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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA 1

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Quarta Câmara Cível

Classe : Apelação n.º 0308489-81.2013.8.05.0001


Foro de Origem : Salvador
Órgão : Quarta Câmara Cível
Relator : Des. Roberto Maynard Frank
Apelante : Banco Bradesco S/A
Advogado : Ainara Ribeiro da Silva (OAB: 46052/BA)
Apelado : Almir Lopes Araújo
Advogado : Manuela Gonzalez Araujo (OAB: 26753/BA)

Assunto : Prescrição e Decadência


APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO.
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. DESÍDIA DO
AUTOR EM PROMOVER A CITAÇÃO DO DEVEDOR,
CONSOANTE PRECONIZA O ARTIGO 219 DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL DE 1973. HONORÁRIOS
SUCUMBENCIAIS. ALTERAÇÃO DO PARÂMETRO DE
FIXAÇÃO EM OBSERVÂNCIA AO DISPOSTO NO ARTIGO
20, PARÁGRAFO QUARTO, DO DIPLOMA
PROCESSUALISTA VIGENTE À ÉPOCA. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos da Apelação n.º
0308489-81.2013.8.05.0001 da Comarca de Salvador, na qual figura como Apelante Banco
Bradesco S/A e Apelado Almir Lopes Araújo.
Acordam os Desembargadores integrantes da Quarta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça da Bahia, à unanimidade de votos, em conhecer e dar provimento
parcial ao recurso, pelas razões alinhadas no voto do relator.

Sala de Sessões, em 27 de novembro de 2020.

Presidente

Des. Roberto Maynard Frank


Relator

Procurador(a) De Justiça

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Quarta Câmara Cível

Classe : Apelação n.º 0308489-81.2013.8.05.0001


Foro de Origem : Salvador
Órgão : Quarta Câmara Cível
Relator : Des. Roberto Maynard Frank
Apelante : Banco Bradesco S/A
Advogado : Ainara Ribeiro da Silva (OAB: 46052/BA)
Apelado : Almir Lopes Araújo
Advogado : Manuela Gonzalez Araujo (OAB: 26753/BA)

Assunto : Prescrição e Decadência

RELATÓRIO
Trata-se de apelação cível interposta contra sentença proferida pelo Juízo da
5ª Vara de Relações de Consumo da Comarca de Salvador que, nos autos de Embargos à
Execução opostos por Almir Lopes Araújo em face de Banco Bradesco S/A, reconheceu a
prescrição da pretensão punitiva perante o Embargante, condenando o Embargado no
pagamento das custas processuais e honorários advocatícios no percentual de 10% (dez por
cento) do valor do débito.
Irresignado, o banco interpôs recurso vertical às fls. 161/165, sustentando a
inocorrência de prescrição, visto que a ação fora ajuizada dentro do prazo trienal previsto em
lei.
Assevera que não é a inércia momentânea que a lei pune com prescrição,
mas sim a inércia prolongada, fruto da negligência do titular do direito.
Ressalta ainda que o insucesso na localização do devedor não pode ser
atribuído ao credor.
Pugna, em desfecho, pelo conhecimento e provimento do recurso, a fim que
a sentença primeva seja reformada, afastando-se a prescrição. Em caráter eventual, pleiteia a
alteração do parâmetro de fixação dos honorários sucumbenciais.
Nas contrarrazões carreadas aos autos, o Embargante rechaça as assertivas
do Apelante e pleiteia o improvimento do recurso.
Distribuídos os autos a esta Superior Instância, coube-me o encargo de
relator.
É o relatório. Peço pauta.

Salvador, 07 de julho de 2020.

Des. Roberto Maynard Frank


Relator
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VOTO
Verificada a presença dos pressupostos extrínsecos e intrínsecos de
admissibilidade à luz do Código de Processo Civil de 1973, conheço o recurso.
Cuida-se de apelação cível interposta contra sentença proferida pelo Juízo da
5ª Vara de Relações de Consumo da Comarca de Salvador, nos autos de Embargos à
Execução, reconheceu a prescrição da pretensão punitiva perante o Embargante, condenando o
Embargado no pagamento das custas processuais e honorários advocatícios no percentual de
10% (dez por cento) do valor do débito.
De plano, cumpre informar que insurgência do Apelante não merece
acolhimento.
É cediço que a interrupção da prescrição se opera com o despacho que
ordena a citação, retroagindo à data da propositura da ação.
Patente ainda que a interrupção só ocorre quando a parte promove a citação
do réu nos 10 (dez) dias subsequentes ao despacho que a ordena.
Eis a redação dos dispositivos processuais vigentes à época dos fatos:

Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência


e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz
incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a
prescrição.(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
§ 1oA interrupção da prescrição retroagirá à data da propositura da
ação.(Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
§ 2oIncumbe à parte promover a citação do réu nos 10 (dez) dias
subseqüentes ao despacho que a ordenar, não ficando prejudicada
pela demora imputável exclusivamente ao serviço judiciário.
(Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
§ 3oNão sendo citado o réu, o juiz prorrogará o prazo até o máximo
de 90 (noventa) dias.(Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
§ 4oNão se efetuando a citação nos prazos mencionados nos
parágrafos antecedentes, haver-se-á por não interrompida a
prescrição.(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

No caos vertente, conquanto a ação principal tenha sido ajuizada


tempestivamente, o Acionante/Embargado deixou de promover a citação do devedor no prazo
legal.
Conforme consignado pelo juízo singular, no bojo do processo principal de

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número 0104536-16.2001.8.05.0001, às fls. 76 dos autos físicos e 110 dos autos digitais, o
Cartório certificou que a carta precatória de citação nem ao menos fora expedida, por desídia
do Autor, ora Embargado.
Ressalte-se que tal ocorrência sequer foi impugnada pelo banco, que se
limitou, em suas razões de recurso, a tecer linhas gerais sobre o instituto da prescrição.
Tampouco houve atribuição, pelo Apelante, de fato específico imputado
exclusivamente ao Judiciário que justificasse a demora.
Com efeito, o Recorrente apenas pontuou de forma genérica que a citação
demorou a ser efetivada, “apesar dos esforços empreendidos pelo Apelante e pelo próprio
Judiciário, por força dos trâmites judiciais, inclusive com a discussão sobre as Varas de
Defesa do Consumidor que afetaram substancialmente as execuções de Salvador.”
Ora, na afirmação sem dialética o próprio Embargado reconhece os esforços
do Judiciário para a realização do ato, deixando de apontar quais discussões sobre Varas de
Defesa do Consumidor teriam influído na delonga de sua realização e, ainda, o porquê e a
forma deste revérbero.
Dessarte, avulta o acerto do juízo singular ao reconhecer a prescrição frente
ao Embargante, porquanto a citação não fora promovida unicamente pela desídia do credor.
Nesse sentido:
APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.
CHEQUES. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTIVA.
CITAÇÃO TARDIA. INOBSERVÂNCIA DOS PRAZOS DO ART.
219, DO CPC/1973. SÚMULA N.º 106, DO STJ.
INAPLICABILIDADE. DESÍDIA DA PARTE EXEQUENTE.
COMPROVAÇÃO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Se a demora para a
citação do devedor provier unicamente da desídia do credor, o
transcurso do prazo prescricional ocorrido antes da triangularização
processual implica a prescrição da pretensão executiva. 2. Apelação
cível conhecida e não provida. (TJPR - 15ª C.Cível -
0013023-72.2012.8.16.0001 - Curitiba - Rel.: Desembargador Luiz
Carlos Gabardo - J. 11.09.2019) (TJ-PR - APL:
00130237220128160001 PR 0013023-72.2012.8.16.0001 (Acórdão),
Relator: Desembargador Luiz Carlos Gabardo, Data de Julgamento:
11/09/2019, 15ª Câmara Cível, Data de Publicação: 11/09/2019)

No tocante aos honorários sucumbenciais, impera o acolhimento dos


fundamentos do Apelante para determinar que sejam fixados por apreciação equitativa, em
observância ao quanto estatuído no artigo 20, §4º, do Código de Processo Civil de 1973, visto

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tratar-se de embargos à execução.


Assim, deverá o Embargado/Recorrente arcar os honorários em benefício do
patrono da parte adversa no valor de R$2.000,00 (dois mil reais).
Pelas razões expostas, o voto é no sentido de conhecer e dar provimento
parcial ao recurso, tão somente para alterar o critério de fixação dos honorários de
sucumbência, mantendo-se a sentença em seus demais termos.

Sala de Sessões, em 27 de novembro de 2020.

Des. Roberto Maynard Frank


Relator

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