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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA

SEXTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO (ANTIGA DÉCIMA TERCEIRA


CÂMARA CÍVEL)
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0017121-02.2024.8.19.0000
AGRAVANTE: ESPÓLIO DE ELIAS DO NASCIMENTO REP/P/S/INV/ELIAS DO
NASCIMENTO JÚNIOR
AGRAVADO: LUIZ DE ALENCAR ARARIPE JÚNIOR
AGRAVADO: ARARIPE E ADVOGADOS ASSOCIADOS
INTERESSADO 1: BSN COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES LTDA
INTERESSADO 2: BSN VEÍCULOS LTDA
INTERESSADO 3: ROGÉRIO EDUARDO SCHMITT
INTERESSADO 4: ESPÓLIO DE MARCOS AURÉLIO ROQUE BRUNET REP/P/S/INV/JANET
JABOUR
RELATOR: DESEMBARGADOR JUAREZ FERNANDES FOLHES

DECISÃO (indeferimento efeito suspensivo)


Trata-se de agravo de Instrumento COM pedido de concessão de efeito
suspensivo, interposto por ESPÓLIO DE ELIAS DO NASCIMENTO REP/P/S/INV/ELIAS DO
NASCIMENTO JÚNIOR contra decisão do Juízo da 42ª Vara Cível da Comarca da Capital
nos autos da “AÇÃO ORDINÁRIA DE CONTRAFAÇÃO DE MARCA E NOME COMERCIAL”,
ajuizada por BSN COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES EM FACE DE BSN VEÍCULOS LTDA em
fase de cumprimento de sentença PARA COBRANÇA DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
que indeferiu o pedido feito por Araripe e Advogados Associados de reserva de
honorários advocatícios convencionais, bem como, determinou o
prosseguimento da execução no que concerne aos honorários sucumbenciais, pelo
valor indicado pelo credor (fl. 1498), em face de todos os devedores (réus). Manteve as
penhoras deferidas à fl. 1415 à fl. 1439. Determinou a lavratura dos termos e a
expedição das necessárias certidões para fins de averbação, caso tais medidas não
tenham sido adotadas ainda. E a expedição de carta precatória para avaliação dos
imóveis, (índice 5, anexo 1 e Processo nº 0053345-73.2000.8.19.0001), no seguinte teor:

“Processo:0053345-73.2000.8.19.0001 (2000.001.050827-1)
Classe/Assunto: Cumprimento de sentença - DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO
TRABALHO <Réu (Tipicidade)
Polo Ativo: Autor: BSN COMERCIO E REPRESENTACOES LTDA e outro
Polo Passivo: Réu: BSN VEICULOS LTDA e outros
Decisão
No curso da fase de cumprimento de sentença a credora BSN COMERCIO E
REPRESENTACOES LTDA firmou acordo (index 1468) com Espólio de Elias do
Nascimento (na qualidade de codevedor), homologado por sentença (index 1487).
Na sequência, o escritório Araripe e Advogados Associados (antigos patronos da
demandante) atravessou petição (index 1495) pretendendo a reserva de honorários
contratuais em valor correspondente a 50% do total recebido pelo credor por força
do acordo firmado com o devedor Espólio de Elias do Nascimento. Sustenta, ainda,

(JF) Agravo de Instrumento nº 0017121-02.2024.8.19.0000

Assinado em 18/03/2024 20:43:11


JUAREZ FERNANDES FOLHES:9714 Local: GAB. DES JUAREZ FERNANDES FOLHES
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a sociedade de advogados requerente, que são devidos honorários sucumbenciais
arbitrados na fase de conhecimento no percentual de 20% sobre a condenação e
aqueles fixados na fase de liquidação da sentença, no valor certo de R$ 20.000,00,
perfazendo R$ 3.511.765,34, atualizados até 05/11/2020.
O Espólio de Elias apresentou comprovante demonstrando o cumprimento da
avença, pediu o cancelamento da penhora sobre o imóvel (matrícula nº 1016 -
Fazenda Primavera) e a extinção da execução instaurada em seu desfavor
(indexadores 1554/1556). Contra o que se insurgiram os antigos patronos da credora
ao argumento de que a execução de honorários sucumbenciais deve prosseguir em
face de todos os devedores (index 1560).
Nova petição da sociedade de advogados credora (index 1568) requerendo a
execução contra todos os sócios da executada, quais sejam, Espólio de Marcos
Aurélio Roque Brunet, Espólio de Elias do Nascimento e Rogério Schmitt, já incluídos
no polo passivo por força da decisão de index 773 (desconsideração da personalidade
jurídica). Autora (credora) e Espólio de Elias se manifestaram contrariamente
(indexadores 1577 e 1586).
Pronunciou-se a sociedade de advogados credora requerendo a manutenção da
penhora sobre o imóvel Fazenda Primavera (matrícula nº 1016), com avaliação do
bem na sua integralidade (indexadores 1580, 1595 e 1601).
Enfim, em atendimento ao despacho de index 1634, as partes reafirmaram seus
pontos de vista (indexadores 1638,1641, 1649, 1662 e 1667).
Decido.
Em primeiro lugar examino o pedido formulado pelos anteriores patronos do autor
(Araripe e Advogados Associados) de reserva de honorários advocatícios
convencionais, conforme expressa estipulação no instrumento colacionado no index
1548.
Os honorários contratuais podem ser pagos diretamente ao patrono da causa, nos
próprios autos com dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, desde que
inexista litígio entre o advogado e o outorgante, e mediante a juntada do contrato
de prestação de serviços advocatícios, conforme determinam os artigos 22, § 4º, e
art. 24, § 1º, da Lei 8.906 /94.
Na hipótese, a parte autora ofereceu resistência à pretensão dos antigos
mandatários por entender que a pretensão deve ser deduzida através da via própria
(indexadores 1563 e 1577).
Com o devido respeito, quanto à reserva de crédito atinente a honorários
contratuais, para além da expressa discordância manifestada pela ex-cliente, a
pretensão encontra óbice na própria forma como foi acordado e cumprido o acordo
de index 1468, já que o débito confessado pelo Espólio devedor foi depositado em
conta bancária de titularidade do escritório que, atualmente, patrocina os interesses
da autora (index 1556).
Outrossim, a jurisprudência do STJ é firme no sentido de que não se admite a reserva
quanto aos honorários contratuais se há discordância entre o outorgante e o
advogado. O que, neste caso, é inconteste. Ainda conforme entendimento da citada
Corte, a medida também se mostra inadmissível quando o advogado já não
representa a parte. A propósito:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
EXECUÇÃO. RESERVA DE HONORÁRIOS. ADVOCATÍCIOS. ANTIGO PATRONO.
DESCABIMENTO. PODERES REVOGADOS. EXISTÊNCIA DE LITÍGIO. DIVERGÊNCIA
SOBRE SALDO DEVEDOR DO CONTRATO. CONSTITUIÇÃO DE NOVOS ADVOGADOS.
INAPLICABILIDADE DO ART. 22, § 4°, DA LEI Nº 8.906/1994. DECISÃO MANTIDA POR
SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO MANIFESTAMENTE INADMISSÍVEL.

