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06/03/2019 IBDFAM : Instituto Brasileiro de Direito de Família

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Abandono afetivo. Modalidade de indenização. Custeio de tratamento  Enviar por Email  Salvar em PDF  Imprimir
psicológico
Relator: Des. Rui Portanova

Tema(s):
Abandono afetivo (http://www.ibdfam.org.br/jurisprudencia/tema/Abandono afetivo) Modalidade de indenização (http://www.ibdfam.org.br/jurisprudencia/tema/ Modalidade de indenização) Custeio de tratamento ps

Tribunal TJ-RS

Data: 30/08/2018

Chamada Jurisprudência na integra Ementa na Íntegra

RP
 
Nº 70073425175 (Nº CNJ: 0106632-50.2017.8.21.7000)
 
2017/Cível
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. REPARAÇÃO POR DANO MORAL DECORRENTE DE ABANDONO AFETIVO DE PAI AO FILHO. MODALIDADE DA
INDENIZAÇÃO. SENTENÇA EXTRA PETITA. INOCORRÊNCIA.
 
O pedido principal de toda e qualquer ação de reparação de dano, decorrente de ato ilícito, é a condenação do imputado causador do dano a reparar o dano.
 
A forma de reparação (se em dinheiro ou mediante pagamento de tratamento psicológico) é um provimento secundário e consequente do pedido principal, que é a
reparação do dano.
 
Portanto, não há nulidade na sentença que fixou a indenização no pagamento pelo pai/requerido de tratamento psicológico ao filho.
 
Isso porque, com base na prova pericial produzida no processo, o tratamento psicológico se mostrou a forma mais efetiva e com maior potencial de “reparar do
dano” do filho/apelante, decorrente do abandono afetivo paterno.
 
NEGARAM PROVIMENTO.
 
Apelação Cível
 
Oitava Câmara Cível
Nº 70073425175 (Nº CNJ: 0106632-50.2017.8.21.7000)
 
Comarca de Novo Hamburgo
R.P.W.
 
..
APELANTE
R.W.
 
..
APELADO
ACÓRDÃO
 
Vistos, relatados e discutidos os autos.
 
Acordam os Desembargadores integrantes da Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento à apelação.
 
Custas na forma da lei.

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Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes Senhores Des. Ricardo Moreira Lins Pastl e Des. Ney Wiedemann Neto.
 
Porto Alegre, 22 de junho de 2017.
 
DES. RUI PORTANOVA,
 
Relator.
 
RELATÓRIO
 
Des. Rui Portanova (RELATOR)
 
Inicialmente, acolho o relatório do Ministério Público de fl. 94:
 
“Trata-se de apelação interposta por ROBSON P W , representado pela genitora Marli P., inconformado com a sentença de fls. 83/86v, lançada nos autos de Ação
Ordinária de Indenização por Abandono Material e Afetivo que move contra RUDIMAR W, julgando parcialmente procedente o pedido, condenando o réu a arcar com
o pagamento de tratamento psicoterápico ao autor.
 
Alega o recorrente, em síntese, estar comprovado o abandono e o dano psicológico causado ao Autor. Requer o provimento do recurso e a condenação do recorrido
nos termos da inicial (fls. 87/91).
 
Sem contrarrazões em face da revelia, vieram os autos com vista.”
 
Neste grau, o Ministério Público opinou pelo provimento do recurso.
 
Registro que foi observado o disposto nos artigos 931 e 934 do Código de Processo Civil, tendo em vista a adoção do sistema informatizado.
 
É o relatório.
 
VOTOS
 
Des. Rui Portanova (RELATOR)
 
O caso.
 
Trata-se de ação de indenização por dano moral ajuizada por ROBSON, representado pela genitora, em face do seu pai RUDIMAR.
 
Narrou que conviveu com o pai/requerido até seus 04 anos de vida, período em que o requerido lhe prestou toda a assistência moral, afetiva e material esperada
pelo autor.
 
Contudo, a partir dos 04 anos de idade, por ocasião da separação dos genitores, alegou que o genitor o abandonou por completo, sem lhe prestar qualquer amparo e
afeto.
 
Aos 12 anos de idade ajuizou a presente ação de indenização por abandono afetivo, e pediu fosse o pai condenado a pagar indenização no valor de R$ 50.000,00,
para reparar o dano moral.
 
Devidamente citado, o pai/requerido não contestou.
 
