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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SAO PAULO

ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA
REGISTRADO(A) SOB N°

>01898049*

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

ACÓRDÃO

DECLARATÓRIA - Consórcio - Bem imóvel - Contrato de adesão -


Contemplação em lance - Reajuste nas parcelas vincendas -
Impossibilidade - Aplicação da cláusula 40 do contrato - Recurso
improvido.

Vistos, relatados e discutidos e s t e s a u t o s de


APELAÇÃO N° 7 . 2 4 8 . 1 8 9 - 1 , da Comarca de ITÚ, s e n d o apelante
ITÁLIA DA GRAÇA RBIS e apelado CONSAVEL ADMINISTRADORA
DE CONSÓRCIOS LTDA..

ACORDAM, em Vigésima Primeira C â m a r a de Direito


Privado do Tribunal de J u s t i ç a , por votação u n â n i m e , negar provimento
ao r e c u r s o .

Trata-se de ação pelo rito ordinário proposta por


ITÁLIA DA GRAÇA REIS em face de CONSAVEL ADMINISTRADORA
DE CONSÓRCIOS LTDA..
Alegou a a u t o r a ter celebrado, em 15.03.2002,
contrato de adesão com a e m p r e s a CONSAVEL ADMINISTRADORA DE
CONSÓRCIOS LTDA., atual administradora GANDINI CONSÓRCIO
NACIONAL S / C LTDA., adquirindo os direitos e obrigações relativas à
Cota n° 151.01, do Grupo n° 1020, objetivando a aquisição de b e m
imóvel avaliado em R$ 88.309,57 (oitenta e oito mil, trezentos e nove
reais e c i n q ü e n t a e sete centavos) Disse ter p a c t u a d o o p a g a m e n t o em
120 m e s e s p a r a integralizar o percentual ideal, sendo c a d a parcela
equivalente a 0,9667% do total do débito Alegou ter amortizado 5 3 , 0 1 %
do total com a contemplação de u m lance no valor de R$ 6 2 . 5 6 1 , 3 6
(sessenta de dois mil, q u i n h e n t o s e s e s s e n t a e u m reais e trinta e seis
centavos), além do pagamento de 42 parcelas, atingindo u m percentual
de amortização de 71,784%, r e s t a n d o a p e n a s 32,7297%, inserida a taxa
administrativa (16%), totalizando R$ 38.657,07 (trinta e oito mil,
seiscentos e c i n q ü e n t a e sete reais e sete centavos). Alegou ter direito ao
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ajuste das parcelas vincendas, com percentual de 0,4196%, e não mais


0,9667%. Disse que a ré se negou em receber tais valores. Requereu a
autorização para consignar os valores que reputa devidos; a declaração
de extinção das obrigações a serem consignadas, reajustando-se os
valores das parcelas vincendas, bem como ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios.
A empresa-ré apresentou contestação e disse ter
celebrado contrato de consórcio com a autora para aquisição, em 120
parcelas, de bem imóvel avaliado à época em R$ 88.309,57 (oitenta e
oito mil, trezentos e nove reais e cinqüenta e sete centavos). Alegou que
a administração do grupo de consórcio, da qual a autora é participante,
foi transferido para a empresa-ré CONSAVEL ADMINSTRADORA DE
CONSÓRCIOS LTDA., mediante acordo entre as administradoras e
autorização da assembléia geral de consorciados Alegou, ainda, que a
autora, em 11.06.2002, foi contemplada com o lance oferecido no valor
de R$ 62.561,36 (sessenta e dois mil, quinhentos e sessenta e um reais
e trinta e seis centavos), tendo inclusive pago a taxa de adesão no valor
de R$ 883,09 (oitocentos e oitenta e três reais e nove centavos), e que,
posteriormente, integralizou o total de 42 parcelas. Disse, também, que
a autora encontra-se inadimplente desde abril de 2006. Alegou, no
mérito, ser impossível o abatimento gradual nas parcelas, pois a
cláusula 40 do contrato autoriza a antecipação por lance como quitação
das parcelas na ordem inversa de seus vencimentos, e não como
redução do valor das parcelas.
A mm. Juíza a quo julgou improcedente a ação por
não haver nulidade na cláusula que prevê o desconto do valor dado
como lance nas parcelas vincendas, do fim para o início, bem como
revogou a decisão de fls. 61, que autorizava a consignação em
pagamento. Em razão da sucumbência, condenou a autora ao
pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios, fixados,
por eqüidade, em R$ 350,00 (trezentos e cinqüenta reais), observada a
gratuidade judiciária.
Irresignada, apela a autora para que seja decretada a
nulidade da r. sentença, alegando ser possível o reajuste das parcelas
vincendas no percentual de 0,4196% do valor financiado. Alega
cerceamento de defesa e requer a abertura da fase instrutória para