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INCIDÊNCIA DA MULTA DO ART. 1.021, § 4º, DO NCPC. AGRAVO INTERNO NÃO
PROVIDO.
(...)
2. A reserva dos honorários contratuais em favor dos patronos, nos autos da
execução, é permitida mediante juntada do contrato de prestação de serviços
profissionais antes de expedir o mandado de levantamento ou precatório, desde que
inexista litígio entre o outorgante e o advogado.
3. Discordância das partes em relação aos honorários contratuais devidos em virtude
de pagamentos já realizados. Impossibilidade de reserva. Precedentes.
4. Não sendo a linha argumentativa apresentada capaz de evidenciar a inadequação
dos fundamentos invocados pela decisão agravada, o presente agravo não se revela
apto a alterar o conteúdo do julgado impugnado, devendo ele ser integralmente
mantido em seus próprios termos. (...)
6. Agravo interno não provido, com imposição de multa (AgInt no AREsp 1303840,
Relator Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, DATA DO JULGAMENTO
23/09/2019, DJe 26/09/2019).

AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL.


DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESERVA DE HONORÁRIOS. ART. 22, § 4º, DA LEI
Nº 8.906/94. ADVOGADO COM MANDATO REVOGADO. DIVERGÊNCIA.
IMPOSSIBILIDADE DE MANEJO DESSE INSTITUTO. PRECEDENTES DO STJ. 1. (...) 2.
Muito embora possível a reserva dos honorários nos próprios autos - art. 22, § 4º, da
Lei nº 8.906/94, tal medida é incabível na hipótese de o advogado não mais
representar a parte. Precedentes do STJ.
3. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. (AgInt nos EDcl no REsp 1744530/RS, RELATOR
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, DATA DO
JULGAMENTO 17/06/2019, DJe 25/06/2019).

Nesse contexto, inviável a reserva de honorários convencionados entre a parte e seu


ex-patrono, que deverá exigir o que entender de direito em ação própria.
No mais, pretendem os patronos a execução dos honorários de sucumbência
arbitrados na fase de conhecimento e aqueles fixados na fase de liquidação do título
executivo. No que têm plena e total razão.

Sob o patrocínio dos advogados integrantes do escritório Araripe e Advogados


Associados a parte autora ingressou com a presente ação em abril/2000
(indexadores 01/02), alcançando êxito parcial na sentença de index 336. Os mesmos
advogados interpuseram recurso de apelação, no interesse da autora (index 364), à
qual foi dado parcial provimento, nos termos do acórdão de index 434, que fixou
"verba honorária de 20% sobre o valor total da condenação".

Seguiram os mencionados causídicos atuando na defesa da parte autora durante


toda a fase de liquidação da sentença (index 571), ultimada com a fixação de
honorários advocatícios no valor de R$ 20.000,00 (index 577); na instauração da fase
de cumprimento da sentença (indexadores 599 e 713) e no incidente de
desconsideração personalidade jurídica da empresa devedora (index 773), até que
em agosto de 2011 substabeleceram com reservas, em favor de H. B. Cavalcanti e
Mazzillo Advogados, os poderes que lhe foram outorgados pela autora (indexadores
888/891).

Por fim, em junho/2020, a autora constituiu novos patronos nos autos (Fernando
Pires Advogados - index 1388), conforme instrumento de mandato de index 1389.

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E meses após firmou acordo com Espólio de Elias do Nascimento, na qualidade de


codevedor (index 001468), homologado por sentença (index 1487).

Dito acordo foi entabulado entre as mencionadas partes e os advogados


devidamente constituídos nos autos que, à época, patrocinavam seus interesses.

E ainda que exista cláusula dispondo genericamente acerca do pagamento de


honorários advocatícios, tal não viola direito de terceiro, tampouco dos advogados
que tenham atuado anteriormente em favor de quaisquer das partes. Com efeito, os
transatores dispuseram, exclusivamente, sobre direito de sua titularidade. O acordo
é válido, surte seus jurídicos e legais efeitos, exclusivamente quanto às partes e os
atuais patronos. O que, aliás, foi ressaltado na sentença homologatória lançada no
indexador 1487.

Portanto, o crédito relativo aos honorários de sucumbência e aqueles arbitrados na


liquidação pertencem, exclusivamente, aos antigos patronos integrantes do
escritório requerente, únicos credores e, portanto, legitimados a exigir o pagamento
em face dos vencidos (todos os réus). Os quais não podem invocar contra os reais
credores acordo firmado com terceiro. Assim, determino o prosseguimento da
execução no que concerne aos honorários sucumbenciais, pelo valor indicado pelo
credor (fl. 1498), em face de todos os devedores (réus). Mantenho as penhoras
deferidas à fl. 1415 à fl. 1439. Lavrem-se termos e expeçam-se as necessárias
certidões para fins de averbação, caso tais medidas não tenham sido adotadas
ainda. E expeça-se carta precatória para avaliação dos imóveis. Cadastre-se o
requerente na qualidade de interessado.
Certifique a serventia se o ESPÓLIO de MARCOS AURELIO ROQUE BRUNET foi
regulamente intimado, na pessoa do inventariante, para ciência de todo o
processado e regularização da representação processual (indexadores 1372 e 1439).
Em caso negativo, aos interessados para indicação de endereço atualizado.
O credor (autor) para correção da planilha (anexo 1564), excluindo os valores
correspondentes aos honorários de sucumbência (fase de conhecimento e da
liquidação), os quais, como já decidido, não pertencem à parte, tampouco aos atuais
patronos.
Após, considerando que após sua inclusão no polo passivo (index 773), o sócio
ROGERIO EDUARDO SCHMITT ainda não foi localizado (indexadores 1372 e 1374),
renove-se a tentativa de intimação do referido devedor (index 1439), como requerido
(index 1638), para pagamento do saldo devedor, incluindo a verba de sucumbência
executada (fl. 1498). Int. Rio de Janeiro, 04/04/2023.”

