21% da receita da Entidade, comparado à receita SUS (22,5%), é uma forma de receita
bastante relevante, visto que o Plano de Saúde, observando a tabela 13, beneficia a 10.406
usuários (média dos três exercícios em estudo), atendendo em média 6.603 pacientes e 2.180
internações, enquanto a Santa Casa, de acordo com a tabela 11, atendeu 19.359 pacientes (dados
de 2010) e 9.609 internações (dados de 2009) através do SUS.

TABELA 13: Internações, paciente-dia e usuários do plano de saúde

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

75
Porém é preciso entender que, por ser uma única ―empresa‖, Santa Casa e Operadora de Saúde,
sendo um único CNPJ, o custo da Operadora está embutido nas despesas da Santa Casa, sendo
necessário analisar qual o custo que a Operadora gera para a Santa Casa, e assim entender se
realmente a Operadora é lucrativa.

Além das despesas administrativas, a Operadora, por exigências da ANS, efetua determinados
procedimentos que interferem na liquidez da Santa Casa e no próprio resultado.

De acordo com a RN 160/07, a ANS exige que seja provisionado um montante para a cobertura
da PEONA - Provisão para Eventos Ocorridos e Não Avisados, calculado pelo maior valor entre
9,5% das contraprestações emitidas líquidas e 12% dos eventos indenizáveis conhecidos. Esse
valor começou a ser provisionado em janeiro de 2008 e poderá ser integralizado em 72 parcelas
mensais.

O Plano de Saúde, em 31/12/2010 havia provisionado o montante de R$ 513.199,59, perfazendo


montante necessário para atender 36/72 avos do total a ser provisionado. É exigido também que o
valor provisionado no passivo seja lastreado por um ativo garantidor, ou seja, uma aplicação que
não poderá ser utilizada pela Operadora sem a autorização da ANS.

Pelo valor provisionado até junho de 2011, logo que concluída a provisão, provavelmente a
Entidade terá lançado mais de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) como despesa e terá o
mesmo valor em uma conta de aplicação ―bloqueada‖ pela ANS.

Para poder entender a viabilidade econômica de uma Operadora de Saúde, é preciso analisar o
montante da despesa realizada com provisões técnicas adicionado do custo administrativo da
Operadora e o percentual de eventos indenizáveis (custo do atendimento médico do plano), em

76
relação à receita com contraprestações recebidas (mensalidades recebidas pelo plano), para assim
verificar se a Operadora é rentável ou se o mesmo gera um déficit (prejuízo) à Santa Casa.

Para poder estudar esses custos foi feita uma segregação do custo administrativo da ―Santa Casa‖
e do custo administrativo da Operadora. Segue quadro 5 compondo os custos administrativos da
Operadora.

QUADRO 5: Custos administrativos da Operadora

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

77
Observando os custos administrativos da Operadora (quadro 5), foi apurado o montante de R$
1.339.229,91. A receita gerada pelo Plano de Saúde à Entidade, que no exercício de 2010 somou
o montante de R$ 10.406.066,00, e a despesa gerada no exercício de 2010 somou o montante de
R$ 10.161.870,00. É possível verificar que Operadora resultou em superávit a Entidade, no
montante de R$ 244.196,00 que ajudou a compor 35,5% do superávit da Entidade no exercício de
2010.

TABELA 14: Receitas/despesas 2010 - Operadora de Saúde

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

Analisando esses números é possível entender que Operadora de Saúde ainda consegue gerar
superávit (lucro) para Entidade, porém se verificarmos os constantes aumentos no rol de
procedimentos a serem cobertos pelo plano e o montante a ser provisionado como provisões
financeiras e consequentemente garantido em contas de aplicação vinculada a ANS, talvez, nos
próximos anos, possivelmente o plano deixará de ser viável.

4.4.3 Entidade “C”

A Entidade ―C‖ foi fundada em 22/11/1913 sob a forma de associação beneficente sem fins
lucrativos, com o objetivo de prestar assistência médico-hospitalar de forma gratuita à população
carente e de forma onerosa àqueles que puderem arcar com o custo do tratamento. É reconhecida
pelos órgãos governamentais como de utilidade pública.

78
TABELA 15: Análise vertical e horizontal da Entidade ―C‖

2010 2009 2008 MÉDIA

RECEITA R$ 24.542.960,68 100,0% R$ 21.672.385,90 100% R$ 20.200.146,56 100% R$ 22.138.497,71 100%

RECEITA COM O SUS R$ 13.742.388,86 56,0% R$ 11.801.231,13 54,5% R$ 10.549.821,52 52,2% R$ 12.031.147,17 54,3%

RECEITA COM CONVÊNIOS R$ 7.719.717,64 31,5% R$ 7.024.210,59 32,4% R$ 6.262.568,36 31,0% R$ 7.002.165,53 31,6%

RECEITAS OPERACIONAIS R$ 1.656.567,62 6,7% R$ 1.085.980,21 5,0% R$ 1.406.140,31 7,0% R$ 1.382.896,05 6,2%

RECEITA COM PARTICULAR R$ 1.025.501,63 4,2% R$ 901.350,45 4,2% R$ 1.161.353,04 5,7% R$ 1.029.401,71 4,6%

DOAÇÕES R$ 235.528,33 1,0% R$ 47.053,10 0,2% R$ 160.402,46 0,8% R$ 147.661,30 0,7%

SUBVENÇÃO ESTADUAL R$ 1.054.671,73 4,3% R$ 1.406.852,52 6,5% R$ 1.466.757,76 7,3% R$ 1.309.427,34 5,9%

SUBVENÇÃO MUNICIPAL R$ 0,00 0,0% R$ 73.000,00 0,3% R$ 73.000,00 0,4% R$ 48.666,67 0,2%

RECEITAS FINANCEIRAS R$ 134.086,50 0,5% R$ 234.058,35 1,1% R$ 281.456,15 1,4% R$ 216.533,67 1,0%

DESPESA R$ 24.925.076,63 100,0% R$ 21.707.985,47 100% R$ 20.205.628,65 100% R$ 22.279.563,58 100%

DESPESAS OPERACIONAIS R$ 13.578.026,94 54,5% R$ 11.925.726,60 54,9% R$ 11.645.499,95 57,6% R$ 12.383.084,50 55,6%
DESPESAS COM PESSOAL R$ 10.836.678,49 43,5% R$ 9.367.718,72 43,2% R$ 8.197.351,74 40,6% R$ 9.467.249,65 42,5%
DEPRECIAÇÕES R$ 510.371,20 2,0% R$ 414.540,15 1,9% R$ 362.776,96 1,8% R$ 429.229,44 1,9%

DESPESAS FINANCEIRAS R$ 287.074,47 1,2% R$ 476.217,58 2,2% R$ 409.414,22 2,0% R$ 390.902,09 1,8%

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

De acordo com a análise vertical e horizontal apresentada na tabela 15 e 16, é possível verificar
que a receita com o SUS representa na média dos três exercícios analisados cerca de 54,3%,
enquanto as internações (paciente/dia) através do SUS, representam na média dos três exercícios
analisados cerca de 79,3%. Já a receita com convênios e particulares representa na média dos três
exercícios analisados 36,2% e média internações paciente/dia de 20,7%, conforme tabela 17.
Todas as outras formas de receitas, sendo elas doações, subvenções, outras receitas operacionais
e receitas financeiras representam em média o montante de 14%.

TABELA 16: Percentual de receitas: SUS, convênios e particulares (Entidade ―C‖)

2010 2009 2008 MÉDIA


RECEITA COM O SUS R$ 13.742.388,86 56,0% R$ 11.801.231,13 54,5% R$ 10.549.821,52 52,2% R$ 12.031.147,17 54,3%
RECEITA COM CONVÊNIOS R$ 7.719.717,64 31,5% R$ 7.024.210,59 32,4% R$ 6.262.568,36 31,0% R$ 7.002.165,53 31,6%
RECEITAS COM PARTICULAR R$ 1.025.501,63 4,2% R$ 901.350,45 4,2% R$ 1.161.353,04 5,7% R$ 1.029.401,71 4,6%
FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.
79
É possível, assim, observar que, nessa Entidade, as receitas com convênios e particulares ajudam
a custear as internações pelo SUS.

TABELA 17: Paciente dia Entidade ―C‖

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

4.4.4 Análise comparativa entre as Entidades “H” e “C”

A partir dos dados coletados foi elaborada uma tabela comparativa entre as duas Entidades em
estudo, a fim de auxiliar o estudo comparativo e promover melhor entendimento. É possível
perceber que a Entidade ―H‖ é um pouco menor em número de leitos e mais enxuta em número
de funcionários que atende; bem próximo ao percentual mínimo de atendimento ao SUS, de
acordo com a Lei da filantropia e que maximiza seus atendimentos quanto a convênios e
particulares. Já a Entidade ―C‖ promove maior número de atendimentos, porém requer uma
grande quantidade de funcionários. Não tem grande demanda para pacientes particulares e não
promove grande quantidade de atendimentos a convênios médicos. A tabela 18 demonstra os
dados comentados de forma comparativa.

80
TABELA 18: Tabela comparativa entre dados da Entidade ―H‖e Entidade ―C‖. Exercício de
2010.

ENTIDADE "H" ENTIDADE"C"


LIQUIDEZ CORRENTE 1,35 0,90
LIQUIDEZ GERAL 0,84 0,70
INTERNAÇÕES SUS 63,20% 79,30%
RECEITA SUS 22,50% 54,30%
INTERNAÇÕES CONVÊNIOS + PARTICULARES 36,80% 20,70%
RECEITA CONVÊNIOS + PARTICULARES 40,60% 36,20%
PACIENTE/DIA (2010) 30.634 48.268
Nº LEITOS (2010) 149 178
Nº FUNCIONÁRIOS (2010) 287 470
DÉFICIT SUS (2010) 21,30% 22,90%

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

Observando a tabela 18 é possível verificar que o déficit ocasionado pelo atendimento ao SUS é
bem próximo nas duas Entidades: 21,30% na Entidade ―H‖ e 22,9% na Entidade ―C‖. O que faz
com que uma esteja equilibrada financeiramente e a outra não é o volume de atendimento. A
Entidade ―C‖ atende quase 81% SUS, enquanto a Entidade ―H‖ - 63%. Sendo o atendimento ao
SUS deficitário, quanto mais se atende o SUS, maior o prejuízo se não houver uma contrapartida,
ou seja, outro serviço que gere lucro.

A análise do déficit financeiro do SUS é feita através da soma da receita obtida pelo SUS,
adicionando a esse montante as verbas de subvenções recebidas, divididas pelo custo gerado
pelos pacientes atendidos pelo convênio SUS. O déficit do SUS no exercício de 2010 para a
Entidade ―C‖ foi de 22,9%, enquanto o déficit apurado para o mesmo período na Entidade ―H‖
foi de 21,3%.

TABELA 19: Déficit financeiro do SUS (2010)

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.


81
Para melhor entender o déficit da tabela de procedimentos do SUS, foi elaborada uma tabela
comparativa com alguns procedimentos realizados tanto pelo SUS quanto pelos convênios
médicos e os valores são pagos via tabela SUS e via convênio médico.

A tabela de procedimentos SUS é constituída pela tabela de procedimentos do Sistema de


Informações Ambulatoriais (SIA), e pela tabela de procedimentos do Sistema de Informações
Hospitalares (SIH), cujas composições e definições de reajustes de valores são estabelecidas pela
direção nacional do SUS, homologadas pela Comissão Intergestores Tripartite (CIT) e aprovada
no Conselho Nacional de Saúde (CNS).

TABELA 20: Diferença de valores entre a tabela SUS e os valores pagos por convênios e
particulares.

FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

O SUS chega a pagar 1/3 do valor pago por um convênio médico ou por um paciente particular
para execução do mesmo procedimento. O custo para a execução é o mesmo, tanto para o
paciente SUS quanto para o convênio ou particular. Nota-se a defasagem da tabela de
procedimentos utilizada para o pagamento do SUS. Pacientes particulares e planos de saúde
atendem aos preços de mercado.

82
4.5 Grupo Focado

O primeiro grupo focado foi realizado na Entidade ―H‖, com a participação de cinco pessoas e o
segundo grupo focado foi realizado na Entidade ―C‖, contando com dois participantes. A coleta
desses dados foi realizada por meio de filmagem com câmera filmadora digital e posteriormente
transcrita e categorizada para a realização da análise do conteúdo.

Categoria 1 – Remuneração dos serviços prestados ao SUS

Esta categoria tenta mostrar a visão dos participantes quanto à remuneração paga pelos serviços
prestados ao SUS.

Houve um consenso entre todos os participantes dos dois grupos focados em salientar que a
remuneração dos serviços prestados ao SUS é injusta. Alguns chegaram a julgar essa
remuneração absurda, visto a dedicação e qualidade de atendimento que as entidades oferecem. O
participante G1S3 apresentou dados do estudo realizado por ele relativos a 2011, em que
constatou um déficit de 30% da remuneração dos serviços prestados ao SUS nesse período, sendo
então maior do que o levantado em 2010, mostrando que essa remuneração está cada vez mais
longe de custear o atendimento. O déficit financeiro do SUS na entidade H em 2010 foi de
21,30%.

G2S2 entende essa remuneração como um descaso das autoridades, pois na visão dele o governo
tem ciência de que são as santas casas que sustentam a saúde pública do Brasil.

―O SUS é como uma indústria que dá prejuízo, quanto mais se fabrica, maior é
o prejuízo.‖ G2S2 (29/09/2011)
83
O grande problema discutido em relação à remuneração do atendimento SUS é a defasagem da
tabela. O SUS chega a pagar 40% a menos do que o custo do procedimento. O governo, em vez
de pagar uma tabela justa, acabou criando alguns convênios, como a contratualização2 que de
certa forma induz os gestores a investirem na melhora operacional da entidade. Esse tipo de
convênio é muito bom, mas o problema é que o Integrasus3 e o IAC - Incentivo de Adesão à
Contratualização, não sofreram nenhum reajuste desde a sua criação, e isso ocorreu há seis anos.
Segundo G2S1, na parte da contratualização referente aos procedimentos de média e alta
complexidade houve muitas falhas em relação ao repasse de verba.

De acordo com G1S1, há muito tempo existiu uma subvenção estadual (Estado de São Paulo)
muito importante, antes da criação do SUS. Era uma subvenção do Estado chamada leito - dia,
que, independente do atendimento que fosse feito, o hospital mandava para o Estado (Secretaria
da Saúde) um relatório mostrando quantos pacientes foram internados durante determinados dias
e o Estado fazia o pagamento, e com isso o hospital sobrevivia muito bem. A remuneração era
justa em relação ao custo, tanto que não havia grandes problemas financeiros. Não existia SUS, o
paciente era taxado como não contribuinte, remanescente do denominado indigente, então as
coisas foram mudando e hoje, na verdade, a Santa Casa paga pra atender o SUS. Não é o governo
que subsidia a Santa Casa e sim a Santa Casa que subsidia o Estado, um absurdo que existe no
Brasil.

Não há como ser sustentável sem um equilíbrio financeiro. A saúde é cara e com tecnologias
modernas vem ficando ainda mais cara. Mas a proposta do SUS é promover saúde a todos os
cidadãos brasileiros. É preciso equacionar esse custeio. O SUS vem subfinanciando seus
atendimentos e as entidades filantrópicas vêm sofrendo muito com isso. Apesar da missão da
entidade ser o atendimento humanitário aos menos favorecidos, é obrigação do estado fornecer
2
A implantação da contratualização, considerada como forma de gestão que objetivou substituir o pagamento por
produção, vinculando orçamentação a metas. As partes, hospitais e gestores estabeleceram metas quantitativas e
qualitativas para a atenção à saúde e à gestão hospitalar.
3
Integrasus - Incentivo pago pelo Ministério da Saúde, adicionalmente ao faturamento das entidades, se destina
exclusivamente aos hospitais filantrópicos e aos sem fins lucrativos e tem por objetivo estimular o desenvolvimento
de suas atividades assistenciais e a realização das mesmas em regime de parceria com o Poder Público.
84
esse serviço e não é justo que essas entidades promovam o atendimento previsto no convênio
firmado com o SUS e não recebam o valor justo para manter o hospital financeiramente viável.

Sem uma remuneração adequada e capaz de saldar os custos do atendimento, a entidade se torna
incapaz de manter um equilíbrio financeiro e esse desequilíbrio interfere de forma condizente na
qualidade do atendimento prestado.

