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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2022.0000865476

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1040658-74.2022.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante MP
SECURITIZADORA S/A, são apelados YOU MAKE COSMETICOS LTDA e
PAES LEME COMÉRCIO E CONSULTÓRIA LTDA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 23ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram
provimento em parte ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator,
que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores JOSÉ MARCOS


MARRONE (Presidente sem voto), VIRGILIO DE OLIVEIRA JUNIOR E HÉLIO
NOGUEIRA.

São Paulo, 21 de outubro de 2022.

LÍGIA ARAÚJO BISOGNI


Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº 46491
APEL. Nº 1040658-74.2022.8.26.0100
COMARCA: SÃO PAULO
APTE.: MP SECURITIZADORA S/A (TERCEIRO INTERESSADO)
APDOS.: PAES LEME COMÉRCIO E CONSULTORIA LTDA. E OUTRA

AÇÃO DE SUSTAÇÃO DE PROTESTO E DE


INEXISTÊNCIA DE DÉBITO Sentença homologatória
de acordo Terceiro endossatário que pretende a formação
de litisconsórcio passivo necessário, de modo a afastar o
acordo homologado Provas da existência de endosso
translativo, com prévia comunicação do devedor
Existência de litisconsórcio necessário simples Sentença
ineficaz somente em relação à apelante, pois é vedado
defender direito alheio em nome próprio Recurso
parcialmente provido, com determinação.

Trata-se de apelação tirada contra a r. sentença de fls.


103/104, proferida pelo d. magistrado FABIO DE SOUZA PIMENTA, que
homologou o acordo firmado entre os apelados Paes Leme Comércio e
Consultoria Ltda. e You Make Cosméticos Ltda., e julgou extinto o processo,
nos termos do art. 487, inciso III, “b”, do Código de Processo Civil,
determinando o cancelamento definitivo do protesto dos seguintes títulos:
“título 1102, valor de R$4.306,44, vencimento em 27/04/2022, junto ao 3º
Tabelião de Protesto de Letras e Títulos desta Capital; - título 1136/B, valor
de R$7.684,48, vencimento em 27/04/2022, junto ao 6º Tabelião de Protesto
de Letras e Títulos desta Capital; - título 1137, valor de R$7.474,08,
vencimento em 27/04/2022, junto ao 8º Tabelião de Protesto de Letras e
Títulos desta Capital; - título 1075/B, valor de R$4.569,47, vencimento em
27/04/2022, junto ao 4º Tabelião de Protesto de Letras e Títulos desta
Capital; - título 1101, valor de R$4.569,47, vencimento em 27/04/2022, junto
ao 10º Tabelião de Protesto de Letras e Títulos desta Capital; - título 1115,
valor de R$3.994,15, vencimento em 27/04/2022, junto ao 3º Tabelião de
Protesto de Letras e Títulos desta Capital”.
A apelante afirma que, como credora endossatária de um
dos títulos (fls. 60/63 - 1136/B), deveria ter feito parte da ação, mediante

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formação do litisconsórcio passivo necessário e, por isso, alega que o


acordo firmado entre os apelados não merece prevalecer. Pugna, assim,
pela anulação da sentença homologatória da avença, com determinação de
inclusão e citação dos credores endossatários que devem integrar a lide (fls.
154/162).
Recurso bem processado, acusando resposta (fls. 170/174),
subiram os autos.
É o relatório.
Na hipótese dos autos, as empresas apeladas
estabeleceram relação comercial no ramo de cosméticos, a qual deu origem
aos protestos das duplicatas objetos do acordo homologado em juízo.
Verifica-se que na relação jurídica formada, a empresa You Make
Cosméticos era a sacadora, enquanto a empresa Paes Leme Comércio e
Consultoria era a sacada/devedora dos títulos, todos endossados na
espécie mandato.
Após a sentença homologatória, a apelante MP
Securitizadora compareceu ao processo opondo embargos de declaração
(fls. 108/113) e, na mesma oportunidade, anexou documentos novos ao
feito que indicam a cessão entre a sacadora e a apelante (antecipação de
créditos), comunicada à autora/sacada antes mesmo do ajuizamento da
presente ação (fls. 141/144).
Ao contrário do que quiseram fazer crer as apeladas,
ocorreu a efetiva transferência do crédito à apelante, adquirido por endosso
translativo e não por endosso mandato, de sorte que é parte legítima para
figurar na demanda, isso porque tornou-se credora (favorecida) do título e,
por essa razão, a jurisprudência é pacífica sobre a existência de
litisconsórcio necessário:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECLARATÓRIA DE
INEXIGIBILIDADE DE DUPLICATAS. DECISÃO QUE NÃO HOMOLOGOU
ACORDO FIRMADO ENTRE A AUTORA E BANCO CORRÉU. Banco
corréu que figura nos autos como endossatário mandatário em título de
crédito. Inexistência de litisconsórcio passivo necessário, pois, ao contrário

