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Caderno de Processo Penal II

Ana Carolina Guimarães Machado


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DIREITO PROCESSUAL PENAL II


O inquérito policial não possui rito específico para delimitação dos procedimentos da
fase investigatória. Isso significa que o delegado pode investigar conforme convém, pode
escolher, por exemplo, quando deseja ouvir o investigado. Isto não ocorre na fase processual,
cujo rito é rigidamente previsto em lei.
Em processo penal 2 aprenderemos a segunda fase da persecução penal.

Pressupostos processuais (livro indicado é o do Prof. José Barcelos)


O que se vê abaixo é um compilado de entendimentos, mas sabendo que não é um
entendimento completamente firmado, podendo ser encontrado de forma distinta na Doutrina.
A norma penal incriminadora possui dois preceitos, um ​primário (conduta) e um
secundário (pena)​, e uma missão (a proteção), ou seja, a norma incriminadora em sua
essência visa proteger, como o art. 121, com a pena de 6 a 20 anos, visa proteger o bem da
vida.
O Direito Penal visa a proteção de bens que foram valorados pela sociedade e a partir
do momento que eles recebem a tutela do Estado, eles são caracterizados como uma categoria
de bens jurídicos. O Estado traz para si a função de proteger esses bens jurídicos, e, dessa
forma, quando há uma lesão (ou ameaça de lesão) a um bem jurídico tutelado pelo Estado,
nasce para este o dever de perseguir para apurar se de fato houve a conduta; se ela tem os
atributos da tipicidade, ilicitude e culpabilidade; e, por fim, se houver tais atributos, aplicar a
sanção. O Estado lança mão de um instrumento, meio pelo qual ele vai percorrer para que
possa chegar ao final e dizer que houve o crime, impondo uma sanção penal, ou que não há
sanção porque a conduta não cumpre os itens acima, aplicando uma decisão que irá isentar o
sujeito de qualquer sanção.
Esse caminho de persecução penal que ao final há um pronunciamento de uma sanção
em uma sentença dizendo sobre o Direito Penal, na qual o Juiz aponta se houve a conduta
com a presença dos atributos, condenando ou isentando o sujeito.

Só quem tem a investidura de jurisdição que pode apontar que houve a conduta e
aplicar a sanção correspondente ao crime.

Existem os pressupostos de ​existência e os de ​validade​. Alguns falam que é existência


do processo ou da relação processual, mas não é uma discussão válida neste momento. O
primeiro pressuposto de existência ​do processo é a ​jurisdição​, o qual é regulada pelo
princípio da inércia/provocação, em que o Juiz, por natureza, não pode atuar sem ser
provocado (a provocação é a ação penal, que se for pública é a denúncia, se for privada é
queixa-crime, em resumo, é a dedução de uma pretensão punitiva, em que se apresenta uma
pretensão para que o sujeito seja punido ao final, entendendo como pretensão a norma que
regula aquela conduta criminosa, ou seja, a ação penal é uma imputação que visa a
condenação). Assim, observando esse primeiro pressuposto, observa-se que o ​segundo
pressuposto é a ​ação penal/pedido/provocação​, o que remete a uma ideia de polaridade,
em que há a pretensão de punir, mas ela só existe se houver a provocação, sendo que esta é
deduzida por uma das partes. Dessa forma, o processo se desenvolve entre ​partes​, sendo
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este o ​terceiro pressuposto​, em que uma parte é responsável pela dedução da provocação, a
qual é deduzida em face da outra parte, que, por meio de um ato de comunicação processual,
saberá que há um processo penal correndo contra ela, assegurando que exerça suas
garantias, como contraditório e ampla defesa. De tal maneira, este ato, ​a citação válida do
réu​, é o ​quarto pressuposto​, em que se percebe a importância do ato da citação, pois
cientifica a parte contrária sobre o processo, viabilizando, de forma efetiva, a ampla defesa (por
isso a Doutrina a considera como um pressuposto), mas sabendo que a revelia no processo
penal não funciona como no processo civil.
Além do processo existir, ele precisa desenvolver de uma forma válida, para que o
resultado tenha eficácia. Dessa forma surgem os ​pressupostos de validade da relação
processual​, em que a Doutrina diz que o processo para existir precisa de jurisdição (Ministros,
Desembargadores, Juízes e Jurados possuem), mas o exercício dela é legalmente
determinada (“cada um no seu quadrado”), nascendo a noção do ​primeiro pressuposto, a/o
competência/juízo competente​, que é uma parcela de jurisdição legalmente determinada, ou
seja, é a garantia do juízo natural, em que a lei determina. A ​aptidão da petição inicial​, é o
segundo pressuposto​, a qual deve ser formulada seguindo o artigo 41 do CPP com os
requisitos presentes, ou seja, a pretensão inicial deve ser pedida de forma válida. Para que o
processo exista é preciso de partes, ou seja, o ​terceiro pressuposto é ​legitimidade das
partes da relação processual (​polo ativo:​ se pública, o promotor, se privada, o ofendido; o
polo passivo​: quem figurou como sujeito ativo do crime), ou seja, a ação penal deve ser
deduzida contra os atores legítimos, pois ser imputável não significa que a pessoa pode ser
sempre e de qualquer forma parte de um processo.

Partes processuais
O processo é necessariamente um procedimento realizado entre duas partes
(bilateralidade), com o crivo do contraditório e da ampla defesa. Partindo dos sujeitos que
compõem o processo para analisar o processo em si, com o sujeito ativo e passivo da conduta,
sendo aquele que realiza o verbo do tipo penal e este quem tem o bem jurídico ameaçado ou
lesionado. No processo, o sujeito ativo é o titular do bem jurídico e o passivo é quem
lesionou/ameaçou o bem jurídico, mas às vezes não estarão ambos compondo a relação do
direito processual, tendo em vista a existência da ação penal pública, pois o sujeito ativo da
conduta será contra quem o MP deduzirá a ação penal, a pretensão punitiva, configurando, no
processo, no polo passivo.
Dessa forma, o Estado, ao designar a titularidade da ação penal a um órgão oficial, isto
é, o MP, faz com que o sujeito passivo da conduta (relação material) não faça parte da relação
processual, sendo esta a regra, pois a ação penal de iniciativa privada é a exceção, em que os
bens tutelados pelo Direito Penal são indisponíveis, independe do valor e da intenção das
pessoas, em que cabe ao Estado regula-lo, não o privado.

ATIVO: MP OU QUERELANTE /
PASSIVO: AQUELE QUE EM TESE PRATICOU A CONDUTA
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O assistente do MP está previsto no art. 268 a 273, do CPP e não é parte (não forma
litisconsórcio ativo), sendo, então, reconhecido pelo legislador que uma sentença condenatória
tem repercussão civil em relação ao condenado, ou seja, há interesse penal do MP, mas não
se nega que a persecução penal traz o interesse da sentença condenatória. a qual repercute
no cível, ou seja, originariamente a figura do assistente do MP ela é concebida diante do
reconhecimento de que esse sujeito tem interesse civil na condenação. A presença desse
assistente é uma faculdade, sabendo que o seu interesse não é penal, e sim civil, repercutindo
em esferas diferentes do direito, em virtude disso, o MP autoriza a habilitação do sujeito
passivo da relação material a partir do oferecimento da denúncia até o trânsito em julgado da
sentença, ou seja, entre esses momentos o sujeito pode requerer sua habilitação e, assim, não
há a presença do assistente na fase do inquérito e nem na fase de execução penal, bem como
não há um momento específico para a sua habilitação.
Isso significa que na fase da persecução administrativa não há a sua presença formal (a
vítima pode contratar um advogado para representá-lo no inquérito, mas não se denomina
como assistente), pois o interesse do sujeito só surge de fato quando houver um processo em
si, isto é, apenas com a dedução de uma pretensão punitiva, porque pode ocorrer do inquérito
ser arquivado e assim não surge o interesse cível do sujeito.Já na execução penal não há o
assistente porque o seu interesse já se esgotou, pois ele se encerra com a sentença.

A sentença de absolvição (por falta de prova, por exemplo) não é título executivo, em
que a parte poderá ingressar com um processo de conhecimento para exercer seu
interesse cível.

A figura do assistente do MP deve demonstrar a legitimidade para figurar como tal,


sabendo que a ação penal deve ser pública, porque se for privada este sujeito atuará no polo
ativo. No caso de homicídio consumado, a legitimidade transfere-se ao sujeito da substituição
processual (art. 31, CPP). Após observar sua legitimidade, deve o assistente habilitar no
processo, observando também a sua capacidade postulatória (depende de um advogado, o
qual vai formular uma petição ao juiz requerendo a sua habilitação nos autos). O Juiz vai ouvir
o MP antes de autorizar ou não a habilitação, ou seja, o MP emite um parecer sendo a favor ou
contra à habilitação, sendo que o Juiz não é vinculado ao parecer e só depois autoriza ou nega
a habilitação do assistente.
A partir do momento que se habilita o assistente no processo, ele poderá participar
efetivamente no processo, pois foi demonstrado que ele tem interesse na lide, em que ele pode
propor meios de prova, apresentar memoriais. Sobre sua participação, sabe-se que não pode
retroceder os momentos processuais, ou seja, ele participa dos atos futuros, porque não torna
obrigatória a volta do juiz aos atos anteriores.

Há o reconhecimento formal de que ele pode atuar no processo, mas a sua participação
efetiva só se dará da sua habilitação.

Por ser o MP o titular da ação, ele é quem fala primeiro, e o assistente é de participação
supletiva, bem como quando este propor meios de prova, o MP também será ouvido primeiro,
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ou seja, depende da manifestação do titular da ação, mas quem defere ou indefere é o Juiz.
Pode ocorrer do assistente requerer a condenação e o MP a absolvição ou o contrário, não há
lei que o proíba, tendo em vista que o Juiz não é vinculado pelo requerimento de um desses
dois, sentenciado de acordo com o seu entendimento.

Art. 268. Em todos os termos da ação pública, poderá intervir, como assistente do
Ministério Público, o ofendido ou seu representante legal, ou, na falta, qualquer das
pessoas mencionadas no Art. 31.
Art. 269. O assistente será admitido enquanto não passar em julgado a sentença e
receberá a causa no estado em que se achar.

Conclusão​: Não tem assistente na fase de inquérito e nem na execução penal, bem
como ele atua no processo nos atos futuros após sua habilitação.

Art. 272.​ O Ministério Público será ouvido previamente sobre a admissão do assistente.
Art. 273. Do despacho que admitir, ou não, o assistente, não caberá recurso, devendo,
entretanto, constar dos autos o pedido e a decisão.

Conclusão​: A manifestação do MP não vincula o Juiz e mesmo que o artigo diga que
não caiba recurso quando se indefere a habilitação do assistente, mas a jurisprudência mostra
que cabe mandado de segurança

Art. 270. O co-réu no mesmo processo não poderá intervir como assistente do
Ministério Público.

Conclusão​: Vedação sobre ser assistente, em que não pode o co-réu ser, no mesmo
processo, ser réu e figurar com o assistente do MP.

