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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo

14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo


Palhoça – Unisul – Novembro de 2016
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O TEXTO DA NOTÍCIA EM RÁDIO: A prática da redação radiofô-


nica comparada aos modelos teóricos.

Jeferson Luiz Corrêa


Universidade do Vale do Itajaí

Liza Lopes Corrêa


Universidade do Vale do Itajaí

Resumo: Para que o volume da produção de conteúdo jornalístico no rádio seja compreendido
pelo ouvinte é necessário o mínimo de formatação da notícia. Será uma informação para ser
ouvida, portanto deverá conter clareza e objetividade. E o rádio tem uma linguagem própria para
atingir o seu ouvinte; saber usá-la é se comprometer com a compreensão clara da mensagem.
Este projeto pretende analisar matérias veiculadas pelas rádios CBN e Jovem Pan, ambas emis-
soras de São Paulo, e comparar se o que é recomendado nos manuais de redação e por especia-
listas da área é feito na prática diária pelo repórter/redator de rádio. O resultado é apresentar
uma visão panorâmica atual desta atividade que compõe a essência do radiojornalismo.

Palavras-chave: radiojornalismo; teoria; prática; CBN; Jovem Pan.

1. Introdução
A multiplicidade de plataformas de comunicação para noticiar um fato não
mexeu com a função base do jornalismo, que é informar dos acontecimentos mais rele-
vantes socialmente. Como uma das opções, o rádio tem um dos papeis de informar e
entreter. Nele, o ouvinte precisa apreender as informações sem a necessidade de recorrer
a outros suportes, além do áudio. Por isso, texto no jornalismo radiofônico precisa pri-
mar pela clareza e objetividade. Com a preocupação de que o ouvinte deve captar a no-
tícia de maneira instantânea na mesma hora que estiver sendo veiculada, estudiosos na

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área de comunicação e jornalismo apresentam modelos e formatos de como o texto deve


ser escrito para ser falado no rádio. De acordo com Prado (1985), como as mensagens
do rádio não são permanentes, o redator tem a obrigação de escrever de forma que as
mensagens sejam entendidas pela primeira vez. Além desta preocupação, o rádio em si
abre possibilidade para a rapidez e agilidade de noticiar. Portanto, é necessário saber
estruturar as informações para o entendimento imediato.

Depois de cinco anos atuando em equipes de rádio no departamento de jornalis-


mo de Joinville, o autor deste artigo indaga se a estrutura dos textos proposta em livros
acadêmicos e em manuais é realmente usada pelos redatores. O interesse em comparar e
analisar o conteúdo jornalístico é para saber se a comunicação no rádio é feita em pleni-
tude, sem subutilizar o meio.

2. Desenvolvimento

O uso do rádio como meio de prestação de serviço é de certa forma unânime en-
tre quem está na lida da produção e também por pesquisadores da área. No rádio, “é
necessário ser inteligível - imediatamente inteligível. Uma frase mal construída, uma
expressão ambígua, uma sentença complicada ou uma descrição de fatos sem uma se-
quência lógica podem ser fatais para um noticiário no rádio”. (CHANTLER E HARRIS,
1998, p. 50). Alguns manuais de redação já foram publicados com a intenção de que as
emissoras cobrem das equipes uma linguagem padrão de texto. Isso indica que a estru-
tura da notícia no rádio não é a mesma da usada no jornal impresso ou na televisão.
Diante deste entendimento, o lead do jornalismo de rádio teria seu próprio for-
mato. Se o rádio tem a missão de comunicar, e quando se trata da notícia, informar, de-
ve ser feito da maneira certa. O rigor do formato em nome da compreensão é orientado
por Kopplin e Ferraretto (1992), indicando como cada parte da notícia deve estar mon-
tada. Na prática, inicia-se com “o quê” ou “quem” está sendo tratado, para na sequência
optar por “onde” ou “quando”. Depois disso, é possível trazer outros detalhes, de “co-
mo” aquilo aconteceu e o “por quê”. A notícia deve ser construída por ordem decrescen-
te de importância.

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A estrutura sugerida é motivada pelo fato do modelo imitar a fala espontânea de


qualquer pessoa ao contar um fato. No livro “Manual de Radiojornalismo Jovem Pan”,
Maria Elisa Porchat (2004) tenta fazer com que o redator entenda a limitação (ou não)
do rádio. “Contar apenas com a audição significa que o som deverá suprir a falta de
imagem. Isso demanda uma linguagem mais do que clara, uma linguagem nítida, para
que o ouvinte ‘veja’ através das palavras”. (PORCHAT, 2004, p. 97).
Este artigo analisa conteúdos captados em dois radiojornais nos dias 8, 16, 20 e
27 de janeiro de 2015 no Jornal da Manhã, da Jovem Pan, e Jornal da CBN, da CBN,
entre as seis e oito horas da manhã. As pesquisas de comparação foram feitas a partir
dos dois principais radiojornais das emissoras no mesmo horário: das seis horas às oito
horas da manhã. Para maior rigor de comparativos, optou-se por usar os materiais que
trazem a mesma notícia e no mesmo formato, ainda que com enfoques diferentes.

