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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

COISA JULGADA
A coisa julgada é uma situação jurídica que torna indiscutível e imutável a norma
jurídica concreta da decisão. O que foi discutido não pode ser novamente decidido de outra
maneira e será estabilizada a decisão.

Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e
indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.

A coisa julgada produz efeitos dentro e fora do processo.

1.Objeção
A objeção é matéria de alegação da parte, mas que deve ser reconhecida de ofício
pelo juiz. Tem caráter de preliminar de mérito e normalmente quando acolhida dessa forma
extingue o processo sem resolução de mérito.
Quando se repete ação já definitivamente julgada, operada pela coisa julgada, diz-
se que se está diante de uma objeção de mérito, que o juiz pode reconhecer de ofício. O
mesmo vale para casos de litispendência, quando se repete ação idêntica em curso,
cabendo objeção que pode ser verificada de plano pelo juiz.

2. Coisa julgada formal


É a imutabilidade da sentença dentro do processo por falta de meios de impugnação
possível, recursos ordinários ou extraordinários.
É a imutabilidade endoprocessual da sentença que corresponde à preclusão (é
defeso discutir no processo questões sobre as quais incidiu a preclusão - artigo 507 do
CPC).
Frederico Marques entende haver dois degraus da coisa julgada: a coisa julgada
(após o trânsito em julgado) e a coisa soberanamente julgada (ocorre quando findo o prazo
decadencial de propositura da ação rescisória).

3. Coisa julgada material


É uma especial qualidade dos efeitos da sentença, consistindo na imutabilidade da
decisão de mérito. É fundamentada na necessidade de estabilidade das relações jurídicas.

4. Limites da coisa julgada


4.1. Limites objetivos
O que transita em julgado é o dispositivo, a conclusão, o tópico da sentença que
acolhe ou rejeita o pedido.
Não faz coisa julgada:
a) a fundamentação da sentença, os motivos;
b) a verdade dos fatos estabelecidos como premissa da sentença;
c) a questão prejudicial julgada incidentemente como motivo da sentença.
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Obs.: no dispositivo o juiz resolve a questão principal (pedido), na fundamentação é
decidida a questão incidental. Principaliter é o nome dado quando a questão incidental
(inidenter tantum) é analisada no dispositivo da decisão, como questão principal. Ex.: a
inconstitucionalidade de uma lei é questão que pode ser analisada incidentemente ou como
principaliter - no controle difuso é examinada incidentemente, já no controle abstrato é
examinada como principaliter. Ex.: a filiação numa investigação de paternidade é questão
principal, mas numa ação de alimentos é questão incidental.
Obs.: a questão prejudicial é aquela que se apresenta como antecedente lógico do
julgamento da lide, sendo questão que deve ser examinada antes de outras. A questão
prejudicial se refere a fatos anteriores à lide, não se confundindo com questões
preliminares, que se relacionam com os pressupostos processuais e condições da ação. A
questão prejudicial pode ser principal (se aparecer como objeto do pedido) ou incidental (se
aparecer como simples fundamento). Ex.: ação investigatória de paternidade cumulada
com alimentos - a questão prejudicial da filiação é principal na investigação e incidental nos
alimentos. O CPC/15 prevê a coisa julgada sobre questões prejudiciais incidentais, de
forma inovadora.

4.2. Limites subjetivos


A coisa julgada atinge as partes, não prejudicando a nem beneficiando terceiros. Os
efeitos da sentença, ao contrário da coisa julgada, podem vir a afetar terceiros.
Excepcionalmente a lei prevê determinadas hipóteses em que a definitividade da
coisa julgada extrapola a órbita individual das partes, atingindo terceiros - ex.: intervenção
de terceiros - assistência, em que a sentença também vincula o assistente, ainda que ele
não seja parte do processo (artigo 123, CPC). Outro caso excepcional é nas ações que
tutelem interesses difusos e coletivos e nas ações de estado, pois essas formam coisa
julgada com efeito erga omnes (ex.: impossível ser casado perante alguns e divorciado
perante outros).

5. Regimes da coisa julgada


Existe o regime da coisa julgada das questões principais (artigo 503, caput, CPC) e
o das questões prejudiciais incidentais (artigo 503, parágrafo 1º, CPC).

Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos
limites da questão principal expressamente decidida.
§1º O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida
expressa e incidentemente no processo, se:
I - dessa resolução depender o julgamento do mérito;
II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso
de revelia;
III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como
questão principal.
§2º A hipótese do § 1º não se aplica se no processo houver restrições probatórias
ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da análise da questão
prejudicial.