Art. 271. Ao assistente será permitido propor meios de prova, requerer perguntas às
testemunhas, aditar o libelo e os articulados, participar do debate oral e arrazoar os
recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele próprio, nos casos dos arts. 584,
§ 1​o,​ e 598.
§ 1o​ ​O juiz, ouvido o Ministério Público, decidirá acerca da realização das
provas propostas pelo assistente.
§ 2o​ O processo prosseguirá independentemente de nova intimação do
assistente, quando este, intimado, deixar de comparecer a qualquer dos atos da
instrução ou do julgamento, sem motivo de força maior devidamente comprovado

Esse artigo estabelece os poderes do assistente, reconhecendo que ele pode


efetivamente participar do processo, não sendo uma figura que existe única e exclusivamente
decorativa. Ele, demonstrando que possui interesse pela lide, pode contribuir com a instrução
do processo, porque a sua participação visa a obtenção de uma sentença condenatória, tendo
em vista o seu interesse. O libelo é uma peça acusatória, mas o que é citado neste artigo faz
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referência ao libelo crime acusatório, em que o artigo diz que ele pode aditar essa peça, mas
ela não existe mais no processo penal.
A parte final que fala sobre a possibilidade do assistente recorrer, em que a
possibilidade só vai surgir após o prazo do MP recorrer ou se este não recorrer, ou seja, é uma
possibilidade de recorrer de caráter supletivo. Se a sentença absolver o acusado e o MP não
interpõe recurso, o assistente poderá recorrer, tendo em vista que o seu interesse era uma
sentença condenatória. A peculiaridade reside no caso do Juiz der uma sentença condenatória,
em que nesse caso o assistente pode recorrer? Existem dois posicionamentos: ​o ​primeiro
entende que considerando que o interesse do assistente é exclusivamente civil, assim ele já
conseguiu o que queria, não podendo recorrer, enquanto o ​segundo ​entendimento vê que o
assistente possui o interesse para além do civil, ou seja, o interesse penal também, neste caso
poderia recorrer​.

Ação Penal
Temos o MP como titular da ação penal de natureza pública e o querelante como o
titular da ação penal privada, sendo que toda a pretensão condenatória é pública, porque
sempre se desenvolverá perante a um ente público. A dedução dessa pretensão punitiva deve
ser apta, adequada, daí porque para que o processa exista, você precisa da ação penal, mas
para que ele se desenvolva, você precisa da aptidão da petição inicial sendo que o art. 41
oferece as balizas para que a petição seja apta, em que a petição inicial de iniciativa privada é
chamada de queixa e a da iniciativa pública é a denúncia.

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as
suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se
possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das
testemunhas.​

Nesse contexto de aptidão, o CPP estabelece os pressupostos de validade processual


baseado no princípio da correlação entre a acusação e sentença, em que o sujeito não pode
ser acusado de roubo e na sentença ser condenado por estupro, há de existir uma correlação
entre aquilo que se imputa e aquilo que se condena, sendo uma derivação da ampla defesa e
contraditório. Sobre a acusação, não é motivo para que não se inicie uma ação penal a falta de
qualificação do sujeito a quem se imputa o fato delitivo, em que é possível até a decretação de
prisão preventiva enquanto houver pouca qualificação. Já em relação à qualificação do crime, é
necessário que a peça inicial seja uma peça de imputação de um fato criminoso, sendo
necessária a descrição do fato por inteiro, porque deve se dar ao Juiz o fato, que ele lhe dará o
direito, bem como que existem diversos aspectos que podem modificar o crime e sua
condenação (homicídio simples, qualificado, privilegiado, etc) e que o sujeito se defende dos
fatos descritos, já que deve haver uma correlação entre o que for imputado a ele e o que foi
descrito na ação penal.
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O Juiz deve decidir dentro dos fatos descritos na ação penal, ou seja, ele não
pode decidir “​extra petita”​ (termo do âmbito cível), sendo limitado pela descrição do
titular da ação.

Esse princípio fica explicitado em dois institutos, o da ​Emendatio Libelli​, que é a


possibilidade que o Juiz tem de dar ao fato definição jurídica diversa (o promotor oferece a
denúncia descrevendo o fato como o crime X, mas o Juiz condena o acusado pelo crime Y),
porque o Juiz deve se ater e se atentar a descrição do fato, em que se houver ou faltar alguma
circunstância do crime tipificado pelo titular da ação penal, o acusado se defende em relação
ao que foi descrito na petição inicial. Assim, o Juiz dá uma qualificação jurídica ao fato diversa
da que foi tipificada na ação penal e isso não viola a correlação entre a acusação e sentença,
porque o Juiz leva em conta o fato descrito e não o crime apontado.

Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa,
poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de
aplicar pena mais grave.
​§ 1o​ Se, em conseqüência de definição jurídica diversa, houver possibilidade
de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o
disposto na lei.
​§ 2o​ T
​ ratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão
encaminhados os autos.

Enquanto o outro instituto é a ​Mutatio Libelli é quando se encerra a instrução probatória


e se vê necessário mudar o crime imputado, porque tem algo nos autos que demonstra ser um
crime diferente, mas que não está na petição inicial, ou seja, é a necessidade de observar o
princípio da correlação em conjunto com a ampla defesa e contraditório, em que surge um fato
novo, como uma testemunha que aponta que houve grave ameaça na conduta do acusado por
furto, percebendo que o crime imputado está errado. O Juiz, portanto, não podendo condenar
pelo crime averiguado como correto por causa do princípio da correlação (não está descrito na
petição inicial!), devendo então a parte da acusação aditar a petição inicial, descrevendo o fato
que é correto com a circunstância nova. Feito esse aditamento que poderá o Juiz condenar
pela conduta delitiva nova, com uma ressalva, em que se houver o aditamento, deve abrir a
possibilidade do acusado se defender do novo fato descrito. Na ação privada, o fato novo pode
ser motivo de aditamento também, mas caso seja um fato que foi “ignorado”, entende-se que
houve a desistência em relação ao fato não descrito.

Art. 384​. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica
do fato, em conseqüência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da
infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia
ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o
processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito
oralmente.
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​ 1o​ Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o


§
art. 28 deste Código.
​ 2o​ Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o
§
aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para
continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do
acusado, realização de debates e julgamento.
​ 3o​ Aplicam-se as disposições dos §§ 1o​ e 2o​ do art. 383 ao caput deste
§
artigo.
​ 4o​ Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas,
§
no prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do
aditamento.
​§ 5o​ ​ N
​ ão recebido o aditamento, o processo prosseguirá

Questão: O Juiz pode mandar o MP aditar a denúncia? ​O professor entende que


não, porque faz o Juiz perder sua imparcialidade, em que ele mesmo não pode aditar, mas a
jurisprudência entende que sim (em que o MP pode aditar uma queixa no caso de ser ação
privada subsidiária da pública). Além disso, é preciso deixar claro que o MP não é obrigado a
aditar também, bem como o Juiz pode não aceitar o aditamento.

Competência
Pressupõe a investidura em jurisdição e no Processo Penal existe uma hipótese que
foge da tradicionalidade, em que a forma ordinária é baseada em concurso e títulos, e no
quinto constitucional, o qual é o formato sem concurso. Porém, existe a hipótese do jurado. É
necessário que cada caso precisa de uma jurisdição competente, sendo um pressuposto de
validade da relação processual, em que a competência é a parcela de jurisdição legalmente
determinada.
Temos três instâncias de fixação da competência: a Constituição (Federal e Estadual); o
Código de Processo Penal e as Leis de Organização Judiciária. Observa-se que há uma
hierarquia dessas instâncias legais, em que as Leis de Organização não podem ir contra o
CPP, o qual não pode ir a Constituição, mas todas as três trazem critérios que fixam a
competência.

Art. 69​. Determinará a competência jurisdicional:


I - o lugar da infração:
II - o domicílio ou residência do réu;
III - a natureza da infração;
IV - a distribuição;
V - a conexão ou continência;
VI - a prevenção;
VII - a prerrogativa de função.

O primeiro critério é o geral do CPP, sendo a regra, de que a competência se fixa pelo
lugar da consumação do crime​, ou, no caso de tentativa, pelo ​lugar em que fora praticado
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o último ato de execução​. Quando se fala em competência também se refere à ​prevenção​,


que pode ser geral (prevenção destinada a todo mundo, o fato pura e simplesmente já previne
o crime, sendo a pena de forma abstrata), mas às vezes a geral não é suficiente, não freia o
sujeito, havendo, então, a prevenção especial, com o sujeito recebendo a pena em concreto,
isto é, incide especificamente sobre ele. No caso de prevenção, se observa a regra geral de
fixação de competência, em que a comunidade recebe um aviso do Estado para que as
pessoas não cometam crimes, pois, caso haja algum, ela precisa ter um conhecimento sobre o
fato e como foi decidido, mas também tem um viés prático, em que é mais célere, prático e
economicamente viável que a jurisdição ocorra onde o fato ocorreu, sendo que a regra de
fixação de competência envolve a necessidade de dar uma resposta à comunidade que foi
atingida diretamente pelo crime, mas também a necessidade prática.

Exemplo: Um homem leva uma facada em uma festa em Betim, é levado ao hospital de Betim, mas este não
possuía estrutura para salvá-lo, assim, ele foi levado ao hospital em Belo Horizonte, chegando lá ele falece por conta
das facadas que recebeu. Levando a regra geral de fixação de competência na literalidade, o processo seria
realizado em Belo Horizonte, certo? Porém, esse fato não é o que ordinariamente acontece, em que a regra geral foi
fixada pelo que o ordinariamente acontece, o que, nesse caso, segundo a jurisprudência, não se justifica usar a
regra geral, porque se aplica a ideia de que a comunidade que foi diretamente atingida foi a de Betim, bem como se
observa o viés prático, tendo em vista que a interpretação literal da regra geral pode trazer abusos. (OBS: No projeto
de reforma o dispositivo mudou, em que se fala em atos de execução e não na consumação do crime, como é hoje).

Existem hipóteses em que há ​dois locais de consumação do crime, seja por


coincidência ou incerteza da localidade, ou seja, existem dois juízes competentes para
processar o crime, em que se torna competente o juiz que antecipar ao outro na prática de um
ato processual se torna o juiz prevento ao caso e, assim, competente ao fato.

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a
infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de
execução.
§ 1​o Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora
dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil,
o último ato de execução.
§ 2​o Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional,
será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido
ou devia produzir seu resultado.
§ 3​o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando
incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou
mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.

Atenção para o fato de que delegado possui atribuição, não competência​, em que a
data de um inquérito aberto não gera prevenção! O que gera prevenção é ato processual, em
que no âmbito do inquérito pode haver ato judicial (quebra de sigilo bancário, dilação de prazo,
etc), o que torna o juízo prevento. Além disso, o inquérito pode ser feito em qualquer local
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(exemplo do goleiro Bruno para demonstrar que inquérito não fixa competência, em que o
inquérito dele foi feito em BH, mas o processo é em Contagem).
No caso do ​crime se consumar fora do brasil​, conjuga-se a ​regra do lugar da
consumação com o princípio da territorialidade​, em que o que vale para a fixação de
competência é o local onde foi praticado o último ato no Brasil, mesmo que a consumação
ocorra fora do país. Detalhe que pelo fato da consumação ter ocorrido em outro país não
classifica o crime como tentativa.
O art. 71 trata sobre os crimes continuados, que naturalisticamente são um concurso
material de crimes de mesma espécie praticados na mesma condição de tempo, lugar, meio e
modo de execução. Já o permanente é aquele cuja consumação se prolonga no tempo

Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de


duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.

O segundo critério de fixação de competência: domicílio ou residência do réu​. Caso


não se saiba onde o crime se consumou, utiliza-se desse segundo critério, em que se réu tiver
3 residências em locais distintos, todos os 3 juízos são competentes, sendo que se fixará pela
prevenção. Já no caso dele não possuir residência certa será competente o juiz prevento.

Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo
domicílio ou residência do réu.
§ 1o​ S​ e o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela
prevenção.
​ 2o​ S
§ ​ e o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será
competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato.

Dentro desses dois critérios impostos pela lei, existe uma única hipótese de ​foro por
eleição​, em que a pessoa elege o foro onde a ação penal ser a proposta, hipótese de ação
exclusivamente privada (não se aplica quando a hipótese for ação penal privada subsidiária da
pública), o querelante pode ajuizar a ação no domicílio ou residência do réu mesmo que o lugar
da consumação seja conhecido.

Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de
domicílio ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.