Ao final, foi proferida sentença que identificou que o requerido praticou ato ilícito indenizável, bem como que o filho/autor sofreu dano psicológico (atestado por
perícia) e o nexo causal entre a omissão do dever de atenção e cuidado do réu e o dano sofrido pelo autor.
 
Na sentença, a indenização consistiu na condenação do pai/requerido ao pagamento de tratamento psicológico ao filho, até que tivesse alta da terapia.
 
Apelou o autor.
 
Disse que o pedido inicial era para que o pai indenizasse o abandono afetivo mediante pagamento em dinheiro (R$ 50.000,00). E não em tratamento psicológico.
 
Neste grau, o Ministério Público concordou com a tese recursal, dizendo que a condenação ao pagamento de tratamento psicológico caracteriza julgamento extra
petita, devendo ser reconhecida a nulidade da sentença e desde logo julgado o mérito, para condenar o réu a pagar indenização em dinheiro.
 
Requisitos da obrigação de reparação de dano
 
Antes de mais, importa termos bem claramente que não está em discussão neste recurso a ocorrência dos pressupostos necessários ao surgimento da obrigação
de reparação de dano moral.
 
Com efeito, está muito bem demonstrada a prática do ato ilícito pelo pai/apelado, o dano sofrido pelo filho/apelante e o nexo causal entre ato ilícito e o dano.
 
No tocante aos requisitos para responsabilização civil, recolho a promoção do Ministério Público (fl. 95):
 
“(...)
 
Para a configuração da responsabilidade civil, mostra-se necessária a configuração de três elementos: conduta (positiva ou negativa) , dano e nexo de causalidade .
Vale ressaltar que o Código Civil filiou-se à teoria da responsabilidade subjetiva (teoria da culpa), ressalvadas algumas exceções previstas em lei (responsabilidade
objetiva), no sentido de o sujeito ser responsabilizado por um ato, quando provado o nexo causal entre o seu comportamento e o dano gerado. Sobre o tema, leciona
Fabrício Zamprogna Matiello:
 

http://www.ibdfam.org.br/jurisprudencia/9214/Abandono%20afetivo.%20Modalidade%20de%20indeniza%C3%A7%C3%A3o.%20Custeio%20de… 2/5
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“O Código Civil assentou a teoria da culpa, de maneira que toda noção de responsabilidade civil está irremediavelmente atrelada à construção jurídica em torno dela,
ressalvadas algumas exceções (...). Entretanto, simplificadamente elaborou a fórmula que prestigia a necessidade de nexo causal entre a conduta do agente e o
resultado, do que deflui a obrigação de reparar o dano.
 
“Segundo a responsabilidade civil subjetiva, a responsabilidade civil repousa sempre na certeza da presença de culpa por parte do agente. Diz-se subjetiva porque
relacionada com a pessoa em seu aspecto volitivo, ou, ao menos, na revelação da conduta antijurídica fundada em liame mais tênue. Noutras palavras, o agente
quer o resultado nocivo ou assume o risco de produzi-lo, ou ainda atua com imprudência, negligência ou imperícia. No primeiro caso haveria dolo; no segundo, culpa,
mas a legislação considera-as como praticamente equivalentes, sob a denominação genérica de culpa.
 
“A teoria da responsabilidade subjetiva embasa-se e pressupõe uma conduta viciada pela culpa. Assim, estará o agente obrigado a reparar o dano sempre que seus
atos ou fatos violem direito ou interesse alheio, contando com factível a imputação subjetiva” .
 
Versa o artigo 186 do Código Civil que “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.”.
 
O ECA, em seus artigos 19 e 22, estabelece que toda a criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família, e aos pais incumbe o dever
de sustento, guarda e educação dos filhos menores. Há, pois, o direito dos filhos e dever dos pais em prepará-los para a vida. Nos mesmos termos os artigos 229 e
227 da Constituição Federal.
 
A violação a esse direito/dever restou demonstrada a contento, seja pelas alegações da inicial, não rebatidas ante a revelia, seja pelo contexto retratado na
audiência da execução de alimentos (fl. 64).
 
O dano veio comprovado por meio do Parecer Psicológico das fls. 50/52.
 
No referido estudo a psicóloga salienta que:
 
“O afeto é embotado, depressivo, apresentando-se apático e introspectivo. A linguagem está desenvolvida, porém é um menino que fala pouco. Robson interage
pouco com o ambiente, limitando-se a responder as questões. Suas respostas são pouco elaboradas e suas verbalizações se voltam sempre a saudade do pai. Sua
fala quase some.”
 
