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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2020.0000486318

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2139333-69.2019.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é agravante STEEL PACK
INDUSTRIA E COMERCIO LTDA (FALIDA), é agravado NOVA FÁTIMA
COMÉRCIO DE FERRO E AÇO LTDA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 2ª Câmara Reservada de Direito


Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este
acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores SÉRGIO SHIMURA


(Presidente), MAURÍCIO PESSOA E ARALDO TELLES.

São Paulo, 30 de junho de 2020.

SÉRGIO SHIMURA
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº 24847
Agravo de Instrumento n. 2139333-69.2019.8.26.0000
Comarca: São Paulo (Foro Central 1ª Vara de Falências e
Recuperações Judiciais)
Agravante: STEEL PACK INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA.
Agravado: NOVA FÁTIMA COMÉRCIO DE FERRO E AÇO LTDA.
Juiz: Dr. Tiago Henrique Papaterra Limongi
Autos de origem: 1105541-40.2016.8.26.0100

AGRAVO DE INSTRUMENTO DECRETO DE


FALÊNCIA Pedido de falência amparado
no inadimplemento de títulos executivos
extrajudiciais, nos termos do art. 94, I, da
Lei nº 11.101/2005 Possibilidade de
ajuizamento do pedido de falência em
detrimento da execução, à escolha do
credor - Exegese da Súmula n. 42 desta
Corte Validade tanto da intimação da
agravante em relação aos protestos
(Súmulas 361 do . Superior Tribunal de
Justiça e 52 do TJSP) como da citação no
pedido de falência Desnecessidade de
poderes especiais para o recebimento dos
protestos ou da citação Desnecessidade,
ademais, de protesto especial para fins
falimentares dos títulos de crédito
Inteligência da Súmula 41 do TJSP Por
fim, não há comprovação do suposto
acordo celebrado entre as partes, muito
menos de que o pagamento efetuado no
curso do processo se referia à divida em
questão - Presença dos pressupostos da Lei
nº 11.101/05 a autorizar o decreto de
quebra - Decisão mantida RECURSO
DESPROVIDO.

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto


Agravo de Instrumento nº 2139333-69.2019.8.26.0000 -Voto nº 24847 2
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por STEEL PACK INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. contra a r. decisão


que decretou sua falência, nos autos do pedido de falência ajuizado pela
agravada NOVA FÁTIMA COMÉRCIO DE FERRO E AÇO LTDA, fundado
em inadimplemento de títulos executivos extrajudiciais, nos termos do
art. 94, I, da Lei nº 11.101/2005.

A recorrente sustenta, em resumo, que é


indevida a utilização do processo de falência como sucedâneo da ação
de execução, ou seja, o requerimento de falência como modo de forçar
o pagamento de um débito; que já realizou o pagamento de parcela do
acordo celebrado entre as partes, sendo descabida a decretação da
falência; que a decisão que decretou a quebra foi proferida sem o
devido contraditório, padecendo de nulidade.

Alega, ainda, a impossibilidade de decretação da


falência em razão de a autora não ter juntado aos autos o título
executivo acompanhado do respectivo instrumento de protesto com fins
falimentar, nos termos dos art. 22 e 23 da Lei 9.492/1997, além de não
haver nos autos prova de que houve a prévia tentativa de notificação
pessoal da agravante pelo tabelião de protesto.

Indeferido o pedido de efeito suspensivo (fls.


59/60), sobrevieram resposta recursal (fls. 87/108) e manifestação do
administrador judicial (fls. 198/205). A douta Procuradoria Geral de
Justiça opinou pelo desprovimento do recurso (fls. 208/210).

A agravante apresentou, ainda, manifestação à


resposta recursal (fls. 215/219).

Houve oposição ao rito de julgamento virtual


(fl. 58).
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É o relatório.