A competência ​pela natureza da infração é um outro critério, em que toda a matéria é


tratada em uma vara específica, como no caso de tóxicos, que BH possui 3 varas, mas
Contagem não tem. São criadas em virtude da necessidade de cada estado membro, cada um
deles tem a autonomia para propor sua organização, em que o CPP permite que as leis de
organização dos Estados fixem competência pela natureza da infração, que nada mais é que
criar varas especializadas, desde que essa fixação não contrarie da CF/88 e o CPP. Os crimes
cometidos em BH serão tratados na vara especializada daquele crime em BH.
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Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de
organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri.
§ 1º C​ ompete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos a ​ rts.
121, §§ 1º e 2º,​ 1 ​ 22, parágrafo único,​ 1
​ 23​, ​124​, 1
​ 25,​ ​126 e 127 do Código Penal,
consumados ou tentados.
​§ 2o​ Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassificação para
infração da competência de outro, a este será remetido o processo, salvo se mais
graduada for a jurisdição do primeiro, que, em tal caso, terá sua competência
prorrogada.
​§ 3o​ Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra atribuída à
competência de juiz singular, observar-se-á o disposto no art. 410; mas, se a
desclassificação for feita pelo próprio Tribunal do Júri, a seu presidente caberá proferir a
sentença (art. 492, § 2​o​).

A ​prevenção se dá pela distribuição, mecanismo eletrônico de sorteio, em que por meio


desse procedimento sabe-se quem será o juízo realmente competente quando houver mais de
um envolvido. Quando houver a ação penal futura, no caso de querer tratar sobre prisão
preventiva, fiança, etc., ela já possuirá um juiz competente por causa da distribuição e do juízo
prevento que se antecipou em algum ato. Assim, o procedimento que induz a prevenção é a
distribuição, um sorteio que distribuirá de modo equânime conforme disposto no art. 75 do
CPP.

Art. 75. A precedência da distribuição fixará a competência quando, na mesma


circunscrição judiciária, houver mais de um juiz igualmente competente.
​ arágrafo único. A distribuição realizada para o efeito da concessão de
P
fiança ou da decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à
denúncia ou queixa prevenirá a da ação penal.

Artigo 83 define a competência por ​prevenção​. Ele complementa o artigo 75: a


prevenção se dá quando o juiz recebe o processo. Como esse processo chegará até ele? Pela
distribuição. Tem o caso excepcional da prevenção, em que um Juiz está como substituto e
despacha, tornando-se prevento, mas depois ele muda de vara. O que ele despachou ​não vai
com ele​, porque o que fixa a competência é o juízo e não a pessoa Juiz.

Art. 83. V ​ erificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou
mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver
antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este
relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70, § 3​o​, 71,
72, § 2​o,​ e 78, II, c).
Art. 85. N ​ os processos por crime contra a honra, em que forem querelantes as pessoas
que a Constituição sujeita à jurisdição do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de
Apelação, àquele ou a estes caberá o julgamento, quando oposta e admitida a exceção
da verdade.
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Em matéria de distribuição, ocorre a prática de ato processual sem o juiz se tornar


prevento. Se um sujeito apelar ao TJ as regras de distribuição e prevenção também são
aplicadas: processo vai para uma das sete câmaras criminais e dentro desta para uma turma.
O primeiro desembargador que praticar ato processual será relator, pois para ele o processo foi
sorteado. Assim o desembargador ficará prevento. E do mesmo jeito que na primeira instância
decretação de prisão previne o juiz, a impetração de habeas corpus distribuído a determinado
desembargador, torná-lo-á prevento para julgar apelação.
A exceção é o ​plantão​, pelo qual os desembargadores ou ministros ficam, durante
finais de semana ou férias, à espera para julgar liminares. O juiz de plantão não fica prevento,
pois isso violaria o princípio do juiz natural (se esperaria um juiz mais liberal estar de plantão
para impetrar o habeas corpus e deixa-lo prevento), Assim, há um desembargador/ministro que
antecipa aos demais na prática de ato processual, mas não fica prevento.
Já a competência ​como prerrogativa de função​, não é um critério definido pelo CPP,
mas nas Constituições. É um critério que tem em mira não a pessoa em si, mas em virtude da
função que essa pessoa exerce (prerrogativa de foro). O artigo 102, CF traz o rol das funções
cuja pessoa que a exerce será originariamente julgada pelo STF e o artigo 105, CF do STJ.
Portanto a competência pela natureza da função está necessariamente ligada ao exercício da
função. Ela só tem a prerrogativa de foro se estiver no exercício da função.
Os parágrafos 1º e 2º do artigo 84 do CPP foram declarados inconstitucionais. Houve
uma tentativa que a prerrogativa de função se projetasse depois do fim do exercício da função,
mas pela regra da competência por prerrogativa de função isso foi vedado. No caso de
artimanha para não ser julgado pelo STF (renunciar a mandato para não ser julgado
imediatamente), o STF continuou o julgamento mesmo após a renúncia.

Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de
Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal,
relativamente às pessoas que devam responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade.
§§ 1º e 2º:​ (Vide ADIN nº 2797)

Dentro de competência temos os últimos critérios de fixação de competência, a


conexão e continência​, mas a rigor são critérios de prorrogação de competência e não de
fixação, na verdade. Justifica-se o uso da conexão e da continência por meio da economia e
celeridade processual, buscando o efeito disposto no art. 79, criando a unidade de processo e
de julgamento, em que a conexão é a relação com algo e a continência faz referência ao
conteúdo, em que pode haver pluralidade de sujeitos ou de ilícitos penais. Assim, a conexão
faz com que tenha um processo só e um julgamento apenas, o que justifica é a economia,
celeridade e evitar conflito entre diferentes decisões.

​Art. 76.​ A competência será determinada pela conexão:


I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias
pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias
pessoas, umas contra as outras;
Caderno de Processo Penal II
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II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou
para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na
prova de outra infração.

Art. 77. ​ A c​ ompetência s​ erá determinada pela continência quando:


I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;
II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1o​ ,​ 53, segunda parte, e
54 do Código Penal.
Art. 79. ​A c ​ onexão e a continência ​importarão unidade de processo e julgamento, salvo:
I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;
II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.
§ 1o​ Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum co-réu,
sobrevier o caso previsto no art. 152.
§ 2o​ A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver co-réu foragido
que não possa ser julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461.

Os artigos 76 e 77 descrevem as situações que autorizam a haver a ​conexão e


continência​, ou seja, não é o Juiz quem aponta, ele apenas avalia e adequa ao caso concreto,
pois caso ela se ajustar às hipóteses dos artigos, ele pode autorizar o que está previsto nos
artigos supracitados, podendo ele inclusive desmembrar os processos. A doutrina classifica a
conexão ​entre os seus artigos, o inciso primeiro é uma ​conexão intersubjetiva​, em que ela
pode ser intersubjetiva ​por reciprocidade ​(Umas pessoas contra as outras. É o caso, por
exemplo, de uma briga de torcidas em que um fato é praticado contra o outro. Não há razão
para abrir dez ações penais, mas apenas uma só), por simultaneidade ​(há vários indivíduos
praticando o crime per si, independentes uns dos outros. Não há reciprocidade. É o caso das
torcidas que, sem brigar umas com as outras, começa a depredar o patrimônio público. A lógica
do caso é a mesma que a da reciprocidade, existirá conexão e não um processo para cada
caso) e ​por concurso (é a única em que, devido à divisão de tarefas, não importa se é em
tempo e lugares distintos. É o caso, por exemplo, de uma quadrilha que irá assaltar um banco e
no dia anterior uma parte dos bandidos faz a família do gerente de refém enquanto a outra
parte leva o gerente até o banco para subtrair o valor. Os crimes foram praticados em
circunstâncias de tempo e lugares diferentes (até em comarcas distintas), mas o processo será
o mesmo.).
Já o inciso segundo é a conexão teleológica, em que há pluralidade de crimes
praticados com um dado fim. É o caso em que um crime foi praticado para facilitar ou ocultar (e
etc.) outro crime. É o caso em que o sujeito que pratica o roubo mata alguém que assistiu a
prática do crime e, para evitar que alguém descubra o homicídio, acaba por ocultar o cadáver.
Existe uma conexão de fatos que faz com que um crime seja fim do outro. O artigo 79 permite
que nesses casos haja um só processo e um só julgamento. E, por último, o inciso terceiro é a
conexão probatória​, a qual ocorrerá quando a prova de uma infração penal influencia a prova
de outra infração penal. É o caso do sujeito que assalta uma joalheria em Contagem e começa
a vender as joias por preço vil em Belo Horizonte. Para descobrir quem roubou as joias é
necessário quem praticou o crime de receptação. O que a polícia faz é investigar quem
Caderno de Processo Penal II
Ana Carolina Guimarães Machado
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comprou para chegar ao crime inicial. A produção de provas de um crime, portanto, é


necessária para descobrir o outro.

O artigo 77 do trata do critério da ​continência​, trazendo duas hipóteses: quando houver


o ​concurso de pessoas​, em que dispõe o inciso I que haverá continência quando “duas ou mais
pessoas forem acusadas pela mesma infração”.

Enquanto nas hipóteses de conexão há pluralidade de crimes, na continência há


uma mesma infração. É o caso clássico de concurso de pessoas e não concurso de
crimes (com autoria ou participação).

A outra hipótese é a ocorrência de infração prevista nos arts. 51, § 1º; 53, segunda
parte; e 54 do Código Penal. A redação original está fazendo referência aos artigos do CP
antes da mudança, hoje esses artigos são 70, 73 e 74 do CP (o ​artigo 70 trata do concurso
formal: com uma única ação há mais de um resultado penalmente relevante. É o caso do
caminhão que ao se acidentar causa em uns lesão corporal e em outros homicídio. Não há
processo diferente para cada resultado penalmente relevante; já o artigo 73 trata de erro de
execução; e o artigo 74 trata de resultado diferente do pretendido).
Os aspectos comuns da ​conexão e continência ​são que ​não há fixação de
competência​, como disposto no artigo 78 do CPP, ele apresenta regras que não vão disciplinar
a fixação da competência, mas sim prorrogar a competência através da conexão ou
continência. Um exemplo é o caso do roubo da joalheria, em que por conexão teleológica o
sujeito mata testemunha para garantir a impunidade e oculta o cadáver. Existe uma relação de
ilícitos com uma finalidade. Pelo artigo 76, II haverá um só processo e um só julgamento, mas a
competência será definida pela regra geral – lugar do crime. Não foi a conexão que definiu a
competência.
O artigo 78 estabelece que na determinação da competência por conexão ou
continência serão observadas as seguintes regras: ​(1) Prevalência do tribunal do júri: ​“no
concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a
competência do júri.” No caso do roubo da joalheira, havendo mais de um crime, julgada um
pelo juiz e outro pelo tribunal do júri, este atrairá os demais e prevalecerá. Assim, os crimes
que seriam julgados pelo juiz de direito terão sua competência prorrogada para o júri, que
sempre deverá prevalecer. A competência do tribunal do júri é ordinariamente destinada ao
julgamento de crimes dolosos contra a vida, mas sua competência será prorrogada pela
conexão ou continência que estabelecerá um só processo; ​(2) Conexão ou continência em
jurisdições da mesma categoria: ​Quando não há um foro prevalecente, como no júri. Dispõe
o inciso II do artigo 78 que ​(a) ​preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena
mais grave; (b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se
as respectivas penas forem de igual gravidade; (c) se o número de infrações for igual, será por
prevenção. S ​ abendo que no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de
maior graduação. É necessário analisar em relação à competência por prerrogativa de função.
Caderno de Processo Penal II
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Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão


observadas as seguintes regras:
I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição
comum, prevalecerá a competência do júri;
Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria:
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais
grave;
b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de
infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade;
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;
III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior
graduação;
IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.