“Robson é um adolescente que apresenta bons aspectos físicos, no entanto, indica um embotamento emocional. Esta apatia o torna bastante introspectivo e limita
suas interações. Falta vivacidade no olhar. Toda esta tristeza ele reporta ao pai, pois sente muita saudade. Todas suas verbalizações acabam sempre referindo de
alguma forma a figura paterna.”
 
O nexo de causalidade é perceptível, sendo o estado emocional do autor, com características de tristeza e “embotamento” como afirmado pela expert, o resultado da
negligência e abandono da figura paterna com quem o menino criou sólidos vínculos nos primeiros anos de vida e teve rompida essa convivência de forma abrupta.
 
Conforme bem pontuado pelo eminente Promotor de Justiça, Doutor Alessandro Salazar Rossatto em seu Parecer das fls. 65/67:
 
“Tanto na petição inicial – não contestada –, quanto na avaliação psicológica do autor, ficou demonstrado que o réu, depois de ter convivido por quatro anos com o
filho, separou-se da mãe do menino e nunca mais manteve contato com RÓBSON.
 
A relação parental, plenamente estabelecida nos primeiros anos de vida do requerente, foi injustificada e abruptamente rompida pelo réu, que, por omissão, violou
seu dever jurídico de assistir, cuidar e educar o filho.
 
Até mesmo o Tribunal de Justiça gaúcho, embora reticente quanto à possibilidade de indenização por abandono parental, entende que em casos idênticos ao dos
autos é possível a responsabilização do pai ou mãe que, depois de constituir sólida relação de afeto com o filho, o abandona injustificadamente. Exemplo deste
entendimento é o acórdão abaixo, proferido recentemente:
 
“APELAÇÃO CÍVEL. ABANDONO AFETIVO. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL À FILHA. DESCABIMENTO. AUSÊNCIA DE ATO ILÍCITO ENSEJADOR DA INDENIZAÇÃO.
AGRAVO RETIDO NÃO CONHECIDO. 1. Não é conhecido o agravo retido, por não ter sido postulada sua apreciação ao ensejo da apelação. 2. No direito de família, o
dano moral é, em tese, cabível. No entanto, imprescindível que haja a configuração do ato ilícito. 3. É preciso distinguir duas situações possíveis. A primeira consiste
em que, tendo o filho sido criado pelo genitor dentro de determinado padrão de afeto e cuidado, vem o casal a separar-se e, a partir daí, o pai se comporta como se a
separação do casal conjugal significasse também o rompimento da relação parental (com os filhos). Nesse caso, é razoável que seja esse comportamento objeto
de reparação por dano moral, porque houve um rompimento injustificável da relação pai-filho, que antes era consolidada. Na segunda hipótese, que é a dos autos,
jamais houve qualquer relação afeto e cuidado por parte do genitor, que somente veio a ser declarado tal por decisão judicial, no bojo de uma ação investigatória.
Neste contexto, não se justifica a imposição de reparação moral, porque jamais existiu um laço de cuidado e afeto entre pai e filho. E esse laço não pode ser
imposto por decisão judicial. NÃO CONHECERAM DO AGRAVO RETIDO. NEGARAM PROVIMENTO AO PRIMEIRO APELO E DERAM-NO AO SEGUNDO. UNÂNIME.”
(Apelação Cível Nº 70063562151, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em 18/06/2015) (grifou-se)”
 
Nestes termos, comprovado o direito violado, a culpa, o dano e o nexo causal, viável o dever de indenizar.
 
Esse dever de indenizar foi bem reconhecido na sentença em conformidade com o postulado pelo Autor, de forma que merece ser mantido esse entendimento, à
míngua de recurso da parte ex adversa.”
 
APELAÇÃO: Conteúdo da indenização
 
Este é o tema objeto do recurso de apelação do autor.
 
O autor pediu na inicial que a indenização pelo dano sofrido fosse em dinheiro (R$ 50.000,00).
 
Mas a sentença, com base na perícia psicológica judicial, fixou a indenização, mediante condenação do réu/apelado ao pagamento de tratamento psicológico do
menor, para superação do abalo moral sofrido.
 
É que entendeu a perita que a entrega de dinheiro ao adolescente não tem potencial de reparar o dano psicológico.
 