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do que ocorre no endosso translativo, em que, via de regra, em razão da


cadeia de endossos, há que se formar o litisconsórcio necessário, no
endosso mandato não há transferência do título de crédito, apenas uma
ordem para que se promova a cobrança nos limites dos poderes fixados
pelo endossante mandante. Acordo homologado. Recurso provido”. (TJSP
Agravo de Instrumento 2014822-04.2016.8.26.0000, Rel. Roberto Mac
Cracken, 22ª Câmara de Direito Privado, 09.06.2016).
Ora, da análise das duplicatas protestadas, observa-se que,
não obstante constar a informação do endosso mandato, na realidade os
mandatários apresentantes foram os Banco Bradesco S/A e Banco Itaú
Unibanco S/A, cada qual com um favorecido/credor diferente, conforme
segue:
- Duplicata 1102 (fls. 32/35) mandatário apresentante
Banco Bradesco S/A, favorecido FIDC da Indústria Exodus Institucional;
- Duplicata 1137 (fls. 36/39) mandatário apresentante
Banco Bradesco S/A, favorecido FIDC da Indústria Exodus Institucional;
- Duplicata 1075/B (fls. 40/43) mandatário apresentante
Banco Itaú Unibanco S/A, favorecido Innov Securitizadora S/A;
- Duplicata 1101 (fls. 44/47) mandatário apresentante
Banco Bradesco S/A, favorecido FIDC da Indústria Exodus Institucional;
- Duplicata 1115 (fls. 48/51) mandatário apresentante
Banco Bradesco S/A, endossatário favorecido RNX FIDC Multissetorial LP;
- Duplicata 1136/B (fls. 60/63) mandatário apresentante
Banco Bradesco S/A, endossatário favorecido MP Securitizadora S/A.
No mais, vislumbro ser o caso de litisconsórcio necessário
simples, pois existe a possibilidade de que o resultado da demanda seja
distinto para cada um dos endossatários, em especial por envolver relações
jurídicas diversas e de natureza patrimonial disponível.
Dessa forma, entendo que descabe a citação dos demais
credores, uma vez que a hipótese não admite a defesa de direito alheio em
nome próprio (art. 18 do CPC) e, assim, as partes efetivamente prejudicadas
é que deveriam arguir eventuais questões em seu favor, o que não fizeram.

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Por conseguinte, atentando-se ao disposto nos arts. 114 e


115, inciso II, ambos do CPC, é caso de considerar o acordo homologado
ineficaz em relação apenas à apelante, de modo a não produzir efeitos,
ratificando os termos quanto aos demais credores.
Por fim, deixo de fixar os honorários sucumbenciais,
considerando que os autos deverão retornar à Vara de origem, com vistas
ao prosseguimento do feito em seus ulteriores termos, não havendo que se
falar em majoração, eis que não houve fixação na primeira instância.
Pelo exposto, dou parcial provimento ao recurso, a fim de
tornar a sentença homologatória do acordo ineficaz tão somente em relação
à apelante, com determinação.

LÍGIA ARAÚJO BISOGNI


Relatora

Apelação Cível nº 1040658-74.2022.8.26.0100 -Voto nº 46491 5

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