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1 FOLHA DE APROVAÇÃO

Este trabalho foi aprovado no dia ______ de ______________________ de 2018 por nós,
membros do júri examinador, nomeado pela Faculdade de Economia e Ciências Empresariais
da Universidade Wutivi.

O Presidente

_______________________

O Arguente

_______________________

O Supervisor

________________________

(Dr. …………..)

i
Universidade Wutivi

Faculdade de Economia e Ciências Empresariais

Curso de Gestão Financeira e Bancária

3 DECLARAÇÃO

Declaro por minha honra que esta Monografia que, no presente momento, submeto à
Universidade Wutivi, em cumprimento dos requisitos para a obtenção do grau de
licenciatura em Gestão Financeira e Bancária, nunca foi apresentada para a obtenção de
qualquer outro grau académico e que constitui o resultado da minha investigação pessoal,
tendo indicado no texto e na bibliografia as fontes que utilizei.

O (A) candidato (a) O supervisor

________________________ __________________________

(Nome ……………….) (Dr. ……………….)

ii
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha querida Mãe


………….. que é uma grande mulher e um
exemplo de sacrifício.

iii
AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar ao Senhor Deus, que me concedeu a força para que eu pudesse
terminar a minha licenciatura.

À toda a minha família, em especial a minha querida mãe …………., aos meus irmãos, a
minha avó ………., aos meus tios ……….………… e ……….., pelo amor incondicional e
incentivo, sem os quais não alcançaria este objectivo.

Aos meus amigos que sempre apoiaram-me durante o meu curso e aos colegas de turma que
ajudaram-me no momento de fraqueza.

Ao meu supervisor, Dr. ………….., pela orientação e atenção durante a realização do meu
trabalho.

Ao Dr. ………… pela atenção e grande ajuda na clarificação de algumas dúvidas que tive
durante a realização do meu trabalho.

À Universidade Wutivi - Univa pela sua excelência de ensino e a todos os Docentes que
acompanharam-nos ao longo de todos estes anos de formação.

Não sendo possível mencionar todos que acompanharam-me durante a minha Licenciatura, só
me resta deixar aqui o meu muito obrigado.

iv
RESUMO

O presente estudo tem como objectivo principal analisar a eficácia dos modelos de gestão do
risco de crédito adoptados pelo Moza Banco no controlo das taxas de inadimplência no
período de 2014 a 2016. O problema que inspirou a pesquisa está no facto de cada banco
adoptar o seu modelo de gestão de risco e a precisão em reduzir o risco é diferente o que faz
com que alguns bancos tenham um retorno não satisfatório.Sendo assim o objectivo geral da
pesquisa foi de analisar a gestão do risco de crédito do Moza Banco no período de 2014 a
2016. E para o alcance do objectivo geral, definiu-se os seguintes objectivos específicos:
Descrever os modelos de gestão do risco de crédito adoptados pelo Moza Banco; Verificar a
evolução do crédito mal parado e das imparidades no Moza Banco; e Discutir a eficácia dos
modelos de gestão de risco de crédito usados pelo Moza Banco. A metodologia usada quanto
à abordagem do problema foi uma pesquisa quantitativa, quanto aos objectivos foi usada a
pesquisa exploratória, quanto aos procedimentos técnicos foi usado o estudo de caso e quanto
aos instrumentos de recolha de dados, usou-se a análiseou pesquisa documental. Os
resultados constatam que apesar de existir uma estrutura organizacional que comporta a área
de gestão de risco, não está a ser eficaz realçando uma política de concessão de crédito não
rigorosa e uma política de recuperação de crédito não rígida. Esta questão eleva o risco do
Banco e enfraquece um conjunto de operações. Portanto, a conclusão chegada é que o modelo
adoptado pelo banco não é eficaz no controlo das taxas de inadimplência Sendo assim, a
principal recomendação é que banco deve melhorar a sua política de gestão de crédito
corrente como do crédito mal parado, sendo mais rigorosa e precisaverificar de forma
permanente as imparidades para garantir a cobertura do risco de crédito.

Palavras-chave: Crédito, risco de crédito, modelos de gestão do risco de crédito.

v
ABSTRACT

The main objective of this study is to analyze the effectiveness of the credit risk management
models adopted by Moza Bank in the control of delinquency rates between 2014 and 2016.
The problem that inspired the research is that each bank adopts its risk management model
and the precision in reducing the risk is different which makes some banks have an
unsatisfactory return. Therefore, the general objective of the research was to analyze the
credit risk management of Moza Bank during the period from 2014 to 2016. And to reach the
general objective, the following specific objectives were defined: Describe risk management
models of credit adopted by Moza Bank; To verify the evolution of bad loans and
impairments in Moza Bank; and Discuss the effectiveness of the credit risk management
models used by Moza Bank. The methodology used to approach the problem was a
quantitative research, as far as the objectives were used the exploratory research, as for the
technical procedures was used the case study and for the instruments of data collection, was
used the documentary analysis or research. The results show that although there is an
organizational structure that includes the area of risk management, it is not being effective by
emphasizing a policy of non-strict credit and a non-rigid credit recovery policy. This raises
the Bank's risk and weakens a set of operations. Therefore, the conclusion reached is that the
model adopted by the bank is not effective in controlling default rates. Therefore, the main
recommendation is that bank should improve its current credit management policy as bad
credit, being more rigorous and needs to permanently check the impairments to guarantee the
coverage of the credit risk.

Key words: credit, credit risk, credit risk management.

vi
Índice
FOLHA DE APROVAÇÃO.......................................................................................................i

DECLARAÇÃO........................................................................................................................ii

DEDICATÓRIA.......................................................................................................................iii

AGRADECIMENTOS..............................................................................................................iv

RESUMO...................................................................................................................................v

ABSTRACT..............................................................................................................................vi

LISTA DE TABELAS..............................................................................................................ix

LISTA DE FIGURAS................................................................................................................x

LISTA DE GRÁFICOS............................................................................................................xi

LISTA DE ABREVIATURAS................................................................................................xii

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................1

Apresentação, contextualização e delimitação do tema.............................................................1

Apresentação e definição do problema......................................................................................2

Relevância do tema....................................................................................................................3

Objectivos..................................................................................................................................3

Geral...........................................................................................................................................3

Específicos.................................................................................................................................3

Delimitação espacial e temporal................................................................................................4

Estrutura do trabalho..................................................................................................................4

CAPÍTULO I – REVISÃO DE LITERATURA........................................................................5

1.1 Conceito de crédito..............................................................................................................5

1.2 Elementos definidores de crédito.........................................................................................5

1.3 Análise de Crédito................................................................................................................6

1.4 Limite de Crédito.................................................................................................................7

vii
1.5 Análise Subjectiva do Crédito..............................................................................................8

1.5.1 Os Cs do crédito...............................................................................................................8

1.6 Conceito de Risco................................................................................................................9

1.6.1 Principais Riscos da Actividade Bancária.........................................................................9

1.6.2 Classificação do risco de crédito de um banco...............................................................11

1.7 Mitigação do Risco de Crédito...........................................................................................12

1.7.1 Garantias nas Operações de Crédito...............................................................................12

1.8 Modelos de gestão do risco de crédito...............................................................................13

1.8.1Limitações no processo de Gestão do risco de crédito....................................................14

CAPÍTULO II – METODOLOGIA DO TRABALHO...........................................................16

2.1 Tipos de pesquisa...............................................................................................................16

2.3 Plano de análise de dados...................................................................................................17

2.4 Limitações da pesquisa......................................................................................................17

CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.......................18

3.1 Descrição do caso...............................................................................................................18

3.1.1 Apresentação do banco...................................................................................................18

3.1.2 Estrutura Organizacional e Gestão de Risco no Moza Banco.........................................18

3.1.3 Gestão de Risco Bancário no Moza Banco.....................................................................19

3.1.4 Políticas e Princípios de Gestão de Risco de Crédito.....................................................21

3.2 Apresentação e análise de dados........................................................................................22

CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES.................................................................................30

Conclusão.................................................................................................................................30

Recomendações........................................................................................................................30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................32

ANEXOS..................................................................................................................................34

viii
LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Principais Indicadores..............................................................................................22

Tabela 2. Exigência de capital para risco de crédito por classes de risco................................23

Tabela 3. Decomposição da carteira por qualidade de crédito.................................................24

Tabela 4. Movimentos das perdas por imparidade..................................................................25

Tabela 5. Rácio de Solvabilidade Total....................................................................................25

Tabela 6. Total Exposição Bruta ao Risco de Crédito por Tipo de Exposição........................26

ix
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Organograma Funcional da Comissão Executiva.....................................................19

