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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2018.0000525658

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2020511-58.2018.8.26.0000 e código 9068320.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2020511-58.2018.8.26.0000, da Comarca de Campinas, em que é agravante GAFISA
SPE-130, é agravado JOSÉ FERNANDO MAGNABOSCO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 6ª Câmara de Direito Privado do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por PAULO ALCIDES AMARAL SALLES, liberado nos autos em 18/07/2018 às 17:23 .
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores PAULO ALCIDES


(Presidente), EDUARDO SÁ PINTO SANDEVILLE E ANA MARIA BALDY.

São Paulo, 18 de julho de 2018.

Paulo Alcides
Relator
Assinatura Eletrônica
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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

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VOTO Nº: 33245

AGRAVO DE INSTRUMENTO : 2020511.2018.8.26.0000


COMARCA : CAMPINAS
AGRAVANTE(S): GAFISA SPE-130 SÃO PAULO SP EMPREENDIMENTOS
IMOBILIÁRIOS
AGRAVADO(S) : JOSÉ FERNANDO MAGNABOSCO
JUIZ (A) : FÁBIO HENRIQUE PRADO DE TOLEDO

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AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. Venda e compra de
imóvel. Pretensão de cancelamento do gravame e outorga de
escritura. Tutela de evidência deferida. Imóvel quitado. Alto
grau de probabilidade do direito invocado. Questão
consolidada através da Súmula nº 308 do E. STJ. Tutela de
evidência que não tem por fim afastar o perigo de dano.
Requisitos previstos no artigo 311 do CPC/2015 atendidos.
Baixa da hipoteca que se impõe. Prazo exíguo não configurado.
Providência que é fato corriqueiro na rotina da empresa.
Astreintes. Penalidade de caráter inibitório, com propósito de
compelir o devedor a cumprir a obrigação. Valor adequado,
que somente será exigido em caso de desídia no cumprimento
do comando judicial. Litigância de má-fé não configurada, pois
ausente intenção inequívoca de uma das partes de praticar
atos atentatórios à dignidade da Justiça. Decisão mantida.
RECURSO DESPROVIDO.

GAFISA SPE 130 SÃO PAULO SP


EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS interpõe recurso de agravo de
instrumento contra a r. decisão (fls. 74/75), proferida na ação de
obrigação de fazer, proposta por JOSÉ FERNANDO MAGNABOSCO, que
deferiu a tutela de evidência para determinar que a requerida proceda à
imediata baixa da hipoteca gravada sobre o imóvel.

Sustenta, em síntese, que era do conhecimento


do agravado (cláusula 6.4 do compromisso de venda e compra) a
obtenção de recursos para financiamento da obra através de instituições
financeiras, sendo comum no mercado imobiliário a exigência de que o
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bem objeto do contrato seja dado em garantia. Afirma que a liberação


da hipoteca não depende da incorporadora, mas do banco, e que não é

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possível a imposição de astreintes. Argumenta que há, ainda, os
trâmites burocráticos do Cartório. Considera cumulativos os requisitos
previstos no artigo 311 do CPC/2015, inexistindo o perigo de dano a
autorizar a concessão da tutela. (fls. 01/14)

Indeferido o pedido liminar. (fls. 290/291)

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Contraminuta foi apresentada. (fls. 294/308)

Indeferido o novo pedido de efeito suspensivo,


formulado contra a r. decisão proferida nos embargos de declaração, os
quais foram acolhidos para determinar que a ré providenciasse, no
prazo de quinze dias, a imediata baixa da hipoteca, pena de multa diária
de R$ 1.000,00, até o limite de R$ 20.000,00 (fls. 310/313).

É o relatório.

O novo CPC (Lei n° 13.105/2015) trouxe


significativa alteração no que toca ao regime das tutelas provisórias. Se
no antigo diploma a urgência era requisito imprescindível à sua
concessão, o atual CPC, em seu artigo 294 dispõe que “A tutela
provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência”.

A tutela será de urgência quando houver


“elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou risco ao resultado útil do processo” (CPC, art. 300, caput).

Seus pressupostos são o fumus bonis iuris


(probabilidade do direito) e o periculum in mora (risco de dano
irreparável a direito do postulante).

Mas, como dito, a tutela provisória pode também


estar fundada em evidência (artigo 311), modalidade de que dispensa a
urgência. Segundo Marcus Vinicius Rios Gonçalves:
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“É o legislador quem define quais são as


situações consideradas indispensáveis para que o juiz defira a

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tutela de urgência. Elas estão enumeradas nos quatro incisos
do artigo 311, e são muito diferentes daquelas exigidas na
tutela de urgência. A de evidência não tem por fim afastar um
perigo, e será deferida mesmo que ele não exista. Para
compreender a sua finalidade, é preciso lembrar que é

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normalmente o autor quem sofre com a demora do processo,
pois é ele quem formula a pretensão, que permanece não
atendida até o final (ou até determinada fase). Cabe ao autor,
em regra, suportar o ônus da demora. A tutela de evidência
inverte esse ônus (...)” (Direito Processual Civil
Esquematizado, 7ª Edição, Ed. Saraiva, p. 351).

