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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial

Registro: 2021.0000715019

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2231561-29.2020.8.26.0000 e código 16BC77A4.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2231561-29.2020.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que são agravantes
ODEBRECHT S.A. - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL, KIEPPE PARTICIPAÇÕES E
ADMINISTRAÇÃO LTDA. - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL, ODBINV S.A.,
EDIFÍCIO ODEBRECHT RJ S.A. - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL, ODEBRECHT
PROPERTIES INVESTIMENTOS S.A. - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL,
ODEBRECHT ENERGIA INVESTIMENTOS S.A, ODEBRECHT ENERGIA S.A. - EM

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ALEXANDRE ALVES LAZZARINI, liberado nos autos em 31/08/2021 às 21:43 .
RECUPERAÇÃO JUDICIAL, OP GESTÃO DE PROPRIEDADES S.A. - EM
RECUPERAÇÃO JUDICIAL, OPI S.A. e ODEBRECHT SERVIÇOS E
PARTICIPAÇÕES S.A., é agravado O JUIZO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 1ª Câmara Reservada de Direito


Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este
acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores CESAR CIAMPOLINI


(Presidente sem voto), AZUMA NISHI E FORTES BARBOSA.

São Paulo, 31 de agosto de 2021.

ALEXANDRE LAZZARINI
Relator
Assinatura Eletrônica
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1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial

Voto nº 25919

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Agravo de Instrumento nº 2231561-29.2020.8.26.0000
Comarca: São Paulo (1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais)
Juiz(a): João de Oliveira Rodrigues Filho
Agravantes: Odebrecht S.a. - Em Recuperação Judicial, Kieppe Participações e
Administração Ltda. - Em Recuperação Judicial, Odbinv S.a., Edifício Odebrecht Rj
S.a. - Em Recuperação Judicial, Odebrecht Properties Investimentos S.a. - Em
Recuperação Judicial, Odebrecht Energia Investimentos S.a, Odebrecht Energia S.a.
- Em Recuperação Judicial, Op Gestão de Propriedades S.a. - Em Recuperação
Judicial, Opi S.a. e Odebrecht Serviços e Participações S.a.
Agravado: O Juizo

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ALEXANDRE ALVES LAZZARINI, liberado nos autos em 31/08/2021 às 21:43 .
Interessado: Alvarez & Marsal Consultoria Empresarial do Brasil Ltda. -
Administrador Judicial

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.


HOMOLOGAÇÃO DO PLANO APROVADO EM
ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES. DECISÃO QUE
AFASTOU A APLICAÇÃO DA TR COMO ÍNDICE DE
CORREÇÃO MONETÁRIA A PARTIR DO DÉCIMO QUINTO
ANO. BÔNUS DE ADIMPLÊNCIA. ÍNDICE ZERADO HÁ
DOIS ANOS. PREJUÍZO AOS CREDORES. MANUTENÇÃO.
RECURSO NÃO PROVIDO.

Trata-se de agravo de instrumento interposto contra a r. decisão de


fls. 35809/35847 dos originais, mantida pela decisão de fls. 36094/36097, proferida nos
autos da recuperação judicial das agravantes, que homologou o plano com algumas
ressalvas, dentre elas a impossibilidade de aplicação da TR como índice de correção.
Entendeu o magistrado:

“CLÁUSULA 1.1.9. BÔNUS DE ADIMPLÊNCIA. Prevê a revisão


da taxa de juros e de correção monetária aplicável aos Instrumentos de Pagamento nos
termos do item 3 do Anexo 1.1.73 do Plano, que passará a ser correspondente à TR a
partir do 15º (décimo quinto) ano desde que tenham sido realizadas amortizações, no
total agregado, iguais ou superiores a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) desde a Data
de Homologação Judicial do Plano (fls. 31.689).

A jurisprudência do Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, por


intermédio de suas Câmaras Reservadas em Direito Empresarial, vem decidindo pela
impossibilidade de aplicação da TR, por entender que o "Indexador, todavia, que implica
nenhuma atualização, pois apresenta zerada há mais de 2 anos. Ilegalidade declarada,
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com determinação de atuação pela Tabela Prática deste Egrégio Tribunal"(AgI 2171930-