Figura 2. Organograma de controlo e Gestão dos riscos..........................................................21

x
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Total Exposição Bruta ao Risco de Crédito por Tipo de Exposição.......................26

Gráfico 2. Máxima exposição ao Risco de Crédito..................................................................27

Gráfico 3. Hipotecas, Garantias Bancárias e Outros................................................................28

xi
LISTA DE ABREVIATURAS

ALCO – Comité de Gestão de Activos e Passivos;

BM – Banco de Moçambique;

CA – Conselho de Administração;

CE – Comissão Executiva;

DP – Depósito à prazo;

DTM – Direcções de Risco, Tesouraria e Mercados;

Ed  Edição;

GC – Gabinete de Compliance;

H0 Hipótese nula;

H1  Hipótese alternativa;

IFs Instituições financeiras;

P  Página;

PD – Probabilidade de default;

pp – Páginas;

PP – Pontos percentuais;

ROA – Rendibilidade do activo;

ROE – Rendibilidade dos capitais próprios.

xii
INTRODUÇÃO

Na presente secção trataremos da apresentação, contextualização e delimitação do tema, em


seguida teremos a apresentação e definição do problema, as hipóteses, o objectivo geral bem
como os objectivos específicos que nos permitiram alcançar o objectivo geral, a relevância do
tema, isto é o porquê da escolha do tema, a delimitação espacial e temporal.

Apresentação, contextualização e delimitação do tema

O presente trabalho tem como tema: Gestão de risco do crédito numa instituição bancária
tendo como caso o Moza Banco, no período de 2014 a 2016. A actividade bancária vem
desempenhando, ao longo dos tempos, uma função relevante no funcionamento de qualquer
economia. Segundo Caiado, (2008, pp.33) nas últimas décadas perante as crescentes
necessidades dos clientes, as instituições bancárias tem vindo a preparar-se para responder a
operações que por vezes tem um cariz especializado. Tem surgido novos produtos e serviços,
não só pelos bancos mas também por diversas outras instituições especializadas para a
realização de determinadas operações. No entanto, as instituições financeiras e, em particular,
os bancos, tem de enfrentar novos desafios mercê do aparecimento de vários fenómenos que
há pouco mais de meio século eram praticamente inexistentes, como a internacionalização
financeira, a globalização de mercados, a proliferação de novos concorrentes e dos
respectivos produtos e serviços e o surto galopante de novas tecnologias.

A actividade dos bancos faz parte da nossa vida diária e por sua vez é onde a actividade de
crédito faz parte. Os bancos concedem crédito aos seus clientes com confiança de que estes
possam cumprir com os seus compromissos de pagamento na data acordada. O risco está
presente em qualquer actividade de crédito, daí há necessidade de que o credor faça uma
análise cuidadosa da capacidade financeira de cada cliente antes da concessão de crédito.

Segundo Santos (2015, p.230), como forma de reduzir as perdas financeiras decorrentes da
inadimplência, os bancos tem investido na elaboração e implantação de modelos para a
avaliação e gestão do risco de crédito. Tais modelos são necessários para estimar as perdas
inesperadas, as quais estão associadas à incerteza em relação às perdas com crédito.

1
Apresentação e definição do problema

Neste ponto trataremos daquilo que é o problema que o pesquisador levanta sobre o tema em
estudo, mas antes apresentaremos o conceito do problema. Segundo Gil (2008. p.33)
problema é qualquer questão não solvida e que é objecto de discussão, em qualquer domínio
de conhecimento.

O risco de crédito tem sido um assunto de grande preocupação para as instituições financeiras
em particular os bancos, na medida que realizam operações de empréstimos e a sua gestão
tem se tornado uma questão peculiar no que concerne ao controlo das taxas de inadimplência.
De acordo com Saunders (2007, p.195) à medida que os bancos e as outras instituições
financeiras têm ampliado suas actividades de concessão de garantias de crédito e outras
actividades fora do balanço, novos tipos de exposição a risco de crédito tem surgido, gerando
preocupação entre administradores e autoridades reguladoras.

Segundo Santos (2015, p.2), a questão do reembolso de crédito deve ser cuidadosamente
analisada, baseando-se na compatibilidade das fontes primárias de receita do cliente com o
plano de amortização proposto pois a qualquer momento, acontecimentos imprevistos e
adversos, como os decorrentes de recessão económica, podem afectar as fontes primárias de
pagamento de empresas e de clientes, reduzindo a probabilidade de recebimento do crédito.

A eficácia dos modelos de gestão do risco de crédito é relativa, razão pela qual existem
muitos e são objectos de discussão e avaliação tanto pelos bancos como pelos profissionais da
área bancária. Face a esta situação coloca-se a seguinte pergunta de partida: “Será que o
modelo de gestão de risco de crédito usado pelo Moza Banco foi adequado e eficaz no
controlo das taxas de inadimplência entre 2014 a 2016?”

Hipóteses

Hipótese é “uma suposta resposta ao problema a ser investigado. É uma preposição que se
forma e que será aceite ou rejeitada somente depois de devidamente testada”. (Gil, 2008,
p.41).

H0: O modelo de gestão do risco de crédito usado pelo Moza Banco é eficaz no controlo das
taxas de inadimplência.

H1: O modelo de gestão do risco de crédito usado pelo Moza Banco não é eficaz no controlo
das taxas de inadimplência.

2
Relevância do tema

Para além da motivação de poder colocar em prática conhecimentos adquiridos pela autora
nessa licenciatura, a justificativa deste trabalho deve-se ao facto de existir uma grande
preocupação por parte das instituições financeiras em gerir o crédito e os riscos inerentes a
cada operação. Portanto, a análise de risco de crédito é importante, para uma grande
variedade de relações contratuais entre instituições financeiras e contrapartes do sector
empresarial.

A pesquisa é de extrema relevância tendo em conta que discute modelos de gestão de risco de
crédito usados pelas instituições financeiras em Moçambique e em particular pelo Moza
Banco, uma instituição intervencionada pelo Banco de Moçambique por incumprimento de
alguns critérios de gestão de risco bancário. Cada banco tem adoptado o seu modelo de
gestão de risco. No entanto, a precisão dos modelos em reduzir o risco é diferente. Assim,
tornou-se importante avaliar até que ponto o modelo adoptado pelo Moza Banco é eficaz na
redução do risco bancário. A título profissional, a autora está a terminar o curso de Gestão
Financeira e Bancária e o estudo do risco bancário é importante porque vai dotá-la de
conhecimentos profundos nesta área.

Objectivos

Marconi e Lakatos (2007, p.159), dizem que toda pesquisa deve ter um objectivo
determinado para saber o que se vai procurar e o que se pretende alcançar. O objectivo torna
explícito o problema, aumentando os conhecimentos sobre determinado assunto.

Geral

Analisar a gestão do risco de crédito no Moza Banco no período de 2014 a 2016.

Específicos

 Descrever os modelos usados para gerir o risco de crédito;

 Verificar a evolução do crédito mal parado e das imparidades no Moza Banco no


período em análise;

 Discutir a eficácia dos modelos de gestão de risco de crédito usados pelo Moza
Banco.

3
Delimitação espacial e temporal

O presente estudo foi feito no Moza Banco - Sede, na cidade de Maputo correspondeu a
análise da área de gestão dos riscos, num horizonte temporal de 3 anos, ou seja, no
períodocompreendido de 2014 a 2016.

Estrutura do trabalho

O trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma: Introdução, Desenvolvimento e


Conclusão. O desenvolvimento divide-se em três capítulos: No primeiro capítulo encontra-se
a Revisão de Literatura onde apresenta-se visões de diferentes autores de referência para o
desenvolvimento da pesquisa. No segundo capítulo encontra-se a Metodologiaonde se
descreve o método usado na recolha de dados durante a pesquisa. No terceiro capítulo
encontra-se a Apresentação e Discussão dos Resultados onde apresentam-se dados e faz-se a
análise e a discussão dos mesmos, com suporte no problema, objecto de estudo, e na
informação apresentada na revisão de literatura.