Apesar de os hospitais filantrópicos serem altamente capacitados para executar atendimentos


médicos, a falta de profissionais, o sucateamento de equipamento e a falta de recursos para a
aquisição de maquinários modernos faz com que a população que necessita do atendimento se
sinta indignada com o atraso nas consultas e a impossibilidade de atendimento, tendo muitas
vezes que viajar horas e enfrentar longas filas para ser atendida.

Categoria 2 – Atendimento a convênios e particulares

Pela Lei da Filantropia, as entidades filantrópicas de assistência à saúde, devem prestar no


mínimo 60% dos seus atendimentos aos pacientes do SUS ou oferecer 20% da receita bruta em
gratuidade. Sendo as duas entidades optantes pelo atendimento ao SUS, existe a possibilidade de
essas entidades prestarem até 40% de seus atendimentos a pacientes particulares e saúde
suplementar (planos de saúde).

Esses atendimentos a pacientes particulares e saúde suplementar seguem tabelas que foram
formuladas a preço de mercado, ou seja, normalmente geram algum lucro ao prestador do
serviço.

85
Todos os integrantes dos dois grupos focados ressaltam a grande importância para a saúde
financeira das entidades em promover esse tipo de atendimento, porém a Entidade ―C‖, além de
não ter um plano de saúde próprio para promover esse atendimento, enfrenta a concorrência de
um hospital muito mais novo e moderno.

De acordo com o G2S2, quando não havia essa concorrência e a Santa Casa era o único hospital
que atendia os convênios médicos na cidade. Havia uma reserva que dava para suportar em torno
de três meses de funcionamento, tinha fluxo de caixa para três meses à frente, o que foi corroído
pelo déficit do SUS. Hoje não existe demanda para se atender 40% de convênios e particulares,
pois os usuários dos convênios preferem ser atendidos pelo hospital concorrente, além da
indicação dos médicos que são sócios desse hospital. A Entidade ―C‖ prestou em 2010 cerca de
81% de seus atendimentos ao SUS.

Para a Entidade ―H‖ a realidade é outra. Apesar de prestar 38% de atendimento a convênios e
particulares, esses atendimentos representam a maior parte da receita, mais de 40% do total.

De acordo com G1S2, como só há um hospital na cidade e a Santa Casa atende 99% dos
convênios que existentes no município, e prestando serviço a outros convênios da região, a
parcela que a Santa Casa recebe supre com certa dificuldade a defasagem do SUS, porém se
amanhã ou depois surgir outro prestador ou outro hospital na cidade possivelmente haverá um
colapso.

Já o G1S1 tem a seguinte opinião:

―Eu acredito que é a fonte de receita que compensa o déficit do SUS, então
enquanto a gente conseguir manter os convênios funcionando e os atendimentos
particulares vamos conseguir manter o hospital equilibrado.‖ (22/09/2011)

86
É possível perceber a fragilidade em que a Entidade ―H‖ se encontra. Apesar de estar equilibrada
pode-se notar que, caso um novo hospital se instale na cidade ou que a Santa Casa deixe de
atender os convênios que atende hoje, o equilíbrio financeiro deixa de existir. A arrecadação com
atendimentos a convênios e particulares conseguem suprir o déficit do SUS, mas não tem sobrado
dinheiro para um investimento real em instalações e equipamento. Com o tempo, o hospital pode
ficar sucateado. A demanda por novas tecnologias é constante e talvez não seja possível
acompanhar essa necessidade.

No passado da Entidade ―H‖, a arrecadação por convênios e particulares era maior, mas, segundo
G1S1, essa arrecadação vem diminuindo gradativamente.

Se o atendimento a convênios e particulares deixar de ser realizado e for construído um novo


hospital particular na cidade, é muito provável que a situação financeira da Entidade ―H‖ venha a
ficar semelhante à situação da Entidade ―C‖, tornando necessária a obtenção de empréstimos
bancários para aquisição de equipamentos e pagamento de funcionários.

Percebe-se que realizar 40% dos atendimentos prestando serviços a pacientes particulares e
convênios médicos, e manter a filantropia, são fatores cruciais para um equilíbrio financeiro das
entidades filantrópicas de assistência à saúde conveniada ao SUS. No entanto, se o valor pago
pelo atendimento ao SUS cobrisse seu custo, a Entidade poderia melhorar o atendimento e
buscaria promover melhorias e ampliação nos serviços e atendimento ao SUS.

Categoria 3 – Equilíbrio Financeiro

A realidade das duas Entidades quanto ao equilíbrio financeiro é um pouco diferente. A Entidade
―H‖, apesar de não ter mais o superávit que tinha no passado, ainda encontra-se em equilíbrio

87
saudável, capaz de saldar suas dívidas, porém a Entidade ―C‖ já perdeu esse equilíbrio há algum
tempo e vem lutando para continuar em operação, utilizando capital de terceiros, ou seja,
empréstimos bancários para sanar seus credores. Basta analisar a tabela 21, principalmente
quanto à liquidez corrente, que demonstra que a Entidade ―C‖ ainda mantinha equilíbrio
financeiro até 2008, demonstrado na liquidez corrente, ou seja, era até então capaz de liquidar
suas dívidas de curto prazo, o que deixou de ocorrer a partir de 2009.

TABELA 21: Índice de liquidez corrente e geral das Entidades ―C‖ e ―H‖
Índice de Liquidez Corrente Índice de Liquidez Geral
31/12/2010 31/12/2009 31/12/2008 31/12/2010 31/12/2009 31/12/2008
C 0,69 0,90 1,11 0,57 0,75 0,79
H 1,38 1,09 1,59 1,16 0,98 1,09
FONTE: Resultados da pesquisa. Elaborado pela autora.

Apesar das opiniões dos grupos focados serem divergentes, é possível verificar que as
divergências são apenas em aspecto temporal, visto que uma Entidade já está sofrendo um
desequilíbrio e a outra está à beira de tal situação. Nota-se na fala dos participantes a preocupação
com o equilíbrio financeiro dessas entidades.

G2S1 ressalta que a Entidade está à beira de um colapso, e que só é possível manter um equilíbrio
do hospital se a tabela SUS sofrer um reajuste real e se a demanda for adequada, ou seja, quanto
maior for a demanda do SUS por atendimento na entidade, maior deve ser o repasse dos recursos,
visto que hoje a Entidade recebe um teto fixo, independente da quantidade de atendimento
prestado. O gestor salienta a importância da participação do setor privado para esse equilíbrio,
através dos convênios e particulares.

88
Para G2S2, a maneira como está é insustentável, e o que ameniza um pouco a situação são as
subvenções estaduais. ―A rotina do administrador é viver pedindo ajuda a deputados e prefeitos
para aliviar a situação.‖

Já no grupo focado realizado na Entidade ―H‖, o participante G1S1 entende que é possível, sim,
manter um equilíbrio financeiro na Entidade, mantendo um alto controle nos gastos, mas isso
limita a incorporação de novas tecnologias e a implementação de novos serviços. ―É possível
custear o hospital, mas não investir‖ G1S5.

Na visão do G1S2, ainda é possível manter o equilíbrio se a situação atual não se prolongar por
muito tempo. É preciso que o governo tome algumas medidas a respeito dos hospitais
filantrópicos.

―Trabalhar nesse equilíbrio é uma situação de alto risco, pois qualquer


eventualidade tanto na Santa Casa quanto na Operadora pode gerar um déficit que, por
não possuir uma receita extra ou um faturamento maior, não será possível manter esse
equilíbrio, cobrir essa eventualidade, podendo perder esse equilíbrio e sair dessa situação
que não é confortável, ai sim entra o auxilio governamental [...] ficar no empate zero a
zero é uma situação de risco.‖ G1S4 (22/09/2011)

De uma forma ou de outra essas entidades aprenderam a trabalhar com um orçamento reduzido,
bem enxuto, bem menor que um hospital público. O problema é que esse desequilíbrio vem
aumentando a cada ano e trabalhando com capital de terceiros, ou seja, contraindo empréstimos
bancários e devendo a fornecedores fica difícil investir. A medicina mudou muito e hoje necessita
de alto investimento tecnológico. A grande preocupação é conseguir continuar sendo um hospital
bem equipado e não se tornar um hospital defasado.

89
Nessas condições fica ainda mais difícil manter a parcela do atendimento que é financeiramente
viável, o atendimento a convênios e particulares, pois nenhum cidadão que paga pelo seu
atendimento deseja ser atendido em um hospital mal equipado.

Categoria 4 – Sustentabilidade financeira da Entidade

Para tentar expor a visão no grupo focado sobre a sustentabilidade financeira da Entidade, a
questão colocada para discussão foi sobre a situação financeira da Entidade daqui a 5 anos. A
colocação dos participantes foi bastante interessante.

De acordo com o levantamento realizado, a Entidade ―H‖ realizou 63,2% dos seus atendimentos
através do SUS no exercício de 2010, enquanto a Entidade ―C‖ atendeu 80,8% no mesmo
período, mostrando que a Entidade ―C‖ atende um maior percentual de paciente SUS do que a
Entidade ―H‖. Isso ocorre porque a demanda por saúde suplementar (planos de saúde) e pacientes
particulares na Entidade ―H‖ é maior, pois a instituição é o único hospital da cidade, então todos
os convênios médicos da cidade, além de outros planos e convênios de abrangência regional ou
nacional, são atendidos ali, A Entidade ―H‖ se utiliza dos 40% de atendimento permitido (visto
que pela Lei da filantropia um mínimo de 60% dos atendimentos deve ser obrigatoriamente
destinado aos pacientes SUS), para atender essa demanda médica da cidade.

Já a Entidade ―C‖ enfrenta uma ―concorrência‖ quanto à prestação de serviço aos convênios
médicos, pois além da Santa Casa, os usuários dos planos de saúde podem ser atendidos em um
hospital particular concorrente, que por ser um hospital novo e melhor equipado, tem a
preferência desses usuários.

90
G1S4 coloca que na área da saúde é muito difícil prever quais serão as novas exigências e é quase
impossível trabalhar com orçamento para estoque e profissional, pois não se sabe o custo do mês
seguinte, não sendo possível saber qual o tipo de atendimento que irá acontecer. O futuro da
saúde é totalmente instável, pode-se trabalhar com um equilíbrio financeiro agora, tentando
enxugar todas as despesas que puder mensurar, mas é difícil estabelecer uma meta nesse sentido
sem o apoio do governo.

―A sustentabilidade dos hospitais filantrópicos só vai ocorrer quando houver os


repasses coerentes com o custo do atendimento ao SUS, enquanto não for compatível e
tiver uma parcela de receita do atendimento com particulares e convênios para suprir o
hospital ainda vão conseguindo se manter, mas se um dia essas receitas forem
diminuindo o hospital vai entrar num caos.‖ G1S2 (22/09/2011)

Para G1S1, a sustentabilidade poderia ser alcançada através de novos serviços. Mas para isso é
preciso recursos para adquirir tecnologia e implantar esses serviços. Se não tiver como investir e
o SUS não pagar o custo real hospitalar, não há como avançar.

Para os integrantes da Entidade ―C‖, a visão é um pouco mais pessimista. G2S2 coloca que no
passado a Entidade tinha cerca de três milhões de reais em aplicações financeiras e hoje tem um
empréstimo bancário de três milhões, sendo obrigada a tomar empréstimos para subvencionar a
saúde pública, fazendo empréstimos para pagar o déficit causado pelo atendimento ao SUS.

―Faz tempo que estou aqui e vejo que cada ano está ficando mais difícil e se
continuar dessa maneira é lógico que não vai sobreviver, mas tenho esperança. [...] a
saúde é a principal necessidade em uma cidade, o principal é não morrer, educação é
importante, mas sem saúde não tem educação.‖ G1S1 (22/09/2011)

De acordo com Sachs (2007), para que as coisas aconteçam é preciso que sejam economicamente
viáveis, e que apesar de não ser suficiente, a viabilidade econômica é condição necessária.

91
Sachs (2007) ainda coloca que o econômico não é o objetivo em si, é apenas o instrumental com
o qual se pode avançar a caminho do desenvolvimento. E é exatamente esse instrumento que falta
para essas entidades, sendo muito difícil caminhar dessa forma rumo ao desenvolvimento. É
possível verificar na fala dos grupos a insustentabilidade entranhada nas palavras, caos e colapso,
citados várias vezes nos dois grupos.

Categoria 5 – Papel dos políticos

Esse tema foi abordado para tentar entender se existe uma preocupação política, principalmente
em âmbito local, quanto à situação da Entidade.

Na Entidade ―H‖, os participantes colocaram que tanto em âmbito municipal quanto estadual os
representantes políticos fazem a parte deles, porém, pela importância da Entidade na cidade e
região, deveria haver um esforço ainda maior dos políticos em buscar recursos para implementar
melhorias e adquirir equipamentos.

―Pela importância que a Santa Casa tem na cidade e na região, na minha


opinião, deveria estar havendo mais empenho dos políticos na tentativa de trazer
melhorias e trazer equipamentos. O que a gente recebe salvo raras exceções é o que a Lei
determina e a gente não vê nenhum esforço pra ajudar a gente a melhorar.‖ G1S5
(22/09/2011)

Na discussão do grupo focado realizada na Entidade ―C‖, foi colocado que a prefeitura tem feito
o possível, mas o Estado faz muito pouco e na visão deles o problema é o federal, que sabe do
déficit na tabela e não faz o reajuste.

―A Santa Casa representa mais da metade dos leitos do SUS. O governo está com a
tabela na mão, a tabela é dele, é federal. O governo federal não faz e joga para os
92
governos estaduais e municipais. O Estado faz muito pouco e sobra para o município
que está na ponta. O prefeito nunca está por fora do que ocorre na Santa Casa [...] eu sei
que é apertado, mas é preciso fazer alguma coisa, pois o prejuízo é humano.‖ G2S1
(29/09/2011)

Fica assim perceptível que na opinião de todos os participantes não há um comprometimento ou


interesse dos políticos em manter a saúde financeira dessas entidades.

Categoria 6 – Sobrevivência sem o SUS

Existem hospitais filantrópicos, não usuais prestadores de serviços ao SUS, que adotam modelos
diferentes um do outro de estratégias para contemplar a legislação que lhes permite obter o
Certificado de Filantropia, assim como os Hospitais Filantrópicos, que destinam 60% de seus
serviços aos usuários do SUS em contrapartida à isenção de impostos de que gozam. Esses
estabelecimentos destinam 20% de sua receita ao atendimento gratuito e, apesar da filantropia
que exercem, não são vinculados ao SUS.‖ (FASCINA, 2009)

Com base nessa possibilidade de declinar o atendimento ao SUS e passar a oferecer 20% da
receita bruta da entidade em gratuidade, foi questionada a sobrevivência da entidade sem o SUS.

Esse tema trouxe maior discussão e divergência de opiniões. Na Entidade ―H‖, a discussão
voltou-se para a parte financeira, havendo divergências nas condições de permanência da
estrutura caso deixasse de atender ao SUS, mas na Entidade ―C‖ a discussão ultrapassou os
limites financeiros e se voltaram ao humanitário. O participante G2S1 teve grande dificuldade em
responder a questão, pois não conseguia visualizar a Entidade sem o atendimento ao SUS, sendo
para ele uma opção irreal, visto que não há outro hospital no município que faria tal atendimento.

93
Na opinião de G1S1, se o hospital fosse bem gerido, haveria condições de promover um número
significante de atendimento a convênios e particulares a ponto de a Entidade ser capaz de
promover assistência gratuita a quem não tem condições financeiras. Já G1S3 considerou inviável
a sobrevivência sem o SUS. Na opinião dele, talvez não houvesse demanda de convênios e
particulares da região para manter a estrutura hospitalar existente hoje.

G1S1 opina que:

―... antigamente existia o atendimento anterior ao SUS do não contribuinte, que


atendia a finalidade das santas casas de misericórdia, de prestar caridade. Com o SUS
passou a ser direito do cidadão, mas o SUS não remunera, e hoje prestamos caridade sem
remuneração. O SUS deveria ter o hospital próprio e dar assistência e ver quanto custa
dar assistência, pois é muito cômodo obrigar a gente a trabalhar e não remunerar. É uma
exploração política da Santa Casa e do trabalho médico. As Santas Casas historicamente
perderam a finalidade.‖ (22/09/2011)

É fácil perceber o descontentamento dos gestores com o SUS. Principalmente com o esforço
desprendido por eles, G1S5 coloca que: ―quem melhor investe acaba sendo prejudicado, pois
melhoramos a nossa UTI e agora precisamos atender pacientes de outras cidades por ter uma boa
UTI.

