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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2023.0000183221

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos de Declaração Cível


nº 1008227-70.2021.8.26.0019/50001, da Comarca de Americana, em que é
embargante CONDOMÍNIO RESIDENCIAL PARQUE ALLIANCE, são
embargados PAULA FRANCINE NACASAKI DE OLIVEIRA e MRV
ENGENHARIA E PARTICIPAÇÕES S.A..

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 7ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Rejeitaram
os embargos. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este
acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores PASTORELO


KFOURI (Presidente sem voto), JOSÉ RUBENS QUEIROZ GOMES E ADEMIR
MODESTO DE SOUZA.

São Paulo, 10 de março de 2023.

FERNANDO REVERENDO VIDAL AKAOUI


Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Embargos de Declaração Cível nº 1008227-70.2021.8.26.0019/50001


Relator: FERNANDO REVERENDO VIDAL AKAOUI
Órgão Julgador: 7ª Câmara de Direito Privado
Embargante(s): Condomínio Residencial Parque Alliance
Embargado(s): Paula Francine Nacasaki de Oliveira

Voto nº 0654

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CÍVEL Alegação


de existência de vício de omissão no julgado.
Inexistência. Caráter infringente. Embargante que
pretende alterar o resultado do julgamento a seu
contento. A desconstituição de acordo homologado
judicialmente deve ser realizada mediante ação
anulatória, nos termos do art. 966, § 4º, do CPC. Ação
rescisória que visa desconstituir sentença de mérito
transitada em julgado, enquanto a finalidade da ação
anulatória é desconstituir o ato processual homologado
judicialmente, sem análise do mérito. RECURSO
IMPROVIDO.

Vistos.

Cuida-se de embargos de declaração cível opostos por


CONDOMÍNIO RESIDENCIAL PARQUE ALLIANCE contra o acórdão de p.
285/291, que reformou a sentença para declarar a inexigibilidade do débito
condominial cobrado da embargada, que nunca foi imitida na posse do imóvel,
inclusive tendo rescindido o contrato antes da entrega das chaves.

Recorre o condomínio apelado, argumentando, em síntese, que o


acórdão é ultra petita porque anulou acordo celebrado entre as partes no ano de 2020
e 2021, referente a débito condominial homologado nos autos da ação de cobrança
movida pelo condomínio, e inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor
com relação à embargante.
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Contraminuta às p. 10/14.

É o relatório.

Recebo o recurso de embargos de declaração, porque tempestivos.


No mérito, os rejeito, porque não se verifica omissão, contrariedade ou obscuridade.

A embargante pretende a reforma da decisão, o que é vedado em


sede de embargos de declaração. Nesse sentido: "EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
Alegação de existência do vício de omissão no julgado. Inexistência. Caráter
infringente. Nos embargos de declaração é incabível o reexame da decisão.
Embargante que pretende mudar o teor do julgado a seu contento, insurgindo-se
contra a anulação da r. sentença proferida sem que a causa estivesse madura.
Omissão não caracterizada. Embargos de declaração rejeitados". 1

Não há que se falar em decisão ultra petita. No caso em exame,


anulou-se débito condominial indevidamente perseguido pela embargante nos autos
da ação de cobrança nº 1012426-09.2019.8.26.0019, cujos acordos foram realizados
e homologados ainda na fase de conhecimento, em fevereiro de 2020 e junho de
2021.

Ao contrário do que alega a embargante, a desconstituição do


crédito reconhecido em acordo homologado judicialmente não se dá pela via da ação
rescisória, mas, sim, mediante a distribuição de ação anulatória, nos termos do § 4º
do art. 966 do Código de Processo Civil.

A ação rescisória é cabível para desconstituir provimento


jurisdicional que analisa e julga o mérito, eivado de vício ou nulidade. Por outro
lado, quando o juiz tão somente homologa a manifestação de vontade das partes
(acordo), o ato deve ser desconstituído por meio de ação anulatória.

O Colendo Superior Tribunal de Justiça possui entendimento


pacificado nesse sentido:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.


1
(TJSP; Embargos de Declaração Cível nº 1000553-31.2022.8.26.0011; Órgão Julgador: 7ª Câmara
de Direito Privado; Rel. Des. José Rubens Queiroz Gomes; j. 12/01/2023)
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PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE RESCISÃO DE


CONTRATO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO.
PRETENSÃO DE RESCINDIR ACORDO
HOMOLOGADO JUDICIALMENTE. MEIO
INADEQUADO. NECESSIDADE DE AÇÃO
ANULATÓRIA. PRECEDENTES. RECURSO NÃO
PROVIDO.
1. A jurisprudência desta eg. Corte entende que a ação
anulatória é o meio adequado para desconstituir/rescindir
acordo homologado judicialmente. Precedentes.
2. Inadequação da interposição de ação de rescisão contratual
cumulada com pedido indenizatório para demanda que
pretende rescindir acordo homologado judicialmente em
outra ação.
3. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no REsp
n. 1.714.591/SP, relator Ministro Lázaro Guimarães
(Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Quarta
Turma, julgado em 24/4/2018, DJe de 30/4/2018)

PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO AO ART. 535, DO


CPC. INEXISTÊNCIA. AÇÃO POPULAR ANULATÓRIA
DE ACORDO HOMOLOGADO JUDICIALMENTE EM
SEDE DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM A ANUÊNCIA
DO PARQUET. COISA JULGADA MATERIAL.
INOCORRÊNCIA. CRIVO JURISDICIONAL ADSTRITO
ÀS FORMALIDADES DA TRANSAÇÃO. CABIMENTO
DA AÇÃO ANULATÓRIA DO ART. 486, DO CPC.
INOCORRÊNCIA DAS HIPÓTESES TAXATIVAS DO
ART. 485, DO CPC.
[...]
2. A ação anulatória, prevista no art. 486, do CPC, tem
por finalidade desconstituir o ato processual, homologado
judicialmente, enquanto que o alvo da ação rescisória, do art.
485, do CPC, é a sentença transitada em julgado, que faz
coisa julgada material. O efeito pretendido pela primeira é
a anulação do ato enquanto que na rescisória é a prolação de
nova sentença no judicium rescisorium.
3. A ação rescisória somente é cabível quando houver
sentença de mérito propriamente dita, que é aquela em que o
magistrado põe fim ao processo analisando os argumentos
suscitados pelas partes litigantes e concluindo-a com um ato
de inteligência e soberania.
4. A sentença que homologa a transação fundamentando-se
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no conteúdo da avença, é desconstituível por meio de ação


rescisória fulcrada no art. 485, VIII, do CPC.
5. Não obstante, em sendo a sentença meramente
homologatória do acordo, adstrita aos aspectos formais
da transação, incabível a ação rescisória do art. 485, VIII,
do CPC, posto ausente requisito primordial da
rescindibilidade do julgado. Nestes casos, a desconstituição
da transação, pelos defeitos dos atos jurídicos em geral, se
faz por meio de ação anulatória, fulcrada no art. 486, do
CPC.
[...].
(REsp n. 450.431/PR, relator Ministro Luiz Fux, Primeira
Turma, julgado em 18/9/2003, DJ de 20/10/2003, p. 185)

Este E. Tribunal de Justiça segue o mesmo entendimento:

AÇÃO RESCISÓRIA. Pretensão de rescisão de sentença


que homologou acordo entre as partes. Veículo dado em
pagamento pelos requeridos que teve o chassi remarcado e
outros vícios, suprimindo seu valor de mercado.
Descabimento. Hipótese que demanda o ajuizamento de
ação de anulação de acordo. Sentença que tão somente
homologou os termos a que chegaram as partes, não
sendo o provimento judicial o real objetivo de
modificação do requerente. Precedente. Ação rescisória
extinta, sem resolução do mérito, convertido o depósito
inicial em multa. (TJSP; Ação Rescisória
2136212-28.2022.8.26.0000; 7ª Câmara de Direito Privado;
Rel. Des. Pastorelo Kfouri; j. 20/09/2022)

Ação rescisória de sentença Ação de busca e apreensão


Alienação fiduciária Sentença que homologa transação
não está sujeita a ação rescisória, sendo cabível ação
anulatória para invalidação do ato, nos termos do que
determina a regra do artigo 966, § 4º, do Código de
Processo Civil. Petição inicial indeferida. (TJSP; Ação
Rescisória 2243188-59.2022.8.26.0000; 30ª Câmara de
Direito Privado; Rel. Des. Monte Serrat; j. 28/02/2023)

Igualmente rejeito a alegação de inaplicabilidade do Código de


Defesa do Consumidor. Trata-se de inovação recursal não arguida nas contrarrazões

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da embargante, apresentadas às p. 270/276. Logo, ausente omissão nesse ponto. Em


verdade, a embargante pretende a modificação do julgado, o que não se admite por
meio de embargos de declaração.

De todo modo, inexistia relação jurídica obrigacional entre as


partes. Isto porque o contrato de venda e compra firmado entre a embargada e a corré
foi rescindido pela Justiça Federal em 24 de abril de 2019, nos autos da ação nº
5001073-95.2018.4.03.6134. O acórdão recorrido reconheceu que a embargante
nunca foi imitida na posse do imóvel, não sendo permitida a cobrança de
condomínio.

Em outras palavras, a cobrança das despesas condominiais se deu


tão somente em razão do contrato de venda e compra celebrado com a corré MRV,
sujeita ao Código de Defesa do Consumidor. Ausente relação jurídica entre a
embargante e embargada, sendo a primeira responsável solidária pelo débito, deve
concorrer pela integralidade deste, cabível, entretanto, ação de regresso contra a
corré, se o caso.

Deixo de aplicar a multa do art. 1.026, § 2º do Código de Processo


Civil, porque não se vislumbro caráter protelatório do recurso.

Ante o exposto, pelo meu voto, NEGO PROVIMENTO ao


recurso, nos termos da fundamentação.

FERNANDO REVERENDO VIDAL AKAOUI


RELATOR

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