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91.2019.8.26.0000, rel. Des. Azuma Nishi)
A correção monetária é prevista na Lei 6.899/91 para incidência sobre
débitos oriundos de decisões judiciais. Todavia, isso não quer dizer que por ato de vontade
sua previsão não possa ser afastada, acaso envolva direitos disponíveis objeto de
transação por maiores e capazes. O mesmo raciocínio pode ser aplicado tanto aos juros
compensatórios como aos juros moratórios.
Diariamente vemos inúmeras transações em sede judicial que importam
em redução do valor a ser pago pelo devedor, pois ao credor é mais conveniente a
disposição do numerário de maneira imediata ou mais breve do que o recebimento

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ALEXANDRE ALVES LAZZARINI, liberado nos autos em 31/08/2021 às 21:43 .
integral da prestação com o acréscimo de juros e correção monetária. Até mesmo credores
tidos como vulneráveis, tais como os detentores de créditos trabalhistas ou de relação de
consumo, a todo tempo transacionam em Juízo, abdicando do valor integral, dos juros e
da correção monetária, por entenderem mais vantajoso o pronto recebimento dos valores.
Com as devidas vênias, em sede de recuperação judicial não poderia ser
diferente. Entretanto, uma vez inserida a cláusula que prevê correção monetária a incidir
nos débitos do aludido procedimento, o indexador existente deve ser efetivo à finalidade
eproposta, sob pena de mácula à vontade dos credores.
Assim, deverá haver a substituição da TR pelos índices de correção da
Tabela Prática do TJSP a incidir na cláusula 1.1.9, mantendo-se os seus demais termos.”

Insurgem-se as recuperandas, sustentando, em síntese, que: a) deve ser


mantida a TR como índice previsto para bônus de adimplência, uma vez que não há
qualquer ilegalidade na sua previsão, ressaltando que os planos foram aprovados com
percentuais elevadíssimos, após a análise de todas as condições econômicas dos mesmos;
b) ao contrário do entendimento do magistrado, a TR não será utilizada para correção
monetária ordinária prevista para pagamento dos débitos das recuperandas, pois, para esses
casos, será utilizado o IPCA; c) o IPCA somente será substituído pela TR após 15 anos de
adimplemento de suas obrigações previstas no PRJ; d) inexiste irregularidade na alteração
das condições de pagamento e da correção monetária dos créditos, uma vez que tal matéria
integra a esfera de direitos disponíveis dos credores e pode ser livremente transacionada,
respeitando-se os princípios da autonomia da vontade e da liberdade contratual; e) o STJ já
enfrentou o fato de a TR ter valor zelo e, mesmo assim, admitiu sua aplicação,
reconhecendo a inexistência de qualquer irregularidade; f) o efeito que uma taxa TR zerada
adquire sobre os créditos no contexto do bônus de adimplência pode ser comparado ao
deságio, que é amplamente admitido pela jurisprudência; g) os credores são os maiores
interessados e afetados pela recuperação judicial de uma empresa, cabendo a eles a decisão
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sobre os termos da reestruturação a ser implementada; e h) ao Poder Judiciário cabe apenas

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o controle de legalidade, sendo vedada a interferência em aspectos de natureza econômico-
financeira ou comercial.
Recurso processado sem pedido liminar (pp. 878/879).
Manifestação da Administradora Judicial pelo provimento do
recurso (pp. 885/893).
Parecer da d. Procuradoria Geral de Justiça pelo não provimento do
recurso (pp. 898/902).

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Houve oposição ao julgamento virtual (p. 883).
É o relatório.

I) Apesar da oposição ao julgamento virtual (fls. 883), deve ser


indeferido o julgamento presencial. Isso porque, no presente caso não é cabível a
sustentação oral.
Ademais, como já decidido pelas E. Câmaras Reservadas de Direito
Empresarial:

“Indefiro o julgamento em sessão presencial, diante da suspensão de


tais sessões por deliberação do egrégio Conselho Superior da
Magistratura (art. 5º do Provimento CSM 2550/2020), contando,
desde já, com a compreensão e cooperação das partes e de seus
ilustres advogados, diante da crise que se abateu sobre o país e o
mundo.
A situação pela que se está passando (partes, advogados, juízes,
serventuários, auxiliares) com a pandemia gerada pelo “Covid-19”
(novo coronavírus) é totalmente inédita, anômala e grave, podendo
levar ao colapso de todo o sistema judiciário, notadamente pelo
represamento de centenas de feitos que estão na fila aguardando a
designação das sessões presenciais, que nem se sabe se, quando e
como ocorrerão.
Nesse contexto, é preciso conferir um mínimo de celeridade aos
processos, dando-se sequência aos recursos pendentes de julgamento
em sessão presencial, sob pena de ofensa à garantia constitucional da
“razoável duração do processo” (art. 5º, LXXVIII, da Constituição
Federal; arts. 4º e 6º. do CPC). E, diante da impossibilidade atual da
realização das sessões de julgamento presencial, o julgamento que se
mostra possível, é o virtual, neste segundo grau de jurisdição.
Ademais, a circulação e a aglomeração de pessoas põem em risco a
saúde e a vida, tanto que o isolamento é comando legal (art. 3º da Lei
n. 13.979/2020).
Cabe também destacar que o julgamento virtual não gera prejuízo às
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partes ou aos seus advogados, diante da possibilidade dos despachos


