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DIREITO PROCESSUAL PENAL

HABEAS CORPUS [Cite sua fonte aqui.]

1. NOÇÕES GERAIS

A liberdade de locomoção é um dos direitos mais sagrados do ser humano, direito este
que não pode sofrer quaisquer restrições e/ou limitações, senão as previstas em lei. Para
assegurar tal direito, de maneira célere e eficaz, a Constituição Federal outorga a qualquer
pessoa, nacional ou estrangeira, a garantia do habeas corpus.
No Título referente aos direitos e garantias fundamentais - Título II -, a Carta Magna
prevê que “conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado
de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de
poder” (CF, art. 5o, LXVIII). Em termos semelhantes, consta do CPP que “dar-se-á habeas
corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação
ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar” (art. 647).
Como se percebe, trata-se, o habeas corpus, de ação autônoma de impugnação, de
natureza constitucional, vocacionada à tutela da liberdade de locomoção. Logo, desde que
a violência ou coação ao direito subjetivo de ir, vir e ficar decorra de ilegalidade ou abuso
de poder, o writ of habeas corpus servirá como o instrumento constitucional idôneo a
proteger o ius libertatis do agente.

2. NATUREZA JURÍDICA

O Código de Processo Penal trata o habeas corpus como recurso.


É bem verdade que o habeas corpus, por vezes, funciona como verdadeiro instrumento
destinado à impugnação de decisões judiciais. É o que ocorre, por exemplo, quando o juiz
recebe uma denúncia contra determinada pessoa, a despeito da ausência de lastro
probatório suficiente para a instauração do processo. Nesse caso, diante da ausência de
justa causa para a deflagração da persecução penal em juízo, pode o acusado impetrar
ordem de habeas corpus, com fundamento no art. 648, inciso I, do CPP, objetivando-se o
trancamento do processo, hipótese em que o habeas corpus exercerá o papel de verdadeiro
recurso.

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No entanto, embora possa, vez por outra, ser utilizado como verdadeiro recurso, o
habeas corpus não tem essa natureza jurídica. São vários os motivos pelos quais se pode
afirmar, categoricamente, que o habeas corpus não é um recurso, a saber:
a) um recurso pressupõe a existência de um processo. Diversamente, o habeas corpus
pode ser impetrado independentemente da existência de processo penal em curso;
b) o recurso é um instrumento de impugnação de decisões judiciais; o habeas corpus
pode ser impetrado contra decisões judiciais e contra atos administrativos ou de
particulares;
c) o recurso funciona como instrumento de impugnação de decisões judiciais não
definitivas, ao passo que o habeas corpus pode ser utilizado inclusive após o trânsito em
julgado, objetivando a rescisão da coisa julgada, desde que ainda subsista constrangimento
ilegal à liberdade de locomoção;
d) dentre vários pressupostos de admissibilidade recursal, deve ser aferida a
tempestividade do recurso, sendo certo que, operada a preclusão temporal, tal impugnação
não poderá ser conhecida. Em sentido diverso, desde que subsista constrangimento ilegal
à liberdade de locomoção, o habeas corpus poderá ser utilizado a qualquer momento,
inclusive após o trânsito em julgado de sentença condenatória ou absolutória imprópria.
e) dentre vários pressupostos de admissibilidade recursal, deve ser aferida a
legitimidade do recurso, sendo certo que, interposto por parte ilegítima, tal impugnação não
poderá ser conhecida.
Por outro lado, embora sua finalidade seja beneficiar o paciente, ou seja, aquele que
sofre ou se acha ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção,
uma ordem de habeas corpus pode ser requerida por ele mesmo ou por qualquer do povo
(CPP, art. 654, caput).
Se o habeas corpus não é um recurso, no sentido técnico da expressão, qual é, então,
sua natureza jurídica? Doutrina e jurisprudência são uníssonas em afirmar que o habeas
corpus funciona como verdadeira ação autônoma de impugnação, de natureza
constitucional, vocacionada à tutela da liberdade de locomoção, que pode ser ajuizada por
qualquer pessoa.

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3. INTERESSE DE AGIR NA AÇÃO DE HABEAS CORPUS – O
CONSTRANGIMENTO ILEGAL

Para que o habeas corpus possa ser utilizado, o texto constitucional exige que alguém
sofra ou se ache ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção
em virtude de constrangimento ilegal.

Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência
de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de
punição disciplinar.

