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DIREITO ADMINISTRATIVO

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Sumário
1. ATOS JURÍDICOS........................................................................................................ 4
2. ATOS DA ADMINISTRAÇÃO ....................................................................................... 4
2.1. Atos políticos ou de governo .................................................................................. 4
2.2. Atos privados .......................................................................................................... 5
2.3. Atos materiais ......................................................................................................... 5
2.4. Atos administrativos................................................................................................ 5
3. ATO ADMINISTRATIVO ............................................................................................... 6
3.1. Conceito .................................................................................................................... 6
3.2. Atos vinculados e Atos discricionários ...................................................................... 7
4. ELEMENTOS DO ATO ADMINISTRATIVO ..................................................................... 8
4.1. Competência........................................................................................................... 8
4.1.1. Delegação de competência .............................................................................. 9
4.1.2. Avocação de competência ............................................................................. 10
4.2. Finalidade ............................................................................................................. 11
4.3. Forma ................................................................................................................... 12
4.3.1. Silêncio administrativo ................................................................................... 13
4.3.2. Vício no elemento forma ................................................................................ 13
4.4. Motivo ................................................................................................................... 14
4.4.1. Motivo e motivação ........................................................................................ 15
4.5. Objeto ................................................................................................................... 17
4.6. Elementos discricionários e vinculados ................................................................... 18
5. ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVO ................................................................. 19
5.1. Presunção de legitimidade ou de veracidade ....................................................... 20
5.2. Autoexecutoriedade .............................................................................................. 21
5.3. Tipicidade ............................................................................................................. 22
5.4. Imperatividade ...................................................................................................... 22
6. FASES DE CONSTITUIÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO ........................................... 23
6.1. Perfeição ................................................................................................................. 23
6.2. Validade .................................................................................................................. 23
6.3. Eficácia.................................................................................................................... 24
7. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS ..................................................... 24
7.1. Grau de liberdade.................................................................................................... 24
7.2. Formação ................................................................................................................ 24
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7.3. Destinatários ........................................................................................................... 26
7.4. Objeto...................................................................................................................... 26
7.5. Estrutura .................................................................................................................. 27
7.6. Efeitos ..................................................................................................................... 27
7.7. Resultados .............................................................................................................. 27
7.8. Alcance ................................................................................................................... 28
8. ESPÉCIES DE ATOS ADMINISTRATIVOS .................................................................. 28
8.1. Atos normativos....................................................................................................... 28
8.1.1. Regulamento .................................................................................................... 29
8.1.2. Aviso ................................................................................................................. 30
8.1.3. Instrução Normativa .......................................................................................... 30
8.1.4. Regimentos....................................................................................................... 30
8.1.5. Deliberações ..................................................................................................... 30
8.1.6. Resoluções ....................................................................................................... 30
8.2. Atos Ordinatórios..................................................................................................... 30
8.2.1. Portaria ............................................................................................................. 31
8.2.2. Circular ............................................................................................................. 31
8.2.3. Ordem de serviço ............................................................................................. 31
8.2.4. Despacho.......................................................................................................... 31
8.2.5. Memorando....................................................................................................... 32
8.2.6. Ofício ................................................................................................................ 32
8.3. Atos negociais ......................................................................................................... 32
8.3.1. Autorização ....................................................................................................... 33
8.3.2. Permissão ......................................................................................................... 34
8.3.3. Licença ............................................................................................................. 34
8.3.4. Admissão .......................................................................................................... 35
8.3.5. Aprovação......................................................................................................... 35
8.3.6. Homologação.................................................................................................... 36
8.4. Atos enunciativos .................................................................................................... 37
8.4.1. Certidão ............................................................................................................ 37
8.4.2. Apostila ou averbação ...................................................................................... 37
8.4.3 Parecer .............................................................................................................. 38
8.4.4. Atestado ........................................................................................................... 38
8.5. Atos punitivos .......................................................................................................... 38
9. EXTINÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS ............................................................... 39
9.1. Anulação ou invalidação ......................................................................................... 39

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9.1.1. Convalidação........................................................................................................ 41
9.2. Revogação .............................................................................................................. 42
9.3. Cassação ................................................................................................................ 45
9.4. Caducidade ............................................................................................................. 45
9.5. Contraposição (derrubada) ..................................................................................... 45
10. QUESTÕES PARA TREINO ........................................................................................ 47
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA ............................................................................................... 48

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ATOS ADMINISTRATIVOS

1. ATOS JURÍDICOS
Em primeiro lugar, faz-se necessário estabelecer a diferença entre fato e ato. O fato
pode ser entendido como qualquer conduta humana ou uma simples sucessão de eventos
alheios à atuação de pessoas. No entanto, em algumas situações, estes fatos interferem
nas relações travadas entre pessoas e necessitam de regulamentação por meio de
normas jurídicas, quando então passam a ser chamados de fatos jurídicos. O nascimento
e a morte, por exemplo, são fatos que, se atingidos a esfera jurídica, são chamados de
fatos jurídicos em sentido estrito, pois são fatos da natureza que ensejam consequências
nas relações entre pessoas.
Já os atos jurídicos, que também são chamados de “fatos de pessoas”, referem-se
ao ato humano de manifestação de vontade, de modo a interferir no direito. Os atos
jurídicos podem ser lícitos, quando praticados em conformidade com os padrões legais,
ou ilícitos, quando tenham sido conduzidos fora dos limites da lei.
Sendo assim, o fato pode ser definido como um acontecimento e o ato como uma
manifestação de vontade.
Há, ainda, a necessidade de definirmos o ato administrativo, que ocorre quando a
atuação humana, voltada para a produção de efeitos jurídicos, interfere na estrutura do
Direito Administrativo, como ocorre, por exemplo, com a morte de um funcionário, pois
este fato gera uma vacância no cargo que, com o decurso do tempo, produz a prescrição
administrativa.
Desse modo, o ato administrativo se configura um ato jurídico regulamentado por
disposições do Direito Público, devido às peculiaridades que lhe são impostas pela
supremacia do interesse público, conjugada com a indisponibilidade destes interesses.

2. ATOS DA ADMINISTRAÇÃO
Já que definimos a concepção de ato administrativo, é preciso diferenciá-lo dos
demais atos da Administração. Isso porque nem todo o ato da Administração será um ato
administrativo, pois o ato administrativo abrange apenas determinada categoria de atos
praticados no exercício da função administrativa. Já os atos da Administração têm sentido
mais amplo, pois abrange todo o ato praticado no exercício da função administrativa.
Nesse sentido, os atos da Administração podem ser divididos em quatro espécies,
que serão analisadas a seguir.

2.1. Atos políticos ou de governo

São os atos sujeitos ao regime jurídico-constitucional. Ocorrem quando há o


exercício da função política e podem ser exercidos pelos membros do Poder Legislativo,
Judiciário e Executivo.
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Para José Santos Carvalho Filho, tais atos não podem, sequer, ser considerados
como atos da Administração, pois são exercidos pelo Estado no exercício da função
política. O autor dispõe:

“Esses atos não são propriamente administrativos, mas atos de governo.


Seu fundamento se encontra na Constituição, e por tal motivo não têm
parâmetros prévios de controle. Por outro lado, são esses atos que
permitem a condução das políticas, das diretrizes e das estratégias do
Governo.”

O autor ainda menciona como exemplo desses atos a concessão de indulto, de


competência do Presidente da República (art. 84, XII, CF); o ato de permissão pelo
Presidente da República para que forças estrangeiras transitem pelo território nacional
(art. 84, XXII, CF); o ato de concessão de autorização, pelo Congresso Nacional, para que
o Presidente da República se ausente do país (art. 49, III, CF). Para ele, todos esses atos
são atos políticos, pois seus motivos residem na esfera exclusiva da autoridade
competente para praticá-los.

2.2. Atos privados

São os atos da Administração Pública regidos pelo direito privado, a exemplo da


doação, permuta, compra e venda, e locação. Portanto, são atos nos quais a
Administração Pública atua sem prerrogativas, ou seja, em igualdade de condições com o
particular.

2.3. Atos materiais

São atos que não contêm a manifestação de vontade do Estado e, por isso,
também são chamados de fatos administrativos. Trata-se de atos de mera execução
de atividade, a exemplo da demolição de uma casa, da apreensão de mercadorias e
da realização de um serviço.
Cabe ressaltar que o ato que determina a demolição de um prédio, por exemplo,
é um ato administrativo, mas a demolição em si é um mero ato material, podendo,
inclusive, ser executado por qualquer particular contratado pelo Poder Público.

2.4. Atos administrativos

Para Matheus Carvalho:

“São os atos por meio dos quais a Administração atua, no exercício da


função administrativa, sob o regime de direito público e ensejando a
manifestação de vontade do Estado ou de quem lhe faça às vezes.”

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Ademais, tais atos podem ser praticados pela Administração ou por concessionárias
de serviços públicos na execução de suas atividades delegadas. Por isso, nem todo ato
administração irá se configurar como ato da Administração Pública, devido à possibilidade
de serem praticados por meio de entidades privadas, que não integram a estrutura
estatal.
Feita essa breve análise, passamos a tratar especificamente sobre ato administrativo
propriamente dito.

3. ATO ADMINISTRATIVO

3.1. Conceito

Como já verificamos, os atos administrativos são atos jurídicos, ou seja, decorrem


da manifestação de vontade humana, de modo a repercutir na esfera jurídica dos
cidadãos. Além disso, para ser caracterizado como ato administrativo, este deve ser
emanado por um agente público (de forma ampla), ou seja, deve ser emanado por alguém
que esteja investido de múnus público, podendo atuar em nome da Administração.
Ademais, o ato administrativo deve ser praticado buscando atingir uma finalidade
pública e sob um regime público, no qual se definem prerrogativas, inerentes à
supremacia do interesse público sobre o interesse privado e limitações, em decorrência
do interesse público. Portanto, consoante Matheus de Carvalho, o ato administrativo:

“É aquele ato editado no exercício da função administrativa, sob o regime


de Direito Público e traduzindo uma manifestação de vontade do Estado. É
regido pelo Direito Público e difere dos demais atos da Administração
Pública, embora seja um deles.”

O ato administrativo, segundo a doutrina mais moderna, pode ser delegado. Ou


seja, os particulares receberão a delegação pelo Poder Público para praticar os referidos
atos, o que faz com que nem todo ato administrativo seja um ato da administração,
propriamente dito.
Ainda sobre a definição de atos administrativos, cumpre esclarecer que o autor
Celso Antônio Bandeira de Melo estabelece que tais atos podem ser analisados em
sentido estrito ou em sentido amplo.
Os atos em sentido estrito são as declarações unilaterais de vontade do Poder
Público, no exercício das funções administrativas, gozando de todas as prerrogativas do
regime de direito público, para fiel execução do dispositivo na lei, sujeito a controle
jurisdicional. Estão excluídos dos atos administrativos em sentido estrito os atos gerais e
abstratos e os acordos firmados pela Administração Pública, por não serem unilaterais.
Já os atos administrativos em sentido amplo incluem os atos bilaterais, decorrentes
de acordos celebrados pelo Poder Público e, também, os atos gerais e abstratos
praticados em conformidade com a lei.

