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UNA

CÂMPUS ITUMBIARA
BACHAREL EM DIREITO

FREDERICO CAMPOS DOS SANTOS JÚNIOR


GUILHERME HENRIQUE DE SOUZA FERREIRA
JAQUELINE DOMINGOS DA SILVA
MARIA EDUARDA SANTOS RODRIGUES
RAULLY LUCAS SILVA OLIVEIRA
RHAYSSA CHRISTINA OLIVEIRA CUNHA
VINÍCIUS ARAÚJO SETIN

FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA

Itumbiara – GO
2022
FREDERICO CAMPOS DOS SANTOS JÚNIOR
GUILHERME HENRIQUE DE SOUZA FERREIRA
JAQUELINE DOMINGOS DA SILVA
MARIA EDUARDA SANTOS RODRIGUES
RAULLY LUCAS SILVA OLIVEIRA
RHAYSSA CHRISTINA OLIVEIRA CUNHA
VINÍCIUS ARAÚJO SETIN

FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA

Trabalho apresentado à Universidade


UNA – Câmpus Itumbiara – para o curso
de bacharel em direito como requisito
parcial para aprovação na UC de
Pessoas, Relações Familiares e
Sucessórias do primeiro período.

Itumbiara – GO
2022
Sumário

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................1
2.2 Princípios norteadores do Direito de Família................................................3
2.2.1 Princípio da dignidade humana.......................................................................3
2.2.2 Princípio da solidariedade familiar...................................................................3
2.2.4 Princípio da igualdade.....................................................................................5
2.2.5 Princípio da afetividade....................................................................................6
2.2.6 Princípio da liberdade familiar..........................................................................6
2.3 Da filiação: os paradigmas da socioafetividade............................................7
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................10
REFERÊNCIAS...........................................................................................................11
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1. INTRODUÇÃO

Desde o início da humanidade são observados agrupamentos sociais


que se configuram como entidades familiares. E ao passo que a sociedade foi
evoluindo as características e configurações das mesmas foram
acompanhando tais avanços, de modo que o modelo atualmente vigente
pouco se assemelha com os encontrados no século passado (FUJITA, 2011;
LÔBO, 2022; TEPEDINO, 2022).
A filiação relaciona-se diretamente com os arranjos familiares, uma vez
que a família é o primeiro grupo social ao qual o indivíduo participa e ali se
encontra e se identifica com os demais membros. A filiação por sua vez pode
ser decorrente de laços consanguíneos e socioafetivos, como é o caso da
adoção.
Neste sentido, compreender como a afetividade afeta o ordenamento
jurídico para que o mesmo possa acompanhar os desenvolvimentos
relacionados ao direito de família e, consequentemente, no que tange a
filiação, se torna essencial. Assim, o objetivo geral desta pesquisa é analisar
a filiação socioafetiva, com foco no levantamento dos meios necessários para
o reconhecimento da mesma.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O instituto familiar no ordenamento jurídico

Ao analisar o desenvolvimento histórico da sociedade evidencia-se que as


instituições familiares são a base da mesma, uma vez que se constituem como a
primeira manifestação de agrupamento social da humanidade. No contexto nacional,
ela desde seus primórdios teve como referência basilar a carga moral, de modo que
representa e reflete os valores vigentes de cada época (BUCHMANN, 2013).
Conceitualmente compreende-se que a família é um produto do meio social,
ou seja, a mesma evolui e se transforma ao passo que novos costumes, valores e
culturas são inseridos na sociedade. Assim, ela não é estacionária, contudo, nota-se
que o modelo familiar patriarcal é predominante e se perpetuou ao logo dos anos e
teve como base o modelo familiar romano, neste modelo o parentesco independia
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do vínculo consanguíneo, onde as unidades familiares se constituíam em


verdadeiras unidades políticas, agrícolas, religiosas e sociais, logo o parentesco era
denominado agnatio ou político, e não cognatio (natural) (CARVALHO, 2020).
Ainda numa abordagem conceitual Carvalho (2020) leciona:
O significado da palavra família[...], vem do latim famulus, de famel
(escravo), designando o grupo de parentes que habitavam a mesma casa
(famulus) e que também cumpriam as funções de servos ou escravos para
os seus patrões, os gens, gentes no plural, ou seja, as famílias destacadas
e de expressão no universo social e político, de tradição ancestral,
baseadas na noção de solidariedade aristocrática, que exerciam funções de
relevo no seio da sociedade romana (CARVALHO, 2020, p. 44).