Essa ameaça de constrangimento ao ius libertatis que autoriza a impetração de habeas


corpus deve constituir-se objetivamente, de forma iminente e plausível. Logo, se não forem
apontados atos concretos que possam causar, direta ou indiretamente, perigo ou restrição
à liberdade de locomoção de um paciente, num caso concreto, mas apenas
hipoteticamente, será inviável a utilização do habeas corpus.
Para além da comprovação de que alguém sofre ou se acha ameaçado de sofrer
violência ou coação em seu direito de ir, vir e ficar, a utilização do habeas corpus também
pressupõe a existência de ilegalidade ou abuso de poder.
O uso das palavras ilegalidade ou abuso de poder no texto constitucional deixam
entrever que o habeas corpus somente será cabível quando restar evidenciado
constrangimento ilegal à liberdade de locomoção.
A ilegalidade a que se refere a Constituição Federal (art. 5º, LXVIII) consiste na falta de
observância dos preceitos legais exigidos para a validade do ato ou de alguns deles
exigidos como necessários. Logo, desde que a violência ou a coação decorram de ato que
não encontre amparo na lei, esse constrangimento ilegal será passível de correção pelo
remédio heroico do habeas corpus.
Objetivamente, o art. 648 do CPP contempla as hipóteses nas quais se considera ilegal
o constrangimento:

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3.1. Quando não houver justa causa (art. 648, I, CPP)

Há justa causa para uma coação quando estiver prevista em lei e quando observados
seus requisitos. A expressão deve ser compreendida como a necessária presença de
substrato fático e de direito para a deflagração da persecução penal contra alguém,
englobando tanto aspectos materiais quanto processuais.

3.2. Quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei
(art. 648, II)

A hipótese abrange duas possibilidades: primeira, o esgotamento do tempo previsto em


lei para a prisão, o que ocorre, por exemplo, quando, terminado o prazo da prisão
temporária e sua prorrogação, não for o indivíduo posto em liberdade; e, segunda, quando
detectado excesso no prazo legalmente estabelecido para a prática de determinados atos
(v.g., conclusão do inquérito policial, oferecimento da denúncia etc.) ou quando superada a
soma dos prazos individuais que compõem cada fase do procedimento.

Súmula 21, STJ - Pronunciado o réu, fica superada a alegação do


constrangimento ilegal da prisão por excesso de prazo na instrução.

Súmula 52, STJ - Encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação


de constrangimento por excesso de prazo.

Súmula 64, STJ - Não constitui constrangimento ilegal o excesso de prazo


na instrução, provocado pela defesa.

3.3. Quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo
(art. 648, III)

Contempla-se aqui a hipótese em que a coação, apesar de prevista em lei e mesmo se


atendidos os seus requisitos legais, tenha sido determinada por autoridade incompetente
para a prática do ato.

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3.4. Quando houver cessado o motivo que autorizou a coação (art. 648,
IV)

Nesta hipótese o constrangimento não decorre de ilegalidade ou abuso de poder, sendo


legal na sua origem. Entretanto, posteriormente, deixam de subsistir as razões que o
motivaram. Logo, se não determinada a sua cessação (do constrangimento), faculta-se a
impetração de habeas corpus para que seja alcançado esse objetivo.

3.5. Quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que
a lei autoriza (art. 648, V)

A previsão legal tem em vista hipótese de prisão por crime afiançável, não sendo,
porém, arbitrada fiança em favor do paciente. Aqui, a impetração do habeas corpus não
visa a sua liberação, mas, unicamente, o arbitramento da fiança, conforme se vê do art.
660, § 3º, do CPP ao dispor que, "se a ilegalidade decorrer do fato de não ter sido o paciente
admitido a prestar fiança, o juiz arbitrará o valor desta, que poderá ser prestada perante
ele, remetendo, neste caso, à autoridade os respectivos autos, para serem anexados aos
do inquérito policial ou aos do processo judicial".

3.6. Quando o processo for manifestamente nulo (art. 648, VI)

Assim como no inciso anterior, esta modalidade de habeas corpus também possui
efeito específico, vale dizer, não visa diretamente à liberdade do paciente, mas sim a
anulação total ou parcial do processo e, se for o caso, sua renovação.
Esse habeas corpus poderá ser impetrado inclusive após o trânsito em julgado de
sentença condenatória ou absolutória imprópria, porém, nesse caso, há de se ficar atento
à espécie de nulidade. De fato, em se tratando de nulidade absoluta, é sabido que sua
arguição pode ser feita a qualquer momento. Todavia, na hipótese de nulidade relativa,
caso esta não seja arguida oportunamente (CPP, art. 571), dar-se-á preclusão temporal e
consequente convalidação da nulidade.

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3.7. Quando extinta a punibilidade (art. 648, VII)

Trata-se da hipótese na qual a ilegalidade do constrangimento decorre da circunstância


de já se encontrar extinta a punibilidade pela prescrição ou outra causa. Neste caso, o
habeas corpus objetiva apenas o reconhecimento de que a punibilidade está extinta com o
consequente arquivamento do inquérito policial ou processo.