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3.2. Atos vinculados e Atos discricionários

Primeiramente, impende mencionar que não existem atos administrativos


totalmente discricionários no Direito Administrativo, uma vez que alguns elementos do ato
serão sempre vinculados.
O ato discricionário ocorre quando o comando normativo confere uma
possibilidade de escolha ao administrador público, ou seja, o dispositivo legal confere
margem de escolha ao administrador público mediante análise de mérito (razões de
conveniência e oportunidade). Entretanto, conforme veremos a seguir, somente os
elementos motivo e objeto podem ter feição discricionária.
Para Di Pietro, a atuação é discricionária quando a Administração, diante do caso
concreto, tem a possibilidade de apreciá-lo segundo critérios de oportunidade e
conveniência e escolher uma dentre duas ou mais soluções, todas válidas para o direito.
Cabe ressaltar que a fonte da discricionariedade é a própria lei. Nesse sentido, uma
atuação será discricionária:

a) Quando a lei expressamente a confere à Administração, como ocorre no caso da norma


que permite a remoção ex officio do funcionário, a critério da Administração, para atender a
conveniência do serviço.

b) Quando a lei é omissa, porque não lhe é possível prever todas as situações
supervenientes ao momento de sua promulgação, hipótese em que a autoridade deverá
decidir de acordo com princípios extraídos do ordenamento jurídico.

c) Quando a lei prevê determinada competência, mas não estabelece a conduta a ser
adotada; exemplos dessa hipótese se encontram em matéria de poder de polícia, em que
é impossível à lei traçar todas as condutas possíveis diante de lesão ou ameaça de lesão à
vida, à segurança pública, à saúde.

Já os atos vinculados são aqueles em que a atuação da administração está


adstrita aos ditames previstos na legislação, de forma objetiva. Ou seja, a norma legal
estabelece todos os elementos do ato administrativo, sem deixar qualquer margem de
opção acerca da melhor atuação para o Poder Público.
Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello:

“Os atos vinculados seriam aqueles em que, por existir prévia e objetiva
tipificação legal do único possível comportamento da administração em face
de situação igualmente prevista em termos de objetividade absoluta, a
Administração, ao expedi-los, não interfere com apreciação subjetiva
alguma.”

Temos que falar ainda que, os atos administrativos, sejam eles discricionários ou
vinculados, estão sujeitos ao controle jurisdicional. No entanto, o controle exercido pelo
Poder Judiciário limita-se apenas a análise de legalidade, ou seja, não há interferência no
mérito do ato administrativo (quando se tratar de ato discricionário). Desse modo, no
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exercício da função jurisdicional, o órgão controlador está adstrito a verificar se o
respectivo ato foi praticado em conformidade com a lei.

Atenção: Como este assunto é cobrado em prova?

1. (TRT 16º região/2015) Os atos administrativos não se confundem com os atos da Administração,
que podem eventualmente ser regidos pelo Direito Privado, bem assim porque estes últimos podem
ter o viés de atos tipicamente de governo, com função puramente política e, consequentemente,
com margem de discricionariedade maior. (CERTO)

2. (TJSC/2013) Pode-se se definir o ato administrativo como a declaração do Estado ou de quem o


represente, que produz efeitos jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de
direito público e sujeita a controle pelo Poder Judiciário. (CERTO)

3. (CESPE/TRF 2/2013) Quando o administrador exara um ato administrativo discricionário, no que


concerne ao critério administrativo, ou seja, conveniência e oportunidade do administrador público,
o Poder Judiciário pode adentrar nesse ponto, sem macular o princípio da separação dos poderes,
podendo, nesse sentido, realizar a análise da adequação do ato administrativo e verificar a
correlação entre este ato e os motivos que inspiraram a sua edição, sob o argumento de controle de
legalidade do ato administrativo. (ERRADO)

Veja que o último enunciado se encontra errado, pois ao Poder Judiciário não cabe
o controle do mérito administrativo (razões de conveniência e oportunidade), mas tão
somente o controle de legalidade.

4. ELEMENTOS DO ATO ADMINISTRATIVO

Tomando-se por referência a lei da Ação Popular, são 5 os elementos do ato


administrativo: competência, finalidade, forma, motivo e objeto, que são analisados
separadamente a seguir.

4.1. Competência

O elemento competência é definido em lei ou em atos administrativos gerais.


Ademais, em algumas situações, a competência decorre da Constituição Federal e não
pode ser alterada por vontade das partes ou do administrador público.
A competência é exercida por um agente público (considerado em sentido amplo),
ou seja, refere-se a todo e qualquer agente que atue em nome do Estado, a qualquer
título e, ainda que sem remuneração, por prazo determinado ou com vínculo de natureza
permanente. Nesse sentido, são considerados agentes: os agentes políticos, quais sejam
os detentores de mandatos eletivos, os secretários e ministros de Estado, além dos
membros da magistratura e do Ministério Público. Ademais, os atos podem ser praticados
por particulares em colaboração com o Poder Público, a exemplo dos jurados e mesários.
Por fim, os servidores estatais, sejam estatutários, empregados públicos ou servidores

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temporários, atuam no exercício da função administrativa e podem praticar atos
administrativos.
Tendo elucidado quais são os sujeitos que têm competência para a pratica de atos
administrativos, iremos falar sobre as características da competência administrativa.
Em razão da indisponibilidade do interesse público, a competência para praticar
determinado ato não se configura como uma faculdade do servidor, mas sim uma
imposição legal, ou seja, autoridade do Estado não pode se manter inerte, diante de
situação prevista em lei que enseje a sua conduta. Nesse sentido, observa-se que se trata
de um verdadeiro poder-dever conferido ao Poder Público e distribuído entre seus
agentes e órgãos internos.
Ademais, a competência é imprescritível, de modo que, ainda que o agente se
exima de praticar as condutas a ele atribuídas, seja por não ocorrência dos pressupostos
legais, seja por simples inércia ou descumprimento do dever de atuar, não será
sancionado com a perda da sua legitimidade.
Do mesmo modo, a competência é improrrogável, não podendo ser atribuída ao
agente público pelo fato de ter praticado o ato para o qual não tinha atribuição, sem que
houvesse objeção por parte de terceiros.
A competência administrativa também é irrenunciável, conforme prevê a Lei
9.784/99:

Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos


administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de
delegação e avocação legalmente admitidos.

Tal característica decorre do princípio da indisponibilidade do interesse público. No


entanto, a própria Lei 9.784/99 prevê que a competência, embora irrenunciável, pode ser
objeto de delegação e avocação, desde que de forma temporária e excepcional. Ademais,
não podem ser objeto de delegação e avocação a competência conferida pela lei a
determinado órgão ou entidade, com exclusividade.

4.1.1. Delegação de competência

A delegação é a extensão da competência, de forma temporária, para um outro


agente da mesma ou de inferior hierarquia. Desse modo, a delegação de competência
ocorre quando um agente público legalmente competente estende ou amplia sua
competência, fazendo com que ela se aplique a outro agente
Ademais, cabe ressaltar que a delegação deve especificar as matérias e poderes
transferidos, bem como os limites de atuação do delegado, os objetivos da delegação e o
recurso cabível, podendo conter ressalva de exercício da atribuição delegada. Pode,
ainda, o ato de delegação ser revogado a qualquer tempo, consoante prevê a Lei
9.784/99:
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver
impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou
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titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados,
quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica,
social, econômica, jurídica ou territorial.
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no
meio oficial.
§ 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os
limites da atuação do delegado, a duração e os objetivos da delegação e o
recurso cabível, podendo conter ressalva de exercício da atribuição
delegada.
§ 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela autoridade
delegante.

Há que se falar, ainda, de que o agente delegante não transfere a competência,


mas apenas a amplia, mantendo-se competente após a delegação juntamente com o
agente delegado, de modo a reservar a sua competência delegada. Nesse sentido, o
Supremo Tribunal Federal estabelece que a autoridade coatora é o agente que praticou o
ato,, ainda que o tenha feito por delegação:

Súmula 510, STF: Praticado o ato por autoridade, no exercício de


competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou
a medida judicial.

Desse modo, quem pratica o ato é o responsável por essa conduta, ou seja, o
agente deve responder pelo exercício da atividade a ele atribuída, ainda que decorrente
de delegação regular.
Para finalizarmos o tópico de delegação, cumpre mencionar que a Lei 9.784/99
proíbe expressamente a delegação de competências em três situações:

a) Edição de atos de caráter normativo.

b) Decisão de recursos administrativos, já que o recurso administrativo também


decorre da hierarquia e há de ser decidido por cada instância separadamente.

c) As matérias de competência exclusiva de órgão ou autoridade, para que a


delegação não implique em infringência da lei que reservou a matéria à
competência de determinado órgão ou autoridade. Ressalta-se que a legislação
proíbe a competência definida como exclusiva, entretanto, é possível a delegação
para a prática de atos decorrentes da competência privativa de determinado agente
público.

4.1.2. Avocação de competência

Primeiramente, temos que esclarecer que a avocação deve haver subordinação, ou


seja, o agente poderá avocar para si a competência de outro agente de hierarquia inferior.
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A avocação ocorre quando o agente público chama para si a competência de outro
agente. Entretanto, a avocação só poderá ocorrer de modo temporário e por motivos
devidamente justificados, conforme dispõe o artigo 15 da Lei 9.784/99:

Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes


devidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída
a órgão hierarquicamente inferior.

Dessa forma, não pode ocorrer a avocação de competências genéricas. Ademais,


não é permitida a avocação de competências nas hipóteses em que a lei proíbe a
delegação, ou seja: atos de caráter normativo, decisão de recursos administrativos e
competência definida em lei como exclusiva.

4.2. Finalidade

Podemos conceituar a finalidade como o resultado que a Administração quer


alcançar com a prática do ato. A finalidade trata-se do escopo do ato, do efeito jurídico
mediato que o ato produzirá.

Para a doutrina, a finalidade divide-se em dois sentidos diferentes:

a) Finalidade genérica: está presente em todos os atos administrativos. Trata-se do


atendimento ao interesse público, ou seja, se o ato for praticado com a finalidade
de atender interesses particulares e individuais, estará eivado de vício insanável.
Nesse sentido, pode-se dizer que o ato administrativo tem que ter finalidade
pública.

b) Finalidade específica: Trata-se do resultado específico que cada ato deve


produzir, conforme definido em lei. Ou seja, podemos dizer que a finalidade do ato
administrativo sempre decorre, implícita ou explicitamente, da lei. Como exemplo,
cita-se o ato de remoção de um agente público para prestar serviços em localidade
diversa da sua lotação originária. Tal ato é regulamentado em lei para reorganizar
e redistribuir a prestação do serviço público, não podendo ser utilizado para a
punição de um agente público.

Desse modo:

Finalidade Interesse
genérica Público

Finalidade Definida
específica em lei

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Cabe ressaltar que, quando o agente público atua de modo a desvirtuar a finalidade
definida em lei para a prática de determinado ato, estaremos diante de um abuso de
poder, na espécie desvio de poder (ou desvio de finalidade). O desvio de finalidade ocorre
quando é infringida a finalidade legal do ato (finalidade específica), mas também quando o
ato é produzido desatendendo ao interesse púbico (finalidade genérica). Nesse caso, o
desvio de finalidade ensejará a nulidade do ato, pois se trata de ato ilegal.

4.3. Forma

A forma é definida como a exteriorização do ato, determinada por lei. Nesse


sentido, a ausência de forma importará na inexistência do ato administrativo, pois a forma
faz parte do próprio ciclo de formação do ato, uma vez que se trata de elemento
constitutivo da atuação. Por exemplo, se a lei exige a forma escrita e determinado ato é
praticado verbalmente, ele será nulo; se a lei exige processo disciplinar para a demissão
de um funcionário, a falta ou vício naquele procedimento invalida a demissão, ainda que
esta esteja correta.
A existência de forma para a prática dos atos da Administração Pública decorre do
princípio da solenidade, conforme explica Matheus Carvalho:

“Por seu turno, as condutas estatais são regidas pelo direito público,
mediante prerrogativas inseridas como forma de garantia dos interesses da
coletividade, sendo os atos praticados com a intenção de satisfazer os
interesses de toda a sociedade, vigendo, por esses motivos, o princípio da
solenidade das formas.”