A prerrogativa está vinculada ao exercício da função, mas pouco importa a regra, mas
nessa pluralidade de pessoas e de ilícitos, têm-se pessoas que originariamente não tem
prerrogativa de função, em que quem não tem é julgado pela primeira instância. Porém,
quando há conexão/continência, ou seja, um processo único, ele tramitar perante a instância de
maior graduação, ou seja, pessoas que originariamente não seriam julgadas pelo Supremo por
não deter a prerrogativa de função, por isso que esses institutos ​prorrogam a competência e
não fixam.
Essa regra não é aplicada de forma objetiva, em que o Supremo não definiu ainda um
critério para saber quando haverá desmembramento no processo e quando não haverá. A
conexão e a continência tem como característica a unicidade do processo, no entanto a própria
lei diz que o juiz pode, se entender conveniente, determinar o desmembramento do processo,
sendo que esta é a tendência no Supremo, porque a prorrogação de competência retira a
função de guardião da lei e o transforma em um tribunal como qualquer outro.

Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem
sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo
excessivo número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por
outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.

A forte vinculação dos fatos das pessoas sem prerrogativa com as que têm que mantém
a unicidade do processo, mas quando dá apuração dos fatos der para separar a
responsabilidade de cada um, ocorrerá o desmembramento, o que se perdeu certa segurança
jurídica em relação ao desmembramento, essa vinculação das pessoas depende de uma
análise subjetiva.

É a corte de maior graduação que decidirá sobre o desmembramento

Ao que parece, por meio de uma mudança pretendida, critério de fixação da


prerrogativa de função não será mais pela simples investidura da função, em que estará
Caderno de Processo Penal II
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relacionada aos atos praticados que guardem relação ao exercício da função. Visa dar ao juiz
uma válvula de escape nas situações onde a conexão e a continência acabam subvertendo a
lógica da conexão e da continência. Para o juiz preservar a finalidade delas, ela não é aplicada.
Significa dizer que elas têm um objetivo – celeridade e economia processual – mas em
determinadas circunstâncias elas impedem esse objetivo. É o caso, por exemplo, do processo
com muitos réus (professor dá como exemplo aquele que tinha 100 réus). O artigo 80 traz a
possibilidade de num juízo de conveniência o juiz determinar o desmembramento do processo.
Será facultativa a separação dos processos quando as infrações forem realizadas em
circunstâncias de tempo e de local diferentes. As vezes vale a pena o juiz desmembrar o
processo. Somente por isso o Massacre do Carandiru foi julgado.
A Justiça Federal é uma justiça comum, sendo para resolver os interesses da União
(desacato contra servidor federal, por exemplo). Já no caso de crime militar doloso contra a
vida é o Tribunal do Júri, não mais a Justiça Militar, ou seja, no concurso entre a jurisdição
comum e a especial, prevalecerá esta. Justiça Federal não é especial, mas aquela responsável
por garantir os interesses da União. Em relação à Justiça Militar se for crime doloso contra a
vida não será ela a julgar e sim o tribunal do júri.

Contagem de prazo no Processo Penal


Os marcos inicial e final seguem as mesmas regras do processo civil: Se conceituarmos
o prazo como lapso temporal conferido ao sujeito para a prática ou não do ato processual não
se computa o dia inicial e se computa o termo final, com a lembrança de que a contagem do
prazo nunca se dá aos sábados, domingos, feriados e dias de suspensão do prazo processual
por alguma eventualidade.
Com a mudança no CPC se instaurou uma discussão sobre se no processo penal a
contagem do prazo se daria dos moldes da reforma introduzida no NCPC, pois agora a
contagem dos prazos no CPC é por dias úteis. Como ficou a contagem no prazo no processo
penal? Permaneceu como era, não havendo nenhuma mudança na contagem do prazo no
âmbito do processo penal, pois não cabe a aplicação analógica da regra do CPC ao CPP, pois
não há vazio legislativo nessa matéria no processo penal, pois há regra expressa em relação a
isso no artigo 798 do CPP.

Procedimentos no Processo Penal


O CPP e a legislação extravagante têm uma infinidade de procedimentos, não tendo
como tratarmos de todos. Vamos tratar daqueles que são a espinha dorsal do sistema de
procedimentos do processo penal. Os demais serão derivações desses procedimentos
fundamentais que estudaremos, mas, no geral, o legislador leva dois critérios em consideração
para fixação do rito processual: ​natureza (gravidade) da infração e a ​função pública
exercida pela pessoa que será processada​. Isso fica evidenciado desde já no artigo 394:

Art. 394. O procedimento será comum ou especial.


§ 1​o​ O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo.
I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for
igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade;
Caderno de Processo Penal II
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II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja
inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade;
III - sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na
forma da lei.
§ 2o​ Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, salvo disposições em
contrário deste Código ou de lei especial.
§ 3o​ Nos processos de competência do Tribunal do Júri, o procedimento observará as
disposições estabelecidas nos arts. 406 a 497 deste Código.
§ 4o​ As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os
procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.
§ 5o​ Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as
disposições do procedimento ordinário.

Procedimento comum será: ​Ordinário (quando tiver como sanção máxima igual ou
superior a 4 anos), ​sumário (quanto tiver como sanção inferior a 4 anos) e ​sumaríssimo
(infrações de menor potencial ofensivo), em que este não está no CPP, porque são todas as
contravenções penais e os crimes cuja pena máxima cominada não exceda a dois anos.
Quando houver concurso de crimes cujas penas isoladamente seja inferiores a 4 anos, mas
que somando deem mais de 4 será o procedimento ordinário. É o entendimento jurisprudencial.

No conflito de procedimentos se opta por aquele que dá mais vantagens

Rito ordinário
Inicia-se com a ação penal (pressuposto de existência) apta (pressuposto de validade)
mediante denúncia (no caso de ação penal pública) ou queixa (no caso de ação penal privada).
A denúncia é a imputação da prática de um ilícito penal, deduzindo uma pretensão de punir
diante do juízo competente.
É feito um juízo de admissibilidade ou procedimentabilidade, pelo qual o juiz, sem julgar
o mérito, avaliará as condições da ação. É o que diz o artigo 395 do CPP, que traz a previsão
de situações que autorizam o juiz a rejeitar a denúncia:

Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:


I - for manifestamente inepta: cabe aditamento se ele não receber.
Professor acha que o juiz não pode pedir para aditar.
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação
penal: análise formal, como legitimidade,
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal​:

O código não diz o que é justa causa, mas a jurisprudência entende como indicativo de
justa causa que essa causa (ação) deva ter uma justificativa, não podendo ela ser resultado de
uma opinião pessoal, pois isso autorizaria abusos. O que fundamenta a ação penal está no
inquérito ou nos procedimentos conduzidos pelo MP. A justa causa está no juiz aferir se há o
mínimo de conexão entre aquilo que é descrito e imputado e aquilo que é fundamento da
pretensão acusatória, se há portanto, o mínimo de justificativa para a ação penal. Existe uma
decisão do STF de que o processo judicial não se presta a se tornar uma instância para
Caderno de Processo Penal II
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investigar se aquela ação penal tem procedência ou não. Deve-se investigar antes. A ação
penal se propõe a provar aquilo que foi investigado, porque senão se inverte a coisa.
Dá-se um despacho em que se faz três coisas: ​A realização do juízo de admissibilidade​,
a interrupção da prescrição e ​a convocação do polo passivo da relação processual​, para que
haja partes e bilateralidade por meio de um ato de comunicação processual que é a citação.

Citação no Processo Penal


Alguns doutrinadores elevam a citação a pressuposto de existência do processo penal,
mas ela é um ato de comunicação processual destinado ao réu (os demais serão notificados ou
intimados), chamando-o a integrar a relação processual, cientificando-o da proposta de
acusação, viabilizando a partir daí o exercício da ampla defesa e do contraditório e as demais
garantias ínsitas ao processo penal. Assim, o primeiro papel dela, portanto, é cientificar da
acusação oferecida contra o réu, assegurando que se exerça o direito de defesa e de
contraditório e em segundo lugar ela proporciona a defesa com as garantias assinaladas.
O código contempla duas (ou três) formas de citação: ​A citação por mandado​, a qual
será sempre a citação inicial, em que o Juiz recebe a denúncia e determina a citação por
mandado (ele é determinado pelo juiz onde a citação irá a ocorrer).

Art. 351: mandado quando o réu estiver na comarca / art. 352: carta precatória quando
estiver em outra.

Art. 351. ​A citação inicial far-se-á por mandado, quando o réu estiver no território
sujeito à jurisdição do juiz que a houver ordenado.
​Art. 352. ​O mandado de citação indicará:
I - o nome do juiz;
II - o nome do querelante nas ações iniciadas por queixa;
III - o nome do réu, ou, se for desconhecido, os seus sinais característicos;
IV - a residência do réu, se for conhecida;
V - o fim para que é feita a citação;
VI - o juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer;
VII - a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz.

Artigo 352 é interpretado de acordo com o princípio da instrumentalidade das formas.


Assim que o juiz determina a citação a secretaria do juízo irá confeccionar o mandado com os
requisitos do artigo 352: ​(1) Nome do juiz​, muitos não têm, pois algumas vezes não será o juiz
que citou a julgar, usado por questão de segurança também; ​(2) Nome do querelante​, para
garantir a legitimidade – Ministério Público; ​(3) Nome do réu​, visa permitir que o oficial
identifique o réu; ​(4) Residência do réu ou local de citação​; ​(5) Fim para que é feita a
citação​; ​(6) O juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer​; ​(7) A
subscrição do escrivão e a rubrica do juiz​.
Os requisitos do mandado podem ser ​intrínsecos e por isso estão dentro do mandado.
Os ​extrínsecos são aqueles em que o oficial de justiça vai lavrar uma certidão confirmando
que a citação aconteceu. A citação deve cumprir a sua finalidade, não bastando, por exemplo,
Caderno de Processo Penal II
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entregar o mandado sem ler para um analfabeto. A validade ou não varia com a circunstância.
Se a citação for considerada nula, haverá a declaração de nulidade de todos os atos depois
dela.
Seguiremos com uma linha do tempo, mas depois virão outras modalidades de citação.
A citação inicial é via mandado, considerando a importância de ato de comunicação
processual, principalmente na medida que ela se torna o meio que vai viabilizar o
desenvolvimento processual e formando essa relação, que o acusado seja cientificado do
processo e que exercite a ampla defesa e o contraditório. Antes o réu era citado e era
cientificado no dia que havia o processo e nesse mesmo dia tinha que se defender. Hoje ele é
citado e aí no prazo de 10 dias que pode oferecer uma defesa (resposta à acusação/defesa
prévia), havendo o exercício efetivo da ampla defesa.
Pode acontecer que a citação por mandado não se viabilize, porque não encontraram o
réu, por exemplo, e se ele não tomou ciência da acusação ele não pode exercitar a ampla
defesa e o contraditório, sendo um direito indisponível e de responsabilidade pessoal. O juízo
tem que esgotar todas as possibilidades de citar essa acusado por mandado, todos os
esforços para que a citação por mandado se viabilize.

Se ao tentar citar por mandado o oficial de justiça é informado de que o acusado se


mudou, é necessário que haja outra diligência para tentar citá-lo no novo endereço. Caso
não o encontre e apresentam a informação do endereço de um familiar ou de onde o
acusado trabalhava, o oficial pode tentar citá-lo nesses locais. Outro local que pode ser
usado para encontrar o acusado é a Justiça Eleitoral, tendo em vista que os cidadãos
devem estar em dia com tal Justiça.