SÚMULA 695, STF - Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena
privativa de liberdade.

Declarada a extinção da punibilidade pelo cumprimento integral da pena, não mais


persiste a restrição ou ameaça à liberdade de locomoção.

4. HIPÓTESES QUE AUTORIZAM O CONHECIMENTO DO


HABEAS CORPUS

Com base na interpretação do Supremo, e ampliando as tradicionais hipóteses de


cabimento do HC, tem sido admitida a utilização do habeas corpus nas seguintes hipóteses:

a) Anterior aceitação da proposta de suspensão condicional do processo e sujeição ao


período de prova não implica renúncia ao interesse de agir para impetração de habeas
corpus com o fim de questionar a justa causa do processo. Como a Lei dos Juizados prevê
várias causas de revogação do benefício, é evidente que subsiste risco à liberdade de
locomoção, o que autoriza a impetração do remédio heroico, caso à infração penal seja
cominada pena privativa de liberdade;

b) Autorização judicial de quebra de sigilos (v.g., bancário, fiscal), se destinada a fazer


prova em procedimento penal: na visão do STF, se se trata de processo penal ou mesmo
de inquérito policial referente à infração penal à qual seja não seja cominada
exclusivamente pena de multa, admite-se a utilização do habeas corpus, dado que, de um
ou do outro, pode advir condenação a pena privativa de liberdade, ainda que não iminente,
cuja aplicação poderia vir a ser viciada pela ilegalidade contra a qual se volta a impetração
da ordem.
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5. HIPÓTESES QUE NÃO SE AUTORIZA O CONHECIMENTO
DE HABEAS CORPUS POR FALTA DE ADEQUAÇÃO

O remédio constitucional do habeas corpus não pode ser utilizado como sucedâneo de
outras ações judiciais, notadamente naquelas hipóteses em que o direito-fim não se
identifica com a própria liberdade de locomoção física.

a) Persecução penal referente à infração penal à qual seja cominada tão somente a
pena de multa: o não pagamento de multa não autoriza mais a conversão em pena privativa
de liberdade (CP, art. 51, com redação dada pela Lei n° 12.964/2019, reforçando que a
multa se trata de dívida de valor e se submete ao rito da execução fiscal para cobrança).
Logo, na medida em que não é possível a conversão em prisão, não há risco à liberdade
de locomoção, revelando-se inadequada a utilização do habeas corpus.

SÚMULA 693, STF - Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena
de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária
seja a única cominada.

b) Quando já tiver havido o cumprimento da pena privativa de liberdade

SÚMULA 695, STF - Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de
liberdade.

c) Exclusão de militar, perda de patente ou de função pública

SÚMULA 694, STF - Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena
de exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública.

d) Perda do cargo como efeito extrapenal específico de sentença condenatória


transitada em julgado: a perda de cargo público como efeito extrapenal específico de
sentença condenatória surte efeito apenas na esfera administrativa de direitos do indivíduo,
sendo certo que existem no ordenamento jurídico outros meios pelos quais a alegada
ilegalidade pode ser adequadamente analisada.

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e) Apreensão de veículos: considerando-se que o objeto do habeas corpus é a tutela
da liberdade de locomoção, direito fundamental do ser humano, é evidente que a apreensão
de veículo não autoriza a impetração do writ.

f) Preservação da relação de confidencialidade que deve existir entre advogado e


cliente.

g) Extração gratuita de cópias de processo criminal.

h) Requerimento de aditamento da denúncia para fins de inclusão de outro acusado:


compete ao Ministério Público, na condição de dominus litis, formar a opinio delicti e decidir
quem denunciar em caso de ação penal pública.

i) Visita a detento: por não haver efetiva restrição ao status libertatis, o habeas corpus
é meio inidôneo para discutir direito de visita a preso.

j) Anulação de processo criminal em face de nulidade absoluta que, beneficiando a


defesa, resultou em absolvição do acusado: não se presta o habeas corpus para amparar
pretensão contrária aos interesses do acusado, manejada pelo assistente de acusação, no
sentido de que seja restabelecida condenação que restou afastada pelo e. Tribunal a quo.

k) Perda de direitos políticos.

l) Impeachment: configura sanção de índole político-administrativa, não pondo em risco


a liberdade de ir, vir e permanecer do Presidente da Republica.

m) Custas processuais.

SÚMULA 395, STF: Não se conhece de recurso de habeas corpus cujo objeto
seja resolver sobre o ônus das custas, por não estar mais em causa a
liberdade de locomoção.

n) Omissão de relator de extradição.

