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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2015.0000414521

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº


2021918-07.2015.8.26.0000, da Comarca de Sumaré, em que são agravantes
CONDOMÍNIO DAS ACÁCIAS e CELIA ROHDER VASCONCELOS, é
agravado ALFEU RODRIGUES VASCONCELOS.

ACORDAM, em 27ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V.
U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


CAMPOS PETRONI (Presidente sem voto), MOURÃO NETO E SERGIO
ALFIERI.

São Paulo, 9 de junho de 2015.

DAISE FAJARDO NOGUEIRA JACOT

RELATORA

Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

VOTO N° : 5.415
AGR. INST. N°: 2021918-07.2015.8.26.0000
AGRAVANTE : CONDOMÍNIO DAS ACÁCIAS E OUTRA
AGRAVADO : ALFEU RODRIGUES VASCONCELOS
COMARCA : SUMARÉ 1ª VARA CÍVEL
JUIZ : GILBERTO VASCONCELOS PEREIRA NETO

*AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE


COBRANÇA DE RATEIO CONDOMINIAL. FASE DE
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. INDEFERIMENTO
DO REGISTRO DE PENHORA. IMOVEL
HIPOTECADO À CDHU. OBRIGAÇÃO “PROPTER
REM” QUE RECAI SOBRE A DÍVIDA DE
CONDOMÍNIO SENDO PREFERENCIAL.
POSSIBILIDADE DO REGISTRO DA PENHORA.
DETERMINAÇÃO, CONTUDO, DE INTIMAÇÃO DA
CREDORA HIPOTECÁRIA, NOS TERMOS DO
ARTIGO 615, INCISO II, DO CPC. DECISÃO
REFORMADA. RECURSO PROVIDO.*

Vistos.

Cuida-se de Agravo de Instrumento


interposto contra decisão proferida nos autos da Ação de Cobrança, ora
em fase de cumprimento de sentença, que Condomínio das Acácias
move contra Alfeu Rodrigues Vasconcelos e Célia Aparecida Rohvder ,
em trâmite na 1ª Vara Cível da Comarca de Sumaré, neste Estado,
mediante a qual o MM. Juiz “a quo” houve por bem indeferir o pedido
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de penhora sobre o imóvel de propriedade dos agravados (fl. 51).

Sustenta a agravante, em resumo, que a


penhora requerida é possível; o credor hipotecário não será prejudicado
porque será intimado para apresentar seu crédito nos termos do artigo
615, inciso II, do Código de Processo Civil; o fato de existir garantia
hipotecária em favor de terceiros não impede a constrição (fls. 1/12).

É o relatório.

Conforme já relatado, cuida-se de Agravo de


Instrumento interposto contra decisão proferida nos autos da Ação de
Cobrança, ora em fase de cumprimento de sentença, que Condomínio
das Acácias move contra Alfeu Rodrigues Vasconcelos e Célia
Aparecida Rohvder , em trâmite na 1ª Vara Cível da Comarca de
Sumaré, neste Estado, mediante a qual o MM. Juiz “a quo” houve por
bem indeferir o pedido de penhora sobre o imóvel de propriedade dos
agravados (fl. 51).

O pedido de efeito suspensivo da r. decisão


agravada foi indeferido (fl. 53).

A questão que se examina envolve a


possibilidade ou não de a penhora recair sobre bem imóvel hipotecado
dado em garantia da dívida oriunda de contrato de compra e venda.

A dívida condominial constitui obrigação

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“propter rem”, cuja prestação não deriva da vontade do devedor, mas de


sua condição de titular do direito real. Aquele que possui a unidade e
que, efetivamente, exerce os direitos e obrigações de condômino,
responde pela contribuição de pagar as cotas condominiais, na
proporção de sua fração ideal.

Já a obrigação 'propter rem' é aquela em que o


devedor, por ser titular de um direito sobre uma coisa, fica sujeito a uma
determinada prestação que, por conseguinte, não derivou da
manifestação expressa ou tácita de sua vontade. No presente caso o
condômino é devedor pela circunstância de ser titular do direito real, e
só se libera da obrigação se renunciar a esse direito.