Desse modo, os atos administrativos devem ser praticados por escrito, ainda que
não haja determinação legal neste sentido e, ainda, em vernáculo (em língua portuguesa).
No entanto, essa regra comporta exceções estabelecidas por leis específicas que podem
determinar outras formas para a prática de condutas estatais, a exemplo dos semáforos,
que se manifestam por meio de sinais, sendo amplamente divulgado que o acendimento
da luz vermelha significa uma imposição de parar aos condutores de veículos.
Devemos ter em mente que o elemento forma não se configura a essência do ato,
ou seja, a finalidade estatal, mas tão somente o instrumento necessário para que a
conduta administrativa alcance os seus objetivos. Dessa forma, a doutrina costuma
apontar o princípio da instrumentalidade das formas, dispondo que a forma não é
essencial à prática do ato, mas tão somente o meio, definido em lei, pelo qual o Poder
Público conseguirá alcançar os seus objetivos.
Por fim, cabe ressaltar que o motivo, que veremos a seguir, integra o conceito de
forma do ato administrativo, ou seja, a exposição dos fatos e do direito que serviram de
fundamento para a prática do ato, de modo que a sua ausência impedirá a verificação de
legitimidade do ato.

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4.3.1. Silêncio administrativo

Para a doutrina majoritária, o silêncio administrativo, diante de determinada


situação, não produz qualquer efeito, com exceção das hipóteses previstas em lei que
admitem que a ausência de conduta do Poder Público implicará a aceitação tácita de
determinado fato ou até mesmo a negativa por decurso de tempo. Por exemplo, quando a
lei fixa um prazo findo o qual o silêncio da Administração significa concordância ou
discordância.
Cabe ressaltar ainda que, não havendo previsão legal acerca da matéria, não
somente se determina que não haja a produção de efeitos pelo silêncio, mas, também, é
faculdade do particular peticionar aos órgãos públicos, diante de inércia administrativa,
que possa ser sanada por meio de provocação do Poder Judiciário. Assim, conforme
explica Matheus Carvalho, o silêncio pode ensejar a atuação do Poder Judiciário em duas
situações distintas:

a) Quando a própria lei define o prazo para atuação do agente, sendo que a ausência
de manifestação de vontade, dentro do prazo estipulado legalmente, enseja a
possibilidade de se provocar o Judiciário para determinar a prática do ato. Por
exemplo, a lei 8.112/90 dispõe que a autoridade pública deve proferir decisão, em
sede de processo administrativo, no prazo máximo de 20 (vinte) dias, contados da
conclusão do procedimento, após a apresentação do relatório pela comissão
processante. Neste caso, após o transcurso do prazo em lei, a omissão
administrativa é abusiva e passível de controle, inclusive mediante a impetração de
Mandado de Segurança determinando a prática do ato administrativo.

b) Quando não há definição legal de prazo para a manifestação de vontade do poder


público. Nessa situação, a demora da Administração Pública configura
irregularidade, de modo que compete ao administrador público e ao Judiciário, com
base no princípio da razoabilidade, estabelecer o que pode ser considerado um
prazo justo para a atuação estatal e, a partir de quando, pode-se considerar a
demora como ilicitude. Desse modo, mediante manifestação de qualquer
interessado, é possível ao Judiciário determinar que o agente público pratique o
ato, cessando a ilegalidade que decorria da omissão estatal.

Essas situações, conforme jurisprudência dos tribunais superiores, não configura


invasão de mérito do administrador, desde que o Poder Público não interfira no conteúdo
da conduta a ser praticada.

4.3.2. Vício no elemento forma

O vício de forma, quando não acarretar em prejuízo ao interesse público ou a


terceiros, é sanável, em face à aplicação do princípio da instrumentalidade das formas.

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Desse modo, quando a ausência de formalidades legais não ensejar prejuízo aos
interesses que devem ser alcançados, na prática do ato, deve-se manter o ato viciado,
embora seja possível a responsabilização dos agentes públicos que desrespeitaram as
formalidades legais.
Entretanto, em algumas situações, o vício de forma é insanável por atingir
diretamente o próprio conteúdo do ato. Por exemplo, em situações em que seja
declarada, por meio da expedição de uma Instrução Normativa, a utilidade pública de um
bem imóvel para fins de desapropriação. Neste caso, estaremos diante de um vício de
forma insanável, pois a legislação exige a edição de um decreto, expedido pelo
Presidente da República, para a prática desses atos. Assim, o desrespeito à forma atinge
diretamente os interesses e garantias do particular atacado pelo ato.
Finalmente, temos que esclarecer que, como regra, a forma é elemento sempre
vinculado, seja nos atos vinculados ou discricionários, ressalvadas as hipóteses em que a
legislação estabelece mais de uma forma possível para a prática do ato ou, ainda, quando
a lei for silente acerca da forma que deve ser obedecida. Nessas situações, a forma será
discricionária.

4.4. Motivo

O motivo é o pressuposto de fato e de direito que dá ensejo à prática do ato. A


autora Di Pietro, elenca que o pressuposto de direito é o dispositivo legal em que se
baseia o ato. Já o pressuposto de fato refere-se ao conjunto de circunstâncias, de
acontecimentos, de situações, que levam a Administração a praticar o ato.
É importante destacar que, em determinas situações, a lei não esgota todas as
situações que ensejariam a prática do ato administrativo, dando ao agente público uma
margem de escolha em sua atuação. Essa margem de escolha pode decorrer de opções
expressas em lei ou, em outros casos, o texto legal se vale de conceitos jurídicos
indeterminados, concedendo ao agente público o poder-dever de analisar a melhor forma
e momento de atuação, com base em seus critérios de valoração. Desse modo, o motivo
é elemento do ato administrativo que poderá ser discricionário, nos termos da lei.
Ademais, para que não haja irregularidade no ato administrativo, em razão de vício
no elemento motivo, deve haver a adequação entre os motivos que deu ensejo à prática
do ato e o resultado a ser obtido pela atuação estatal, conforme dispõe o artigo 2º,
parágrafo único, “d”, da lei 4.717/65:

Art. 2º, § 2º, “d”: a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de
fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente
ou juridicamente inadequada ao resultado obtido;

Por fim, cabe destacar a diferença entre motivo e móvel. O motivo, como já dito,
refere-se àquela situação prevista em lei que justifica a prática do ato administrativo. Já o
móvel diz respeito a real intenção do agente público quando pratica a conduta estatal. No
entanto, devemos esclarecer que a definição do móvel somente será relevante diante de
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atos administrativos discricionários, pois na análise de mérito, deve ser verificada a
vontade real do agente. Assim, não pode o agente valer-se do mérito para alcançar
interesses individuais.
Por outro lado, caso se trate de ato vinculado, não há possibilidade de mérito pelo
administrador, pois o próprio texto legal já previu um único comportamento cabível, não
havendo margem de subjetivismo que comporte a busca por interesses individuais.

4.4.1. Motivo e motivação

Não se deve confundir motivo (elemento do ato administrativo, conforme


explicamos) com a motivação. Esta se trata somente da exposição dos motivos do ato, ou
seja, a fundamentação do ato administrativo, de forma a estabelecer a relação lógica
entre o ato descrito em lei e os fatos efetivamente ocorridos.
A explicitação dos motivos integra a “formalização do ato”, sendo assim, o ato
praticado sem a motivação devida conterá um vício no elemento forma. Desse modo,
deverão ser observadas as seguintes situações, conforme alude Matheus Carvalho:

a) O ato administrativo foi praticado com a devida motivação, no entanto, os motivos


apresentados não encontram correspondência com a justificativa legal para a
prática da conduta. Nestes casos, pode-se definir que o ato é viciado, por
ilegalidade no elemento motivo.

b) Por outro lado, se o ato administrativo é praticado em decorrência de situação


fática verdadeira e prevista em lei, como ensejadora da conduta estatal, todavia, o
administrador público não realizou a motivação do ato, apresentando as razões
que justificam sua edição. Trata-se de ato com vício no elemento forma.

O art. 50 da Lei 9.784/99 dispõe que a motivação é obrigatória para os atos que:

I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;


II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem
de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato
administrativo.

Entretanto, há divergência na doutrina acerca da obrigatoriedade na motivação dos


atos administrativos. O autor José dos Santos Carvalho Filho, em entendimento
minoritário, dispõe que a motivação não é obrigatória em todos os casos, não obstante
seja aconselhável que ao administrador público fundamentar as razões que embasaram
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seus atos. O autor alude que a Constituição Federal não elencou a motivação como
princípio inerente à atuação administrativa, e nas hipóteses em que a motivação é
indispensável, a Carta Magna se manifesta neste sentido.
Por outro lado, a doutrina majoritária entende que a motivação é obrigatória nos
atos administrativos, configurando um princípio implícito na Constituição Federal. Dessa
forma, tem-se que a motivação é um princípio explícito na Lei 9.784/99, conforme já
descrevemos, e, para a maior parte da doutrina, está também implícito na Constituição
Federal. Assim, os atos administrativos devem ser motivados, sendo uma regra expor as
razões de fato e de direito que deram motivo ao ato.
Há, ainda, divergência na doutrina em relação ao dever de motivação dos atos
administrativos discricionários. Alguns doutrinadores defendem que somente os atos
vinculados têm a obrigação de serem motivados, devido a necessidade de demonstrar
que o agente público observou os parâmetros previstos na legislação. Por sua vez, os
atos discricionários não teriam esta necessidade de motivação em decorrência da
liberdade conferida ao administrador público de definir a atuação.
Contudo, a doutrina moderna dispõe que a obrigatoriedade de motivação dos atos
administrativos deve ocorrer tanto nos atos vinculados como nos atos discricionários. No
ato vinculado, a motivação resume-se a apresentação do dispositivo legal que determina
a atuação do poder estatal. Já nos atos discricionários, há uma necessidade de se
detalhar as razões que justificaram a conduta pública.
Cabe ressaltar ainda que, em algumas situações, a motivação do ato administrativo
não precisa estar expressa em sua redação, de forma que é possível, no ordenamento
jurídico brasileiro, a chamada motivação aliunde, que está presente sempre que, ao
invés de expor os motivos que deram ensejo à prática do ato, o administrador público
remete sua motivação aos fundamentos apresentados por um ato administrativo anterior
que o justificou, conforme dispõe o art. 50, § 1º da Lei 9.784/99:

Art. 50, § 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo


consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores
pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão
parte integrante do ato.

Assim, é possível garantir uma maior eficiência e rapidez na solução de


controvérsias.
Ademais, impende mencionar que, em determinados casos, é possível a dispensa
da motivação, seja pela lei ou por disposição da própria Constituição Federal, a exemplo
das situações que envolvem a exoneração de servidor público comissionado, designada
como exoneração ad nutum, pois o próprio texto constitucional dispõe ser livre a prática
do ato administrativo, não dependendo de fundamentação pelo agente público que o
pratica.
Todavia, mesmo nas situações em que a motivação pode ser dispensada, como no
exemplo citado, se o ato for motivado e o motivo apresentado não for verdadeiro ou for
viciado, o ato será inválido, pois o administrador estará vinculado aos motivos

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apresentados como fundamento para a prática do ato administrativo. Assim, estaremos
diante de um vício de ilegalidade e de falta de coerência entre as razões expostas no ato
e o resultado nele contido. Ou seja, a motivação, que é a exteriorização dos motivos, uma
vez realizada, será considerada parte do ato administrativo, de forma a vincular a validade
do ato.
Nesse caso, estaremos diante da chamada Teoria dos Motivos Determinantes.
Tal de teoria, apontada pela doutrina brasileira, define que a validade do ato se vincula
aos motivos indicados como seu fundamento. Dessa forma, se os motivos forem
inexistentes ou falsos, implicará em nulidade do ato administrativo, ou seja, se a
administração motivar o ato, mesmo que a lei não exija tal motivação, esse ato só será
válido se os motivos forem verdadeiros. Outro exemplo dessa situação é o caso da
revogação de uma ato de permissão de uso, sob a alegação de que a mesma se tornou
incompatível com a destinação do bem público objeto da permissão, se a Administração,
a seguir, permitir o uso do mesmo bem a terceira pessoa, ficará demonstrado que o ato
de revogação foi ilegal por vício quanto ao motivo.
Para finalizarmos o estudo acerca do elemento motivo, cabe ressaltar que se trata
de elemento do ato administrativo que possui feição discricionária, ou seja, o agente
público possui uma margem de escolha, desde que observados os limites impostos pela
norma, ressalvados os atos vinculados, nos quais todos os elementos estão postos na lei
de forma objetiva.

