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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2023.0000565778

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2053230-20.2023.8.26.0000, da Comarca de São Roque, em que são agravantes
MARIA ADELIA GIANNELLI VICTORIO e PAULO VINICIUS GIANNELLI
VICTORIO, são agravados VS COMERCIAL E CONSTRUTORA – EIRELE ME
e MARCUS BENEDITO VICTORIO SILVEIRA.

ACORDAM, em 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso.
V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


MARCIA DALLA DÉA BARONE (Presidente sem voto), ENIO ZULIANI E
FÁBIO QUADROS.

São Paulo, 6 de julho de 2023.

VITOR FREDERICO KÜMPEL


RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Voto nº 3230
Agravo de Instrumento: 2053230-20.2023.8.26.0000
Agravante: Maria Adelia Giannelli Victorio e outro
Agravado: VS Comercial E Construtora EIRELE ME
Comarca: Foro de São Roque - 2ª Vara Cível
Juiz de Origem: Dr. Ricardo Augusto Galvão de Souza

Agravo de Instrumento. Anulatória de negócio jurídico.


Decisão que deferiu a tutela de urgência por reconhecer
presentes os requisitos autorizadores da medida. Eventual
negócio jurídico simulado. Lesão. Insurgência do agravante
que não merece prosperar. Decisão mantida. Recurso
improvido.

Vistos.

Trata-se de agravo de instrumento interposto por Maria


Adélia Giannelli Victorio e outro em razão da decisão de fls. 167/169 e 229/230 dos
autos de origem que deferiu o pedido de antecipação dos efeitos da tutela para
determinar a manutenção dos Agravados na posse do imóvel nas seguintes linhas:
“[...]Assim, AUTORIZO a manutenção da posse dos autores no imóvel, localizado
na Estrada da Serrinha, n. 321, Condomínio Residencial Quebec Ville, bairro
Cambará, de matrícula n. 31.117 (CRI de São Roque). Por decorrência lógica,
ficam vedadas eventuais medidas judiciais/extrajudiciais para a retomada do
imóvel pelos requeridos até o julgamento final da presente demanda, sob pena de
fixação de multa diária em caso de descumprimento” e “3 P. 225-226: Tendo em
vista o teor da decisão de p. 167-169, por decorrência lógica, fica obstado eventual
ação de despejo em desfavor do autor ou qualquer outra medida judicial que
implique a saída forçada do autor do imóvel até o deslinde dos presentes autos.”.
Pretende a parte recorrente a concessão de efeitos suspensivo “[...] afastando o
direito de posse dos Agravados e permitindo aos Agravantes que tomem medidas
visando a retomada do bem, se o caso de possuírem legitimidade”.

Agravo de Instrumento nº 2053230-20.2023.8.26.0000 -Voto nº 3230 2


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Insurge-se o Agravante ao argumento de que é legítimo o


requerimento para afastar o direito de posse dos Agravados, aduz que, ao contrário
do que afirmam, não há fundamento para anulação do negócio jurídico.

Recurso tempestivo e preparado.

O pedido de efeito suspensivo indeferido às fls. 89.

Contraminuta às fls. 95/110.

Houve oposição ao julgamento virtual.

É o relatório.

Inicialmente cumpre fazer menção à célere tramitação do


feito em primeiro grau de jurisdição sob a presidência do MM Juiz de Direito Dr.
Ricardo Augusto Galvão de Souza.

A pretensão recursal visa a reversão da decisão


hostilizada sob o argumento de que não houve simulação no negócio jurídico,
pretensão esta que não comporta acolhimento.

Na origem, trata-se de ação anulatória de negócio


jurídico, em que o Autor, ora Agravado, alega ter sido lesionado na venda e compra
realizada entre as partes.

Diante disso, o Agravado requereu judicialmente em


tutela de urgência o bloqueio ou a manutenção da posse do imóvel, objeto do
negócio jurídico realizado. A decisão hostilizada reconheceu a probabilidade do
direito do Agravado, autorizando manutenção da posse dos autores no imóvel.

Pois bem, acompanhando o entendimento proferido pelo


Juízo a quo, há fortes indícios de que as alegações dos Agravados prosperam.

Pelo que se denota dos autos principais os Agravantes -


aproveitando-se da confiança dos Agravados - convenceram a parte contrária a
vender seu único imóvel para pagamento das dívidas, levando-o a crer que tal
conduta seria a solução dos problemas financeiros.

Agravo de Instrumento nº 2053230-20.2023.8.26.0000 -Voto nº 3230 3


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Dessa forma, havendo dificuldades para a venda do


imóvel a Agravante propôs, como única maneira, adquirir o bem em contraprestação
ao pagamento da dívida trabalhista, IPTU e condomínio, assegurando o direito
vitalício do Agravado residir no imóvel.

Todavia, em que pese tais promessas, a escritura do


imóvel foi lavrada em deliberada simulação com apresentação de preço inferior ao
mercado e omitia-se acerca da contraprestação assumida pelos Agravantes. Tempos
depois os Agravados haviam de ser notificados para deixarem o imóvel.

Sabe-se que, em regra, a demonstração da ocorrência de


fraude/simulação constitui fato de difícil comprovação, considerando que, na
maioria das vezes, o ardil característica central do negócio jurídico simulado
está presente apenas na vontade das partes não sendo possível visualizá-lo nos
contratos e nos atos que lhe deram origem.

Diante dos fatos apresentados no processo (da origem e


deste Tribunal), bem como os documentos apregoados, o Agravado comprova a
verossimilhança das alegações, tornando necessário manter a r. decisão proferida
pelo I. Magistrado.

No mais, para viabilizar eventual acesso às vias


extraordinária e especial, considero prequestionada toda matéria infraconstitucional
e constitucional, observando o pacífico entendimento do Superior Tribunal de
Justiça no sentido de que é desnecessária a citação numérica dos dispositivos legais,
bastando que a questão posta tenha sido decidida (EDROMS 18205 / SP, Ministro
FELIX FISCHER, DJ 08.05.2006 p. 240).

Do exposto, pelo meu voto, NEGO PROVIMENTO ao


recurso.

VITOR FREDERICO KÜMPEL


Relator
Assinatura Eletrônica

Agravo de Instrumento nº 2053230-20.2023.8.26.0000 -Voto nº 3230 4

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