O Espólio de ELIAS DO NASCIMENTO opôs embargos de declaração


(índice 001696), rejeitados na decisão de índice 001755, nos seguintes termos:

“Recebo os embargos de index 1696, pois tempestivos (index 1720), mas deixo de
acolhê-los.
Os embargos de declaração se prestam a suprir omissões, eliminar contradições,
afastar obscuridades ou à correção de erro material. Ocorre que a decisão de index
1670 não padece de qualquer vício, conforme invocado pelo embargante. Aliás, da
própria argumentação desenvolvida, percebe-se que compreendeu bem o sentido e
alcance da decisão.
Cumpre ressaltar que, por ora, não há excesso de penhora a ser expurgado. Veja-se
que o crédito dos antigos patronos da parte autora ultrapassam a cifra de R$

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3.500.000,00. E somente haveria de se cancelar a penhora sobre o imóvel matrícula nº
1258 (Fazenda Santa Paulina e Casal), em caso de expresso requerimento do credor ou
manifesta concordância. O que não resta configurado na espécie.
Em verdade, resta claro dos argumentos deduzidos pelo embargante, que o que
pretende mesmo é que este juízo reexamine a questão enfrentada, alterando a
convicção já extraída, para firmá-la de acordo com o entendimento da parte
inconformada. Logo, o que persegue é a reabertura do debate de questão já
enfrentada e decidida, por discordar do entendimento firmado por este juízo.
Ocorre que os embargos não se prestam a essa finalidade.
Mantenho a decisão de index 1670, tal como lançada.
Intimem-se. Rio de Janeiro, 24/01/2024.

Inconformado, o Espólio de ELIAS DO NASCIMENTO


representado por seu inventariante ELIAS DO NASCIMENTO
JÚNIOR interpôs AGRAVO DE INSTRUMENTO, alegando, em
síntese: 1) que interpõe este agravo de instrumento em face da decisão que
determinou o “prosseguimento da execução no que concerne aos honorários
sucumbenciais, pelo valor indicado pelo credor (fl. 1498), em face de todos
os devedores (réus)” (fls. 1673 – doc. 05); 2) que a referida decisão foi proferida no
âmbito de requerimento de cumprimento definitivo de sentença apresentado pela
sociedade de advogados agravada quanto aos honorários advocatícios estipulados na
fase de conhecimento e de liquidação do Processo nº 0053345-73.2000.8.19.0001; 3)
que ao assim proceder, a r. decisão agravada deixou de atentar para o fato de já ter
transcorrido mais de uma década desde a última sequência de atos executórios
promovidos pelo exequente, atraindo a incontestável prescrição intercorrente do
crédito exequendo; 3) que com o trânsito em julgado das decisões que fixaram os
honorários advocatícios postulados pela agravada, houve a substituição do escritório de
advocacia que patrocinava o cumprimento de sentença, em 2011 (cf. fls. 888/892, doc.
06); 4) que a partir deste momento não houve qualquer impulsionamento da execução
quanto ao crédito dos honorários, que é crédito absolutamente distinto da condenação
principal, como fez questão de pontuar o exequente (fls. 1.496, doc. 04 e fls. 1.733); 5)
que ao determinar o prosseguimento da execução, quando deveria tê-la extinguido em
razão da patente prescrição intercorrente, a r. decisão agravada acabou por
desconsiderar o quanto disposto no art. 25, II, do Estatuto da Advocacia, o qual prevê o
prazo prescricional quinquenal para a cobrança de honorários de advogado, sendo esse,
consequentemente, o prazo de prescrição intercorrente; 6) que a r. decisão agravada
desconsiderou a manifesta ilegitimidade da ARARIPE E ASSOCIADOS para reivindicar
honorários de sucumbência, os quais são direito autônomo do advogado, e não da
sociedade; 7) que consoante o art. 15, § 3°, do Estatuto da Advocacia e a jurisprudência
do STJ, não pode a sociedade de advogados requerer honorários advocatícios em nome
próprio quando a procuração concedida aos advogados não a menciona; 8) que diante
da manifesta ilegitimidade passiva do agravante, não pode o cumprimento de sentença
prosseguir em relação ao ESPÓLIO DE ELIAS DO NASCIMENTO, tendo em vista que não
se encontram preenchidos os requisitos autorizadores da desconsideração da
personalidade jurídica, nos termos do art. 50 do Código Civil; 9) que o acordo
formalizado entre as partes, e que colocou fim ao litígio, englobou todo o crédito
exequendo, inclusive os honorários de sucumbência sobre os quais recai a pretensão
satisfativa, estabelecendo de forma clara que “cada parte arcará com os honorários

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advocatícios de seus respectivos patronos e as custas judiciais já despendidas” (cláusula