4.5. Objeto

O objetivo ou conteúdo é o efeito jurídico imediato que o ato produz. Aqui, não
podemos confundir com a finalidade, que se trata do efeito jurídico mediato do ato
administrativo.

Atenção!

Efeito
Objeto
Imediato

Efeito
Finalidade
Mediato

Nesse sentido, o objeto trata-se do efeito causado pelo ato administrativo no


mundo jurídico, em virtude de sua prática. Como exemplo, podemos dizer que, na
desapropriação, o objeto é a perda do bem a ser utilizado para fins de utilidade pública. Já
no ato administrativo de aplicação da penalidade de multa, o objeto é a efetiva punição
imposta ao particular.

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Por fim, cabe ressaltar que o objeto deve ser lícito, ou seja, expedido em
conformidade com a lei. Também deve ser possível, definindo uma situação viável
faticamente e determinado ou determinável. Além disso, o objeto também pode ter
feição discricionária, assim como o motivo, que já foi estudado por nós.
Desse modo, o motivo e o objeto são elementos que podem possuir feição
discricionária. Não se esqueça!

Atenção! Vejam como estes assuntos são cobrados em prova:

1. (FCC/DPE-PR/2017) A delegação e avocação se caracterizam pela excepcionalidade e


temporariedade, sendo certo que é proibida avocação nos casos de competência exclusiva.
(CERTA)

2. (TRT 16º região/2015) Nas hipóteses em que a lei não faz uma enunciação prévia dos motivos que
ensejam a prática do ato, o falseamento de circunstâncias fáticas como razão ensejadora da
realização dele não gera a nulidade do ato, uma vez inexistente obrigação legal de exteriorização
dessas condições. (ERRADA)

3. (CESPE/TRF 5º região/2015) A competência, como elemento do ato administrativo, pode ser


delegada a outros órgãos ou agentes, se não houver impedimento legal, mesmo que estes não
sejam hierarquicamente subordinados aos que possuam a competência originária. (CERTA)

4. (VUNESP/TJM-SP/2016) Se a Administração não se pronuncia quando provocada por um


administrado que postula interesse próprio, está-se perante o silêncio administrativo que, apesar de
não ser um ato, deverá ser sempre interpretado como deferimento. (ERRADA)

5. (CESPE/TJ-AM/2019) De acordo com a teoria dos motivos determinantes, a validade de um ato


administrativo vincula-se aos motivos indicados como seus fundamentos, de modo que, se
inexistentes ou falsos os motivos, o ato torna-se nulo. (CERTO)

Veja que o enunciado 2 está incorreto, pois estudamos que caso seja comprovada
a não ocorrência da situação declarada, ou a inadequação entre a situação ocorrida e o
motivo descrito na lei, o ato será nulo. Estaremos diante da Teoria dos Motivos
Determinantes. Já o enunciado 4 está incorreto, pois, conforme estudamos, o silêncio
administrativo, como regra, não produz efeitos, sendo um simples fato administrativo.

4.6. Elementos discricionários e vinculados

Já estudamos acerca dos atos administrativos vinculados e discricionários. Agora,


precisamos definir quais elementos do ato administrativo devem, necessariamente, ser
vinculados e quais podem ser discricionários.
Nesse sentido, temos que a competência, a finalidade e a forma são elementos
vinculados, ou seja, a lei já os disciplina de forma objetiva, sem conceder ao agente
público margem de discricionariedade.

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Já os elementos motivo e objeto são, em regra, discricionários, ou seja, o agente
público pode atuar de acordo com o juízo de conveniência e oportunidade. Mas nem
sempre esses dois elementos serão discricionários, pois há casos em que a própria lei os
regulamenta, de forma objetiva, sem deixar margem de escolha ao administrador.
Ademais, quando discricionários, o motivo e o objeto irão compor o mérito do ato
administrativo, não cabendo controle do Poder Judiciário acerca do seu mérito, mas tão
somente o controle acerca da sua legalidade.
Por fim, temos que ressaltar que todos os elementos do ato administrativo, ainda
que discricionários, devem observar os limites impostos pela lei, já que a Administração
Pública deve se valer do princípio da legalidade, não podendo utilizar da
discricionariedade para ultrapassar os limites legais.

Atenção!

Elementos Elementos
discricionários vinculados

Motivo Competência

Objeto Finalidade

Forma

5. ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVO

Os atributos do ato administrativo decorrem do princípio da supremacia do


interesse público sobre o interesse privado. Trata-se de prerrogativas conferidas ao Poder
Público que permitem afirmar que o ato administrativo se submete a um regime jurídico
administrativo ou a um regime jurídico de direito público, ou seja, são características que
diferem os atos administrativos dos atos privados.
Apesar da divergência doutrinária, podemos dizer que existem quatro atributos dos
atos administrativos, são eles: presunção de legitimidade ou imperatividade,
autoexecutoriedade, tipicidade e imperatividade.

Para gravá-los iremos decorar o macete: P-A-T-I

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Presunção de legitimidade ou de veracidade

Autoexecutoriedade

Tipicidade

Imperatividade

Iremos destrinchar cada um desses atributos para melhor entendimento.

5.1. Presunção de legitimidade ou de veracidade

Embora sejam tratados conjuntamente, a legitimidade e veracidade são expressões


que podem ser desdobradas, pois abrangem situações diferentes.
A presunção de veracidade trata-se de uma prerrogativa presente em todos os
atos administrativos. Significa dizer que os fatos alegados pela Administração
presumem-se verdadeiros, ou seja, o ato goza de fé pública, como exemplo das certidões,
atestados, declarações e informações fornecidas pela Administração. Entretanto, cabe
ressaltar que essa presunção é relativa (juris tantum), admitindo prova em contrário pelo
particular interessado. Diante disso, cabe ao particular lesado, em muitos casos, provar a
falsidade das disposições. Assim, essa presunção diz respeito aos fatos e causa a
inversão do ônus da prova dos fatos alegados no ato administrativo, como exemplo
podemos citar a multa de trânsito, uma vez que o particular deve comprovar que não
cometeu tal infração.
Nesse sentido, a presunção de veracidade gera algumas consequências:

a) Enquanto não for decretada a invalidade do ato pela própria Administração ou pelo
Judiciário, ele produzirá efeitos da mesma forma que o ato válido, devendo ser
cumprido, ressalvada as hipóteses de ato manifestamente ilegal.

b) Ocorre a inversão do ônus da prova, conforme já mencionamos.

c) O Judiciário não pode apreciar ex officio a validade do ato. Assim, deve haver
pedido da pessoa interessada para que seja decretada a nulidade do ato, conforme
ensina Di Pietro.

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Já a presunção de legitimidade diz respeito à conformidade do ato com a lei.
Assim, presumem-se, até prova em contrário, que os atos administrativos foram
produzidos com observância da lei. É uma presunção jurídica, que também pode ser
elidida mediante comprovação do interessado.
Diferentemente da presunção de veracidade, na presunção de legitimidade o
atributo não se refere aos fatos, mas sim à adequação da conduta com a norma jurídica
posta. Assim, tais atos produzirão efeitos regularmente, desde a sua publicação, até que
haja demonstração de que se configura ato ilícito.

5.2. Autoexecutoriedade

Pelo atributo da autoexecutoriedade, os atos administrativos podem ser postos em


execução pela própria Administração Pública, sem a necessidade de intervenção do
Poder Judiciário.
Entretanto, a autoexecutoriedade não está presente em todos os atos
administrativos. Ela só é possível nas seguintes situações:

a) Quando expressamente prevista em lei. Em matérias de contratos, por exemplo, a


Administração prevê algumas medidas autoexecutórias, como a retenção da
caução, a utilização dos equipamentos e instalações do contratado para dar
continuidade à execução do contrato etc.

b) Diante de determina situação de urgência que, caso não adotada de imediato,


possa causar prejuízo maior para o interesse público. Podemos citar, por exemplo,
a demolição de prédio que ameaça ruir, o internamento de pessoa com doença
contagiosa, a dissolução de reunião que ponha em risco a segurança de pessoas e
coisas etc.

Para fins de prova, impende mencionar também que, para alguns autores, a
autoexecutoriedade se desdobra em dois atributos: a exigibilidade, que ocorre quando a
Administração utiliza meios indiretos de coerção, a exemplo da multa e de outras
penalidades administrativas impostas em caso de descumprimento ato; e na
executoriedade, que ocorre quando a Administração emprega meios diretos de
coerção, compelindo materialmente o administrado a fazer alguma coisa, utilizando-se
inclusive da força. Desse modo:

Exigibilidade Meios indiretos

Executoriedade Meios diretos

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Por fim, temos que esclarecer que a autoexecutoriedade realizada pela
Administração não afasta o controle judicial a posteriori. Assim, a pessoa que se sentir
prejudicada pode provocar ao Poder Judiciário para impedir a execução do ato
administrativo.

5.3. Tipicidade

Esse atributo é descrito pela autora Maria Sylvia Zanella Di Pietro. Trata-se da
exigência de que todo ato administrativo esteja previsto em lei, ou seja, deve
corresponder a um tipo legal previamente definido.
Tal atributo decorre do princípio da legalidade, pois a Administração só pode agir
quando houver lei determinando ou autorizando a prática do ato. Ademais, a autora
menciona que a tipicidade só existe em relação aos atos unilaterais, pois nos atos
bilaterais (como os contratos de locação) não existe imposição de vontade da
Administração, que dependa de aceitação do particular. Assim, nos contratos, nada
impede que as partes convencionem um contrato inominado, desde que atenda melhor ao
interesse público e ao do particular.

5.4. Imperatividade

Pelo atributo da imperatividade os atos administrativos impõem obrigações a


terceiros, independentemente de sua concordância. Trata-se de um poder conferido a
Administração Pública de, unilateralmente, estabelecer uma obrigação ao particular,
dentro dos limites da lei.
Tal atributo está presente somente nos atos administrativos que dispõem acerca de
obrigações e deveres ao particular. Ademais, em decorrência da presunção de
legitimidade, o atributo da imperatividade estará presente mesmo diante de atos
reputados como inválidos pelo particular, enquanto não seja declarada a ilegalidade do
ato praticado.
Para alguns doutrinadores, o atributo da imperatividade é designado como poder
extroverso, que permite ao Poder Público constituir obrigações unilateralmente. Como
exemplo, cita-se o ato imperativo que impõe a obrigação de não fazer, como a proibição
de estacionar em determinada via pública, exposto por meio de uma sinalização de
trânsito, ou uma obrigação de fazer como uma notificação expedida, nos moldes da lei,
para que o particular dê função social a sua propriedade, por meio de parcelamento do
terreno ou edificação.
Atenção: O atributo da imperatividade inexiste nos atos que conferem direitos
solicitados pelo administrado, como licenças, autorizações, permissões ou admissões, e
em atos apenas enunciativos, como certidões e atestados.

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6. FASES DE CONSTITUIÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO

Para que o ato administrativo produza efeitos no mundo jurídico, faz-se necessário
que ele ultrapasse algumas fases indispensáveis à sua formação e atuação. São elas:
perfeição, validade e eficácia. Para melhor entendimento, estudaremos cada uma delas
de forma isolada.

