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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Escola de Comunicação
Curso de Comunicação Social
habilitação em Jornalismo

Apostila
2008.2

Jornalismo Internacional
(Jornalismo Especializado)
ECS503 | ECS502

Prof. Dr. Mohammed ElHajji


Pedro Aguiar (mestrando)

com monitoria do
Programa de Educação Tutorial da Escola de Comunicação da UFRJ (PET-ECO)
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Índice
Créditos ......................................................................................................... 2
Ementa ......................................................................................................... 3
Objetivos ......................................................................................................... 3
Avaliação ......................................................................................................... 3
Programa ......................................................................................................... 4
Bibliografia ......................................................................................................... 5

Textos auxiliares
“Jornalismo Internacional” – definição da Wikipedia, a enciclopédia livre .................... 7
“O Jornalista Brasileiro e a Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação” ...... 9
Guy de Almeida
“A Batalha no Mundo” (Fluxo de Informação e Pauta de Internacional) ....................... 13
Clóvis Rossi
“Olhai (direito) pra nós!” (Jornalismo Internacional Alternativo) ................................. 16
J.P. Charleaux
“Lula, o Bin Laden do Reverendo Moon” (Mídia Conservadora dos EUA) ....................... 21
Joel Conrado
“A Grande Matéria: Washington, as Nações Unidas, o Mundo” ................................... 26
John Hohenberg
“Meio Século de Memórias” (História do Fotojornalismo Internacional) ....................... 40
John Morris
“Os Atacadistas de Notícias” (Agências Internacionais de Notícias) ............................ 44
John Hohenberg
“Jornalismo Internacional, Correspondentes e Testemunhos sobre o Exterior” ............. 50
Guillermo García Espinosa de Los Monteros
“Do Outro Lado do Mundo” (Trabalho do Correspondente Internacional) .................... 56
Fritz Utzeri
“O Fim de uma Era” (Correspondentes Internacionais da TV Globo) ............................ 63
Antônio Brasil
“Crise na Cobertura Internacional” ......................................................................... 66
Antônio Brasil
“Cobertura Internacional é para gente grande” ....................................................... 68
Cristiana Mesquita
Cobertura Brasileira sobre Guerras ......................................................................... 71
Jayme Brener
“Jornalismo sem Fronteiras” (História da CNN) ....................................................... 73
Sidney Pike
“Em Directo da Guerra: o impacto da Guerra do Golfo no discurso jornalístico” ............. 80
José Rodrigues dos Santos
“A Internet e o Futuro do Jornalismo Internacional” .................................................. 84
Alan Knight

Apêndices de Referência
Editorias Brasileiras de Internacional 90
Agências Internacionais (telefones/contatos das que atuam no Brasil) 91
Websites de Veículos da Mídia Estrangeira (Jornais, Revistas, Rádios e TVs) 92
Correspondentes Brasileiros no Exterior 99
Correspondentes Estrangeiros no Brasil 100
Sedes de Estado e de Governo de Alguns Países 102
Parlamentos de Alguns Países 103
Outros websites úteis 104
Cronologia da Formação da Mídia Internacional (Veículos e Agências) 106
Fatos marcantes na pauta de Internacional no semestre anterior 107

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Créditos
Docente
Prof. Dr. Mohammed ElHajji

Assistente de docência
Pedro Aguiar

Monitores
Iasmine
Erick Dau
Manuela

Editoração da Apostila
Anna Virginia Balloussier Ancora da Luz
Pedro Aguiar
Rafael Moura Vargas

Projeto Gráfico
Pedro Aguiar

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Ementa
O jornalismo como intérprete das questões globais. O discurso jornalístico sobre fatos
internacionais. Distanciamento e identificação. O noticiário de política internacional.
Agências de notícias, correspondência internacional e correspondência de guerra.
Pauta, apuração, redação e edição em Jornalismo Internacional. Novas tecnologias e
impacto na práxis profissional.

Objetivos
1. Apresentar as questões globais, antigas e contemporâneas, como objeto do
trabalho jornalístico. Discutir em que medida essas questões traduzem e/ou afetam
nossa realidade.
2. Introduzir os principais elementos, aspectos e personagens da política
internacional, discutindo os papéis que efetivamente têm e a sua representação
cotidiana no noticiário.
3. Apresentar a prática do Jornalismo Internacional; as funções, os locais e as
possibilidades de trabalho nesta área. Se possível, realizar visitas aos locais onde se
exerce.
4. Debater temas contemporâneos da geopolítica e da política internacional, a partir
de exemplos da mídia.

Avaliação
1. Exercícios práticos especulativos (individuais)
Após cada aula expositiva ou filme, será proposto um exercício especulativo com
base nas questões discutidas. Os exercícios deverão ser entregues por escrito.
Valor: 10%
2. Prova
Na segunda metade do semestre será realizada uma prova objetiva sobre o
conteúdo abordado até então. A prova deverá ser feita individualmente, em sala.
Valor: 40%
3. Reportagem e/ou ensaio sobre determinada questão de noticiário internacional
(individual)
O aluno deverá escolher um tema atual de política internacional (ou outros temas
internacionais), de preferência não destacado pela mídia, e redigir uma matéria
de cerca de uma lauda (ou 3.000 caracteres, corpo 12, espaçamento simples),
em linguagem jornalística, utilizando fontes alternativas para a apuração (como
as sugeridas no final da apostila). Poderá também fazer um texto ensaístico sobre
a questão abordada.
Valor: 50%

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Regras disciplinares
• A chamada será feita no fim da aula.

• Nos dias de exibição de filmes, o tempo de aula ultrapassará o horário,


necessariamente. Os exercícios só serão passados após os filmes. Para os alunos
quem têm estágio ou outro compromisso logo em seguida, aconselha-se cursar a
matéria em outro semestre. Os que saírem antes da chamada sistematicamente
serão reprovados por falta.

• Os celulares devem estar desligados ou no modo vibratório. Não se deve atender


dentro de sala – se sentir o aparelho vibrar, o aluno deve sair de sala para atender.

• Casos de plágio resultarão em nota zero peremptoriamente.

• O website da disciplina terá à disposição dos alunos a apostila do curso – com os


textos a serem trabalhados em cada aula – mais textos avulsos de interesse para
quem quiser se aprofundar no tema.

• Grande parte do conteúdo será enviada por correio eletrônico. Aconselha-se aos
alunos checar sua correspondência de e-mail regularmente.

• e-mail da disciplina: jornalismointernacional@gmail.com

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Programa
1. Jornalismo e Questões Globais
1.1. Definição e Gênese. Jornalismo Internacional como produto do industrialismo do
século XIX. Primeiras coberturas de guerra (Criméia, Secessão, Guerra Estados
Unidos-Espanha e William Hearst, guerras imperialistas, Primeira Guerra
Mundial).
1.2. O Discurso da Mídia e os Fatos Internacionais. A visão de mundo que a mídia
transmite. O etnocentrismo na imprensa estrangeira. Fluxo de informação.
1.3. Teorias da Globalização e suas influências no Discurso Midiático (Fukuyama,
Huntington, Negri).
1.4. Hegemonia e Alteridade. O olhar do outro anulado pela mídia hegemônica.
Distanciamento x Identificação: o regional interessa mais que o estrangeiro?

2. O Noticiário de Política Internacional


2.1. A Pauta no Noticiário Internacional. A hegemonia da política externa de
Washington. Vizinhos latino-americanos e países do Terceiro Mundo. Guerras,
eleições, golpes e desastres: não há mais nada além disso?
2.2. Principais atores na Política Internacional. Organismos Multilaterais e Blocos
Político-Econômicos. ONGs e instituições humanitárias. Partidos políticos e
entidades suprapartidárias. Movimentos sociais e minorias.
2.3. Grupos Culturais-Étnicos-Religiosos. Islamismo, Catolicismo, Anglo-Saxônicos,
Pan-Africanismo, Pan-Eslavismo. Unicidades e fragmentações. Subculturas e
rebeldia. Dicotomia Ocidente x Oriente.
2.4. Esquerda x Direita pelo Mundo Afora. Políticas, eleições e conflitos baseados
firmemente em ideologia.
2.5. Problemas Históricos. Colonizadores e ex-colonizados; ex-aliados e ex-inimigos;
estados multinacionais e nações sem estado.

3. O Trabalho em Jornalismo Internacional


3.1. Reportagem em Jornalismo Internacional. Apuração e checagem a distância.
Presença x Acompanhamento Constante. Barreiras à informação in loco
(censuras, manipulações por interesses locais etc.). Internet e credibilidade.
3.2. Correspondentes Estrangeiros e Enviados Especiais.
3.3. Correspondentes de Guerra e Roving Correspondents: o repórter internacional
permanente e itinerante.
3.4. Agências Internacionais de Notícias. Como funcionam, quais as principais no
mundo, quais as que atuam no Brasil. Rapidez x Precisão. Agências Oficiais x
Agências Privadas. Cooperação e pools entre agências de notícias.
3.5. A Editoria Internacional no Jornalismo Diário (jornal, revista, TV, rádio e
Internet). Estrutura e funcionamento.
3.6. Novas Mídias, Multiplicidade das Fontes e Responsabilidade. Imprensa alternativa
e redes alternativas de informação (CMI, rádios).

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

4. Questões Contemporâneas de Política Internacional


4.1. Relações Internacionais no Século XXI
4.2. Imperialismo x Império. Unipolaridade x Multipolaridade
4.3. Terrorismo Global: algo mudou depois do 11.set.2001? “Eixo do Mal”
4.4. Nacionalismos e Conflitos Étnicos
4.5. Geopolítica dos Recursos Naturais
4.6. Opinião Pública Internacional
4.7. Cultura e Imaginário Geopolítico
4.8. (sugestões dos alunos)

Bibliografia básica
AGUIAR, Pedro. Jornalismo Internacional em Redes. Rio de Janeiro: Prefeitura do
Rio/Secretaria Especial de Comunicação Social, 2008 (Cadernos da
Comunicação).
BALDESSAR, Maria José. A Ordem Invertida: o fluxo internacional de notícias a
partir do advento da Internet. tese de doutorado apresentada à ECA/USP. São
Paulo: USP, 2006 (Orientadora: Elizabeth Saad Corrêa).
COLOMBO, Furio. Últimas Noticias sobre el Periodismo: manual de periodismo
internacional. Barcelona: Anagrama, 1997. (sem publicação no Brasil)
DORNELES, Carlos. Deus é inocente, a imprensa não. Rio de Janeiro: Globo, 2002.
FERREIRA, Argemiro. Informação e Dominação: a dependência informativa do
Terceiro Mundo e o papel do jornalista brasileiro, Rio de Janeiro: Sindicato
dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro: 1982.
HAŠKOVEC, Slavoj. FIRST, Jaroslav. Introducción al Trabajo de las Agencias de
Noticias. Santiago de Cuba: Editorial Oriente, 1984
HESS, Stephen. International News & Foreign Correspondents. Washington: The
Brookings Institution, 1996.
MATTELART, Armand. Comunicação-Mundo: história das técnicas e das
estratégias. Petrópolis: Vozes, 1994.
NATALI, João Batista. Jornalismo Internacional. São Paulo: Contexto, 2004.
PATERSON, Chris. SREBERNY, Annabelle. International News in the Twenty-First
Century. Eastleigh (Reino Unido): John Libbey/University of Luton Press, 2004.
PERES, Andréa Carolina Shvartz. Notas sobre jornalismo internacional no Brasil.
in Observatório da Imprensa, 22/11/2005.
REYES MATTA, Fernando (org). A Informação na Nova Ordem Internacional. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1980.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Jornalismo Internacional
Verbete da Wikipedia, a Enciclopédia Livre, 2005
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Jornalismo_Internacional)