Eis a sentença atacada:
 

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“Tratando-se de dano extrapatrimonial, a lei não estabelece critérios objetivos. O que a doutrina e a jurisprudência têm referendado, em regra, é que o valor da
indenização leve em conta a situação econômica das partes, as circunstâncias do evento e suas consequências.
 
Deve evitar-se, ainda, que o valor arbitrado represente enriquecimento injustificado da vítima em desfavor do empobrecimento do ofensor.
 
Outro aspecto merecedor de dimensionamento quando se trata do dano moral é o caráter profilático-pedagógico da indenização. Do mesmo modo, a indenização
fixada deve servir como meio de evitar a repetição de casos semelhantes.
 
No caso dos autos, entende-se a presença de uma particularidade .
 
É que a fixação de indenização em expressão monetária não atingirá os legítimos fins compensatórios.
 
E quem sinaliza com a adequada forma de indenizar o autor, é a Sra. Psicóloga que avaliou o autor. Referiu a abalizada profissional que “somente uma terapia com
um acompanhamento mais prologado poderá estabelecer esta ligação (referindo-se à ligação entre pai e filho). ”
 
Mais adiante, complementa a expert, “Há indicação para psicoterapia no sentido de trabalhar as questões de abandono, melhorar suas interações sociais, ser mais
participativo, construir e buscar novos ideais.” (fl. 52)
 
A forma de compensar o dano imposto ao autor, pois, é a submissão desse a tratamento psicoterápico, às expensas exclusivas do réu, com duração até que Robson
receba alta do profissional que o atenda .
 
Quiçá, por via transversa (necessidade de pagar o tratamento) busque o réu efetiva e salutar aproximação com seu filho, medida que reduzirá o tempo de tratamento
(efeito infinitamente de menor importância) e proporcionará o resgate da convivência entre pai e filho (esse sim, efeito altamente benefício a todos envolvidos).
 
Por fim, o fato de a parte autora postular o arbitramento de dano moral em valor não inferior a 50 salários-mínimos não impede o julgador de determinar que o réu
cumpra obrigação de fazer em lugar de obrigação de pagar, custeando o tratamento psicoterápico do autor.
 
Primeiro, porque dependendo da duração do tratamento, poderá o valor desse até superar o que pede o autor.
 
Segundo, porque a se observar a estrita adstrição ao pedido, o juízo aqui seria de improcedência. E por fim, porque a forma de efetivamente compensar o mal
causado, a partir da ideia de preservação do melhor interesse do infante, é o tratamento psicoterápico e não a entrega de dinheiro .”
 
Opinião do Ministério Público.
 
Neste grau e jurisdição, o Ministério Público concordou com a tese do recurso de apelação, promovendo inclusive pela nulidade da sentença, entendendo ter a
sentença julgado de forma extra petita.
 
Eis o parecer (fl. 96):
 
“Todavia, o ponto que vicia o ato sentencial é justamente a natureza e quantificação da condenação.
 
Na inicial o Autor faz pedido certo e determinado: quer ver o requerido condenado a uma indenização não inferior a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).
 
O MM Juízo sentenciante, acolhendo o pleito indenizatório, condenou o réu ao pagamento de tratamento psicoterápico ao autor pelo período que entender
necessário o profissional que preste o atendimento, sob pena de um salário mínimo nacional por mês no caso de descumprimento.
 
Assiste razão ao magistrado sentenciante quando sugere que a melhor forma de lograr-se à reparação do dano seria na modalidade de tratamento psicológico.
Todavia, não poderia aplicá-lo com transbordo dos pedidos certos e determinados produzidos na inicial. Não poderia condenar o réu a patrocinar o tratamento
quando o pedido inicial é para condenação em quantia certa.
 
Estando a condenação fora ou à margem do pedido inicial, entende-se nula a sentença por extra petita, devendo ser desconstituída pelo Tribunal.
 
Porém, estando a causa madura, aplica-se a regra do artigo 1.013, § 3º, inciso II do CPC/15, para fins de que seja julgada de plano.
 
O dever de indenizar já se encontra analisado acima.
 
No que tange ao quantum indenizatório, entende-se ponderável a fixação na monta de 24 (vinte e quatro) salários mínimos, piso nacional, montante este que se
entende razoável e apto a custear as despesas do Autor com a indicada psicoterapia pelo período de dois anos.
 