No ordenamento jurídico a família associa-se a duas estruturas, as quais


sejam: vínculos e grupos. Quanto aos vínculos, existem três vertentes que podem
coexistir ou existir de forma distinta, são elas: vínculos de sangue, vínculos de direito
e vínculos de afetividade. Enquanto que os grupos são decorrentes dos vínculos e
podem ser: grupo conjugal, grupo parental (pais e filhos) e grupos secundários
(outros parentes e afins) (LÔBO, 2022).
De acordo com Lôbo (2022, p. 18):
Em comparação com a chamada “família tradicional”, ou patriarcal, que
prevaleceu até as primeira décadas da segunda metade do século XX, a
família atual tem de lidar com as grandes transformações, como o
reconhecimento jurídico amplo das entidades familiares, a igualdade total
entre os filhos de qualquer origem, a liberdade de constituir e dissolver as
uniões familiares, a reconfiguração da autoridade parental concebida como
complexo de direitos e deveres recíprocos, a guarda compartilhadas ou
exclusiva de filhos pelos pais separados, o alcance e os limites dos
alimentos e das compensações econômicas, as disputas parentais, as
famílias concebidas ou ampliadas com técnicas reprodutivas, as
multiparentalidades, o direito ao reconhecimento genético e parentalidade
socioafetiva e outros desafios emergentes das relações de famílias.

A Assembleia Nacional Constituinte responsável pela promulgação da


Constituição de 1988, recolheu sugestões populares e de entidades dedicadas à
família, os resultados, em sua maioria, voltaram-se para os aspectos pessoais
superando os patrimoniais (LÔBO, 2022).
Calderón (2017, p. 7) apresenta que:
A afetividade passa a ser elemento presente em diversas relações
familiares contemporâneas, sendo cada vez mais percebida tanto pelo
Direito como pelas outras ciências humanas. Mesmo sem regulação
expressa, a sociedade adotou o vínculo afetivo como relevante no trato
relativo aos relacionamentos familiais.

Ao passo que “abandona” o modelo patriarcal observa-se que a sociedade


passa a adotar uma estrutura familiar diversa e pautada na afetividade. Diante dessa
nova realidade surgem novos arranjos familiares (monoparentais, anaparentais,
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reconstituídas, simultâneas, multiparentalidades, procriações assistidas,


inseminações pós-morte, uniões homoafetivas, poliafetivas, famílias simultâneas
etc.). Assim, a diversidade nas configurações pode ser oriunda de laços biológicos,
afetivos, registrais, jurídicos e matrimoniais (CALDERÓN, 2017).

2.2 Princípios norteadores do Direito de Família

Os princípios jurídicos, bem como os constitucionais, são expressos ou


implícitos. No que tange do direito de família, o mesmo é regido por princípios
fundamentais e gerais e pelos específicos que se relacionam diretamente a esta
área do direito, que são aplicáveis a situações determinadas (LÔBO, 2022). Assim,
pode-se agrupar os princípios jurídicos fundamentais e gerais da seguinte forma:
 Princípios fundamentais: da dignidade da pessoa humana e da
solidariedade familiar;
 Princípios gerais: da igualdade familiar, da liberdade familiar, da
responsabilidade familiar, da afetividade, da convivência familiar e do
melhor interesse da criança (LÔBO, 2022).

2.2.1 Princípio da dignidade humana

Previsto no primeiro artigo da Constituição Federal de 1988, sendo ele


a base para o Direito Brasileiro e, por isso, torna-se um superprincípio. Assim,
no contexto do Direito de Família ele repercute diretamente na aceitação da
pluralidade dos modelos familiares contemporâneos (BUCHMANN, 2013).
Deste modo, ao adotar este superprincípio como norteador do direito
brasileiro e no direito de família objetiva-se promover a aceitação dos
diversos arranjos familiares existentes, com vista a coibir que haja tratamento
diferenciando entre os mesmos, do mesmo modo que tem os mesmos efeitos
sobre os variados tipos de filiação (BUCHMANN, 2013; TEPEDINO, 2021).