Chama-se Jornalismo Internacional a através de escritórios locais, em diferentes


especialização da profissão jornalística nos cidades e países, que transmitem sua apuração
eventos estrangeiros ao país onde está sediado para as centrais, que por sua vez redistribuem
o veículo de imprensa em que o jornalista o material para os clientes (i.e., jornais,
trabalha. Por isso, a definição é relativa por revistas, rádios, televisões, websites etc.).
natureza: o que é assunto "doméstico" num
As agências surgiram em meados do século
determinado país será "internacional" em
XIX, com a fundação da primeira agência, a
todos os demais. Este fato faz com que o
Havas (mais tarde dividida entre AFP e
Jornalismo Internacional seja provavelmente a
Reuters). Inicialmente sediada em Paris, a
área do Jornalismo com maior abrangência de
Havas enviava as principais informações e
temas entre todas, já que deve dar conta de
notícias do exterior por telegramas para os
política, economia, cultura, acidentes, natureza
jornais, que pagavam por esse serviço. Durante
e todos os assuntos que aconteçam fora de seu a Guerra de Secessão nos Estados Unidos, os
país de origem. maiores jornais de Nova York se juntaram
O Jornalismo como atividade profissional já para formar a Associated Press, e enviar um
teria nascido Internacional em seus pool de correspondentes para o campo de
primórdios, pois os veículos de imprensa batalha.
pioneiros – criados no contexto da ascensão da
Hoje, as agências mantêm uma rede de
burguesia na Europa nos séculos XVII e XVIII
correspondentes e stringers (colaboradores)
– foram criados principalmente para informar
nas maiores cidades do mundo e assim
leitores locais (em grande parte, comerciantes
repassam para os veículos de imprensa. Nos
e banqueiros) sobre fatos acontecidos no
últimos anos, o trabalho das agências e seus
exterior. correspondentes foi enormemente facilitado
A partir do século XIX, com jornais já pelas novas tecnologias de comunicação, como
consolidados na Europa, nos Estados Unidos e a Internet.
em determinados países – como o Brasil -, e
com as inovações nas telecomunicações, como
o telégrafo, as notícias do estrangeiro Correspondentes e Enviados
ganharam novo impulso. Começaram a ser Há dois tipos de reportagem que podem ser
formadas as primeiras agências de notícias, feitas no exterior: o trabalho de
inicialmente como associações entre jornais Correspondência Estrangeira (ou
para cobrir eventos de grande relevância, Correspondência Internacional) e o do
como guerras e revoluções. Os primeiros Enviado Especial ao Exterior. Embora haja
conflitos a receber ampla cobertura jornalística semelhanças entre ambos, as diferenças se dão
foram a Guerra da Criméia e a Guerra de no cotidiano do trabalho e da produção de
Secessão dos EUA. material para seus respectivos veículos de
imprensa.
Agências de Notícias O Correspondente é um repórter baseado
fixamente numa cidade estrangeira – muitas
As Agências de Notícias são empresas
vezes a capital de um país -, cobrindo uma
jornalísticas especializadas em difundir
região, um país ou às vezes até um continente
informações e notícias diretamente das fontes
inteiro. Ele deve enviar matérias regularmente
para os veículos de mídia. As agências operam
para a redação da sede de seu veículo. Para
7
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

isso, ele acompanha toda a imprensa local, Correspondência de Guerra


mantém contatos freqüentes com jornalistas e
O trabalho de Correspondente de Guerra
colegas correspondentes e identifica fontes
propriamente dito surgiu na segunda metade
estratégicas – como entidades, governos,
do século XIX, com o envio de repórteres
diplomatas, militares e outras que possam
europeus e norte-americanos para conflitos
fornecer informações importantes. Na maior
como a Guerra da Criméia, Guerra do México,
parte das vezes, o correspondente é auto-
Guerra do Ópio, Guerra de Secessão dos EUA,
pautado – ou seja, ele mesmo define sobre o
Guerra do Paraguai e Guerra Hispano-
que irá escrever, o que irá apurar, que assuntos
Americana.
vai selecionar. O correspondente deve ter
conhecimento profundo da realidade local e Entretanto, antes mesmo já havia os chamados
um talento discricionário elevadíssimo para "cronistas de guerra", que produziam relatos
identificar os fatos mais relevantes no país sobre os conflitos – sem que houvesse, na
onde trabalha e ao mesmo tempo interessantes época, técnicas de produção jornalística. O
para seu país de origem. general romano Júlio César, por exemplo,
escreveu crônicas de guerra em seu diário De
Já o Enviado Especial é um repórter
Bello Galico. A diferença para os
expatriado com um tema previamente definido
correspondentes modernos é que estes são
para cobrir ou investigar (uma guerra, uma
enviados especificamente para cobrir conflitos
crise, uma epidemia etc.). Diferente do
para um veículo determinado (jornal, TV,
correspondente, o enviado especial pode rádio, revista etc.).
produzir uma única matéria, se for o caso, ou
uma série, sem necessidade de envio regular O correspondente de guerra pode ficar baseado
de produção. Normalmente, o enviado especial numa cidade perto da zona de conflito (por
é selecionado entre os profissionais da redação haver mais infraestrutura e acesso a
por ter maiores conhecimentos sobre o tema comunicação com a redação da sede) ou ir
ou o lugar dos fatos. Muitas vezes, o enviado direto para o front de combate, se as condições
passa poucos dias no local e retorna à sede e os militares permitirem. Tecnologias de
logo em seguida. comunicação recentes, como a internet,
permitiram maior mobilidade ao
Quando jornalistas trabalham no exterior sem
correspondente de guerra, já que ele agora
vínculos fixos com veículos de imprensa ou pode enviar textos, sons e imagens de
em regime de prestação de serviço, são praticamente qualquer ponto do mapa,
chamados de Stringers. Estes são mais comuns incluindo o campo de batalha. O trabalho é de
em locais onde a mídia não acha tão altíssimo risco, mas cada informação obtida
interessante ou compensatório manter um tem valor igualmente alto. Correspondentes de
correspondente fixo, como em países do
guerra estão entre as maiores vítimas de
Terceiro Mundo. Stringers geralmente
casualidades (mortes por assassinatos ou
produzem matérias para várias empresas
acidentes) entre jornalistas.
diferentes ao mesmo tempo.

O QUE É A WIKIPEDIA

A Wikipedia é uma enciclopédia online de conteúdo livre, o que significa que qualquer usuário
pode editar os verbetes, alterando o que quiser, sem nenhum tipo de controle ou censura.
Isso também significa, por outro lado, que pode haver erros ou opiniões e ideologias
embutidos nos textos e, nestes casos, a redação final fica a cargo do senso-comum.

Para acessar a Wikipedia, visite http://www.wikipedia.org

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto I
O Jornalista Brasileiro e a Nova Ordem Mundial da Informação
e da Comunicação
Guy de Almeida, 1980

A importância, para o jornalista profissional, que seus efeitos e vantagens estariam


do estabelecimento de uma Nova Ordem condicionados no âmbito nacional em grande
Mundial da Informação e da Comunicação medida aos interesses de limitados setores.
(NOMIC) se caracteriza em vários aspectos. O fluxo interno de informações sob controle
Como cidadão, sua ótica deve ser não apenas a apenas do governo ou de determinados setores
do captador-emissor de informações, mas da sociedade agrava na prática interna as
também a do receptor, mais consciente, por distorções denunciadas em relação ao controle
sua própria especialização, do importante da informação internacional pelas grandes
papel que a comunicação joga na sociedade.
nações industrializadas em detrimento das
Nessas circunstâncias, pelo menos dois
nações em desenvolvimento.
aspectos, entre outros, devem ser motivo de
reflexão permanente para o jornalista 2. A democratização da comunicação é
profissional: essencial para o jornalista – porque, na medida
1. A função essencial da comunicação da qualidade de seu trabalho profissional,
democratizada, particularmente em uma tende a dignificar e consolidar o seu
sociedade como a brasileira que, após muitos importante papel na sociedade.
anos, reabre e aprofunda o debate em busca de Basicamente, o processo de busca da Nova
um modelo política, econômica e socialmente Ordem Mundial da Informação e da
mais justo. Comunicação instaurou-se como conseqüência
Já parece suficientemente claro para os da percepção, pelos países do Terceiro Mundo,
estudiosos do problema que a criação da Nova baseada em sua longa experiência histórica, da
Ordem Mundial da Informação e da importância da atual Ordem como instrumento
Comunicação inclui um acurado exame da fundamental para o controle das Ordens
Ordem Informativa Nacional, também Política e Econômica Internacionais pelos
caracterizada por sérios desequilíbrios. Ela países industrializados.
deveria ser abordada de acordo com as Aquele processo nasceu assim do diagnóstico
peculiaridades de cada país, tomando sempre primário do desequilíbrio informativo entre
em consideração que, tal como é reivindicado nações desenvolvidas e nações em
por diversos grupos de países do Terceiro desenvolvimento e transitou rapidamente para
Mundo em relação à Ordem Internacional, o aprofundamento de pesquisas e estudos para
deveria ampla, paulatina e substancialmente os a proposição de alternativas e fórmulas para a
níveis de participação dos diferentes sua viabilização. Constatou-se, então, a
segmentos da sociedade e das diferentes existência de uma complexa teia de problemas
regiões de cada país, seja no sentido de uma cuja superação seria essencial para que aquele
mais equilibrada circulação interna de objetivo fosse alcançado.
informações e opiniões em relação aos seus
diversificados interesses, seja em relação à O trabalho mais profundo e importante
qualidade e credibilidade daquele material. elaborado até agora com essa finalidade é o da
Comissão Internacional para o Estudo dos
A exclusão desta preocupação comprometeria Problemas da Comunicação, criada em 1977
a retórica desenvolvida por aqueles governos pela UNESCO, que ficou mais conhecida
em defesa da Nova Ordem Mundial da como Comissão MacBride, uma derivação do
Informação e da Comunicação, na medida em nome de seu presidente, o irlandês Sean
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

MacBride. Ela esteve formada por 16 por isso, à conciliação de posições para a
especialistas de prestígio mundial1, oriundos obtenção do consenso.
de diferentes nacionalidades e representati-
O principal objetivo do documento parece, no
vos, em linhas gerais, das situações e
entanto, ter sido razoavelmente atingido, como
tendências políticas e econômicas, mais em
evidencia a própria controvérsia que suscitou:
evidência do mundo de hoje.
detectar e descrever os problemas essenciais
O seu Relatório final, aprovado por consenso relacionados com a estruturação da Nova
pela XXI Conferência Geral da UNESCO Ordem Mundial da Informação e da
(Belgrado, 1980), apontou uma série de Comunicação e a partir daí apresentar
problemas básicos da área de Comunicação, alternativas para os mesmos.
particularizando também em três capítulos
Torna-se, assim, pelo menos um instrumento
especiais, aqueles que afetam a atividade do
de estímulo a um debate mais ordenado e
jornalista: “Os profissionais da comunicação”,
conseqüente que deve promover novos níveis
“Direitos e responsabilidades dos jornalistas” e
de consciência quanto ao tema e à viabilização
“Normas de conduta profissional”.
de fórmulas para a superação dos problemas já
Seu exame, ainda que superficial, mostrará, até conhecidos.
mesmo por uma pragmática consciência em Nesse quadro, alguns aspectos em debate que
relação à influência que terá para a interessam diretamente aos jornalistas
estruturação da profissão no futuro, que o profissionais são, por exemplo, sinteticamente:
jornalista profissional deverá estar pelo menos
atento ao desenvolvimento do debate e 1. O estabelecimento de Políticas Nacionais de
posicionado para influir expressando a sua Comunicação, envolvendo um conceito de
opinião. desenvolvimento global e integrado. A
implantação de novos mecanismos internos e
Quase todos os aspectos abordados pela
externos de informação no país deverá ter,
Comissão MacBride têm sido objeto de além de sua importância como instrumento
preocupação intermitente ou permanente dos para o desenvolvimento econômico e social,
setores representativos da categoria um peso específico na valorização profissional
profissional em todo o mundo ao longo dos e na dinâmica do mercado de trabalho.
últimos anos. Pela primeira vez, no entanto,
eles surgem apresentados e analisados em 2. A multiplicação das profissões requeridas
conjunto, enriquecidos, portanto, pelas no mercado de comunicação em conseqüência
vantagens de uma visão global e articulada, da revolução tecnológica (satélites, laser,
apesar de várias limitações observadas devido computadores, etc.) superando o sentido
ao próprio ecletismo da composição da tradicional de transferência da informação, que
Comissão e dos interesses nacionais envolvia basicamente os jornalistas
envolvidos no debate na UNESCO, levada, (repórteres, redatores, pessoal da radiodifusão,
televisão, etc.). O surgimento de diferentes
atividades profissionais na área e a sua
1 articulação para o exame de problemas
Os 16 membros da Comissão foram, além do irlandês comuns são elementos importantes para as
Sean MacBride, seu presidente: Elie Abel (Estados
Unidos), Humbert Beuve-Méry (França), Elebe Ma
relações internas nas novas estruturas de
Ekonzo (Zaire), Gabriel García Márquez (Colômbia), trabalho em elaboração.
Sergei Losev (União Soviética), Mochtar Lubis
(lndonésia), Mustapha Masmoudi (Tunísia), Michio
3. O impacto da nova tecnologia sabre o atual
Nagai (Japão). Fred Isaac Akporuaro Omu (Nigéria), mercado de trabalho e particularmente sobre o
Bogdan Osolnik (Iugoslávia), Gamal El Oteifi (Egito), exercício profissional, problema que deverá
Johannes Pieter Pronk (Países Baixos), Juan Somavia atingir de maneira objetiva o Brasil,
(Chile). Boobli George Verghese (Índia) e Betty proximamente, como já ocorreu na região
Zimmerman (Canadá).

