Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Registro: 2022.0000537483
ACÓRDÃO
EMENTA
TRIBUTO
ICMS AIIM Declaração de inidoneidade
posterior às operações Boa-fé Nulidade Crédito
tributário Suspensão da exigibilidade Tutela de
urgência Impossibilidade:
TRIBUTO
ICMS AIIM Multa punitiva Percentual superior
a 100% Confisco Impossibilidade:
RELATÓRIO
também demonstram que as operações foram de fato realizadas e que agiu de boa fé. A
jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça não mais admite a
responsabilização do comprador que de boa fé tenha efetivamente adquirido a
mercadoria constante da nota fiscal posteriormente declarada inidônea (REsp nº
1.148.444/MG e Súmula nº 509). A tutela de urgência é
indispensável para que possa obter a certidão de regularidade fiscal e impedir o protesto
extrajudicial do débito. A multa tem caráter confiscatório, pois representa mais de 200%
do valor do tributo. O Código Tributário Nacional possibilita a suspensão da
exigibilidade do crédito tributário, independentemente de depósito, quando presentes os
requisitos da probabilidade do direito alegado e de perigo de dano (art.151, inc.V), o que
é corroborado pela jurisprudência dominante do Superior e desta Seção. Pede a
concessão de efeito suspensivo e, ao final, seu provimento.
O recurso foi processado com efeito ativo parcial apenas para sustar a exigibilidade da
multa que supera 100% do valor do tributo (fl.18). Nas contrarrazões, a agravada alega que a
suspensão da exigibilidade do crédito tributário é condicionada ao depósito integral do
montante discutido (art.151, inc.II do Código Tributário Nacional e Súmula nº 112 do
Superior Tribunal de Justiça). A suspensão da exigibilidade com base nos requisitos gerais de
concessão de tutela antecipada é excepcional, pois o ato administrativo é dotado de presunção
de legalidade e veracidade. A Fiscalização verificou que a vendedora declarada inidônea
emitiu notas fiscais de saída em valor superior a trinta e sete milhões de reais, sem que
fossem emitidas quaisquer notas fiscais de entrada. Efetuada diligência no endereço indicado
no CADESP/JUCESP, verificou-se tratar de imóvel residencial, tendo a moradora afirmado
desconhecer a empresa e seu sócio. Contatado o sócio Fabio Fioravante Ragazzo, este
declarou que não é sócio da empresa e não tem conhecimento da sua existência. O contador
anotado no Cadesp alegou nunca ter efetuado nenhum trabalho para a inidônea. A verificação
da regularidade da empresa com a qual se negocia constitui uma obrigação legal do
contribuinte (art.22 da Lei nº 6.374/89 e art.28 do RICMS). O julgado do Superior Tribunal
de Justiça somente favorece o comprador que estiver de boa fé. A Súmula nº 509
possibilita o aproveitamento dos créditos, desde que demonstrada a veracidade da compra
e venda, o que não ocorre na hipótese. Na fase administrativa, foi alegado que as
operações foram entabuladas com o representante da empresa, Fabio Fioravante Ragazzo.
Essas declarações, porém, não merecem fé, pois, este era apenas um "laranja", que nem
sequer tinha conhecimento da existência da empresa. Alegou-se, ainda, que o transporte
foi realizado pela fornecedora. Contudo, melhor revendo as notas fiscais autuadas,
verifica-se a omissão na parte das informações sobre o transportador e o volume
transportado. Na tentativa de demonstrar o pagamento das mercadorias, a autora
apresentou extratos de conta bancária e cópia de cheques. Ocorre que tais documentos se
mostram imprestáveis para tal fim, haja vista que os cheques estão nominais à própria
empresa autuada. Não foram apresentados os comprovantes do acordo comercial, e nem há
prova da destinação das mercadorias adquiridas. O Livro Registro de Entradas, por sua
vez, somente faz prova contra a requerente, tendo em vista que demonstra a escrituração
das notas fiscais inábeis e o aproveitamento dos créditos de ICMS. As transações em
questão foram entabuladas com empresa que nunca existiu de fato. A suspensão da
exigibilidade do crédito tributário trará prejuízos incalculáveis ao Erário (fls.26/39).
FUNDAMENTOS
(fls.603/885).
Porém, em juízo provisório, é inviável, nesse momento processual, a correlação
das compensações bancárias com os documentos fiscais correspondentes, pois todos os
cheques foram emitidos em favor da própria autuada, e não da vendedora inidônea.
Logo, a documentação é insuficiente para a comprovação da transação comercial
Ausentes os requisitos legais, não há fundamento para a tutela de urgência,
mesmo que exista perigo de dano.