10ª – fls. 1.470, doc. 07); 10) que em que pese a sociedade de advogados, ora agravada,
não ter feito parte do acordo, certo é que o devedor do seu crédito passou a ser a BSN
COMÉRCIO e não a BSN VEÍCULOS, ré na ação principal, e muito menos o ESPÓLIO DE
ELIAS DO NASCIMENTO, para quem foi redirecionado equivocadamente o cumprimento
de sentença. Logo, a decisão agravada também pecou ao determinar o prosseguimento
da execução contra parte ilegítima, por força de acordo homologado nestes mesmos
autos e que são de ciência do exequente; 11) que considerando que (a) a pretensão de
cobrança dos honorários advocatícios encontra-se inequivocamente prescrita; (b) a
sociedade agravada é manifestamente ilegítima para pleiteá-los; (c) o espólio agravante
carece de legitimidade passiva; e (d) a obrigação é claramente inexigível, ante o acordo
celebrado entre as partes, merece reforma a r. decisão agravada, a fim de que se
reconheça a inexistência de obrigação do agravante ao pagamento dos honorários de
sucumbência; 12) que a decisão que fixou os honorários de sucumbência na ação
principal transitou em julgado em 13/04/2004, conforme certidão de fls. 423, e a que
fixou os honorários de sucumbência no processo de liquidação de sentença transitou
em julgado em 30/11/06, conforme certidão de fls. 552; 13) que em 22/11/06, a BSN
COMÉRCIO, autora da ação, peticionou nos autos do processo requerendo a intimação
da ré para o pagamento da condenação principal, bem como dos honorários
advocatícios (fls. 553/554); 13) que, na sequência, em agosto de 2011, a BSN COMÉRCIO
substituiu a sua representação no processo, conferindo poderes ao escritório H. B
CAVALCANTI E MAZZILLO ASSOCIADOS (fls. 906); 14) que a partir desse momento não
houve qualquer requerimento quanto ao crédito da sociedade de advogados, ora
exequente, até o seu extemporâneo requerimento de reserva de honorários,
apresentado quase 10 anos depois (fls. 1.495/1.499); 15) que não há que se falar em
impedimento do curso do prazo prescricional, porquanto (i) o escritório H. B
CAVALCANTI E MAZZILLO ASSOCIADOS não tinha, como não tem, poderes para executar
o crédito de honorários de sucumbência, que pertencem aos advogados do escritório
ARARIPE E ASSOCIADOS; e, (ii) nos termos do art. 204 do Código Civil, “a interrupção da
prescrição por um credor não aproveita os outros (...)”; 16) que no presente caso, em
que a parte autora postulou o pagamento da condenação pelos réus, a interrupção da
prescrição limita-se à BSN COMÉRCIO, credora que a deflagrou, não aproveitando os
advogados titulares dos honorários de sucumbência; 17) que aplicando-se à hipótese o
prazo prescricional quinquenal, cuja fluência se iniciou com o trânsito em julgado das
decisões em que as verbas foram arbitradas ― quais sejam, 13/04/2004 e 30/11/06 ―,
a prescrição da pretensão executiva se consumou em 13/04/2009 e 30/11/11, portanto,
há mais de 10 anos; 18) que a r. decisão agravada, ao determinar o prosseguimento do
cumprimento de sentença, também se equivocou diante das manifestas ilegitimidade
ativa da sociedade agravada e ilegitimidade passiva do espólio agravante, eis que a
sociedade não possui legitimidade para reivindicar honorários de sucumbência, os quais
são caracterizados como direito autônomo do advogado e não da sociedade; a
mencionada sociedade de advogados é parte completamente alheia à presente causa;
19) que a procuração anexada à petição inicial pela BSN COMÉRCIO nomeia e constitui
como procuradores tão somente os advogados Luiz de Alencar Araripe Junior,
Alexsandra Alves Cavalcante da Silva, Hissao Arita e Fernanda da Cunha Paranhos, sem
qualquer referência à SOCIEDADE ARARIPE E ASSOCIADOS; 20) que não pode o
cumprimento de sentença prosseguir em relação ao ESPÓLIO DE ELIAS DO
NASCIMENTO, tendo ele se retirado da sociedade antes mesmo do início do processo;

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21) que em 1999, a sua posição de sócio na empresa foi legitimamente sucedida pelos
dois sócios remanescentes, os quais absorveram igualmente suas quotas e,
consequentemente, suas responsabilidades financeiras com ações pendentes (fls. 736);
22) que reputa-se absolutamente ilícito o redirecionamento ao ex-sócio, diante da sua
retirada regular da sociedade; 23) que não se diga que (i) os sócios são laranjas; ou (ii)
houve “gestão fraudulenta” supostamente caracterizada pela “inexistência de bens para
garantir as dívidas assumidas pela pessoa jurídica” (cf. fls. 682); 24) que fica evidente
que (a) houve retirada regular do sócio antes de o processo se iniciar; (b) a
responsabilidade que se atinge pela desconsideração da personalidade jurídica é do
sócio, não do ex-sócio, nem do administrador; e (c) não houve apreciação da
qualificação da fraude, a autorizar a desconsideração da personalidade jurídica; 25) que
todos esses elementos olvidados na avaliação da ilegitimidade passiva podem ser
conhecidos a qualquer tempo, uma vez que configuram questões de ordem pública, e
impõem a extinção do processo em relação ao agravante; 26) que o acordo celebrado
entre a autora da ação, BSN COMÉRCIO, e o ESPÓLIO DE ELIAS DO NASCIMENTO,
devidamente representados por seus advogados, abrangeu todos os valores em disputa,
inclusive os honorários advocatícios a serem pagos pela parte vencida, os quais foram
objeto de quitação (fls. 1.468/1.471); 27) que o acordo em questão estabeleceu
expressamente que cada parte ficaria responsável pelo pagamento dos honorários
advocatícios de seus respectivos patronos (fls. 1.468/1.471); 28) que a. r. sentença
transitada em julgado condenou a BSN VEÍCULOS ao pagamento de indenização que, a
apurada em fase de liquidação, alcançou o montante total de R$ 2.949.663,75; 29) que
nesse valor foram compreendidos tanto a condenação principal quanto os honorários
de sucumbência, fixados em 20% (cf. fls. 513/517); 30) que ao propor a execução de
seus honorários, a agravada calculou seus honorários, sobre o valor total, obtido em
liquidação, e não sobre a condenação principal; 31) que requer a atribuição do efeito
suspensivo uma vez que a relevância da fundamentação é inequívoca: encontra-se
manifestamente prescrito o direito da agravada de postular o pagamento dos
honorários advocatícios. Não fosse suficiente, a sociedade agravada carece de
legitimidade para reivindicar honorários de sucumbência, os quais são caracterizados
como direito autônomo do advogado, e não da sociedade. Por fim, a obrigação não é
exigível uma vez que a transação celebrada é clara em estabelecer a responsabilidade
da BSN COMÉRCIO ao pagamento dos honorários de seus próprios advogados; 32) que
o periculum in mora também está presente, uma vez que, caso não sejam suspensos os
efeitos da r. decisão agravada, o agravante terá que arcar com o pagamento de
honorários advocatícios flagrantemente indevidos em montante superior a R$ 3
milhões, fato que lhe causaria evidente prejuízo; 33) que caso indeferida a suspensão,
do que se cogita apenas por argumentar, o agravante ficaria imediatamente suscetível
a quaisquer atos constritivos eventualmente deferidos na primeira instância; 34) que
não se verifica o periculum in mora inverso, uma vez que a agravada não será
prejudicada, já que se manteve inerte por mais de uma década até apresentar o
requerimento de pagamento dos honorários advocatícios, que ora se discute, e cujo
direito se encontra manifestamente prescrito.