Este artigo busca ainda separar o texto por formatos distintos dentro de um
mesmo programa, mas que estivessem em ambos radiojornais. Quanto a estrutura do
texto, iremos dividir em o Manchetado e o de Narrativa Livre. Na narrativa livre, foram
analisados os textos em formato de nota/notícia, matéria e boletim de repórter.
A estrutura do texto da notícia manchetada é uma tendência que surgiu na déca-
da de 1980, que segundo Zuculoto (2012, p. 92), “ditava ‘moda’ radiofônica no Brasil”.
Nos materiais captados, as notícias manchetadas vêm acompanhadas de sonoras, depo-
imentos em áudio feitos diretamente pelos personagens da notícia. Já na narrativa en-
caixam-se as notas/notícias, matérias e boletins de repórter. Por notas/notícias, conside-
ra-se um pequeno texto corrido lido por somente um dos apresentadores do jornal, sobre
um acontecimento. (BARBOSA FILHO, 2003). O formato matéria é levado ao ar pelo
repórter, com a presença de pelo menos uma sonora. Para boletim de repórter, entende-
se a entrada do repórter ao vivo, seja dentro do estúdio, da redação ou em local externo
ao prédio da emissora. (FERRARETO, 2014). Ao analisar os materiais, este artigo leva
em conta os manuais de redação das duas emissoras, livros publicados e adotados como
referência por estudantes e profissionais de radiojornalismo. O fato das emissoras esco-
lhidas possuírem seus próprios manuais motivou a seleção da Rádio CBN e da Rádio
Jovem Pan. Foram utilizadas também outras bibliografias da área.

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2.1 Ordem direta e voz ativa

Entre as centenas de orientações e dicas dadas pelos manuais das duas emisso-
ras, duas delas se referem ao uso da ordem direta e o cuidado com a voz ativa. A cons-
trução de frases na ordem direta é exigência comum. Para a Jovem Pan, Porchat (2004)
explica que a ordem direta é mais simples de ser entendida, mesmo que elementos da
notícia forcem a formação de uma ordem indireta. O mesmo vale para a CBN, quando
Tavares (2011) ordena sem rodeios que as frases devem ser curtas e estar na ordem dire-
ta. O uso de voz ativa é mais uma preocupação para que a notícia seja captada facilmen-
te. Nos livros que citam a voz ativa (FERRARETTO, 2011; SQUARISI, 2014), há um
esforço para que se deixe de lado a voz passiva em detrimento da ativa.

2.2 Notícia manchetada

Manchetar a notícia é escrevê-la de forma enxuta e objetiva, a exemplo das


manchetes de jornais impressos. A notícia manchetada foi considerada uma evolução
dos textos veiculados no final da primeira metade do século 20. Na formação, “cada
manchete engloba uma ação expressa no verbo”. (FERRARETTO, 2014, p. 119). É
uma das formas de dar conta do grande volume de informações que chegam à redação.
(PORCHAT, 2004).

08/01/2015 – Jornal da CBN - CBN

Notícia manchetada – Ataque revista Charlie Hebdo

No exemplo 1 abaixo, as frases usaram ordem direta e voz ativa. O manual da


CBN não trata da notícia manchetada, mas pela dinâmica da apresentação, pode-se ob-
servar que é. Considerando Ferraretto (2014), a primeira fala do locutor 1 deveria ter no
máximo uma linha e meia ou 100 toques, aqui nominados como caracteres com espaço.
No texto, isso ocorre em seis linhas e 288 caracteres, algo considerado grande pela re-

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gra.
Exemplo 1
Áudio: 08-01-2015 - CBN - ATAQUE REVISTA 1 – NOTÍCIA MANCHETADA
Tempo: 4’26’’
LOCUTOR 1:
Nas redes sociais, chargistas de todo o mundo prestaram homenagens aos mortos pelo terror. A frase
“Je suis Charlie”, Eu sou Charlie, em português, foi uma das mais usadas durante o dia. Para o jornalis-
ta e cientista político William Wack, o ataque fere todos os princípios civilizatórios.
(SONORA)
DI: Eu vivo numa sociedade baseada numa tolerância...
DF: … absolutamente inaceitável.