Se a citação por mandado, depois de todas as possibilidades, não se viabilizar, ocorre a


citação por edital do acusado. Tal citação é ficta, mas também vai oportunizar que o acusado
ofereça defesa, o que é raro. Assim, a lógica do processo penal é saber que a citação por edital
é uma ficção, sendo uma forma de dar publicidade à acusação, mas que não vai viabilizar o
exercício da ampla defesa e o contraditório, sendo infrutífera em relação a isso. Dessa forma,
acontece que se determina a suspensão do processo.

Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir
advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o
juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o
caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.

A defesa no processo penal tem como necessidade a defesa técnica, demonstrando a


importância da citação por edital

Citação do militar
Antes da lei de 2009, quando o denunciado era funcionário público ou militar a citação
ocorria de forma diferente:
Caderno de Processo Penal II
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● MILITAR: Citação era feita por intermédio de seu superior. Isso ocorria porque,
baseados nos princípios da hierarquia e disciplina, os militares não podem deixar seus
postos sem autorização prévia. A doutrina, antes da alteração da lei, já criticava essa
citação, porque se sabe que a responsabilidade é pessoal, propondo que se cita o
acusado (ele que possui a responsabilidade e que deve ser cientificado), mandando
para o superior desse militar apenas um ofício, comunicando-o. Hoje o réu não é citado
mais para se ausentar de sua posição e comparecer para o seu interrogatório
(antigamente era o primeiro ato), ele é citado para apresentar uma defesa, não há mais
razão para que se cientifique o superior hierárquico, sendo citado, então, o militar
especificamente, e, além disso, quando ele é citado, o réu possui um prazo de 10 dias
para apresentar sua defesa.

Art. 358. A citação do militar far-se-á por intermédio do chefe do respectivo serviço.

● FUNCIONÁRIO PÚBLICO: o 358 diz que o réu era citado pelo seu superior, enquanto o
359 fala sobre dois atos de comunicação, em que o juiz deveria comunicar o acusado
para que ele prestasse o seu depoimento, bem como o seu superior, porque o serviço
público deve ser contínuo e que o superior deveria ser informado sobre a sua ausência.
O artigo utiliza de um termo errado, “notificação do acusado”, porque ele é ​citado​. Hoje
não precisa informar o superior, com a mesma ideia da citação do militar, porque ele
não precisará se ausentar de seu posto.

Art. 359. O dia designado para funcionário público comparecer em juízo, como acusado,
será notificado assim a ele como ao chefe de sua repartição.

Citação do réu preso


Ele deve ser citado pessoalmente, o grande drama atual é a situação de que a partir do
dia que o réu preso é citado, o prazo começa a fluir da cientificação e se o réu estiver preso,
existem os casos em que ele não possui um advogado constituído, bem como não possui
ninguém além do sistema carcerário.

Art. 360. Se o réu estiver preso, será pessoalmente citado.

Quando o preso entra no sistema, o preso fica por 15 dias em uma triagem (antes eram
30 dias, hoje já se desconfia que o prazo dessa triagem já deve ter diminuído novamente), em
que a família pode levar apenas os utensílios mínimos, em que só o advogado pode ter contato
com ele. A Defensoria Pública, por falta de condições, apresenta uma defesa meramente
protocolar na maioria das vezes, porque não teve contato com o réu, entre outros problemas.
Assim, a citação do réu preso, quando se fala sobre pessoas de condições baixas, é
demarcada por uma série de defasagens. A jurisprudência aponta a dificuldade da citação do
réu preso, ainda mais quando se fala sobre o prazo para apresentação da defesa, em que há a
proposição de que quando o réu estiver preso o prazo para a apresentar a defesa não começa
Caderno de Processo Penal II
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a correr da citação e sim da data em que o advogado for cientificado sobre a citação, para que
haja uma defesa técnica.

Não existe processo sem defesa técnica, é um direito indisponível.

Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou
julgado sem defensor.
Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defensor público
ou dativo, será sempre exercida através de manifestação fundamentada.

Citação por hora certa


Citação por mandado, que foi altamente criticada quando entrou no CPP. Ela acontece
quando o oficial de justiça, depois de diligenciar diversas vezes, e sabendo que ele tem
fé-pública, constata que o réu está se esquivando da citação, o oficial comparece três vezes no
local em que deveria citar o réu e avisa que voltará no dia seguinte em um horário determinado,
sendo que se o réu não estiver presente ele é tido como citado. É da mesma forma que ocorre
no Processo Civil.

Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça
certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos
arts. 227 a 229 da Lei n​o​ 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não
comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor dativo

A doutrina criticou muito essa citação por conta da responsabilidade penal ser pessoal,
significando que os atos devem ser, também, pessoais. A citação por hora certa pode gerar
cerceamento de defesa. Porém, percebe-se que se utiliza quando se constata que há o
esquivamento do réu e não apenas a sua ausência, mas houve, infelizmente, uma acomodação
dos oficiais de justiça para a utilização desse tipo de citação.

Citação por edital


Sempre será subsidiária e inicialmente deve ser feita por mandado. O réu será citado
para apresentação de resposta à acusação, mas é uma citação ficta, em que se entende que o
processo não pode prosseguir sem a presença de uma defesa técnica, quando se cita por
edital e não se apresente.

A citação por edital por si só não enseja a suspensão do processo. É necessário que,
além dele não comparecer, não haja resposta à acusação.

A lei interpreta que nessa situação não pode o Juiz designar defensor público ao réu,
porque o réu não foi cientificado de fato sobre o processo, já ao constituir advogado quer dizer
que o réu tomou ciência, diferente da citação do edital.
Caderno de Processo Penal II
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Só vai acontecer a citação por edital no processo penal se houver a situação em que o
acusado não foi citado por mandado, e compreendendo a finalidade da citação, quer
dizer que ele não foi cientificado do processo e, assim, não pode haver o
desenvolvimento válido do processo.

Se em virtude dessa citação o acusado constituir advogado e este apresentar a


resposta à acusação, comparecendo nos autos, quer dizer que a citação cumpriu sua missão.
Aqui, quando a citação por edital acontece e o advogado apresenta resposta à acusação
mediante outorga de procuração, o que importa não é necessariamente a presença física do
réu, porque ele não foi fisicamente citado, mas a citação é para apresentar defesa, não
havendo, assim, cerceamento de defesa, porque houve o exercício de sua defesa.

É sabido que a eficácia da citação por edital é baixa.

No entanto, se citado por edital, o acusado não apresentar resposta à acusação, não
constituindo um advogado nos autos, a lei interpreta que a citação não cumpriu o papel para o
qual ela é destinada, porque deu publicidade ao edital, mas o acusado não teve ciência da
acusação e isso para a lei quer dizer que há o impedimento do acusado do seu direito de
exercitar de forma plena a sua defesa, sendo este indisponivel, havendo, assim, a suspensão
do processo.

Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir
advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o
juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o
caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar
a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente
de autoria.
Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em
caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de
outras medidas cautelares (art. 282, § 4o​ ​).

E para que essa suspensão não seja vantajosa para o acusado, assim, havendo a
suspensão do processo, suspenso, também, o prazo prescricional. Tal tática faz sentido,
porque os acusados utilizariam para que o crime prescrevesse para a extinguir a punibilidade e
que ele não fosse punido por ele. Noutro giro, o Juiz pode determinar a produção antecipada
de provas (como o depoimento de uma testemunha), se urgente, as quais ficarão acauteladas
nos autos, esperando que os autos deixem a suspensão, sabendo que o Juiz tem que nomear
um advogado para representar o acusado, o dativo ou defensor, porque a prova deve ser
produzida dentro do crivo da ampla defesa e do contraditório. Além disso, o Juiz pode decretar
a prisão preventiva do acusado (art. 312, CPP), mas este não é um efeito automático, diferente
Caderno de Processo Penal II
Ana Carolina Guimarães Machado
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da suspensão da prescrição que é automática, em que o Juiz avaliará no caso concreto se é


necessário ou não.
A lei nao fala sobre o limite do tempo da suspensão do processo, assim, entendem que
ficará suspenso, trazendo a crítica que isso torna os crimes imprescritíveis, o que apenas a
Constituição aponta quais são, criando, de forma torta, uma situação de imprescritibilidade.
Assim, existe o entendimento de que a suspensão tem o limite temporal da prescrição do
crime, ou seja, o acusado de furto que não foi citado, tem seu processo suspenso pelo tempo
de 8 anos, pois este é o prazo prescricional do furto. O processo fica parado, pois só voltaria a
tramitar se houvesse a citação, voltando a contar apenas a prescrição (lembrando que há a
suspensão​, aproveitando o que já tenha corrido antes, e não a ​interrupção​).

Revelia no processo penal


Existe no processo penal, mas não possui os mesmos efeitos que no processo civil, em
que neste o réu não se pronuncia após ser citado e gera a presunção de veracidade. Já no
processo penal, o acusado é citado por mandado, mas não constituiu advogado e assim não
apresentou a resposta à acusação, isso não gera a revelia, porque não pode existir um
processo penal sem que exista defesa técnica, ou seja, quando isso ocorre o Juiz nomeia um
defensor, não cabendo o raciocínio que se aplica no processo civil.​Não se pode presumir
como verdadeiro o que está na inicial em virtude da inércia do acusado, pois isso
significa a inversão da presunção no processo penal, que é de inocência, nao de culpa.
Já a situação do acusado citado por edital que não compareceu ao processo também
não pode se aplicar a revelia com os mesmos efeitos do processo civil, não podendo nomear
um defensor/dativo porque o acusado não teve ciência do processo, não podendo transigir pelo
direito indisponível do acusado do exercício pleno de sua defesa.

NÃO PODE O JUIZ NOMEAR DEFENSOR QUANDO O ACUSADO FOI CITADO POR
EDITAL, SALVO QUANDO ELE ENTENDER QUE EXISTEM PROVAS URGENTES A
SEREM PRODUZIDAS.

Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou


intimado pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado,
ou, no caso de mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.

Assim, só se aplica a revelia quando o acusado, ao ser intimado para a audiência por
meio de publicação, não comparece à audiência para prestar depoimento, em que o processo
segue sem intima-lo, sendo este o efeito da revelia.

Resposta à acusação
Ao ser citado, o acusado possui 10 dias para apresentar a resposta à acusação. Se
houver litisconsórcio passivo, no processo penal, o prazo começa a fluir efetivamente da data
da citação e não é da juntada do mandado nos autos e nem do último no caso de litisconsórcio,
sendo individual para cada acusado e isso é baseado na súmula 710, sobre a carta de ordem
Caderno de Processo Penal II
Ana Carolina Guimarães Machado
23

(​precedente: ​o advogado no caso do Eduardo Cunha requereu o prazo em dobro tendo em


vista a pluralidade de acusados com fatos complexos e o STF concedeu, mas não é comum!)​ .
A princípio sugere-se que a resposta à acusação seria o momento para a apresentação
de todas as teses defensivas, articulando-as, mas nem sempre ela se revela, principalmente no
mérito, como o momento certo para isso.
Depois da resposta à acusação, os autos vão conclusos para o Juiz, que decidirá se
absolve ou não absolve sumariamente o acusado, proferindo uma decisão sobre, não
precisando esperar o resto do processo, no nascedouro do mesmo ele pode absolver o
acusado e acabar com o processo. Assim, poderia se pensar que em virtude disso a resposta à
acusação possuiria um protagonismo dentro dos autos, em que serviria para a demonstração
de todas as teses de forma forte e contundente.

Súmula 710/STF: No processo penal, contam-se os prazos da data da


intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de
ordem.

Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste


Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente,
salvo inimputabilidade;
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
IV - extinta a punibilidade do agente.