Inicialmente, o julgamento do presente recurso


é feito em sessão virtual, considerando que é preciso imprimir
celeridade e efetividade à prestação jurisdicional, em conformidade com
a garantia constitucional da “razoável duração do processo” (art. 5º,
LXXVIII, CF, c.c. art. 4º, CPC). Além disso, no caso em debate, o
julgamento virtual não gera prejuízo às partes ou aos seus Advogados,
tendo em vista o descabimento de sustentação oral.
Depreende-se dos autos que em 22/09/2016 a
agravada NOVA FÁTIMA COMÉRCIO DE FERRO E AÇO LTDA. ajuizou o
pedido de falência da agravada STEEL PACK INDÚSTRIA E COMÉRCIO
LTDA, com fundamento no art. 94, I, da Lei nº 11.101/05, pelo
inadimplemento de duplicatas mercantis protestadas, no valor de R$
203.896,55 (fls. 01/05 e 14/81 dos autos de origem).

A ré agravante apresentou contestação,


alegando, em resumo, que não foi devidamente intimada, que deve ser
observado o princípio de preservação da empresa e que foi ajuizado
pedido de recuperação judicial (fls. 116/135 dos autos de origem).

A autora apresentou manifestação à


contestação, refutando os argumentos opostos pela devedora e
reiterando o pedido de decretação da quebra (fls. 170/175 dos autos de
origem).

Em 06/04/2018, a ré requereu a suspensão do


feito por 30 dias, alegando que ofereceu proposta de acordo, o que foi
deferido pelo MM. Juízo “a quo” (fls. 185/186 dos autos de origem).

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Porém, em 19/03/2019, a autora apresentou


manifestação informando que a tentativa de acordo restou infrutífera,
reiterando o pedido formulado na inicial (fls. 197/199 dos autos de
origem).

Sobreveio, então, a decisão agravada,


decretando a falência da ré STEEL PACK, em razão da ausência de
conciliação e de depósito elisivo, bem como da impontualidade dos
pagamentos de títulos devidamente protestados que somam valor
superior a 40 salários-mínimos, nos termos do art. 94, I, da Lei nº
11.101/2005. (fl. 200/207 dos autos de origem).

Diante desse quadro, o recurso não comporta


guarida.

Em primeiro lugar, é importante consignar que,


preenchidos os requisitos previstos na Lei nº 11.101/05, é opção credor
o ajuizamento do pedido de falência, não havendo que se falar em meio
impróprio para cobrança forçada da dívida, como quer fazer crer a
agravante.

A corroborar tal tese, inclusive, foi editada a


Súmula 42 deste C. Tribunal de Justiça: “A possibilidade de execução
singular do título não impede a opção do credor pelo pedido de
falência”.

Esta egrégia Câmara também já se pronunciou


neste sentido: “FALÊNCIA - Insurgência quanto à utilização do
procedimento falimentar com intuito de “cobrança forçada” e
irregularidade do protesto especial Impropriedade - Exegese das
Súmulas n. 42 e 41 desta Corte - Sentença de quebra mantida Agravo
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improvido por este capítulo recursal. AGRAVO DE INTRUMENTO -


Falência decretada com base na impontualidade de título de executivo
extrajudicial (CCB) - Art. 94, I da Lei n. 11.101/2005 - Minuta recursal
que pretende afastar o decreto de quebra sob fundamento de
inexigibilidade do título - Notícia trazida em contraminuta recursal
acerca da sentença declaratória julgada improcedente, mantendo a
exigibilidade do título e regularidade do protesto - Requisitos legais para
o decreto falimentar presentes - Decisão de quebra mantida por seus
próprios fundamentos - Agravo desprovido. Dispositivo: Negam
provimento ao recurso, mantendo o decreto de quebra e revogam o
efeito suspensivo.” (AI nº 2059323-43.2016.8.26.0000, Rel. Des.
Ricardo Negrão, 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, j.
30/10/2017).

No caso vertente, o pedido de falência veio


amparado no inadimplemento de duplicatas mercantis protestadas. A
devedora invoca a existência de vícios formais nos títulos, quais sejam:
(i) ausência do instrumento de protesto para fins falimentares; (ii)
ausência de intimação pessoal da devedora. Sem razão, contudo.