Para G2S2, o hospital teoricamente sobreviveria, mas na pratica só rompendo o convênio com o
SUS para avaliar. O participante já esteve visitando alguns hospitais que romperam com o SUS e
o que ouviu dos administradores foi: ―É ruim com ele e pior sem ele‖.

―Pelos demonstrativos que temos, fizemos os cálculos, tirando o movimento do SUS, dá


um bom superávit, mas isso tendo o convênio com o SUS, pois temos uma estrutura que
tem um custo alto e tem o aspecto tributário e talvez seja muito difícil para Santa Casa
manter as isenções de PIS, COFINS e imposto de renda [...] a gente entende que
aplicando 20% de gratuidade tem o direito do certificado de filantropia, mas vemos que
algumas santas casas, mesmo atendendo 60% SUS estão tendo dificuldade em renovar o
certificado.‖ G2S2 (29/09/2011)

94
G2S2 também coloca que antes a essência da Santa Casa era sobreviver de doações, hoje não é
mais assim, hoje em dia com o custo para as empresas e para o assalariado, pois já vem
descontado em folha o INSS, a cota patronal do INSS é de 20% e acrescentando acidente do
trabalho e outros são 27,8% sobre a folha de pagamento. Então como pedir ao empresário uma
ajuda de custo para a Santa Casa, se ele já paga 27,8% sobre a folha de pagamento para o INSS
custear o SUS.

G1S1 foi o participante que mais teve dificuldade em visualizar a Santa Casa sem o SUS, não
pelo aspecto financeiro, mas pelo aspecto humanitário. Para ele seria incompreensível a Santa
Casa não atender o SUS.

―... não parei para pensar ficar sem o SUS, é tão distante, por ser uma santa
casa, acho que não chega a esse ponto, é tão catastrófico humanamente, como ficará sem
o SUS. Somos uma cidade do interior. Numa cidade grande uma santa casa pode ficar
sem o SUS e o SUS pode ficar sem a santa casa, pois existem outros hospitais, mas aqui
no interior é diferente, quem vai atender o SUS?‖ G1S1 (22/09/2011)

O participante coloca ainda que o custeio é diário, alto e complexo, e que emergências acontecem
de sábado e domingo e alguém terá que prestar atendimento. No aspecto financeiro aceita-se que
a santa casa sobreviveria sem o SUS, se trouxesse mais convênios e particulares.

O Certificado de Filantropia é uma excelente estratégia competitiva aos hospitais privados sem fins
lucrativos, para obter uma vantagem competitiva sustentável de diferenciação e de redução de custos
de acordo com o trabalho de Fascina (2009); o déficit causado pelo subfinaciamento do atendimento
ao SUS faz com que a entidade deixe de ser competitiva.

95
Manter o Certificado de Filantropia, através da prestação de 20% da receita bruta em gratuidade, talvez
seja uma alternativa, mas nas pequenas cidades do interior onde a entidade é geralmente o único
hospital da cidade, essa prática se torna inviável pela necessidade de atendimento através do SUS.

Categoria 7 – Plano de saúde próprio

Para a análise desse tema foi colocada em debate a importância de ter um plano de saúde próprio.
Os participantes da Entidade ―H‖, que tem uma Operadora de Saúde própria, entendem que seria
melhor ser prestador de serviço do que ter um plano de saúde próprio, pois são cada vez mais
obrigações sem possibilidade de reajustes.

A ANS vem fazendo com que os planos de saúde se tornem cada vez mais onerosos e o governo
não percebe que cada vez que isso ocorre menos pessoas têm acesso aos planos e essas pessoas
acabam migrando para o SUS, onerando as santas casas e entidades filantrópicas que não estão
conseguindo promover atendimento com o que recebem.

―Acredito que em muito pouco tempo teremos poucos planos de saúde funcionando, o que não é
bom, pois irá tornar-se um oligopólio e isso encarecerá ainda mais os planos.‖ G1S1

Apesar dessa colocação, os participantes do grupo focado 1 também acreditam que o plano de
saúde tira os pacientes do atendimento SUS e em suas opiniões os planos de saúde são um
parceiro do SUS, mas, o governo os enxerga como adversários.

96
Já no grupo focado 2, realizado na Entidade ―C‖, os participantes acreditam que apesar de
interessante, não é viável ter um plano de saúde próprio, e dizem que gostariam de prestar serviço
a convênios e não de gerir um plano de saúde.

Criar um plano de saúde pode parecer uma boa alternativa para hospitais que lidam com o déficit
causado pelo subfinanciamento do SUS e outros problemas financeiros. No entanto, sem gestão
profissionalizada e foco nos negócios, o que deveria ser uma solução poderá tornar-se um grande
problema.

Atualmente, levando em conta as condições vigentes e com os marcos regulatórios existentes, é


um tanto equivocada a decisão de se criar um plano de saúde, até pelo desconhecimento do
modelo de negócio, o que pode levar o hospital a um risco brutal.

Gerir um plano de saúde é muito diferente de gerir um hospital. Apesar de a área ser saúde, são
atividades completamente distintas. Não há uma fórmula específica para gerir um plano de saúde
hospitalar, mas é necessária grande capacitação técnica e profissionalização.

Categoria 8 – Emenda Constitucional 29

A Emenda Constitucional n° 29 (EC-29), em 13 de setembro de 2000, estabeleceu novas regras


para a progressiva provisão de recursos às ações e serviços públicos de saúde. A Emenda estipula
quanto e como deve ser o gasto mínimo a cada ano. Para municípios, 15% do orçamento; para
estados, 12%; para a União, o gasto do ano anterior, corrigido pela inflação mais o crescimento do
PIB, a soma de tudo que é produzido pela economia. A Lei só poderá ser aplicada na prática depois de
regulamentada pelo Congresso.

97
As definições legais dadas pela EC-29 constituem importante mecanismo de garantia dos
recursos para a saúde. Assim, o cumprimento das exigências deve ser monitorado e avaliado para
garantir tais recursos.

―Os municípios já estão gastando mais do que podem. Em relação aos estados, metade
cumpre e os outros 50% mascaram. Os recursos da União são insuficientes. A EC 29
tinha que ser regulamentada quatro anos depois e já se passaram 11 anos.‖ (PERONDI,
2011 p. 11 e 12)

A regulamentação da EC-29 está em tramitação no Congresso e foi votada no dia 28 de setembro de


2011 na câmara os deputados. O que foi aprovado pelos deputados define o que é considerado
saúde, por exemplo: saneamento básico e merenda escolar agora não poderão mais ser
considerados saúde, até então, entravam no orçamento do estado como saúde.

Na discussão nos grupos, foi solicitada a opinião dos participantes quanto à melhoria que a EC-
29 poderia trazer à saúde no Brasil.

Na análise desse tema, houve um consenso quanto à percepção dos participantes de que o
problema é a forma como se administra o dinheiro público destinado à saúde.

G2S1 acredita que as prefeituras vão gastar mais com saúde, mas de forma errada, pois vão
continuar fazendo pouco e caro. Já G2S2 acha que não vai mudar nada, ou muito pouco se o
dinheiro não for bem administrado.

O que os dois grupos colocaram nesse momento é que muitos gestores públicos investem em
transportes (ambulâncias), e não em saúde. Mandam seus pacientes para cidades vizinhas,
98
dificultando ainda mais a condição de atendimento desses hospitais. ―Se for empregar dinheiro
apenas em transporte de pacientes, não está melhorando a saúde.‖ G1S1. ―Muitos gestores de
pequenas cidades não querem um hospital, preferem colocar os pacientes na ambulância e
mandar para a capital.‖ G2S1

Também colocaram que se o investimento for feito em hospitais públicos muito pouco irá
melhorar, visto que os hospitais públicos em sua maioria têm custos altíssimos e são mal
administrados.

―O problema é a gestão e isso leva algum tempo para melhorar, é preciso


formar pessoas capacitadas para trabalhar com saúde, haja vista nossa gestão. Levamos
muito tempo para aprendermos como funciona. É muito difícil!‖ G1S1 (22/09/2011)

G2S2 colocou que o custo que se discute para o poder público é muito pequeno. Se o poder
público assumir a saúde, o custo é muito maior, três a quatro vezes mais e não terá a mesma
qualidade da santa casa. É uma questão de bom senso administrativo. No governo Covas, vários
hospitais públicos foram terceirizados e mostraram-se mais econômicos e eficazes. Ficou
provado que é muito melhor para o estado terceirizar para quem tem competência para a gestão.

Para G2S1, é preciso tirar os hospitais das capitais, descentralizar. O estado de São Paulo é
diferente, mas, no restante do país, a saúde é centralizada.

―É muito ruim a administração dos recursos, não tem dinheiro para saúde, mas tem dinheiro para
fazer a copa do mundo. É uma questão de interesse.‖ G2S2

99
Todos concordam que alguma coisa precisa ser feita, pois é deplorável o retrato da situação da
saúde no Brasil.

É necessário regulamentar a Emenda Constitucional 29 para que o sistema tenha um


financiamento mais adequado, porém é bem possível que apenas isso não resolva. No entanto,
certamente, ajudaria muito. A EC 29 tende a elevar progressivamente o financiamento à saúde, na
medida em que o PIB (produto interno bruto) cresce.

A questão dos recursos financeiros é uma das poucas em que foi possível estabelecer consenso
entre atores sociais, públicos e privados comprometidos com o desenvolvimento do sistema de
saúde brasileiro. O desafio remanescente é obter a aprovação no Congresso da Lei complementar
que regulamenta a EC nº 29, dando condições de um acompanhamento mais efetivo e
transparente do comprometimento dos recursos públicos para o SUS. (PIOLA ET AL, 2009)

4.6 Implicações para o desenvolvimento regional com foco no ambiental, econômico e social
e para a qualidade de vida da população atendida pelo SUS

Para Amorim (2009), a organização deve ser lucrativa (sustentabilidade econômica), estar
inserida de forma equilibrada no ecossistema (sustentabilidade ecológica), ser geradora de
emprego e renda, proporcionar a melhoria da qualidade de vida da comunidade (sustentabilidade
social), utilizar racionalmente os recursos naturais existentes em sua área de atuação
(sustentabilidade espacial), ser independente de tecnologias de produção importadas
(sustentabilidade cultural) e poder ser mantida ao longo do tempo sem restrições ou escassez de
insumos e matérias-primas (sustentabilidade temporal).

100
Ao longo da história da saúde pública no Brasil, é possível perceber a evolução e melhora dos
aspectos ambientais e sociais para a população. A criação do SUS proporcionou um atendimento
abrangente de grande valia para o desenvolvimento; a saúde preventiva tem proporcionado uma
melhora relevante na qualidade de vida das pessoas, porém é preciso refletir sobre os aspectos da
sustentabilidade econômica e sustentabilidade temporal, voltadas à escassez de insumos e matéria
prima.

O SUS está aquém do que poderia e deveria ser, porém pensar em sua privatização como solução
para os problemas seriam um erro e um retrocesso. A experiência dos EUA mostra que o
mercado não é capaz de resolver questões sociais profundas como as relacionadas à área da
saúde.

O SUS é um sistema que tem servido de modelo para outros países, inclusive para os EUA, na
reforma do sistema de saúde promovida pelo atual presidente Barack Obama. Seu problema está
no controle e no custeio, seu subfinanciamento, que implica diretamente na sustentabilidade
econômica e temporal das entidades que prestam serviço ao sistema.

Considerando ainda que cerca de 70% da população do Brasil não tem plano de saúde, sendo,
portanto, usuários dos serviços públicos, filantrópicos, universitários e privados credenciados
pelo SUS, espera-se ação do governo.

Para Porter (2010), em qualquer campo de atuação, melhorias e prestação de contas dependem da
existência de um objetivo comum que une os interesses e atividades de todas as partes
interessadas. Na saúde, as partes interessadas têm muitas vezes objetivos e interesses conflitantes,
e isso inclui o acesso aos serviços, a lucratividade, a contenção de custos e a satisfação.

A falta de clareza sobre os objetivos leva ao lento progresso quanto ao desempenho e melhorias.

101
Mensurar o custo real permite a reforma do sistema de reembolso. O custo deveria ser
recompensado através de pagamentos cobrindo o ciclo do atendimento completo e não apenas o
procedimento.

No final da década de 1940, de acordo com Merhy e Queiroz (1993), já se tinha idéia de que
doença e miséria só seriam controladas com o desenvolvimento econômico.

É necessário pensar que sobre os princípios e dimensões que norteiam a sustentabilidade está a
equidade econômica, e, dessa forma, não se pode falar em desenvolvimento sem atrelá-lo ao
crescimento econômico. Devemos destacar que é necessário um crescimento equilibrado quanto
aos pilares do desenvolvimento e, para isso, é preciso incorporar a sensibilidade com a dimensão
social, a prudência ambiental e a viabilidade econômica, de forma a garantir o atendimento aos
objetivos socialmente desejáveis e a minimização dos impactos ambientais.

Pensar e agir de forma orientada para o desenvolvimento sustentável é colocar o crescimento


econômico como condição necessária para sua ocorrência.
A melhora da qualidade de vida das pessoas está diretamente relacionada com o estímulo para
uma modificação do estilo de vida das pessoas. É importante que as pessoas adotem hábitos mais
saudáveis e valorizem a prevenção de doenças e para que isso ocorra é necessário que seja feito o
diagnóstico precoce de doenças a fim de evitar problemas futuros. O Brasil avançou no
atendimento básico, mas no especializado tem filas. Essa demora ocorre porque a remuneração
do SUS não estimula os profissionais a ingressarem no sistema.

A saúde é a maior fronteira social que todo o mundo tem e isso exige gestão e recursos. Hoje a
gestão gradualmente melhora no país. Saúde não é só atendimento médico, mas também
prevenção, educação, recuperação e reabilitação.

102
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dos levantamentos e análises realizadas neste estudo foi possível compreender que nem
todas as entidades filantrópicas de assistência à saúde mantêm sustentabilidade promovendo
atendimento aos pacientes SUS. É preciso ressaltar que algumas dessas entidades já se tornaram
insustentáveis, visto a incapacidade de liquidar suas dívidas, devido ao déficit financeiro gerado
pelo atendimento ao SUS. Mas ainda existem entidades que conseguem, com boa gestão, prestar
um percentual máximo de serviços não relacionados ao convênio SUS, ou seja, 40% de
atendimentos permitidos pela Lei da filantropia a convênios e particulares, além da captação de
outras fontes de recursos, e conseguem, ainda que com bastante dificuldade, manter suas contas
em dia.

Apesar de o país contar com recursos financeiros em níveis razoáveis, em setores como saúde e
educação, de forma geral, não vêm conseguindo gerir bem a sua aplicação. A incapacidade de
gestão vem permitindo que entidades filantrópicas de assistência a saúde, como é o caso de
milhares de santas casas e hospitais beneficentes em todo o país, venham sofrendo com a má
remuneração do maior convênio para quem prestam serviço, o SUS.

O SUS – Sistema Único de Saúde, criado e aprovado pela Constituição Federal de 1988 (Lei
8.080/1990), que reconhece o direito de acesso universal à saúde para toda a população, é
entendido como uma das mais bem sucedidas reformas da área social empreendida sob o novo
regime democrático, tendo em vista o seu caráter universal e igualitário. Tal sistema permitiu
incluir a vasta camada da população brasileira, que anteriormente estava excluída do acesso aos
serviços e ações da saúde, não apenas básicos, mas também de média e alta complexidade. O
sucesso de algumas políticas e programas como o combate a Aids e a paralisia infantil são
exemplos concretos desse avanço, porém o sistema de saúde brasileiro apresenta um caráter
contraditório. Ao mesmo tempo em que é um dos poucos no mundo que possibilita a realização
de transplantes cardíacos, acesso à hemodiálise e dispensação gratuita de medicamentos contra a

103
Aids, muitas vezes não consegue garantir a distribuição de antibióticos ou a realização de
consultas médicas básicas, obrigando milhares de pessoas a amontoarem-se diariamente nas salas
de espera das emergências sem um atendimento adequado. No plano das práticas de saúde, é um
sistema que traz como princípio a integralidade da atenção, mas na realidade dos serviços se
traduz em um tratamento ―desumanizado‖, fragmentado e com pouca ênfase na promoção da
saúde.