Na primeira fala do locutor 2, no exemplo 2 apresentação da ocupação e nome


da fonte obriga a uma frase maior, o que, por conveniência, é aceita como exceção para
a redação de uma frase longa. Quanto à maneira de identificação, houve acerto segundo
recomendação do manual da emissora: “designação ou cargo antes do nome”. (TAVA-
RES, 2011, p. 37).
Exemplo 2
LOCUTOR 2: O SOCIÓLOGO E INTEGRANTE DE GRUPOS DE ANÁLISE DE CONJUNTURA
INTERNACIONAL DA USP DEMÉTRIO MAGNOLI avaliou que o ataque não pode ser considerado
uma surpresa.
LOCUTOR 1: Ele afirmou que os fundamentalistas islâmicos são contrários à ideia de uma sociedade
aberta. Um lema que a revista Charlie Hebdo sempre pregou.
(SONORA)
DI: É uma atentado contra o Charlie Hebdo...
DF: … nós são concordamos.
LOCUTOR 2: O jornalista e escritor Alberto Dines comentou a reação da comunidade internacional ao
massacre na revista francesa.
(SONORA)
DI: É um ataque a todos nós…
DF: … tem que colocar.
LOCUTOR 1: O professor da USP e colunista da revista Época Eugenio Bucci destacou que o caso
também revela que a violência se voltou contra a ironia e a ideia de modernidade.
(SONORA)
DI: Há uma nota...
DF: ...da ideia de moderno.

No exemplo 3, a frase poderia ser desmembrada em duas, pois são duas ideias.
Uma que o cartunista “ficou chocado” e outra que ele “exaltou a obra”. Para Tavares
(2011, p. 83), “A melhor alternativa é desmembrar as informações em um número maior
de frases”. Ao redigir somente o primeiro nome do cartunista em vez do nome comple-
to, o redator seguiu a norma do manual que prevê que quando a fonte é consagrada é

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possível identificá-la pelo nome conhecido, sem abrir mão de citar da função.
Exemplo 3
LOCUTOR 1: Na TV Globo, o CARTUNISTA ZIRALDO disse que ficou chocado com o ataque e
exaltou a obra dos cartunistas franceses mortos, especialmente Georges Wolinsk, mestre dos chargistas
brasileiros.
(SONORA)
DI: É uma coisa imaginável…
DF: ...inclusive a minha geração aqui no Brasil, todo mundo.

A partir do exemplo 4, o locutor deixa o formato de notícia manchetada e assu-


me o papel de âncora, com locução conversada. É um convite à participação do ouvinte.
Para Squarisi (2011, p. 142), “Não existe mais aquela história do eu falo, você escuta”.
Exemplo 4
LOCUÇÃO 1: Durante todo jornal da CBN você ouvirá outras vozes em favor da liberdade de expres-
são duramente atacada neste ataque terrorista que nós acompanhamos ainda no final da edição de on-
tem aqui do Jornal da CBN e que ocorreu na França. Ouviremos outras análises. E você também pode
falar esse assunto, deve falar sobre esse assunto conversamos conosco e com seus amigos nas redes
sociais. Refletindo sobre esse tema. milton@cbn.com.br é o nosso e email, tem o Twitter também o
@jornaldacbn e as nossas páginas no Facebook e Google Mais.

Apesar de convidar o ouvinte a interagir, ocorreu na primeira frase do trecho


acima, no exemplo 3, a escolha por uma sentença longa, que dificulta o entendimento
do ouvinte. Mas logo depois, segue uma frase curta, como sugere o próprio manual. A
alternância entre frases curtas e longas na redação de rádio é essencial para manter o
ritmo sem ser arrastado nem telegráfico. (CABELLO, 1995).

08/01/2015 – Jornal da Manhã – JP

Notícia manchetada – Ataque revista Charlie Hebdo

No Jornal da Manhã (JP), dentro do roteiro do radiojornal, a notícia do ataque à


revista foi noticiada primeiro pelo desenrolar dos fatos e depois por meio de notícia
manchetada com análise de estudiosos em política internacional e personalidades.

Em geral, o texto da notícia manchetada no Jornal da Manhã é escrita em ordem


direta, como recomendado pela manual da emissora e outras bibliografias. Os verbos
usados são, na maioria, conjugados no presente, mesmo quando na frase exista citação

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do dia do fato. Tal estratégia é usada para dar sensação de que a notícia é sempre atual.
A primeira frase é o exemplo do lead ideal, com o “que, quem” no início e o “quando”
no final. O manual da Jovem Pan orienta que o “‘ontem’ no lide só deve aparecer quan-
do for necessário à informação, mas nunca no começo da frase”. (PORCHAT, 2004, p.
54).
Exemplo 5
Áudio: 08-01-2016 - JP - ATAQUE REVISTA - NOTÍCIA MANCHETADA
Tempo: 5’19’’
LOCUTOR 1: França INTENSIFICA caçada aos terroristas islâmicos que mataram 12 pessoas na
redação do jornal Charlie Hebdo, em Paris, nesta quarta-feira.