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SÚMULA 692, STF - Não se conhece de habeas corpus contra omissão de
relator de extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não
constava dos autos, nem foi ele provocado a respeito.

o) Reparação civil fixada na sentença condenatória.

p) Suspensão do direito de dirigir veículo automotor.

q) Perda superveniente do interesse de agir em face da cessação do constrangimento


ilegal à liberdade de locomoção.

Tabelão do amor:

NÃO CABE HABEAS CORPUS CABE HABEAS CORPUS


HC não é meio processual adequado para Cabe HC para análise de legalidade de
se discutir direito de visita a preso. prisão em punições disciplinares militares
Não cabe HC para trancar processo de Cabe HC para trancamento de processo no
impeachment. qual se apura o delito de porte de drogas
para consumo (art. 28 da lei 11.343/2006).
Não cabe habeas corpus de decisão Cabe HC contra instauração de IP ou
monocrática de Ministro do STF indiciamento, sem que haja justa causa
para estes atos (HC trancativo).
Não cabimento de habeas corpus contra Cabe HC contra o indeferimento de prova
decisão monocrática de Ministro do STJ de interesse do investigado ou acusado.
Não se admite habeas corpus para se Cabe HC para aplicação de prisão
questionar nulidade cujo tema não foi domiciliar - STJ.
trazido antes do trânsito em julgado da
ação originária e tampouco antes do
trânsito em julgado da revisão criminal.
O STF decidiu que não tem competência Cabe HC contra o deferimento de prova
para julgar habeas corpus cuja autoridade ilícita ou deferimento inválido de prova
apontada como coatora seja delegado lícita.
federal chefe da Interpol no Brasil.
Não cabe HC em favor de PJ, nem mesmo Cabe HC contra a autorização judicial de
para trancamento de IP sem justa causa no quebra de sigilos – bancário, fiscal,
qual se investiga crime ambiental. telefônico, etc – em procedimento penal.
Não cabe HC para trancamento de Cabe HC para questionar medidas
persecução penal referente à infração protetivas de urgência previstas na Lei

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penal à qual seja cominada tão somente Maria da Penha que restrinjam a liberdade
pena de multa. de ir e vir.
Não cabe o HC quando já tiver havido o
cumprimento da PPL.
Não cabe o HC contra exclusão de militar,
perda de patente ou de função pública.
Não cabe HC contra o efeito extrapenal de
perda do cargo advindo de sentença
condenatória transitada em julgado.
Não cabe HC contra a apreensão de
veículos
Não cabe HC contra a suspensão do direito
de dirigir.
Não cabe HC para eventual pedido de
reabilitação do paciente.
Não cabe HC para assegurar a
preservação da relação de
confidencialidade entre cliente e advogado.
Não cabe HC para pleitear a extração
gratuita de cópias de processo criminal
Não cabe HC para afastar pena acessória
de perda de cargo público - STJ.
Não cabe HC para requerimento de
aditamento da denúncia a fim de incluir
outro acusado.
Não cabe HC contra a perda de direitos
políticos.
Não cabe HC para discutir a reparação civil
fixada na sentença condenatória criminal.
Não cabe HC para discussão
de mérito administrativo de prisão em
punições disciplinares militares.

6. SUJEITOS DO HABEAS CORPUS

6.1. Paciente

Assim considerado quem sofre ou está ameaçado de sofrer o constrangimento ou


ameaça de constrangimento à sua liberdade de locomoção. Apenas pessoas físicas podem
ser pacientes no habeas corpus, não sendo admitida a impetração do remédio heroico em

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favor de pessoas jurídicas. Isso porque, por definição constitucional, o writ destina-se à
proteção da liberdade de locomoção violada ou ameaçada, o que não acontece com relação
à pessoa jurídica.

6.2. Impetrante

Trata-se da pessoa que impetra o habeas corpus, podendo ser qualquer pessoa do
povo em favor de outrem e, inclusive, o próprio paciente em seu favor. É possível que
impetrante e paciente sejam a mesma pessoa. Porém, quando isso não ocorrer, haverá
verdadeira substituição processual, já que o impetrante estará agindo em juízo, em nome
próprio, na defesa de interesse alheio.
Para a impetração do habeas corpus, não se exige a presença de advogado. Basta ver
que a Lei 8.906/1994, no seu art. 10, § 1º, estabelece que "não se inclui na atividade
privativa de advocacia a impetração de habeas corpus em qualquer instância ou tribunal".
É nesse sentido, aliás, o teor do art. 654, caput, primeira parte, do CPP, que prevê que
o habeas corpus pode ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem. Na
mesma linha, o CPP estabelece que a petição de habeas corpus conterá a assinatura do
impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não puder escrever, e a
designação das respectivas residências.

Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor
ou de outrem, bem como pelo Ministério Público.
§ 1o A petição de habeas corpus conterá:
a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação e o
de quem exercer a violência, coação ou ameaça;
b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça de
coação, as razões em que funda o seu temor;
c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não
puder escrever, e a designação das respectivas residências.

6.2.1. Habeas corpus coletivo

É aquele que tem por paciente uma coletividade determinada ou, ao menos
determinável, não apenas de modo a otimizar a tramitação de tais demandas, mas também
com o objetivo de conferir uma tutela jurisdicional mais célere e eficiente.
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Para tanto, todos os requisitos constitucionais e legais para a impetração do habeas
corpus deverão ser observados. De maneira semelhante ao que ocorre em outras ações
coletivas, há necessidade de adequada delimitação do grupo favorecido, por meio da
especificação de uma questão objetiva de natureza comum, demonstrando que todos estão
em uma situação fática e jurídica semelhante, o que, em tese, autorizaria uma decisão
unitária da lide

6.2.2. Pessoa jurídica

A pessoa jurídica também pode impetrar ordem de habeas corpus, ainda que não esteja
regularmente constituída.

6.2.3. Ministério Público

O Ministério Público também tem legitimidade para impetrar ordem de habeas corpus
(CPP, art. 654, caput). Se não há dúvidas quanto à legitimidade do Ministério Público para
a impetração de habeas corpus, é bom ressaltar que essa legitimação não afasta a
necessidade de se demonstrar o interesse de agir do Parquet em favor da liberdade de
locomoção do paciente.
Igual faculdade, porém, não assiste ao delegado de polícia e ao juiz de direito, em
relação aos quais, na qualidade de titulares dos cargos mencionados, não se reconhece
legitimidade para impetração do writ em favor de terceiros - nada impedindo,
evidentemente, que o façam na condição de pessoas físicas.

6.3. Coator

O legitimado passivo no âmbito do habeas corpus - autoridade coatora ou coator - é a


pessoa responsável pela violência ou coação ilegal à liberdade de locomoção do paciente.
O coator pode ser tanto uma autoridade quanto o particular. fsto ocorre porque a
Constituição Federal, ao tratar do habeas corpus, estabeleceu a possibilidade de seu
cabimento "sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação
em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder". Ora, se, por um lado,

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apenas a autoridade pode abusar do poder que detém ou lhe é delegado, por outro a
ilegalidade pode ser cometida tanto pela autoridade quanto pelo particular.

7. ESPÉCIES DE HABEAS CORPUS

7.1. Habeas corpus profilático

É aquele que se volta contra ordem ilegal ou abuso de poder já perpetrados, cuja
coação concretizou-se (ou está em vias de se concretizar). Concedida a ordem de habeas
corpus, o juiz ou tribunal devem determinar a cessação da coação: se o paciente estiver
preso, deve ser expedido alvará de soltura, restaurando-se o direito de ir, vir e ficar, salvo
se por outro motivo deva o agente ser mantido na prisão; se o mandado de prisão ainda
não tiver sido cumprido, deve ser expedido contramandado de prisão.

Art. 660.
§ 1o Se a decisão for favorável ao paciente, será logo posto em liberdade, salvo se
por outro motivo dever ser mantido na prisão.

7.2. Habeas corpus preventivo

É aquele que se ajuíza contra ameaça de constrangimento ilegal à liberdade de


locomoção, visando a prevenir sua materialização. Nesse caso, o juiz ou tribunal profere
ordem impeditiva da coação, que se chama salvo-conduto.

Art. 660.
§ 4o Se a ordem de habeas corpus for concedida para evitar ameaça de violência
ou coação ilegal, dar-se-á ao paciente salvo-conduto assinado pelo juiz.

7.3. Habeas corpus profilático

Destinado a suspender atos processuais ou impugnar medidas que possam importar


em prisão futura com aparência de legalidade, porém intrinsecamente contaminada por
ilegalidade anterior. Neste caso, a impugnação não visa ao constrangimento ilegal à

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liberdade de locomoção já consumado ou à ameaça iminente de que ocorra esse
constrangimento, mas sim a potencialidade de que este constrangimento venha a ocorrer.

7.4. Habeas corpus trancativo

Visa ao trancamento de inquérito policial ou de processo penal. Sua existência poderia


ser extraída a partir de uma interpretação a contrario sensu do art. 651 do CPP, que prevê
que “a concessão do habeas corpus não obstará, nem porá termo ao processo, desde que
este não esteja em conflito com os fundamentos daquela”.