São cinco os pressupostos para que a coisa julgada se estenda para as questões
prejudiciais incidentais:

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a) a questão prejudicial deve ser examinada expressamente pelo juiz (esse
pressuposto também se estende para a questão principal);
b) a solução da questão prejudicial deve ser o fundamento da questão principal -
deve ser toda questão que poderia ter sido objeto de uma ação declaratória (poderia ter
sido questão principal em outro processo). Ex.: existência ou inexistência de uma relação
jurídica ou falsidade ou autenticidade de documento. A utilidade dessa regra do CPC/15 é
impedir que a questão prejudicial incidental seja rediscutida em processo posterior (pelo
CPC/73 era possível que o réu condenado a pagar alimentos posteriormente ajuizasse ação
negatória de paternidade - não mais admitido pelo CPC/15).
c) existência de contraditório efetivo (ausência de revelia) - a revelia não impede a
coisa julgada da questão principal, mas impede a da prejudicial incidental;
d) o Juízo deve ser competente para decidir a questão como se ela fosse principal.
Ex.: se o juiz federal condena o INSS e pagar pensão por morte a uma mulher por entender
que ela vivia em união estável com o falecido contribuinte, a decisão sobre a existência de
união estável não faz coisa julgada porque o juiz federal não é competente para determinar
esse fato como forma principal;
e) as restrições probatórias eventualmente existentes não podem impedir o
aprofundamento da análise da questão principal - somente ocorrerá coisa julgada sobre a
questão prejudicial incidental se ela puder ter sido amplamente debatida. Ex.: ações como
Mandado de Segurança tem limitação de cognição, portanto as questões prejudiciais
incidentais nele discutida não abarcam a coisa julgada.

6. Relação continuada
As sentenças proferidas em situacões “rebus sic stantibus”, como o caso da ação de
alimentos, não fazem coisa julgada material. O mesmo ocorre nas relações de trato
continuado, nos termos do artigo 505, inciso I do CPC:

Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à


mesma lide, salvo:
I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no
estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi
estatuído na sentença;
II - nos demais casos prescritos em lei.

7. Eficácia preclusiva da coisa julgada


É a impossibilidade de se rediscutir os fundamentos e as questões que foram ou
poderiam ter sido alegados como fundamento de defesa ou do pedido, em ações
posteriores. Não é coisa julgada propriamente dita porque esta se refere apenas ao
dispositivo. Não se trata também de preclusão, porque esta tem seus efeitos abrangidos
somente no interior do processo.
A eficácia preclusivo da coisa julgada conjuga o princípio da eventualidade e o
conceito de preclusão, determinada pela necessidade de segurança nas relações jurídicas,
sendo uma verdadeira preclusão sui generis que projeta seus efeitos para fora do processo,
a fim de impossibilitar a rediscussão de fundamentos, já suscitados ou não, em outras
ações.

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8. Pressupostos da coisa julgada
8.1. Existência de uma decisão judicial

Qualquer tipo de decisão, seja sentença, acórdão, decisão interlocutória ou


monocrática, tem aptidão para a coisa julgada. A coisa julgada pressupõe que o juiz tenha
enfrentado expressamente a questão, não se podendo falar em coisa julgada implícita.

8.2. Existência de cognição exauriste


O juiz deve ter examinado a questão de modo exaustivo - decisões fundadas em
cognição sumária não são aptas a afetação pela coisa julgada (ex.: decisão em tutela
provisória).

8.3. Existência de trânsito em julgado


É a impossibilidade de rediscussão da decisão no processo em que ela foi proferida.

9. Modos de produção da coisa julgada


a) pro et contra: coisa julgada advém qualquer que tenha sido o resultado da
sentença. É a regra geral do sistema.
b) secundum eventum litis: coisa julgada que somente ocorre em um dos resultados
da causa (só quando a decisão for favorável ou desfavorável) - não existe no processo civil
brasileiro exemplo desse regime, porque violaria a igualdade entre as partes (esse é o
regime da coisa julgada penal).
Obs.: diferente da extensão secundum eventum litis da coisa julgada, que ocorre
quando o legislador estabelece que o resultado de determinada demanda pode se estender
a outras pessoas se ele for favorável (é o que ocorre com a coisa julgada coletiva).
c) secundum eventum probationis: a coisa julgada não se forma quando a sentença
é de improcedência por falta de provas - esse é o regime da coisa julgada coletiva no Brasil
e do Mandado de Segurança.

10. Efeitos da coisa julgada


a) Efeito vinculativo: os limites subjetivos da coisa julgada material, alcançando a
coisa julgada apenas nas partes principais;
b) Efeito sanatório: os vícios processuais são convidados com o trânsito em julgado
material - ex.: competência absoluta após o trânsito em julgado será abarcada pelo efeito
sanatório. Exceções: inexistência ou falta de citação não será sanada, bem como alguns
casos de rescindibilidade (nulidades absolutas que permitem a instauração de ação
rescisória);
c) Efeito preclusivo: no momento em que a coisa julgada se forma estarão repelidos
rodos os argumentos que a parte poderia vir a invocar no processo.

11. Relativização da coisa julgada

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11.1. Nas ações de desapropriação
O STJ entendeu que sentenças dessa natureza nem sempre transitam em julgado,
visto que haveria um interesse público afetado à sociedade em corrigir distorções que
causem prejuízo ao erário, autorizando questionamentos ao título. A formação da coisa
julgada é afastada em nome do interesse público.

11.2. Nas ações de estado


Ações de estado são processos instaurados com objetivo de criar, modificar,
extinguir um estado, conferindo novo àquela pessoa - ex.: ação de paternidade, divórcio
etc.
A relativização da coisa julgada é importante nos casos de ações de reconhecimento
de paternidade julgadas improcedentes por falta de provas, principalmente nas que foram
ajuizadas quando da inexistência de exames de DNA. Nelas, o STJ entende que a coisa
julgada deve ser relativizada, tendo o acompanhamento do STF no mesmo sentido, sendo
possível o ajuizamento de nova ação de paternidade sem que a anterior seja desconstituída
e sem a necessidade de ser proposta ação rescisória.

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