4
CAPÍTULO I – REVISÃO DE LITERATURA

Este capítulo destina-se a apresentar as visões de diferentes autores de referência para o


desenvolvimento da pesquisa. Estas informações servem de apoio para a explicação de
elementos essenciais para se chegar ao objectivo primordial da pesquisa. No entanto,
apresentar-se-á aspectos conceituais relacionados à gestão de risco bancário nas instituições
financeiras em particular os bancos como: conceito de crédito, análise de crédito, limite de
crédito, conceito de risco e risco de crédito. De seguida apresentaremos os elementos
definidores do crédito, os objectivos da análise de crédito, as etapas da análise de crédito, os
elementos da análise subjectiva do crédito, outros riscos da actividade bancária, a
classificação do risco de crédito de um banco, modelos de avaliação e gestão do risco de
crédito e as limitações da gestão do risco de crédito,

1.1 Aspectos conceituais

1.1.1 Crédito

De acordo com Schrickel (1994, p.25), crédito é todo acto de vontade ou disposição de
alguém de destacar ou ceder, temporariamente, parte do seu património a um terceiro, com a
expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente, após decorrido o tempo
estipulado. Esta parte do matrimónio pode ser materializada por dinheiro ou bens. Segundo
Silva (2006, p.39), o crédito consiste na entrega de um valor presente mediante uma
promessa de pagamento em data futura. Santos (2015, p.1)define crédito em finanças, como a
modalidade de financiamento destinada a possibilitar a realização de transacções comerciais
entre empresas e seus clientes. Cabido (1999, p.14) defende que o crédito é um contrato
bilateral uma parte que empresta, outra que pede emprestado e promete pagar em certo tempo
acordado.

No entanto, considera-se uma operação de crédito, na qual se troca um valor actual pela
promessa de pagamento futuro. O banco compra do cliente sua promessa de pagamento, por
isso, o crédito é o principal elemento na relação cliente-banco.

1.1.2 Análise de Crédito

Schrikel (1994, p.27), afirma que a análise de crédito envolve a habilidade de fazer uma
decisão de crédito, dentro de um cenário de incertezas e constantes mutações e informações

5
incompletas. Esta habilidade depende da capacidade de analisar logicamente situações, não
raro, complexas, e chegar a uma conclusão clara, prática e factível de ser implementada.

1.1.3 Limite de Crédito

O limite de crédito é um instrumento utilizado pelos agentes financeiros, com a finalidade de


definir o valor máximo que o banco admite emprestar ao cliente, dimensionando-o à histórica
capacidade de geração de recursos do cliente, diminuindo assim a probabilidade de
incumprimento por parte do mesmo. (Silva, 2002, citado por Rocha, 2011, p.25).

1.1.4 Risco

De acordo com Caiado (2008, p.207) entende-se por risco a probabilidade de ocorrerem
perdas em operações realizadas pelos agentes económicos. De acordo com Brigham e
Ehrhardt (2006, p.203), o risco refere-se à chance de que algum evento desfavorável ocorra.
Por sua vez, Gitman e Madura (2003, p.129), definem o risco como sendo a probabilidade de
o retorno real ser diferente do retorno esperado. Para Schrickel (1994, p.35), o risco significa
incerteza, imponderável, imprevisível, e estes situam-se necessária e unicamente, no futuro.

1.1.5 Risco de crédito

De acordo com Silva (2006, p.39) o risco de crédito é a probabilidade de que o recebimento
não ocorra, ou seja, é igual a 1 (um) menos a probabilidade de recebimento. Segundo
Saunders (2007, p.102), há risco de crédito porque os fluxos de caixa prometidos pelos títulos
primários possuídos por instituições financeiras podem não ser pagos integralmente. Para
Caiado (2008, p. 207) o risco de crédito advém de mutuários que podem não vir a pagar os
juros e o capital mutuado de acordo com o plano de reembolso contratado ou mesmo em
datas posteriores, implicando prejuízos que terão de ser cobertos com as necessárias
provisões.

1.2 Elementos definidores de crédito

Os elementos definidores de crédito conforme explicados por Nunes (2009, citado por Rocha,
2011, p.18), são função uns dos outros, não são independentes. São eles: a finalidade, o
montante, o prazo, o preço, o risco e a garantia.

6
 A finalidade de um crédito está directamente ligado ao montante solicitado, ou
seja este deve ser o suficiente para o cliente adquirir o bem que necessita.
 O prazo do crédito está relacionado com a vida útil do bem adquirido, não
devendo ser superior à vida útil do mesmo. Não é razoável que o cliente esteja a
pagar por algo que não utiliza.
 A semelhança de qualquer produto ou serviço adquirido fora do sector bancário,
os produtos/serviços dos bancos tem preço. No crédito bancário, o preço inclui o
custo dos fundos que o banco paga a quem lhe disponibiliza o dinheiro (clientes,
depositantes, investidores e/ou outras instituições de crédito) e os custos
administrativos associados ao crédito (análise da proposta e gestão do crédito).
Para formar o preço final adiciona-se uma margem de lucro.
 No que diz respeito ao risco, pode-se dizer que o risco de crédito é o prejuízo
potencial decorrente da operação, isto é, que terá lugar se os termos do acordo não
forem cumpridos. Não existe crédito sem risco.
 A principal garantia do crédito bancário é a finalidade do mesmo o qual deverá
libertar fundos ao longo do tempo, susceptíveis de fazer face no montante certo à
satisfação da dívida contraída.

1.3 Objectivo da análise de crédito

O principal objectivo da análise de crédito numa instituição financeira segundo Schrickel


(1994, pp.25-26) é o de identificar os riscos nas situações de empréstimo, evidenciar
conclusões quanto à capacidade de pagamento do tomador, e fazer recomendações relativas à
melhor estruturação e tipo de empréstimo a conceder, à luz das necessidades financeiras do
solicitante, dos riscos identificados e mantendo, adicionalmente, sob perspectiva, a
maximização dos resultados da instituição.

Por sua vez, Santos (2009, p.29) afirma que o objectivo do processo de análise de crédito é o
de averiguar se o cliente possui idoneidade e capacidade financeira para amortizar a dívida.

No entanto o objectivo de análise de crédito é de averiguar se o cliente possui ou não a


capacidade financeira de amortizar a dívida, com intuito de que este não venha tornar-se
inadimplente no futuro.

7
1.3.1 Etapas da análise de crédito

Segundo Schrickel (1994, pp.26-27), em qualquer situação de concessão de empréstimo há


basicamente três etapas distintas a percorrer:

1ª. Análise retrospectiva – É a avaliação do desempenho histórico do potencial tomador,


identificando os maiores factores de risco inerentes a sua actividade e quão satisfatoriamente
esses riscos foram atenuados e/ou contornados no passado. A análise histórica tem como
objectivo primordial o de procurar identificar factores na actual condição do tomador que
possam denunciar eventuais dificuldades e/ou questionamentos quanto ao almejado sucesso
do mesmo em resgatar financiamentos tomados junto ao emprestador.

2ª. Análise de tendência – É a efetivação de uma razoável segura projecção da condição


financeira futura do tomador, associada à ponderação acerca de sua capacidade de suportar
certo nível de endividamento oneroso.

3ª. Capacidade creditícia – É decorrente das duas etapas anteriores, tendo sido avaliado o
actual grau de risco que o tomador potencial apresenta, bem como o provável grau de risco
futuro, deve-se chegar a uma conclusão relativa à sua capacidade creditícia e,
consequentemente, à estruturação de uma proposta de crédito, em que o empréstimo
pleiteadopossa ser amortizado em consonância com certo fluxo de caixa futuro, e em
condições tais que seja sempre preservada a máxima protecção de emprestador contra
eventuais perdas.

1.4 Análise Subjectiva do Crédito

O processo de análise subjectiva envolve decisões individuais quanto à concessão ou recusa


de crédito. Nesse processo, a decisão baseia-se na experiência adquirida, disponibilidade de
informações e sensibilidade de cada analista quanto ao risco do negócio. Gitman (1997)
citado por Santos (2015, p.39) acredita que um dos insumos básicos à decisão final de crédito
é o julgamento subjectivo que o analista financeiro faz para determinar se é válido ou não
assumir riscos. Segundo o autor, a experiência adquirida do analista e a disponibilidade de

8
informações (internas e externas) sobre o carácter do cliente são requisitos fundamentais para
a análise subjectiva do risco de crédito.

1.4.1 Os Cs do crédito

Os analistas de crédito frequentemente têm usado informações que são necessárias na análise
subjectiva da capacidade financeira dos clientes tradicionalmente conhecidas como Cs do
crédito: carácter, capacidade, capital, colateral e condições. Santos (2015, pp.39-41) aborda
os cinco Cs da seguinte forma:
 O Carácter está associado à idoneidade do cliente no mercado de crédito. Para a
análise desse critério, é indispensável que os credores disponham de informações
históricas de seus clientes que evidenciem intencionalidade e pontualidade na
amortização de dívidas.
 Capacidade refere-se ao julgamento subjectivo do analista quanto à habilidade dos
clientes na gestão e conversão de seus negócios em receita.
 Capital é medido pela situação financeira do cliente, levando-se em consideração a
composição dos recursos, onde são aplicados e como são financiados.
 Colateral refere-se à riqueza patrimonial dos clientes composta por bens (móveis e
imóveis) e aplicações financeiras.
 Quanto as condições esse C está relacionado à sensibilidade da capacidade de
pagamento dos clientes à ocorrência de factores externos adversos ou sistemáticos.