Estudando o índice de liquidez de dez entidades da região leste paulista, foi possível perceber que
grande parte dessas entidades já não apresenta sustentabilidade financeira. Com este estudo foi
possível verificar que a capacidade de pagamento dessas entidades vem piorando ao longo dos
anos e que a forma de financiamento das despesas está cada vez mais sendo proveniente de
capital de terceiros, ou seja, empréstimos e financiamentos bancários e também de eventuais
subvenções e contribuições intermediadas por políticos.

Não se ampliará a capacidade do SUS de gerar respostas aos problemas de saúde da população
sem a superação dos limites do seu financiamento (ou da sua sustentabilidade financeira).

Descrever as formas de financiamento das despesas e obtenção de recursos de duas entidades em


estudo permitiu compreender a importância de uma boa gestão e da prestação de serviços além do
SUS para manter a sustentabilidade, ou seja, só está conseguindo manter-se sustentável a entidade que
consegue gerar algum outro tipo de receita além de prestar serviço ao SUS, de forma com que essa
receita adicional reduza o déficit gerado pelo atendimento ao SUS.

Foi possível também dimensionar a contribuição e influência de um plano de saúde próprio. Apesar de
os atendimentos aos planos de saúde gerarem algum retorno financeiro para essas entidades, visto
que as tabelas pelas quais os procedimentos são pagos atendem a um preço de mercado, enquanto
a tabela SUS gera déficit, cada vez menos os planos de saúde estão sendo capazes de contribuir

104
financeiramente como receita para as santas casas e hospitais beneficentes. O estudo demonstra que as
entidades querem prestar serviço e não gerir um novo negócio, como no caso de criar uma operadora
de saúde própria, que necessita de gestão técnica especializada.

Para haver sustentabilidade financeira do atendimento ao SUS, a estrutura de financiamento não


apenas deve conseguir novos padrões em termos de volume, mas também em termos de alocação e
controle. Isso justifica a necessidade de se reformular o modelo de repasse de recursos aos estados,
municípios e prestadores de serviços, como as entidades filantrópicas, introduzindo critérios que
privilegiem a reversão das injustiças.

Existem vários fatores que colaboram para a situação atual das entidades filantrópicas de
assistência à saúde. O trabalho ressalta a má remuneração que o SUS oferece pelos
procedimentos executados, fator crucial para a dificuldade de se manter um atendimento de
qualidade.

O SUS chega a pagar 1/3 do valor pago por um convênio médico ou um paciente particular para
execução do mesmo procedimento, sendo o custo para a execução é o mesmo, tanto para o
paciente SUS quanto para o convênio ou particular. Percebe-se a defasagem da tabela de
procedimentos.

Levantar o déficit do atendimento ao SUS durante o exercício de 2010 em duas entidades foi
imprescindível para legitimar a pesquisa confirmando índices referentes ao déficit descrito em outras
pesquisas, mostrando que, nas guardadas proporções, as entidades em estudo representam o que ocorre
em muitas outras entidades deste país.

105
Vale observar que as relações público-privadas na assistência ainda permanecem pouco
reguladas, fazendo com que boa parte da atenção à saúde não se organize em função de
necessidades, mas sim em função da perspectiva de maior lucratividade das instituições privadas
prestadoras de serviços ao SUS, focadas principalmente na produção de procedimentos de média
complexidade. Este desafio exige maior capacidade de o Estado regular os prestadores de
serviços, com foco nos resultados assistenciais e financeiros e com aumento da prestação de
contas para financiadores e usuários.

A sustentabilidade e a legitimidade do SUS dependem também de um processo de mudança do


modelo de atenção à saúde. No modelo atual ainda predomina o modo de organizar a atenção
centrada em hospitais, com pequeno grau de coordenação e de planejamento da assistência e com
uma saúde pública restrita à vigilância epidemiológica e sanitária. Esta característica parece ser
um obstáculo ao desenvolvimento do SUS, uma vez que impõe um padrão de gastos inadequado
às necessidades de saúde e ao movimento de reforma do sistema.

O SUS ainda representa uma reforma social incompleta, com implantação heterogênea e desigual
nas diversas regiões e estados do país. Ainda há um certo descrédito da população quanto à
capacidade de o setor público prover adequadamente atenção às suas condições de saúde, sendo o
plano privado o sonho de consumo e perspectiva de segurança de boa parte da população.

A sustentabilidade é ou pode ser geradora da qualidade de vida a partir do momento em que as


pessoas se dispõe a estabelecer uma cadeia de ações prioritárias e colocá-las em prática para a
solução de problemas.

Somente com um atendimento de qualidade de forma igualitária e universal, como reconhece o


direito de acesso à saúde por toda a população, através da Lei 8.080/1990, pode-se promover
melhor qualidade de vida das pessoas atendidas pelo sistema.

106
Perseguindo a sustentabilidade a população torna-se promotora de qualidade de vida e
consequentemente de cidadania.

A construção da legitimidade do SUS depende fundamentalmente de seu desempenho concreto,


de sua capacidade para melhorar as condições sanitárias e a saúde das pessoas.

A participação e o controle social das entidades filantrópicas, sendo essas santas casas e hospitais
beneficentes, devem ser fortalecidos e atualizados, com destaque para processos de formação e
empoderamento do conjunto das instâncias e das representações organizadas da sociedade. Estes
aspectos podem ser sintetizados na necessidade de defesa de políticas e projetos que assegurem o
continuado processo de melhoria do SUS, que pode ser alcançado através da Emenda
Constitucional 29.

O trabalho realizado foi de grande valia para a pesquisadora, apontando a importância da prestação de
serviços médicos a outros convênios além do SUS, para a sustentabilidade das entidades filantrópicas
de assistência à saúde da região leste paulista e a necessidade em se manter uma gestão eficiente e
criativa dentro dessas entidades, capazes de maximizar serviços a fim de produzir receita e garantir um
bom atendimento. O trabalho mostrou-se interessante às próprias entidades, por dimensionar a situação
financeira em um prisma ainda não abordado pelos gestores, porém limitado a uma região que é
considerada privilegiada no país. Seria bastante interessante reaplicar este estudo em outras regiões do
Brasil, a fim de entender a sustentabilidade dessas entidades em todo país, mostrando também a
importância da filantropia na gestão da saúde brasileira.

107
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114
ANEXO I

EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 29, DE 13 DE SETEMBRO DE 2000

Altera os arts. 34, 35, 156, 160, 167 e 198 da Constituição Federal e acrescenta artigo ao Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, para assegurar os recursos mínimos para o
financiamento das ações e serviços públicos de saúde.

As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 3º do art. 60 da


Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional:

Art. 1º A alínea e do inciso VII do art. 34 passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art.34............................................

......................................................"

"VII-..............................................

......................................................"

"e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a


proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços
públicos de saúde." (NR)

Art. 2º O inciso III do art. 35 passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art.35............................................

......................................................"

"III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde;" (NR)

Art. 3º O § 1º do art. 156 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art.156................................................................................"

115
"§ 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo a que se refere o art. 182, § 4º, inciso II, o
imposto previsto no inciso I poderá:" (NR)

"I – ser progressivo em razão do valor do imóvel; e" (AC)*

"II – ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso do imóvel." (AC)

"................................................."

Art. 4º O parágrafo único do art. 160 passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art.160............................................"

"Parágrafo único. A vedação prevista neste artigo não impede a União e os Estados de
condicionarem a entrega de recursos:" (NR)

"I – ao pagamento de seus créditos, inclusive de suas autarquias;" (AC)

"II – ao cumprimento do disposto no art. 198, § 2º, incisos II e III." (AC)

Art. 5º O inciso IV do art. 167 passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art.167...........................................

......................................................"

"IV – a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do


produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos
para as ações e serviços públicos de saúde e para manutenção e desenvolvimento do ensino,
como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, e 212, e a prestação de garantias às
operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto
no § 4º deste artigo;" (NR)

"................................................."

Art. 6º O art. 198 passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 2º e 3º, numerando-se o atual
parágrafo único como § 1º:

"Art.198...........................................

......................................................"

"§ 1º (parágrafo único original).................."

116
"§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações e
serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados
sobre:" (AC)

"I – no caso da União, na forma definida nos termos da lei complementar prevista no § 3º;" (AC)

"II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se
refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II,
deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios;" (AC)

"III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que
se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º." (AC)

"§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá:" (AC)

"I – os percentuais de que trata o § 2º;" (AC)

"II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios,
objetivando a progressiva redução das disparidades regionais;" (AC)

"III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal,
estadual, distrital e municipal;" (AC)

"IV – as normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União." (AC)

Art. 7º O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias passa a vigorar acrescido do seguinte
art. 77:

"Art. 77. Até o exercício financeiro de 2004, os recursos mínimos aplicados nas ações e serviços
públicos de saúde serão equivalentes:" (AC)

"I – no caso da União:" (AC)

"a) no ano 2000, o montante empenhado em ações e serviços públicos de saúde no exercício
financeiro de 1999 acrescido de, no mínimo, cinco por cento;" (AC)

"b) do ano 2001 ao ano 2004, o valor apurado no ano anterior, corrigido pela variação nominal do
Produto Interno Bruto – PIB;" (AC)

"II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, doze por cento do produto da arrecadação dos
impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea
a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios; e" (AC)

117
"III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, quinze por cento do produto da arrecadação
dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I,
alínea b e § 3º." (AC)

"§ 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que apliquem percentuais inferiores aos
fixados nos incisos II e III deverão elevá-los gradualmente, até o exercício financeiro de 2004,
reduzida a diferença à razão de, pelo menos, um quinto por ano, sendo que, a partir de 2000, a
aplicação será de pelo menos sete por cento." (AC)

"§ 2º Dos recursos da União apurados nos termos deste artigo, quinze por cento, no mínimo,
serão aplicados nos Municípios, segundo o critério populacional, em ações e serviços básicos de
saúde, na forma da lei." (AC)

"§ 3º Os recursos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinados às ações e
serviços públicos de saúde e os transferidos pela União para a mesma finalidade serão aplicados
por meio de Fundo de Saúde que será acompanhado e fiscalizado por Conselho de Saúde, sem
prejuízo do disposto no art. 74 da Constituição Federal." (AC)

"§ 4º Na ausência da lei complementar a que se refere o art. 198, § 3º, a partir do exercício
financeiro de 2005, aplicar-se-á à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios o
disposto neste artigo." (AC)

Art. 8º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 13 de setembro de 2000

Mesa da Câmara dos Deputados Mesa do Senado Federal

Deputado Michel Temer Senador Antonio Carlos Magalhães


Presidente Presidente

Deputado Heráclito Fortes Senador Geraldo Melo


1º Vice-Presidente 1º Vice-Presidente

Deputado Severino Cavalcanti Senador Ademir Andrade


2º Vice-Presidente 2º Vice-Presidente

Senador Ronaldo Cunha Lima


Deputado Ubiratan Aguiar
1º Secretário 1º Secretário

Senador Carlos Patrocínio


Deputado Nelson Trad
2º Secretário 2º Secretário

118
Senador Nabor Júnior
Deputado Jaques Wagner
3º Secretário 3º Secretário

Deputado Efraim Morais


4º Secretário

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 14.9.2000

119
ANEXO II

A Nova Lei da Filantropia

LEI Nº 12.101, DE 27 DE NOVEMBRO DE 2009.

Dispõe sobre a certificação das entidades beneficentes de assistência social; regula os


procedimentos de isenção de contribuições para a seguridade social; altera a Lei n o 8.742, de 7 de
dezembro de 1993; revoga dispositivos das Leis nos 8.212, de 24 de julho de 1991, 9.429, de 26
de dezembro de 1996, 9.732, de 11 de dezembro de 1998, 10.684, de 30 de maio de 2003, e da
Medida Provisória no 2.187-13, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1o A certificação das entidades beneficentes de assistência social e a isenção de


contribuições para a seguridade social serão concedidas às pessoas jurídicas de direito privado,
sem fins lucrativos, reconhecidas como entidades beneficentes de assistência social com a
finalidade de prestação de serviços nas áreas de assistência social, saúde ou educação, e que
atendam ao disposto nesta Lei.

Parágrafo único. (VETADO)

Art. 2o As entidades de que trata o art. 1o deverão obedecer ao princípio da universalidade do


atendimento, sendo vedado dirigir suas atividades exclusivamente a seus associados ou a
categoria profissional.

CAPÍTULO II

DA CERTIFICAÇÃO

120
Art. 3o A certificação ou sua renovação será concedida à entidade beneficente que
demonstre, no exercício fiscal anterior ao do requerimento, observado o período mínimo de 12
(doze) meses de constituição da entidade, o cumprimento do disposto nas Seções I, II, III e IV
deste Capítulo, de acordo com as respectivas áreas de atuação, e cumpra, cumulativamente, os
seguintes requisitos:

I - seja constituída como pessoa jurídica nos termos do caput do art. 1o; e

II - preveja, em seus atos constitutivos, em caso de dissolução ou extinção, a destinação do


eventual patrimônio remanescente a entidade sem fins lucrativos congêneres ou a entidades
públicas.

Parágrafo único. O período mínimo de cumprimento dos requisitos de que trata este artigo
poderá ser reduzido se a entidade for prestadora de serviços por meio de convênio ou instrumento
congênere com o Sistema Único de Saúde - SUS ou com o Sistema Único de Assistência Social -
SUAS, em caso de necessidade local atestada pelo gestor do respectivo sistema.

Seção I

Da Saúde

Art. 4o Para ser considerada beneficente e fazer jus à certificação, a entidade de saúde deverá,
nos termos do regulamento:

I - comprovar o cumprimento das metas estabelecidas em convênio ou instrumento


congênere celebrado com o gestor local do SUS;

II - ofertar a prestação de seus serviços ao SUS no percentual mínimo de 60% (sessenta por
cento);

III - comprovar, anualmente, a prestação dos serviços de que trata o inciso II, com base no
somatório das internações realizadas e dos atendimentos ambulatoriais prestados.

III - comprovar, anualmente, da forma regulamentada pelo Ministério da Saúde, a prestação


dos serviços de que trata o inciso II, com base nas internações e nos atendimentos ambulatoriais
realizados. (Redação dada pela Lei nº 12.453, de 2011)

§ 1o O atendimento do percentual mínimo de que trata o caput pode ser individualizado por
estabelecimento ou pelo conjunto de estabelecimentos de saúde da pessoa jurídica, desde que não
abranja outra entidade com personalidade jurídica própria que seja por ela mantida.

§ 2o Para fins do disposto no § 1o, no conjunto de estabelecimentos de saúde da pessoa


jurídica, poderá ser incorporado aquele vinculado por força de contrato de gestão, na forma do
regulamento.

121
Art. 5o A entidade de saúde deverá ainda informar, obrigatoriamente, ao Ministério da Saúde,
na forma por ele estabelecida:

I - a totalidade das internações e atendimentos ambulatoriais realizados para os pacientes não


usuários do SUS;

II - a totalidade das internações e atendimentos ambulatoriais realizados para os pacientes


usuários do SUS; e

III - as alterações referentes aos registros no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de


Saúde - CNES.

Parágrafo único. A entidade deverá manter o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de


Saúde - CNES atualizado, de acordo com a forma e o prazo determinado pelo Ministério da
Saúde. (Incluído pela Lei nº 12.453, de 2011)

Art. 6o A entidade de saúde que presta serviços exclusivamente na área ambulatorial deverá
observar o disposto nos incisos I e II do art. 4o.

Art. 6o A entidade de saúde que presta serviços exclusivamente na área ambulatorial deverá
observar o disposto nos incisos I e II do art. 4o, comprovando, anualmente, a prestação dos
serviços no percentual mínimo de 60% (sessenta por cento). (Redação dada pela Lei nº 12.453, de
2011)

Art. 7o Quando a disponibilidade de cobertura assistencial da população pela rede pública de


determinada área for insuficiente, os gestores do SUS deverão observar, para a contratação de
serviços privados, a preferência de participação das entidades beneficentes de saúde e das sem
fins lucrativos.