Ainda sobre o tema, Teresa Arruda Alvim


Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e
Rogério Licastro Torres de Mello ensinam que:

“A tutela de urgência está precipuamente voltada a


afastar o periculum in mora, serve, portanto, para evitar um
prejuízo grave ou irreparável enquanto dura o processo
(agravamento do dano ou a frustração integral da provável
decisão favorável), ao passo que a tutela de evidência
baseia-se exclusivamente no alto grau de probabilidade
do direito invocado, concedendo, desde já, aquilo que
muito provavelmente virá ao final” (Primeiros Comentários
ao Novo Código de Processo Civil: Artigo por artigo, RT, 2015,
p. 1031 grifo nosso).

Na espécie, os requisitos para a concessão da


tutela de evidência estão presentes.

Como bem pontuou o douto Juízo monocrático,


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“há documentação comprobatória de quitação do imóvel cuja hipoteca


se requer a baixa. Além disso, escora-se o requerente no que dispõe a

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Súmula 308 do STJ: 'A HIPOTECA FIRMADA ENTRE A CONSTRUTORA E
O AGENTE FINACEIRO, ANTERIOR OU POSTERIOR À CELEBRAÇÃO DA
PROMESSA DE COMPORA E VENDA, NÃO TEM EFICÁICA PERANTE OS
ADQUIRENTES DO IMÓVEL.'” (fl. 74)

De se anotar que a agravante assinou a

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“Declaração de Quitação” em 07.08.2017 (fl. 134), sendo certo que,
mesmo após o agravado ter solicitado a baixa do gravame através de e-
mail em 26.10.2017 (fls. 172/173), uma vez que comprou o imóvel à
vista em julho/2017 (“contrato de compromisso de compra e venda e
outras avenças” assinado em 30/06/2017 fl. 110/133), e tê-la
notificado em 13.11.2017 (fls. 174/187), restou evidenciado que até a
data da propositura da ação em 08.12.2017, a recorrente não havia
adotado as providências para o cancelamento da hipoteca e a outorga
da escritura, as quais possibilitariam o registro da propriedade em nome
do agravado na matrícula do imóvel.

Por óbvio que entraves envolvendo o agente


financeiro ou o Cartório devem ser resolvidos diretamente pela
vendedora, mostrando-se inoponíveis ao comprador e não servem de
escusa para que não se cancele a hipoteca existente sobre o bem.

No tocante à determinação para que a baixa do


gravame seja providenciada no prazo de quinze dias, de se ressaltar
que a recorrente não apresentou razão motivada para demonstrar a sua
impossibilidade de cumprimento da decisão de primeira instância no
prazo fixado, alegando apenas ser ele diminuto.

Por certo que a recorrente, conhecedora de todas


as nuances relativas à venda e compra de imóveis, em especial no que
se refere ao cancelamento de hipotecas, conta com quadro de
funcionários aptos pra resolver qualquer questão administrativa com
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presteza.

Não há porque ser dilatado o prazo fixado pelo

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douto Juízo monocrático.

Quanto à multa imposta, há de se ter em conta


que as astreintes buscam assegurar o resultado prático equivalente ao
do adimplemento, dando efetividade ao comando judicial, ou seja, o seu
objetivo não é obrigar a ré a pagar o valor da multa, mas compeli-la a

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cumprir a obrigação na forma específica.

Por se tratar de sanção inibitória, o seu valor


não deve guardar relação com o valor da causa ou com a obrigação.

Segundo ensinam Nelson Nery Júnior e Rosa


Maria Andrade Nery, “O valor deve ser significativamente alto,
justamente porque tem natureza inibitória. O juiz não deve ficar com
receio de fixar o valor em quantia alta, pensando no pagamento. O
objetivo das astreintes não é obrigar o réu a pagar o valor da multa,
mas obrigá-lo a cumprir a obrigação na forma específica. A multa é
apenas inibitória. Deve ser alta para que o devedor desista de seu
intento de não cumprir a obrigação específica. Vale dizer, o devedor
deve sentir ser preferível cumprir a obrigação na forma específica a
pagar o alto valor da multa fixada pelo juiz” (Código de Processo Civil
Comentado, p. 764, RT, 6ª ed.).

Assim, levando-se em conta que o imóvel foi


adquirido à vista em julho/2017, não se afigura excessiva a multa
arbitrada, a qual exercerá satisfatória coerção para que seja cumprido o
que foi decidido em antecipação de tutela.

Com relação à litigância de má-fé feita pelo


agravado em sede de contraminuta, ela não prospera, pois somente
pode ser imposta em hipóteses em que reste inequívoca a intenção de
uma das partes de praticar atos atentatórios à dignidade da Justiça.
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Não se vislumbra qualquer das condutas


previstas no artigo 80 do CPC/2015.

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O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que “na
litigância temerária, a má-fé não se presume, mas exige prova
satisfatória, não só de sua existência, mas da caracterização do dano
processual a que a condenação cominada na lei visa a compensar” (STJ,
Resp nº 76.234/RS, Rel. Min. DEMÓCRITO REINALDO, j. 24.4.97).

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Concluindo, a r. decisão agravada é de ser
mantida.

Ante o exposto, nega-se provimento ao agravo.

PAULO ALCIDES AMARAL SALLES


Relator

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