1.6 Outros riscos da actividade bancária

Existem outros tipos de riscos na actividade bancária sendo de destacar o risco de mercado,
risco operacional e risco de liquidez.

Risco de mercado

De acordo com Silva (2008, p.38), o risco do mercado está relacionado às mudanças nos
preços e nas taxas no mercado financeiro e que possam provocar redução das posições de um
banco, ou seja, as variações que possam gerir prejuízo. Dentro do risco do mercado podemos
distinguir: o risco de taxas de juro e o risco cambial.

Para Caiado (2008, p.207-208), o risco de taxas de juro advém do facto da instituição ter
contratado operações que vencem juros e taxas fixas ou variáveis e que podem afectar

9
negativamente o resultado de exploração. Quanto ao risco cambial o autor afirma que as
instituições que possuem activos e passivos contratados em moeda estrangeira podem ser
mais ou menos prejudicadas no caso de ocorrerem desvalorizações de moedas que titulam os
activos e valorizações de moedas que titulam os seus passivos.

Risco operacional

Para Saunders (2007, p.105), o risco operacional pode surgir sempre que a tecnologia
existente deixa de funcionar adequadamente, ou os sistemas de apoio falham. Segundo Silva
(2008, p.38), o risco operacional decorre da possibilidade de ocorrência de perdas resultantes
da falha, deficiência ou inadequação de processos internos, pessoas e sistemas, ou de eventos
externos.

Risco de Liquidez

De acordo com Caiado (2008, p.208), o risco de liquidez corresponde ao eventual


desequilíbrio entre os recursos e as aplicações de fundos, no dia-a-dia, ou seja, a muito curto
prazo o grau de conversão em disponibilidades dos activos pode ser inferior ao grau de
exigibilidade dos correspondentes passivos. Para Silva (2008, p.29), o risco de liquidez diz
respeito à própria capacidade de solvência do banco, estando directamente relacionado com a
capacidade e facilidade da instituição em obter fundos, a um custo compatível, para cumprir
os compromissos junto aos seus depositantes, bem como para efectuar novos empréstimos e
financiamentos aos clientes demandadores de recursos. Segundo o autor, o atendimento às
necessidades de liquidez de um banco envolve complexidade no balanceamento entre
empréstimos e depósitos, bem como análise das oscilações históricas do nível de depósito. O
risco de liquidez envolve o activo e o passivo. Na parte do activo, temos a facilidade e a
rapidez com que o activopossa ser convertido em caixa e na parte do passivo temos a maior
ou menor facilidade de captação.

1.7 Classificação do risco de crédito de um banco

Segundo Silva (2008, p.58-62) podemos classificar os riscos de crédito de um banco em


quatro grupos:

1. Risco do cliente ou risco intrínseco

Esse tipo de risco é inerente ao tomador e decorre de suas características. Portanto, o não-
cumprimento da promessa de pagamento pelo devedor pode decorrer de um conjunto de

10
factores associados ao próprio devedor. Os chamados Cs do crédito (carácter, capacidade,
condições, capital e colateral) contêm as variáveis relacionadas ao risco do cliente (risco
intrínseco), as quais poderão fornecer a base para a classificação do risco (rating). Essa
classificação possibilitará melhor decisão na precificação do empréstimo ou financiamento e
também deve levar a uma adequada escolha das garantias.

2. Risco da operação

Um empréstimo ou financiamento específico carrega certas características de risco inerentes


a sua finalidade e a sua natureza. Os principais componentes de uma operação são: o produto,
o montante, o prazo, a forma de pagamento, as garantias, o preço. Cada um desses
componentes tem sua potencialidade de risco. A inadequação na determinação do produto ou
do valor pode levar o tomador à inadimplência. O prazo de uma operação tem peso
significado no risco de crédito, pois é necessário que o mesmo seja compatível com a
capacidade de pagamento do cliente. Por outro lado, na medida que aumenta o prazo, o futuro
torna-se mais incerto e novos eventos poderão ocorrer e mudar o rumo da empresa, do país
ou mesmo do mundo. A inadequação do prazo, pode levar o tomador a inadimplência.
Merece destaque a garantia associada a cada operação de empréstimo ou financiamento,
especialmente a liquidez e suficiência da mesma.

3. Risco de concentração

Na gestão do crédito, a decisão de conceder ou não determinado limite ou operação a um


cliente depende em grande parte de dois factores principais ou seja do risco e do retorno
esperados em relação ao negócio específico. A análise do risco intrínseco permite classificar
o cliente numa escala de risco. A análise do risco de operação em si, compreendendo a
natureza da mesma e as garantias associadas, fornece o complemento de apreciação de risco
necessário à tomada de decisão. Adicionalmente, a carteira de crédito do banco pode estar
concentrada num determinado segmento de actividade económica, numa região geográfica ou
num produto específico, por exemplo. Portanto, o risco de concentração decorre da
composição da carteira de recebíveis do banco, quanto à maior ou menor concentração que a
mesma apresente.

4. Risco de administração do crédito

Muitos dos créditos problemáticos decorrem da capacidade e da seriedade do banco na


avaliação do risco do cliente. As crises económicas e carácter dos devedores são

11
frequentemente citados como as causas dos créditos problemáticos. No entanto, o risco de
administração corresponde ao facto do banco não ter capacidade de analisar, avaliar, decidir,
formalizar e acompanhar os créditos concedidos.Os recursos humanos e materiais do banco
têm, portanto, importante papel nos níveis de inadimplência da carteira de crédito.

1.8 Mitigação do Risco de Crédito

Para colmatar o problema do risco de crédito, a maioria dos bancos comerciais tem optado
por obter garantias bancárias. Mas a forma mais usada para diminuir o problema de
incumprimento nas operações de crédito é a avaliação que é um processo ao montante.

1.8.1 Garantias nas Operações de Crédito

Segundo Santos (2015, p.105), as garantias são entendidas como reforço ou complemento,
mais ou menos consistente, para acudir a acontecimentos imprevisíveis ou circunstâncias
anómalas que possam vir a surgir.

A função prática da garantia é a de gerar um comprometimento pessoal ou patrimonial do


tomador de empréstimos com a operação em si, e aumentar o grau de segurança do banco
para a cobrança de seu crédito. As garantias são sem dúvida, um importante factor que se
deve pesar para a minimização de riscos e assegurar maior possibilidade para o pagamento
dos empréstimos, portanto durante uma operação de crédito elas deverão ser examinadas em
conjunto com outras informações do cliente, obtidas a partir de outras análises. O objectivo
da garantia é o de impedir que factores imprevisíveis impeçam a liquidação do crédito,
reduzindo assim o risco pelo qual o credor está sujeito, ou seja, as garantias têm como
objectivo dar reforço a segurança das operações. (Santos, 2015, p.45).

Segundo Silva (2008, pp.329-330), as garantias classificam-se em: pessoais e reais.


Entendem-se por Garantias pessoais as que ocorrem quando se exige do devedor apenas a
promessa de pagamento, contentando-se o credor com a garantia comum que lhe possa dar o
património presente e futuro do devedor ou do garantidor (avalista ou do fiador) ”. Entre as
garantias pessoais temos o aval que é uma garantia pessoal em que o avalista assume a
mesma posição jurídica do avalizado, tornando-se solidário pela liquidação da dívida e a
fiança que é o tipo de garantia pessoal em que o fiador promete satisfazer à obrigação de um
terceiro para maior segurança do credor.

12
Além das garantias pessoais existem as Garantias reais que são aquelas que ocorrem
quando, além da promessa de pagamento, o devedor confere ao credor o direito especial de
garantia sobre uma coisa ou uma universalidade de coisas móveis ou imóveis. São garantias
reais: o penhor que é uma garantia real que recai sobre bens móveis, susceptíveis de
alienação, cuja posse salvo no caso do penhor rural, industrial, mercantil e de veículos,
deverá ser transferida ao credor, a hipoteca que também é outra modalidade de garantia real,
acessória de uma dívida, que incide sobre bens imóveis. Na hipoteca, o bem hipotecado
permanece em poder do devedor ou de terceiro e a antícrese que é um tipo específico de
garantia real em que a posse do bem imóvel é transferida ao credor, o qual fica com os
rendimentos decorrentes da coisa em garantia até que a dívida seja paga.