O exemplo 5, acima, a frase extrapola o tamanho recomendado, de uma linha e


meia ou 100 toques. Poderia ser dividida assim: “França intensifica caçada aos terroris-
tas que mataram 12 pessoas no jornal Charlie Hebdo. O crime aconteceu em Paris nesta
quarta-feira.” O mesmo podia ocorrer em outras frases na mesma notícia do trecho
abaixo, registro de discordância com o próprio manual da emissora. Na questão de esti-
lo, o texto do exemplo 6 segue o manual quanto à identificação de pessoas, com se-
quência de cargo/função e depois o nome (PORCHAT, 2004):
Exemplo 6
LOCUTOR 2: Irmãos Said e Cherif Kuachi foram identificados como os atiradores. Um jovem de 18
anos apontado como cúmplice da dupla se entregou a polícia.
LOCUTOR 1: Mascarados e armados com fuzis AK047, eles invadiram a redação do Charlie Hebdo
aos gritos de, em árabe, Alá é grande.
LOCUTOR 2: O ataque, considerado um ato terrorista pelo presidente francês, Francois Holand, pre-
tendeu vingar Maomé, alvo de caricatura no jornal satírico.
LOCUTOR 1: Testemunhas dizem que os irmãos falavam francês perfeito e festejaram os crimes pra-
ticados.
LOCUTOR 2: Apesar do relato, a PROFESSORA DE POLÍTICA INTERNACIONAL FRANCINE
PESSEQUILO considera prematura qualquer acusação a grupos religiosos.
(SONORA)
DI: Essa é uma revista conhecida…
DF: …contra a revista neste momento.
LOCUTOR 1: Os terroristas chegaram a redação do jornal logo no início da reunião de pauta. Separa-
ram as mulheres e mataram os principais jornalistas.
LOCUTOR 2: Professor de RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA PUC SÃO PAULO REGINADO
NASSER acredita que os bandidos premeditaram cuidadosamente o ataque.
(SONORA)
DI: Esse atentado claramente foi…
DF: … outras pessoas dando cobertura.
LOCUTOR 1: Entre as vítimas estão dois policiais. O diretor do jornal, Stéphane Charbonnier, o
Charb, e os cartunistas Jean Cabu, Bernard Verlhace, Georges Wolinski.
LOCUTOR 2: Em entrevista a repórter Izilda Alves, o cartunista Ziraldo, amigo de Wolinski, comen-
tou o ataque.

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(SONORA)
DI: Essa coisa de o pessoal…
DF: ...de uma coisa desse tipo.
LOCUTOR 1: O atentado ocorre no momento que se começa a discutir a islamização da França. Dez
por cento da população do país obedece ao alcorão.
LOCUTOR 2: Professor Alexandre Hecker lembra que nesse momento não se deve crucificar segui-
mentos populacionais de culturas diferentes.
(SONORA)
DI: Nós hoje temos uma Europa…
DF: … fora da realidade.
LOCUTOR 1: Mas professor de relações internacionais da USP reconhece que o atentado tende a
fortalecer os extremistas dispostos a barrar imigrantes.
LOCUTOR 2: Samuel Feldberg entende que cabe ao governo francês prosseguir no esforço de inte-
gração dos muçulmanos e barrar os extremismos.
(SONORA)
DI: Por um lado…
DF: … dessa populações imigrantes.
LOCUTOR 1: Foi o segundo atentado contra o jornal satírico Charlie Hebdo que em 2011 foi destruí-
do por um incêndio criminoso.
LOCUTOR 2: Nesta quarta-feira, o presidente norteamericano, Barack Obama, colocou o FBI a dispo-
sição do governo francês para ajudar nas investigações.
LOCUTOR 1: A presidente Dilma Rousseff divulgou nota afirmando que as mortes no Charlie Hebdo
constituem um atentado contra a liberdade de imprensa.

A última frase do trecho, no exemplo 6.2, volta a optar por frases grandes e que
contém mais de uma ação. Salvo se o locutor emendou as frases por conta própria:
Exemplo 6.2
LOCUTOR 2: Em Paris, cem mil pessoas saíram às ruas em solidariedade as vítimas e a mensagem do
jornal estampava na internet Je sui Charlie - Eu sou Charlie, que se espalhou pelo mundo.

2.3 Matéria

Neste material existem diferenças de abordagem entre as matérias das duas rá-
dios. A justificativa para o uso é que ambas tem a declaração do prefeito de São Paulo
em 2015, Fernando Haddad, sobre o questionamento da pouca aparição em público. A
da CBN foi mais ampla, abordando problemas causados pela falta de energia elétrica na
cidade de São Paulo, um dia antes da matéria ir ao ar. Já a Jovem Pan focou na polêmica
da fala do prefeito.

16/01/2015 – Jornal da CBN - CBN

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Matéria – Declaração Prefeito SP

Esta matéria é antecipada por uma introdução (cabeça) lida pelo ânco-
ra/apresentador. Na CBN, o manual orienta que a cabeça seja escrita pelo repórter e não
deve repetir o início do áudio da matéria. (TAVARES, 2011). No exemplo 7, abaixo,
abaixo, pode-se constatar que a regra foi seguida, sendo a cabeça, um chamariz para o
ouvinte ficar atento ao conteúdo. Na formatação, as frases têm tamanho ideal para com-
preensão e estão na ordem direta.

