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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2021.0000142889

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2151384-78.2020.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é agravante
COMPANHIA PAULISTA DE FORÇA E LUZ, é agravado ZURICH
SANTANDER BRASIL SEGUROS S/A..

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 24ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores JONIZE SACCHI


DE OLIVEIRA (Presidente sem voto), PLINIO NOVAES DE ANDRADE JÚNIOR
E WALTER BARONE.

São Paulo, 27 de fevereiro de 2021.

SALLES VIEIRA
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº: 37810


AGRV.Nº: 2151384-78.2020.8.26.0000
COMARCA: SÃO PAULO - FORO CENTRAL CÍVEL
AGTE.: COMPANHIA PAULISTA DE FORÇA E LUZ
AGDO.: ZURICH SANTANDER BRASIL SEGUROS S.A.
JUÍZA PROLATORA: MARCIA TESSITORE

“AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO REGRESSIVA DE


RESSARCIMENTO DE DANOS FASE DE CUMPRIMENTO
DEFINITIVO DE SENTENÇA IMPUGNAÇÃO - NULIDADE
DA CITAÇÃO ENDEREÇO DIVERSO PESSOA JURÍDICA -
Hipótese em que a agravante pretende a reforma da decisão que rejeitou
a impugnação ao cumprimento de sentença, e reconheceu a validade de
sua citação Fase de conhecimento julgada à revelia da agravante
Citação que é indispensável para a validade do processo Carta de
citação encaminhada para endereço onde empresa vinculada à
companhia recorrente não mais se situava publicamente há mais de três
meses Citação que não pode ser admitida em endereço diverso da
sede, filial ou sucursal do agravante Teoria da aparência que
pressupõe, para a validade da citação, que esta se concretize no local
onde situada a sede ou filial da pessoa jurídica Teoria afastada, na
hipótese Inaplicabilidade do art. 248, §2º, do NCPC - Nulidade da
citação reconhecida, bem como os atos processuais subsequentes,
determinando-se o prosseguimento do feito com vistas à parte requerida
para apresentação de defesa, em quinze dias, da data da intimação desta
decisão Impugnação acolhida, nos termos do art. 525, §1º, I, do
NCPC, com a imposição de ônus sucumbenciais - Inteligência do art.
85, §§s 1º e 8º, do NCPC e Súmula nº 519, do C.STJ Pedido de
afastamento de multa por litigância de má-fé prejudicado Decisão
agravada que não impôs tal penalidade - Decisão reformada Agravo
provido”.

Trata-se de agravo de instrumento interposto


em 02.07.2020, tirado de ação regressiva de ressarcimento de
danos, atualmente em fase de cumprimento definitivo de
sentença, em face da r. decisão publicada em 23.06.2020, a qual
rejeitou a impugnação apresentada pela ré, ora agravante,
reconhecendo a validade de sua citação no processo de
conhecimento, aplicando a teoria da aparência. Sustenta a
agravante, em síntese, que o endereço indicado na inicial da
ação não pertence a nenhuma agência da companhia, tão pouco se
refere à sua sede à época dos fatos, situada à Rua Engenheiro
Miguel Noel Nascentes Burnier, n° 1755, km 2,5, Campinas/SP,
CEP: 13088-90; local apto a receber as citações. Afirma que a
carta de citação foi endereçada à Rua Gomes de Carvalho, n°
1.510, Vila Olímpia/SP, recebida por pessoa desconhecida do
quadro de funcionários da empresa e totalmente estranha a lide.
Outrossim, afirma que, de fato, existia uma das empresas
vinculadas a CPFL no endereço supracitado. Todavia, conforme se
Agravo de Instrumento nº 2151384-78.2020.8.26.0000 -Voto nº 2
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verifica de ata de assembleia da CPFL Energia S.A. acostada aos


autos, houve alteração da sede social da CPFL Energia S.A. em
29.09.2017, data anterior à citação, ocorrida em 19.04.2018.
Aduz, portanto, que deve ser reconhecida a nulidade da citação,
nos termos do art. 525, §1º, do NCPC, afastando-se também a
imposição de multa por litigância de má-fé e reconhecida a
impugnação. Requer, por fim, a concessão de efeito suspensivo,
para determinar a suspensão da decisão agravada até final
julgamento do agravo.