1.9 Modelos de gestão do risco de crédito

Para avaliar e geriro risco de crédito normalmente os bancos usam modelos. Existem vários
modelos, cada um tem a sua particularidade e o impacto destes modelos depende de vários
factores, desde a organização da instituição financeira até a tecnologia que ela usa na gestão
do crédito da instituição. Autores como Cabido (1999), Saunders (2007), Silva (2006) e
Santos (2015) apontam o Credit Scoring, Rating, Valor em Risco (ValueatRisk – VAR),
Creditmetrics, Análise de Cenário, Simulação de Monte Carlo, Retorno Ajustado ao Risco
nas Operações de Crédito, Modelo KMV (Modelo de Probabilidade de Inadiplência).

Para este trabalho irá se apresentaos conceitos de creditscoring e do ratingque se pressupõem


que sejam os mais usados pelos bancos comerciais.

Credit scoring

Segundo Cabido (1999, p.87), o credit scoring é um modelo de análise do crédito


fundamentalmente aplicável aos particulares, que visa a análise objectiva do risco,
procurando avaliar a capacidade e solvabilidade do cliente. De acordo com Saunders (2007,
p.210), os modelos de escore de crédito (credit scoring) utilizam dados relativos a
características observadas do tomador, seja para calcular a probabilidade de inadimplência,
seja para colocar os tomadores em classes de risco de inadimplência. Santos (2015, p.177)
afirma que o credit scoring é um instrumento estatístico desenvolvido para que o analista
avalie a probabilidade de que o determinado cliente venha a tornar-se inadimplente no futuro.
Silva (2006, p.345), defende que o modelo credit scoring possibilita resposta rápida para
decisão de crédito massificado.

13
Rating

De acordo Silva (2008, p.62), o rating é uma avaliação de risco que é feita por meio da
mensuração e ponderação das variáveis determinantes do risco da empresa. Ainda segundo o
autor, o rating é apresentado por meio de um código ou classificação que fornece uma
graduação do risco. Para Santos (2010, p.193) os ratings são opiniões sobre a capacidade
futura dos devedores de efectuarem, dentro do prazo, o pagamento do principal e dos juros de
suas obrigações. O autor ainda afirma que os sistemas de ratings estão sujeitos a variações
qualitativas, influenciadas entre outros, pelos seguintes aspectos: Competência técnica e
experiência dos avaliadores; Metodologia de mensuração de riscos empregada; Modelo de
colectar qualidade e confiabilidade das fontes de informações utilizadas no desenvolvimento
da análise. (Santos, 2010, p.194).

1.10 Limitações no processo de Gestão do risco de crédito

Segundo Santos (2015, p.5) os bancos enfrentam algumas limitações no processo de


concessão e gestão do risco de crédito tais como:

 A dependência do risco de crédito da ocorrência de factores sistemáticos ou externos;


 A utilização por parte dos clientes de informações imperfeitas na fase da análise de
crédito;
 A ausência de banco de dados com informações dos clientes em todo o mercado de
crédito; e
 As dificuldades no ajustamento de estratégias de diversificação de riscos em carteiras
de crédito.

1. A dependência do risco de crédito da ocorrência de factores sistemáticos – a


determinação do risco de crédito deve considerar o impacto de factores sistemáticos ou
externos sobre a capacidade de pagamentos de clientes. Um aumento na taxa de juros, por
exemplo, pode desencadear situações desfavoráveis à prática de concessão de crédito, em
face da maior probabilidade de redução no nível de actividade económica, recessão e
desemprego.

2. A utilização de informações imperfeitas na fase da análise de crédito – a determinação


do risco de crédito baseia-se na veracidade dos dados financeiros disponíveis no mercado e

14
fornecidos pelos clientes.Todavia empresas e pessoas físicas podem omitir e /ou manipular
informações (financeiras, patrimoniais e de idoneidade) visando beneficiar-se na análise de
crédito. Consequentemente, aprovações de crédito baseadas em informações não compatíveis
com a real situação financeira dos clientes expõem os credores ao problema de selecção
adversa, ou seja, o da concessão de financiamento para clientes de alto risco.

3. Ausência de banco de dados com informações dos clientes em todo o mercado de


crédito – as dificuldades enfrentadas pelos credores para a obtenção de informações dos
clientes constituem-se em um dos principais problemas nas fases de análise e de gestão de
risco de crédito. Em parte, esse problema é ocasionado pela inexistência de bancos de dados
munidos com informações completas do histórico de crédito e posição actual do risco dos
clientes, com todos os seus supridores de financiamentos.

4. As dificuldades de ajustamento de estratégias de diversificação de riscos em carteiras


de crédito – após o trabalho pioneiro de Markowitz (1952) citado por Santos(2015, p.6), com
ênfase nos benefícios da diversificação em carteiras de activos, alguns autores começaram a
questionar a aplicabilidade dessa estratégia para a redução de risco em carteiras de crédito. O
ponto central desse questionamento considera as dificuldades enfrentadas pelos credores para
obter informações históricas e actualizadas da situação financeira dos clientes.

15
CAPÍTULO II – METODOLOGIA DO TRABALHO

O presente capítulo consiste em apresentar a metodologia usada para a elaboração da


pesquisa, com vista a responder o problema do estudo. De acordo com Gil (2008, p.12), a
metodologia consiste num conjunto de métodos e de técnicas, não só de recolha como
também de tratamento de informação, para se alcançar os objectivos pretendidos numa
investigação.

Para o desenvolvimento do trabalho foi usada a metódo de pesquisa bibliográfica. Segundo


Gil (2008, p.50), “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado,
constituindo principalmente de livros e artigos científicos”. Neste caso, usou-se livros de
diferentes autores relacionados à área de estudo.

2.1 Tipos de pesquisa

De acordo com Gil (2008, p.26), a pesquisa trata-se de processo formal e sistemático de
desenvolvimento do método científico. O objectivo fundamental da pesquisa é descobrir
respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos.

Para a elaboração da pesquisa recorreu-se as seguintes tipologias de pesquisa:

Quanto à abordagem do problema a pesquisa em estudo foi quantitativa. Segundo Richardson


(1999, p.70), a pesquisa quantitativacaracteriza-se pelo emprego de instrumentos estatísticos
tanto na colecta tanto no tratamento de dados.

Quanto aos objectivos foi usada a pesquisa exploratória que tem como principal finalidade
desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de
problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. (Gil, 2008,
p.27).

Quanto aos procedimentos técnicos foi usada o estudo de caso. Quanto ao estudo de caso
segundo Gil (2008, p.57)é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de
poucos objectos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado.
2.2 Instrumentos de Recolha de dados

Para a recolha de dados usou-se a análise ou pesquisa documental. Segundo Gil (2008, p.50)
aanálise ou pesquisa documental é desenvolvida a partir de materiais que não receberam

16
ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os
objectivos da pesquisa. No entanto, usou-se relatórios do banco para se efectuar a análise
sobre o período de 2014 a 2016.

2.3 Plano de análise de dados

Segundo (Gil, 2009, p.70), o processo de análise de dados envolve diversos procedimentos:
codificação das respostas, tabulação dos dados e cálculo estatístico. As análises de dados
foram feitas de maneiraquantitativa.

O plano de análise de dados quantitativos contou com:

 Organização dos dados;

 Agrupamento e resumo dos dados através de: tabelas e gráficos; e

 Análise e interpretação dos dados através de: cruzamento de tabelas e gráficos.

2.4 Limitações da pesquisa

Segundo Vergara (2006, p.61) “ todo método tem possibilidades e limitações”. Assim sendo
entende-se limitações de estudo como possíveis entraves ou barreiras que pode se deparar no
decorrer da recolha dos dados.

As limitações encontradas durante a pesquisa foram as seguintes:

 Indisponibilidade de informação e de dados bancários para a análise sob pretexto de


sigilo bancário;
 A forma exploratória do estudo, no que se refere na falta de manuais para fortalecer a
compreensão do assunto em estudo.

17
CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1 Descrição do caso

O estudo apresentado baseia-se em dados recolhidos através de relatórios do Moza Banco


relativos a gestão do risco de crédito do banco no período compreendido de 2014 a 2016. O
estudo abrange a gestão de risco bancário do Moza banco, as políticas e princípios do banco e
avaliação dos indicadores de gestão do risco de crédito tendo em conta o crédito vivo e mal
parado para a determinação das suas imparidades no Moza Banco. Devido ao sigilo bancário
não foi possível ter acesso a informações e de mais dados do banco.