Finaliza requerendo:

“...que, após deferido o efeito suspensivo postulado no capítulo


precedente, será conhecido e provido este agravo de instrumento, com a reforma da

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r. decisão agravada, a fim de que seja reconhecida a inexistência de obrigação do


agravante ao pagamento dos honorários de sucumbência pleiteados pela sociedade
agravada.”

É o relatório.

Conheço o recurso, eis que presentes os requisitos de admissibilidade.

Trata-se de Agravo de Instrumento COM pedido de concessão de efeito


suspensivo interposto por ESPÓLIO DE ELIAS DO NASCIMENTO REP/P/S/INV/ELIAS DO
NASCIMENTO JÚNIOR contra decisão do Juízo da 42ª Vara Cível da Comarca da Capital
nos autos da “AÇÃO ORDINÁRIA DE CONTRAFAÇÃO DE MARCA E NOME COMERCIAL”,
ajuizada por BSN COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES EM FACE DE BSN VEÍCULOS LTDA em
fase de cumprimento de sentença PARA COBRANÇA DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
que indeferiu o pedido feito por Araripe e Advogados Associados de reserva de
honorários advocatícios convencionais, bem como, determinou o prosseguimento da
execução no que concerne aos honorários sucumbenciais, pelo valor indicado pelo
credor (fl. 1498), em face de todos os devedores (réus). Manteve as penhoras deferidas
à fl. 1415 à fl. 1439. Determinou a lavratura dos termos e a expedição das necessárias
certidões para fins de averbação, caso tais medidas não tenham sido adotadas ainda. E
a expedição de carta precatória para avaliação dos imóveis, (índice 5, anexo 1 e Processo
nº 0053345-73.2000.8.19.0001)

O agravante, alega: a) prescrição intercorrente do crédito exequendo; b)


ilegitimidade da sociedade; c) ilegitimidade do Espólio para figurar no polo passivo,
além de d) impugnar os cálculos, ante o acordo celebrado entre as partes.

O juízo agravado considerou que:

“...Sob o patrocínio dos advogados integrantes do escritório Araripe e Advogados


Associados a parte autora ingressou com a presente ação em abril/2000
(indexadores 01/02), alcançando êxito parcial na sentença de index 336. Os mesmos
advogados interpuseram recurso de apelação, no interesse da autora (index 364), à
qual foi dado parcial provimento, nos termos do acórdão de index 434, que fixou
"verba honorária de 20% sobre o valor total da condenação". Seguiram os
mencionados causídicos atuando na defesa da parte autora durante toda a fase de
liquidação da sentença (index 571), ultimada com a fixação de honorários
advocatícios no valor de R$ 20.000,00 (index 577); na instauração da fase de
cumprimento da sentença (indexadores 599 e 713) e no incidente de desconsideração
personalidade jurídica da empresa devedora (index 773), até que em agosto de 2011
substabeleceram com reservas, em favor de H. B. Cavalcanti e Mazzillo Advogados,
os poderes que lhe foram outorgados pela autora (indexadores 888/891).

Por fim, em junho/2020, a autora constituiu novos patronos nos autos (Fernando
Pires Advogados - index 1388), conforme instrumento de mandato de index 1389.

E meses após firmou acordo com Espólio de Elias do Nascimento, na qualidade de


codevedor (index 001468), homologado por sentença (index 1487)

(JF) Agravo de Instrumento nº 0017121-02.2024.8.19.0000


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41
Com efeito, os transatores dispuseram, exclusivamente, sobre direito de sua
titularidade. O acordo é válido, surte seus jurídicos e legais efeitos, exclusivamente
quanto às partes e os atuais patronos. O que, aliás, foi ressaltado na sentença
homologatória lançada no indexador 1487.

Portanto, o crédito relativo aos honorários de sucumbência e aqueles arbitrados na


liquidação pertencem, exclusivamente, aos antigos patronos integrantes do
escritório requerente, únicos credores e, portanto, legitimados a exigir o pagamento
em face dos vencidos (todos os réus). Os quais não podem invocar contra os reais
credores acordo firmado com terceiro.” (g.n.)”

Passo a apreciar o pedido de concessão do efeito suspensivo.

Sabe-se que, em regra, o agravo de instrumento não possui efeito


suspensivo. Assim, para sua concessão, ou para a antecipação da tutela recursal, é
necessária a observância da verossimilhança das alegações do agravante, somada ao
perigo de a decisão agravada resultar lesão de grave de difícil reparação, nos termos dos
artigos 995, § único e 1.019, I, do NCPC/2015.

Em outros termos, o efeito suspensivo, ou a antecipação da tutela


recursal, deve ser concedido quando da imediata produção de seus efeitos houver risco
de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade
de provimento do recurso.

Em Juízo de cognição sumária, entendo que não assiste razão ao


agravante no pedido de concessão do efeito suspensivo ao agravo.

Para melhor compreensão da questão, trago um resumo dos


acontecimentos dos autos principais.

Na origem se tratou de AÇÃO ORDINÁRIA DE CONTRAFAÇÃO DE MARCA


E NOME COMERCIAL COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA ajuizada por BSN
COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES EIRELI em face de BSN VEÍCULOS LTDA.