2.2.2 Princípio da solidariedade familiar

É regido e oriundo dos vínculos afetivos e no seu conceito são


compreendidos os significados de fraternidade e reciprocidade. Soma-se a
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isto que pode ser encarado sob dois primas, os quais sejam: sob o aspecto
das relações interfamiliares ou intrafamiliares, que se pautam no respeito
mútuo e cooperação recíproca (BUCHMANN, 2013).
O exercício das liberdades não é absoluto. A liberdade nasce internamente
limitada pela solidariedade, na medida em que se vive em sociedade, na
intersubjetividade e em correlação. A pessoa só constrói sua autonomia na
interação com o outro, na troca de experiências, no processo dialético do
seu amadurecimento e aprendizado, pois são nesses espaços de
intersubjetividade que ela edifica sua personalidade. Dentre outros fatores,
para que esse ambiente familiar pudesse de fato cumprir seu novo escopo,
foi preciso estabelecer igualdade e democracia dentro da família, além de
proteção diferenciada àqueles que não se encontram em efetiva posição de
igualdade (TEPEDINO, 2021, p. 15)

É mister que este impacta no direito de família no sentido de objetivar o


estabelecimento dos deveres entre os membros da entidade familiar. De
modo que segundo ele todo indivíduo dentro da um arranjo familiar deve ser
tutelado considerando suas necessidades e relações. Soma-se a isto que
quando o membro apresenta algum tipo de vulnerabilidade a Constituição
Federal determina tutela qualitativa e quantitativamente diferenciada, estas
pessoas são crianças, o adolescente, o jovem, o idoso a pessoa com
deficiência e a mulher (TEPEDINO, 2021).
Buchmann (2013) expõe que a solidariedade familiar objetiva fornecer
os meios necessários para a existência do indivíduo vulnerável, todavia, cabe
ressaltar que não se deve limitar a assistência patrimonial, mas abranger os
aspectos afetivos e psicológicos que contribuem para a formação da
personalidade dos membros da unidade familiar.

2.2.3 Princípio do melhor interesse do vulnerável ou da criança

A intervenção estatal reequilibradora é legitimada pelo princípio da


solidariedade e tem como foco proteger os vulneráveis. Evidencia-se que, à
luz deste princípio, é dever do Estado subsidiar os meios necessários para
que os indivíduos vulneráveis sejam colocados em situação de igualdade com
os demais, independente da espécie de vulnerabilidade (TEPEDINO, 2021).
Tepedino (2021, p. 18) ainda leciona que:
No ambiente familiar, essa tarefa se faz ainda mais importante, impondo-se
à ordem jurídica mapear os indivíduos vulneráveis, oferecendo-lhes
instrumentos para desenvolver suas potencialidades e superar sua condição
de hipossuficiência. É por isso que, além da tutela geral e abstrata da
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pessoa humana nas suas relações, justifica-se ainda mais a tutela


específica concreta de todos os que estão nessa situação de vulnerados e,
por esse motivo, de desigualdade. Desse modo, no âmbito da tutela dos
vulneráveis, faz-se necessário identificar as necessidades específicas de
cada grupo e, a partir daí, construir hermenêutica que vise à salvaguarda de
seus interesses.

A aplicação deste princípio tem como interesse resguardar os direitos


da criança e adolescente, de modo que eles se sobreponham ao dos adultos.
Ele, portanto, atua como um critério significativo e no que tange a aplicação
da lei, assim é reconhecido que os filhos são a prioridade nas relações
paterno-filiais e não apenas o arranjo familiar em si (PEREIRA; FACHIN,
2022).