Exemplo 7

Áudio: 16-01-2016 - CBN - DECLARAÇÃO PREFEITO SP – MATÉRIA


Tempo: 4’08’’
Cabeça:
Protesto de rua e cerco a carro da Eletropaulo. É esse ponto que o paulistano está chegando depois de
sofrer o que vem sofrendo nesses últimos dias com a falta de energia elétrica. Os paulistanos estão
enfrentando diversos problemas neste verão e um dos principais é a falta de energia, mas tem outros no
caminho.

O lead da matéria, exemplo 7.1, responde às principais perguntas quem concen-


tram o mais importante da notícia. Quem (moradores), onde (Pompeia), o quê (realizar
protesto). O por quê, como e quando podem vir abaixo. Em alguns casos, o quando é
indispensável pela condição que a rádio tem de trazer informações novas. Houve uma
opção diferente do manual no trecho “registravam 70 horas sem eletricidade”, pois uma
das funções do repórter é redigir com objetividade e clareza. (TAVARES, 2011). Co-
mumente, a grande quantidade de horas é dividida em dias, não em horas. Se o ouvinte
resolver calcular as horas em dias terá perdido o restante da matéria. A repórter seguiu o
manual na passagem de texto para sonora. Houve construções informativas, sem obvie-
dades, o que dá riqueza a matéria e evita, caso haja falha técnica, que o ouvinte fique
prejudicado pela redação desleixada.
Exemplo 7.1
Repórter:

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MORADORES da POMPEIA, na zona Oeste de São Paulo, precisaram REALIZAR UM PROTESTO


pra ter a energia de volta em casa. Desde segunda-feira sem luz, eles fecharam duas faixas da principal
avenida do bairro, no início da tarde desta quinta, quando já registravam 70 HORAS SEM ELETRI-
CIDADE. A dona de casa Maria Tereza disse que ligou inúmeras vezes para a Eletropaulo e chegou a
ir a uma das sedes da concessionária, mas sempre sem solução.
Além dos prédios residenciais, no quarteirão existem lojas, lanchonetes e um consultório médico, todos
haviam fechado as portas desde o início da semana.
(SONORA)
DI: Desde segunda-feira...
DF: … e foi assim que a gente conseguiu.
No bairro Pacaembu uma árvore caiu sobre a fiação interrompendo o fornecimento de energia na rua
por quase 24 horas. Renan Crioli estava de férias e quando chegou em casa não foi bem recepcionado.
(SONORA)
DI: Isso a gente chegou em casa...
DF: … pra gente perguntar.
Além da falta de luz, paulistanos também lidam diariamente com outro tipo de problema. Esta semana,
uma cratera abriu em uma rua na região central da cidade. Na quinta-feira, o buraco já estava com dois
metros de profundidade e o diâmetro de um carro. Os moradores temem que os asfalto continue ceden-
do por causa das chuvas. Durante uma conversa com jornalistas, o prefeito de São Paulo, Fernando
Haddad, foi questionado sobre as providências que estaria tomando para solucionar essas crises.
(SONORA)
DI: Por que o local correto pra enfrentar…
DF: … vai fazer chover lá?
Nesta quinta-feira, uma equipe da Eletropaulo passou por uma situação inusitada no bairro do Butantã,
na zona oeste. Moradores que estavam sem luz havia três dias fecharam uma rua em que estava estaci-
onado o carro da concessionária e informaram que só iriam desbloquear a passagem quando a energia
fosse restabelecida no local. De SÃO PAULO, JULIA ARRAES.

A última frase, do exemplo 7.1 pode ser considera um pouco grande para a faci-
litação da captação do conteúdo. Na assinatura da matéria, foi seguida a orientação do
manual com o registro do local da matéria e o nome do repórter.

16/01/2015 – Jornal da Manhã – JP

Matéria – Declaração Prefeito SP

O manual da Jovem Pan traz indicações de como o âncora deve se comportar no


ar, mas poucos detalhes sobre a apresentação da matéria. Orienta chamar “o repórter
pelo nome completo, sem intimidades” (PORCHAT, 2004, p. 72), o texto da cabeça não
deve repetir o da matéria e pede para que não se improvise a apresentação quando há
desconhecimento do conteúdo. No exemplo 8, limita-se a uma chamada básica com

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citação do nome do repórter.