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

latino-americana, na Venezuela, por exemplo, informação sem obstáculos e transmiti-la sem


em relação à instalação de terminais na perigos, o direito de omitir livremente as suas
redação. Ressalta-se também o problema da opiniões, etc.
concentração da tecnologia em um número
6. O estabelecimento de um estatuto ou
reduzido de países industrializados e nas
normas de proteção ao jornalista, não apenas
empresas transnacionais, criando relações de
no aspecto físico, mas também no da
dependência extremamente delicadas para o
independência e da integridade profissional de
desenvolvimento do país.
todos que intervêm no trabalho de coleta e
4. A importância da formação dos jornalistas difusão de notícias.
profissionais para o estabelecimento e
7. A regulamentação da profissão, tema
consolidação de um novo quadro de
cercado de argumentos contraditórios. O
comunicação, não apenas no sentido de sua
Relatório Final da Comissão MacBride, por
capacitação primária (prática ou escolar).
exemplo, chega a assinalar que o "pluralismo
Aqui, é importante realçar também o aspecto
dos sistemas econômicos e sociais que
da demanda crescente de especialização, seu
caracterizam o mundo, assim como as
aperfeiçoamento, readaptação, atualização
necessidades específicas de cada país,
e/ou reciclagem quando já em exercício,
impedem evidentemente dar uma resposta
devido à evolução constante do mundo da
afirmativa ou negativa a esta questão".
comunicação, como ocorre agora, por
exemplo. 8- A co-gestão editorial, como um caminho
para a participação nas decisões importantes e
Esse ponto tem particular relevância, por
como um instrumento de democratização da
exemplo, no que se refere ao próprio
profissão na empresa (pública ou privada),
tratamento dado à informação internacional na
incluindo, para isso, a intervenção do jornalista
imprensa dos países em desenvolvimento.
na formulação e na execução da política
Várias pesquisas mostram que o responsável
editorial.
por este setor muitas vezes, por carências de
formação, não dá um aproveitamento mais 9. As normas de conduta profissional,
adequado ao material informativo disponível mediante o estabelecimento de Código
por desconhecer as'circunstâncias e Deontológico (ou de ética) com a definição
antecedentes que cercam determinados das responsabilidades e deveres do jornalista
acontecimentos e sua importância para o país profissional.
ou por estar incapacitado para examinar 10. O estabelecimento de Conselhos de
criticamente o material recebido das agências. Imprensa ou de Comunicação nas redações,
Produzem-se, então, supressões, cortes, falta com o prévio exame dos vários modelos e
de enriquecimento do material com dados experiências já observados no mundo.
adicionais para melhor ilustração do leitor, etc.
11. O direito de resposta e de retificação,
Quanto a este aspecto, vale estar atento para a fundamental, pois, como também assinala o
possibilidade de uma crescente presença nas Relatório MacBride, "em nosso mundo
redações de especialistas (cientistas políticos, instável, uma falsa notícia pode'provocar
economistas, etc.) não apenas como. distúrbios, suscitar ou reforçar os conflitos
colaboradores-articulistas, mas também para sociais, desalentar ou inclusive acelerar os
suprir deficiência do pessoal de redação, investimentos e ir em detrimento da confiança
particularmente em publicações que já se que depositam em um dado país os demais".
preocupam com maiores níveis de
interpretação do acontecimento. Nessa amostragem geral e sintética, merece
uma referência especial a necessidade de uma
5. A definição e garantia dos direitos do reflexão profunda e permanente do jornalista
jornalista como, por exemplo, o de buscar uma profissional sobre o seu papel ante o receptor
11
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

da informação. Isto é: tem-se observado em meio de comunicação seja sob o ponto de vista
todo o mundo um crescente exercício crítico da empresa, seja sob o ponto de vista do
do profissional ante o caráter da empresa jornalista profissional.
jornalística pública ou privada e o seu
Estes dados preliminares são importantes para
predomínio político e/ou econômico sobre a
que o jornalista profissional possa entender
criatividade, a responsabilidade informativa e
com mais clareza a relevância das informações
o sentido ético do profissional. Mas apenas
que se seguem sobre os esforços realizados
começa o exame do papel do receptor de
para o desenvolvimento do debate em torno do
informação (leitor, radioouvinte ou
estabelecimento da Nova Ordem Mundial da
telespectador) no processo de produção do Informação e da Comunicação.

Referência bibliográfica
FENAJ, “O Jornalista e a Luta por uma Nova Ordem Mundial da Informação e
Comunicação”, Série Documentos da FENAJ, vol.III, Brasília: FENAJ, 1983, págs.6-16

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• O texto é do início dos anos 1980. Desde então, a situação do fluxo mundial de
informações alterou-se significativamente?

• Que tipos de iniciativas ajudariam a equilibrar (ou até reverter) o fluxo de mundial
de informações?

• Jornalismo Internacional, movimentos sociais e opinião pública internacional: qual


é o papel destes agentes na construção de uma democracia global?

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto II
A Batalha no Mundo
(Fluxo de Informação e Pauta de Internacional)
Clóvis Rossi, 1980

Talvez seja no noticiário internacional — ou, Uma pesquisa feita com jornais mineiros, o
mais precisamente, no controle do fluxo Jornal do Brasil, do Rio, e O Estado de São
internacional de informações — que mais Paulo mostra resultados absolutamente
fique evidente o quanto o jornalismo é uma estarrecedores, embora de conhecimento geral
batalha pela conquista de mentes e corações. no meio jornalístico: no período de uma
Como funciona esse mecanismo? A resposta semana, o noticiário internacional de O Estado
mais ilustrativa pode ser encontrada numa foi preenchido, em 55,8%, com material
publicação mensal brasileira, dirigida fornecido pelas grandes agências citadas. Mais
essencialmente a homens de negócio, a revista 9,4% ficou com reproduções de jornais
Banas, que assinalava em seu número de estrangeiros (The New York Times, The
março de 1980: Washington Star etc.). Somem-se outros 4,8%
de outras fontes externas e verifica-se que o
“Como os países industrializados controlam
jornal paulista preencheu apenas 30% de sua
inclusive os meios de comunicação, e como os
informação internacional com material de seus
centros de produção agrícola ou mineral, na
próprios jornalistas ou colaboradores. No caso
maioria dos casos, não dispõem de estruturas
do Jornal do Brasil, os números são apenas
culturais, empresariais e noticiosas
ligeiramente melhores: 42,5% de seu espaço
fortalecidas, até as informações sobre
internacional era preenchido por fontes
mercados, os boatos e a barragem de notícias
forjadas desencorajam uma eficiente defesa de próprias.
interesses dos produtores de matérias-primas, E, quando a pesquisa se estende à imprensa
porque a sua imprensa local funciona como regional, a situação se agrava
satélite do mercado noticioso do exterior.” consideravelmente: os jornais de Belo
Horizonte, a terceira cidade do país, ocuparam
Não é uma constatação vazia: os países
93,6% de seu espaço com notícias fornecidas
desenvolvidos controlam praticamente o
por apenas três agências internacionais: a AFP,
circuito mundial de notícias, através de cinco
a AP e a UPI.
agências, editam 83% dos livros publicados no
mundo, controlam as dez maiores agências de Esses números são reveladores e devem ser
publicidade do mundo (sete são norte- entendidos no seu contexto político: quase
americanas e três têm participação majoritária todas as agências mencionadas têm vínculos,
de capital norte-americano), produzem e diretos ou indiretos, com os governos de seus
exportam 77% de filmes para cinema — e respectivos países e refletem, na maioria das
assim por diante. As cinco agências que ditam vezes, posições ou interesses deles — posições
os rumos do noticiário internacional são a e interesses que raramente coincidem com os
francesa Agence France Presse (AFP), as dos países em vias de desenvolvimento.
norte-americanas United Press International
A rede das grandes agências internacionais de
(UPI) e Associated Press (AP), a inglesa
notícias é tentacular: elas estão presentes na
Reuters, a italiana ANSA e a alemã DPA, às
grande maioria dos países do mundo e vendem
quais se poderia acrescentar a espanhola EFE,
seus serviços, da mesma forma, para quase
além de algumas menores, mas igualmente todos eles. Vejamos alguns números
baseadas nos países desenvolvidos. ilustrativos: a Associated Press, com sede
central em Nova York, tem 8.500 assinantes

13
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

em mais de cem países; a Reuters, britânica, jornalismo, qual seja a de que o que acontece
está estabelecida em 69 países e vende seu perto de minha casa é mais importante do que
material para 6.500 clientes (dos quais 4.700 o que acontece a quilômetros e quilômetros de
são jornais); a France Presse, com suas 92 distância.
sucursais no Exterior, atinge 12.400
Ora, o “perto de minha casa”, para o Brasil, é a
assinantes. O resultado dessa extensão das
América Latina, gostemos ou não. Por
redes das grandes agências é o seu domínio
fatalidade geográfica, o Brasil fica na América
quase absoluto do mercado: um estudo
Latina e não pode escapar dessa fatalidade.
realizado em 1967 demonstrou que quase 80%
Não se trata, portanto, de uma questão
das notícias do Exterior divulgadas na ideológica. Basta atentar para o seguinte: ao se
América Latina foram distribuídas tão- iniciar a década de 90, vários países latino-
somente por duas agências, ambas norte- americanos decidiram seguir uma política
americanas, a UPI e a AP. econômica parecida, assentada na liberalização
O problema não é apenas de volume: esse da economia e na sua abertura ao mundo, entre
virtual monopólio confere às notícias várias outras semelhanças. É natural que
divulgadas pelas agências um tal peso, interesse ao leitor brasileiro saber como vai
inclusive no interior de cada redação indo a experiência de cada um dos países
brasileira, que elas se sobrepõem às notícias vizinhos ou próximos, até para poder perceber
produzidas por fontes próprias das publicações o que pode eventualmente acontecer de
brasileiras. parecido no seu próprio país.
(...) É pouco provável que as agências
internacionais, cujas atenções estão
Se o papel das agências internacionais é tão
concentradas no mundo desenvolvido, dêem
poderoso, no mundo todo, no caso específico
conta adequadamente desse tipo de cobertura.
da América Latina — subcontinente que
Logo, acompanhar melhor a América Latina
deveria nos interessar mais de perto, pela
não é um problema de combater uma suposta
proximidade e semelhança de problemas — a
“informação imperialista” mas um problema
questão se torna ainda mais grave: a grande
simples de saber, mais depressa e com mais
maioria das publicações brasileiras parece
profundidade, o que está acontecendo “perto
pautar seu enfoque, em assuntos
internacionais, por aquilo que interessa a The da minha casa”.
New York Times ou Le Monde, e não pelos É óbvio que o ideal seria que cada veículo
interesses nacionais brasileiros. Essa dispusesse de um correspondente em cada
deformação se torna evidente pela simples capital relativamente importante do mundo,
conferência do número de correspondente que mas, quando não se acompanha diretamente o
as publicações brasileiras têm na Europa que acontece na esquina de casa, fica difícil
Ocidental e nos Estados Unidos, de um lado, e entender uma cobertura tão ampla em pontos
na América Latina, de outro. tão distantes.
Em 1990, havia apenas cinco correspondentes A atenção ao que ocorre nas vizinhanças,
de meios de comunicação brasileiros na entretanto, não pode impedir que o jornalismo
América Latina: da Folha, Estado, Globo, brasileiro olhe cada vez mais para o mundo
Jornal do Brasil e Gazeta Mercantil, todos todo. Hoje, a globalização da economia é
baseados em Buenos Aires. Nenhuma tamanha, as telecomunicações tornaram o
emissora brasileira de televisão tem mundo tão “pequeno”, que tudo, a rigor,
correspondentes na América Latina. passou a ser doméstico, de alguma maneira.
Esse é um território em que se viola uma das (...)
primeiras lições que se aprende no primeiro
ano de qualquer faculdade razoável de
14
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Não se inventou ainda nada que substitua a Esse fato implica maiores desafios para o
visão peculiar de cada país sobre os jornalista. Se já é difícil e complicado entender
acontecimentos mundiais. Um brasileiro o Brasil, mais difícil e complicado é entender
certamente olhará a Espanha, digamos, de uma outros países. Mas é igualmente inevitável.
maneira que um espanhol não consegue ou um
americano tampouco.

Referência bibliográfica
ROSSI, Clóvis. “O que é jornalismo”, São Paulo, Brasiliense (Coleção Primeiros
Passos), 2000, 10ª edição, págs.78-87

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• Facilidades econômicas para os veículos; sai mais barato contratar serviços de


agências em vez de manter pessoal expatriado

• Credibilidade das agências é reforçada por questão da proximidade: “eles estão lá;
nós não” e “se o mundo todo deu, por que nós não?”. Isso é mito?

• A Agência EFE vem tentando preencher essa lacuna na cobertura da América


Latina pelas agências internacionais, facilitada em muito pelo idioma espanhol e
contratando jornalistas locais para cobrir os países latino-americanos. Isto é
suficiente?