3.1.1Apresentação do banco

O Moza Banco (“Moza”) é um banco comercial que opera no mercado Moçambicano desde
Junho de 2008. Desde a data da sua constituição o Moza tem vindo a cimentar a sua presença
e marca de uma forma consistente, alinhada com a gradual expansão da sua rede de
distribuição a par de um continuado foco nas necessidades dos seus clientes.

Com a aprovação por parte dos seus accionistas, em finais de 2013, do Plano Estratégico para
o período de 2014 e 2018, o Moza Banco iniciou um gradual processo de transformação e
reforço do seu modelo de negócios, passando de uma Instituição que servia primeiramente os
segmentos de Corporate e PrivateBanking, para o posicionamento mais próximo do
segmento de retalho e MassMarket, numa clara transformação para um posicionamento de
Banco Universal.

O Moza banco dispõe depósitos a prazo como: DP Valor Mensal, DP Dupla protecção, DP
Rendimento na hora, DP Caução, DP Boas Vindas, DP 16 em 16, DP Valor Poupança. Os
serviços que o Moza Banco dispõe são: Moza Já, Alertas SMS, Internet Banking, Moza N
Bolso e Moza d’Agente.

3.1.2 Estrutura Organizacional e Gestão de Risco no Moza Banco

A estrutura de gestão de risco do Moza Banco está evidente no organograma apresentado na


figura 1, onde o Comité de Risco e de Crédito estão subordinados ao Chefe Executivo do
Banco. Pela estrutura podemos notar que na gestão de risco do Moza Banco intervém quase

18
toda a estrutura. Se analisarmos o organograma podemos notar que para além da Comissão
executiva, também o Comité de Auditoria que intervém sobre as áreas de crédito do Banco.

Figura 1: Organograma Funcional da Comissão Executiva

Fonte: Relatório de Contas (2015)

3.1.3 Gestão de Risco Bancário no Moza Banco

O Moza Banco tem por política e princípio uma gestão de risco rigorosa e dotada de todos os
meios necessários para assegurar a viabilidade e sustentabilidade do modelo de negócio e da
estratégia do Banco. Estando o Banco sujeito a diversos riscos relacionados com o
desenvolvimento da sua actividade, que no seu todo formam o perfil de risco do Banco, a
gestão é regida por princípios, procedimentos e metodologias de controlo e reporte ajustadas
à dimensão e complexidade do Banco em cada momento. A função de Gestão de Risco do
Moza visa, essencialmente, identificar, avaliar, mensurar, controlar, acompanhar e reportar

19
todos os riscos materialmente relevantes a que a instituição se encontra sujeita, tanto interna
como externamente, de modo a que os mesmos se mantenham em níveis adequados e, dessa
forma, não afectem negativamente a situação patrimonial do Banco. O Perfil de Risco do
Banco tem subjacentes os seguintes riscos, considerados materialmente relevantes, cuja
gestão dos mesmos é essencial para o desenvolvimento, rendibilidade e sustentabilidade do
negócio, assegurando a conformidade com os requisitos e definições legais, designadamente
uma correcta determinação de fundos próprios e gestão de liquidez adequados às exposições
aos diversos riscos decorrentes da actividade financeira: Risco operacional, Risco de Crédito,
Risco de Taxa de Juro, Risco de Taxa de Câmbio, Risco de Liquidez, Risco de Concentração
de Crédito, Risco Estratégico eo Risco Reputacional.

Risco operacional  A gestão deste risco é efectuada com base em instrumentos que
permitem identificar, avaliar, mensurar e controlar os riscos que podem afectar o capital e os
resultados do Banco (produtos, serviços, processos e sistemas).

Risco de Crédito Paralelamente, em caso de falência das contrapartes, foi considerado que
as posições em risco detidas pelo Moza Banco noutras Instituições de Crédito não são
materialmente relevantes, pelo que não se considera o risco de contraparte como
materialmente relevante.
Risco de Taxa de JuroEventuais movimentos adversos das taxas de juro poderão
condicionar negativamente os resultados ou capital, pelo que considera-se o risco de taxa de
juro como materialmente relevante.
Risco de Taxa de CâmbioConsidera-se o risco de taxa de câmbio como materialmente
relevante.

Risco de LiquidezA gestão de liquidez é uma condição necessária ao funcionamento do


Banco, por isso, deve considerar-se este risco como materialmente relevante.
Risco de Concentração de CréditoO não é materialmente relevantes, pelo que não se
considera o risco de contrapartes como materialmente relevante.
Risco EstratégicoDada a importância e transversalidade deste risco para o bom
desempenho da actividade e uma vez que resulta de outros riscos considerados como
materialmente relevantes, deve considerar-se este risco como materialmente relevante.
Risco ReputacionalDada a importância e implicações do risco reputacional, relacionadas
com a própria operação da actividade, que em caso de impactos negativos, pressupõe a

20
recuperação de imagem, de clientes e de receita do Banco, este risco deve ser considerado
materialmente relevante.

O controlo e a gestão dos riscos materialmente relevantes a que o Banco está exposto são
assegurados pelo Conselho de Administração (CA), Comité de Auditoria, Comité de Risco,
Comissão Executiva (CE), Comité PMO, Conselho de Crédito, Comité de Gestão de Activos
e Passivos (ALCO), e pelas Direcções de Risco, Tesouraria e Mercados (DTM), Auditoria
Internae Gabinete de Compliance (GC) em conjunto com os Órgãos Colegiais do Banco.

Figura 2: Organograma de controlo e Gestão dos riscos

Fonte: Relatório de Contas (2014-2015)

3.1.4 Políticas e Princípios de Gestão de Risco de Crédito

De acordo com o Relatório de Disciplina de Mercado (2015, p.2), além da correcta aferição
da materialidade dos riscos, da gestão pró-activa e efectiva do perfil de risco e da definição
de um modelo de governação e gestão abrangente e adequado à complexidade e dimensão da
actividade do Banco, destaca alguns dos principais instrumentos de gestão utilizados pelo
Banco para dar corpo às políticas e princípios de gestão de risco de crédito, nomeadamente:

 Metodologia de avaliação e decisão das operações de crédito;


 Metodologia de apuramento das perdas por imparidade;
 Apuramento dos requisitos de fundos próprios e dos grandes riscos;e
 Mecanismos de acompanhamento e recuperação de crédito.

Com vista a salvaguardar-se contra eventuais incumprimentos contratuais por parte dos seus
clientes, o Moza Banco utiliza diferentes instrumentos de mitigação de risco de crédito. As

21
operações de crédito são contratadas com um conjunto de garantias consideradas suficientes
para minimizar as possíveis perdas que possam surgir em resultado do incumprimento de
uma contraparte. Com efeito, o Moza Banco reconhece como principais tipos de garantias as
seguintes: o aval pessoal, as hipotecas de imóveis habitacionais, as hipotecas de imóveis
comerciais e outros, as hipotecas de viaturas/penhores de equipamentos, os penhores de
depósitos ou outros activos financeiros, as garantias bancárias on first demand e outros.

3.2Apresentação e análise de dados

Para avaliação dos indicadores de Gestão de Risco do Moza Banco foram seleccionados
alguns rácios económicos e financeiros entre 2014 a 2015.

Tabela 1: Principais Indicadores


Descrição 2014 2015 Var. (%) 2014-2015 2016
Ativos Totais 23,100,379.00 31,368,621.00 35,79% 0
Crédito a Clientes (Líquido) 13,649,852.00 17,937,497.00 31,41% 0
Recursos de Clientes 16,914,452.00 24,734,711.00 46,23% 0
Capital 1,880,000.00 2,129,192.00 13,25% 0
RESULTADOS/RENDIBILIDADE
Resultado Antes de Impostos 179,352.00 90,678.00 -49,44% 0
Produto Bancário 1,789,511.00 2,507,359.00 40,11% 0
Rendibilidade dos Capitais Próprios (ROE) 7,86% 3,46% -4,40 pp 0
Rendibilidade do Activo (ROA) 0,66% 0,26% -0,40 pp 0
QUOTA DE MERCADO
Quota de mercado no Crédito a Clientes 6,93% 7,52% 0,59 pp 0
Quota de mercado em Depósitos 6,51% 7,68% 1,18 pp 0
Quota de mercado em Activos 7,47% 8,88% 1,41 pp 0
SOLVABILIDADE – Rácio
Solvabilidade – Rácio Moza Banco 10,46% 9,95% -0,51 pp 0
LIQUIDEZ (Mio MZN)
Crédito/Depósitos 82,9% 74,6% -8,28 pp 0
QUALIDADE DOS ACTIVOS
Imparidade do Crédito 368,832.00 514,602.00 40% 1,980,050.00
Imparidade do Crédito/Crédito Vencido Total 119% 123% 4,01 pp 0
Imparidade do Crédito/Crédito a Clientes 2,68% 2,84% 0,16 pp 0

Fonte: Relatórios do Moza Banco (2014-2015)

Em relação aos activos totais, o Moza Banco aumentou-os em cerca de 35,79% e os totais de
créditos concedidos aumentaram em cerca de 31.41%. Também houve um aumento dos
capitais próprios em cerca de 13,25%. Em relação à rendibilidade do Banco, entre 2014 a
2015, houve uma redução dos resultados antes de impostos em cerca de 49%. Da tabela 1
nota-se que a rentabilidade dos activos expressa pelo ROA, que relaciona resultados líquidos
e os activos totais do Banco, diminuiu em cerca de 0.40 pontos perce ntuais (pp). Além desta
redução pode-se destacar que os activos do Banco não foram rentáveis nos dois anos

22
constantes da tabela. Para 2014, o banco teve um ROA de 0.66%. Isto significa uma fraca
rentabilidade dos activos do Banco. Em relação à rentabilidade dos capitais próprios do
Banco expressos pelo ROE, que mostra a taxa de remuneração dos proprietários e
accionistas, houve uma redução em cerca de 4.40%. Esta situação não favorece os detentores
do capital do Banco.