Apelação N° 7 248 189-1 - Itu - Voto 21148


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elaboração de cálculos, ou então, seja considerado o cálculo


apresentado em apelação.
Foram apresentadas contra-razões ao recurso.
É o relatório.
Rejeita-se a preliminar de reconhecimento de
nuhdade da sentença, ante a ocorrência de cerceamento de defesa
O artigo 330, I, do CPC estabelece* "O juiz conhecerá
diretamente do pedido, proferindo sentença: I - quando a questão de
mérito for unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, não
houver necessidade de produzir prova em audiência".
Nesse sentido, já decidiu o E. Superior Tribunal de
Justiça:
"Em circunstâncias especiais, não obstante o
saneamento da causa, ao juiz é permitido
proferir o julgamento antecipado, quando a
prova já se apresentar suficiente à decisão e a
designação de audiência se mostrar de todo
desnecessária" (RSTJ 110/285).
No mesmo sentido.
"Tendo o magistrado elementos suficientes para
o esclarecimento da questão, fica o mesmo
autorizado a dispensar a produção de quaisquer
outras provas, ainda que já tenha saneado o
processo, podendo julgar antecipadamente a
lide, sem que isso configure cerceamento de
defesa" (STJ-6a Turma, Resp 57.861-GO, rei Min.
Anselmo Santiago, j . 17.2.98, não conheceram,
v.u., DJU 23.3.98, p. 178).

Na hipótese, não há necessidade da produção de


qualquer prova, mormente a pericial, sendo possível decidir pela prova
documental constante nos autos.
Nesse sentido, bem proferida a sentença da douta
Magistrada:

Apelação N° 7 248 189-1 - Itu - Voto 21148


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"No mérito, julgo antecipadamente a lide pois reputo


ser desnecessária produção de provas, mormente a
pericial, tendo em vista que o fato controverso é
exclusivamente de direito, a saber, a legalidade de
cláusula que prevê o desconto do lance dado apenas
nas parcelas finais." (cí. fl. 166)

Passa-se ao mérito.
Sem razão à apelante
A a u t o r a celebrou livremente contrato de a d e s ã o com
a a d m i n i s t r a d o r a do giupo de consórcio destinado à aquisição de bem
imóvel, referente à Cota n° 151.01, do Grupo n° 1020, cujo valor do
b e m imóvel, n a d a t a d a a s s i n a t u r a do contrato, e r a de R$ 8 8 . 3 0 9 , 5 7
(oitenta e oito mil, trezentos e nove reais e c i n q ü e n t a e sete centavos),
conforme fls. 0 9 / 15.
Os contratos de adesão são aqueles q u e n ã o
permitem a s partes discutirem livremente s u a s condições, devido à
preponderância d a vontade de u m dos c o n t r a t a n t e s , que elabora t o d a s
a s c l á u s u l a s . "O outro adere ao modelo de contrato previamente
confeccionado, não podendo modificá-las: aceita-as ou rejeita-as, de
forma pura e simples, e em bloco, afastada qualquer alternativa de
discussão" (CARLOS ROBERTO GONÇALVES, Direito Civil Brasileiro,
Contratos e atos unilaterais, Editora Saraiva, 2004, pág. 75)
Daí a o p o r t u n a citação de Silvio Rodrigues:
"Contrato de adesão, nome que lhe deu Saleilles, é
aquele em que todas as cláusulas são previamente estipuladas por uma
das partes, de modo que a outra, no geral mais fraca e na necessidade
de contratar, não tem poderes para debater as condições, nem introduzir
modificações, no esquema proposto. Este último contraente aceita tudo
em bloco ou recusa tudo por inteiro," (Direito Civil, Dos contratos e d a s
declarações unilaterais d a vontade, Ed. Saraiva, 2004, pág. 44)
No entanto, com o fito de restabelecer a desigualdade
por ele provocada, em o u t r a s palavras, p a r a se evitar a onerosidade
excessiva ao consumidor, a lei c o n s u m e r i s t a (Lei 8.078/90) e n c a m p o u
e s s e s tipos contratos.

Apelação N° 7 248 189-1 - Itu - Voto 21148


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Nesse sentido, reza o artigo 54 do CDC:


"Contrato de adesão ê aquele cujas cláusulas tenham
sido aprovadas pela autoridade competente ou
estabecidas unilateralmente pelo fornecedor de
produtos ou serviços, sem que o consumidor possa
discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo."