15
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto III
Olhai (direito) pra nós!
(Jornalismo Internacional Alternativo)
João Paulo Charleaux, 2001

Índios, negros, mulheres, sem-terra, pequenos o Brasil aparece mal na mídia internacional”,
agricultores, seringueiros, líderes diz o historiador e jornalista brasileiro José
comunitários, sindicalistas e sem-teto. A quem Luiz Del Roio, da Radio Popolare de Milão,
interessa tratar desses temas com seriedade? na Itália. Ele lembra que o caso mais recente
Quem consegue olhar com lupa os países do foi o da comemoração dos 500 anos, “a polícia
Terceiro Mundo? As grandes agências batendo em índios foi uma coisa fortíssima e é
internacionais dizem que não, o assunto não é claro que isso rendeu muita notícia ruim na
com elas. Reuters, France Presse e companhia Europa”. A radio italiana onde trabalha Del
já provaram ter as antenas conectadas com Roio conta com correspondentes fixos em
pautas grandes, manchetes fortes e assuntos Paris, Londres, Berlim, Nova Iorque e Cairo,
nem sempre edificantes para os países pobres. que produzem uma cobertura alternativa às
Isso se deve à natureza de seu trabalho, seu grandes empresas.
público alvo e seus interesses.
No Brasil, a colunista da Folha de S. Paulo
Há ainda muitos que se dispõem a cobrir o Eliane Catanhêde engrossa o coro de críticas à
Brasil apostando na fórmula folclórica da cobertura das grandes agências e não usa
“desgraça social/futebol/carnaval”, ou nas meias palavras para avaliar o trabalho dos
notícias econômicas de interesse para o jornais estrangeiros na cobertura de “Brasil”.
investidor estrangeiro. Mas, em ambos os “Quando morei quase um ano na Itália, em
casos, falta espaço para histórias humanas e 1991, a imprensa européia praticamente só
situações nem sempre decifráveis à primeira publicava o lado exótico ou cruel do Brasil:
vista forasteira. Assuntos que não abalam mulatas, bundas, violência, menor abando-
cúpulas de governo nem derrubam bolsas de nado, descaso com a Amazônia. E isso era em
valores, mas são fundamentais na vida de pleno governo Collor, com a política pegando
milhões de pessoas. São histórias que precisam fogo, a economia girando, a abertura come-
ser vistas de perto, com vagar e atenção; çando. Nada do que era sério interessava”.
adjetivos nem sempre compatíveis com o
Por outro lado, o colunista Clóvis Rossi,
ritmo de trabalho das grandes redações ao
colega de Catanhêde na Folha de S. Paulo, diz
redor do mundo.
que em geral “discorda de generalizações, que
É nesse espaço que se encaixam as agências empobrecem a análise”. Ele acha difícil
cidadãs. Ligadas a ONGs internacionais, concordar com a tese de que o Brasil é mal
fundações beneficentes, associações e tratado pela mídia internacional sem uma
confederações de todo tipo, elas garantem observação mais profunda do assunto. “Seria
estar chegando ao mercado com capacidade e preciso examinar caso a caso, o que é trabalho
disposição para encarar a realidade com um para pesquisadores, não para jornalistas”.
"enfoque social". Elas esperam acabar de vez
com estigma de que países pobres só entram
na editoria internacional pela porta dos fundos. Um periscópio para cobertura internacional
Apesar de ninguém conhecer nenhuma grande
pesquisa ou grande censo sobre o assunto, há
“Seja mal-vindo” um lugar que pode servir de termômetro
“Seria preciso uma pesquisa profunda, mas eu importante nessa questão. No endereço
me arriscaria a dizer que em 70% das notícias, www.globalpress.com.br é colocada
16
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

diariamente a coletânea das reportagens e precisa ser ocupado.” Ele sabe que o trabalho
artigos sobre o Brasil ao redor do mundo. A da France Presse e das agências cidadãs não
responsável pelo trabalho é a jornalista Anna são concorrentes, mas podem ser
Lúcia Carneiro, que já trabalhou para a complementares.
agência americana UPI (United Press
Gamboa avalia que o tratamento dado ao
International) e para a alemã, DPA (Deutsche
Brasil e a outros países subdesenvolvidos está
Press-Agentur). Ela diz que "em economia, as
melhorando. “Acontecimentos como o caso
reportagens têm sido mais sérias,
Collor ajudaram muito a atrair atenções e
principalmente depois da crise das bolsas e da
melhorar o nível da cobertura.”. A sensação de
recuperação. Outro assunto que dá boas que o Brasil é visto de forma folclórica pelas
notícias é a música brasileira, eles grandes agências é normal em sua opinião,
acompanham muito bem e muitas vezes afinal, “dói muito mais quando falam da gente
melhor que nós mesmos." e não do país vizinho”. O jornalista argentino
A dose de exagero tem ficado por conta da pode estar certo com relação à cobertura da
cobertura dada ao MST (Movimento Sem- France Presse, mas, em outros casos, o vizinho
Terra). Anna observa que as publicações diz sofrer de dor no mesmo calo.
acabam muitas vezes carregando nas cores
Os países que falam a língua portuguesa são
com que pintam esse quadro. O mais
um bom exemplo. No Brasil, pouco ou nada se
exagerado dos jornais estrangeiros, nesse caso,
sabe sobre o que acontece em Angola, Cabo
é o The Guardian, da Inglaterra. “Eles dizem Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé
coisas como ‘é imprevisível, tudo pode e Príncipe, Timor-Leste, ou mesmo Portugal.
acontecer no Brasil, com esse movimento dos “Ninguém aqui sabe o que está acontecendo
sem-terra”. em lugares de infinitas semelhanças com o
Essas e outras notícias “curiosas” poderão em Brasil”, diz o jornalista Jorge Manuel Rama-
breve ser pesquisadas com maior exatidão no lho, que nasceu em Portugal, viveu 30 anos em
site da Global Press. A empresa ensaia uma Angola e está no Brasil há 20. “Os jornais
parceria com a E-Clipping, produtora de brasileiros não falam dos países da CPLP
clippings direcionados a empresas a partir da (Comunidade de Países de Língua Portuguesa)
observação dos jornais brasileiros. A página, e não é porque não há notícias”, diz Ramalho
que já conta com uma média de cinco mil que chegou a protagonizar uma experiência
acessos diários, deverá receber ainda mais quase quixotesca com A Gazeta de Angola,
visitas depois que tiver implantado seu sistema que circulou no Rio de Janeiro entre 1991-92.
de busca por palavras-chaves. Por um ano o jornalista tentou colocar o país
na pauta do dia dos brasileiros com essa
pequena publicação. O plano de Ramalho
Um dos outros lados
mostrou-se pretensioso demais, o jornal
De onde olha o jornalista argentino Aldo angolano/brasileiro acabou fechando e o país
Gamboa, no entanto, a visão é diferente. Ele “primo” do Brasil amarga um anonimato
está no Brasil há 12 anos e é correspondente forçado até hoje. Depois da aventura, o
da France Presse no Rio de Janeiro desde jornalista português descobriu que há outros
1997. Na sua redação, as laudas circulam culpados nesse jogo que põe os países pobres
fartas em recheio econômico, esportivo, para escanteio.
político, ecológico e, mais recentemente,
Um dos carrascos nos anseios de Ramalho foi
Mercosul. Gamboa acha que as grandes
o próprio consulado angolano no Brasil. Lá,
agências estão voltadas para grandes assuntos,
ele pôde ver que não existiam releases nem
grandes manchetes e que, por isso, “as
materiais de assessoria voltados para a
agências cidadãs tem um papel importante a
desempenhar num espaço que está aí e que
17
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

imprensa. “Quem vai querer cavar notícias de reportagens de fôlego, matérias de mais de
Angola se nem o consulado divulga nada?” cinco minutos, coisa rara no radiojornalismo
brasileiro.
No próprio site existe um link para o jornalista
Novos ventos
que quiser trabalhar para a InterWorld. Os
O principal elemento de contraponto nesse correspondentes recebem aproximadamente
cenário é o trabalho das pequenas agências, as R$ 600 por cada reportagem de seis minutos.
chamadas agências cidadãs, ou de enfoque As exigências, no entanto, são rigorosas. Os
social. Um dos fatores importantes na editores cobram qualidade máxima da coleta
viabilização delas é a Internet. A nova mídia de dados até a transmissão da matéria pelo
possibilitou a apuração da notícia e sua computador.
distribuição numa velocidade antes
Outra experiência interessante em noticiário
inimaginável. Além disso, o custo de
internacional com enfoque cidadão via internet
funcionamento de agências menores caiu
é a Agência Pulsar. Desde 1996, mais de 2 mil
muito, substituindo o preço de ligações
internacionais e remessas postais para o assinantes em 53 países contam com material
exterior por chamadas telefônicas locais no dessa agência. A Pulsar tem uma rede de
acesso à rede e envio de e-mails em apenas correspondentes em 20 países da América
alguns segundos. Latina, Caribe e Europa. Eles abastecem
diariamente a central da Agência, sediada em
Além de representar um barateamento do Quito, no Equador. De lá, esse noticiário é
processo, essas novas tecnologias encurtaram a distribuído aos assinantes através de internet,
distância entre os maus e bons produtos. com texto e som em formato MP3. Através do
Qualquer jornalista de agência do interior mais endereço www.pulsar.org.ec, o leitor assina
longínquo e inacessível pode trabalhar em gratuitamente esse serviço e recebe, em tempo
condições técnicas semelhantes aos das real, boletins diários, análises, comentários,
grandes empresas de comunicação, desde que resumos semanais e reportagens em texto e em
esteja conectado à internet. Agências de áudio especialmente editados para rádios.
notícias como a InterWorld Radio
(www.interworldradio.org), com sede em "Os intercâmbios de programas gravados em
Londres, na Inglaterra, distribuem matérias fita cassete, sempre chegavam tarde ou muitas
vezes se perdiam no correio," explica o
para rádio pela internet. A qualidade do
jornalista venezuelano, Andrés Cañizález,
material é tão boa que qualquer emissora pode
diretor da Pulsar. "Dificilmente poderia se
levar as notícias ao ar na hora em que elas são
falar de notícias quentes com o material
colocadas no site.
chegando em outro país depois de três
Entre seus assinantes estão emissoras de rádio semanas", completa.
de língua inglesa, jornalistas, líderes
comunitários e ONGs. A agência cobre a área Foi o surgimento de tecnologias de
econômica, de desenvolvimento, ciência e comunicação como a Internet, o correio
tecnologia e direitos humanos. Tudo isso, do eletrônico, e, por último, o MP3, que nasceram
ponto de vista de “como as pessoas normais novas possibilidades de troca de informações,
sobretudo com material gravado em áudio.
são afetadas pelas mudanças globais
provocadas nesses campos”. A agência é fruto A Pulsar é uma produção da Amarc
de uma parceria entre o Panos Institute e a (Associação Mundial de Rádios Comunitárias
OneWorld.net. Seus editores afirmam que esta e Cidadãs), com o apoio da ASDI (Suécia),
é uma publicação totalmente independente, CAF (Holanda), Fundação Friedrich EBERT
apesar de ter sido fundada com doações da (Alemanha) e Unesco (Organização das
Ford Foundation, além da Unicef, Novib e Nações Unidas para a Educação, Ciência e
USAid. A InterWorld Radio aposta nas Cultura). No Brasil, ela funciona com
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