Art. 8o Na impossibilidade do cumprimento do percentual mínimo a que se refere o inciso II


do art. 4o, em razão da falta de demanda, declarada pelo gestor local do SUS, ou não havendo
contratação dos serviços de saúde da entidade, deverá ela comprovar a aplicação de percentual da
sua receita bruta em atendimento gratuito de saúde da seguinte forma:

Art. 8o Não havendo interesse de contratação pelo Gestor local do SUS dos serviços de saúde
ofertados pela entidade no percentual mínimo a que se refere o inciso II do art. 4 o, a entidade
deverá comprovar a aplicação de percentual da sua receita em gratuidade na área da saúde, da
seguinte forma: (Redação dada pela Lei nº 12.453, de 2011)

I - 20% (vinte por cento), se o percentual de atendimento ao SUS for inferior a 30% (trinta
por cento);

II - 10% (dez por cento), se o percentual de atendimento ao SUS for igual ou superior a 30
(trinta) e inferior a 50% (cinquenta por cento); ou

122
III - 5% (cinco por cento), se o percentual de atendimento ao SUS for igual ou superior a
50% (cinquenta por cento) ou se completar o quantitativo das internações hospitalares e
atendimentos ambulatoriais, com atendimentos gratuitos devidamente informados de acordo com
o disposto no art. 5o, não financiados pelo SUS ou por qualquer outra fonte.

Parágrafo único. (VETADO)

§ 2o A receita prevista no caput será a efetivamente recebida da prestação de serviços de


saúde. (Incluído pela Lei nº 12.453, de 2011)

Art. 9o (VETADO)

Art. 10. Em hipótese alguma será admitida como aplicação em gratuidade a eventual
diferença entre os valores pagos pelo SUS e os preços praticados pela entidade ou pelo mercado.

Art. 11. A entidade de saúde de reconhecida excelência poderá, alternativamente, para dar
cumprimento ao requisito previsto no art. 4o, realizar projetos de apoio ao desenvolvimento
institucional do SUS, celebrando ajuste com a União, por intermédio do Ministério da Saúde, nas
seguintes áreas de atuação:

I - estudos de avaliação e incorporação de tecnologias;

II - capacitação de recursos humanos;

III - pesquisas de interesse público em saúde; ou

IV - desenvolvimento de técnicas e operação de gestão em serviços de saúde.

§ 1o O Ministério da Saúde definirá os requisitos técnicos essenciais para o reconhecimento


de excelência referente a cada uma das áreas de atuação previstas neste artigo.

§ 2o O recurso despendido pela entidade de saúde no projeto de apoio não poderá ser inferior
ao valor da isenção das contribuições sociais usufruída.

§ 3o O projeto de apoio será aprovado pelo Ministério da Saúde, ouvidas as instâncias do


SUS, segundo procedimento definido em ato do Ministro de Estado.

§ 4o As entidades de saúde que venham a se beneficiar da condição prevista neste artigo


poderão complementar as atividades relativas aos projetos de apoio com a prestação de serviços
ambulatoriais e hospitalares ao SUS não remunerados, mediante pacto com o gestor local do
SUS, observadas as seguintes condições:

I - a complementação não poderá ultrapassar 30% (trinta por cento) do valor usufruído com a
isenção das contribuições sociais;

123
II - a entidade de saúde deverá apresentar ao gestor local do SUS plano de trabalho com
previsão de atendimento e detalhamento de custos, os quais não poderão exceder o valor por ela
efetivamente despendido;

III - a comprovação dos custos a que se refere o inciso II poderá ser exigida a qualquer
tempo, mediante apresentação dos documentos necessários; e

IV - as entidades conveniadas deverão informar a produção na forma estabelecida pelo


Ministério da Saúde, com observação de não geração de créditos.

§ 5o A participação das entidades de saúde ou de educação em projetos de apoio previstos


neste artigo não poderá ocorrer em prejuízo das atividades beneficentes prestadas ao SUS.

§ 6o O conteúdo e o valor das atividades desenvolvidas em cada projeto de apoio ao


desenvolvimento institucional e de prestação de serviços ao SUS deverão ser objeto de relatórios
anuais, encaminhados ao Ministério da Saúde para acompanhamento e fiscalização, sem prejuízo
das atribuições dos órgãos de fiscalização tributária.

Seção II

Da Educação

Art. 12. A certificação ou sua renovação será concedida à entidade de educação que atenda
ao disposto nesta Seção e na legislação aplicável.

Art. 13. Para os fins da concessão da certificação de que trata esta Lei, a entidade de
educação deverá aplicar anualmente em gratuidade, na forma do § 1o, pelo menos 20% (vinte por
cento) da receita anual efetivamente recebida nos termos da Lei no 9.870, de 23 de novembro de
1999.

§ 1o Para o cumprimento do disposto no caput, a entidade deverá:

I - demonstrar adequação às diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação


- PNE, na forma do art. 214 da Constituição Federal;

II - atender a padrões mínimos de qualidade, aferidos pelos processos de avaliação


conduzidos pelo Ministério da Educação; e

III - oferecer bolsas de estudo nas seguintes proporções:

a) no mínimo, uma bolsa de estudo integral para cada 9 (nove) alunos pagantes da educação
básica;

b) bolsas parciais de 50% (cinquenta por cento), quando necessário para o alcance do número
mínimo exigido.

124
§ 2o As proporções previstas no inciso III do § 1o poderão ser cumpridas considerando-se
diferentes etapas e modalidades da educação básica presencial.

§ 3o Complementarmente, para o cumprimento das proporções previstas no inciso III do § 1o,


a entidade poderá contabilizar o montante destinado a ações assistenciais, bem como o ensino
gratuito da educação básica em unidades específicas, programas de apoio a alunos bolsistas, tais
como transporte, uniforme, material didático, além de outros, definidos em regulamento, até o
montante de 25% (vinte e cinco por cento) da gratuidade prevista no caput.

§ 4o Para alcançar a condição prevista no § 3o, a entidade poderá observar a escala de


adequação sucessiva, em conformidade com o exercício financeiro de vigência desta Lei:

I - até 75% (setenta e cinco por cento) no primeiro ano;

II - até 50% (cinquenta por cento) no segundo ano;

III - 25% (vinte e cinco por cento) a partir do terceiro ano.

§ 5o Consideram-se ações assistenciais aquelas previstas na Lei no 8.742, de 7 de dezembro


de 1993.

§ 6o Para a entidade que, além de atuar na educação básica ou em área distinta da educação,
também atue na educação superior, aplica-se o disposto no art. 10 da Lei no 11.096, de 13 de
janeiro de 2005.

Art. 14. Para os efeitos desta Lei, a bolsa de estudo refere-se às semestralidades ou anuidades
escolares fixadas na forma da lei, vedada a cobrança de taxa de matrícula e de custeio de material
didático.

§ 1o A bolsa de estudo integral será concedida a aluno cuja renda familiar mensal per capita
não exceda o valor de 1 1/2 (um e meio) salário mínimo.

§ 2o A bolsa de estudo parcial será concedida a aluno cuja renda familiar mensal per capita
não exceda o valor de 3 (três) salários mínimos.

Art. 15. Para fins da certificação a que se refere esta Lei, o aluno a ser beneficiado será pré-
selecionado pelo perfil socioeconômico e, cumulativamente, por outros critérios definidos pelo
Ministério da Educação.

§ 1o Os alunos beneficiários das bolsas de estudo de que trata esta Lei ou seus pais ou
responsáveis, quando for o caso, respondem legalmente pela veracidade e autenticidade das
informações socioeconômicas por eles prestadas.

§ 2o Compete à entidade de educação aferir as informações relativas ao perfil


socioeconômico do candidato.

125
§ 3o As bolsas de estudo poderão ser canceladas a qualquer tempo, em caso de constatação
de falsidade da informação prestada pelo bolsista ou seu responsável, ou de inidoneidade de
documento apresentado, sem prejuízo das demais sanções cíveis e penais cabíveis.

Art. 16. É vedado qualquer discriminação ou diferença de tratamento entre alunos bolsistas e
pagantes.

Art. 17. No ato de renovação da certificação, as entidades de educação que não tenham
aplicado em gratuidade o percentual mínimo previsto no caput do art. 13 poderão compensar o
percentual devido no exercício imediatamente subsequente com acréscimo de 20% (vinte por
cento) sobre o percentual a ser compensado.

Parágrafo único. O disposto neste artigo alcança tão somente as entidades que tenham
aplicado pelo menos 17% (dezessete por cento) em gratuidade, na forma do art. 13, em cada
exercício financeiro a ser considerado.

Seção III

Da Assistência Social

Art. 18. A certificação ou sua renovação será concedida à entidade de assistência social que
presta serviços ou realiza ações assistenciais, de forma gratuita, continuada e planejada, para os
usuários e a quem deles necessitar, sem qualquer discriminação, observada a Lei nº 8.742, de 7 de
dezembro de 1993.

§ 1o As entidades de assistência social a que se refere o caput são aquelas que prestam, sem
fins lucrativos, atendimento e assessoramento aos beneficiários, bem como as que atuam na
defesa e garantia de seus direitos.

§ 2o As entidades que prestam serviços com objetivo de habilitação e reabilitação de pessoa


com deficiência e de promoção da sua integração à vida comunitária e aquelas abrangidas pelo
disposto no art. 35 da Lei no 10.741, de 1o de outubro de 2003, poderão ser certificadas, desde
que comprovem a oferta de, no mínimo, 60% (sessenta por cento) de sua capacidade de
atendimento ao sistema de assistência social.

§ 3o A capacidade de atendimento de que trata o § 2o será definida anualmente pela entidade,


aprovada pelo órgão gestor de assistência social municipal ou distrital e comunicada ao Conselho
Municipal de Assistência Social.

§ 4o As entidades certificadas como de assistência social terão prioridade na celebração de


convênios, contratos, acordos ou ajustes com o poder público para a execução de programas,
projetos e ações de assistência social.

Art. 19. Constituem ainda requisitos para a certificação de uma entidade de assistência
social:

126
I - estar inscrita no respectivo Conselho Municipal de Assistência Social ou no Conselho de
Assistência Social do Distrito Federal, conforme o caso, nos termos do art. 9º da Lei nº 8.742, de
7 de dezembro de 1993; e

II - integrar o cadastro nacional de entidades e organizações de assistência social de que trata


o inciso XI do art. 19 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993.

§ 1o Quando a entidade de assistência social atuar em mais de um Município ou Estado ou


em quaisquer destes e no Distrito Federal, deverá inscrever suas atividades no Conselho de
Assistência Social do respectivo Município de atuação ou do Distrito Federal, mediante a
apresentação de seu plano ou relatório de atividades e do comprovante de inscrição no Conselho
de sua sede ou de onde desenvolva suas principais atividades.

§ 2o Quando não houver Conselho de Assistência Social no Município, as entidades de


assistência social dever-se-ão inscrever nos respectivos Conselhos Estaduais.

Art. 20. A comprovação do vínculo da entidade de assistência social à rede socioassistencial


privada no âmbito do SUAS é condição suficiente para a concessão da certificação, no prazo e na
forma a serem definidos em regulamento.

Seção IV

Da Concessão e do Cancelamento

Art. 21. A análise e decisão dos requerimentos de concessão ou de renovação dos


certificados das entidades beneficentes de assistência social serão apreciadas no âmbito dos
seguintes Ministérios:

I - da Saúde, quanto às entidades da área de saúde;

II - da Educação, quanto às entidades educacionais; e

III - do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, quanto às entidades de assistência


social.

§ 1o A entidade interessada na certificação deverá apresentar, juntamente com o


requerimento, todos os documentos necessários à comprovação dos requisitos de que trata esta
Lei, na forma do regulamento.

§ 2o A tramitação e a apreciação do requerimento deverão obedecer à ordem cronológica de


sua apresentação, salvo em caso de diligência pendente, devidamente justificada.

§ 3o O requerimento será apreciado no prazo a ser estabelecido em regulamento, observadas


as peculiaridades do Ministério responsável pela área de atuação da entidade.

127
§ 4o O prazo de validade da certificação será fixado em regulamento, observadas as
especificidades de cada uma das áreas e o prazo mínimo de 1 (um) ano e máximo de 5 (cinco)
anos.

§ 5o O processo administrativo de certificação deverá, em cada Ministério envolvido, contar


com plena publicidade de sua tramitação, devendo permitir à sociedade o acompanhamento pela
internet de todo o processo.

§ 6o Os Ministérios responsáveis pela certificação deverão manter, nos respectivos sítios na


internet, lista atualizada com os dados relativos aos certificados emitidos, seu período de vigência
e sobre as entidades certificadas, incluindo os serviços prestados por essas dentro do âmbito
certificado e recursos financeiros a elas destinados.

Art. 22. A entidade que atue em mais de uma das áreas especificadas no art. 1o deverá
requerer a certificação e sua renovação no Ministério responsável pela área de atuação
preponderante da entidade.

Parágrafo único. Considera-se área de atuação preponderante aquela definida como atividade
econômica principal no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do Ministério da Fazenda.

Art. 23. (VETADO)

Art. 24. Os Ministérios referidos no art. 21 deverão zelar pelo cumprimento das condições
que ensejaram a certificação da entidade como beneficente de assistência social, cabendo-lhes
confirmar que tais exigências estão sendo atendidas por ocasião da apreciação do pedido de
renovação da certificação.

§ 1o O requerimento de renovação da certificação deverá ser protocolado com antecedência


mínima de 6 (seis) meses do termo final de sua validade.

§ 2o A certificação da entidade permanecerá válida até a data da decisão sobre o


requerimento de renovação tempestivamente apresentado.

Art. 25. Constatada, a qualquer tempo, a inobservância de exigência estabelecida neste


Capítulo, será cancelada a certificação, nos termos de regulamento, assegurado o contraditório e a
ampla defesa.

CAPÍTULO III

DOS RECURSOS E DA REPRESENTAÇÃO

Art. 26. Da decisão que indeferir o requerimento para concessão ou renovação de


certificação e da decisão que cancelar a certificação caberá recurso por parte da entidade
interessada, assegurados o contraditório, a ampla defesa e a participação da sociedade civil, na
forma definida em regulamento, no prazo de 30 (trinta) dias, contado da publicação da decisão.

128
Art. 27. Verificado prática de irregularidade na entidade certificada, são competentes para
representar, motivadamente, ao Ministério responsável pela sua área de atuação, sem prejuízo das
atribuições do Ministério Público:

I - o gestor municipal ou estadual do SUS ou do SUAS, de acordo com a sua condição de


gestão, bem como o gestor da educação municipal, distrital ou estadual;

II - a Secretaria da Receita Federal do Brasil;

III - os conselhos de acompanhamento e controle social previstos na Lei no 11.494, de 20 de


junho de 2007, e os Conselhos de Assistência Social e de Saúde; e

IV - o Tribunal de Contas da União.

Parágrafo único. A representação será dirigida ao Ministério que concedeu a certificação e


conterá a qualificação do representante, a descrição dos fatos a serem apurados e, sempre que
possível, a documentação pertinente e demais informações relevantes para o esclarecimento do
seu objeto.

Art. 28. Caberá ao Ministério competente:

I - dar ciência da representação à entidade, que terá o prazo de 30 (trinta) dias para
apresentação de defesa; e

II - decidir sobre a representação, no prazo de 30 (trinta) dias a contar da apresentação da


defesa.

§ 1o Se improcedente a representação de que trata o inciso II, o processo será arquivado.

§ 2o Se procedente a representação de que trata o inciso II, após decisão final ou transcorrido
o prazo para interposição de recurso, a autoridade responsável deverá cancelar a certificação e dar
ciência do fato à Secretaria da Receita Federal do Brasil.

§ 3o O representante será cientificado das decisões de que tratam os §§ 1o e 2o.

CAPÍTULO IV

DA ISENÇÃO

Seção I

Dos Requisitos

Art. 29. A entidade beneficente certificada na forma do Capítulo II fará jus à isenção do
pagamento das contribuições de que tratam os arts. 22 e 23 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de
1991, desde que atenda, cumulativamente, aos seguintes requisitos:
129
I - não percebam seus diretores, conselheiros, sócios, instituidores ou benfeitores,
remuneração, vantagens ou benefícios, direta ou indiretamente, por qualquer forma ou título, em
razão das competências, funções ou atividades que lhes sejam atribuídas pelos respectivos atos
constitutivos;

II - aplique suas rendas, seus recursos e eventual superávit integralmente no território


nacional, na manutenção e desenvolvimento de seus objetivos institucionais;

III - apresente certidão negativa ou certidão positiva com efeito de negativa de débitos
relativos aos tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil e certificado de
regularidade do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS;

IV - mantenha escrituração contábil regular que registre as receitas e despesas, bem como a
aplicação em gratuidade de forma segregada, em consonância com as normas emanadas do
Conselho Federal de Contabilidade;

V - não distribua resultados, dividendos, bonificações, participações ou parcelas do seu


patrimônio, sob qualquer forma ou pretexto;

VI - conserve em boa ordem, pelo prazo de 10 (dez) anos, contado da data da emissão, os
documentos que comprovem a origem e a aplicação de seus recursos e os relativos a atos ou
operações realizados que impliquem modificação da situação patrimonial;

VII - cumpra as obrigações acessórias estabelecidas na legislação tributária;

VIII - apresente as demonstrações contábeis e financeiras devidamente auditadas por auditor


independente legalmente habilitado nos Conselhos Regionais de Contabilidade quando a receita
bruta anual auferida for superior ao limite fixado pela Lei Complementar no 123, de 14 de
dezembro de 2006.