Na resposta à acusação poderíamos dividi-la em dois aspectos: ​componente


processual e componente de mérito​. No primeiro, observa-se que existem dispositivos no
CPP, em que eles mostram que é o momento que pode arguir tudo aquilo que é importante,
sabendo que do ponto de vista processual essa peça tem um importância fundamental no
processo, isso porque se o MP pode arrolar testemunhas na denúncia, a resposta a acusação
serve como meio para a defesa arrolar suas testemunhas também (ambas as partes podem
arrolar 8 testemunhas). O número de oito testemunhas para cada fato narrado na denúncia, ou
seja, se um sujeito é acusado pelo crime de roubo e no rito ordinário, sabendo que há um fato
apenas, podendo, assim, ambas as partes podem arrolar 8 testemunhas. Já no caso de crime
evasão de divisa com gestão fraudulenta de gestão financeira e lavagem de dinheiro,
envolvendo e imputando mais de um fato, podendo, assim, chamar 8 testemunhas para cada
fato, segundo entendimento jurisprudencial que não é unânime (se fossem apenas 8 sinalizaria
um cerceamento de defesa e ferimento à isonomia). Noutro giro, a nulidade, qualquer que seja
necessária a ser arguida, demonstra a importância da resposta à acusação, porque este é o
momento oportuno, como impedimento ou suspeição do Juiz ou do promotor, podendo juntar
documento, requerer a realização de uma perícia ou perícia complementar.
Caderno de Processo Penal II
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Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou


queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do
acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para a defesa
começará a fluir a partir do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor
constituído.

Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo o


que interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas
pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando
necessário..
§ 1​o A exceção será processada em apartado, nos termos dos arts. 95 a
112 deste Código.
§ 2​o Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado,
citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la,
concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias.

Além das coisas processuais, também pode ser usada para tratar do mérito, sendo
vantajoso, pois se visa a absolvição do acusado, mas para absolver é necessário que haja
certeza ​porque se houver dúvida é melhor que o processo prossiga (diferente da sentença que
há o ​in dubio pro reu,​ porque na resposta a dúvida é em favor do prosseguimento do processo),
sendo isso o que define a estratégia do que deve ser escrito na peça. Deve ter cuidado ao
adiantar as teses de mérito, porque se o Juiz não absolver sumariamente, o MP já terá noção
do que será a defesa, podendo facilitar. A absolvição sumária é difícil por conta do princípio do
livre conhecimento motivado do Juiz, tendo em vista que a fase de produção de prova ainda
não aconteceu, então as chances são muito reduzidas, e em via de regra só acontece se há
prova pré-constituída.
Assim, apresentada(s) a(s) resposta(s), os autos vão conclusos, sabendo que só há
previsão legal de vista da resposta à acusação ao MP no rito do júri​, mas o Juiz normalmente
abre vista, mesmo tendo jurisprudência do STF dizendo que é nulidade do processo, porque
violam o contraditório e ampla defesa. Se não houver a absolvição o Juiz designará a
audiência.
Conclui-se que o 397 é inovação da reforma de 2009 ao admitir a absolvição sumária,
que veio do procedimento do Tribunal do Júri, em que diante da constatação dos elementos do
artigo supracitado pode o Juiz abortar o final do processo, por isso que é uma forma anômala,
em que o Juiz deve estar absolutamente convencido da inocência do acusado.

Audiência de instrução e julgamento


O rito anterior trazia 3 audiências, hoje se tem apenas uma audiência, com a ideia de
concentração dos atos processuais com o condão de conferir maior celeridade ao processo.
Nessa audiência haverá uma sequência para os atos e sempre se manifesta, em primeiro
lugar, a acusação.
Caderno de Processo Penal II
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Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias,
proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação
e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos
esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em
seguida, o acusado.
§ 1o​ As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas
irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.
§ 2​o​ Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento das partes.

A oitiva das testemunhas, que eventualmente tenham sido indicadas pelo MP na


denúncia, ocorre e elas são alertadas sobre o compromisso de se dizer a verdade sob o risco
de dar falso testemunho, sabendo que as pessoas que possuam algum interesse serão ouvidas
como informantes e isso sem desconsiderar que existem pessoas que são desobrigadas a
prestar depoimento, que por dever de ofício não tem esse dever (padres, advogados, bem
como as pessoas do rol do artigo 267). Ao ouvir a acusação primeiro, hoje, a própria parte
formula diretamente as suas perguntas para as testemunhas e neste caso o Juiz funciona
como um árbitro, antes ele fazia um filtro e transferia a pergunta para a testemunha, a lógica
desse sistema era o Juiz exercer um controle sobre o induzimento da parte nas respostas da
testemunha, mas hoje ele ainda pode interferir e indeferir algumas perguntas caso seja
conveniente.

Não há limite de tempo de inquirição, bem como não há limite de perguntas​.

Depois que o MP esgota sua inquirição, o Juiz passa a palavra para a(s) defesa(s),
tendo em vista o princípio do contraditório. Esgotando esses também, o Juiz questiona, por
último, inquirindo as testemunhas.

ACUSAÇÃO > DEFESA > JUIZ


Depois de ouvidas todas as testemunhas do MP, serão inquiridas as testemunhas indicadas pela defesa
(aquelas indicadas no momento da apresentação da resposta à acusação) e depois o Juiz fará.

Lembrando que se houver assistente do MP ele falará depois do Ministério Público,


podendo fazer, inclusive, perguntas (sabendo que ele não pode indicar testemunhas porque
como só pode ser habilitado ​DEPOIS DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA​, em que é nela que
se indica o rol de testemunhas, mas o assistente até pode apontar uma pessoa a ser ouvida,
em que se o Juiz deferir, ele a ouvirá como testemunha do juízo - art. 209). O próximo passo é
o interrogatório do réu, sendo esta a denominação dada ao depoimento do réu no processo
penal, em que o Juiz chamará o acusado, sabendo que o interrogatório possui dois momentos,
em que o primeiro momento, além de não ser muito feito pelos juízes, não tem relação
nenhuma com os fatos, buscando informações pessoais do acusado (emprego, imóveis,
domicílio, oportunidades de vida, dependência financeira, etc). O depoimento pessoal é a
expressão máxima do direito de defesa, principalmente de auto-defesa, em que o réu tem a
oportunidade de dar sua versão dos fatos, não sendo obrigado a dizer a verdade, porque o
compromisso de dizer a verdade feito com as testemunhas não é feito com ele, em que o Juiz
Caderno de Processo Penal II
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diz, inclusive, que ele pode permanecer calado, pois o silêncio não será interpretado em seu
prejuízo, bem como o acusado poderá ter uma reunião em separado com o seu advogado.

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo
penal, será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado.
§ 1o​ O interrogatório do réu preso será realizado, em sala própria, no estabelecimento
em que estiver recolhido, desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do
Ministério Público e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a publicidade do ato.
§ 2o​ Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento
das partes, poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou
outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a
medida seja necessária para atender a uma das seguintes finalidades:
I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o
preso integre organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o
deslocamento;
II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja
relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância
pessoal;
III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que
não seja possível colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do art. 217 deste
Código;
IV - responder à gravíssima questão de ordem pública
§ 3o​ Da decisão que determinar a realização de interrogatório por videoconferência, as
partes serão intimadas com 10 (dez) dias de antecedência.
§ 4o​ Antes do interrogatório por videoconferência, o preso poderá acompanhar, pelo
mesmo sistema tecnológico, a realização de todos os atos da audiência única de instrução e
julgamento de que tratam os arts. 400, 411 e 531 deste Código.
§ 5o​ Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito de
entrevista prévia e reservada com o seu defensor; se realizado por videoconferência, fica
também garantido o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor
que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência do Fórum, e entre este e o
preso.
§ 6o​ A sala reservada no estabelecimento prisional para a realização de atos
processuais por sistema de videoconferência será fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de
cada causa, como também pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil.
§ 7o​ Será requisitada a apresentação do réu preso em juízo nas hipóteses em que o
interrogatório não se realizar na forma prevista nos §§ 1o​ ​ e 2o​ ​ deste artigo.
§ 8o​ Aplica-se o disposto nos §§ 2o​ ,​ 3​o​, 4o​ e 5​o deste artigo, no que couber, à realização
de outros atos processuais que dependam da participação de pessoa que esteja presa, como
acareação, reconhecimento de pessoas e coisas, e inquirição de testemunha ou tomada de
declarações do ofendido.
§ 9o​ Na hipótese do § 8​o deste artigo, fica garantido o acompanhamento do ato
processual pelo acusado e seu defensor.
§ 10. Do interrogatório deverá constar a informação sobre a existência de filhos,
respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual
responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa
Caderno de Processo Penal II
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No interrogatório, a inquirição começa pelo Juiz, sendo o contrário, em que o Juiz faz as
perguntas diretamente ao réu, em que ao acabar ele pergunta se as partes querem formular
algum questionamento. Com o fim do interrogatório, as partes podem, eventualmente, e se for
necessário, requerer alguma diligência, em que a necessidade dessa diligência tem que ter
surgido da instrução judicial, ou seja, tem que decorrer de algo que surgiu na fase de instrução,
em que ela não se presta a suprir omissões do MP e da defesa em relação à diligências que já
poderiam ter sido requeridas antes. ​Exemplo: ​Admitamos que o MP arrumou o perito que
assinou o laudo e aí prestar o depoimento confirmou o que está na denúncia, mas aí a defesa
traz um perito particular como testemunha que diz o contrário, diante da inquirição dessa
testemunha de defesa surgiu uma controvérsia, em que, assim, pode uma das partes requerer
uma diligência, utilizando muito do que chamamos de acareação (divergência no depoimento
de testemunhas sobre o mesmo fato), confrontando as versões contraditórias, porque a
necessidade surgiu depois da oitiva das testemunhas.

As diligências não servem para protelar o processo, sendo observada a necessidade do seu uso.

O professor acha que não pode o Juiz determinar a diligência, mas na prática acontece,
em que ele determina para suprir uma dúvida própria, o que é errado, pois ao Juiz possuir
dúvida cabe, na verdade, a absolvição do acusado, bem como que a iniciativa probatória
deveria partir do MP. Se ele deferir a diligência o resto da audiência deverá ser encerrada até
que a diligência se realize e, depois de realizada ou indeferida, existe a fase de alegações
finais, as quais ocorrem em audiência, 20 minutos para cada (podendo ser prorrogado por mais
10 minutos e o assistente do MP possui 10 minutos, mas sem poder reduzir o tempo, senão
constata-se o cerceamento de defesa), em que há houve a produção de provas e a causa já
está madura para o julgamento. As alegações finais são as últimas palavras/pronunciamento
das partes em relação ao seu interesse no processo, com base nas provas que foram
produzidas em juízo (as provas foram judicializadas e foram submetidas ao crivo do
contraditório).

O rito atual conferiu maior celeridade em comparação à lei antiga.