Recurso processado com suspensividade (fls.


437/439).

Contraminuta da agravada às fls. 444/455,


pugnando pelo improvimento do recurso.

É o relatório.

Trata-se de agravo de instrumento tirado de


ação regressiva de ressarcimento de danos, atualmente em fase
de cumprimento de sentença, ajuizada pela ora agravada em face
da companhia ora agravante, a qual foi julgada procedente, à
revelia da agravante, para “condenar a ré a pagar a quantia de
R$5.336,10 (cinco mil trezentos e trinta e seis reais e dez
centavos), acrescidos de correção monetária e juros de 1% (um
por cento) ao mês.” (fls. 135/136 dos autos principais).

Iniciada a fase de cumprimento de sentença,


procedeu-se à intimação da agravante, por carta endereçada à
Rua Jorge de Figueiredo Correa, 1632, Campinas/SP, tendo nesta
oportunidade o AR sido recebido, conforme atesta o documento de
fls. 20 dos autos principais.

A agravante, então, apresentou impugnação ao


cumprimento de sentença, aduzindo, em síntese, a nulidade de
sua citação na fase de conhecimento, nos termos do art. 525,
§1º, do NCPC, vez que a carta de citação teria sido endereçada
para a Rua Gomes de Carvalho, 1510, conjunto 142, Vila Olímpia,
São Paulo/SP, local este em que já esteve estabelecida empresa
vinculada a si, qual seja, CPFL Energia S.A., mas que a mesma
alterou sua sede social em 29.09.2017, data anterior à citação,
o que acabou gerando sua revelia nos autos (fls. 21/23 dos
autos principais)

A MM. Juíza “a quo” rejeitou a impugnação


apresentada pela agravante, aplicando-se a teoria da aparência,
sob os seguintes fundamentos (fls. 125/126 dos autos
principais):

Agravo de Instrumento nº 2151384-78.2020.8.26.0000 -Voto nº 3


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“Vistos.

Trata-se de IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE


SENTENÇA oposto por CPFL em face de ZURICH
SANTANDER BRASIL SEGUROS S/A aduzindo, em
síntese, nulidade de citação na ação de
conhecimento, pois teria alterado sua sede em
29.09.2017 e a citação ocorrida em 19.04.2018.
Às fls. 114/120 veio resposta da impugnada.

É a síntese do essencial.

Decido.

A impugnação deve ser rejeitada.

A citação no processo de conhecimento fora


realizada por intermédio dos Correios, e
recebida no endereço no qual é sediada outra
empresa do mesmo grupo econômico, ressaltando-
se que no aviso de recebimento não há qualquer
ressalva.

Ressalte-se o documento de fls. 121/124


trazido pela Impugnada que demonstra o fato de
um dos conselheiros estar sediado naquele
endereço em que citada no processo de
conhecimento.

Deste modo aplica-se ao caso concreto a teoria


da aparência.

Sobre o tema:

AGRAVO DE INSTRUMENTO FORNECIMENTO DE


ENERGIAELÉTRICA SEGURO AÇÃO REGRESSIVA DE
RESSARCIMENTO DE DANOS EM FASE DECUMPRIMENTO
DE SENTENÇA Impugnação ofertada pela
concessionária de serviço público alegando
nulidade de citação Inocorrência Citação
realizada via correio, dirigida a
correspondência à pessoa jurídica correta e
recebida sem qualquer ressalva em endereço no
qualé sediada outra empresa do mesmo grupo
econômico Alteração posterior do endereço da
empresa que não invalida o ato Aplicação da
Teoria da Aparência Precedentes do C.
Superior Tribunal de Justiça e deste E.
Tribunal de Justiça Ausência de interesse
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recursal quanto à alegação de litigância de má-


fé Decisão mantida RECURSO NÃO
PROVIDO.(TJSP; Agravode Instrumento
2190977-51.2019.8.26.0000; Relator (a): Luis
Fernando Nishi; Órgão Julgador: 32ªCâmara de
Direito Privado; Foro Central Cível - 35ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 11/10/2019;Data de
Registro: 11/10/2019).

Assim, reputa-se regular a citação, de modo


que REJEITO a impugnação.

Nestes termos manifeste-se a credora em termos


de prosseguimento do feito.