2.2.4 Princípio da igualdade

Um dos aspectos essenciais para as organizações jurídicas é a


igualdade e o respeito às diferenças, em especial para o Direito de Família,
pois quando não se respeita os mesmos não há dignidade do sujeito de
direitos, portanto não haveria justiça (PEREIRA; FACHIN, 2022).
O princípio da igualdade familiar está expressamente contido na CF/1988,
designadamente nos preceitos que tratam das três principais situações nas
quais a desigualdade de direitos foi a constante histórica: os cônjuges, os
filhos e as entidades familiares. O simples enunciado do § 5º do art. 226
traduz intensidade revolucionária em se tratando dos direitos e deveres dos
cônjuges, significando o fim definitivo do poder marital: “Os direitos e
deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo
homem e pela mulher”. O sentido de sociedade conjugal é mais amplo, pois
abrange a igualdade de direitos e deveres entre os companheiros da união
estável. O § 6º do art. 227, por sua vez, introduziu a máxima igualdade entre
os filhos, “havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção”, em
todas as relações jurídicas, pondo cobro às discriminações e desigualdade
de direitos, muito comuns na trajetória do direito de família brasileiro. O
caput do art. 226 tutela e protege a família, sem restringi-la a qualquer
espécie ou tipo, como fizeram as Constituições brasileiras anteriores em
relação à exclusividade do casamento (LÔBO, 2022, p. 65).

Antes da promulgação da Constituição de 1988 a desigualdade entre


os membros da estrutura familiar era uma realidade, contudo após este marco
houve alteração no cenário, do ponto de vista normativo. Assim, este princípio
trata-se de uma conquista extraordinária da sociedade democrática e, com
isso homem e mulher independente de sua orientação sexual e do seu papel
na entidade familiar passam a receber tratamento isonômico no âmbito da
família (TEPEDINO, 2021).
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2.2.5 Princípio da afetividade

Conceitualmente este princípio é a base do direito de família, e


normatiza as relações socioafetiva e a comunhão de vida. Teve também a
Constituição de 1988 como impulsionadora e é uma consequência das
mudanças e evoluções das famílias. Ele entrelaça-se com os princípios da
igual e da convivência familiar (LÔBO, 2022).
Vale apresentar que:
A afetividade, como princípio jurídico, não se confunde com o afeto, como
fato psicológico ou anímico, porquanto pode ser presumida quando este
faltar na realidade das relações; assim, a afetividade é dever imposto aos
pais em relação aos filhos e destes em relação àqueles, ainda que haja
desamor ou desafeição entre eles (LÔBO, 2022, p. 78).

Trata-se de um princípio não expresso, isto é, ele está implícito nas


normas constitucionais, ele ganha assento no ordenamento jurídico quando a
partir das mudanças e evoluções das famílias passam a se casar por amor,
de modo que os arranjos familiares perdem sua função de instituição. Logo, é
correto afirmar que não há família sem afeto (PEREIRA; FACHIN, 2002).
“Foi o princípio da afetividade que autorizou e deu sustentação para a
criação e a construção da teoria da parentalidade socioafetiva, que faz
compreender e considerar a família para muito além dos laços jurídicos e de
consanguinidade” (PEREIRA; FACHIN, 2022, p. 100).

2.2.6 Princípio da liberdade familiar

Anteriormente ao direito de família atualmente vigente observa-se que


o mesmo era rígido e estático, deste modo o exercício da liberdade dos seus
membros não era admitido quando contrariasse o modelo matrimonial e
patriarcal. Assim, este princípio relaciona-se ao direito de livre poder de
escolha ou autonomia de constituição, realização e extinção de entidade
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familiar. Portanto, este princípio liga-se visceralmente ao princípio da


igualdade (LÔBO, 2022).
A liberdade é um dos mais importantes princípios do direito de família e
realçada no atual Código Civil ao vedar qualquer forma de imposição ou
restrição na constituição da família (art. 1.513), na decisão livre de
planejamento familiar (art. 1.565), opção pelo regime de bens (art. 1.639),
aquisição e administração do patrimônio familiar (arts. 1.642 e 1.643),
escolha do modelo de formação educacional, cultural e religiosa dos filhos
(art. 1.634). A liberdade de constituir uma comunhão de vida familiar,
fundada no afeto, na solidariedade, no companheirismo entre seus
membros, descentralizada da figura única do casamento, valoriza o
relacionamento afetivo e a felicidade das pessoas. O novo conceito de
família afastou o pressuposto de que se constituía apenas pelo casamento e
a exigência de um par, facultando aos seus membros a liberdade de
escolha para formação da família (CARVALHO, 2020, p. 110).