Por outro lado, observa-se que a credora


hipotecária “Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do
estado de São Paulo”, possui a “expectativa” de recebimento mensal de
seus créditos. Sua garantia se resume ao contrato de compra e venda do
imóvel, não havendo, até o momento, um título executável que lhe
garanta prioridades ou afaste outras constrições sobre o imóvel.
Também não foi instalado um “concurso de credores”, nos moldes do
artigo 711, do Código de Processo Civil, que ameaçasse os direitos da
credora.

Importante destacar que a formalização da


penhora sobre o bem não retira da CDHU sua condição de credora
hipotecária, nem anula a garantia já registrada. Não se pode proibir que
o Condomínio agravante exerça seus direitos em prol da coletividade
por meio da penhora sobre o comprovado único bem dos devedores.

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Saliente-se que o simples registro da penhora


não altera a situação jurídica do bem, que continua alienado à CDHU.
Eventual praceamento e arrematação deverá reservar valor suficiente
quando da divisão da quantia recebida, sob pena de apropriação
indevida da credora preferencial.

Portanto, nada impede que a penhora seja


registrada, prestigiando-se a preferência do credor condominial oriunda
da obrigação “propter rem”. Apenas se faz necessária a intimação da
credora hipotecária para que tenha ciência do ato, conforme o disposto
nos artigos 615, inciso II e 619, do Código de Processo Civil.

A propósito, vejam-se os precedentes deste E.


Tribunal de Justiça:
2046244-65.2014.8.26.0000 Agravo de Instrumento / Despesas
Condominiais
Relator(a): Sá Duarte
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 33ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 07/04/2014
Data de registro: 09/04/2014
Ementa: CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. Cobrança de despesas de
condomínio. Pretensão de penhora do imóvel gerador da dívida, mas que não
está registrado em nome dos devedores. Devedores que são cessionários dos
direitos e obrigações decorrentes do contrato de compra e venda firmado
pelos cedentes com a construtora e do respectivo contrato de financiamento,
em razão do qual foi constituída hipoteca em favor da instituição financeira.
Possibilidade de penhora da própria unidade condominial, com cientificação
do credor hipotecário e daqueles que constam como proprietários no registro
imobiliário. Recurso provido para esse fim.

2178525-82.2014.8.26.0000 Agravo de Instrumento / Despesas


Condominiais
Relator(a): Lino Machado
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 30ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 19/11/2014
Data de registro: 21/11/2014
Ementa: Agravo de Instrumento. Ação de cobrança de contribuições

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condominiais. Cumprimento de sentença. Habilitação do credor hipotecário.


Direito de Preferência no caso de arrematação do bem - Obrigação propter
rem. Penhora. Imóvel com hipoteca. No caso ora sob exame, a
responsabilidade pelas dívidas condominiais é propter rem, já que garantida
direta e integralmente pelo próprio bem que as originou. Desta forma, a
preferência do crédito garantido por hipoteca ou alienação fiduciária não
prefere ao crédito proveniente de obrigações propter rem. Agravo provido.

2076839-47.2014.8.26.0000 Agravo de Instrumento


Relator(a): Manoel Justino Bezerra Filho
Órgão Julgador: 28ª Câmara de Direito Privado
COMARCA: GUARULHOS - 3ª. VARA CÍVEL
Data do julgamento: 29/05/2014
Ementa: Cobrança - Despesas de Condomínio Cumprimento de sentença
Penhora Alienação fiduciária sobre o imóvel Irrelevância Obrigação
propter rem Decisão reformada - Tratando-se de dívida proveniente de
despesas condominiais, que constituem obrigações "propter rem", a execução
de débitos oriundos do imóvel alcança o próprio bem; e a alienação fiduciária
não afasta a possibilidade de penhora. Ao fim, o que suportará a execução
será o próprio bem e, em eventual praceamento, o credor fiduciário, intimado,
tomará medidas judiciais que acaso entenda cabíveis. Recurso a que se dá
provimento, por decisão monocrática.

Impõe-se, pois, a reforma da r. decisão


agravada, para se permitir o registro da penhora, determinando-se ao
Condomínio agravante que intime o credor hipotecário, sob pena de
nulidade.

Diante do exposto, dá-se provimento ao


Recurso, com determinação.

DAISE FAJARDO NOGUEIRA JACOT


Relatora

Agravo de Instrumento nº 2021918-07.2015.8.26.0000 -Voto nº 5415 - LGT 6

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