Verifica-se dos instrumentos de protesto que a


agravante foi devidamente intimada, havendo a correta indicação da
pessoa que a recebeu, em conformidade com as súmulas 361 do C.
Superior Tribunal de Justiça (“A notificação do protesto, para
requerimento de falência de empresa devedora, exige a identificação da
pessoa que a recebeu”) e 52 deste E. TJSP (“Para a validade do
protesto basta a entrega da notificação no estabelecimento do devedor
e sua recepção por pessoa identificada”).

Ademais, a citação também é plenamente válida,


tendo ocorrido em seu endereço comercial, descrito na ficha cadastral
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da JUCESP (fls. 112 dos autos de origem).

Como bem pontuou o administrador judicial,


“cumpre esclarecer que é dever das empresas, manter o endereço
atualizado nos órgãos competentes, não podendo alegar que não
recebeu a intimação por mera tese de nulidade, sendo que, inclusive, a
própria Agravante, em sua manifestação de interposição do presente
Recurso, cita o referido endereço como sua sede, bem como apresentou
sua” (fls. 203).

Quanto ao protesto para fins falimentares,


tampouco assiste razão à agravante, considerando o Enunciado nº 41
desta Corte, que dispõe que “O protesto comum dispensa o especial
para o requerimento de falência”. Em outro dizer, o protesto comum,
desde que preenchidos seus requisitos formais, é suficiente para fins de
pedido de falência.

Nesse sentido: “Agravo de instrumento Pedido


de falência baseado em impontualidade injustificada da devedora (Lei nº
11.101/05, art. 94, I) Validade dos protestos para fins falimentares
(Súmula 41TJ/SP) Comprovação dos pressupostos legais para
amparar o pedido falimentar Nulidade da citação não verificada
Sentença mantida Recurso desprovido” (Agravo de Instrumento
2242657-75.2019.8.26.0000, Rel. Des. Maurício Pessoa, 2ª Câmara
Reservada de Direito Empresarial, j. 21/02/2020).

“Pedido de falência baseado em impontualidade


injustificada da devedora (Lei nº 11.101/05, art. 94, I) Sentença de
quebra Comprovação dos pressupostos para amparar o pedido
falimentar Impontualidade de pagamento de obrigação materializada
em cédula de crédito bancário, devidamente protestada
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Desnecessidade de protesto especial para fins falimentares (Súmula


41/TJSP) Recusa do recebimento do protesto no endereço constante
na ficha cadastral da empresa falida perante a Junta Comercial que
autoriza a intimação por edital, nos termos do artigo 15 da Lei nº
9.492/97 Depósito elisivo não realizado Devedora que não
demonstrou relevante razão de direito para não pagar o quantum
devido Sentença mantida Recurso desprovido” (Agravo de
Instrumento 2114153-51.2019.8.26.0000, Rel. Des. Maurício Pessoa,
2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, j. 10/09/2019).

“Apelação. Direito Empresarial. Ação de falência


por impontualidade. Art. 94, I, da LRF. Preliminares. Nulidade por
cerceamento de defesa. Inocorrência. Inviabilidade da produção da
prova pericial requerida. Produto recebido em agosto de 2011. Ausência
de indícios concretos de que a credora entregou insumo em
concentração diversa da contratada. Carência de ação por falta de
interesse processual. Desnecessidade de protesto especial para fins
falimentares dos títulos de crédito. Súmula 41 do TJSP. Mérito.
Duplicatas mercantis acompanhadas dos respectivos comprovantes de
entrega de mercadorias. Fato incontroverso. Exceção do contrato não
cumprido. Inaplicabilidade. Inadimplemento absoluto praticado pela ré.
Decreto de quebra afastado em razão do depósito elisivo efetuado pela
devedora, nos termos do art. 98, parágrafo único, da LRF. Recurso
improvido” (Apelação Cível 0004348-97.2011.8.26.0415, Rel.
Des. Hamid Bdine, 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, j.
04/12/2018).