6.1. Perfeição

A perfeição ou existência do ato administrativo refere-se ao cumprimento das


etapas necessárias à formação do ato. Assim, o ato administrativo será considerado
perfeito quando cumprir todos os trâmites previstos em lei para a sua constituição, ou
seja, quando o ato completar o seu ciclo de formação, tendo sido esgotadas todas as
etapas do seu processo constitutivo.
Ademais, cabe ressaltar que o ato administrativo perfeito não é retratável. No
entanto, ele poderá ser revisado e anulado em face do princípio administrativo da
autotutela, conforme dispõe as súmulas 346 e 473 do Supremo Tribunal Federal:

Súmula 346 do STF: A Administração Pública pode declarar a


nulidade dos seus próprios atos.

Súmula 473 do STF: A administração pode anular seus próprios


atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles
não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência
ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em
todos os casos, a apreciação judicial.

Já o ato imperfeito é aquele que ainda está em formação, ou seja, suas etapas
ainda não foram concluídas, o que impede que ele exista no mundo jurídico.

6.2. Validade

A validade ou regularidade do ato administrativo diz respeito a realização de todas


as etapas do ato de acordo com a lei, ou seja, o ato válido é aquele que foi criado de
acordo com as regras previamente estabelecidas na legislação. Assim, a validade é a
compatibilidade entre o ato jurídico (administrativo) e o disposto na norma legal.
Por fim, cabe ressaltar que para a validade do ato ser auferida, ele precisa ao
menos existir (ser perfeito, conforme explicamos acima). Portanto, trata-se de análise em
segundo plano dos atos administrativos.

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6.3. Eficácia

A eficácia do ato administrativo refere-se a sua aptidão para a produção de efeitos.


Assim, os atos podem ter eficácia imediata, logo após a sua publicação, ou podem ter
sido editados com previsão de termos iniciais ou condições suspensivas, sendo
considerados como atos ineficazes, enquanto a situação de pendência não for resolvida.
Como exemplo de um ato editado que já é perfeito e válido, mas ainda ineficaz, é a
autorização de bem público para a realização de uma cerimônia de casamento na praia,
pois o ato só produzirá efeitos na data em que for realizada a cerimônia.
Desse modo, os atos perfeitos e válidos, mas que ainda não estão aptos a produzir
efeitos, são designados como atos administrativos pendentes.

7. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

Inúmeras são as formas de classificar os atos administrativos. Neste tópico, iremos


tratar daquelas consideradas mais relevantes, de acordo com a doutrina pátria.

7.1. Grau de liberdade

Quanto ao grau de liberdade, os atos se dividem em vinculados e


discricionários. Esta classificação já foi abordada anteriormente em nossos estudos,
assim iremos mencioná-la brevemente apenas para relembrarmos.
Os atos vinculados são aqueles definidos em lei que não confere ao agente
público qualquer margem de escolha, pois a lei determinou um único comportamento a
ser obrigatoriamente adotado. Assim, se fores preenchidos os requisitos definidos na
noma aplicável, o agente público terá o dever de praticar o ato, não podendo se eximir de
sua responsabilidade.
Já os atos discricionários são aqueles que ocorrem quando a lei confere uma
margem de liberdade para o agente público. Nos atos discricionários, há margem para
que o agente utilize critérios de conveniência a oportunidade acerca da valoração motivo
e da escolha do objeto.

7.2. Formação

Quanto à formação de vontade, os atos administrativos podem ser divididos em


simples, complexo e compostos.
O ato simples decorre da manifestação de vontade de um único órgão, ainda que
se trate de órgão colegiado. Assim, a vontade para a formação do ato deve ser unitária,
independente do número de agentes que participam do ato.
Já o ato composto é aquele que depende de uma manifestação de vontade
principal (ato principal) e uma manifestação de vontade acessória (ou instrumental).
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Geralmente, os atos administrativos compostos são produzidos pela manifestação de
vontade de um único órgão, mas depende de outro ato que o aprove para produzir efeitos
jurídicos. Assim, deve o segundo ato seguir a sorte do primeiro.
Como exemplo de atos compostos, podemos citar os atos administrativos que
dependem de visto ou homologação, como nos casos de dispensa de licitação em
determinadas hipóteses.
O ato complexo, por sua vez, é formado pela conjugação de vontade de dois ou
mais diferentes órgãos ou autoridades, em mesmo nível hierárquico. Nos atos complexos
a vontade dos órgãos se funde para formar um único ato. O autor Matheus Carvalho cita
como exemplo de ato complexo a nomeação de Procurador da Fazenda Nacional, pois o
Advogado Geral da União e o Ministro da Fazenda manifestam vontade, por meio de uma
edição de portaria conjunta. As vontades manifestadas são absolutamente
independentes, mas se unem para formar um único ato.
Atenção! Para bem elucidar a diferença dos atos compostos e complexos: No
ato composto teremos dois atos: o principal e o acessório, sendo que uma das condutas é
meramente ratificadora em relação à outra. Já nos atos complexos, teremos um único ato,
mas a manifestação de vontade de dois ou mais órgãos independentes.
Por fim, para fins de provas e concursos públicos, temos que elucidar o
entendimento majoritário da doutrina e da jurisprudência acerca do ato de aposentadoria
do servidor público. É majoritário o entendimento de que tal ato se configura um ato
complexo, pois depende da atuação do órgão a que o agente é subordinado e da
aprovação do Tribunal de Contas (a vontade do Tribunal de Contas é independente da
primeira, sem subordinação ou hierarquia).
De acordo com esse entendimento, a não aprovação pelo Tribunal da Contas do
ato de aposentadoria não é considerado novo ato, mas sim impedimento da perfeição do
ato de aposentadoria, não dependendo sequer de garantia ao contraditório. É o que
dispõe a súmula vinculante nº 3:

Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se


o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar
anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o
interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de
concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.

No entanto, cumpre salientar que o entendimento jurisprudencial e doutrinário é


firme no sentido de que a inércia do Tribunal de Contas por mais de 5 anos enseja a
aprovação tácita da aposentadoria. Dessa forma, a anulação deste ato posterior depende
de processo com prévio contraditório.

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7.3. Destinatários

Quanto aos destinatários, os atos podem ser gerais ou individuais.


Os atos gerais ou normativos são aqueles que não possuem destinatários
determinados, ou seja, referem-se a uma quantidade indeterminada de pessoas, com
caráter abstrato e impessoal. Assim, os atos apresentam situações genéricas de
aplicação e alcançará todos os sujeitos que nelas se enquadrarem. Ademais, cabe
ressaltar que os atos gerais dependem de publicação para que estejam aptos a produzir
efeitos e prevalecerem sobre as condutas individuais, definindo padrões de
comportamentos a serem observados pelos administradores públicos.
Por sua vez, os atos individuais se referem a determinados indivíduos,
especificados no próprio ato, ou seja, se dirigem a destinatários certos e determináveis.
Ressalta-se que os atos individuais até podem se referir a vários indivíduos, mas todos
eles estarão explicitados no ato administrativo, a exemplo da nomeação de candidatos
para a assunção determinado cargo público.

7.4. Objeto

Quanto ao objeto, os atos administrativos podem ser atos de império, de


expediente ou atos de gestão.
Os atos de império são aqueles praticados com todas as prerrogativas e privilégio
de autoridade e impostos de maneira unilateral e coercitivamente ao particular. Ou seja, a
Administração atua com prerrogativa de Poder Público, valendo-se da supremacia do
interesse público sobre o interesse privado. Nos atos de império, a poder público impõe
obrigações, aplica penalidades, sem a necessidade de determinação judicial. Nesse
sentido, os atos decorrentes do exercício de poder de polícia são exemplos de atos de
império.
Por sua vez, os atos de gestão são aqueles executados pelo Poder Público sem as
prerrogativas de Estado. Dessa forma, a Administração atua em situação de igualdade
com o particular. Em tais casos, a atividade é regida pelo direito privado, a exemplo da
alienação de um imóvel público inservível, o aluguel de automóveis e equipamentos, a
doação, etc.
Já os atos de expediente são aqueles praticados como forma de dar andamento à
atividade administrativa, sem configurar uma manifestação de vontade do Estado. Tratam-
se de atos internos e se caracterizam pela ausência de conteúdo decisório e pelo trâmite
rotineiro de atividades realizadas nas entidades e órgãos públicos. Como exemplo de ato
de expediente cita-se o despacho que encaminha um processo administrativo para
julgamento.

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7.5. Estrutura

Quanto à estrutura, os atos podem ser concretos ou abstratos.


Os atos concretos são aqueles praticados com a finalidade de resolver uma
situação específica, exaurindo seus efeitos em uma única aplicação, a exemplo da
aplicação de uma multa de trânsito ou na aplicação de uma penalidade de demissão a um
servidor faltoso.
Por sua vez, os atos abstratos são aqueles que definem uma regra genérica que
deverá ser aplicada sempre que a situação descrita no ato ocorrer de fato. Assim, a
conduta estatal tem efeito permanente e deve ser aplicada sempre que seja produzida
uma hipótese fática nela prevista, ensejando efeitos de caráter genérico a um número
indeterminado de destinatários, a exemplo da expedição de uma circular que define o
horário de funcionamento de uma repartição pública, ou o decreto que proíbe o
estacionamento em determinada via pública.

7.6. Efeitos

Quanto aos efeitos, os atos se dividem em constitutivos, declaratórios e


enunciativos.
Os atos constitutivos são aqueles que criam, modificam ou extinguem um direito
ou uma situação do administrado, a exemplo da autorização, dispensa, aplicação de
penalidade etc.
Já os atos declaratórios são aqueles em que a Administração apenas reconhece
um direito preexistente. Assim, os atos declaratórios têm efeitos retroativos, pois não
constituem situações, mas tão somente as apresentam. Como exemplo, podemos citar a
admissão, a licença, a homologação, a isenção e a anulação.
Por fim, temos os atos enunciativos é que são aqueles em que a Administração
apenas atesta ou reconhece determinada situação de fato ou de direito. Contudo, alguns
autores atestam que tais atos não são atos administrativos propriamente ditos, pois eles
não produzem efeitos jurídicos. Assim, os atos enunciativos exigem a prática de outro ato
administrativo, constitutivo ou declaratório, para que possam produzir efeitos. Podemos
citar como exemplo dos atos enunciativos as certidões, atestados, informações e
pareceres.

7.7. Resultados

Quantos aos resultados na esfera jurídica, os atos podem ser ampliativos ou


restritivos.
Os atos ampliativos são aqueles que atribuem direitos e vantagens aos seus
destinatários, a exemplo de uma permissão de uso de bem público ou uma licença para a
reforma de determinado imóvel privado.

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Já os atos restritivos são aqueles que impõem obrigações ou aplicam
penalidades aos destinatários, dentro dos limites previstos em lei. Como exemplo,
podemos citar a multa de trânsito ou uma norma geral que impede que se fume em
ambientes fechados.

7.8. Alcance

Por fim, quanto ao alcance, os atos podem ser internos ou externos.


Os atos internos são aqueles que produzem efeitos dentro da estrutura da
Administração Pública, alcançando órgãos e agentes. São ato que estabelecem normas
que obrigam os agentes públicos e órgãos, não atingindo pessoas estranhas à
organização administrativa interna.
Cabe ressaltar que os atos internos, em regra, não têm o condão de gerar direito
adquiridos. Ademais, eles podem ser revogados, a qualquer tempo. Os atos internos
também não dependem de publicação oficial. Como exemplo, podemos citar uma circular
que exige que os servidores de um órgão utilizem fardas, ou a expedição de uma ordem
de serviço interna.
Já os atos externos são aqueles que alcançam todos os administrados, estranhos
à estrutura da Administração Pública. Por essa razão, tais atos dependem de publicação
em órgão oficial para conhecimento de toda a sociedade atingida pelas regras nele
definidas. Como exemplo, cita-se o decreto que define o limite máximo de velocidade para
transitar em determinada avenida.