Art. 30. A isenção de que trata esta Lei não se estende a entidade com personalidade jurídica
própria constituída e mantida pela entidade à qual a isenção foi concedida.

Seção II

Do Reconhecimento e da Suspensão do Direito à Isenção

Art. 31. O direito à isenção das contribuições sociais poderá ser exercido pela entidade a
contar da data da publicação da concessão de sua certificação, desde que atendido o disposto na
Seção I deste Capítulo.

Art. 32. Constatado o descumprimento pela entidade dos requisitos indicados na Seção I
deste Capítulo, a fiscalização da Secretaria da Receita Federal do Brasil lavrará o auto de infração
relativo ao período correspondente e relatará os fatos que demonstram o não atendimento de tais
requisitos para o gozo da isenção.

130
§ 1o Considerar-se-á automaticamente suspenso o direito à isenção das contribuições
referidas no art. 31 durante o período em que se constatar o descumprimento de requisito na
forma deste artigo, devendo o lançamento correspondente ter como termo inicial a data da
ocorrência da infração que lhe deu causa.

§ 2o O disposto neste artigo obedecerá ao rito do processo administrativo fiscal vigente.

CAPÍTULO V

DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 33. A entidade que atue em mais de uma das áreas a que se refere o art. 1o deverá, na
forma de regulamento, manter escrituração contábil segregada por área, de modo a evidenciar o
patrimônio, as receitas, os custos e as despesas de cada atividade desempenhada.

Art. 34. Os pedidos de concessão originária de Certificado de Entidade Beneficente de


Assistência Social que não tenham sido objeto de julgamento até a data de publicação desta Lei
serão remetidos, de acordo com a área de atuação da entidade, ao Ministério responsável, que os
julgará nos termos da legislação em vigor à época da protocolização do requerimento.

§ 1o Caso a entidade requerente atue em mais de uma das áreas abrangidas por esta Lei, o
pedido será remetido ao Ministério responsável pela área de atuação preponderante da entidade.

§ 2o Das decisões proferidas nos termos do caput que sejam favoráveis às entidades não
caberá recurso.

§ 3o Das decisões de indeferimento proferidas com base no caput caberá recurso no prazo de
30 (trinta) dias, dirigido ao Ministro de Estado responsável pela área de atuação da entidade.

§ 4o É a entidade obrigada a oferecer todas as informações necessárias à análise do pedido,


nos termos do art. 60 da Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999.

Art. 35. Os pedidos de renovação de Certificado de Entidade Beneficente de Assistência


Social protocolados e ainda não julgados até a data de publicação desta Lei serão julgados pelo
Ministério da área no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias a contar da referida data.

§ 1o As representações em curso no CNAS, em face da renovação do certificado referida no


caput, serão julgadas no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias após a publicação desta Lei.

§ 2o Das decisões de indeferimento proferidas com base no caput caberá recurso no prazo de
30 (trinta) dias, com efeito suspensivo, dirigido ao Ministro de Estado responsável pela área de
atuação da entidade.

Art. 36. Constatada a qualquer tempo alguma irregularidade, considerar-se-á cancelada a


certificação da entidade desde a data de lavratura da ocorrência da infração, sem prejuízo da
exigibilidade do crédito tributário e das demais sanções previstas em lei.
131
Art. 37. (VETADO)

Art. 38. As entidades certificadas até o dia imediatamente anterior ao da publicação desta Lei
poderão requerer a renovação do certificado até a data de sua validade.

CAPÍTULO VI

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 39. (VETADO)

Art. 40. Os Ministérios da Saúde, da Educação e do Desenvolvimento Social e Combate à


Fome informarão à Secretaria da Receita Federal do Brasil, na forma e prazo por esta
determinados, os pedidos de certificação originária e de renovação deferidos, bem como os
definitivamente indeferidos, nos termos da Seção IV do Capítulo II.

Parágrafo único. Os Ministérios da Saúde, da Educação e do Desenvolvimento Social e


Combate à Fome procederão ao recadastramento de todas as entidades sem fins lucrativos,
beneficentes ou não, atuantes em suas respectivas áreas em até 180 (cento e oitenta) dias após a
data de publicação desta Lei, e tornarão os respectivos cadastros disponíveis para consulta
pública.

Art. 41. As entidades isentas na forma desta Lei deverão manter, em local visível ao público,
placa indicativa contendo informações sobre a sua condição de beneficente e sobre sua área de
atuação, conforme o disposto no art. 1o.

Art. 42. Os incisos III e IV do art. 18 da Lei n o 8.742, de 7 de dezembro de 1993, passam a
vigorar com a seguinte redação:

―Art. 18. ................................................

.......................................................................................

III - acompanhar e fiscalizar o processo de certificação das entidades e organizações de


assistência social no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;

IV - apreciar relatório anual que conterá a relação de entidades e organizações de assistência


social certificadas como beneficentes e encaminhá-lo para conhecimento dos Conselhos de
Assistência Social dos Estados, Municípios e do Distrito Federal;

................................................................................‖ (NR)

Art. 43. Serão objeto de auditoria operacional os atos dos gestores públicos previstos no
parágrafo único do art. 3o, no art. 8o e no § 4o do art. 11.

Art. 44. Revogam-se:


132
I - o art. 55 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991;

II - o § 3o do art. 9o e o parágrafo único do art. 18 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993;

III - o art. 5o da Lei no 9.429, de 26 de dezembro de 1996, na parte que altera o art. 55 da Lei
nº 8.212, de 24 de julho de 1991;

IV - o art. 1o da Lei no 9.732, de 11 de dezembro de 1998, na parte que altera o art. 55 da Lei
nº 8.212, de 24 de julho de 1991;

V - o art. 21 da Lei no 10.684, de 30 de maio de 2003;

VI - o art. 3o da Medida Provisória no 2.187-13, de 24 de agosto de 2001, na parte que altera


o art. 55 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991; e

VII - o art. 5º da Medida Provisória nº 2.187-13, de 24 de agosto de 2001, na parte que altera
os arts. 9º e 18 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993.

Art. 45. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 27 de novembro 2009; 188o da Independência e 121o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Guido Mantega
Fernando Haddad
José Gomes Temporão
Patrus Ananias

Este texto não substitui o publicado no DOU de 30.11.2009

133
APÊNDICE I

GRUPO FOCADO 1

22/09/2011

1ª questão - A remuneração dos serviços prestados ao SUS é justa?

G1S1 – Todo mundo sabe que não, qualquer discussão nesse sentido é supérflua, qualquer pessoa
por mais desinformada que seja sabe que não.

G1S3 – De acordo com a tabela que já foi apresentada pela coleta de informação, é possível
identificar cientificamente, que o serviço prestado não é bem remunerado e até pelo trabalho que
a gente levantou pelos pacientes da santa casa atendidos pelo SUS, existe um déficit de 30% em
2011, mostrando que não é justo.

G1S2 – Semana passada, apuramos essa deficiência do SUS.

G1S5 – É realmente absurdo o que se paga pelo serviço que se presta, a santa casa faz questão de
manter a qualidade, mas o déficit é absurdo.

2ª questão – Qual a importância em se atender convênios e particulares?

G1S1- Os convênios e particulares são uma pequena parcela do atendimento gira em torno de
38%, mas eu acredito que é a fonte de receita que compensa o déficit do SUS, então enquanto a
gente conseguir manter os convênios funcionando e os atendimentos particulares, a gente vai
conseguir manter o hospital equilibrado.

134
G1S2 – Como só tem um hospital na cidade e nós atendemos 99% dos convênios que tem aqui e
prestamos serviço a outros convênios da região, ainda essa parcela que recebemos, ela supre
ainda com certa dificuldade a defasagem do SUS, porem se amanhã ou depois surgir num futuro
próximo, outro prestador ou outro hospital na cidade possivelmente nós teremos um colapso.

G1S4 – Como tem que atender 60% do SUS e 40% de convênios a importância é grande, pois é
necessário cumprir a meta da filantropia.

G1S3 – O atendimento dos particulares pelo que nós conseguimos levantar todo o operacional da
Santa Casa 63,20% foi ocupado por paciente SUS e em tese o atendimento a particulares 38%
então nesse contexto geral, se a gente pegar a arrecadação SUS que corresponde 24% e a
arrecadação de convênios e particulares chega a 44% , está identificada ai a cobertura desses
particulares para cobrir o déficit do SUS, então já está evidenciado a importância de atendimento
desses particulares, de uma certa forma, sem os particulares, não seria possível de forma alguma
o atendimento ao SUS.

G1S5 - É fundamental, sem esse atendimento a Entidade não funciona.

Já foi diferente no passado, essa arrecadação por convênios era maior e melhor no
passado?

G1S1 - A muito tempo existiu uma subvenção estadual muito importante, antes de criar o SUS,
pela lei Alípio Correia Neto, uma subvenção do estado chamada leito- dia, independente do
atendimento que fosse feito, o hospital mandava para o estado, secretaria da saúde, um relatório
mostrando quantos pacientes foram internados durante tantos dias e vinha um pagamento pra
isso, e com isso o hospital sobrevivia muito bem.

Era uma remuneração justa?

G1S1 - Era justa em relação ao custo, tanto é que não tinha problema, não existia SUS, o paciente
era taxado com não contribuinte, remanescente do antigo indigente que existia a 50 anos atrás,

135
então as coisas foram mudando e hoje, na verdade, a gente paga pra atender o SUS. Não é o
governo que subsidia a Santa Casa e sim a Santa Casa que subsidia o estado, um absurdo que
existe no Brasil.

No inicio do SUS, em 1990, quando foi criado o SUS a remuneração naquela época era justa
pelo o custo que se tinha?

G1S1 – Justa não era, mas era pelo menos ate certo ponto compatível com a qualidade do
serviço. O que aconteceu foi que a medicina mudou muito houve incorporação de muitos
procedimentos, começou a se exigir da pratica medica uma grande quantidade de instrumentos, a
medicação encareceu tremendamente.
A nossa Santa casa era auto-suficiente em medicação, tinha um laboratório industrial aqui que
supria 80% das necessidades, a gente só comprava praticamente antibiótico injetável, o resto era
tudo feito aqui, soro, inclusive o hospital passou a fornecer a toda a região, tinha uma combe com
2 motoristas entregando soro e medicação pra todo mundo.
Isso começou a incomodar, os laboratórios começaram a fazer pressão e acabou inviabilizando e
foi fechado o laboratório.
Durante muito tempo a santa casa era uma santa casa diferente das outras por causa disso, nos
sempre tivemos um desempenho bem acima da média. Até 1979-80 o laboratório funcionou onde
é a quimioterapia aqui, era um laboratório onde se fazia comprimidos, injetáveis, soro, pomadas,
com matéria prima comprada com o preço bastante acessível e funcionava muito bem.
O laboratório Cristália de Itapira teve suas origens aqui, nos manipulávamos psicotrópicos para
eles aqui e como a matéria prima importada por eles, eles usavam no sanatório psiquiatra.
As coisas mudam muito e para fazer um hospital para funcionar tem que ter criatividade, mas
agora não é mais permitido ter criatividade, a regulamentação é muito grande e nós somos
tratados pelas autoridades de saúde como débil mentais. Nós fizemos aqui uma quimioterapia, foi
inaugurada em 2005 e até hoje não funciona por causa da regulamentação.
Além disso tudo, tem o aumento do custo e da implementação tecnológica dos hospitais que
encarece e se modifica muito rápido.

136
G1S1 - Inclusive no plano de saúde, com a regulamentação, os pacientes vão a justiça e o juiz
manda dar remédios de ultima geração que não irá trazer nenhum beneficio ao paciente e quebra
financeiramente o plano de saúde. O plano acaba tendo um prejuízo e desperdício tremendo onde
poderia prestar um serviço de qualidade.

3ª questão – É possível gerir esse hospital apenas com a receita prestação de serviço
hospitalar?

G1S1 - Olha se deixar o hospital sozinho sem gerencia governamental dá pra gerir muito bem,
mas do jeito que a coisa é feita não. Sou defensor da iniciativa privada, acho que a iniciativa
privada com um pouquinho de competência faz muita coisa. A burocracia atrapalha tudo e gera
absurdos e trás prejuízos, haja visto que mais de 50% do gasto de saúde é gasto com ambulância,
para transportar o paciente, não temos que transportar o paciente, temos que prestar atendimento.
O paciente é enganado e o político desonesto acha que dando transporte ao paciente esta fazendo
um favor, isso é clientelismo e não leva a nada.

G1S2- Para se ter idéia, não há aumento de teto do SUS há quase 3 anos, porém todas as
implementações e exigências que impõe dentro da saúde, não há complemento financeiro para a
implementação, exemplo, dispositivo de segurança perfuro cortante que tem que ser
implementado, o aumento do custo irá corroer durante 1 ano o valor de 1 teto mensal,
aproximadamente 200 mil reais, entra a legislação a santa casa implementa e quem manda o
dinheiro? Ninguém. Então tudo o que tem que ser implementado aumenta o custo e o não há
aumento do teto do SUS, que não manda nenhum dinheiro para a santa casa cumprir essa
implementação.

G1S1 – realmente todos tem um tratamento digno, não fazemos restrição nenhuma, tem pacientes
que chegam a 100 mil reais em 1 mês e pouco de internação e está tudo dentro do teto e temos
que suportar tudo isso, então realmente a santa casa paga para prestar serviço ao SUS.
Fabio – O teto é fixo e nem a inflação é corrigida.

137
4ª questão – É possível manter um equilíbrio financeiro dentro do hospital com essa
situação?

G1S1 – É. Apertando o cinto e gastando dentro das verbas disponíveis, agora, com isso ai limita
um pouco a incorporação de novas tecnologias e a implementação de novos serviços,

G1S5 - você custeia o hospital mas não investe.


Nós temos tentado incorporar novos serviços, conseguimos implantar a hemodiálise que não
tinha na cidade, isso deu um up grade muito grande no atendimento, principalmente de UTI, mas
foi terceirizado, nos demos o terreno em comodato, eles construíram. O problema nosso é atender
a comunidade e não ganhar dinheiro. O importante é que nos conseguimos trazer um serviço de
qualidade com custo zero. Nós temos que ser um pouco criativos nisso, mas não temos condição,
o raio –x também é terceirizado, pois não temos condições de acompanhar a evolução e manter
bons equipamentos.

G1S2 - É possível manter as contas e manter o equilíbrio, desde que essa situação não se
prolongue por muito tempo e o governo tome algumas medidas a respeito da filantropia, fazendo
alguma ajuda de alguma maneira, pois se ao passar do tempo se não for feita implantação de
novas tecnologias, o atendimento vai ficando pra trás e e vai perder a qualidade, e sem tecnologia
nova a vai manter pacientes com grandes períodos de internações, podendo causar um problema
para o hospital.
Hoje o hospital, na situação atual, consegue se manter, mas não consegue implementar tecnologia
e serviços como deveria pois não é viável financeiramente e a médio prazo irá perder qualidade.

G1S5 - Nos últimos meses chegaram 10 -12 novas exigências da ANS, que custa dinheiro e
encarece o custo da operadora, então existe uma tendência em se tratar pequenas operadoras de
uma forma que cada vez está mais difícil sobrar algum dinheiro.
Os beneficiários que tem planos antigos, com custo baixo passam a ter todos os direitos de um
plano novo com um baixo reajuste (máximo 21%), tudo isso está secando a receita das
operadoras de santa casa, não sei até quando elas vão agüentar.