correspondentes em São Paulo, através da apontam a Andi (Agência de Notícias dos


Oboré - Projetos Especiais, que é o escritório Direitos da Infância) como o melhor exemplo
paulista da Unirr (União Nacional de Redes de de agência cidadã no Brasil. Fundada em
Radiodifusão pela Democracia). No Rio de 1992, a Andi, na verdade, presta uma
Janeiro, a correspondente é a Produtora Criar, assessoria à imprensa. Ela trabalha muito mais
ligada à Unirr como escritório carioca da com o conceito de turbina de informações do
Amarc. que com a idéia tradicional de agência
produtora e distribuidora de notícias. No
Além de enviar textos, os jornalistas
endereço www2.uol.com.br/andi, os jornalistas
brasileiros colaboram também com material
em áudio gravado em português. Notícias encontram nomes, números, pesquisas e
como as que vêm sendo distribuídas pela informações de contexto para a produção de
Pulsar sobre o Brasil dificilmente reportagens sobre os direitos da criança e do
encontrariam espaço em outras agências do adolescente.
mesmo porte. Um exemplo recente foi a A Andi distribui também um clipping via e-
cobertura feita quando o juiz paulista José mail com as principais notícias que circularam
Marcos Lunardelli determinou o fechamento pelo país sobre esse assunto. Além de
de 2 mil rádios comunitárias, em São Paulo, informar, o clipping do dia acaba pautando
em janeiro deste ano. O trabalho em tempo muita gente e colaborando para uma cobertura
real acabou despertando reações contra a maior e melhor dos assuntos relacionados aos
decisão do juiz, no Brasil e no exterior. direitos da infância. "Esse é um trabalho
Mensagens de ouvintes e rádios de todo o invejável", diz Catanhêde. "Em 1995, os 50
mundo foram enviadas em solidariedade às maiores jornais do país publicaram pouco mais
rádios comunitárias paulistas. de 7.500 reportagens sobre menores. Em 1999,
Seguindo a iniciativa da Pulsar, a Rádio foram quase 50 mil! As coisas andam devagar,
mas andam."
Popolare de Milão dedicou dez minutos ao
assunto em sua programação no horário nobre
transmitindo ao vivo para todo país. Quando a
A Time dos pobres
notícia foi ao ar, os jornalistas envolvidos
vibravam com um pool de alcance As novas tecnologias ajudam, mas não são o
provavelmente inédito na história da "ovo de Colombo". Fazer jornalismo
comunicação popular e alternativa. internacional de qualidade, com reportagens de
fôlego e enfoque social vem sendo o trabalho
As experiências protagonizadas por essas
diário dos jornalistas dos Cadernos do
agências cidadãs são ricas não só em
Terceiro Mundo (www.etm.com.br) desde
jornalismo e novas tecnologias, mas,
1975. A publicação nasceu com o
sobretudo, no tratamento humano que dão ao
compromisso de tratar os países do Terceiro
seu material. O curioso é que o programa que
Mundo de uma forma diferente, falando de
possibilita a execução de todo esse serviço e
ecologia, direitos humanos e política com uma
com essa qualidade pode ser "baixado" na rede
perspectiva social.
sem que se gaste sequer um tostão
(www.realaudio.com ou www.download.com). A revista foi fundada pelo deputado Neiva
Mais ainda: o assinante dessas agências usa Moreira, na época exilado na Argentina, e
seus serviços sem pagar nada. pelos jornalistas Pablo Piacentini, argentino
que hoje vive na Itália, e Beatriz Bissio. Muita
gente acha que a revista fez água. É comum
Exemplo brasileiro ouvir jornalistas mais velhos dizerem que "era
Tanto Clóvis Rossi quanto Eliane Catanhêde, uma grande publicação, combativa, bem feita,
Memélia Moreira quanto Aldo Gamboa mas onde anda?".

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Ao contrário do que pensam, a experiência “Essa é a Time do Terceiro Mundo”, diz


rendeu frutos. Além dos Cadernos do Terceiro Memélia Moreira, jornalista que trabalha para
Mundo, nasceu na década de 80, o Caderno do os Cadernos desde sua fundação e assina a
Mercosul, e em 1991, os Cadernos de Coluna do Planalto, com notícias de Brasília.
Ecologia e Desenvolvimento, ambos, filhos da “A nossa idéia é mesmo de tratar os países
publicação mais antiga. No seu expediente, subdesenvolvidos de uma forma mais correta,
constam nomes de agências como de menos grotesca”, explica. Ela é a jornalista
Moçambique, Angola, Cuba, Guiné-Bissau e responsável pela cobertura de assuntos como
outros países que sequer sonham em entrar nas política, direitos humanos e questões
edições de grandes jornais pela porta da frente. indígenas. Memélia lembra que os maus tratos
Cadernos do Terceiro Mundo é uma prova de dispensados aos países pobres não são uma
experiência jornalística alternativa e bem atitude exclusiva dos países desenvolvidos.
sucedida. Com 25 anos de existência, a “Aqui no Brasil o noticiário internacional
tiragem hoje é de 35 mil exemplares. A maior também é terrível. Também as grandes nações
desenvolvidas recebem uma cobertura
parte é vendida para assinantes, mas a revista
péssima. É uma falta de qualidade de um
também está em bancas de todo o País, embora
modo geral”.
seja uma missão impossível encontrá-la. Em
suas páginas, além das pautas e reportagens Memélia considera as matérias dos jornais
originais, chamavam atenção os anúncios. franceses sobre o Brasil, por exemplo, muito
Café, diamantes, combustíveis e companhias melhores do que as dos jornais brasileiros
aéreas de Angola, Moçambique e Colômbia, o sobre os outros países. Para ela, a falta de
próprio Pasquim e até vale postal para qualidade na cobertura internacional é “uma
assinatura do jornal Barricada Internacional, via de mão dupla”, onde o Brasil entra como
da Frente Sandinista de Libertação Nacional mais um.
chegaram a desfilar por suas páginas.

Referência bibliográfica
CHARLEAUX, João Paulo. “Olhai (direito) pra nós!” in Revista Pangea, 2001
(publicação online)
disponível em:
[http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=94&ed=9]

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• É possível considerar as experiências apresentadas como uma alternativa ao


Jornalismo Internacional hegemônico?

• A revista Cadernos do Terceiro Mundo corre o risco de oferecer uma visão tão
etnocentrista e ideologizada quanto a que critica na grande mídia?

• Qual é a participação das novas tecnologias de mídia, como a Internet, na


construção desse Jornalismo Internacional “alternativo”?

20
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto IV
Lula, o Bin Laden do Reverendo Moon
(Mídia Conservadora dos EUA)
Joel Conrado, 2002

Como se não bastasse o terrorismo econômico nuclear e míssil-balístico,


e político que o mundo enfrenta, o Washington estreitando ligações com Estados
Times, jornal ultraconservador do reverendo patrocinadores do terrorismo,
Moon, publicou em 7/8 um exemplo como Cuba, Iraque e Irã, e
antológico do terrorismo midiático: um artigo participando da desestabilização
de Constantine C. Menges, ex- integrante do das frágeis democracias vizinhas.
Conselho de Segurança Nacional dos Estados Isto poderia deixar 300 milhões de
Unidos, pau-mandado dos interesses pessoas em seis países sob o
econômicos conservadores americanos e do controle de regimes radicais e anti-
governo Bush, que está conduzindo seu país à EUA e possibilitar que milhares de
paranóia do perigo terrorista. recém-doutrinados terroristas
tentem atacar os Estados Unidos a
O autor do texto só falta chamar Lula, tratado
partir da América Latina. Por ora,
como "Mr. da Silva" no artigo, de o novo bin
Washington parece pouco se
Laden da América Latina. Não sou de
preocupar."
esquerda, não pertenço ao PT. Mas causa
surpresa e revolta ver como o Washington "Os brasileiros realizarão eleições
Times se permite a ousadia de publicar um presidenciais em outubro, e se as
artigo eivado de suposições fantasiosas, pesquisas atuais são um guia o
falácias e mentiras. Leiam: vencedor poderia ser um radical
pró-Castro com amplas ligações
com o terrorismo internacional.
"Bloqueando um novo Eixo do Mal Seu nome é Luiz Inácio da Silva,
Uma nova ameaça terrorista com presidente do Partido dos
armas nucleares e míssil-balísticas Trabalhadores e candidato com
pode vir de um eixo incluindo Fidel 40% das intenções de voto.. O
Castro de Cuba, o regime de candidato comunista (!!!) é
Chávez na Venezuela e a eleição de segundo, com 25%, e o concorrente
um radical como presidente do pró-democracia está com cerca de
Brasil, todos com ligações com o 14%."
Iraque, Irã e China. No ano
passado, visitando o Irã, o Sr.
Quanta desinformação. Se o segundo
Castro disse: "Irã e Cuba podem
candidato brasileiro é "comunista", com 25%
pôr a América de joelhos",
nas pesquisas, os candidatos "antidemocracia"
enquanto Chávez expressava sua
admiração por Saddam Hussein teriam 65% nas pesquisas.
numa visita ao Iraque. "O Sr. da Silva não faz segredo das
suas simpatias. Ele tem sido um
O novo eixo ainda pode ser
aliado do Sr. Castro por mais de
evitado, mas se o candidato pró-
25 anos. Com o apoio do Sr.
Castro é eleito presidente do Brasil
Castro, o Sr. da Silva fundou o
os resultados poderiam incluir um
Fórum São Paulo em 1990, uma
regime radical no país,
reunião anual de comunistas e
restabelecendo seus programas
21
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

outras organizações políticas Mais adiante o autor afirma: "(...) O Brasil


radicais da América Latina, da poderia brevemente tornar-se também uma das
Europa e do Oriente Médio. Isso nações detentoras de força nuclear. Entre 1965
tem sido usado para coordenar e e 1994, os militares ativamente trabalharam
planejar atividades terroristas e para desenvolver armamento nuclear, e com
políticas em todo o mundo e contra sucesso desenharam duas bombas atômicas, e
os Estados Unidos. O último estavam prontos a testar um artefato nuclear
encontro teve lugar em Havana, em quando o governo democrático eleito e uma
dezembro de 2001. Envolveu investigação do Congresso obrigaram o
terroristas da América Latina, da desmantelamento do projeto." Entre desenhar
Europa e do Oriente Médio e e fabricar há um longo caminho...
condenou duramente o governo "A investigação revelou, entretan-
Bush e suas ações contra o to, que os militares haviam vendido
terrorismo internacional." oito toneladas de urânio ao Iraque
em 1981. Também foi revelado que
após esse projeto de sucesso ter
Num país como os EUA, onde se pode
sido interrompido, um general e 24
facilmente ser processado por calúnia, essa
cientistas que lá trabalhavam
afirmação – "coordenar e planejar atividades
foram para o Iraque. Relatórios
terroristas e políticas em todo o mundo e
contra os Estados Unidos" –, por não ser revelam que, com financiamento do
verdadeira, expõe o jornal e o autor do texto a Iraque, a capacidade nuclear foi
processo que custaria muito caro. mantida em segredo, contrariando
a política dos líderes democráticos
"Como o Sr. Castro, o Sr. da Silva acusa os civis.
Estados Unidos e o neoliberalismo por todos
A China já vendeu urânio
os problemas sociais e econômicos que o
enriquecido e tem investido na
Brasil e a América Latina enfrentam." Mal-
indústria espacial brasileira num
informado, o articulista não acrescenta que,
projeto de satélite de
mais do que o neoliberalismo, a roubalheira, a
reconhecimento." Certamente isso
corrupção dos últimos governos é que
afundaram o Brasil. é tão perigoso e terrorista como
vender aviões militares e tanques e
enviar militares instrutores ao
Nada de política exterior Kuwait e às Filipinas. "(...) Ao
mesmo tempo, ajudando as
"O Sr. da Silva classificou a Alca como uma guerrilhas comunistas a assumirem
conspiração dos Estados Unidos para "anexar" o poder na convulsionada
o Brasil, e tem dito que os banqueiros democracia da Colômbia, o regime
internacionais que desejam a devolução dos de da Silva no Brasil estaria em
US$ 250 bilhões que emprestaram "são posição favorável para ajudar
terroristas econômicos". Ele tem dito também comunistas, narcoterroristas e
que aqueles que estão retirando seu dinheiro outros grupos antidemocráticos
do Brasil, porque têm medo de seu regime, são para desestabilizar as frágeis
igualmente "terroristas econômicos". Isso dá democracias da Bolívia, do
uma idéia do tipo de ‘guerra ao terrorismo’ Equador e do Peru, como também
que seu governos conduzirá." O autor do texto se aproveitar da profunda crise
não menciona que Lula vai também combater econômica na Argentina e do
o terrorismo do tipo contido no artigo... Paraguai."