Além disso, a s sociedades a d m i n i s t r a d o r a s de


consórcio d e p e n d e m , p a r a seu funcionamento, de autorização do Banco
Central do Brasil, tudo em consonância com os artigos 7 o e 8 o d a Lei n°
5.768/71.
No caso dos a u t o s , não h á qualquer irregularidade no
contrato. O CDC é aplicável à hipótese, m a s não se vislumbra q u a l q u e r
violação à legislação consumerista. A rigor, e n s i n a RIZZATTO NUNES,
"no contrato de adesão não se discutem cláusulas e não há que se falar
em pacta sunt servanda. É uma contradição falar em pacta sunta
servanda de adesão. Não há acerto prévio entre as partes, discussão de
cláusulas e redação de comum acordo. O que se dá é o fenômeno puro e
simples da adesão ao contrato pensado e decidido unilateralmente pelo
fornecedor, o que implica maneira própria de interpretar e que, como
também vimos, foi totalmente encampado pela lei consumerista"
a
(Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, 3 edição, Editora
Saraiva, 2 0 0 7 , art. 54, pág. 627)
Nesse contexto, portanto, não prospera à
possibilidade de reajuste do valor pago a título de lance n a s parcelas
vincendas desde a contemplação.
A c l á u s u l a 40 do contrato é explicita q u a n d o estipula
que "o lance vencedor será considerado pagamento antecipado de
prestações vincendas na ordem inversa a contar da última, e os
perdedores serão restituídos no ato." (cf. fl. 11)
Ora, d a simples leitura do contrato observa-se q u e o
m o n t a n t e antecipado a título de lance presta-se à redução do n ú m e r o
de parcelas, de t r á s p a r a frente, e não n a redução do valor de c a d a
parcela, como q u e r ver a apelante.
Nesse sentido, e n s i n a Arnaldo Rizzardo:

Apelação N° 7 248 189-1 - Itu - Voto 21148


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"Os lances vencedores quitarão as parcelas vincendas


regresswamente, a contar da última. Faculta-se ao
consorciado optar pela retenção do lance perdedor
para quitação das parcelas vincendas,
regresswamente a partir da última, desde que
efetuado o depósito em três dias a contar da
cobrança" (CONTRATOS Lei n° 10.406, de
10.01.2002, 3 a edição, 2004, pág. 1286)

Não h á como contrariar a previsão c o n t r a t u a l ,


p o r q u a n t o este tipo de cláusula garante o equilíbrio do grupo
consorciado.
Nesse sentido, bem proferida a s e n t e n ç a d a d o u t a
Magistrada:
"Ignorar as previsões do contrato de consórcio
celebrado com a autora implica em trazer desequilíbrio
a todo grupo consorciado, o que não é razoável, dada
a ausência de abusividade das disposições da
cláusula 40." (cf. fl. 167)

Q u a n t o à a p r e s e n t a ç ã o dos cálculos em apelação,


n ã o prospera.
"Documentos juntados com a apelação,
injustificadamente substraídos da instrução da causa.
Tratando-se de documentos essenciais à prova do fato
constitutivo, que alteram substancialmente, e não
apenas complementam o panorama probatório, não
podem ser considerados pela instância revisora,
porquanto restaria comprometido o contraditório em
sua plenitude, com manifesto prejuízo para a parte
contrária" (RSTJ 83/190)" (THEOTÔNIO NEGRÃO,
Código de Processo Civil e legislação p r o c e s s u a l e m
vigor, 3 9 a ed., 2 0 0 7 , art. 5 1 7 , n o t a 6, pág. 670)

Apelação N° 7 248 189-1 - Itu - Voto 21148


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Na hipótese, a j u n t a d a de d o c u m e n t o s com a
apelação é possível, desde que respeitado o contraditório. Não é o caso.
Mesmo que assim não fosse, n a d a m u d a r i a , pois a
q u e s t ã o de mérito é u n i c a m e n t e de direito.
Desse modo, não é possível o reajuste do valor pago a
título de lance n a s parcelas vincendas.
Pelo exposto, nega-se provimento ao recurso.
Presidiu o julgamento, com voto, o D e s e m b a r g a d o r
ITAMAR GAINO (Revisor) e dele participou o Desembargador SOUZA
LOPES.
São Paulo, 13 de

SILVEI

Apelação N° 7 248 189-1 - Itu - Voto 21148

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