8. ESPÉCIES DE ATOS ADMINISTRATIVOS

8.1. Atos normativos

Os atos normativos são atos gerais e abstratos que geram obrigações a uma
quantidade indeterminada de pessoas, dentro dos limites previstos em lei. O ato abstrato
aplica-se a uma situação hipótese e o ato geral é aquele que têm destinatários
indeterminados. Ademais, os atos normativos não podem inovar no ordenamento jurídico
e se tratam se atos decorrentes do poder normativo, editados para fiel execução das leis.
Iremos analisar, separadamente, as espécies de atos normativos.

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Atos normativos

Regulamentos

Aviso

Instrução normativa

Regimento

Deliberações

Resoluções

8.1.1. Regulamento

Refere-se ao ato normativo privativo do chefe do Poder Executivo, que é


apresentado por meio de decreto, conforme dispõe o art. 84, IV da Constituição Federal.
Cabe ressaltar que a doutrina divide os regulamentos (ou decretos regulamentares) em
duas espécies:

a) Regulamentos executivos: Refere-se a ato administrativo que não tem a


intenção de inovar no ordenamento jurídico, sendo editados para a fiel
execução da lei. Assim, os regulamentos executivos devem ser praticados
como complementação do texto legal, pois, caso inovem no ordenamento
jurídico, haverá violação ao princípio da legalidade.

b) Regulamentos autônomos: Os regulamentos autônomos têm o condão de


inovar no ordenamento jurídico. Eles determinam normas sobre matérias não
disciplinadas na legislação. Assim, os regulamentos autônomos podem ser
considerados como substitutos da lei, pois são editados sem contemplar
qualquer previsão legal anterior.

Conforme entendimento majoritário da doutrina e da jurisprudência, só são


admissíveis duas espécies de regulamentos autônomos no ordenamento jurídico pátrio,
quais sejam as duas situações previstas no Art. 84, VI da Constituição Federal:

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:


VI - dispor, mediante decreto, sobre
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não
implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos
públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;

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Dessa forma, os regulamentos autônomos podem ser editados pelo chefe do Poder
Executivo (pelo princípio da simetria) para determinar a extinção de cargo público vago e
tratar da organização administrativa, desde que não implique em aumento de despesas e
não crie órgãos públicos. Ademais, os decretos autônomos são exceções a regra geral de
que o chefe do Poder Executivo edita decretos para fiel execução da lei, sem o caráter de
inovação da ordem jurídica.

8.1.2. Aviso

Refere-se ao ato normativo utilizado para dar conhecimento de determinada


atividade fim de um órgão. É expedido pelos órgãos auxiliares direitos do Poder
Executivo, como Ministérios e Secretárias estaduais e municipais. Cabe ressaltar que
alguns doutrinadores consideram que o aviso se trata de ato ordinatório.
8.1.3. Instrução Normativa
São atos expedidos por quaisquer autoridades públicas ou órgãos públicos, que
tenham atribuição legal para a execução de decretos e regulamentos. Como exemplo,
cita-se a instrução normativa expedida pela Secretaria da Receita Federal do Brasil para o
estabelecimento de normas referentes às suas atividades.

8.1.4. Regimentos

Trata-se de ato normativo expedido para definição de normas internas, ou seja,


estabelece regras que devem ser obedecidas para o regular funcionamento de órgãos
colegiado. Assim, vinculam somente a estrutura organizacional da entidade responsável
por sua edição.

8.1.5. Deliberações

São atos normativos expedidos pelos órgãos colegiados, como representação de


vontade da maioria dos agentes que o representam.

8.1.6. Resoluções

São atos normativos expedidos por órgão colegiados e utilizados pelos Poderes
Legislativo e Judiciário e pelas Agências Reguladores, para disciplinar matéria de sua
competência específica.

8.2. Atos Ordinatórios

Os atos ordinatórios são atos administrativos internos e se destinam a estabelecer


normas de conduta para os agentes públicos, ensejando a manifestação do Poder

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Hierárquico da Administração, sem atingir terceiros, alheios à estrutura do Estado. Iremos
analisar, separadamente, as espécies de atos ordinatórios.

Atos ordinatórios

Portaria

Circular

Ordem ser serviço

Despacho

Memorando

Ofício

8.2.1. Portaria

É ato administrativo individual que estipula ordens e determinações internas, além


de estabelecer normas que geram direitos ou obrigações internas a indivíduos
específicos.

8.2.2. Circular

Trata-se do instrumento de que se valem as autoridades para transmitir ordens


internas uniformes aos seus subordinados. As circulares não definem atividade individual,
mas sim regras gerais, como exemplo, cita-se a definição de horário de funcionamento da
repartição pública, bem como a utilização de farda pelos servidores lotados em
determinados órgãos.

8.2.3. Ordem de serviço

É uma conduta estatal que tem a finalidade de distribuir e ordenar o serviço interno
de órgão. Exemplo: o ato determina que o setor X, composto pelos servidores Y e Z,
ficará responsável pela execução da atividade W.

8.2.4. Despacho

Trata-se de ato administração que contém decisão das autoridades administrativas


sobre assuntos de interesse individual ou coletivo submetido à sua apreciação. Ou seja,
as autoridades públicas proferem decisões sobre determinadas situações específicas, de
sua responsabilidade funcional, sejam decisões finais ou interlocutórias.

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8.2.5. Memorando

Trata-se de ato de comunicação interna, ou seja, entre agentes de um mesmo


órgão público, com a finalidade de melhor executar a atividade pública. Assim, são feitos
por setores de uma mesma estrutura orgânica.

8.2.6. Ofício

Trata-se do ato emanado para garantir a comunicação entre autoridades públicas


ou entre estas e particulares, destinados à comunicação externa.

8.3. Atos negociais

São atos por meio dos quais a Administração concede direitos pleiteados por
particulares, ou seja, são outorgados pelo Estado em virtude de requerimento
regularmente formulado por um cidadão. Assim, nos atos negociais, a manifestação de
vontade do Estado coincide com o interesse particular, uma vez que, na verdade, tal
manifestação decorre do requerimento pelo sujeito interessado.
Cabe ressaltar que os atos negociais não se tratam de contratos administrativos,
pois emanam vontade unilateral do poder público. Além disso, os atos negociais não
gozam de imperatividade e autoexecutoriedade, pois não estabelecem obrigações, mas
sim garantem a concessão de determinado benefício, dentro dos limites da lei.
Iremos analisar, separadamente, as espécies de atos negociais. Esse assunto
merece muita atenção, pois é de grande cobrança em provas de concursos
públicos.

Atos negociais

Autorização

Permissão

Licença

Admissão

Aprovação

Homologação

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8.3.1. Autorização

Trata-se de ato administrativo unilateral, discricionário e precário, pelo qual a


Administração Pública autoriza o uso de bem público por um particular de forma anormal
ou normativa, no interesse eminentemente do beneficiário e também e ato discricionário e
precário por meio do qual o Poder Público concede ao particular o exercício de
determinadas atividades materiais que dependem de fiscalização, a exemplo da
autorização de porte de arma ou autorização para o funcionamento de uma escola
privada.

Assim, existem duas espécies de autorização:

Espécies de autorização

Autorização de uso de bem público

Autorização de Polícia

Iremos analisá-las, separadamente:

a) Autorização de uso de bem público: Ocorre quando o Estado faculta ao


particular o uso privativo de bem público, a título precário. Trata-se de
autorização para uso anormal e privativo de determinado bem público, a
exemplo da colocação de uma mesa no passeio público ou realização de uma
festa de casamento na praia.

b) Autorização de Polícia: É o ato necessário para que o particular possa exercer


atividades fiscalizadas pelo Estado, em razão da sua relevância social ou o
perigo que pode ensejar à coletividade. Por exemplo, depende de autorização
pública a concessão de porte de arma, como já mencionado.

Por fim, cabe lembrar que ambas as situações de autorizações descritas são atos
discricionários e precários. Assim, elas podem ser desfeitas, a qualquer tempo, sem que
isso gere direito à indenização. Ademais, tais autorizações não geram direito adquirido ao
particular beneficiário.
Entretanto, no que tange ao aspecto da discricionariedade, há uma exceção prevista
na lei 9.472/97, que dispõe que a autorização para exploração de serviço de
telecomunicações no regime privado será vinculada:

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Art. 131, § 1° Autorização de serviço de telecomunicações é o ato
administrativo vinculado que faculta a exploração, no regime privado, de
modalidade de serviço de telecomunicações, quando preenchidas as
condições objetivas e subjetivas necessárias. (grifos nossos)

Assim, é preciso lembrar: em regra a autorização é ato administrativo discricionário.


A única exceção refere-se à autorização para serviço de telecomunicações, que será um
ato administrativo vinculado. Tal assunto já foi objeto de cobrança pela Banca CESPE
para cargo de nível médio, veja:

(CESPE/2013) Em serviços de telecomunicações, a administração concede autorização de natureza


vinculada, que constitui exceção ao caráter discricionário das demais autorizações que ela normalmente
expede. (CORRETA)

8.3.2. Permissão

Trata-se de ato administrativo unilateral, discricionário e precário, gratuito ou


oneroso, pelo qual a Administração concede ao particular o uso de determinado bem
público, de forma anormal ou privada.

Atenção: Não confunda autorização com permissão. Vamos as diferenças:

 Para a doutrina mais tradicional, a autorização trata-se de ato adequado para o uso
de bem público em situações mais transitórias, já a permissão tem um caráter mais
permanente ou duradouro do que a autorização, sendo utilizada, por exemplo, em
uma situação de uma banca de revisas a ser colocada em determinada calçada, ou
uma feira de artesanato a ser realizada em praça pública.

 Para a doutrina mais moderna, a autorização de uso é concedida no interesse


particular, ao passo que a permissão é sempre concedida no interesse público.
Ademais, a permissão de uso, embora seja discricionária, deve ser precedida de
licitação.

Por fim, impende mencionar que a permissão é concedida por prazo determinado,
em razão disso nota-se uma mitigação na precariedade, pois o Poder Público não pode
revogar este ato sem a devida indenização ao particular beneficiado.

8.3.3. Licença

Trata-se de ato de polícia, unilateral e vinculado, pelo qual a Administração


faculta àquele que preencha os requisitos legais o exercício de uma atividade. Logo, por
se tratar de ato vinculado, caso o particular preencha os requisitos legais, adquire o direito
subjetivo à concessão da licença. Exemplo típico desse ato administrativo é a licença para
reformar e a licença para o exercício de determinada atividade profissional.
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Para fins de prova, é necessário saber diferenciar a licença da autorização.
Atenção para não confundir esses dois atos:

Licença Autorização

Unilateral Unilateral

Vinculado Discricionário

Envolve Envolve
direitos interesses

Ato Ato
declaratório constitutivo

8.3.4. Admissão

Trata-se de ato administrativo unilateral e vinculado pelo qual o Poder Público


permite que o particular usufrua determinado serviço público prestado pelo Estado,
mediante a inclusão em um estabelecimento público.
É um ato vinculado, pois os requisitos para outorga da prestação administrativa são
previamente definidos, assim, caso o particular cumpra os requisitos objetivamente
definidos em lei, fará jus ao ato. Como exemplo, cita-se o ato de admissão em escola
pública municipal ou em hospitais públicos.

8.3.5. Aprovação

Trata-se de ato administrativo unilateral e discricionário pelo qual se exerce o


controle a priori ou a posteriori do ato administrativo. Ou seja, oor meio da aprovação o
poder público faz o controle de legalidade e de mérito de conduta anterior expedida pelo
órgão estatal. Desse modo, o ato administrativo que dependa de aprovação não será
eficaz enquanto ela não for expedida.
O ato é discricionário pois examina o ato sob os aspectos de conveniência e
oportunidade para o interesse público, por esta razão constitui uma condição de eficácia
do ato.