8. COMPETÊNCIA

A definição da competência para o processo e julgamento do habeas corpus deve ser


feita a partir da Constituição Federal, das Constituições Estaduais e da legislação
infraconstitucional, a partir de 4 premissas:
a) A competência para o processo e julgamento do habeas corpus leva em
consideração, como premissa inicial, as figuras do paciente e da autoridade coatora;
b) Em regra, em se tratando de autoridade coatora dotada de foro por prerrogativa de
função, a competência para o processo e julgamento do habeas corpus recai,
originariamente, sobre o Tribunal a que compete julgar os crimes por ela perpetrados;
c) A competência do juiz cessará sempre que a violência ou coação provier de
autoridade judiciária de igual ou superior jurisdição (art. 650, §1º, CPP); e
d) Supressão de instância: para que uma ordem de habeas corpus possa ser conhecida
por uma instância superior, é necessária a provocação dos juízes inferiores acerca da
matéria que se pretende impugnar, sob pena de indevida supressão de instância.

Esquematizando:
COMPETÊNCIA PARA PACIENTE/COATOR PREVISÃO
JULGAMENTO CONSTITUCIONAL
Quando forem pacientes: Art. 102, I, d
- Presidente da República
- Vice-presidente da
República

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- Membros do Congresso
Nacional
- Ministros dos Tribunais
Superiores
- Procurador-Geral da
República
- Ministros de Estado
SUPREMO TRIBUNAL - Comandantes das Forças
FEDERAL Armadas
- Ministros do TCU
- Chefes de missão
diplomática

Quando forem coatores Art. 102, I, i


Tribunais Superiores
Quando forem coatores ou Art. 102, I, i
pacientes autoridades ou
funcionários sujeitos
diretamente à jurisdição do
Supremo Tribunal Federal
Quando se tratar de crime Art. 102, I, i
sujeito à jurisdição do
Supremo Tribunal Federal
em única instância
Quando forem coatores ou Art. 105, I, c
pacientes:
- Governadores dos
Estados e do Distrito
Federal
- Desembargadores dos
Tribunais de Justiça dos
Estados e do Distrito
Federal
- Membros dos Tribunais de
SUPERIOR TRIBUNAL DE Contas dos Estados e do
JUSTIÇA Distrito Federal,
- Desembargadores ou
Juízes dos Tribunais
Regionais Federais, dos
Tribunais Regionais
Eleitorais e do Trabalho

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- Membros dos Conselhos
ou Tribunais de Contas dos
Municípios
- Membros do Ministério
Público da União que
oficiarem perante Tribunais.
Quando for coator tribunal Art. 105, I, c
sujeito à jurisdição do
Superior Tribunal de
Justiça, Ministro de Estado
ou Comandante da Marinha,
do Exército ou da
Aeronáutica, ressalvada a
competência da Justiça
Eleitoral
TRIBUNAIS REGIONAIS Quando for coator Juiz Art. 108, I, d
FEDERAIS Federal
Compete-lhes julgar Art. 109, VII
habeas corpus em matéria
criminal de sua competência
JUÍZES FEDERAIS ou quando o
constrangimento provier de
autoridade cujos atos não
estejam diretamente
sujeitos a outra jurisdição
Além da competência É posição consolidada no
ordinária para o julgamento âmbito do STF que compete
do habeas corpus, incumbe- ao Tribunal de Justiça do
TRIBUNAIS DE JUSTIÇA E lhes também o julgamento Estado e aos TRFs
TRIBUNAIS REGIONAIS do writ impetrado contra ato processar e julgar habeas
FEDERAIS de Turma Recursal dos corpus emanados das
Juizados Especiais Turmas Recursais do JEC.
criminais. Superada, assim, a Súmula
690 do STF.

8.1. Competência do Juiz de 1ª Instância

Cuidando-se de constrangimento ilegal perpetrado por particular ou autoridade que não


seja dotada de foro por prerrogativa de função (v.g., Delegado de Polícia), a competência
para o processo e julgamento do habeas corpus será do juiz da comarca ou da subseção

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judiciária em cujos limites estiver ocorrendo a violência ou coação ilegal à liberdade de
locomoção.

8.2. Ministério Público como autoridade coatora

Especial atenção deve ser dispensada à hipótese em que a autoridade coatora é órgão
do Ministério Público. Nesse caso, tem prevalecido o entendimento de que o habeas corpus
deve ser processado e julgado pelo Tribunal no qual o membro do Ministério Público tem
foro por prerrogativa de função.

9. PROCEDIMENTO

9.1. Capacidade postulatória

O habeas corpus pode ser impetrado por qualquer pessoa, independentemente de


qualquer habilitação profissional, o que se justifica pela necessidade de uma rápida
proteção à liberdade de locomoção.
Nessa linha, o CPP estabelece que a petição de habeas corpus conterá (art. 654, §1º):

a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação e


o de quem exercer a violência, coação ou ameaça;
b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça de
coação, as razões em que funda o seu temor;
c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não
puder escrever, e a designação das respectivas residências.