Na abertura da matéria, conforme recomenda o manual, ao repórter compete
trazer a informação mais importante, o lead. Há o uso de ordem direta e voz ativa, com
frases no tamanho ideal. Entre o texto e a sonora, a matéria analisada se resume a expli-
car o por quê da fala do prefeito, sem resumir o pensamento. No manual da JP, nada
consta sobre passagem para sonora.
Exemplo 8
Áudio: 16-01-2016 - JP - DECLARAÇÃO PREFEITO SP – MATÉRIA
Tempo: 1’26’’
Cabeça:
E ESPAÇO PARA INFORMAÇÃO COM ANDERSON COSTA.
Repórter:
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, rebate críticas e diz que está acompanhando desdobramen-
tos das chuvas no próprio gabinete. Haddad reduziu o número de agendas externas desde o fim de
dezembro e só fez três aparições públicas em 2015. A mudança de postura ocorre no período que a
cidade sofre com as chuvas de verão e as sucessivas quedas de árvores. Desde o início do ano, o prefei-
to faz mudanças no secretariado visando as eleições de 2016. Questionado sobre as chuvas que tem
atingido a cidade, o prefeito explica porque tem feito a opção por permanecer no gabinete.
(SONORA)
DI: Por que o local correto pra enfrentar…
DF: ... de uma subprefeitura pra outra.
Desde o último dia 29 de dezembro, cerca de mil árvores caíram em toda cidade, segundo levantamen-
to da própria prefeitura.

No conteúdo analisado não existe assinatura do repórter, nem o manual orienta


para isso. Observou-se que nas matérias de veiculação nacional existe fechamento com
o local e nome do profissional. Como o material acima entrou no momento das notícias
locais de São Paulo, pode-se supor que a matéria foi fechada na cidade da transmissão.

2.4 Nota/notícia

Existem poucas explicações sobre o formato nota e notícia, algo justificável pelo
seu tamanho e simplicidade. Para Barbosa Filho (2003), nota é resultado de uma infor-
mação nova e resumida em poucas linhas com tempo curto, em média 40 segundos. Já
Ferraretto (2014) calcula que uma notícia pode ter aproximadamente um minuto.

27/01/2015 – Jornal da CBN - CBN

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Nota/notícia – Netinho de Paula

No exemplo 9, quanto ao tamanho ideal da primeira linha da notícia em rádio


(máximo 100 toques ou 1,5 linha), o texto foge da norma e na penúltima frase quase
dobra o tamanho. O uso de sentenças grandes não é simplesmente proibida, caso a pos-
terior seja curta, mas nem mesmo essa exceção é usada no material captado. Ainda na
questão do estilo, o redator acerta na identificação do personagem, segundo o manual.
Mas foge à regra quando orienta sobre como citar funções legislativas (FERRARETTO,
2014). O ideal seria nesta ordem: função pública – partido – nome da pessoa. Contudo,
se houvesse a identificação antes do nome deixaria o início do lead desinteressante ao
ouvinte.
Exemplo 9
Áudio: 27-01-2015 - CBN - NETINHO DE PAULA – NOTA/NOTÍCIA
Tempo: 1’08’’
Âncora:
VEREADOR NETINHO DE PAULA, DO PC DO B, usou a verba mensal a que tem direito como
parlamentar para custear parte das despesas que assumiu na eleição passada quando foi candidato a
deputado federal. De acordo com a prestação de contas realizada por ele, ao menos 27 mil e quinhentos
reais foram repassados a empresa PN mídia, em 2014, para pagar serviços de criação e elaboração do
site da campanha. Três meses após o término da eleição, a página www.netinhodepaulaoficial.com.br.
Usada até outubro para divulgar as atividades de netinho na eleição, continua no ar. A última atualiza-
ção, no entanto, ocorreu em quatro de outubro do ano passado, quando o vereador e candidato partici-
pou de uma carreata em Carapicuíba, na grande São Paulo, para pedir apoio a eleitores da cidade. Com
o total de 82 mil votos ele não se elegeu. De acordo com link transparência do site da câmara munici-
pal, o serviço realizado pela empresa de comunicação, contratada por Netinho, custava cinco mil e
quinhentos reais mensais a seu gabinete. A PN foi paga em junho, julho, agosto, setembro e novembro.
Ou seja, usou verba do gabinete para pagar a campanha.

O texto do exemplo 8 também abusa de vírgulas e desobedece a ordem direta


(sujeito + verbo + complemento). No rádio, esta sequência facilita a clareza e entendi-
mento.

27/01/2015 – Jornal da Manhã - JP

Nota/notícia – Netinho de Paula

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No exemplo 9, o texto segue a ordem direta e a voz ativa, com frases curtas.
Possui rigor quanto a identificação do cargo e nome. A nota/notícia em si tem 22 se-
gundos. Incluímos aqui o que pode-se considerar o comentário do âncora, o que resultou
num total de 48 segundos. No rádio, existe a possibilidade de repetição de palavras, em
vez de usar sinônimos pouco conhecidos. Porém o redator abusou no uso do pronome
em duas frases seguidas, causando a sensação de pobreza de vocabulário.
Exemplo 9
Áudio: 27-01-2015 - JP - NETINHO DE PAULA – NOTA/NOTÍCIA
Tempo: 48’’
Âncora:
OLHA, o vereador Netinho de Paula, ELE usou verba de gabinete pra pagar um site eleitoral usado em
2014. ELE foi candidato a deputado federal, NÉ, pelo PC do B. ELE pediu reembolso de 27 mil e
quinhentos reais que foram repassados para a empresa PN mídia. A companhia criou o site de campa-
nha do Netinho, que não conseguiu se reeleger. ELE alega ter se equivocado nas contas.
Comentário do âncora:
O Netinho tá se enchendo de coisa, tá se enchendo de denúncia contra ele. Uma hora porque bateu na
mulher. Uma hora porque pegou dinheiro da câmara, porque desviou da daqui, porque foi de lá. Inte-
ressante que eu conheci o Netinho mais ou menos em 1992, 93, quando ele tinha o grupo Negritude
Junior. Ele fez uma campanha, ele fez um trabalho até muito bonito lá pra Cohab de Taipas, na zona
Norte de São Paulo. Eu conheci o trabalho dele lá. De repente virou político, daí virou isso, né.