No silêncio, aguarde-se por provocação em


arquivo.

Intimem-se.”

Contra esta r. decisão insurge-se o réu


executado, ora agravante.

Diz o art. 248, § 2º, do NCPC, que: “Sendo o


citando pessoa jurídica, será válida a entrega do mandado a
pessoa com poderes de gerência geral ou de administração ou,
ainda, a funcionário responsável pelo recebimento de
correspondências”.

Com efeito, referida teoria dispõe que, em se


tratando de pessoa jurídica, é considerada válida e eficaz,
para todos os efeitos e fins legais, a citação feita no
endereço do estabelecimento, na pessoa de funcionário da
empresa, ainda que não detenha poderes de representação.

Verifica-se, portanto, que a teoria da


aparência pressupõe, para a validade da citação, que esta se
concretize no local onde situada a sede ou filial da pessoa
jurídica.

Na hipótese, contudo, a carta de citação foi


encaminhada ao antigo endereço da sede de empresa
reconhecidamente vinculada à ré, ora agravante, qual seja, a
CPFL Energia S.A., situada na Rua Gomes de Carvalho, 1510,
conjunto 142, Vila Olímpia, São Paulo/SP.

Sucede que, conforme demonstra a ata de


assembleia geral extraordinária da citada empresa, realizada em
29.09.2017 e levada a registro junto à jucesp em 05.01.2018
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(fls. 85/109 dos autos principais), verifica-se que houve a


alteração do endereço da mesma para a Rodovia Engenheiro Miguel
Noel Nascentes Burnier, km 2,5, Parque São Quirino,
Campinas/SP.

A par disto, conforme demonstra o “comprovante


de inscrição e de situação cadastral” emitido pela Receita
Federal, a empresa agravante, Companhia Paulista de Força e
Luz, tem como endereço a rodovia supra referida desde, ao
menos, outubro de 2016, data em que emitido o mencionado
documento (fls. 110 dos autos principais).

Ou seja, desde 05.01.2018, tornou-se pública a


alteração de endereço da empresa vinculada à ré, qual seja,
CPFL Energia S.A., da Rua Gomes de Carvalho, 1510, conjunto
142, Vila Olímpia, São Paulo/SP.

A citação da ora recorrente, contudo, se deu


em 19.04.2018 (fls. 112 dos autos da ação de conhecimento) e,
conforme exposto alhures, não foi enviada a respectiva carta ao
endereço em comento.

Deste modo, quando enviado o AR para tal


endereço, em abril de 2018, a CPFL Energia S.A. já não mais
estava lá estabelecida há, pelo menos, três meses.

Ademais, conforme se denota do documento de


fls. 110 dos autos principais, a ora agravante já se localizava
na Rodovia Engenheiro Miguel Noel Nascentes Burnier, km 2,5,
Parque São Quirino, Campinas/SP, desde, ao menos, outubro de
2016, ou seja, um ano e meio antes do ato citatório.

Desta forma, tendo a carta de citação sido


encaminhada para endereço diverso da sede ou filiais da
agravante, de rigor o reconhecimento da nulidade de sua citação
na fase de conhecimento da ação, ficando prejudicados todos os
atos processuais a partir de então.

Ainda que a carta AR, endereçada à Rua Rua


Gomes de Carvalho, 1510, conjunto 142, São Paulo/SP, tenha sido
recebida por uma pessoa de nome “Dario”, em 19.04.2018, não há
como identificar que esta pessoa seja um funcionário da
recorrente, justamente porque a carta de citação foi
encaminhada para endereço diverso, não mais ocupado pela
agravante ou por empresa a ela vinculada.

Neste sentido, veja-se o entendimento do C.


STJ:

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“Execução. Embargos. Título judicial. Citação.


Cerceamento de defesa. Ilegitimidade passiva. Impossibilidade
jurídica do pedido. Coisa julgada. Precedentes da Corte. 1.
Precedentes da Corte há que assentam ter a jurisprudência
“oferecido temperamento quando se trate de citação de pessoas
jurídicas, admitindo a teoria da aparência, dando por válida a
citação feita na pessoa de quem, na sede, apresenta-se como
representante legal, recebendo a citação sem qualquer ressalva.
(EREsp nº 156.970/SP, Corte Especial, Relator o Ministro
Vicente Leal, DJ de 22/10/01)" (REsp nº 681.639/SC, Terceira
Turma, de minha relatoria, DJ de 12/9/05). (...)” (STJ; 3ª
Turma; REsp nº 676208/SC; Rel. Ministro Carlos Alberto Menezes
Direito; julgado em 13/02/2007).