9.2. Petição inicial

Requisitos:
a) O nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação;
b) O nome de quem exerce a violência, coação ou ameaça, caso o constrangimento
seja perpetrado por particular, ou a função, em caso de autoridade pública;
c) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça de
coação, as razões em que funda o seu temor: a peça acusatória deve demonstrar a
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ilegalidade da violência ou a iminência da coação à liberdade de locomoção por meio de
prova pré-constituída, porquanto vedada a dilação probatória no procedimento sumaríssimo
do habeas corpus. Além disso, na hipótese de habeas corpus preventivo, é indispensável
que a ameaça de constrangimento ao ius libertatis seja iminente e plausível. Isso porque,
não demonstrados atos concretos que possam causar, direta ou indiretamente, perigo ou
restrição à liberdade de locomoção de um paciente, mas apenas num plano hipotético (v.g.,
writ impetrado contra lei em tese), será inviável a utilização do habeas corpus.
d) A assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não
puder escrever, e a designação das respectivas residências.

9.3. Dilação probatória

Tendo em conta as características inerentes ao habeas corpus - simplicidade e


sumariedade -, seu procedimento não possui uma fase de instrução probatória. Isso,
todavia, não significa que não seja necessária a produção de provas destinadas à
demonstração do constrangimento ilegal, até mesmo porque, ausente essa prova, a ordem
de habeas corpus será denegada. Na verdade, nos mesmos moldes que o mandado de
segurança, o conhecimento do remédio heroico demanda a existência de direito líquido e
certo, ou seja, um constrangimento ilegal à liberdade de locomoção que seja certo quanto
à existência, delimitado quanto à extensão e comprovável de plano, porquanto não se
admite qualquer dilação probatória no julgamento do writ.

9.4. Medida liminar

Há certas situações excepcionais que recomendam a imediata antecipação da


restituição da liberdade de locomoção do paciente, ou, na hipótese de habeas corpus
preventivo, da adoção de providências urgentes para que coação ilegal não cause prejuízos
irreversíveis ao direito de ir, vir e ficar. Por esses motivos, apesar de não ter previsão legal,
doutrina e jurisprudência admitem a concessão da medida liminar em habeas corpus, desde
que presentes os requisitos das medidas cautelares em geral: fu m u s boni iuris e periculum
in mora.
Portanto, demonstrada a necessidade da liminar para se resguardar a eficácia da
decisão a ser proferida por ocasião do julgamento definitivo do habeas corpus, tal medida

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deverá ser concedida, ainda que não haja requerimento do impetrante nesse sentido. Afinal,
se aos juízes e tribunais é dado expedir de ofício ordem de habeas corpus (CPP, art. 654,
§ 2º), é evidente que podem conceder a liminar independentemente de provocação do
impetrante.

9.5. Indeferimento de liminar por Relator em Tribunal e impetração de


novo Habeas Corpus

Quando um habeas corpus é impetrado perante um Tribunal, após a distribuição do


feito a uma das Turmas (ou Câmaras), haverá a distribuição a um dos desembargadores
(ou ministros), que funcionará como relator do feito. Em que pese recair sobre o Relator a
competência para, singularmente, conceder (ou não) a medida liminar, é bom lembrar que
o julgamento definitivo do writ ficará afeto à respectiva Turma (ou Câmara).
Discute-se, nesse caso, acerca da possibilidade de impetração de novo habeas corpus
contra a decisão do Relator que indeferir a concessão da medida liminar. Prevalece o
entendimento de que, de modo a se evitar possível supressão de instância, não é possível,
pelo menos em regra, o conhecimento de habeas corpus impetrado contra decisão de
Relator que, em habeas corpus requerido a Tribunal, indefere a liminar. Nessa linha, aliás,
a súmula n° 691 do Supremo:

SÚMULA 691, STF - Não compete ao STF conhecer de habeas corpus


impetrado contra decisão do Relator que, em habeas corpus requerido a
tribunal superior, indefere a liminar.

Essa regra, todavia, não é absoluta. De fato, de acordo com os próprios Tribunais
Superiores, o entendimento constante da súmula n° 691 do STF pode ser mitigado no caso
de flagrante teratologia, ilegalidade manifesta ou abuso de poder.

9.6. Apresentação do preso e requisição de informações

Recebida a petição de habeas corpus, o juiz, se julgar necessário, e estiver preso o


paciente, mandará que este lhe seja imediatamente apresentado em dia e hora que
designar.