por via remota, que são disponibilizados mediante agendamento por

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meio dos e-mails dos Exmos. Srs. Desembargadores disponíveis no
site do TJSP. Assim, no STJ: HC 578.282, PAULO DE TARSO
SANSEVERINO; EAREsp 369.513, HERMAN BENJAMIN; EDcl
nos EDcl no AgInt no REsp 1.563.273, MAURO CAMPBELL
MARQUES” (AI 2263639-76.2020.8.26.0000, Des. Rel. Cesar
Ciampolini, 1ª Câmara Reservada de Direto Empresarial, julgado em
02/3/2021)

“Em tempos de pandemia, é por meio do julgamento virtual que, em


segundo grau de jurisdição, homenageia-se a Constituição Federal

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ALEXANDRE ALVES LAZZARINI, liberado nos autos em 31/08/2021 às 21:43 .
(art. 5º, LXXVIII) e o CPC (art. 4º), na perseguição do objetivo de se
ter decisão de mérito -- que se confia venha a ser justa e efetiva --,
num tempo razoável (CPC, art. 6º). Conta o Tribunal, nesse
desiderato, com a compreensão e a colaboração das partes e de seus
patronos.” (AI 2155328-88.2020.8.26.0000, Des. Rel. César
Ciampolini, 1ª Câmara Reservada de Direto Empresarial, julgado em
15/02/2021)

“Apesar de os recorrentes alegarem surpresa ante a ocorrência do


julgamento, não alertados da justificativa da decisão que encaminhou
o feito à mesa virtual (fls. 37/38, item 2), não há prejuízo capaz de
amparar a requerida nulidade.
É que a sustentação oral, única diferença em relação ao julgamento
presencial ou, agora, o telepresencial, não está prevista no regimento
interno ou na lei processual.
Ademais, abreviou-se a duração do processo, depois de preservado o
direito de manifestação das partes, tudo na direção do cumprimento
da propositura constitucional.
Não bastasse, a pandemia do Covid-19 acarretou a impossibilidade
de realização das sessões presenciais e a necessidade de esforço
conjunto para concretização do princípio da razoável duração do
processo, reservando-se as telepresenciais para as hipóteses de
resistência ao julgamento virtual e cabimento da sustentação oral.
Por fim, é de conhecimento notório dos operadores do Direito que o
Tribunal de Justiça oferece e-mails institucionais para cada gabinete
na primeira página de seu site e com destaque, tornando possível o
encaminhamento dos memoriais virtualmente, não se podendo
acolher a alegação de violação à ampla defesa.” (ED
2145131-74.2020.8.26.0000/50000, Des. Rel. Araldo Telles, 2ª
Câmara Reservada de Direito Empresarial, julgado em 17/11/2020).

“Agravo de instrumento Julgamento presencial indeferido com


determinação da realização do virtual nos termos que esta Corte o
tem incentivado como imperativo social e judicial em tempos de
isolamento justificado pela COVID-19, o qual impõe esforços e
sacrifícios a todos os atores do processo, de quem, ademais, cobra-
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se colaboração especialmente na concretização do princípio da


razoável duração do processo. Além disso, o julgamento deste

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recurso não admite sustentação oral, não havendo, pois, necessidade
de se retardar a prestação jurisdicional. Liquidação de sentença
Ação de rescisão contratual c/c indenização Honorários
advocatícios Arbitramento por equidade Critério acertado
Quantificação, no entanto, que não remunera digna e
proporcionalmente o trabalho Majoração cabível e necessária,
mantido o critério da equidade Recurso parcialmente provido.” (AI
nº 2074062-79.2020.8.26.0000, Des. Rel. Maurício Pessoa, 2ª
Câmara Reservada de Direito Empresarial, julgado em 29/06/2020).