O âncora também usa o coloquialismo, para dar naturalidade à fala e aproximar


o ouvinte. É um recurso para cativar a audiência. “Quem ouve pensa que o locutor está
falando com ele”. (SQUARISI, 2014, p. 141).

2.5 Boletim de repórter

O termo boletim de repórter é usado aqui para tratar das entradas dos repórteres
ao vivo durante os radiojornais. Alguns livros sobre rádio (FERRARETTO, 2014) che-
gam a nomear boletim de repórter como reportagem, inclusive os próprios manuais das
emissoras analisados neste artigo. Mas aqui, o boletim de repórter terá um caráter de
notícia rápida, que não ultrapassa 60 segundos de duração, com informação de serviço e
utilidade pública.

20/01/2015 – Jornal da CBN - CBN

Boletim de repórter – Árvores caídas SP

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O início da entrada ao vivo do repórter é questão de estilo de cada emissora. Pa-


ra CBN, o âncora deve informar o assunto da notícia, local do repórter e o nome dele.
Cabe ao repórter citar o nome do âncora como forma sutil de interação. O manual pede
que sejam evitados cumprimentos, como “bom dia”. (TAVARES, 2011). Esta regra foi
quebrada no exemplo 10. Apesar de extrapolar o tamanho ideal da frase, as demais pos-
suem alternância entre curta e média.
Exemplo 10
Áudio: 20-01-2015 - CBN - ARVORES CAÍDAS – BOLETIM
Tempo: 38’’
Âncora:
Nós temos agora 6 horas e 15 minutos. Começamos os destaque DE SÃO PAULO, COM A ISABEL
SANTOS, que está de olho ainda NO QUE SOBROU NA CIDADE DEPOIS DO TEMPORAL DE
ONTEM. Isabel, bom dia.
Repórter
BOM DIA, Milton. Parte de uma árvore de grande porte caiu sobre três carros e também atingiu um
portão e parte do muro de um condomínio da rua Doutor Djalma Pinheiro Franco, na Vila Santa Cata-
rina, zona Sul da capital. Essa árvore também atingiu a fiação elétrica. Parte do bairro permanece sem
luz. Equipes estão no local e a via está parcialmente interditada. Milton.

Houve ainda aderência ao manual da emissora quando a repórter não assinou o


boletim. (TAVARES, 2011).

20/01/2015 – Jornal da Manhã - JP

Boletim de repórter – Árvores caídas SP

Ao chamar a participação do repórter, o manual da JP orienta que não haja inti-


midades entre âncora e repórter. Isso foi registrado aqui no material captado (exemplo
11). Mas, neste boletim, o repórter abdicou de ir direto ao assunto, contrariando o ma-
nual da emissora. “Seja direto. Fale diretamente, sem dar voltas no assunto”. (POR-
CHAT, 2004, p. 137). Houve ainda o uso de uma palavra pouco usada (frondosa), a
orientação é lançar mão de simplicidade com a garantia de o ouvinte ter entendimento
total da notícia. No mais, o texto foi escrito na voz ativa e ordem direta em sua maioria.
Exemplo 11
Áudio: 20-01-2015 - JP - ARVORES CAÍDAS – BOLETIM

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Tempo: 49’’
Âncora:
Agora a repórter Renata Perobeli tem informações sobre a cidade de São Paulo. Bom dia, Renata.
Repórter:
BOM DIA Raquel, bom dia ouvintes. Raquel, NA SUA TERRA, NA PARAÍBA, AS FRUTAS CA-
EM DE MADURO, COMO SE DIZ AÍ NO JARGÃO POPULAR. MAS AQUI EM SÃO PAULO AS
ÁRVORES CAEM DE PODRE. E isso aconteceu mais uma vez na Vila Santa Catarina, na rua Djalma
Pinheiro Franco que está interditada. É uma importante via de ligação entre a Cupecê e a região da
avenida Roberto Marinho. Esta… um galho desta frondosa árvore caiu ontem à noite sobre três carros
e ainda acabou destruindo um muro de um condomínio. Resultado: todo mundo sem luz neste calor
infernal na cidade de São Paulo.