Esta demanda foi julgada parcialmente procedente (em 26/08/2022),


conforme sentença de índice 337 (fls. 333/340) para condenar a ré a abster-se de utilizar
a partícula `BSN" em seu nome comercial, a partir da publicação da sentença, sob pena
da imposição de multa diária de 200 (duzentos) salários-mínimos.

Em acórdão de índice 434, da Décima Terceira Câmara Cível,


Desembargador Antônio José Azevedo Pinto, considerou que no que tange às perdas e
danos propriamente ditos, aqui compreendidos os danos emergentes e os lucros
cessantes, nada há que não autorize o seu reconhecimento, até porque, conforme a
própria segunda apelante pretende, devem eles ser apurados em sede de liquidação
de sentença.

Dessarte, foi dado provimento ao apelo dos autores para fixar o


percentual apto a reparar o dano encontrado, podendo esse ser estabelecido em 1%
(um por cento) do faturamento bruto da empresa ré, primeira apelante, devido esse

(JF) Agravo de Instrumento nº 0017121-02.2024.8.19.0000


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42

percentual durante todo o tempo em que, indevidamente se utilizou de todo o acervo


de direito marcário aqui reconhecido como de propriedade exclusiva da segunda
apelante, incidindo, ainda, a verba honorária de 20% sobre o valor total da condenação.

Conforme pontuado pelo Juízo, seguiram os mencionados causídicos


atuando na defesa da parte autora durante toda a fase de liquidação da sentença (índice
571), ultimada com a fixação de honorários advocatícios no valor de R$ 20.000,00 (index
577); na instauração da fase de cumprimento da sentença (índices 599 e 713) e no
incidente de desconsideração personalidade jurídica da empresa devedora (índice 773),
até que em agosto de 2011, substabeleceram com reservas, em favor de H.
B. Cavalcanti e Mazzillo Advogados, os poderes que lhe foram outorgados pela autora
(indexadores 888/891). (índice 892).

No curso da fase de cumprimento de sentença a AUTORA/CREDORA BSN


COMERCIO E REPRESENTACOES LTDA firmou acordo (index 1468) com um dos réus,
Espólio de Elias do Nascimento (na qualidade de codevedor), homologado por sentença
(index 1487).

Na sequência, o escritório Araripe e Advogados Associados (antigos


patronos da demandante) atravessou petição (index 1495) pretendendo a reserva de
honorários contratuais em valor correspondente a 50% do total recebido pelo credor
por força do acordo firmado com o devedor Espólio de Elias do Nascimento.

A sociedade de advogados requerente alega


que são devidos honorários sucumbenciais arbitrados
na fase de conhecimento no percentual de 20% sobre a
condenação e aqueles fixados na fase de liquidação da
sentença, no valor certo de R$ 20.000,00, perfazendo R$
3.511.765,34, atualizados até 05/11/2020.

O Espólio de Elias apresentou comprovante afirmando que teria sido


cumprida a avença, e pediu o cancelamento da penhora sobre o imóvel (matrícula nº
1016 -Fazenda Primavera) e a extinção da execução instaurada em seu desfavor
(indexadores 1554/1556).

Contra o que se insurgiram os antigos patronos da credora (ARARIPE E


ADVOGADOS ASSOCIADOS) ao argumento de que a execução de honorários
sucumbenciais deve prosseguir em face de todos os devedores (index 1560).

Em petição, a sociedade de advogados credora (index 1568) requereu a


execução contra todos os sócios da executada, quais sejam, Espólio de Marcos Aurélio
Roque Brunet, Espólio de Elias do Nascimento e Rogério Schmitt, já incluídos no polo
passivo por força da decisão de index 773 (desconsideração da personalidade jurídica).
Autora (credora) e Espólio de Elias se manifestaram contrariamente (indexadores 1577
e 1586).

(JF) Agravo de Instrumento nº 0017121-02.2024.8.19.0000


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Diante disso foi proferida a decisão ora agravada que, em que pese
ter indeferido a reserva de honorários em favor da
ARARIPE E ADVOGADOS ASSOCIADOS, determinou o
prosseguimento da execução no que concerne aos
honorários sucumbenciais, pelo valor indicado pelo
credor (fl. 1498), em face de todos os devedores (réus).
Manteve as penhoras deferidas à fl. 1415 à fl. 1439. Determinou a lavratura dos termos
e a expedição das necessárias certidões para fins de averbação, caso tais medidas não
tivessem sido adotadas ainda.

Apenas o corréu Espólio de Elias do Nascimento agravou, sendo que NÃO


LHE ASSISTE RAZÃO NO PEDIDO DE CONCESSÃO DO EFEITO SUSPENSIVO, senão
vejamos:

Quanto à alegada prescrição.

Preliminarmente e de plano, afasta-se a preliminar de prescrição da


cobrança dos honorários devidos à SOCIEDADE ARARIPE E ADVOGADOS ASSOCIADOS,
eis que até junho de 2020, em razão do substabelecimento anteriormente feito COM
RESERVAS, em favor de H. B. Cavalcanti e Mazzillo Advogados, a autora permaneceu
devendo à SOCIEDADE ARARIPE E ADVOGADOS ASSOCIADOS pagamento dos
honorários.

Apenas em 2019 a autora constituiu novos patronos nos autos


(FERNANDO PIRES ADVOGADOS - index 1388), conforme instrumento de mandato de
index 1389. o referido escritório prestou serviços ao Espólio que permaneceu devendo
aos antigos advogados. (fls. 1389)

(JF) Agravo de Instrumento nº 0017121-02.2024.8.19.0000


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44

No entanto, o débito com os escritórios anteriores


permaneceu hígido, eis que não foi adimplido.

Com efeito, o Código de Ética e Disciplina da OAB assim dispõe:

“Art. 24. O substabelecimento do mandato, com reserva de poderes, é ato pessoal


do advogado da causa.

§ 1º O substabelecimento do mandato sem reservas de poderes exige o prévio e


inequívoco conhecimento do cliente.