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Destaca-se, também, a ausência de óbice para que as partes
apresentem memoriais ou despachem remotamente, de modo que a realização do
julgamento virtual não gera prejuízos, podendo o patrono enviar e-mail para o gabinete
deste Relator e dos demais juízes da turma julgadora (conforme endereços eletrônicos
disponíveis no site do E. TJSP).

II) Feita essa ressalva inicial, destaca-se que o plano de


recuperação, homologado na decisão agravada, consta às fls. 31.801/31.881.

III) Ainda antes de ingressar na análise de cada disposição do plano


de recuperação impugnado, ressalta-se que a legalidade do plano está sujeita ao controle
judicial, sem adentrar no âmbito da sua viabilidade econômica, conforme já se posicionou
o Superior Tribunal de Justiça:

“RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL.


CONTROLE DO MAGISTRADO SOBRE O PLANO DE
SOERGUIMENTO. APROVAÇÃO DA ASSEMBLEIA GERAL
DE CREDORES. VIABILIDADE ECONÔMICA. SOBERANIA
DA AGC. LEGALIDADE. VERIFICAÇÃO PELO JUDICIÁRIO.
REEXAME DE FATOS E PROVAS E INTERPRETAÇÃO DE
CLÁUSULAS CONTRATUAIS. INADMISSIBILIDADE.
1. Processamento da recuperação judicial deferido em 24/05/2013.
Recurso especial interposto em 04/11/2014 e atribuído ao Gabinete
em 25/08/2016.
2. A jurisprudência das duas Turmas de Direito Privado do STJ
Sedimentou que o juiz está autorizado a realizar o controle de
legalidade do plano de recuperação judicial, sem adentrar no aspecto
da sua viabilidade econômica, a qual constitui mérito da soberana
vontade da assembleia geral de credores.
3. O reexame de fatos e provas e a interpretação de cláusulas
contratuais em recurso especial são inadmissíveis.
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4. Recurso especial não provido.”


(REsp nº 1660195/PR. Terceira Turma, Relª. Minª. Nancy Andrighi,

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j. em 04/04/2017)

No mesmo sentido, é o Enunciado nº 44, da I Jornada de Direito


Comercial do Conselho da Justiça Federal: “a homologação do plano de recuperação
judicial aprovado pelos credores está sujeita ao controle judicial da legalidade”.
Desse modo, e embora seja inequívoca a soberania da vontade dos
credores manifestada na assembleia geral, é perfeitamente admissível o controle judicial da

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legalidade do plano de recuperação, sem ingresso no controle de sua viabilidade
econômica.

IV) Em que pese a irresignação da recuperanda, o recurso não deve


ser provido.
Isso porque, a “Taxa Referencial” (TR), prevista como índice de
atualização monetária, está zerada há 2 anos, de modo que não pode ser admitida, sob pena
de se reconhecer a possibilidade dos créditos sujeitos ao plano ficarem sem atualização,
ainda que aplicada a partir do 15º ano.
É importante lembrar, ainda, que a atualização monetária constitui
mera recomposição do valor da moeda, sendo imprescindível, sob pena de deságio
implícito em desfavor dos credores.
Logo, deverá ser utilizada a Tabela Prática do TJSP para a correção
monetária dos créditos sujeitos ao plano.
Nesse sentido, destacam-se os seguintes precedentes desta 1ª
Câmara Reservada de Direito Empresarial:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO QUE


HOMOLOGOU O PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA
AGRAVADA. INSURGÊNCIA DE INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA CREDORA. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. 1. Recurso interposto contra decisão que homologou o
plano de recuperação judicial das agravadas, com ressalva "das
cláusulas 9.3 e 9.13 do Plano de Recuperação Judicial para sujeitar
atos de alienação e oneração do patrimônio ativo da empresa,
durante o curso da reestruturação, à aprovação judicial sob pena de
ineficácia do ato perante os credores integrantes da Recuperação".
2. O credor quirografário insurgiu-se contra a forma de pagamento
estipulada para a sua Classe III (deságio de 50%, correção
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monetária pela TR, a partir da homologação do plano, carência de


24 meses, pagamento em 10 parcelas anuais, entre outros), alegando

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que o plano apresenta tratamento diferenciado a "Credores
Financiadores com Garantias Reais" e a "Credor Financiador
Quirografário", que viola a paridade entre os credores. 3. Controle
de legalidade do plano. Possibilidade. Precedente do STJ (RESP
1660195/PR). 4. Forma de pagamento relativa a deságio, termo a
quo da correção monetária, juros, e prazo de carência e de
pagamento, que foram submetidas à analise dos credores, em
assembleia geral de credores, e que podem ser livremente
estipuladas, já que se inserem no seu juízo discricionário.
Irregularidades referente a tais disposições não verificadas. 5.