Ademais, como lembrado pelo Administrador


Judicial, a Lei 11.101/2005 prevê institutos próprios para obstar o
prosseguimento da ação de falência, destacando-se duas hipóteses: (i)
o pleito de Recuperação Judicial da sociedade empresária devedora (art.
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96, VII) e (ii) o depósito elisivo no valor da totalidade do crédito (art.


98, § único), ambos no prazo da apresentação de contestação.

Em relação à primeira hipótese, verifica-se que a


agravante chegou a ajuizar pedido de recuperação judicial; no entanto,
desistiu em 30/08/2017 (autos nº 1029089-52.2017.8.26.0100 fls.
146/146 e 176 dos autos de origem).

Por outro lado, também não houve o depósito


elisivo no prazo da contestação.

E, nesse ponto, é importante ressaltar que não


pode ser considerado elisivo o depósito no valor de R$ 15.000,00,
demonstrado a fls. 83/84 deste agravo de instrumento, ao qual se
refere a agravante como sendo pagamento da primeira parcela de
acordo celebrado entre as partes.

Isto porque, embora a agravante tenha, de fato,


peticionado nos autos de origem requerendo sua suspensão para
tratativas de acordo, não logrou comprovar que as partes tenham
chegado a um consenso para a quitação do débito, muito menos que o
valor de R$ 15.000,00 se referia à dívida objeto da lide.

Em verdade, as provas dos autos apontam para


situação diversa daquela narrada pela agravante, conforme se verificou
nas contrarrazões da agravada. Naquela oportunidade, esclareceu que o
depósito se referiu a parcela do pagamento de verba sucumbencial
fixada em processos anteriores envolvendo as partes: “Em razão da
condenação nos honorários advocatícios, a Agravante procedeu o
depósito da quantia de R$15.000,00 (quinze mil reais) na conta do
patrono da agravada, a fim de adimplir parte do montante da verba
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sucumbencial das ações de sustação de protesto, do qual, ainda resta o


saldo devedor de R$11.035,33 (onze mil, trinta e cinco reais e trinta e
três centavos) que será habilitado no momento oportuno na falência
decretada, já que se trata de verba alimentar do advogado da
Agravada. Em sendo assim, o comprovante apresentado pela Agravante
às fls.186/187, diz respeito aos honorários de sucumbência devidos em
razão da improcedência das ações de sustação de protesto promovidas
pela Agravante em face da Agravada, e que foram patrocinadas pelo
mesmo patrono, conforme demonstrado linhas atrás” (fls. 94/95).

As alegações da agravada podem ser


comprovadas pelos e-mails juntados pela própria agravante, trocados
pelos advogados das partes, nos quais há alusão ao depósito como
sendo referente à “execução dos honorários advocatícios do
cumprimento de sentença nº 1092090-45.2016.8.26.0100” (fls.
106/107). O próprio comprovante dá conta de que o valor foi
depositado na conta do escritório de advocacia que patrocina a empresa
agravada (fls. 83).

Ainda que assim não fosse hipótese de se


admitir, hipoteticamente, que o depósito teria propósito diverso não
há qualquer prova contundente nos autos de que, de fato, houve
acordo, tampouco que fora ajustada uma primeira parcela no valor de
R$15.000,00. Ao contrário, há expressa discordância da agravada,
sendo ônus da agravante, devedora, fazer prova dos fatos
desconstitutivos do direito, nos temos do art. 373, II, do CPC.

Em suma, diante da ausência de comprovação


de composição entre as partes, somada à ausência de depósito elisivo e
ao preenchimento dos pressupostos do art. 94, I, da Lei nº
11.101/2005, era mesmo de rigor a decretação da falência da
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agravante.

Ante o exposto, pelo meu voto, nego


provimento ao recurso.

SÉRGIO SHIMURA
Relator

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