§ 2º O substabelecido com reserva de poderes deve ajustar antecipadamente seus


honorários com o substabelecente.”

No mesmo sentido:

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


AÇÃO DE ARBITRAMENTO E COBRANÇA DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. VIOLAÇÃO
DO ART. 1.022 DO CPC/2015. NÃO OCORRÊNCIA. CONTRATO PARA ATUAÇÃO
PROCESSUAL COM PREVISÃO DE REMUNERAÇÃO EXCLUSIVAMENTE MEDIANTE
HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA. RESOLUÇÃO UNILATERAL DO MANDATO.
ARBITRAMENTO JUDICIAL. PRECEDENTES. ÍNDOLE IRRISÓRIA DO VALOR
ARBITRADO. PRECLUSÃO. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS 5 E 7/STJ.
EXECUÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS PROMOVIDA PELO
ADVOGADO SUBSTABELECIDO, COM RESERVA DE PODERES. ANUÊNCIA DO
PROCURADOR SUBSTABELECENTE. NECESSIDADE. PRECEDENTES. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO. 1. "A jurisprudência pacífica do STJ possui o entendimento no sentido
de que, nos contratos de prestação de serviços advocatícios com cláusula de
remuneração exclusivamente por verbas sucumbenciais, a rescisão unilateral do
contrato pelo cliente/contratante justifica o arbitramento judicial da verba
honorária pelo trabalho exercido pelo advogado até o momento da rescisão
contratual" (AgInt no AREsp 1.560.257/PB, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 20/4/2020, DJe de 23/4/2020). 2. Na hipótese, o
Tribunal a quo, após o exame acurado dos autos, das provas, dos documentos, da
natureza da avença e da interpretação das cláusulas contratuais, concluiu que se
operou a preclusão temporal do poder de o credor do título discutir o percentual
arbitrado de 5%. E, quanto à legitimidade para cobrá-lo, nos moldes do art. 26 da Lei
8.906/94, condicionou-a à anuência do advogado substabelecido. 3. A modificação
da conclusão do Tribunal de origem demandaria o revolvimento do suporte fático-
probatório dos autos, além da necessidade de interpretação de cláusulas
contratuais, o que é inviável em sede de recurso especial, a teor do que dispõem as
Súmulas 5 e 7/STJ. 4. "O art. 26 da Lei n. 8.906/94 é claro em vedar qualquer cobrança
de honorários advocatícios por parte do advogado substabelecido, com reserva de
poderes, sem a anuência do procurador substabelecente. Incide, portanto, a clássica
a regra de hermenêutica, segundo a qual onde a lei não distingue, não pode o
intérprete distinguir" (REsp 1.068.355/PR, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA
TURMA, julgado em 15/10/2013, DJe de 6/12/2013). 5. Agravo interno desprovido.

(JF) Agravo de Instrumento nº 0017121-02.2024.8.19.0000


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45
(STJ - AgInt no AREsp: 1744694 SC 2020/0208121-9, Data de Julgamento:
14/11/2022, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 24/11/2022)

RECURSO ESPECIAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. ADVOGADO SUBSTABELECIDO


COM RESERVA DE PODERES. COBRANÇA DE HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. NÃO
CABIMENTO. AUSÊNCIA DE INTERVENÇÃO DO SUBSTABELECENTE. 1. A cláusula que
estipula reserva de poderes inserida em substabelecimento aponta para a
circunstância de que os honorários advocatícios são devidos, em regra, ao
substabelecente, nos termos do art. 26 da Lei nº 8.906/1994. Qualquer insurgência
do substabelecido, em virtude de sua atuação profissional, deve ser solucionada na
via própria, diante da natureza pessoal da relação jurídica entre ambos. 2. O
advogado que atua no processo de conhecimento como substabelecido, com reserva
de poderes, não possui legitimidade para postular, sem a intervenção do
substabelecente, os honorários de sucumbência, ainda que tenha firmado contrato
de prestação de serviços com o vencedor da ação na fase de cumprimento da
sentença. 3. Recurso especial provido. (STJ - REsp: 1214790 SP 2010/0169755-5,
Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 14/04/2015,
T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 23/04/2015)

Portanto, cediço que os honorários são devidos aos advogados do


escritório ARARIPE, eis que o substabelecimento mencionado pelo Espólio Apelante,
efetuado para a sociedade H. B. Cavalcanti e Mazzillo Advogados, se deu COM
RESERVAS.

Da alegada ilegitimidade da ARARIPE E ADVOGADOS ASSOCIADOS


agravada.

No que se refere à ilegitimidade da sociedade, tampouco assiste razão


ao Espólio, senão vejamos o que dispõe o art. 15, caput e § 3º do estatuto da OAB (Lei
8906/94) e a jurisprudência do STJ:

Art. 15. Os advogados podem reunir-se em sociedade simples de prestação de serviços


de advocacia ou constituir sociedade unipessoal de advocacia, na forma disciplinada
nesta Lei e no regulamento geral. (Redação dada pela Lei nº 13.247, de 2016)

§ 3º As procurações devem ser outorgadas individualmente aos advogados e indicar


a sociedade de que façam parte.

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC.


EXECUÇÃO DE CONTRATO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. EXCEÇÃO DE PRÉ-
EXECUTIVIDADE. OMISSÃO. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 1.022
DO NCPC. LEGITIMIDADE DE PARTE DA SOCIEDADE DE ADVOCACIA. EXPRESSA CESSÃO
DE CRÉDITO QUE SE OPEROU ENTRE ADVOGADO E A SOCIEDADE DE ADVOCACIA.
CLÁUSULA CONTRATUAL QUE A PREVIU. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DA SOCIEDADE
QUANDO DA PROCURAÇÃO QUE NÃO IMPEDE O LEVANTAMENTO DA VERBA POR
ESTA. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. 1. Aplica-se o NCPC a este recurso ante os
termos do Enunciado Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de
9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões
publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de
admissibilidade recursal na forma do novo CPC. 2. Inexiste omissão, vício elencado nos
arts. 489 e 1.022 do NCPC, sendo forçoso reconhecer que a pretensão recursal

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ostentava caráter nitidamente infringente, visando rediscutir matéria que já havia sido
analisada pelo acórdão vergastado. 3. É parte legitima para cobrar honorários
contratuais a Sociedade de Advocacia que, apesar de não constar do instrumento de
mandato, obtém a titularidade do crédito por força de legítima e válida cessão de
crédito operada no momento em que a advogada cedente e titular originária do
crédito, passa a integrar o quadro societário daquela Sociedade. Doutrina e
Jurisprudência. 4. Recurso especial não provido.
(STJ - REsp: 2004335 SP 2021/0215002-9, Data de Julgamento: 09/08/2022, T3 -
TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 18/08/2022)

Por esta razão, forçoso concluir que, nos termos do art. 85, § 15 do CPC,
pode a sociedade de advogados requerer que o pagamento dos
honorários que lhe são devidos seja efetuado em favor de advogados que
a integram na qualidade de sócios.