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Tendo sido fixado prazo de carência de 24 meses, razoável que a
contagem do prazo de supervisão de 2 anos (art. 61, LRF) tenha
início a partir do decurso do prazo de carência aprovado pela
assembleia geral de credores, a fim de resguardar a eficácia desse
período de supervisão. Enunciado II do Grupo de Câmaras
Reservadas de Direito Empresarial. 6. Correção monetária pela
TR. Atual inviabilidade do índice. Se o índice substitutivo
previsto no plano também implicar ausência de recomposição
do crédito, deve ser substituído pela Tabela Prática do Tribunal
de Justiça. 7. Invalidade das cláusulas 8.2.7.3.1, 8.2.7.3.2.,
8.3.6.3.1., 8.3.6.3.2, quando estabelecem condição privilegiada aos
credores parceiros sem contraprestação efetiva. O benefício nelas
contido só é válido, para as hipóteses em que o crédito for
concedido. 8. Recurso parcialmente provido” (Agravo de
Instrumento nº 2057070-43.2020.8.26.0000, Rel. Des. Alexandre
Lazzarini, j. em 10/09/2020 g.n.)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.


Decisão homologatória de alteração e consolidação de Plano de
Recuperação Judicial. Decisão modificada em parte.
Impossibilidade de análise da viabilidade econômica. Utilização da
taxa referencial para atualização monetária dos créditos.
Inviabilidade. Índice zerado que implica deságio implícito.
Validade da estipulação de juros moratórios em 3% a.a.
Compensação de crédito. Possibilidade, desde que recaia sobre
crédito de titularidade da recuperanda existentes antes do pedido de
recuperação judicial. Precedentes. Reconhecimento, de ofício, da
aplicação do Enunciado I do Grupo de Câmaras Reservadas de
Direito Empresarial, para que o prazo de pagamento de um ano dos
créditos de que trata o caput do artigo 54 da Lei 11.101/05 conta-se
do primeiro dos seguintes eventos: homologação do plano de
recuperação judicial ou do término do prazo de suspensão de que
trata o artigo 6º, parágrafo 4º, da Lei 11.101/05. RECURSO
PROVIDO EM PARTE, COM OBSERVAÇÃO” (Agravo Interno
nº 2071640-34.2020.8.26.0000, Rel. Des. Azuma Nishi, j. em
11/08/2020 g.n.)
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“Recuperação judicial - Plano aprovado em assembleia e
homologado - Soberania da assembleia de credores - Relativização
Jurisprudência - Viabilidade econômica apreciada pelos credores -
Laudo econômicofinanceiro e laudo de avaliação de bens e ativos
apresentados - Plano de recuperação judicial válido - Exame
concreto das cláusulas - Correção monetária indexada pela Taxa
Referencial (TR) Atual inviabilidade - Perda de sua
funcionalidade, em especial diante da "contaminação" derivada
da tentativa de sua utilização para atualização de condenações
da Fazenda Pública, recentemente rechaçada pelo STF -

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Divulgação de taxa zero, equivalente à ausência de correção -
Substituição pela Tabela Prática deste Tribunal de Justiça -
Previsão clausular da venda de bens dados em garantia real
Invalidade da cláusula respectiva, adotada redação indutiva da
extinção do direito conferido ao credor sem anuência
individualizada e específica - Suspensão de ações e execuções em
face de coobrigados - Decisão posterior, substitutiva da atacada e
que determinou a observância do disposto no §1º do artigo 49 da
Lei 11.101/2005 e da Súmula 61 deste Tribunal - Perda do objeto
recursal nesta parcela - Termo inicial do período de supervisão
judicial não fixado - Recurso não conhecido nesta parte, sob pena
de supressão de instância - Observância da preservação das
garantias instituídas frente a coobrigados, fiadores e obrigados de
regresso, desde que ausente manifestação de renúncia por credores
beneficiados - Homologação mantida com ressalvas - Recurso
parcialmente conhecido e provido parcialmente na parcela
conhecida.” (Agravo de Instrumento nº
2137249-61.2020.8.26.0000. Rel. Des. Fortes Barbosa, j. em
11/08/2020 g.n.)

V) Portanto, a r. decisão deve ser mantida.

Isto posto, nega-se provimento ao recurso.

ALEXANDRE LAZZARINI
Relator
(assinatura eletrônica)

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