Em relação ao rácio de solvabilidade, nota-se que a cobertura dos capitais alheios pelo capital
próprio reduziu em cerca de 0.51%. E neste rácio nota-se que em 2015, o Banco estava numa
situação próxima ao rácio mínimo exigido pelo Banco de Moçambique de 8%.

Na tabela 1 também está evidente a preocupação do Moza Banco com a gestão do risco de
crédito com o aumento das imparidades em cerca de 40% entre 2014 a 2015. E em 2016
houve um aumento em cerca de 284,8%. O nível de imparidades sobre o crédito vencido
correspondia a 119% e 123% entre 2014 e 2015, respectivamente. As imparidades são criadas
para cobertura de eventuais prejuízos decorrentes do incumprimento dos mutuários do banco.

Atendendo à preocupação do banco mostra-se a seguir a classificação do risco do banco em


classes.

Tabela 2: Exigência de capital para risco de crédito por classes de risco

Classes de Risco 2014 2015 2016


Activos ponderados
Classe 1 – Administrações Centrais 50,942.00 - -
Classe 2 - Organizações Internacionais - - -
Classe 3- Bancos Multilaterais de Desenvolvimento - - -
Classe 4- Autoridades Municipais - 663.00 -
Classe 5 - Empresas Públicas 718,028.00 70,170.00 -
Classe 6 - Instituições de Crédito 1,019,330.00 1,057,912.00 -
Classe 7 - Empresas 9,449,790.00 11,177,506.00 -
Classe 8 - Carteira de Retalho Regulamentar 1,048,266.00 1,250,133.00 -
Classe 9 - Entidades do Sector Público 5,042.00 15,371.00 -
Classe 10 - Exposições Garantidas por Bens Imóveis 165,229.00 172,371.00 -
Classe 11- Créditos Vencidos 315,147.00 172,186.00 -
Classe 12- Risco Elevado - 191,770.00 -
Classe 13- Outros Activos 2,174,490.00 2,930,023.00 -
Total 14,946,264.00 17,038,105.00 0

Fonte: Relatórios do Moza Banco (2014-2015)

23
Na tabela 2, são apresentadas as principais classes de risco do banco e a exigência de capital
para cada classe de risco de crédito. Assim, a maior exigência de capital está concentrada nas
empresas, com um volume de crédito de cerca de 11.177.506,00 MT, seguidas de outros
activos com cerca de crédito de 2.930.023,00 MT. Essa classificação permite o Banco gerir
cada grupo de crédito de forma individualizada.

O banco calcula as provisões para o crédito vencido as que incidem sobre o valor total dos
critérios enquadrados nas classes de risco abaixo indicadas:

Classe 1 – até 30 dias;

Classe 2 – de 31 a 90 dias;

Classe 3 – de 91 a 180 dias;

Classe 4 – de 181 a 360 dias; e

Classe 5 – acima de 360 dias.

Tabela 3: Decomposição da carteira por qualidade de crédito

Decomposição da Carteira por Qualidade de Crédito


2014 Valor Imparidade Exposição líquida
Crédito Vincendo 13,476,612.00 135,736.00 13,340,876.00
Crédito Vencido 311,015.00 233,096.00 77,919.00
Exposição Vencida - - -
Exposição com indício de imparidade - - -
Saldo final 13,787,627.00 368,832.00 13,418,795.00
2015 Valor Imparidade Exposição líquida
Crédito Vincendo 17,720,642.00 214,267.00 17,506,375.00
Crédito Vencido 419,733.00 300,335.00 119,398.00
Exposição Vencida - - -
Exposição com indício de imparidade - - -
Saldo final 18,140,375.00 514,602.00 17,625,773.00
2016 Valor Imparidade Exposição líquida
Crédito Vincendo 13,938,141.00 548,753.00 13,389,388.00
Crédito Vencido 5,187,947.00 1,431,297.00 3,756,650.00
Exposição Vencida 1,501,813.00 1,431,297.00 70,516.00
Exposição com indício de imparidade 3,686,134.00 - 3,686,134.00
Saldo final 19,126,088.00 1,980,050.00 17,146,038.00

Fonte: Relatórios de Contas do Moza Banco (2014-2016)

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Dos dados apresentados acima pode-se notar que a exposição máxima entre 2014, 2015 e
2016, foi de 13.418.795,00 MT, 17.625.773,00MT e 17.146.038,00 MT, respectivamente.
Nota-se que a exposição líquida foi aumentando nos três exercícios económicos,
evidenciando uma tendência de aumento do risco de crédito do Moza Banco. Os dados
mostram que apesar da classificação do risco presente na tabela 2, as políticas de gestão de
crédito mal parado do Banco não estão a surtir os efeitos desejados. Continua a aumentar o
crédito mal parado. As razões podem ser várias, desde a má avaliação das propostas de
crédito até fraca capacidade de gestão dos mutuários.

O actual modelo de imparidade usado pelo Moza Banco efetua os cálculos de imparidade de
duas formas distintas: análise individual e análise colectiva. Para uma melhor compreensão
são apresentados na tabela 4, os movimentos das perdas por imparidades entre 2014 a 2016.

6 Tabela 4. Movimentos das perdas por imparidade

Movimentos das Perdas por Imparidade (2014-2016)


2014 2015 2016
Individual
Saldo de abertura 136,852.00 250,863.00 377,446.00
Imparidade de exercício 230,132.00 357,537.00 1,088,096.00
Reversões do exercício (102,932.00) (99,066.00) (43,042.00)
Utilização / Regularização (13,190.00) (131,887.00) -
Saldo final 377,447.00 377,447.00 1,422,500.00
Colectiva
Saldo de abertura 92,929.00 117,970.00 137,156.00
Imparidade de exercício 84,562.00 123,744.00 468,879.00
Reversões do exercício (66,271.00) (105,949.00) 1,556,975.00
Utilização / Regularização 6,750.00 1,391.00 -
Saldo final 117,970.00 137,156.00 557,550.00
Total 386,832.00 514,603.00 1,980,050.00

Fonte: Relatórios do Moza Banco (2014-2016)

Nesta tabela pode-se notar que entre 2014 a 2016, o nível de imparidades do exercício
aumentou de 230.132 MT para 1.088.096 MT. Mas em 2016, não houve utilização das
imparidades. Este exercício constitui o ano que o Banco de Moçambique interveio no Moza
banco para saneamento das suas contas.

Na tabela 5 consta os rácios de solvabilidade do Banco expressos pelos indicadores Core Tier
1, Core Tier 2 e o rácio de solvabilidade total do Banco.

25
Tabela 5. Rácio de Solvabilidade Total

2014 2015 2016


Fundos Próprios 1,849,172.00 1,562,255.00 -
Total dos Riscos 17,682,747.00 16,926,988.00 -
Risco de Crédito 14,946,263.00 16,693,439.00 -
Risco Operacional 103,220.00 176,929.00 -
Risco de Mercado 2,633,264.00 165,647.00 -
Rácio de solvabilidade -
Tier 1 6.96% 6.62% -
Tier 2 3.49% 3.32% -
Rácio de solvabilidade total 10.46% 9.95% 0
Rácio de solvabilidade exigido 8.00% 8.00% 0

Fonte: Relatórios do Moza Banco (2014-2015)

Como pode-se notar o total dos créditos em risco superam os fundos próprios do Banco.
Nesta situação também pode-se notar que os capitais próprios do Banco estão em risco à
semelhança dos seus créditos. De forma complementar foi analisada a exposição Bruta ao
Risco de crédito do Moza Banco entre 2014 a 2016 patente na tabela 6.