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A despeito dessa faculdade outorgada ao juiz, na prática é muito mais comum que o
juiz ou o tribunal solicitem informações por escrito à autoridade coatora (CPP, art. 662).
Esse pedido de informações, que pode ser dispensado quando o constrangimento ficar
evidenciado de plano, consiste em verdadeira contestação da autoridade coatora à suposta
ilegalidade ou abuso de poder.

9.7. Efeito extensivo da ordem de habeas corpus

Doutrina e jurisprudência entendem que é plenamente possível a aplicação do art. 580


do CPP no julgamento do habeas corpus.
Por conta do efeito extensivo constante do art. 580 do CPP, a decisão do recurso
interposto por um dos acusados no caso de concurso de agentes aproveitará aos demais,
desde que fundada em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal.

9.8. Intervenção das partes

Em relação ao procedimento do habeas corpus, na hipótese de impetração do remédio


heroico na 2ª instância, há necessidade de oitiva do órgão ministerial. Portanto, nos
Tribunais, é obrigatória a concessão de vista dos autos de habeas corpus originários ou em
grau de recurso ao MP, pelo prazo de 2 (dois) dias, contados a partir das informações da
autoridade coatora (Decreto-lei 552/69, art. 1º e § 2º).

9.9. Recursos contra as decisões em habeas corpus

A disciplina processual será sempre aquela do Código de Processo Penal. Portanto,


quanto à sistemática recursal, utilizam-se as regras estabelecidas na lei processual penal,
inclusive em relação aos prazos de interposição.
Diz o art. 581, inciso X, do CPP, que caberá recurso em sentido estrito contra a decisão
que conceder ou negar a ordem de habeas corpus. Só se admite a interposição desse
RESE contra a decisão de juiz de 1ª instância que conceder ou negar a ordem de habeas
corpus.
Em que pese o CPP prever o cabimento de RESE contra a decisão que negar a ordem
de habeas corpus (CPP, art. 581, X), nada impede a utilização de novo habeas corpus
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contra a mesma decisão, desde que em favor da liberdade de locomoção do paciente, nos
exatos termos do art. 648 do CPP.
Assim, negada a ordem de habeas corpus pelo magistrado de 1ª instância, poderá ser
impetrado novo habeas corpus à instância superior competente.
Eventual concessão da ordem de habeas corpus pelo juiz de 1ª instância também está
submetida ao reexame necessário:

Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que


deverão ser interpostos, de ofício, pelo juiz:

I - da sentença que conceder habeas corpus;

Para além do RESE do art. 581, X, do CPP, e da hipótese de reexame necessário a


que faz menção o art. 574,1, do CPP, a Constituição Federal também prevê o recurso
ordinário para o Supremo e para o STJ.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:

II - julgar, em recurso ordinário:

a) o habeas corpus , o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de


injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a
decisão;

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

II - julgar, em recurso ordinário:

a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais


Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios,
quando a decisão for denegatória;

Além do recurso ordinário constitucional, também são admissíveis os recursos especial


e extraordinário, a serem julgados pelo STJ e pelo Supremo, respectivamente, desde que
preenchidos, evidentemente, seus pressupostos de admissibilidade recursal. Nesse caso,
ao contrário do recurso ordinário, cabível apenas no caso de denegação, o RE e o REsp

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poderão ser interpostos contra decisões denegatórias e/ou concessivas da ordem de
habeas corpus.

9.10. Coisa julgada

Para que possam atestar a existência de constrangimento ilegal à liberdade de


locomoção, o Juiz ou o Tribunal são obrigados a analisar e valorar as questões de fato e
de direito alegadas pelo impetrante e pela autoridade coatora.
Em atenção às características do procedimento sumaríssimo do habeas corpus, apesar
de ampla quanto à extensão, permitindo o conhecimento de matérias sequer arguidas pelo
impetrante esta cognição apresenta-se limitada quanto à profundidade, já que não se
admite uma dilação probatória no procedimento do remédio heroico.
Não obstante, como não se trata de uma cognição exauriente, mas sim secundum
eventum probationis, ou seja, limitada à prova existente, essa denegação da ordem não
impede que, por outros meios, o paciente obtenha o reconhecimento do seu direito. Como
consequência natural da cognição sumária realizada na ação de habeas corpus, os limites
da coisa julgada ficam restritos às provas que foram objeto de apreciação pelo órgão
judiciário.

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Referências:

Avena. Norberto Cláudio Pêncaro. Processo penal: esquematizado. 7.ª ed. Rio de
Janeiro: Forense: São Paulo: MÉTODO, 2015.

Lima, Renato Brasileiro de Manual de processo penal: volume único - 7. ed. rev., ampl.
e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2019.

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