Lôbo (2022) leciona que o princípio da liberdade não alude apenas à


criação, manutenção ou extinção de grupos familiares, mas à sua permanente
constituição e reinvenção. Ao passo que a família se desvincula de suas
funções tradicionais o Estado deixa de regular os deveres que atuam como
limitadores da liberdade, intimidade e da vida privada das pessoas.
O doutrinador ainda traz que este princípio se concretiza em normas
específicas e por isso permite que o filho exerça liberdade ao recursar o
reconhecimento voluntario da paternidade decorrente de seu pai biológico, de
modo que pode optar por constar em seu registro de nascimento apena o
nome da mãe (LÔBO, 2022).

2.3 Da filiação: os paradigmas da socioafetividade

A filiação é uma expressão dinâmica no âmbito jurídico, e por isso


evidencia-se que sua conceituação é complexa. Historicamente, o conceito
apresenta viés discriminatório, uma vez que os filhos eram classificados entre
legítimos (aqueles oriundos do matrimônio) e ilegítimos (filhos fora do
matrimônio) (BUCHMANN, 2013).
Numa abordagem etimológica o termo filiação tem origem no vocábulo
latino filiatio e significa descendência de pais e filhos. Isto é, trata-se da união
entre indivíduos pela reprodução, sendo, portando o vínculo entre pais e filhos
decorrente da fecundação natural ou pela técnica de reprodução assistida
homóloga (FUJITA, 2011).
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De acordo com Pereira e Fachin (2022, p. 394) a “filiação socioafetiva


é a filiação decorrente do afeto, ou seja, aquela que não resulta
necessariamente do vínculo genético, mas principalmente de um forte vínculo
afetivo. Pai é quem cria e não necessariamente quem procria”.
Quanto a necessidade de vínculo afetivo para a consolidação da
filiação socioafetiva o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia TJ-BA
apresenta o seguinte posicionamento:

DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE


SÓCIOAFETIVA C/C RESERVA DE HERANÇA. PATERNIDADE SOCIO-
AFETIVA. AUSÊNCIA DE VÍNCULO AFETIVO ENTRE AS PARTES.
SENTENÇA MANTIDA RECURSO IMPROVIDO. DIREITO DE FAMILIA
AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE SÓCIOAFETIVA C/C
RESERVA DE HERANÇA. PATERNIDADE SOCIO-AFETIVA AUSENCIA
DE VINCULO AFETIVO ENTRE AS PARTES. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO IMPROVIDO. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE
INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE SÓCIOAFETIVA C/C RESERVA DE
HERANÇA PATERNIDADE SOCIO-AFETIVA. AUSÊNCIA DE VÍNCULO
AFETIVO ENTRE AS PARTES. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO
IMPROVIDO DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE
PATERNIDADE SÓCIOAFETIVA C/C RESERVA DE HERANÇA...
PATERNIDADE SOCIO-AFETIVA. AUSÊNCIA DE VÌNCULO AFETIVO
ENTRE AS PARTES. SENTENÇA MANTIDA RECURSO IMPROVIDO. Para
a procedência da ação de reconhecimento de paternidade socioafetiva é
necessária a existência do vínculo sócio afetivo. Inexistente o vínculo, deve
ser negada a paternidade. (Classe: Apelação Número do Processo
0144097-03.2008.8.05.0001, Relator (a): Mauricio Kertzman Szporer,
Segunda Câmara Cível, Publicado em: 25/10/2016).

Segundo Lôbo (2022) a filiação demanda a qualificação de uma das


partes como filho ou filha e a outra como titular de autoridade parental, seja
por origem biológica ou socioafetiva. No âmbito do direito, por ela se tratar de
uma concepção cultural, uma vez que é o resultado da convivência familiar e
da afetividade.
Soma-se a isto que os direitos e deveres dos filhos de qualquer origem
são iguais, uma vez que antes da Constituição de 1988 era permitida a
adjetivação e discriminação devido as diferentes classificações da filiação, as
quais eram: filiação legitima, ilegítima, natural, adotiva, incestuosa,
matrimonial ou extramatrimonial, adulterina, contudo atualmente seu conceito
é único e não permite classificações e tratamento desigual entre as partes
(LÔBO, 2022).
Em síntese, se o autor mantém com alguém – pai registral, adotivo ou outra
pessoa – um vínculo de filiação socioafetiva, gozando da posse do estado
de filho, ainda assim pode buscar a identificação da verdade biológica. A
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ação será acolhida, mas a sentença terá meramente conteúdo declaratório.