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Quem diria! Lula um segundo bin Laden... brasileiros numa democracia


Isso é dose para americano nenhum dormir genuína com recursos para montar
sossegado! uma efetiva campanha nacional."
"Mais, o regime de da Silva
provavelmente recusará pagar as Com essa afirmação – "que represente as
dívidas, causando um profundo esperanças da maioria dos brasileiros numa
agravamento da economia em toda democracia genuína" – o autor se contradiz. Se
a América Latina, e conseqüente- as pesquisas apontam preferência de 40% pela
mente aumentando a vulnerabili- candidatura de Lula, é a maioria que o prefere.
dade de suas democracias. Isto
Mais ainda, faz tácito e vergonhoso apelo ao
poderia causar uma segunda fase
poder econômico para que desestabilize as
de diminuição nas exportações dos
eleições brasileiras. De política exterior
Estados Unidos. Um eixo Castro-
Constantine C. Menges não manja nada.
Chávez-da Silva significaria a
ligação de 43 anos da guerra
política de Fidel Castro contra os Duas ou três coisas sobre o Dr. Menges
Estados Unidos à rica em petróleo
Venezuela e ao armamento Ninguém deve levar o Dr. Constantine Menges
nuclear/míssil-balístico e o poten- (muito) a sério. Ele tem sido, por 25 anos, um
cial econômico do Brasil." (mau) relações públicas da linha-dura do
Partido Republicano. Suas tão freqüentes
quanto catastróficas previsões de política
Esse parágrafo daria uma fantástica novela das externa vêm sendo desmontadas uma a uma
oito na Globo. Só falta FHC dizer que graças pelos acontecimentos, mas ele está sempre lá,
aos seus oito anos de governo o Brasil nos jornais americanos conservadores,
comandaria um complô econômico e militar prevendo perigos inimagináveis para a
contra os Estados Unidos... "democracia americana". Não previu, é claro,
o 11 de setembro, mas isso não tem a menor
"Com eleições em novembro em
importância. Há ameaças de sobra para prever
2004, os americanos podem
e manter o Dr. Menges ganhando dinheiro com
perguntar: "Quem perdeu a
sua atividade.
América do Sul?" (...) "Os Estados
Unidos foram politicamente Mas de onde vem o Dr. Menges? Segundo o
passivos no governo Clinton, site da Casa Branca (www.whitehouse.gov),
quando ignoraram os pedidos dos ele nasceu em Ancara, na Turquia, e tem 62
democratas da Venezuela para anos. Era, em 1983 – portanto, nomeado pelo
ajudar no combate às atividades governo Reagan –, diretor para assuntos
anticonstitucionais do Sr. Chávez e latino-americanos do Conselho de Segurança
também ignorou suas públicas Nacional. Anteriormente, entre 1981-1983, era
alianças com Estados patrocinado- nada mais nada menos que analista de
res do terrorismo. Oportuno informações da Central Intelligence Agency, a
acompanhamento político e ações boa e velha CIA, para a América Latina.
por parte dos Estados Unidos e Desde esta época já pertencia ao Hudson
outras democracias deveriam Institute, think tank sediado em Washington
incluir incentivo aos partidos que reúne a fina flor do conservadorismo
democráticos no Brasil a se unirem americano.
em torno de um líder político Tem doutorado em Ciência Política pela
honesto e capaz, que represente as Columbia University, dá aulas em várias
esperanças da maioria dos universidades, mas seus pares não o levam
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

(muito) a sério. Um deles, Thomas Risse- ameaçarão a democracia na Colômbia, na


Kappen, especialista em Europa da Bolívia, no Equador, no Peru e no Brasil, onde
Universidade de Konstanz, na Alemanha, o Sr. Chávez e Fidel Castro esperam ver
comentando as avaliações do antigo agente repetido seu padrão de golpe pseudo-
sobre o "perigo alemão", disse que Menges constitucional com a eleição do radical Inácio
não consegue parar de "ver em vermelho": da Silva como presidente, em outubro. Isso
representa uma geração inteira do poria 300 milhões de pessoas sob o controle de
establishment de segurança nacional que se regimes radicais pró-Castro-Iraque antes de
concentrou na Guerra Fria por tempo demais, 2004 – um enorme ganho para o terrorismo
"e sua percepção, é claro, nada tem a ver com anti-EUA e uma enorme derrota para as
os verdadeiros problemas atuais de seguran- populações locais e para o governo Bush."
ça". Quando Menges escreveu sobre a ameaça Segundo Risse-Kappen, os ensaios de Menges
de uma aliança russo-chinesa, William D. nada acrescentam em pesquisa e reflexão sobre
Shingleton, da National Defense Council as questões internacionais: suas fontes são as
Foundation, outro think tank, de Alexandria,
matérias do New York Times, do Washington
perto de Washington, afirmou no Washington
Post e do Economist, que ele não se
Post que Menges julga mal a realidade, e fica
envergonha de citar. Para escrever sobre o
"hiperventilado" ao analisar eventuais alianças
novo eixo do mal latino-americano, o Dr.
que considera estratégicas, "o que em nada
Menges, que fala quatro línguas, provavel-
aumenta a segurança americana".
mente teve acesso às resenhas – de repercus-
são internacional – do livro da jornalista Tânia
Malheiros sobre o programa nuclear brasileiro
Explosiva receita de bolo
e o nunca esclarecido embarque de urânio para
O New York Times até fez pequena penitência o Iraque; soube dos experimentos da Marinha
no ano passado, em matéria de Tim Weiner, em enriquecimento de urânio em Iperó; ouviu
por ter o jornalão publicado em 1980 artigo de falar dos testes de lançamento na base de
"um escritor conservador chamado Alcântara; leu que líderes do PT, como
Constantine C. Menges, alertando que os milhares de outros brasileiros, visitaram
avanços comunistas na América Central Havana. Bateu tudo, botou no forno e pronto:
ameaçam transformar o México no ‘Irã ali ao Lula no poder se aliará aos militares e ao
lado’: um estado revolucionário . movido a narcotráfico, invadirá os países vizinhos e
terror de esquerda, desestabilizado por uma criará um enclave nuclear terrorista.
coalizão de grupos reformistas, radicais e
comunistas". Conta Weiner que William J.
Casey, diretor da CIA no governo Reagan, O dever de casa é fácil
"acreditou em tudo e contratou o homem, e
Tais sandices estão em sintonia com a linha do
juntos promoveram aquela visão política de
Washington Times, criado pelo coreano Sun
forma muito, muito dura". Só que nada daquilo
Myung Moon para ajudar na guerra ao
aconteceu. "A Guerra Frita foi uma máscara
comunismo liderada pelo então presidente
que nos cegou para a realidade do mundo",
Ronald Reagan e como alternativa
disse ao Times em 1992 o poeta e Nobel conservadora ao Washington Post. O jornal
Octavio Paz, conforme cita Weiner. tem pequena circulação e já deu US$ 1 bilhão
Assim é o Dr. Menges. Em 28 de abril ele já de prejuízo ao grupo News World, de Moon.
tinha destilado seu veneno no próprio Mas não falta dinheiro ao "reverendo", dono
Washington Times contra – principalmente – de vastas extensões de terras no Brasil: ele
Hugo Chávez e Lula. No último parágrafo do recentemente comprou a United Press
artigo, disse: "Se Chávez consolidar seu International (UPI), uma agência de notícias
controle nos próximos meses, suas ações americana de quase 100 anos, cuja atual

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

correspondente em São Paulo manda matérias terrorismo para desacreditar um dos maiores
regularmente ao Washington Times sobre a campeões da democracia na América Latina,
crise e as eleições. Luiz Inácio Lula da Silva". E termina: "As
pessoas que devemos temer no Brasil são os
Para não dizer que não persegue os padrões
inimigos do Sr. da Silva: armados da ideologia
americanos de "liberdade de expressão", o
do medo, podem derrubar o governo e
Washington Times publicou na terça, dia 19/8,
remilitarizar o Brasil."
duas cartas de protesto contra o artigo do Dr.
Menges, uma de Pedro Giglio, do Rio de Quer dizer, até um estudante americano de
Janeiro, e outra de Mark Andrews, estudante graduação, quando quer, faz seu dever de casa
de Relações Internacionais e Estudos do bonitinho sobre o Brasil. Imagine-se do que
Pacífico da Universidade da Califórnia em San seria capaz, se quisesse, a poderosa mídia
Diego, ambas sob o título "Próxima parada da americana. Mesmo não levando (muito) a sério
guerra ao terror: Brasil?". A primeira, cujo pasquins como o Washington Times e
autor afirma não ser eleitor de Lula, rebate dinossauros como o Dr. Menges, a imprensa
uma a uma as afirmações do articulista e diz tem obrigação de ficar de olho (bem) aberto
que o texto é uma afronta ao povo brasileiro. A com essa gente. Afinal, é ela que mantém
segunda lamenta que, não bastando a punição azeitado, com sua propaganda do perigo
que a comunidade financeira internacional externo, o complexo industrial-militar
inflige aos brasileiros por expressarem sua americano, fagueiramente ativo nesta era de
insatisfação nas pesquisas, "neocombatentes tantos eixos do mal.
da Guerra Fria como Menges jogam a carta do

Referência bibliográfica
CONRADO, Joel. “Besteirol à Americana: Lula, o bin Laden do reverendo Moon”, in
Observatório da Imprensa, ?

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• As incorreções publicadas pelo Washington Times sobre o Brasil, seja por


ignorância ou por deturpação ideológica, são diferentes das que o Jornalismo
Internacional brasileiro comete sobre outros países?

• Em que medida a visão-de-mundo de um regime, governo ou grupo no poder em


um país pode influenciar a cobertura internacional da mídia e a opinião pública em
relação a outro(s) país(es)?

• Até que ponto o correspondente estrangeiro não representa uma possibilidade de


interferência ou espionagem na política do país onde está baseado?

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto V
A Grande Matéria: Washington, as Nações Unidas, o Mundo
John Hohenberg, 1981

Os Correspondentes mento profissional dos correspondentes


Entre os 70.000 ou mais jornalistas internacionais.
contratados em tempo integral pelas empresas A maioria dos representantes das empresas
jornalísticas nos Estados Unidos, um número jornalísticas americanas existentes hoje em dia
bem menor fica permanentemente em se compõe de homens maduros e educados.
Washington, nas Nações Unidas, ou é Podem não ser poliglotas (poucos o são), mas
correspondente em bases sólidas. Para os que se revelam sempre capazes de lidar com os
possuem experiência, conhecimento, instrução, mais variados tipos de problemas, conhecem
habilidade e a sorte de sobreviver aos bem o seu trabalho e acham soluções próprias
rigorosos testes do jornalismo prático, o para as situações difíceis. A maioria deles tem
privilégio de cobrir os acontecimentos a habilidade de assimilar as partes essenciais
nacionais e internacionais do nosso tempo é o da história, geografia e cultura das regiões
maior prêmio que lhes pode conferir a onde trabalham. Quase todos são agressivos e
profissão. não gostam de receber "orientações" do
pessoal da Embaixada americana local. Todos
Para os repórteres que estão a serviço na Casa
possuem uma característica dominante: a
Branca, no Congresso ou nas Nações Unidas,
independência.
nas Chancelarias da Europa, na Grande Casa
do Povo, em Pequim, ou no Kremlin, sua
função é escrever e explicar as decisões que
O Corpo de Correspondentes Estrangeiros
levarão à paz ou à guerra. A eles,
principalmente, pertencem as matérias de uma Os altos e baixos do interesse público e dos
era de conturbação política, social e editores pelas notícias são bem ilustrados nas
econômica uma era na qual o homem contratações de correspondentes estrangeiros
caminhou sobre a Lua, enviou robôs para efetuadas pelas empresas jornalísticas
explorar Marte e lançou foguetes para alcançar americanas. Ao fim da II Guerra Mundial,
planetas longínquos, mas continua incapaz de 2.500 correspondentes – muitos dos quais
resolver os problemas da fome e da estiveram no campo de batalha – foram
superpopulação que assolam o mundo. desmobilizados pelas suas empresas com uma
velocidade maior do que a desmobilização das
forças armadas.
Características Houve épocas de grandes mobilizações de
Há sempre alguns jovens corajosos que grupos de correspondentes durante crises
gostam de desafios e que se metem no meio de mundiais, do cerco de Berlim em 1948-1949, à
uma guerra ou desordem civil e se juntam, guerra do Vietnã, e às várias rebeliões no
como repórteres "free-lancers", aos repórteres Oriente Médio, mas tais períodos não podem
profissionais que representam as organizações ser comparados ao de 1942-1945. Mesmo no
noticiosas. Eles trabalham para jornais ou auge da guerra do Vietnã, não mais que 500
agências de notícias, redes de televisão ou correspondentes estavam credenciados pelas
revistas, ou tentam por seus próprios meios empresas jornalísticas americanas. Logo após,
conseguir a função de informantes. Quase quando os Estados Unidos entraram em época
sempre os melhores tornam-se corresponden- de paz incerta, pela primeira vez em muitos
tes. Mas esses são exceções no desenvolvi- anos, os meios de comunicação reduziram a
menos de 400 o número de jornalistas tempo