138
G1S3 – Para trabalhar nesse equilíbrio é uma situação de risco grande, pois qualquer
eventualidade tanto na santa casa quanto na operadora pode gerar um déficit que por não possuir
uma receita extra ou um faturamento maior, não será possível manter essa equilíbrio, cobrir essa
eventualidade, podendo perder esse equilíbrio e sair dessa situação que não é confortável, ai sim
entra o auxilio governamental em termos de subvenção a cada 1 ano ou seis meses que seja para
tentar cobrir essa defasagem que vai se acumulando mês a mês, para sair dessa situação de risco.
Ficar no empate zero a zero é uma situação de risco.

5ª questão – Existe alguma sugestão de como se manter essa sustentabilidade financeira em


longo prazo?

G1S3 – Na área da saúde é difícil prever quais as novas exigências e impossível trabalhar com
orçamento de estoque e profissional, pois não e sabe o custo do mês seguinte pois não se sabe o
tipo de atendimento que ocorrerá, quanto ao futuro na saúde é totalmente instável, pode-se
trabalhar no equilíbrio financeiro agora, tentando enxugar todas as despesas que puder mensurar,
mas é difícil estabelecer uma meta nesse sentido sem o apoio do governo.

G1S5- Você me deu um dado espantoso, 45% de reajuste da tabela SUS e 450% de correção do
IGPM, o mínimo que o governo tem que fazer é corrigir. Uma tabela pagando pelo menos o custo
já é um primeiro passo.

G1S2 – A sustentabilidade dos hospitais filantrópicos só vai ocorrer quando houver os repasses
coerentes com o custo do atendimento SUS, enquanto não for compatível e tiver uma parcela de
receita do atendimento com particulares e convênios para suprir o hospital ainda vão conseguindo
se manter, mas se um dia essas receitas forem diminuindo o hospital vai entrar num caos.
A única sugestão que tem pra melhorar é abrir novos serviços, mas é preciso ter um volume de
dinheiro para comprar essa tecnologia pra ter novos serviços, se não tiver como investir e o SUS
não pagar o custo real hospitalar, não há como avançar.

O SUS não paga o custo, mas em contrapartida a filantropia te dá uma isenção de impostos,
o que se pode dizer sobre isso?

139
G1S2- Hoje ela já não cobre mais essa defasagem que existe com o beneficio.

G1S1 – Isso não resolve, porque a defasagem é maior que a isenção e tem uma coisa muito
importante que se tem que levar em conta que no hospital a gente não investe no paciente o que a
gente tem em verba, a gente tem que investir no paciente o que é necessário para suprir as
necessidades do caso dele. O paciente entra e a gente nunca sabe quanto vai custar, e a única
maneira de se manter o hospital filantrópico com sustentabilidade seria uma atitude mais séria
dos poderes públicos, eles manter algumas ilhas de excelência, como o INCOR, o ICESPE –
(instituto do câncer novo em SP) que tem um atendimento de primeiro mundo, mas eles
concentram tudo lá.
Eles deveriam remunerar a qualidade dos serviços prestados, através de uma auditoria idônea e
honesta. Isso é fundamental e não existe, é preciso que o Brasil melhore muito.

G1S5 - é sintomática, na nossa região, quantas santas casas estão à beira de fechar as portas e
quantas operadoras já fecharam.

6ª questão – Como vocês vêem o papel da prefeitura e dos políticos perante a Santa Casa?

G1S1 – Me recuso responder essa pergunta, nas entrelinhas dá pra entender minha posição, ou
acho que ou a gente entra na política e levanta uma bandeira ou fica quieto.

G1S2 – A prefeitura faz o papel dela assim como os políticos, mas quem é que pode mudar essa
situação? A emenda está sendo discutida no congresso, se houver esforço como aparentemente
está acontecendo vai ser muito importante.

G1S5 – Pela importância que a santa casa tem na cidade e na região, na minha opinião, deveria
estar havendo mais empenho dos políticos na tentativa de trazer melhorias e trazer equipamentos.
O que a gente recebe salvo raras exceções é o que a lei determina e a gente não vê nenhum
esforço pra ajudar a gente a melhorar.

140
A EM-29 foi votada ontem na câmara dos deputados. O que foi regulamentado é o que é
considerado saúde, por exemplo, saneamento básico e merenda escolar agora não poderão
mais ser considerados saúde, até então entrava no orçamento do estado como saúde. Isso é
considerado por vocês um avanço? Essa regulamentação pode ajudar à melhorar a situação
atual?

G1S1 – Ai depende muito do discernimento dos gestores, pois o problema é a maneira de se


administrar. Se onde se precisa de 5 funcionários se coloca 15, não está se fazendo gestão de
saúde e sim de empregar pessoas. Se for empregar dinheiro apenas em transporte de pacientes
não está melhorando a saúde. O problema é a gestão e isso leva algum tempo pra melhorar, é
preciso formar pessoas capacitadas para se trabalhar com saúde, haja vista nossa gestão levou
muito tempo pra aprendermos como se faz as coisas funcionarem, é muito difícil.
A emenda pode modificar a situação, mas acredito que vão criar um bolo muito bolo que não será
bem dividido, o problema é a concentração. Veja os hospitais federais, estão todos concentrados
no Rio e São Paulo.

7ª questão – A santa casa sobreviveria sem o SUS?

G1S1 – Muito bem desde que não houvesse tanta ingerência aqui dentro. Se não existisse o SUS
teríamos um numero significativo de atendimentos particulares, e teríamos condições de oferecer
assistência gratuita a quem não tem condições, como era feito antigamente e funcionava muito
bem.

G1S2 – Eu não tenho experiência e não posso fazer uma avaliação como o Dr Marcos fez pela
minha vivência, mas se você comparar que hoje os 40 % da receita que se tem com atendimento a
convênios e particulares financeiramente é viável parar de atender pelo SUS.

G1S1 – Para de atender pelo SUS é inviável aqui, pois nosso hospital, além de ser o único da
cidade, é um hospital comunitário, para atender as necessidades população.
Vanderlei – Dentro do objetivo da entidade por ser filantrópica não seria viável.Falam que o
SUS é um mal necessário, paga-se pouco mas ainda consegue suprir essa meta do atendimento

141
filantrópico. Somente com particulares, alem da alta carga de impostos, talvez não haveria
demanda de convênios e particulares da região para manter a estrutura hospitalar existente hoje.

G1S4 – concordo com o G1S3

G1S1 – Ai eu discordo um pouco, pois antigamente existia o atendimento anterior ao SUS do não
contribuinte, que atendia a finalidade as santas casas, a misericórdia, prestavam caridade. Com o
SUS passou a ser direito do cidadão, mas o SUS não remunera, e hoje prestamos caridade sem
remuneração. O SUS deveria ter o hospital dele e dar assistência e ver quanto custa dar
assistência, pois é muito cômodo obrigar a gente a trabalhar e não remunerar. É uma exploração
política da santa casa e do trabalho médico. As santas casas historicamente perderam a finalidade.

G1S5- e quem melhor investe acaba sendo prejudicado, pois melhoramos a nossa UTI e agora
precisamos atender pacientes de outras cidades por ter uma boa UTI.

G1S1 – o plano de saúde é a mesma coisa, a ANS não libera o reajuste para dar a população uma
alternativa de se ter atendimento a baixo custo.

8ª questão – Qual a importância de se ter hoje um plano de saúde próprio?

G1S1 – Eu particularmente sou vendedor do plano de saúde, acho que seria melhor ser prestador
de serviço do que ter um plano de saúde próprio. Cada vez mais obrigações sem possibilidade de
reajustes, somente no aniversário do plano. Acredito que em muito pouco tempo nos teremos
muitos poucos planos de saúde funcionando, o que não é bom, pois vai se tornar um oligopólio e
isso vai encarecer os planos.

G1S2 – a ANS coloca encargos em cima dos planos de saúde e o governo não enxerga que cada
vez que isso ocorre, menos pessoas tem acesso aos planos e essas pessoas vão acabar migrando
para o SUS, onerando as santas casas e entidades filantrópicas que não vão conseguir promover
atendimento com o que recebem.

142
Esse paciente irá migrar para o SUS não para fazer exames, e sim para as internações de alto
custo, que o governo terá que pagar, mas se não há repasse quem quebra são as santas casas. Isso
deveria ser visto de forma a não sobrecarregar tanto os planos de saúde para que estes pudessem
sobreviver e atrair essa classe social que tem condições de pagar, diminuindo a quantidade de
pessoas que precisam de atendimento SUS.

G1S1 – O plano de saúde, mesmo não sendo lucrativo, tira pacientes do atendimento SUS

G1S5 – a tabela que o SUS cobra dos convênios, pelo ressarcimento ao SUS, ou seja, pelos
atendimento do SUS aos beneficiários do plano de saúde, é absurdo e injusto.

G1S2 – Não sei se tenho uma visão distorcida, mas os planos de saúde em minha opinião são um
parceiro do SUS, mas o que parece é que o governo enxerga os planos como adversário.

G1S5 – o nível de exigência sem contrapartida no nosso poder, não temos poder de gerir o nosso
custo, não prestamos um serviço pelo custo, ninguém leva em consideração o nosso custo e é
muito difícil trabalhar dessa maneira.

G1S1 – o Brasil e muito grande, existe diferenças regionais enormes, não sendo possível ter um
critério único o tempo todo. Não é possível que o SAVISA seja cobrado da mesma maneira que
a AMIL, como ocorre, não podemos ter que oferecer especialidades que não temos demanda por
elas, é uma discrepância enorme que inviabiliza o serviço.

9ª questão – A receita com o plano de saúde é imprescindível para a Santa Casa?

G1S1 – Imprescindível eu digo que talvez não seja, temos que levar em consideração que ela
compõe a renda da santa casa, mas por mais que façamos auditoria médica, por mais controle que
se tenha existe um numero muito grande de má utilização, exames, internações e cirurgias
desnecessárias gerando custo para a santa casa. Se todo mundo trabalhasse direitinho com os
princípios éticos, seria imprescindível, mas essas distorções diminuem muito a rentabilidade, sem
a receita do plano as coisas iriam bem também.

143
G1S5- A parte do faturamento do plano que fica na santa casa é muito pequena, o que se gasta
com consulta, exames e procedimentos em outros locais, muitas vezes desnecessários, é muito
grande.

G1S1 – o plano de saúde está ruim para o plano, para o médico e para o usuário, não existe um
grau de satisfação de 100% para todo muito, e temos notado que há muitos médicos manifestando
desejo de descredenciamento, dificultando o atendimento e restringindo horários, forçando o
pessoal a procurar o consultório por via particular.

G1S2– O plano não é bom, mas sem ele também hoje não é bom, se você pensar que o número
de vidas (beneficiários) desse plano deixar de estar na santa casa, eu não tenho certeza que eles
migrarão para outros planos ou se eles vão para o SUS.

Síntese

 Todos julgam injusta remuneração do SUS;


 É importante atender convênios e particulares pelo fato da receita ajudar a cobrir o déficit
do SUS;
 É possível gerir um hospital com receita de prestação de serviços hospitalares, com boa
gestão e certa criatividade, mas mesmo assim o equilíbrio é muito justo e a tecnologia em
si ao longo do tempo pode ficar comprometida.
 Em relação à prefeitura e papel do político houve um consenso em que os políticos não
têm o olhar necessário para a santa casa e não tem vontade política de modificar a
situação atual
 Apesar de não ter sido um consenso, foi colocado que a santa casa sobreviveria sem o
SUS, porém perderia a sua finalidade.
 Em relação ao plano de saúde próprio todos concordam que é importante para a santa casa
principalmente por tirar uma parcela dos usuários do sistema SUS, mas talvez não seja
imprescindível, e talvez em médio prazo venha a ser inviável

144
 Em relação a emenda constitucional 29, todos estão de acordo que ela pode sim modificar
a situação mas isso depende da gestão, de que forma esse dinheiro será empregado na
saúde se é que será empregado na saúde, visto o que ocorreu com a CPMF.

―Todo cidadão brasileiro tem direito ao atendimento pelo SUS, toda entidade filantrópica deveria
ter direito a receber os custos reais de atender essa necessidade.‖ G1S2

145
APÊNDICE II

GRUPO FOCADO II

29/09/2011

1ª questão - A remuneração dos serviços prestados ao SUS é justa?

G2S1 - Nunca foi justa, desde o tempo do INPS. Nessa época ainda era mais ou menos, pois a
auditoria era feita mais em loco. Não há acompanhamento da tabela do SUS. Quando há reajusta
na tabela SUS, é feito um reajuste pontual dos procedimentos que ocorrem muito pouco que
acaba prestigiando um hospital muito especializado, como transplante, sendo apenas reajustado 5
ou 6 procedimentos, os outros 6000 procedimentos não sofrem nenhum reajuste.
Na política, a implantação da CPMF foi muito boa pra saúde, mas os recursos da CPMF entraram
por uma porta e os outros recursos que vinham pra saúde, saíram pela outra.
O novo convênio, contratualização veio melhorar os recursos, o integrasus e o IAC ajudou
bastante. Na primeira contratualização, dividida em 3 partes: recursos próprios, integrasus e IAC
e média e alta complexidade, nessa ultima parte, média e alta complexidade houve muitos erros
quanto ao repasse, porém ajudou bastante no início, mas esse convênio existe a 6 anos e nunca
houve reajuste, até hoje está congelado o IAC e o integrasus.
É preciso melhorar bastante essas ajudas de custo, para diminuir esse déficit, a remuneração não é
justa, ou a nossa situação seria diferente.
Em algumas especialidades o SUS paga o justo, mas a maioria não. Veja a pediatria, paga-se
muito pouco e dessa forma os médicos deixarão de fazer pediatria. O reajuste quando ocorre em
um procedimento de R$ 12,00 é reajustado em 2%, o que não ajuda muito.
Os médicos não conseguem trabalhar mais com a tabela do SUS, então eles vão forçando os
plantões de disponibilidade e os plantões presentes, porque se for atender apenas pela tabela SUS,
não fica um médico. Para pagar essa conta, apenas conseguimos com os recursos próprios, ou
seja, verba municipal. E o custo vai subindo e só podemos recorrer ao gestor municipal, ou ao
pouco que entra dos convênios.

G2S2 – nunca foi justa, tanto que se vê uma situação de penúria em todas as Santas Casas, não
encontra-se uma Santa Casa em boas condições financeiras.

146
O SUS é como uma indústria que dá prejuízo, quanto mais se fabrica maior é o prejuízo. É um
descaso das autoridades, os governantes sabem que as filantrópicas ainda são o sustentáculo da
saúde pública no Brasil.
Não sei se eles mantém essa remuneração baixa para nivelar por baixo porque acham que ainda
existe Santas Casas que conseguem incrementar a receita através de AIH, o que hoje eu acho
muito difícil de acontecer. A tabela está achatada, sem correção, não dá pra comparar se é justo
ou injusto. É um absurdo.

G2S1 - O SUS na sua ideologia é maravilho. O problema é o seu custeio e o seu controle. Está
galgando, é visto os agentes comunitários e outras implantações, mas os hospitais estão na
penúria.
Quando os governantes vêem que os hospitais estão com a corda no pescoço, eles viabilizam
alguma verba, assim como um elixir, só para não morrer, mas logo tudo volta a ficar difícil
novamente.

2ª questão - Qual a importância em atender convênios e particulares?

G2S1 – Tanto os convênios como os particulares trazem a Santa Casa uma margem de lucro, mas
a concorrência é muito grande, pois os hospitais fazem leilões de preços para atender esses
convênios.
No atendimento entre convênios e SUS, se o hospital tem qualidade na parte de humanização,
mão de obra e equipamento ele faz o serviço, o que difere realmente é a hotelaria. Só que se não
tem demanda de convênios e particulares, fica mais difícil atender o SUS, pois as filantrópicas
buscam o equilíbrio e é preciso que sobre algum dinheiro para investimento, que vem do giro do
capital ou de verbas governamentais, mas isso está acabando, pois todo o lucro vindo de
convênios e particulares é utilizado pra cobrir o déficit do SUS (e muitas vezes não consegue) e a
Santa Casa tem que cumprir sua missão. Há necessidade de convênios e particulares e isso vai ser
sempre assim, pois o governo jamais irá amparar sozinho o SUS.
Nos hospitais próprios do governo o custo é muito maior que o nosso, os hospitais públicos não
são enxutos.