Sem efeitos jurídicos outros, dando ao autor somente a segurança jurídica
sobre a relação de paternidade. Ou seja, se for adotado, se estiver
registrado por alguém ou mantiver com esses ou com outra pessoa que
desempenhe o papel de pai um vínculo de filiação, goza do estado de filho
afetivo. Já tem um pai. Por isso, a sentença de procedência não será levada
a registro, não se alterando a filiação que se considerou pela convivência.
Deve a Justiça privilegiar a verdade afetiva. A procedência da ação não terá
efeitos constitutivos, mas meramente declaratórios, sem reflexos jurídicos
ou de ordem patrimonial (DIAS, 2005 apud TARTUCE, 2021, p. 490).

Antes mesmo da promulgação das Constituição de 1988 já se


observava o afeto nas relações familiares, haja vista que a adoção já era uma
prática admitida no ordenamento jurídico brasileiro, assim, reconhecia-se a
filiação decorrente da vontade e do afeto, sobrepondo-se aos vínculos
sanguíneos (FUJITA, 2011; LÔBO, 2022). Logo, Lôbo (2022) leciona que o
afeto não tem como fator gerador a biologia, sendo, portanto, os laços de
afeto e solidariedade decorrentes da convivência familiar, e não do sangue.
É mister que o princípio da afetividade se prende ao princípio da
solidariedade, de modo que é uma consequência dos laços que unem as
pessoas, através da aceitação reciproca, e independe das diferenças de
idade, saúde ou riqueza patrimonial. Entende-se que o afeto transcende as
deficiências e limitação de cada indivíduo e se complementa na compreensão
e no amor (FUJITA, 2011).
A filiação socioafetiva é uma consequência dos avanços e
modificações nas relações familiares. Contudo, ela não emana apenas da
existência de sentimento de amor ou de afeto por si só, mas quando esta
relação gerar autoridade parental, isto é, quando dela se demande a real e
efetiva pratica necessária para a criação, sustento e educação entre pais e
filhos. Neste contexto, compreende-se eu os aspectos sentimentais não são
suficientes para a configuração de filiação, sendo necessário que se
exteriorize os comportamentos de cuidado relacionados com a criação e
educação daquele que se tem como filho (TEPEDINO, 2021).
Assim, nas demandas referentes à declaração de paternidade socioafetiva,
seja qual for a linha e o grau de parentesco cuja declaração se busca, o
mais relevante é a comprovação da posse de estado de filho – cujos
requisitos são nome, trato e fama –, a fim de que o Poder Judiciário possa
reconhecer a relação parental existente. Trata-se do mesmo percurso
trilhado pela união estável, ou seja, relação de fato para cuja produção de
efeitos requer-se o reconhecimento jurídico da posse de estado de casados
por meio de sentença declaratória (TEPEDINO, 2021, p. 237).
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Neste contexto, posiciona-se o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e


Territórios (TJ-DF):
DIREITO DE FAMÍLIA. FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA. POSSE DE ESTADO
DE FILHO NÃO CONFIGURADA. RECURSO DESPROVIDO.
1. “A filiação socioafetiva, que encontra alicerce no art. 227, § 6°, da CF/88,
envolve não apenas a adoção, como também parentescos de outra origem,
conforme introduzido pelo art. 1.593 do CC/02, além daqueles decorrentes
da consanguinidade oriunda da ordem natural, de modo a contemplar a
socioafetividade surgida como elemento de ordem cultural”.
(STJ, AC. unân.3ªT., REsp 1000356/SP, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 25.5.10,
DJe 7.6.10).
2. Para a caracterização da filiação socioafetiva, é necessário adquirir a
existência da posse de estado de filho, o que não ficou comprovado nos
autos. É indubitável que haja uma entidade familiar formada pela tia paterna
com sobrinhos, em que há amor mútuo e assistência financeira, mas não
está evidenciado que haja vinculo de filiação socioafetiva.
3. Apelação conhecida e desprovida.
(TJ-DF, AC 0003771-82.2017.8.07.0013, Rel. Carlos Rodrigues.
11/03/2020. Primeira Turma Cível. Data de Publicação: DJE
04/05/2020).