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8.3.6. Homologação

Trata-se de ato administrativo unilateral e vinculado pelo qual se faz o controle de


legalidade de ato anterior expedido pela própria Administração Pública. A homologação
diferencia-se da aprovação, pois não há controle de mérito da atuação estatal. Ademais, a
homologação será sempre editada posteriormente ao ato controlado. Podemos citar como
exemplo o ato administrativo que homologa o procedimento de licitação, conforme
previsto no art. 43, VI da Lei 8.666/93.

Art. 43,VI - deliberação da autoridade competente quanto à homologação e


adjudicação do objeto da licitação.

Por fim, encerramos os estudos acerca dos atos negociais. Para não haver
confusão, presta atenção nesta dica para lembrar quais são os atos que são
discricionários: Os atos discricionários possuem a letra R (aprovação, permissão,
autorização), já os atos vinculados não possuem (admissão, licença, homologação).

Atenção: Como este assunto é cobrado em prova?

1. (TJSC/2013) São atributos de todo ato administrativo: a presunção de legitimidade, que diz respeito
à conformidade do ato com a lei; a imperatividade, pelo qual os atos administrativos se impõem a
terceiros; e a autoexecutoriedade, pelo qual o ato administrativo pode ser posto em execução pela
própria Administração Pública. (ERRADA)

2. (TJSC/2013) Licença é o ato administrativo unilateral e vinculado pelo qual a Administração Pública
faculta ao particular a execução de serviço público ou a utilização privativa de bem público.
(ERRADA)

3. (TJ-DFT/2007) A licença é ato vinculado unilateral em que a Administração faculta o exercício de


uma atividade a alguém, desde que preenchidos os requisitos legais pelo interessado. (CORRETA)

4. (FCC/DPE-SP/2018) Autorização é ato administrativo declaratório e vinculado e, dessa forma, uma


vez adimplidas as condições legais, deverá a Administração outorgá-la, não podendo, por conta de
sua natureza jurídica, revogá-la posteriormente. (ERRADA)

5. (CESPE/TJ-AM/2019) A homologação é ato administrativo unilateral e vinculado, praticado a


posteriori, pelo qual a administração pública reconhece a legalidade de um ato jurídico, tal como
ocorre na homologação de procedimento licitatório. (CERTO)

O enunciado 1 está incorreto, pois, conforme estudamos, os atributos da


imperatividade e da autoexecutoriedade não estão presentes nos atos negociais, pois
estes concedem direitos pleiteados pelo particular. Assim, o enunciado está incorreto por
mencionar que todos os atos administrativos têm esses atributos.
Já o enunciado 2 está incorreto na segunda parte. A licença é ato administrativo
vinculado e unilateral, mas é ato por meio do qual a Administração faculta ao particular
que preencha os requisitos legais o exercício de uma atividade e não a execução de
serviço público ou a utilização privativa de bem público, como consta no enunciado.
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Por fim, o enunciado 4 está errado pois a autorização é ato constitutivo e
discricionário, tem caráter de precariedade e pode ser revogado, a qualquer tempo.

8.4. Atos enunciativos

Os atos enunciativos estabelecem opiniões e conclusões do ente estatal, como,


por exemplo, os pareceres. São também considerados atos enunciativos aqueles que
verificam e atestam determinadas situações de fato ocorridas e que afetam a atuação
estatal.
Iremos analisar, separadamente, as espécies de atos enunciativos. Mas, para
lembrá-los, você pode gravar a palavra: C-A-P-A.

Atos enunciativos

Certidão

Apostila ou averbação

Parecer

Atestado

8.4.1. Certidão

É o ato por meio do qual a Administração Pública certifica um determinado fato que
já se encontra previamente registrado no órgão. Ou seja, por meio da certidão, a
Administração “atesta” um fato previamente escrito em documento público. Assim, é por
meio da certidão que o Poder Público exterioriza uma situação que está registrada, de
modo a torná-la pública.

8.4.2. Apostila ou averbação

Trata-se de ato administrativo pelo qual a Administração acrescenta informações


constantes em um registro público. Ou seja, apostilar diz respeito a acrescentar algo ao
registro, incluir informações que faltavam e deixava incompleto o registro ou alterá-lo,
caso haja descrição que não corresponda à realidade.
O particular solicita a averbação quando houver a necessidade de constar
informações relevantes no registro público, a exemplo da averbação do tempo de serviço,

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para fins de aposentadoria, na esfera privada, junto ao órgão público com a posse em
cargo público.

8.4.3 Parecer

Trata-se de ato administrativo que serve para emitir opinião de órgão consultivo do
Poder Público, sobre assunto de sua competência.
Impende mencionar que o parecer pode ser facultativo, nas situações em que não
há a obrigatoriedade de sua emissão para a prática regular do ato administrativo.
Contudo, será obrigatório nas hipóteses em que a apresentação do ato opinativo é
indispensável à regularidade do ato. Nesse caso, a ausência do parecer obrigatório
ensejará a nulidade do ato administrativo por vício de forma.
O parecer, mesmo quando obrigatório, não tem natureza vinculante, salvo
disposições legais expressas em lei. Ou seja, a conclusão do parecer não obriga a
autoridade à qual ele se dirige.
Em relação a responsabilidade do emissor do parecer, a doutrina majoritária
entende que somente haverá responsabilidade quando o emissor tiver atuado de forma
dolosa ou com erro grosseiro ao emanar o ato de opinião. Tal entendimento decorre do
fato de que a opinião do agente se exterioriza a partir da emissão do respectivo parecer
jurídico, do qual, como regra, não vincula o administrador, pois este tem a
discricionaridade de seguir a opinião disposta no parecer ou não.

8.4.4. Atestado

Trata-se de ato que comprova a existência de uma situação analisada pelo Poder
Público, por meio de seus órgãos competentes. Ou seja, ocorre quando o Poder Público
tem de comprovar, mediante verificação de determinada situação de fato, para, então,
proferir um ato que ateste aquela ocorrência fática, a exemplo da perícia médica, que é
indispensável para se averiguar a situação de doença de um servidor e expedir um
atestado por junta médica.

8.5. Atos punitivos

Os atos punitivos são aqueles por meio dos quais o Poder Público determina a
aplicação de sanções, decorrentes de infrações administrativas cometidas por servidores
públicos ou particulares.
Os atos punitivos podem decorrer do Poder Disciplinar, aplicado àquelas situações
em que as pessoas se sujeitam a disciplina da Administração Pública, mas também pode
decorrer do Poder de Polícia repressivo, em decorrência da supremacia geral.
Ademais, os atos punitivos devem ser precedidos de processo administrativo
disciplinar, que garanta as garantias do contraditório e da ampla defesa, uma vez que são
atos que visam restringir a esfera jurídica dos particulares.
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São exemplo de atos punitivos: as multas aplicadas a um particular, alheio à
estrutura administrativa, pelo desrespeito às regras gerais de trânsito e as sanções
aplicadas aos agentes públicos, como suspensão ou demissão, decorrentes do
descumprimento de seus deveres funcionais.

9. EXTINÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

As hipóteses de extinção do ato administrativo configuram-se situações nas quais o


ato emanado é retirado do mundo jurídico e deixa de produzir efeitos regularmente. Para
alguns doutrinadores, a extinção se trata de forma de desfazimento do ato.
Iremos analisar todas as formas de extinção. Mas é importante ter em mente as
formas mais comuns e mais cobradas em provas: revogação, anulação e cassação.

9.1. Anulação ou invalidação

A anulação, também chamada de invalidação, é forma de extinção do ato


administrativo que decorre da dissonância desta conduta em relação às normas postas no
ordenamento jurídico, ou seja, ocorre em virtude da ilegalidade do ato administrativo.
Para entendermos a anulação, faz-se necessário o entendimento de que os atos
expedidos em desconformidade com a lei podem ser divididos em quatro espécies: atos
inexistentes, nulos, anuláveis e irregulares. Iremos analisá-los, separadamente:

a) Atos inexistentes: Os atos inexistentes caracterizam-se por estarem fora do


ordenamento jurídico, em virtude da violação de princípios básicos que norteiam a
atuação das pessoas entro de determinada sociedade. Os atos inexistentes não
podem, em nenhuma hipótese, ser convalidados e não serão ressalvados
nenhum de seus efeitos já produzidos, ainda que em relação aos destinatários de
boa-fé.

b) Atos nulos: A nulidade dos atos decorre do desrespeito à lei em alguns de seus
requisitos, o que enseja a impossibilidade de convalidação. Nos atos nulos poderão
ser ressalvados alguns efeitos produzidos em relação ao terceiro de boa-fé
(diferente do que ocorre com os atos inexistentes). A retirada dos atos nulos do
mundo jurídico produz efeitos ex tunc (retroagem), de modo a ensejar a retirada do
ato desde a sua origem.

c) Atos anuláveis: Os atos anuláveis, diferente do que ocorre com os atos nulos, são
aqueles que possuem vícios que admitem conserto, embora tenham sido
praticados com a inobservância da lei. Assim, os atos anuláveis podem ser
convalidados, por se tratar a ilegalidade presente no ato de vício sanável. Desse
modo, o ato produz efeitos regularmente.

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d) Atos irregulares: Os atos irregulares sofrem de vício material irrelevante,
mediante o desrespeito de normas internas e padronização, o que não enseja a
nulidade do ato, mas tão somente a responsabilização do agente público que o
praticou.

Feito o estudo dos aspectos básicos acerca dos atos expedidos em


desconformidade com a lei, iremos analisar a anulação como forma de retirada da
conduta administrativa.
O autor Matheus de Carvalho explica que a anulação é a retirada do ato
administrativo por motivo de ilegalidade. Assim, o ato é extinto por conter vício, em virtude
de sua expedição em desconformidade com o ordenamento jurídico.
Impede mencionar que a anulação opera efeitos ex tunc, ou seja, retroage à data de
origem do ato, retirando todos os efeitos produzidos, ressalvados os direitos adquiridos
por terceiros de boa-fé. A ressalva aos direitos adquiridos de boa-fé assegura a garantia
do princípio da segurança jurídica, assim, os alguns efeitos do ato nulo serão mantidos,
apesar de ter sido declarada a sua nulidade. Exemplo dessa situação ocorre quando a
nomeação de um servidor é nula, mas os atos praticados por ele são válidos, consoante
preconiza a Teoria da Aparência e em atenção ao princípio da segurança jurídica,
conforme mencionamos.
Cabe ressaltar ainda que a anulação poderá ser feita pela própria Administração, no
exercício da sua autotutela ou, ainda, pelo Poder Judiciário, desde que provocado por
particular interessado. Nesse sentido, a súmula 473 do STF trata do assunto:

Súmula nº 473: A Administração pode anular seus próprios atos,


quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se
originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em
todos os casos, a apreciação judicial.

O mesmo entendimento é previsto no art. 53 da Lei 9.784/99 que define o poder de


autotutela conferido à própria Administração para determinar a nulidade de seus atos
viciados:
Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de
vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que


decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos,
contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

o
§ 1 No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência
contar-se-á da percepção do primeiro pagamento.

o
§ 2 Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de
autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato.

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Ademais, de acordo com a Lei do Processo Administrativo, a Administração Pública
tem o prazo decadencial de 5 anos para anular atos administrativos, salvo nos casos
de má-fé do beneficiário.
Cabe ressaltar, outrossim, que a nulidade da conduta enseja a realização de
processo administrativo prévio, em que seja assegurado o contraditório e a ampla defesa,
sempre que puder interferir na esfera individual de particulares, conforme já se posicionou
o STF:

EMENTA: ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM


AGRAVO DE INSTRUMENTO. SÚMULA 473 DO STF.
NECESSIDADE DE PROCESSO ADMINISTRATIVO. ALEGADA
VIOLAÇÃO DO ART. 5º, LIV E LV DO STF. OFENSA REFLEXA.
AGRAVO IMPROVIDO: I – O entendimento da Corte é no sentido de
que, embora a Administração esteja autorizada a anular seus
próprios atos quando eivados de vícios que os tornem ilegais
(Súmula 473 do STF), não prescinde do processo administrativo,
com obediência aos princípios constitucionais da ampla defesa
e do contraditório. II – Como tem consignado o Tribunal, por meio
de remansosa jurisprudência, a alegada violação do art. 5º, LIV e LV,
da Constituição, pode configurar, em regra, situação de ofensa
reflexa ao texto constitucional, por demandar a análise de legislação
processual ordinária, o que inviabiliza o conhecimento do recurso
extraordinário. III – Agravo regimental improvido. Processo: AI
710085 SP Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI. Julgamento:
03/02/2009.