Porém as intercorrências impedem que a audiência seja, de fato, una. O primeiro ponto
é a complexidade do caso, pois se a gente fala de um processo que possui um acusado, cada
parte arrolar 8 testemunhas, assim serão 17 depoimentos (16 testemunhas e 1 interrogatório),
já é demorado, com isso se o fato é minimamente complexo não é razoável analisar e consultar
os depoimentos para confrontar o que foi dito em uma única audiência. Assim, apenas a letra
da lei não possui o condão de proporcionar a celeridade ao processo de fato.
Outro ponto é que a lei diz que para inquirir as testemunhas de defesa, todas as
testemunhas do MP devem ter sido ouvidas primeiro, podendo acontecer a inversão de ordem,
mas o advogado pode não aceitar, pois as testemunhas de defesa vem como meio de
contraposição do que as de acusação dizem.
É possível haver inversão da ordem da oitiva de testemunhas, só que para que isso
aconteça ​a defesa deve consentir com essa inversão​, situação em que decorre de uma
Caderno de Processo Penal II
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liberalidade da parte, sem poder reclamar depois. Porém, a situação de testemunhas por carta
precatória não decorre da liberalidade e possui grande discussão, que pode acontecer que a
audiência ocorre antes das testemunhas a serem ouvidas por carta precatória. Assim, o Juiz
vai ouvir as testemunhas presentes de ambas as partes, ou seja, vai se ouvir testemunhas de
defesa antes de todas as testemunhas de acusação, em que a defesa irá reclamar tendo em
vista a inversão não consentida, mas o Juiz, ou a acusação, vai invocar a redação do art. 400
que há uma previsão legal que o Juiz está autorizado a inverter a ordem de oitiva de
testemunhas quando se tratar de testemunhas que serão ouvidas mediante carta precatória.
Essa previsão legal coaduna com a garantia da ampla defesa e contraditório? Tem um
ponto em que não se aceita, apontando ir contra as garantias constitucionais da ampla defesa
e contraditório, enquanto o outro ponto avança é diz que ao considerar o art. 400 como
constitucional, considerando legal a inversão da oitiva das testemunhas, a jurisprudência
avançou, em que se pergunta se pode fazer o interrogatório do réu após ouvir só as
testemunhas presentes na audiência ou se precisa esperar a oitiva das testemunhas por carta
precatória. A autorização do art. 400 (pág. 25) é omissa em relação a isso, diante disso existem
duas interpretações: uma, a majoritária, fala que o Juiz pode interrogar, enquanto a outra diz
que o interrogatório depende de todos os depoimentos. Esse debate existe e depende do
posicionamento do Juiz diante do caso concreto.

Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua
residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as partes.
§ 1​o​ A expedição da precatória não suspenderá a instrução criminal.
§ 2o​ Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a todo tempo, a
precatória, uma vez devolvida, será junta aos autos.
§ 3o​ Na hipótese prevista no c ​ aput deste artigo, a oitiva de testemunha poderá ser
realizada por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em
tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser realizada, inclusive, durante a realização da
audiência de instrução e julgamento.

A lei, dependendo da complexidade do caso, permite que o Juiz, dentro da sua


liberalidade, possa transformar as alegações finais (memoriais) orais em escritas​, em um
prazo de 5 dias, depois o Juiz profere a sentença. Normalmente os Juízes transformam em
escritas por causa de pauta de audiência, bem como ele não consegue dar sentença na hora,
depende da análise dos depoimentos, alegações, etc. Essa concentração de atos é para um
local em que há poucos processos, o que não é o caso do Brasil.

Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas alegações finais
orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez),
proferindo o juiz, a seguir, sentença.
§ 1​o​ Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual.
§ 2o​ Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação desse, serão concedidos 10 (dez)
minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.
§ 3o​ O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados,
conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse
caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença​.
Caderno de Processo Penal II
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Procedimento sumário
Art. 531. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 30 (trinta) dias,
proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas
pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos
esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em
seguida, o acusado e procedendo-se, finalmente, ao debate.

Art. 532. Na instrução, poderão ser inquiridas até 5 (cinco) testemunhas arroladas pela acusação e 5
(cinco) pela defesa.

Art. 533.​ Aplica-se ao procedimento sumário o disposto nos parágrafos do art. 400 deste Código

Art. 534. As alegações finais serão orais, concedendo-se a palavra, respectivamente, à acusação e à
defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir,
sentença.
§ 1​o​ Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual.
§ 2​o Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10 (dez)
minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.

Art. 535. Nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível a prova faltante, determinando o juiz a
condução coercitiva de quem deva comparecer.

Art. 536. A testemunha que comparecer será inquirida, independentemente da suspensão da audiência,
observada em qualquer caso a ordem estabelecida no art. 531 deste Código
Art. 538. Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o juizado especial criminal encaminhar
ao juízo comum as peças existentes para a adoção de outro procedimento, observar-se-á o procedimento
sumário previsto neste Capítulo.

(os demais artigos foram revogados)

Merece alguns registros para a diferenciação em relação ao rito ordinário, em que a


estrutura é absolutamente a mesma (ação penal > juiz > citação > p.i. > absolve ou não
sumariamente > audiência > sentença).​ Existem algumas distinções formais, sendo a primeira
que no procedimento sumário o rol de testemunhas é limitado a 5 por parte (em que no
ordinário são 8), bem como tem 30 dias para designar a audiência de instrução e julgamento
após a decisão da não absolvição sumária (no ordinário são 60 dias), esses prazos servem de
parâmetro para que não haja o constrangimento ilegal, mas a prática os mitigou. A última
observação é sobre a audiência, em que o desenvolvimento é o mesmo, mas a diferença
reside que no procedimento sumário não se tem uma previsão legal da conversão das
alegações orais em memoriais.
Da mesma forma que no ordinário se tem essa previsão legal, então, no sumário as
alegações são orais e a sentença é na própria audiência, mas na prática não acontece sempre,
em que mesmo nao havendo previsão legal, os juízes no rito sumário também transformam as
alegações orais em memoriais, como se ele transformasse o procedimento sumário em
ordinário. Não há por parte da jurisprudência qualquer fala sobre isso, em que ele amplia a
participação das partes, o que não há prejuízo, por isso que não há discussão.
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Rito sumaríssimo
Tem que falar do Juizado Especial Criminal, porque esse rito é dele e das infrações de
menor potencial ofensivo, as quais são todas as contravenções penais e todos os crimes cuja
pena máxima não seja superior a 2 anos:

● Procedimento de menor complexidade


● Contravenções penais (pena máxima 2 anos)

Toda infração penal de pena até dois anos, em se tratando de crime, e as contravenções penais.

O Professor vê o Juizado como a negação do Direito Penal (não há análise prévia, em


que só há análise depois da audiência preliminar, pois banalizam o TCO, ou seja, a prática que
merece críticas, não o Instituto em si). O Direito Penal também se insere dentro de uma
sequência de ondas, em que há momentos de muito Direito Penal e, como consequência,
pouco Direito Penal, como o que houve no final da década de 80 e início da década de 90, que
houve uma alta do Direito Penal, por causa do aumento de incidência de crime, pois começou a
atingir camadas mais altas da sociedade, em que esse momento foi traduzido em diversas leis,
havendo o endurecimento da lei. Enquanto em 1995 houve outra onda, em que combater
criminalidade não significou endurecer as leis, pedindo menos Direito Penal e sobre esse
contexto que se instituiu os chamados Juizados Especiais. Porém, sabe-se que o momento de
“mais Direito Penal” prepondera por mais tempo, incluindo, inclusive, o projeto do novo CPP.
Essa lei indiscutivelmente foi um divisor de águas no Processo penal, porque até então
existem determinados dogmas que depois dessa lei foram mitigados e o espírito dela é ser uma
lei despenalizadora, não discriminadora, não deixar de considerar condutas criminosas, visa,
na verdade, a não aplicação de pena. Sua marca é a instituição de acordo em matéria penal, o
que antes nunca se viu, pois se dava tal direito como intransigível, instituindo uma categoria de
ilícitos em que não justifica o intervencionismo penal, em que o juízo de censurabilidade
pequeno, bem como o legislador percebeu que existiam determinados casos que movimentava
todo o aparato defensivo do Estado, abarrotado a máquina do Judiciário, a qual é cara, para
chegar no final do processo e perceber que como os crimes tinham penas pequenas, ou
prescrevia ou essa pena era substituída por restritiva de direito, sem falar ainda da aplicação
do SURSIS (suspensão condicional da pena). Isso trazia como consequência um descrédito do
poder Judiciário por falta de eficácia, o que levou, para esse tipo de criminalidade (de
censurabilidade menor) a possibilidade de acordo.

O Juizado Especial valorizou a vítima, levando em consideração as penas dos crimes e as contravenções.

A lei trouxe três institutos despenalizadores que vão incidir no rito sumaríssimo, os quais
são: ​A composição civil dos danos (acordo com a vítima), a transação penal (acordo com
o MP) e a suspensão condicional do processo. ​Os dois primeiros são institutos próprios do
Juizado Especial Criminal, ao passo que a suspensão condicional se aplica no Juizado, mas
tem um alcance para além do Juizado. Os princípios que regem o Juizado são ​a celeridade, a
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informalidade (o autor não precisa de advogado, mas o sujeito ativo da conduta precisa)​, a
oralidade, da pacificação social e a concentração dos atos processuais​.
No âmbito das infrações penais de menor potencial ofensivo a fase investigativa é
demarcada pelo termo circunstanciado de ocorrência, como se fosse um b.o., é uma síntese
dos fatos, sendo bem mais simples que o inquérito (sem ouvir as partes, sem acareação, etc) e
feito pela Polícia Civil (A Polícia Militar produz o REDS e envia para a Civil, a qual transforma
em TCO) reduzindo o tempo e a demanda.

o TCO é a reprodução do que a vítima fala oque aconteceu e o que o sujeito ativo diz o
que houve. Em tese, assim como o inquérito, o TCO deve conter o indício de autoria e
prova da materialidade delitiva.

No inquérito, havendo indício de autoria, o MP tinha a obrigação de apresentar a


denúncia, enquanto no Juizado se envia o TCO para ele e ocorre a designação de uma
audiência preliminar e é nela que se tentará realizar o acordo (depende do Instituto). Realizado
o acordo e o mesmo sendo cumprido, extingue-se a punibilidade do indivíduo, não perdendo a
primariedade, porque não houve sentença condenatória, ​mas com a consequência de não
poder realizar qualquer outro acordo neste âmbito por 5 anos​.
A doutrina divide o procedimento sumaríssimo em três fases. Entretanto, o professor
ressaltou que é algo meramente didático, a fase preliminar antecede ao procedimento de fato.
Tem-se, portanto, apenas duas fases na realidade.

FASE PRELIMINAR
● TCO
● Audiência Preliminar:
○ Composição civil dos danos:​ ofendido e investigado tentam chegar a um
consenso. Só é possível quando se trata de ação penal privada ou pública
condicionada à representação. Incondicionada só transação penal.
○ Transação penal​: quando ocorre a transação, evita-se a instauração de ação
penal. Entretanto, fica impedido de transacionar novamente nos próximos 5
anos.
● Oferecimento da denúncia/queixa: ​apenas o protocolo da denúncia.

PROCEDIMENTO EM SI (instrução)
O procedimento é marcado pela oralidade.
● Defesa preliminar (oral ou escrita, em audiência): pretende atacar a ausência de justa
causa, atipicidade, teses de absolvição sumária etc
● Recebimento ou não da denúncia/queixa: do não recebimento cabe apelação. Do
recebimento não cabe recurso, a menos que haja constrangimento ilegal, aí cabe
habeas corpus)
● Oitiva da vítima; das testemunhas; interrogatório
● Debates:​ não cabe memoriais escritos
● Sentença em audiência
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EXECUÇÃO:
● Suspensão condicional do processo (SUSPRO)
○ Pena mínima cominada não ultrapassa a 1 ano. Não pode ser oferecida a
reincidente ou que é réu em outro processo.
○ A suspensão pode se estender de 02 a 04 anos
○ Medida despenalizadora utilizada também na justiça comum. EX: FURTO. Neste
caso, após oferecer a denúncia, o MP oferece a proposta de SUSPRO.
● Multa

Procedimento do Tribunal do Júri


Previsto a partir do artigo 406 do CPP, sendo um procedimento especial e que não leva
em conta a pena do crime cominado, pois os outros são estabelecidos por meio do critério da
pena. Nesse caso, o Tribunal do Júri é definido em razão da natureza da infração,
originariamente​, ao Tribunal do Júri se reserva a competência para o julgamento dos crimes
dolosos contra a vida, quer consumados ou tentados (não se pode falar que ses julga
exclusivamente​, pois quando houver conexão e continência o Tribunal do Júri é o foro atrativo,
prorrogando a competência)

O Tribunal do Júri julga, a princípio, quatro crimes: ​homicídio, infanticídio, aborto e induzimento/instigação
ao suicídio​. Com atenção ao latrocínio não tem como competência originária o Tribunal do Júri, pois o bem
jurídico tutelado neste caso é o patrimônio e não a vida.