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

integral no estrangeiro. E dois terços deles contar com seus próprios correspondentes
estavam na Europa. Por isso, é um exagero utilizam as informações oriundas das grandes
considerável dizer, como algumas vezes organizações noticiosas, o que faz com que as
acontece, que 3.000 ou 4.000 jornalistas notícias tenham um custo relativamente baixo
americanos cobrem uma guerra em um e sejam utilizadas como suplemento ao serviço
pequeno país da Ásia ou da África. das agências.
A maioria é constituída de repórteres
independentes e alguns mostram caracterís-
Washington como centro noticioso
ticas tão estranhas que se suspeita sejam
agentes secretos. Apesar de todas as restrições que lhes são
impostas, os correspondentes em Washington
Uma prova de falsidade de número pode ser
são efetivos representantes de jornais e
obtida por qualquer um que visite o quartel-
agências de notícias, revistas, semanários e
general da imprensa nas Nações Unidas em
associações, estações de rádio e de televisão e
um dia de rotina e veja que há menos de 50
dos boletins informativos. Há, também: os
correspondentes tempo integral credenciados correspondentes "one shot" (enviados espe-
pelas empresas jornalísticas americanas e um ciais), que estão quase sempre em ou fora de
número bem menor de estrangeiros. Ainda Washington a trabalho das suas estações ou
assim, durante o dia da abertura de uma jornais locais, em reportagens de pouca
Assembléia Geral, a Secretaria de Imprensa importância. Os representantes da imprensa
das Nações Unidas anuncia o credenciamento
estrangeira freqüentemente fazem o mesmo
de 1.500 a 2.000 "jornalistas", que vão embora
em ocasiões de grande interesse.
tão logo as grandes personalidades retornam
aos seus postos regulares. Esse fato serve É importante saber o que fazer para
como lembrete de que nem toda pessoa que diz estabelecer uma base em Washington,
ser jornalista realmente o é. permanente ou temporária, e que opere com
eficiência. Os credenciados para trabalhar em
Washington, como membros de burôs já
O Corpo de Correspondentes em Washington estabelecidos, têm sorte, pois as empresas
compensam os períodos fracos em
Embora alguns jornais tenham retirado seus
acontecimentos e provêem casa, mudanças e
correspondentes de Washington, a capital
escola para os dependentes. Mas para quem
americana é ainda o maior centro de notícias,
vai pela primeira vez e por conta própria é
tanto para as coberturas domésticas quanto
uma experiência dura e às vezes traumatizante.
para as estrangeiras, e o número de
São avisados de que devem conhecer os chefes
representantes de todos os países atinge a
das agências noticiosas e organizações aos
2.000 nos períodos de pique. Enquanto muitos
diários americanos, médios e pequenos, não quais suas empresas estão filiadas, as suas
fazem segredo de seu preconceito contra as delegações no Congresso, e devem ter
matérias rotineiras de Washington e do conhecimentos pessoais importantes em
exterior, e o jornalismo eletrônico local esteja lugares tais como a Casa Branca, o
ainda menos interessado, nenhum editor Departamento de Estado, o Pentágono e as
salas de imprensa do Congresso e do Senado.
gostaria de suprimir o serviço.Durante
congressos de editores há sempre um acordo Devido à publicidade dada ao “National Press
solene de que esse tipo de notícia deve ser Club”, e à proximidade dos teletipos,
dado ao público americano, porém os seus repórteres solitários tentam às vezes trabalhar
jornais nem sempre publicam tais notícias. nesse clube como uma espécie de sócio
Editores responsáveis, entretanto, se sentem temporário. Mas em geral sentem-se
orgulhosos de poder oferecer informações oprimidos pelos agentes de imprensa de todos
sólidas da capital do país. Os que não podem os tipos. É boa prática trabalhar fora de um
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

lugar como a sala de imprensa do Senado, repartições sob a responsabilidade direta do


quando o Congresso está em sessão, ou pegar Presidente. Os correspondentes já conhecidos
uma notícia a cada dia e transmiti-Ia de marcam seus próprios encontros com essas
qualquer lugar, não importa qual. Uma regra pessoas e normalmente trabalham utilizando-
inflexível para os que vão a Washington é a de se do telefone, exceto para grandes
obter suas credenciais com bastante reportagens. Nos dias em que o Presidente se
antecedência. Outra, a de se assegurar acesso reúne com a imprensa, é normal
rápido a um telefone ou a um terminal de telex comparecerem 200 ou mais correspondentes,
– algumas vezes é melhor ditar a matéria por especialmente quando assuntos de importância
telefone para jornal do que escrevê-la em estão pautados. Se a reunião for de última
Washington (em caso de grande matéria). hora, somente comparecerão os
Em um manual de regras dessa natureza, que correspondentes regulares, não havendo tempo
pode ser somente um auxiliar para as para avisar a todos. O jornalismo eletrônico
coberturas em Washington, e não um profundo está permanentemente pronto e em alerta para
trabalhar na Casa Branca, mas há dificuldades
estudo sobre o assunto, insere-se uma pequena
no uso das minicâmeras em tripés. Elas são
relação de pontos importantes e sugestões do
colocadas na sala de recepção para filmar
que se deve e não se deve fazer. Ei-la:
visitantes importantes quando deixam o
escritório do Presidente. Com as minicâmeras
1) A Casa Branca e o vídeo-teipe, a equipe de televisão tem
maior mobilidade, podendo ficar nas entradas
Ao Presidente dos Estados Unidos, sendo a laterais, utilizadas por visitantes que querem
mais importante fonte de notícias no país, bem evitar publicidade.
como a mais influente, dá-se cobertura intensa,
diariamente, por todos os veículos noticiosos Equipes de televisão podem também entrar no
do país e de outros países. Aos membros de Rose Garden para uma filmagem rápida, se a
sua família, amigos e assessores diretos, reunião com a imprensa ali se realizar.
também se faz o mesmo. Reuniões com personalidades do governo, para
As facilidades para a imprensa na Casa Branca informações de "background", ocorrem em
são poucas, se comparadas às facilidades uma sala menor, a "Fish Room", assim
obtidas nos palácios dos governadores chamada em razão dos quadros de peixes
estaduais ou até mesmo nas Prefeituras. pendurados em suas paredes. Quando o
Somente pequeno número de correspondentes Presidente viaja, os correspondentes que o
regularmente credenciados na Casa Branca acompanharão devem ter suas autorizações
dispõe de um dos pequenos cubículos com fornecidas pela Casa Branca. Há períodos de
telefone na sala de imprensa. A grande maioria bonança na Casa Branca, quando os repórteres
tem de encontrar meios de comunicação por si se sentam e esperam que algo aconteça, mas
própria. cais'períodos são pouco freqüentes. O
Presidente, a fonte número um de notícias,
O Secretário de Imprensa2 do Presidente está mantém os correspondentes sempre ocupados.
geralmente disponível uma ou duas vezes ao
dia para reuniões com a imprensa, para fazer
declarações ou fornecer material aos 2) O Congresso
jornalistas. Ele e seus assistentes são as
Se o Presidente dos Estados Unidos e os
pessoas-chaves capazes de facilitar o acesso de
principais membros de sua Assessoria
um jornalista pela primeira vez na cidade aos
mostram-se reticentes sobre determinado
membros da equipe presidencial, e às várias
assunto, o Congresso dos Estados Unidos
rapidamente preenche esse vazio. Perto da
2
Nos EUA, equivalente a porta-voz. Casa Branca está o “Hill”, o mais importante
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

ponto de notícias na Capital. Repórteres que direito de corrigir e revê-los antes da


regularmente cobrem o Senado e o Congresso publicação. Uma observação final para os
têm uma boa relação de trabalho com os recém-chegados (e para muitos veteranos
líderes da Maioria e da Minoria de ambas as também): familiarizem-se com os procedimen-
Casas, assim como com outros membros do tos de ambas as casas, Senado e Câmara; sem
Legislativo. Eles conhecem os presidentes das esse conhecimento, muitas das intrincadas
Comissões e desenvolvem métodos eficientes manobras que ocorrem durante o processo
de estar sempre por perto. Os integrantes do legislativo não podem ser traduzidas para
G0verno normalmente dão entrevistas para melhor entendimento público.
fornecer detalhes de apoio a determinado Há tantas notícias em Washington que se torna
assunto, e os congressistas geralmente querem um problema não a decisão sobre o que
ter suas declarações gravadas. Querem que publicar, mas o que eliminar.
seus pontos de vista sejam conhecidos. Como
funcionários eleitos, precisam de publicidade
para suas ações e posições nos principais 3) O Departamento de Estado
assuntos do dia; os eleitores esquecem
rapidamente um deputado ou senador que No sólido e cinzento edifício no "Foggy
"desaparece" durante semanas. Bottom", cerca de 50 ou 60 correspondentes
cobrem regularmente os assuntos do
Para o jornalista recém-chegado, as salas de Departamento de Estado e outra centena deles
imprensa, tanto no Senado como na Câmara, corre quando há crise. A inadequada sala de
são os lugares mais convenientes para imprensa, com seus estreitos cubículos para os
trabalhar. Os superintendentes e suas pequenas repórteres, é uma caixa de ecos, mas mesmo
mas competentes equipes de assessores nas assim utilizada na falta de coisa melhor. As
salas de imprensa conhecem mais do que equipes das agências de notícias, com
muitos repórteres tudo sobre horários, melhores acomodações, ditam por telefone as
discursos, reuniões das comissões e numerosos notícias para os seus escritórios em
outros fatos sobre acontecimentos que podem Washington.
ser esperados durante o decorrer de um dia no
Congresso. Cópias de discursos podem ser A primeira fonte no Departamento de Estado é
previamente solicitadas às salas de imprensa constituída pelos departamentos de notícias do
ou aos escritórios dos seus respectivos autores. Departamento, situados próximos à sala de
Os funcionários da sala de imprensa e da imprensa e ao escritório do Assistente do
Assessoria do Congresso podem ser muito Secretário de Estado para Assuntos Públicos,
úteis quando se deseja uma entrevista por no sexto andar. Um correspondente conhecido
telefone ou pessoalmente com um senador. Os e respeitado tem acesso à maioria dos
repórteres aprendem rapidamente a não ficar funcionários do Departamento, e algumas
perdendo tempo rondando o Congresso, exceto vezes até ao próprio Secretário de Estado.
quando o acontecimento requer tal Quase todo correspondente pode conseguir,
procedimento. Usar o telefone torna-se às através do pequeno grupo de oficiais de
vezes mais fácil. imprensa, acesso às seções q\.le mantêm
contato direto com Embaixadas e ministros
As fontes de notícias no Congresso são estrangeiros. Esse tipo de informação
inúmeras, como mostra o Registro do geralmente aparece como "background". Para
Congresso. E o Diário Oficial publica todo dia informações mais precisas e diretas, o primeiro
muitos discursos e pronunciamentos que não recurso é a reunião diária de imprensa com um
atraem o interesse público, até serem dos funcionários do Escritório de Assuntos
divulgados na imprensa; além do mais, um Públicos. O mecanismo do Departamento de
discurso publicado pode estar bem diferente da Estado é sobremodo flexível para tratar de
versão original, porque os congressistas têm o questões ou petições a qualquer hora do dia,
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

mas, à noite, torna-se quase impossível 4) O Departamento de Defesa


conseguir uma notícia, fora do Departamento,
Qualquer correspondente fixo trabalhando no
com os seus membros.
Departamento de Defesa tem pouca dificuldade
O Secretário de Estado e seus assessores de acesso aos oficiais do Pentágono. Em períodos
imediatos fazem sua própria rotina para de crise, porém, existem restrições em larga
encontros com a imprensa, mas sempre escala. Uma das mais severas normas iniciadas na
consultam a respeito da Casa Branca. O época da crise dos mísseis em Cuba exigia que os
material impresso à disposição no oficiais do Pentágono relatassem todos os seus
Departamento é imenso, mas pouco pode ser contatos com jornalistas. Essa imposição tornou-
considerado "notícia", exceto um ocasional se motivo de controvérsias infindáveis.
"White Paper" ou outro pronunciamento sobre
A despeito das dificuldades para a obtenção de
uma linha de ação em nível de documento.
informações vitais, o mecanismo de divulgar e
Ainda assim, o Departamento de Estado pode
manipular notícias no Pentágono é,
oferecer uma facilidade valiosa à pesquisa de
provavelmente, o mais elaborado em qualquer
correspondentes que sabem como trabalhar lá
departamento governamental nos Estados Unidos.
e cujos jornais permitem-lhes perder algum
O Departamento de Defesa (OOD) com seu
tempo preparando uma matéria.
próprio esquema de informações, tem como
Figuras acadêmicas como Arthur M. encarregado um assistente do secretário de
Schlesinger Jr., no governo Kennedy, Walt Defesa, e inclui representantes de todos os
Whitman Rostow, no governo Johnson, e serviços militares, com uma grande sala de
Kissinger, no governo Nixon (enquanto foi o imprensa no segundo andar do Pentágono. Cada
conselheiro da Segurança Nacional), assunto dispõe de seção específica e nelas
receberam mais atenções da imprensa do que trabalha grande número de oficiais. O Exército, a
todo o Departamento de Estado. Marinha e a Aeronáutica têm, cada qual, a sua
própria equipe de informação (Exército e
Isso foi particularmente verdadeiro com
Aeronáutica possuem programa consolidado de
Kissinger devido à sua diplomacia pessoal, ao
informações internas e externas). Quase 1.000
seu gosto por longas viagens e negociações
oficiais do Pentágono são designados para
privadas e a sua inclinação pelos segredos e
trabalhar algumas facetas das atividades de
procedimentos da imprensa. Antes e depois de
se tornar Secretário de Estado, ele foi uma Relações Públicas. Eles dirigem o trabalho de
grande figura para a imprensa e sempre informação e relações públicas de pequenas
tomava o cuidado de verificar se não estaria equipes em cada base, e nos postos através do
negligenciado pelos meios de comunicação. mundo; um pequeno exército de oficiais de
Ele era, em certo sentido, deleite para os relações públicas é credenciado especificamente
para trabalhar com a imprensa e o público e com
repórteres, por "conversas confidenciais",
as próprias Forças Armadas.
apesar disso sempre reportáveis. Quando o
Presidente Carter adotou uma linha de ação de A grande e antiquada sala de imprensa do
"abertura com o povo americano" na Pentágono não pode ser comparada à sala
formulação da política internacional, tentava, destinada aos repórteres na Casa Branca.
com efeito, reverter uma tendência do governo Geralmente poucos correspondentes fazem ali
americano em geral e da manipulação dos cobertura diária, mas, quando o Secretário da
assuntos internacionais, em particular. Seu Defesa marca uma entrevista coletiva, ou quando
secretário de Estado, Cyrus Vance, concordou. o Estado-Maior das Forças Armadas entra em
Resta ver-se até onde poderão chegar, pois até pauta, a responsabilidade é muito grande. Os
mesmo o Presidente Wilson, que clamava por correspondentes em Washington fazem por
"pactos francos obtidos com franqueza", não telefone a maior parte do trabalho de rotina com
conseguiu pôr o ideal em prática. as várias seções militares.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Em razão da intensa rivalidade dentro do 6) O Tesouro