G2S2 – Para nossa Santa Casa é muito importante o atendimento de convênios e particulares,
mas nós enfrentamos a concorrência de um hospital muito mais novo e mais moderno, o hospital
São Francisco. Isto já ocorre a um bom tempo e dificultou muito a situação financeira. Estou na
tesouraria da Santa Casa desde 1986 e me lembro de quando não havia a concorrência do hospital
São Francisco e a Santa Casa era o único hospital que atendia a UNIMED, nós tínhamos uma
reserva que dava pra suportar em torno de 3 meses de funcionamento, tinha fluxo de caixa para 3
meses a frente, o que foi corroído pelo déficit do SUS. Hoje não existe demanda para se atender
147
40% de convênios e particulares, pois os usuários da UNIMED preferem ser atendidos pelo
hospital São Francisco e os médicos que são sócios do Hospital São Francisco indicam o hospital
deles aos usuários dos convênios.

3ª questão - É possível gerir esse hospital apenas com a receita prestação de serviço
hospitalar?

G2S1 – Os hospitais filantrópicos não conseguem. Se não houver subvenção, como a de energia
elétrica que nós temos em parte, a isenção da cota patronal, a ajuda políticos e o pró- santa casa
não daria. Já são lançados programas como o pró- santa casa por que eles sabem que não dá.
Daria se atendêssemos apenas convênios e particulares, pois teríamos lucro na maioria dos
procedimentos. As santas casas são parceiras do SUS e eles sabem que podem contar. O
problema é a tabela, se o SUS fosse remunerado a altura, a população não precisaria de convênios
particulares, o hospital iria fluir muito bem e atenderia a todos.

G2S2 – Atendendo o SUS não é possível gerir esse hospital apenas com a receita de prestação de
serviços, teria que o SUS remunerar, com recursos próprios ou do ministério da saúde, cobrir
pelo menos o custo. Não é necessário que dê lucro, mas se não tiver prejuízo, o superávit que
vem dos convênios e particulares, embora não seja muito, daria pra santa casa reinvestir em
modernização das instalações e equipamentos, e ter mais condições de enfrentar as concorrências
dos novos hospitais.
Para área da saúde não tem recursos, mas para fazer olimpíadas e copa do mundo tem.

G2S1 – A diária dos presos é 10 vezes maior que a do SUS.

4ª questão - É possível manter um equilíbrio financeiro dentro do hospital com essa


situação?

G2S1 – É possível manter um equilíbrio desse hospital se houver outros fatores que ajudem nesse
equilíbrio: primeiro – a tabela do SUS tem que sofrer reajuste, segundo – é preciso adequar a
demanda, se a demanda do SUS for maior, deve-se aumentar os recursos e é preciso também a
participação maior do setor privado através de convênios e particulares.
Tentamos manter o equilíbrio trabalhando também com o hospital enxuto, com rigor nas compras
e no gasto, mas somos os responsáveis pelo SUS no município, principalmente da urgência e alta
complexidade.

148
É preciso ter uma solução em curto prazo, ou corre-se o risco de uma desestrutura e o gasto
público será muito maior.

G2S2– Da maneira como está não é possível, o que ameniza um pouco são as subvenções
estaduais, mas a rotina do administrador é viver pedindo ajuda a deputados, prefeito para aliviar a
situação.

G2S1 – Estamos à beira de um colapso na saúde. Muitas vezes o gestor municipal não consegue
atender as necessidades da saúde na sua cidade e investe no transporte de seus pacientes para as
cidades vizinhas, sobrecarregando o atendimento do hospital dessa cidade vizinha.

5ª questão – Como você vê a situação desse hospital daqui a 5 anos?

G2S1 – Faz tempo que estou aqui e vejo que cada ano está ficando mais difícil e se ficar dessa
maneira é lógico que não vai sobreviver, mas tenho esperança.
A saúde é cara, sempre foi muito cara por causa dos cartéis e tecnologia moderna, as prefeituras
estão despreparadas para fazer saúde. A saúde preventiva dá pra programar, agendar, mas a
corretiva é urgente, ou o doente morre. Falta dinheiro, e se o gestor não se utilizar das santas
casas como parceiro, se for fazer sozinho, fica 3 ou 4 vezes mais caro. A preventiva já é cara.
O poder público não tem condições de gerir a saúde sozinho, a maquina publica não é enxuta,
funcionários públicos trabalham menos horas.
A saúde é o principal em uma cidade, o principal é não morrer, educação é importante, mas sem
saúde não tem educação.
O governo estadual não consegue acertar a PPI (negociação que falta em uma cidade para atender
em outra), mas com essa tabela não tem como. O serviço é caro. Quanto mais sofistica a
medicina, mais caro fica.
Os hospitais não querem ter UTI neo-natal, pois dá um enorme prejuízo, eu tenho para tentar
resolver a questão, não para ter lucro, eu tento não deixar morrer crianças, nem Campinas
consegue aceitar, falta leitos.
Quando você consegue estabilizar uma alta especialidade e ter o outro lado, convênios,
particulares e subvenções o hospital cresce, o médico quer ampliar seus conhecimentos, é preciso
acompanhar, mas vai muito dinheiro.

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G2S2– Como eu tinha dito pra você, num passado recente tínhamos uma aplicação de 3 milhões,
hoje temos um empréstimo de 3 milhões, a santa casa é obrigada a tomar empréstimo para
subvencionar a saúde publica, faz empréstimo para pagar o déficit do SUS.
Pela emenda constitucional 29 devem ser destinados 15% pra prefeitura, 12% para o estado e
talvez 10% pra união, a prefeitura, soma e diz que está aplicando os 15%, mas é preciso ver como
e onde está aplicando esse montante.

6ª questão – Existe alguma sugestão de como se manter essa sustentabilidade financeira em


longo prazo?

G2S2 – É preciso rever o contrato do SUS, a contratualização, o gestor municipal através dos
15%, ou buscar os 12% do estado ou do federal, ou redirecionar essa verba. Temos acesso entre
aspas, fala que é transparente, mas não se sabe onde é que a verba, que vem do ministério da
saúde está sendo aplicada. Sabemos que pra santa casa não vem todo esse dinheiro, e se esse
dinheiro está sendo bem empregado. Como o José Carlos falou, o que o hospital municipal faz
com 10 a santa casa faz com 2.
Em 1992, o hospital municipal tinha 12 cargos de confiança, cerca de 289 funcionários e 20-30
leitos. A santa casa tinha 200 leitos, 1 cargo de confiança e 350 funcionários e resolvia o
problema. É uma incoerência. O prefeito mesmo fala que a santa casa é quem mantém a saúde do
município, mas precisa sair do discurso e ir para a prática, já que a santa casa é a ―jóia da coroa‖
é preciso cobrir esse prejuízo.
Acabamos até pensando e temos feito estudos para ver se não é melhor parar de atender o SUS.
A santa casa de Mogi Mirim está pensando realmente em rescindir o convênio com o SUS.

G2S1 – É preciso equacionar a parte das tabelas, das subvenções dos recursos próprios e tentar
também enxugar ainda mais a entidade, trabalhando com pulso firme, sendo parceiro do serviço
particular, do serviço municipal e dos médicos, não adianta brigar, tem que tentar equacionar.

7ª questão - Como vocês vêem o papel da prefeitura e dos políticos perante a Santa Casa?

G2S1 – No federal o governo tenta ver o problema, o PT tem uma linha de vigilância, gostaria
que os hospitais do governo dessem conta, mas são poucos e com problemas. A santa casa
representa mais da metade dos leitos do SUS. O governo está com a tabela na mão, a tabela é
dele, é federal. O federal não faz e joga para o estado e o município. O estado faz muito pouco e
sobra para o município que está na ponta. O prefeito nunca está por fora do que ocorre na santa
casa. Ele sabe o que nós precisamos, temos um prefeito médico, trabalha aqui e sabe o que a
gente precisa. Eu sei que é apertado, mas é preciso fazer alguma coisa, pois o prejuízo é humano.
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8ª questão - A santa casa sobreviveria sem o SUS?

G2S2 – Teoricamente sobreviveria, mas na pratica só rompendo o convenio com o SUS pra
saber, já tive visitando alguns hospitais que romperam com o SUS e o que eu ouvi dos
administradores foi: ― É ruim com ele e pior sem ele‖, então é complicado falar, pelos
demonstrativos que temos, fizemos os cálculos, tirando o movimento do SUS, dá um bom
superávit, mas isso tendo o SUS, pois temos uma estrutura que tem um custo alto e tem o aspecto
tributário e talvez seja muito difícil pra Santa casa manter as isenções de PIS, COFINS e imposto
de renda, então corre esse risco, mesmo aplicando 20% da receita em gratuidade, não sei como o
SUS vai ver isso, a gente entende que aplicando 20% de gratuidade tem o direito do certificado
de filantropia, mas vemos que algumas santas casas, mesmo atendendo 60% SUS está tendo
dificuldade em renovar o certificado de filantropia.
Antes a essência da santa casa era sobreviver de doações, hoje não é mais assim, hoje em dia com
o custo para as empresas e mesmo para o assalariado que é o mais prejudicado, pois já vem
descontado em folha o INSS, a cota patronal do INSS é 20% para o SUS mas na verdade
colocando acidente do trabalho e outros são 27,8% sobre a folha de pagamento, o que as
empresas pagam para o SUS via INSS, então como você vai pedir ao empresário uma ajuda de
custo para a santa casa, se ele já paga 27,8% sobre a folha de pagamento para o INSS custear o
SUS.
É muito ruim a administração dos recursos, volto a dizer não tem dinheiro pra saúde mas tem
dinheiro para fazer a copa do mundo. É uma questão de interesse.

G2S1 – Fica até engraçado a santa casa não atender o SUS, não parei pra pensar ficar sem o SUS,
é tão distante, por ser uma santa casa, acho que não chega a esse ponto, é tão catastrófico
humanamente, como vai ficar sem o SUS, somos uma cidade do interior, numa cidade grande
uma santa casa pode ficar sem o SUS e o SUS pode ficar sem a santa casa, pois existem outros
hospitais, mas aqui no interior é diferente, quem vai atender o SUS?
Discutir a rescisão como SUS é uma coisa, na pratica é outra. Todos irão atacar a santa casa, é o
primeiro hospital da cidade, os doentes daqui vão pra onde? Se o governo tiver outra estrutura
montada é uma situação, nós temos um hospital municipal a caminho, se o SUS for atendido lá,
vai custar mais caro.
Foi-se o tempo das doações, hoje é muito pouco, o custeio é diário, alto e complexo, emergências
acontecem de sábado e domingo. Alguém vai ter que atender.
A santa casa sobreviveria sem o SUS se trouxesse mais convênios e particulares.

9ª questão - Qual a importância de se ter hoje um plano de saúde próprio?

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G2S1 – Minha análise pode ser errônea, pois eu preciso de um tempo maior pra ver isso e pelas
exigências da ANS, no momento de mercado que se encontra a nossa cidade, acho que não é
viável, eu gostaria de prestar serviço a convênios e não de gerir um plano de saúde, pois já tem
um cartel da UNIMED na cidade, o corpo clínico da cidade é da UNIMED, poderia ser diferente
se tivesse feito no passado, agora fica difícil pois tem um hospital particular na cidade e a
UNIMED leva tudo pra lá. Não adianta gerir um plano de saúde sem um corpo clinico pra
atender.
Da forma como a ANS está fazendo, vão deixar de existir os pequenos planos de saúde, só
sobrarão os grandes, é preciso muito dinheiro, e como uma filantrópica vai bancar um plano de
saúde pra sair de concorrentes, sem hotelaria a altura, tendo o SUS nas costas. A santa casa
mescla, mas não pode descriminar o atendimento. Para ter um plano de saúde é preciso estudar
muito bem o mercado, mas se nem os planos de saúde estruturados e com dinheiro estão
conseguindo, acho que pra nossa santa casa é muito difícil.
G2S2 – Interessante e importante seria, mas pelo nosso mercado e com as exigências da ANS é
inviável e a dificuldade de mercado na nossa região é grande a UNIMED domina. O bom seria
que viesse outro plano de saúde forte para que a santa casa prestasse serviços, já tivemos uma
proposta no passado, mas o corpo clínico da santa casa, sendo da UNIMED, não quis atender esse
outro plano de saúde.

10ª questão - A EM-29 foi votada ontem na câmara dos deputados. O que foi regulamentado
é o que é considerado saúde, por exemplo, saneamento básico e merenda escolar agora não
poderão mais ser considerados saúde, até então entrava no orçamento do estado como
saúde. Essa regulamentação pode ajudar à melhorar a situação atual?

G2S1 – o que vai acontecer é que as prefeituras vão gastar mais com saúde, mas de forma errada,
pois vão continuar fazendo pouco e caro. Vingar vai ser preciso, pois o dinheiro não está dando,
cada estado faz 2 ou 3 hospitais na capital e nada no interior, é preciso tirar os hospitais das
capitais, descentralizar, o estado de São Paulo é diferente, mas o restante é assim. Fazem 500
leitos e tem 1000 para internar, amanhã tem 1200 – 1300, não têm condições. Não resolve, isso é
desumano para o paciente, eles ficam como cigano prá lá e pra cá.
Muitos gestores de pequenas cidades não querem um hospital, preferem colocar na ambulância e
mandar pra capital.
Alguma coisa tem quer ser feita, já está na mídia o retrato da situação da saúde no Brasil.
Se o hospital não resolve o problema da emergência bem feito tanto na parte médica com
hospitalar, pode sofrer um processo e corre o risco de perder, e o serviço público não estará lá na
hora pra ajudar a santa casa a responder esse processo, e perdendo esses processos a santa casa
fica em uma situação pior ainda.

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G2S2 – Acho que não vai mudar nada, ou muito pouco, se o dinheiro não for bem administrado
não muda nada, dizem que precisa de um novo imposto para custear a saúde, mas já tivemos esse
imposto e não mudou nada.
O valor que se discute, para o poder púbico é muito pequeno, o custo é muito pequeno, se eles
assumirem a saúde o custo e muito maior, 3 a 4 vezes mais e não vai ter a mesma qualidade da
santa casa. É uma questão de bom senso do administrador, no governo Covas vários hospitais
públicos foram terceirizados por ficar muito mais barato, é muito melhor para o estado terceirizar
para quem tem competência para gerir, ai funciona.
Estivemos em São Paulo numa palestra ministrado por um conselheiro do tribunal de contas do
município de São Paulo, que disse que a prefeitura de SP está fazendo PPP para a construção de
hospitais, e ele entende que o estado tem que gerir o recurso, mas não ser o executor, construir
hospitais com a qualidade e de acordo com todas as normas e portarias, dando um prazo de 15
anos para gerir o hospital e o gestor responsável por tudo e o poder público entra com o recurso
para viabilizar, é muito mais barato, tanto que nas próprias santas casas dá pra ver uma diferença
de custo entre uma administração e outra, imagina a diferença entre os custos dos hospitais
públicos e as santas casas, a discrepância é enorme.

Síntese

 A remuneração do SUS não é justa e isso é claro;


 É importante atender convênios e particulares, seria melhor se tivessem mais serviços para
atender, mas a concorrência que existe com um hospital particular na cidade é grande e
coloca a santa casa na situação que se encontra;
 É muito difícil gerir um hospital com receita de prestação de serviços hospitalares, é
preciso o emprego de subvenções, pois sem essa ajuda a situação fica totalmente
desequilibrada.
 Para manter o equilíbrio financeiro é preciso rever a tabela do SUS, um maior empenho
da parte dos políticos em relação à subvenção.
 A situação financeira dessa entidade daqui a 5 anos, se nada mudar é provavelmente um
colapso, será um colapso da saúde.
 A sugestão para se manter uma sustentabilidade é a revisão da tabela, pagando um preço
justo e um maior empenho político em relação à saúde e em relação às santas casas.
 Em relação ao papel da prefeitura e políticos perante a santa casa nos faz perceber que
eles não têm a visão da importância da Santa casa, na verdade eles têm, mas não
conseguem fazer.
 Se a santa casa sobreviveria sem o SUS, o G2S1 nem consegue ver a santa casa sem o
SUS, mas o G2S2 acha financeiramente possível, mas talvez fosse difícil em termos
práticos, teria muita retaliação contra a entidade.
 Quanto a ter um plano de saúde próprio apesar de importante, consideraram inviável, e
gostariam sim de prestar mais serviços a planos de saúde e convênios e não de gerir um
plano de saúde próprio.

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 A EM - 29 depende de como vier esse dinheiro, acreditam que pode ajudar a melhorar
situação atual, mas que não vai resolver efetivamente a situação de penúria da saúde
publica no Brasil.

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