“É válida a citação de pessoa jurídica por via


postal, quando implementada no endereço onde se encontra o
estabelecimento do réu, sendo desnecessário que a carta
citatória seja recebida e o aviso de recebimento assinado por
representante legal da empresa.” (STJ; 4ª Turma; REsp nº582.005-
BA; Rel. Ministro Fernando Gonçalves; Julgado em 18/032004).

O entendimento deste E. Tribunal de Justiça


não discrepa:

“PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. TELEFONIA. AÇÃO


DECLARATÓRIA CUMULADA COM INDENIZAÇÃO. CITAÇÃO DE PESSOA
JURÍDICA PELO CORREIO. CORRESPONDÊNCIA DIRIGIDA A ENDEREÇO
DIVERSO DA SEDE. IMPOSSIBILIDADE DE IDENTIFICAR A PESSOA QUE A
RECEBEU COMO REPRESENTANTE DA RÉ. VÍCIO CARACTERIZADO, A
COMPROMETER TODOS OS ATOS PROCESSUAIS POSTERIORES. ANULAÇÃO DO
PROCESSO "AB INITIO". RECURSO PREJUDICADO. A constatação de que
a correspondência de citação foi dirigida sem constar
expressamente o número da loja da demandada e foi recebida por
pessoa que não pode ser confirmada como seu representante, além
de ter sido encaminhada a endereço diverso daquele em que se
localiza a sede da pessoa jurídica, leva necessariamente ao
reconhecimento da nulidade do chamamento e enseja a anulação do
processo "ab initio", ficando prejudicados os atos praticados e
daí decorrentes” (TJSP; Apelação nº 1002971-78.2014.8.26.0606;
Rel. Antonio Rigolin; 31ª Câmara de Direito Privado; Julgado em
26/01/2016).

“Ação ordinária Impugnação ao cumprimento de


sentença Nulidade de citação Inaplicabilidade da teoria da
aparência Citação em pessoa jurídica diversa Citação não se deu
no endereço de nenhuma sucursal da empresa Recurso provido”
(TJSP; Agravo de Instrumento nº 2067443-12.2015.8.26.0000; Rel.
Eduardo Sá Pinto Sandeville; 6ª Câmara de Direito Privado;
Julgado em 12/08/2015).
Agravo de Instrumento nº 2151384-78.2020.8.26.0000 -Voto nº 7
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Acrescente-se, outrossim, que a agravada não


foi capaz de demonstrar, por qualquer meio de prova, que aquele
endereço por ela declinado na petição inicial, ou, ainda, onde
foi recebida a carta de citação, efetivamente tenha pertencido
à alguma sede ou filial da agravante.

Inaplicável, por conseguinte, a teoria da


aparência, sendo evidente o prejuízo ao exercício de defesa do
agravante, uma vez que a sentença foi proferida em 1ª
instância, à sua revelia.

Ante o exposto, a hipótese é de reformar-se a


r. decisão agravada, reconhecendo-se a nulidade da citação da
agravante na fase de conhecimento da ação, ficando anulados
todos os atos processuais subsequentes, para determinar o
prosseguimento do feito com vistas à parte requerida para
apresentação de defesa, em quinze dias, da data da intimação
desta decisão.
Sucumbente, deverá a agravada arcar com o
pagamento das custas e despesas processuais, bem como com
os honorários advocatícios dos patronos da agravante,
fixados em R$3.000,00, nos termos dos artigos 85, §§s 1º
e 8º e 11°, do NCPC, c.c. a Súmula nº 519, do C. STJ.
Por fim, inobstante o pedido de
afastamento da multa por litigância de má-fé, verifica-se
que a r. decisão agravada não impôs qualquer penalidade,
de modo que resta prejudicado tal pedido.
Dá-se provimento ao recurso.

Salles Vieira
Relator

Agravo de Instrumento nº 2151384-78.2020.8.26.0000 -Voto nº 8

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