3. Conclusão

A redação de rádio segue numa curva ascendente. Desde o lápis vermelho de


Roquete Pinto (JUNG, 2004), ao marcar o texto do jornal que seria lido no ar na pionei-
ra Rádio Sociedade de Rio de Janeiro, em 1923, até a leitura de opinião do ouvinte que
acabou de mandar uma mensagem de texto pela internet é possível perceber que a co-
municação no rádio é diferente de outros meios.
É necessário continuar numa busca do aprimoramento do texto para o rádio.
Principalmente no radiojornalismo, é preciso redigir para que a informação seja falada e
rapidamente ouvida e absorvida. O esforço foi sentido por Prado (1985) quando se pre-
ocupou em mostrar a melhor estrutura e característica da notícia. Logo depois, em 1989,
veio a rádio Jovem Pan com seu Manual de Radiojornalismo consagrando o estilo e
fazendo história. Publicar um manual confirma o compromisso com a qualidade do
formato e a responsabilidade com o ouvinte. A primeira emissora do Brasil a se preocu-
par em veicular só notícia, a CBN, viria em 1991. Os textos poderiam ser redigidos de
qualquer jeito, mas não foi assim. A publicação do Manual de Redação CBN, em 2011,
mostrou que a preocupação com a escrita para o rádio continuava.
O cenário mostra que clareza, brevidade e sinceridade da comunicação em rádio,
citadas por Prado (1984), continuam a valer. Alguém tinha que desbravar esta selva da
linguagem e estilo radiofônicos. As regras já estavam postas: frases somente com ordem
direta, frases curtas, jamais na voz passiva, números arredondados para melhor absor-
ção, cuidado ainda com pronúncias ambíguas.

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Foi para verificar a aplicação da linguagem indicada para o rádio que este artigo
se propôs a analisar textos de dois dos principais radiojornais brasileiros. Encontrou-se
um cenário de textos, em sua maioria, seguindo os manuais, mas sofrendo com os desli-
zes possivelmente originados da grande quantidade de informações a se noticiar: algu-
mas frases longas, outros fora da ordem direta, a maioria com preocupação na passagem
entre texto e sonora. Ainda é difícil se desvencilhar da escrita voltada para veículos im-
pressos. Como nos exemplos acima de Notícia Manchetada, Matéria e Nota/Notícia, é
preciso ainda fazer um esforço para diminuir as frases, cada uma com seu verbo e cada
sentença marcando uma ação.
Com a consolidação sem voltas das redes sociais e a publicação dos conteúdos
nos sites da emissoras, fica a tarefa de analisar como o texto pode convergir nas plata-
formas do rádio e da internet. E o rádio mais uma vez só tem a ganhar. Tavares (2011)
também se preocupou com essa convergência e dedicou dois capítulos no Manual de
Redação CBN para os cuidados na publicação do site e a interatividade com o uso de
redes sociais. O perfil do comunicador/âncora no Twitter ou Facebook serve para se
comunicar com o ouvinte, assim como as contas oficiais das emissoras. Squarisi (2011)
recomenda que seja qual for o veículo, a mensagem precisa atender a requisitos essenci-
ais, como clareza, precisão e dinamismo. Mas, estas são questões para novos estudos
sobre o uso da linguagem e a construção de novas estruturas de texto em tempos de
convergência. De qualquer forma, cada meio de comunicação deve continuar com sua
vocação, especificidade, mas o objetivo deve ser o mesmo, informar com respeito e
compromisso com o público.

Referências

BARBOSA FILHO, André. Gêneros Radiofônicos. São Paulo: Paulinas, 2003.


CABELLO, Ana Rosa Gomes. Construção do texto radiofônico: o estilo oral-auditivo. Alfa,
São Paulo, n. 39, p.145-152, 1995. Disponível em <http://seer.fclar.unesp.br/alfa/index>. Aces-
so em 06 de maio de 2016.
CHANTLER, Paul; HARRIS, Sim. Radiojornalismo. 1. ed. São Paulo: Summus Editorial,
1998.
FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio: teoria e prática. São Paulo: Summus, 2014.

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JUNG, Milton. Jornalismo em rádio. São Paulo: Contexto, 2005.


KOPPLIN, Elisa; FERRARETTO, Luiz Artur. Técnica de redação radiofônica. 1. ed. Porto
Alegre: Sagra-DC Luzzato, 1992.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Cien-
tífica. 6. ed. São Paulo: Atlas S.A., 2007.
PORCHAT, Maria Elisa. Manual de Radiojornalismo Jovem Pan. 3. ed. São Paulo: Ática,
2004.
PRADO, Emilio. Estrutura da informação radiofônica. 1. ed. São Paulo: Summus Editoral,
1985.
TAVARES, Mariza. (Org.). Manual de redação CBN. São Paulo: Globo, 2011.
SQUARISI, Dad. Manual de Redação e Estilo para Mídias Convergentes. São Paulo: Gera-
ção Editorial, 2011.
ZUCULOTO, Valci Regina Mousquer. No ar - a história da notícia de rádio no Brasil. Floria-
nópolis: Insular, 2012.

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