O procedimento é bifásico​, tendo a primeira fase tramitando em frente a um Juiz de


Direito, chamado de “Juiz Sumariante”, ou seja, não há a participação dos jurados, enquanto a
segunda se faz perante o Juiz Presidente. Começa da mesma forma do procedimento ordinário
e sumário, com 5 testemunhas que podem ser arroladas, mas oferecida a resposta à acusação
o Juiz irá abrir vista ao MP pelo prazo de 5 dias para que ele possa se manifestar sobre
preliminares e documentos eventualmente juntados aos autos.

Art. 409. Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Ministério Público ou o querelante sobre
preliminares e documentos, em 5 (cinco) dias.

Logo após se designa a audiência de instrução, a qual se dará na mesma perspectiva


das audiências de instrução dos ritos sumário e ordinário, a lógica é a mesma, primeiro se ouve
as testemunhas dos MP, depois as de defesa e por último o interrogatório do acusado, com
qualquer diligência que seja requerida. Depois, as alegações do MP, depois da defesa,
podendo transformá-las em memorial, e, por fim, a decisão do Juiz. Em termos de ritos
ordinário e sumário, estaríamos falando de uma sentença, mas no Tribunal do Júri essa
decisão é chamada de “fase de pronúncia”, ​podendo o Juiz proferir quatro decisões, as quais
são tomadas não por sorteio, mas sim em virtude daquilo que se apurou durante o processo,
servindo como garantidor da preservação da competência do Tribunal do Júri, garantindo,
assim, a legalidade:
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1. Ele pode desclassificar a infração: É, em suma, ​o filtro que o Juiz faz para
não admitir que o Júri julgue crimes que não sejam da sua competência​.
Não julga o mérito, só manda para o Juiz singular competente. Em MG existe
uma lei complementar que diz que o próprio Juiz que desclassificou será o Juiz
responsável para julgar o caso, baseado na premissa da economia processual e
da identidade física do Juiz.

Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime
diverso dos referidos no § 1o​ do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento,
remeterá os autos ao juiz que o seja.
Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição deste ficará
o acusado preso.

2. Ele pode impronunciar o acusado: Semelhante ao arquivamento do inquérito,


não fazendo coisa julgada material (se surgirem provas novas o processo pode
ser reaberto), é tomada em face da ​precariedade ​da prova, isto é, da
temeridade de se mandar aquele acusado à Júri popular.

Art. 414. Não se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de


autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, impronunciará o acusado.
Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser formulada
nova denúncia ou queixa se houver prova nova.

3. Ele pode absolver sumariamente o acusado: Aborta o rito originário e ​a


decisão que o Juiz profere decide o mérito​, o que significa a que o Juiz irá
fazer ao contrário da desclassificação e da impronúncia, dizendo que o sujeito é
inocente e não sendo submetido ao julgamento popular.

​Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando:


I – provada a inexistência do fato;
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato;
III – o fato não constituir infração penal;
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de
inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei no​ 2.848, de 7 de dezembro de 1940 –
Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva.

4. Ele pode pronunciar o acusado: Única decisão que leva o sujeito ao


julgamento popular, sabendo que está não é uma decisão de mérito. É proferida
quando o Juiz identifica dois requisitos: ​se após a instrução criminal (feita
pelo o Juiz sumariante) possuírem indícios de autoria e prova da
materialidade delitiva. Nada mais é que uma decisão que admite que o rito do
tribunal júri prossiga, não julgando o réu, mas determinando que ele seja julgado
perante o tribunal do júri.
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Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do


fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação.
§ 1o​ A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do fato e da
existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o
dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e
as causas de aumento de pena.
§ 2o​ Se o crime for afiançável, o juiz arbitrará o valor da fiança para a concessão ou
manutenção da liberdade provisória.
§ 3o​ O juiz decidirá, motivadamente, no caso de manutenção, revogação ou substituição
da prisão ou medida restritiva de liberdade anteriormente decretada e, tratando-se de acusado
solto, sobre a necessidade da decretação da prisão ou imposição de quaisquer das medidas
previstas no Título IX do Livro I deste Código

Segundo o posicionamento majoritário da jurisprudência e da doutrina se alega


que nesse momento vigora o princípio do ​in dubio pro sociedade, ou seja, ​a
dúvida deve pronunciar o acusado, sendo feita em prol da sociedade, isso em
conta que a absolvição sumária, a desclassificação e impronúncia são decisões
baseadas na certeza.

O princípio reitor conduz para que a decisão seja de pronúncia. A decisão de pronúncia é,
estatisticamente, a decisão com maior incidência, pois qualquer dúvida é suficiente para o
seu pronunciamento​.

A fase de pronúncia é como um filtro que cabe ao Juiz sumariante observar se


cumpre os requisitos para ser pronunciado e se não cumpre os outros. ​Além
disso, o Juiz tem uma tarefa de delimitar o âmbito da pretensão
condenatória no júri, ​ou seja, a sentença de pronúncia limita, em que no dia do
júri o promotor não pode ir além do que definido na decisão. ​Exemplo: ​O
promotor denunciou por homicídio doloso com qualificadora e quando o Juiz vai
pronunciar o réu ele tem que dar ao fato qualificação jurídica. ​O Juiz da
pronúncia pode exercer um controle sobre a qualificadora? ​No júri brasileiro
existe o princípio da não surpresa, ou seja, a acusação deve definir tudo antes,
assim, a sentença de pronúncia fixa os limites da acusação no júri. ​De tal
maneira, se observado que não houve a qualificadora, o Juiz não pode
decotar a qualificadora, segundo a jurisprudência majoritária, sustentando
que o juiz sumariante não pode retirar do júri a atribuição de analisar a
qualificadora.

O juiz vai dar ao fato a qualificação jurídica em que o MP deverá se ater no dia do júri.

Todas essas decisões são passíveis de recurso, umas de recurso no sentido estrito e
outras apelação, em que ​a absolvição e a impronúncia são recorríveis por meio da
apelação, enquanto a desclassificação e a pronúncia são por meio do recurso de sentido
estrito. ​Pronunciado o réu e transitado em julgado a decisão, a sequência é que o provimento
passe para a sua segunda fase, não mais presidido pelo juiz sumariante e sim pelo juiz
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presidente e essa fase se inaugura como descrito no seguinte artigo, 422, em que se abre vista
para as artes apresentarem o rol de testemunhas (5 para cada fato) e requererem diligências
para se prepararem para o júri:

Art. 422. Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação do órgão do
Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias,
apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em
que poderão juntar documentos e requerer diligência​.

O próximo passo é o despacho do juiz designando a data do júri, mas cabe aqui uma
observação sobre os jurados, em que em novembro se faz a lista geral de jurados (a inscrição
fecha por volta de setembro), com todas as pessoas que funcionarão no júri no ano
subsequente. São sete jurados no tribunal, mas o Juiz faz uma lista de 25 para que haja uma
lista geral (senão os 500 selecionados deveriam comparecer em todos os dias que houvessem
júri), dos quais para que a sessão do júri seja aberta deve haver um quórum mínimo de 15
jurados. Havendo os 15 se inicia a formação do Conselho de Sentença, o qual é formado por 7
jurados. No sorteio, pergunta-se à defesa e à acusação se aceitam ou se recusam os jurados,
sendo que podem recusar imotivadamente apenas 3.

Art. 432. E ​ m seguida à organização da pauta, o juiz presidente determinará a intimação do Ministério
Público, da Ordem dos Advogados do Brasil e da Defensoria Pública para acompanharem, em dia e hora
designados, o sorteio dos jurados que atuarão na reunião periódica.
Art. 447. O ​ Tribunal do Júri é composto por 1 (um) juiz togado, seu presidente e por 25 (vinte e cinco)
jurados que serão sorteados dentre os alistados, 7 (sete) dos quais constituirão o Conselho de Sentença
em cada sessão de julgamento.
Art. 463. C ​ omparecendo, pelo menos, 15 (quinze) jurados, o juiz presidente declarará instalados os
trabalhos, anunciando o processo que será submetido a julgamento.
§ 1​o​ O oficial de justiça fará o pregão, certificando a diligência nos autos.
§ 2o​ Os jurados excluídos por impedimento ou suspeição serão computados para a constituição
do número legal.
Art. 465. O ​ s nomes dos suplentes serão consignados em ata, remetendo-se o expediente de convocação,
com observância do disposto nos arts. 434 e 435 deste Código.
Art. 467. V ​ erificando que se encontram na urna as cédulas relativas aos jurados presentes, o juiz
presidente sorteará 7 (sete) dentre eles para a formação do Conselho de Sentença.
​Art. 468. À medida que as cédulas forem sendo retiradas da urna, o juiz presidente as lerá, e a defesa e,
depois dela, o Ministério Público poderão recusar os jurados sorteados, até 3 (três) cada parte, sem motivar
a recusa.
Parágrafo único. O jurado recusado imotivadamente por qualquer das partes será excluído
daquela sessão de instrução e julgamento, prosseguindo-se o sorteio para a composição do Conselho de
Sentença com os jurados remanescentes.

O juiz está vinculado ao princípio do livre convencimento motivado, mas no júri não,
rege o princípio da íntima convicção (julga pelo sentimento e sentido de justiça do jurado) e
isso fica claro quando se observa o compromisso que os jurados assumem no início do júri, em
que partir dele que os jurados são investidos de jurisdição e incomunicáveis para que não
sejam influenciados.
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Art. 472. Formado o Conselho de Sentença, o presidente, levantando-se, e, com ele, todos os presentes,
fará aos jurados a seguinte exortação:
Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade e a proferir a vossa
decisão de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça.
Os jurados, nominalmente chamados pelo presidente, responderão:
Assim o prometo.
Parágrafo único. O jurado, em seguida, receberá cópias da pronúncia ou, se for o caso, das
decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatório do processo

A instrução é a produção de prova, aquelas requeridas no art. 432, em que tudo que
será usado deve ser juntado em até 3 dias antes do júri para que não haja surpresa. Usam da
mesma ordem para a oitiva das testemunhas (primeiro MP, depois defesa e interrogatório do
réu) e depois são os debates, em que cada parte possui uma hora e meia para falar, podendo
esse horário ser dividido. Se houver mais de um réu o prazo será de 2 horas e meia para cada.
As partes são questionadas se querem a réplica ou não, e se aceitando, inicia-se a segunda
fase, possuindo mais uma hora para falar na réplica e a defesa mais uma hora para tréplica,
com prazo em dobro caso hajam mais réus.

Art. 473. Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução plenária quando o juiz
presidente, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor do acusado tomarão, sucessiva e
diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas arroladas pela acusação.
§ 1o​ Para a inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, o defensor do acusado formulará
as perguntas antes do Ministério Público e do assistente, mantidos no mais a ordem e os critérios
estabelecidos neste artigo
§ 2o​ Os jurados poderão formular perguntas ao ofendido e às testemunhas, por intermédio do juiz
presidente.
§ 3o​ As partes e os jurados poderão requerer acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e
esclarecimento dos peritos, bem como a leitura de peças que se refiram, exclusivamente, às provas
colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis.

Art. 477. O tempo destinado à acusação e à defesa será de uma hora e meia para cada, e de uma hora
para a réplica e outro tanto para a tréplica.
§ 1o​ Havendo mais de um acusador ou mais de um defensor, combinarão entre si a distribuição
do tempo, que, na falta de acordo, será dividido pelo juiz presidente, de forma a não exceder o determinado
neste artigo.
§ 2o​ Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo para a acusação e a defesa será acrescido de 1
(uma) hora e elevado ao dobro o da réplica e da tréplica, observado o disposto no § 1o​ ​ deste artigo.

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