Fujita (2011, p. 111) ao abordar os aspectos que caracterizam e levam


ao reconhecimento da filiação socioafetiva apresenta que:
[...] é necessário que a paternidade, ou a maternidade, seja exercida com
responsabilidade, com convivência diuturna e saudável, com amorosidade e
res- peito irrestritos ao seu filho. Ser pai, ou mãe, é: prover as suas
necessidades vi- tais, compreender os limites de seu filho; sofrer com os
seus reveses; corrigir os seus erros; incentivar, aplaudir e vibrar com as
suas vitórias; ensinar-lhe a ser ho- nesto, leal e útil ao próximo e à
comunidade social. É educá-lo para a vida com amor e muito afeto.

Cabe salientar que a socioafetividade leva ao entendimento de que há


a possibilidade da existência de mais de um pai ou mãe, de modo que, assim,
aumenta-se os direitos e proteção à filiação. Ainda em tempo, salienta-se que
ela é um produto da construção doutrinária, decorrente da observação dos
costumes, uma vez que estes são a principal fonte do Direito. Neste sentido,
através de repercussão geral do STF, a paternidade socioafetiva não anula
ou impede o reconhecimento do vínculo de filiação biológica e ao estabelecer
essa multiparentalidades os direitos e deveres de todos os pais são os
mesmos (PEREIRA; FACHIN, 2022).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Historicamente a entidade familiar configura-se como a mais antiga


unidade social, e desde então ela sofre constantemente modificações e
11

alterações que se relacionam com as alterações comportamentais humanas e


das mudanças socioculturais, de modo que alguns dogmas deixam ser
dominantes e cedem lugar para novos valores que compatibilizam com a
atual sociedade.
Do mesmo modo a filiação, enquanto instituto do Direito de Família,
acompanha os progressos da sociedade e, portanto, se demonstra
igualmente como um conceito dinâmico no âmbito jurídico. Esta realidade
apresenta a evolução no tratamento isonômico aos filhos, extinguindo a
descriminação entre os legítimos e ilegítimos, com base na sua origem. Por
isso, é impossível não mencionar a contribuição da Constituição de 1988
como um dos responsáveis para promover essas mudanças.
A socioafetividade apresenta-se como um princípio implícito no
ordenamento jurídico brasileiro e no âmbito do direito de família constitui-se
um dos fatores essenciais para a configuração dos mais variados tipos de
arranjos familiares contemporâneos. Cabe salientar que apenas os fatores
afetivos e sentimentais não são suficientes para configurar a filiação
socioafetiva, e conforme observado na jurisprudência brasileira é necessário
que demais aspectos sejam analisados para a definição de tal situação.
Assim sendo, o princípio da socioafetividade atrela-se aos demais, tais
como o da solidariedade, da dignidade humana e do melhor interesse da
criança ou do adolescente, para que a filiação, quando não determinada por
fatores biológicos, promova a isonomia na garantia aos direitos do indivíduo
vulnerável (criança ou adolescente).
Conclui-se que há a possibilidade do reconhecimento da filiação
socioafetiva, portanto, não é possível que ele aconteça tendo como base
apenas a análise dos aspectos socioafetivos, mas também daqueles
relacionados a posse de estado de filho.

REFERÊNCIAS

BUCHMANN, Adriana. A paternidade socioafetiva e a possibilidade de


multiparentalidade sob a ótica do ordenamento jurídico pátrio. 2013. 78f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Direito) – Centro de Ciências
Jurídicas, Departamento de Direito. Florianópolis: Universidade Federal de Santa
Catarina, 2013. Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/104341>. Acesso em: 22 abr. 2022.
12

CALDERÓN, Ricardo. Princípio da afetividade no direito de família. 2. ed. Rio de


Janeiro: Forense, 2017.

CARVALHO, Dimas Messias de. Direito das famílias. 8. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2020.

FUJITA, Jorge Shigemitsu. Filiação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

LÔBO, Paulo. Direito Civil: famílias. 12. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2022.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha; FACHIN, Edson. Direito das famílias. 3. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2022.

TARTUCE, Flávio. Direito Civil: direito de família. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2021.

TEPEDINO, Gustavo. Fundamentos do direito civil: direito de família. 2. ed. Rio de


Janeiro: Forense, 2021.

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