A seguir (fls. 906 – índice 891)

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Não se olvide tampouco, a existência de contrato de prestação de


serviços jurídicos entre a Autora (BSN COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES LTDA.) e o
referido Escritório Araripe & Associados, de índice 1544, a seguir:

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(...)

Destarte, não há que se falar em ilegitimidade da sociedade para pleitear


seus honorários, eis que perfeitamente devidos tanto em razão do serviço prestado,
quanto em razão do contrato de honorários e do substabelecimento com reservas.

Quanto à alegada ilegitimidade do agravante ESPÓLIO DE ELIAS DO


NASCIMENTO.

Tampouco merecem amparo as alegações do Espólio no sentido de que


“o acordo celebrado entre a autora da ação, BSN COMÉRCIO, e o ESPÓLIO DE ELIAS DO
NASCIMENTO, devidamente representados por seus advogados, abrangeu todos os
valores em disputa, inclusive os honorários advocatícios a serem pagos pela parte
vencida, os quais foram objeto de quitação (fls. 1.468/1.471)”, sendo certo que
analisando a avença verifica-se exatamente o contrário, como se destaca, parcialmente,
nas seguintes cláusulas abaixo colacionadas:

(JF) Agravo de Instrumento nº 0017121-02.2024.8.19.0000


17
49

(...)

Outrossim, não há de se falar em ilegitimidade do Espólio, em razão da


retirada do sócio em 1999, sendo indevido o redirecionamento, considerando que o
próprio Espólio prosseguiu na demanda, representado por ELIAS DO NASCIMENTO
JÚNIOR assinando a transação com a BSN COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES EIRELLI em
15/12/2020, a seguir:

Ainda conforme narrado pela sociedade devidamente representada por


seu sócio LUIZ DE ALENCAR ARARIPE JÚNIOR, em índice 1494, os Advogados
anteriormente constituídos representaram a Autora/Exequente (BSN COMÉRCIO E
REPRESENTAÇÕES LTDA) desde a distribuição do feito em face de BSN VEÍCULUS,

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fazendo jus, portanto, aos honorários advocatícios sucumbenciais estipulados nestes


autos, tanto na fase de conhecimento, quanto na fase de liquidação, como dispõe o
art. 23, da Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994 –Estatuto da Advocacia e a Ordem dos
Advogados do Brasil, in verbis:

“Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou


sucumbência, pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para
executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório,
quando necessário, seja expedido em seu favor.” (grifos nossos)

No tocante à impugnação aos cálculos, ante o acordo celebrado entre


as partes.

Ainda como narrado pela Sociedade, a decisão que fixou os honorários


sucumbenciais em 20% (vinte por cento) da condenação – condenação esta que foi
estipulada em 1% (um por cento) do faturamento bruto da empresa Ré/Executada,
devido durante todo o tempo em que se utilizou do acervo de direito marcário
reconhecido como de propriedade exclusiva da Autora/Exequente (acórdão de fls.
418/421 – índice 1529), já transitou em julgado (certidões de fls. 422 e 422, verso -
índice 1535), assim como transitada em julgado está a decisão de fls. 535/537, que fixou
em R$20.000,00 (vinte mil reais) os honorários advocatícios devidos a estes causídicos
em razão da liquidação de sentença (doc. 6).

Tampouco merece ser sobrestada a decisão, eis que como visto, os


transatores dispuseram, exclusivamente, sobre direito de sua titularidade. fls.
1.468/1.471.

Em juízo de cognição sumária, nos parece que o Juízo decidiu de forma


correta, eis que, o acordo é válido, surte seus jurídicos e legais efeitos, exclusivamente
quanto às partes e os atuais patronos. O que, aliás, foi ressaltado na sentença
homologatória lançada no indexador 1487.

Portanto, acertada a conclusão de que “o crédito relativo aos honorários


de sucumbência e aqueles arbitrados na liquidação pertencem, exclusivamente, aos
antigos patronos integrantes do escritório requerente, únicos credores e, portanto,
legitimados a exigir o pagamento em face dos vencidos (todos os réus). Os quais não
podem invocar contra os reais credores acordo firmado com terceiro.”

Dessarte, ao menos em juízo não exauriente, nenhum reparo merece a


decisão que determinou o prosseguimento da execução no que concerne aos honorários
sucumbenciais, pelo valor indicado pelo credor (fl. 1498), em face de todos os devedores
(réus), devendo ser mantidas as penhoras deferidas à fl. 1415 à fl. 1439.

Diante do exposto, NEGO O PEDIDO DE CONCESSÃO DO EFEITO


SUSPENSIVO PRETENDIDO PELO ESPÓLIO RÉU (artigo 1.019, I, CPC/15).

Expeça-se ofício ao Juiz da causa comunicando a decisão nos termos


acima (art. 1.019, I, CPC).

(JF) Agravo de Instrumento nº 0017121-02.2024.8.19.0000


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INTIMEM-SE OS AGRAVADOS E DEMAIS INTERESSADOS PARA


RESPOSTA (ART. 1.019, II, CPC);

Após, venham conclusos.

Rio de Janeiro, na data da assinatura eletrônica.

DESEMBARGADOR JUAREZ FERNANDES FOLHES RELATOR

(JF) Agravo de Instrumento nº 0017121-02.2024.8.19.0000

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