Contudo, caso a decisão pela anulação seja realizada pelo Poder Judiciário, a
Administração Pública, no cumprimento da ordem jurisdicional apresentada, pode agir
sem a necessidade de respeito a qualquer outro processo administrativo.

9.1.1. Convalidação

Em determinadas situações, é possível que a Administração corrija ato


administrativo cujo vício seja sanável (chamado de ato anulável).
Assim, a convalidação ocorre quando estamos diante de um vício de nulidade
relativa, ou seja, em que o vício é sanável, sendo possível a sua correção. Para que
ocorra a convalidação, deve ser possível a correção do vício do ato administrativo e deve
sempre atender ao interesse público. Ademais, o ato pode ser convalidado desde que não
cause prejuízos a terceiros.
A autora Maria Sylvia Zanella Di Pietro explica que a convalidação é o ato
administrativo pelo qual é suprido o vício existente em um ato ilegal, com efeitos
retroativos à data em que este foi praticado.

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Os atos que podem ser convalidados são os atos que possuem, como regra, vícios
de competência ou de forma, pois os vícios nesses elementos são sanáveis. Para não
esquecer:

Podem ser convalidados atos


que contenham vício nos
elementos: FOCO

FORMA

COMPETÊNCIA

Quanto à competência, cabe ressaltar que não se admite a convalidação de


competência exclusiva, pois nessa hipótese não pode haver delegação ou avocação.
No que tange a forma do ato, a convalidação é possível quando ela não for
essencial à validade do ato. Assim, se a lei estabelecia uma forma determinada, não há
como convalidar-se.
Ademais, cumpre esclarecer que a doutrina entende, majoritariamente, que a
convalidação deve ser praticada pela Administração sempre que possível, ou seja, não se
configura uma faculdade da Administração, mas sim um dever de sanar o vício. Contudo,
tal entendimento não se aplica aos atos discricionários eivados de vício de incompetência,
pois, nestes casos, a autoridade deve exercer uma margem de escolha acerca da
convalidação ou não do ato, a depender da sua própria apreciação discricionária.
Por fim, há que se falar de que a convalidação se divide em três espécies:

a) Ratificação: A convalidação é realizada pela mesma autoridade que praticou o


ato.

b) Confirmação: A convalidação é realizada por autoridade diversa.

c) Saneamento: Nos casos em que o particular é quem promove a sanatória do ato.

9.2. Revogação

Trata-se da extinção do ato administrativo válido por razões de oportunidade e


conveniência. Ocorre quando a Administração Pública não tem mais interesse da
manutenção do ato, ou seja, é ato discricionário e refere-se ao mérito administrativo.
Cabe ressaltar que na revogação o ato não possui nenhum vício que o macule
(caso haja vício, deve ser anulado ou convalidado, a depender de ser vício insanável ou
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sanável). Assim, na revogação, o ato é válido (legal) e será revogado por não mais existir
interesse na sua continuidade, por esta razão, a revogação opera efeitos ex nunc, ou
seja, não retroage, impedindo apenas a produção de efeitos futuros, sendo mantidos os
efeitos já produzidos.
Ademais, conforme já estudamos, o Poder Judiciário não pode revogar atos
administrativos, haja vista que o Judiciário não faz o controle de mérito do ato. Assim,
somente a Administração Pública pode revogar atos administrativos, a pedido ou de
ofício. Nesse sentido, dispõe o art. 64 da Lei 9.784/99:

Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá confirmar,


modificar, anular ou revogar, total ou parcialmente, a decisão recorrida, se a
matéria for de sua competência.

Na revogação não há prazo decadencial (como ocorre na anulação), haja vista o


entendimento de que o interesse público pode se modificar a qualquer tempo.
Como se trata de ato discricionário, a revogação deve ser feita nos limites permitidos
pela lei. Nesse sentido, não se admite a revogação de:

a) Atos consumados, pois já produziram todos os seus efeitos. Como exemplo, a


doutrina cita o ato de férias de um servidor público. Tal ato não pode ser revogado
após o gozo do respectivo período, haja vista o exaurimento dos seus efeitos.

b) Atos irrevogáveis, assim declarados por lei específica que regulamenta e prevê
sua edição.

c) Atos que geram direitos adquiridos, em decorrência da irretroatividade do ato


administrativo revogador.

d) Atos vinculados, pois os atos vinculados não admitem a análise de conveniência


e oportunidade. A ressalva ocorre nos atos de licença para construir que, no
entendimento da doutrina majoritária e da jurisprudência, admite revogação em
razão de interesse público superveniente, devidamente justificado, desde que
indenizado o particular prejudicado pelo ato de revogação.

e) Atos enunciativos, pois atestam situações de fato ou emitem mera opinião da


Administração, não ensejando a produção direta de efeitos a particulares.

f) Atos de controle, pois não são praticados no exercício da função administrativa


propriamente dita, não se configurando atos constitutivos de direitos ou obrigações,
somente incidindo na vigência de outros atos.

g) Atos complexos, pois para a edição desses atos faz-se necessário a soma de
mais de uma vontade administrativa. Assim, não é possível que a vontade de um
único agente retire este ato do mundo jurídico.
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Não podem ser revogados:

Atos consumados

Atos irrevogáveis

Atos que gerem


direitos adquiridos

Atos vinculados

Atos enunciativos

Atos de controle

Atos complexos

Para melhor entendimento, segue tabela comparativa entre a anulação e a revogação do


ato administrativo.

ANULAÇÃO REVOGAÇÃO

Desfazimento do ato por razões de Ato pelo qual a Administração Pública extingue
ilegalidade. um ato válido, por razões de conveniência e
oportunidade.

Efeitos ex tunc Efeitos ex nunc


(retroage) (não retroage)

A competência para anular é da própria Somente a própria Administração pode


Administração Pública ou do Poder revogar um ato administrativo, de ofício ou por
Judiciário, quando provocado. provocação.

Ato vinculado Ato discricionário

Prazo decadencial de 5 anos para anulação Não há prazo para a sua prática.

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9.3. Cassação

Ocorre quando o ato administrativo é extingo por ilegalidade superveniente em


face do descumprimento dos requisitos impostos para a sua expedição pelo beneficiário.
Ou seja, a cassação ocorre quando o beneficiado do ato deixa de cumprir os requisitos de
quando teve o ato deferido, assim, a extinção ocorre por culpa do destinatário.
Como exemplo, cita-se a hipótese de uma determinada pessoa que obteve licença
para o funcionamento de um hotel e, tempos mais tarde, modifica a finalidade do
empreendimento que a passa a ser um motel, sem a comunicação ou ciência do Poder
Público. Veja que o beneficiário descumpriu os requisitos do ato de concessão da licença,
o que enseja a cassação do ato administrativo.

9.4. Caducidade

É a extinção do ato administrativo por lei superveniente que impede a manutenção


do ato inicialmente válido. É uma ilegalidade superveniente, mas não por culpa do
particular, mas sim pela alteração da lei.

9.5. Contraposição (derrubada)

A contraposição ocorre em casos de atos diferentes de efeitos contrapostos. Ou


seja, um ato administrativo novo se contrapõe a um ato anterior extinguindo seus efeitos.
Assim, se fale em impossibilidade de manutenção do ato, por colidir com o ato novo que
trata da matéria. Como exemplo, cita-se a exoneração, que é ato contraposto ao ato de
nomeação.

Atenção! Vamos treinar os assuntos estudados no tópico 9.

1. (CESPE/TJ-AM/2019) Em razão do exercício da sua prerrogativa de autotutela, a administração


poderá revogar seus atos administrativos válidos, com efeitos ex tunc. (ERRADA)

2. (CESPE/TJ-AM/2019) São irrevogáveis os atos administrativos que, instituídos por lei, confiram
direito adquirido. (CERTA)

3. (CESPE/PC-SE/2018) A anulação de ato administrativo fundamenta-se na ilegalidade do ato,


enquanto a revogação funciona como uma espécie de sanção para aqueles que deixaram de
cumprir as condições determinadas pelo ato. (ERRADA)

4. (CESPE/TCE-PA/2016) A má-fé do destinatário, quando comprovada, afasta a incidência do prazo


decadencial conferido à administração para anular o ato administrativo. (CERTA)

5. (CESPE/TCE-PA/2016) A revogação aplica-se a atos praticados no exercício da competência


discricionária. (CERTA)

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O enunciado 1 está incorreto, pois a revogação opera efeitos ex nunc (não retroage).
Já o enunciado 3 está errado na parte final, pois a revogação é espécie de extinção de
ato administrativo válido, em razões de conveniência e oportunidade. A espécie de ato
administrativo que funciona como sanção para aqueles que deixaram de cumprir as
condições determinadas pelo ato diz respeito à cassação.

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10. QUESTÕES PARA TREINO
Para treinar e relembrar os itens estudados marque certo ou errado:
1. ( ) Comando ou posicionamento emitido oralmente por agente público, no exercício de função
administrativa e manifestando sua vontade, não pode ser considerado ato administrativo. (DPE-DF/2019)

2. ( ) No âmbito do direito administrativo, segundo a doutrina majoritária, a autoexecutoriedade dos atos


administrativos é caracterizada pela possibilidade de a administração pública executar suas decisões por
meios coercitivos próprios, sem a necessidade da interferência do Poder Judiciário. (TJ-SC/2019)

3. ( ) A administração pública poderá revogar atos administrativos que possuam vício que os torne
ilegais, ainda que o ato revogatório não tenha sido determinado pelo Poder Judiciário. (PGM-MS/2019)

4. ( ) Tanto a inexistência da matéria de fato quanto a sua inadequação jurídica podem configurar o vício
de motivo de um ato administrativo. (PRF/2019)

5. ( ) A cassação de um ato administrativo corresponde a extingui-lo por descumprimento dos requisitos


estabelecidos para a sua execução. (PC-SE/2018)

6. ( ) São exemplos de atos administrativos normativos os decretos, as resoluções e as circulares.


(STJ/2018)

7. ( ) Por ser um ato complexo, o reconhecimento da aposentadoria de servidor público se efetiva


somente após a aprovação do tribunal de contas. Por sua vez, a negativa da aposentadoria pela corte de
contas não observa o contraditório e a ampla defesa. (STJ/2018)

8. ( ) Uma diferença entre a revogação e a anulação de um ato administrativo é a de que a revogação é


medida privativa da administração, enquanto a anulação pode ser determinada pela administração ou pelo
Poder Judiciário, não sendo, nesse caso, necessária a provocação do interessado. (ABIN/2018)

9. ( ) Na classificação dos atos administrativos, um critério comum é a formação da vontade, segundo o


qual, o ato pode ser simples, complexo ou composto. O ato complexo se apresenta como a conjugação de
vontade de dois ou mais órgãos, que se juntam para formar um único ato com um só conteúdo e finalidade.
(ABIN/2018)

10. ( ) O ato praticado por agente não competente para fazê-lo poderá ser convalidado
discricionariamente pela autoridade competente para sua prática, caso em que ficará sanado o vício de
incompetência. (INSS/2016)

Gabarito:
1. E
2. C
3. E
4. C
5. C
6. E
7. C
8. E
9. C
10. C

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BIBLIOGRAFIA UTILIZADA
CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 3º edição, Editora Juspodivm,
2016.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 31º edição, Editora Forense,
2018.

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