Os danos gerados com o negligenciamento e a ausência paterna são de difícil reparação com o mero pagamento de indenização. Todavia, essa condenação com
certeza viabilizará ao Autor o tratamento necessário, única forma possível de minimizar os efeitos psíquicos do abandono .” (destaquei)
 
ANÁLISE
 
Com a devida vênia ao recorrente e ao digno representante ministerial, penso que o juiz não está vinculado ao quantum indenizatório, tampouco à modalidade da
indenização requerida pela parte requerente.
 
Veja-se que o pedido principal de toda e qualquer ação de reparação de dano, decorrente de ato ilícito, é a condenação do imputado causador do dano a reparar o
dano.
 
A forma de reparação (se em dinheiro/e quanto - ou mediante pagamento de tratamento) é um provimento secundário e consequente do pedido principal, que é a
reparação do dano.
 
Portanto, não há nulidade na sentença que fixou a indenização no fornecimento de tratamento psicológico.
 
Isso porque, com base na prova pericial produzida no processo, o tratamento psicológico se mostrou a forma mais efetiva e com maior potencial de “reparar do
dano” do filho/apelante, decorrente do abandono afetivo paterno.
 

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Não é o dinheiro. É o tratamento psicoterápico.
 
Vale repetir o que disse a perita psicóloga (fl. 52):
 
“A linha entre a causa e a consequência é bastante delicada. Uma série de fatores pode ser responsáveis pelos sintomas apresentados pelo menino. Perdas de
figuras parentais em tenra idade podem provocar abalos emocionais que tendem a ser reprimidos no inconsciente, e somente uma psicoterapia com tratamento
mais prolongado poderá estabelecer esta ligação .
 
Há indicação para psicoterapia no sentido de trabalhar as questões de abandono , melhorar suas interações sociais, ser mais participativo, construir e buscar novos
ideais.”
 
Assim, a sentença que atendeu ao pedido principal de condenar o réu a “reparar o dano”, não é extra petita.
 
Não podemos perder de vista o contexto peculiar desta ação indenizatória.
 
Quem pede a indenização é um pré-adolescente de 12 anos de idade.
 
E tratando-se de criança e adolescente, há uma certa discricionariedade do juiz para aplicar a medida mais eficaz a proteger o melhor interesse do menor.
 
Tomo a liberdade para fazer uma analogia com o instituto da alienação parental.
 
Reconheço que não estamos a tratar aqui de um típico caso de alienação parental.
 
Com efeito, aqui não há uma prática alienadora de um parente, com a intenção de alienar um outro genitor ou parente de menor.
 
Mas a analogia é válida, pois na Lei da Alienação parental (Lei nº 12.318/2010)é expressamente dito que o juiz poderá determinar acompanhamento psicológico,
inclusive para hipóteses que não sejam típicas práticas de alienação parental.
 
É o que consta no artigo 6º da referida Lei:
 
Art. 6º Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma
ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos
processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:
 
(...)
 
IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
 
Portanto, mesmo sendo o abandono afetivo do pai/apelado “uma outra conduta”, não típica de alienação parental, é permitido ao juiz determinar o tratamento
psicológico.
 
Assim, não há defeito de congruência entre o pedido e a sentença pois, à vista da prova técnica, o juiz fixou a modalidade de indenização que melhor potencial
apresenta para reparar o dano sofrido pelo requerente/apelante.
 
ANTE O EXPOSTO, nego provimento à apelação.
 
Des. Ricardo Moreira Lins Pastl - De acordo com o (a) Relator (a).
 
Des. Ney Wiedemann Neto - De acordo com o (a) Relator (a).
 
DES. RUI PORTANOVA - Presidente - Apelação Cível nº 70073425175, Comarca de Novo Hamburgo: "NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME."
 
Julgador (a) de 1º Grau: GUSTAVO BORSA ANTONELLO
 
? “A teoria da responsabilidade objetiva filiou-se essencialmente à idéia do risco, de modo que, seguindo-se a linha de raciocínio proposta, aquele que provoca o
dano fica automaticamente obrigado à recomposição, independentemente de averiguação concernente à culpa” (MATIELLO, Fabrício Zamprogna. Dano moral, dano
material e reparação. 6.ed. rev. e atual. Porto Alegre: Editora Dora Luzzato, 2006, p. 28).
 
? MATIELLO, Fabrício Zamprogna. Dano moral, dano material e reparação. 6.ed. rev. e atual. Porto Alegre: Editora Dora Luzzato, 2006, p. 25/27.
 
1

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