Tabela 6: Total Exposição Bruta ao Risco de Crédito por Tipo de Exposição

Exposição Bruta ao risco de crédito relativa a elementos do balanço 2014 2015 2016
Caixa e Disponibilidades em Banco Central 1,706,271.00 2,891,637.00 1,043,993.00
Disponilidades sobre instituições de Crédito 961,467.00 479,149.00 471,493.00
Aplicações em Instituicões de crédito 2,649,495.00 1,868,335.00 1,029,673.00
Activos Financeiros Detidos para Negociação 776,868.00 1,644,212.00 1,231,806.00
Activos Financeiros Disponíveis para a venda 1,413,516.00 17,937,497.00 3,341,270.00
Empréstimos e Adiantamentos a clientes 13,649,852.00 2,510,842.00 17,146,038.00
Outros - 117,562.00 86,722.00
Total Exposição 21,157,469.00 27,449,234.00 24,350,995.00
Exposição do risco de crédito relativa a elementos patrimoniais
Garantias 2,793,474.00 3,126,166.00 2,270,400.00
Cartas de crédito 1,606,171.00 1,264,802.00 666,100.00
Total Exposição 4,399,645.00 4,390,968.00 2,936,500.00
Total da exposição ao risco de crédito 25,557,114.00 31,840,202.00 27,287,495.00

Fonte: Relatórios de Conta (2014-2016)

Os dados mostram que no ano de 2015 houve um aumento da exposição no total de


21.157.469 MT para 27.449.234 MT e em 2016 reduziu para 24.350.995 MT. O nível das
garantias aumentou no ano de 2015 no valor de 2.793.474 MT para 3.126.166 MT e no ano
de 2016 diminuiu para 2.270.400 MT e quanto ao nível das cartas de crédito em 2015 reduziu
de 1.606.171 MT para 1.264.802 MT e em 2016 também reduziu para 666.100 MT. Esses
valores aumentam o risco de crédito do banco porque são garantias assumidas pelo Banco e
compromissos do Banco perante credores de seus clientes.

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Do gráfico abaixo pode-se notar que os activos financeiros detidos para negociação
aumentaram significativamente em 2015, ao contrário dos empréstimos e adiantamentos de
clientes que atingiram 17.146.038 MT contra 2.510.842.497 MT verificados em 2016.

Gráfico 1: Total Exposição Bruta ao Risco de Crédito por Tipo de Exposição

Fonte: Relatórios do Moza Banco (2014-2016)

A maior cobertura do risco de crédito está concentrada nos activos disponíveis para vendas e
nos empréstimos e adiantamentos de clientes. Por razões óbvias, estas são as que tem maior
possibilidade de cobrir o crédito contraído.

Para maiores detalhes pode-se notar que o Banco apresentou uma classificação dos seus
créditos por classes ou categorias de instituições. Neste caso, nota-se que grande parte dos
seus créditos estava destinada às grandes empresas com um valor máximo verificado em
2015, tendo regredido em 2016. As grandes empresas neste caso, representam a maior fasquia
de crédito em risco.

Gráfico 2: Máxima exposição ao Risco de Crédito

27
Fonte: Relatórios do Moza Banco (2014-2016)

Do gráfico acima nota-se que o menor risco está concentrado em Disponibilidades sobre
instituições de crédito, outros activos, Activos financeiros detidos para a venda, Activos
financeiros detidos para a negociação e Aplicações em instituições de crédito. Como pode-se
ver os instrumentos financeiros negociados com outras instituições financeiras são os
considerados de menor risco. O mesmo não se pode dizer das Pequenas, Grandes e Médias
Empresas. A exposição ilustrada no gráfico é elevada, neste caso há maior risco de crédito. A
classificação apresentada pelo Moza Banco mostra a utilização do modelo de Credit Scoring.

Sendo o credit scoring um instrumento usado seja para calcular a probabilidade de


inadimplência assim como para colocar os tomadores em classes de risco de inadimplência,
este instrumento ajuda a instituiçãoa classificar os seus credores. No entanto, o risco
assumido pelo Moza Banco é elevado o que levou a intervenção do Banco de Moçambique
em 2016. Os relatórios do Moza Banco de 2016 não foram disponibilizados, razão pela qual
foi possível analisar todos os itens do risco de crédito de 2016, mas os dados de 2015, já
indicavam uma deterioração dos seus créditos. Os dados da análise apresentados de 2016,
surgem do relatório de Disciplina de Mercado Publicados em 2017.

28
Gráfico 3: Hipotecas, Garantias Bancárias e Outros

Fonte: Relatórios do Moza Banco (2015-2016)

O gráfico 3 ilustra o volume de hipotecas, cartas de crédito e garantias bancárias comparados


com os depósitos de clientes. Nele pode-se verificar que em 2015 os valores estiveram acima
dos 6.000.000,00 MT, o volume de depósitos foi muito baixo, estando na fasquia dos
1.000.000,00 MT. As operações do Banco estiveram comprometidas. A única saída previsível
em 2015, era o reforço dos fundos próprios através do aumento do capital social, solução
evidenciada com as medidas do BM em 2016.

Na análise efectuada pode-se constatar que apesar de existir uma estrutura organizacional que
comporta a área de gestão de risco, não está a ser eficaz realçando uma política de Concessão
de crédito não rigorosa e uma política de recuperação de crédito não rígida. Esta questão
eleva o risco do Banco e enfraquece um conjunto de operações.

Se associarmos ao facto de também existir problemas económicos gerais em Moçambique


relacionados com o mercado e com as taxas de juros, o banco continuar nos mesmos termos,
corre riscos de perdas avultadas e uma intervenção do Banco Central.

29
CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

Conclusão

Da análise efectuada constatou-se que o Moza Banco além de utilizar o modelo de credit
scoring o banco utiliza o método de imparidade que permite quantificar o risco envolvido em
exposições individuais a mutuários ou contrapartes. Os seus mutuários foram classificados
em categorias de acordo com o tipo de instituições. Os créditos de baixo risco estão
relacionados com instituições financeiras no geral, seguidas das Grandes e Pequenas e médias
empresas. O método credit scoring permitiu que o banco classificasse os créditos mal parados
entre 0 a 30 dias, 30 a 60 dias e acima de 60 dias. Dos dados apresentados, ficou evidente que
o crédito vencido ao nível do Moza Banco aumentou de 2014 a 2016. Neste caso, apesar de
se estar a usar os dois modelos de avaliação e gestão do risco, a sua eficácia está a ser
reduzida.

O crédito mal parado do Moza Banco entre 2014 a 2016 aumentou de 301.015 MT para
5.187.947 MT. Deste valor apenas estava coberto por imparidade cerca de 233.096 MT e
1.431.297 MT, respectivamente. Neste caso ficou evidente um elevado risco de crédito sem
cobertura, apesar do Moza Banco exigir garantias no processo de concessão de crédito. Nas
operações passivas, o risco de crédito também ficou assentado com os compromissos
extrapatrimoniais assumidos para cobrir seus clientes. Assim, pode-se chegar a conclusão de
que os modelos de gestão de risco crédito assumidos pelo Moza Banco não estão a ser
eficazes porque o risco de crédito não tende a reduzir. O Banco precisaria de aumentar as
suas imparidades para cobrir o crédito malparado. Em suma aceita-se a hipótese alternativa
(H1) que diz: o modelo de gestão de risco de crédito adoptado pelo Moza Banco não é eficaz
no controlo das taxas de inadimplência.

Recomendações

Da análise efectuada propõem-se as seguintes recomendações ao Moza Banco:

 Adoptar novas formas de rentabilizar os seus capitais através de um controlo mais


rigoroso do crédito malparado;

30
 Melhorar a sua política de gestão de crédito corrente como do crédito mal parado,
sendo mais rigorosa e aplicando medidas de recuperação mais rigorosas e agressivas.
Os créditos vencidos não podem prolongar por muito tempo;
 Ter em conta o volume de crédito vincendo, tendo em conta que os seus relatórios
apresentam valores extremamente elevados, anunciando um eminente risco de
vencimento e falta de cobertura; e
 Verificar de forma permanente as imparidades para garantir a cobertura do risco de
crédito e de outros riscos a que esteja exposto, como o risco de mercado e de taxas de
juro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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(online). Disponível em URL;http//www.Portaldoconhecimento.gov.cv.

www.mozabanco.co.mz.

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ANEXOS

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