Pentágono e do igualmente intenso sentimento
Uma das mais importantes inovações
dos militares contra incursões nos seus
desenvolvidas pelo Departamento de Tesouro
territórios, sentimentos esses preservados pelo
é a "Budget School" à qual é enviado, antes de
Departamento de Estado e até pela Casa
ser divulgado, o Orçamento Federal.
Branca, a divulgação de documentos secretos
nos meios de comunicação considera-se Correspondentes, muitos deles com
atividade não autorizada. Durante a "guerra" experiência em assuntos econômicos, têm
contra a proposta de construção dos oportunidade de estudar esse formidável
superbombardeiros B-36 para a Força Aérea, documento e conversar com os líderes da
nos anos 40, facções militares rivais nação antes de apresentarem suas conclusões
divulgaram documentos secretos, num esforço ao público.
de desacreditar esses aviões junto ao público. Esse tipo de preparação é deficiente em muitas
A situação atingiria um clímax em 1971 e outras áreas de coberturas em Washington. O
1972, com a revelação pública dos Tesouro mostrou que é possível entrar em
"Documentos do Pentágono" pelo Dr. Daniel entendimento com os meios de comunicação
Eusberg, antigo oficial do Pentágono, em questões de importância para o público,
supostamente com fins pacíficos, e a tais como expedientes governamentais e
divulgação de toda uma série de documentos propostas de novos impostos, para obter tempo
relacionados aos planos secretos de ação do apropriado a estudos e reflexões. Em assuntos
governo pelo colunista Jack Anderson, através dessa natureza, poucos parágrafos escritos
de fontes que ele identificou como "militares, apressadamente podem conter informações
em parte". imprecisas e confusas. É melhor esperar, de
Esse tipo de atitude continuará enquanto acordo com a fonte de informação e com a
houver facções de militares que queiram competência do jornalista, antes de dar
dirigir a opinião pública nessa ou naquela perspectiva própria ao assunto.
direção. A decisão de se publicar tais matérias Em períodos de tensão econômica, o Tesouro
é uma responsabilidade que cada empresa também é fonte de notícias sobre políticas
jornalística deve tomar por si própria, baseada monetárias e os vários controles temporários
nas circunstâncias e na extensão dos interesses da economia e dos salários.
públicos envolvidos.

7) Agricultura
5) A Corte Suprema
Os correspondentes que cobrem o
Os correspondentes credenciados à Corte Departamento de Agricultura, como os
Suprema são poucos e altamente correspondentes nos Departamentos de Estado,
especializados. Não é qualquer repórter que Defesa e Tesouro, são geralmente
pode receber credencial. Não é fácil quem especializados nesse campo.e trabalham para
desconhece o assunto escrever um artigo, empresas jornalísticas com um interesse
capaz de ser entendido pelo público, sobre particular no assunto. A rotina diária desses
decisões e acontecimentos na mais alta Corte repórteres é apoiada pelas agências de notícias.
do país. Alguns repórteres que fazem a Mas nas reportagens mais detalhadas e
cobertura da Corte são advogados; outros profundas em assuntos de importância para os
tiveram aprendizado em leis. Os que não fazendeiros e consumidores, os meios de
tiveram contato anterior com assuntos comunicação devem se voltar para os
jurídicos têm que desenvolver um especialistas.
conhecimento próprio para poder exercer
adequadamente suas funções.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

8) Outras Áreas ao Serviço de Taxas e Impostos sobre o


Comércio Interno, como fez o ex-Presidente
Todas, exceto as maiores e mais fortes
Nixon, da mesma forma que não são
empresas jornalísticas, não têm condições de
simpáticos a qualquer administração os
colocar diariamente equipes em muitos outros
repórteres muito inquisitivos. Acontece
importantes departamentos do governo. Em
também algumas vezes que, quando um
conseqüência, os Departamentos de Justiça, do
Presidente ou pessoa da sua administração
Trabalho, do Comércio, do Interior e da Saúde,
tenta usar os meios de comunicação como
Educação e Bem-Estar, para mencionar apenas
instrumento de aliciamento público, os efeitos
alguns, são cobertos pelas agências de notícias.
Um correspondente com interesse especial em podem ser desastrosos e se "voltarem contra o
questões da Justiça ou Trabalho, por exemplo, feiticeiro".
pode dedicar mais tempo a esses assuntos que
a outros. Ou toda a equipe concentrará seus
“Os Mal-Entendidos”
esforços em um único Departamento, como o
do Trabalho, durante uma emergência A despeito de algumas dúvidas quanto aos
nacional. A questão é que mesmo as maiores tipos de informações militares fornecidas pelos
corporações noticiosas na capital do país têm governos Roosevelt e Truman, durante a II
que trabalhar em termos de "prioridade", salvo Guerra Mundial, suas linhas de ação não foram
em relação às fontes de notícias.Desafortunado criticadas; de fato, manter o segredo sobre o
é o repórter que passa um dia inteiro desenvolvimento da bomba atômica foi
pesquisando um projeto no Departamento de considerado um triunfo, até que se ficou
Saúde, Educação e Bem-Estar, e descobre, sabendo que espiões haviam enviado dados
depois, que nesse mesmo dia o Presidente importantes à União Soviética. Contudo, os
enviou mensagem de urgência ao Congresso; mal-entendidos não haviam começado até o
isso acontece quando um repórter "desliga-se" governo Eisenhower, quando a União
das suas fontes geradoras de notícias. Soviética descobriu, em 1960, a despeito dos
desmentidos da Casa Branca, que um avião de
Entre as agências reguladoras, os meios de
espionagem U-2 fora acionado dentro de seu
comunicação têm um interesse natural e
território. E isso alastrou-se em 1961, quando
contínuo em quase tudo feito pela Comissão
o Presidente Kennedy tentou e falhou em
Federal de Comunicações. E, com o aumento envolver a alta administração da CIA na
do interesse pelos assuntos de consumo, dá-se organização do desembarque desastroso na
maior atenção à Comissão Federal de Baía dos Porcos, em Cuba. De novo, em 1963,
Comércio. Por outro lado, as agências o governo Kennedy aceitou o argumento do
reguladoras e os correios são provavelmente as regime de Diem, no Vietnã do Sul, de que a
organizações criadoras de notícias em
"vitória" sobre o Vietcong era iminente.
Washington que recebem a pior cobertura
diária. Com a continuação da guerra, algumas
declarações dos governos Johnson e Nixon
foram desmascaradas como falsas. A
Riscos nas relações com meios de indignação final, decerto, ocorreu com o caso
Comunicação Watergate, que levou o Presidente Nixon à
renúncia forçada.
Os assuntos de ações públicas e os ligados à
segurança nacional algumas vezes criam Em virtude desses acontecimentos, ficou
dificuldades entre o governo e os meios de difícil para os governos seguintes restabelecer
comunicação. Revelações que embaraçam o a confiança do povo americano e dos países
governo jamais são aceitas com bons olhos ou estrangeiros nas informações divulgadas pelo
indiferença. Não é boa política a Casa Branca Governo dos Estados Unidos em matérias-
compilar uma "lista de inimigos" e entregá-la chave que afetam a conduta do público,
32
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

particularmente aquelas ligadas à segurança quanto pelos meios de comunicação, o resultado


nacional. Infelizmente, o sucesso da imprensa provável será a anarquia.
ao divulgar as falhas do governo não torna os
Em assuntos nacionais e internacionais, com
jornalistas queridos do público americano.
muitos efeitos sobre a segurança nacional,
Estava escrito que os jornalistas seriam
correspondentes e editores são avisados sobre
desacreditados, assim como o governo – e que
toda a filosofia dos dois lados da questão e o que
ficariam ressentidos os mais zelosos
devem ou não revelar. A despeito de todas as
partidários do Presidente derrubado.
pressões, cabe aos jornalistas decidir o que
divulgar das matérias em seu poder. Essa é a
maior responsabilidade dos jornalistas em uma
Jornalismo Interpretativo: Liberdade e
sociedade aberta. No exercício de tal atividade,
Segurança
põem muitas vezes em dúvida o seu próprio
O governo e os meios de comunicação julgamento.
concordam sempre com as proposições gerais de
que nenhuma notícia que viole a segurança
nacional deve ser tornada pública, em tempo de Coletiva com o Presidente
crise. Entretanto, nenhum acordo parece possível
É um costume peculiar americano colocar o
sobre o que constitui a segurança nacional em
Presidente dos Estados Unidos regularmente
qualquer tipo de circunstância. Segue-se que a
frente a frente com questões propostas pelos
responsabilidade de determinar qual a
jornalistas. Até a virada do século a nenhum
informação a ser preservada deve ser exercida
presidente ocorrera promover esses encontros e
pelo governo. Entretanto, quando, e se a
os próprios jornais não demonstravam interesse
imprensa perceber que esse tipo de informação
pelo assunto. Embora Theodore Roosevelt tenha
está sendo guardado em segredo erradamente,
sido o primeiro Presidente a conversar com
por motivos outros que não o da segurança
repórteres (ficava irritado quando publicavam
nacional, é da sua responsabilidade divulgá-lo, matérias das quais não gostava), foi Wilson
no interesse do povo. Eis, em suma, a substância quem iniciou os encontros ocasionais com a
do fato conhecido como relação de adversidade imprensa.
entre governo e imprensa.
A reunião do Presidente com a imprensa, como a
Essa posição conflitante tem sido assunto de
conhecemos atualmente, foi fruto do trabalho do
muitas discussões entre jornalistas e autoridades
Presidente Franklin Roosevelt, um artista na arte
do governo durante anos. Tal relação é típica
de envolver e manipular repórteres e editores,
somente nos Estados Unidos. Há muitos anos,
um político talentoso que gostava de
durante a guerra da Criméia, em meados do
competições com a imprensa.
século XIX, as revelações de William Howard
Russel sobre a maneira trágica como estavam Determinou que as reuniões com a imprensa
sendo comandados os militares ingleses trouxe seriam duas vezes por semana, durante o seu
grande prestígio ao The Times de Londres e mandato. O Presidente Truman manteve esse
causou a queda do governo de Aberdeen. Tais sistema. Embora não houvesse tantas reuniões
fatos podem ser documentados numa como na Presidência anterior, elas eram muito
democracia praticante, onde existe imprensa inteligentes, sob todos os pontos de vista.
livre, competente e com poder de crítica. No governo do Presidente Eisenhower, a última
Prevalece a teoria de que o interesse público é barreira que protegia o Chefe do Executivo foi
melhor servido pela rivalidade constante entre as derrubada. Historicamente, presidentes gozaram
duas partes. Entretanto, se o conflito for sempre do privilégio de ter suas respostas a
excessivo, e se todas as restrições impostas todas as perguntas publicadas em forma de
vierem a ser abandonadas, tanto pelo governo discurso indireto. Se os presidentes permitiam a
reprodução exata de algumas palavras ou talvez
33
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

uma frase era um grande acontecimento. Quando muito qualificados, que trabalham para o
Eisenhower permitiu que câmaras de televisão Secretário-Geral Kurt Waldheim. Na seção de
gravassem as reuniões com a imprensa e os documentação é facilmente encontrado
filmes fossem levados ao ar, após uma revisão, material de valor relevante; na biblioteca, há
tornou-se impossível impedir que os repórteres uma quantidade enorme de informações sobre
usassem reproduções diretas do que fora dito. todos os assuntos pendentes e outra grande
Assim, depois de uma verificação rápida, as quantidade sobre temas já esquecidos.
gravações das reuniões presidenciais com a
Os procedimentos das Nações Unidas, os
imprensa eram divulgadas.
métodos das suas organizações principais e as
interpretações da sua Constituição são
complicados, mas não tão complicados como
A cobertura das Nações Unidas
os de qualquer governo. Correspondentes
Nos anos em que os Estados Unidos dominavam qualificados não tiveram muita dificuldade em
as Nações Unidas, os assuntos a ela trabalhar nas Nações Unidas. O principal
concernentes mereciam atenção dos jornalistas, problema das coberturas é que há muito pouco
embora os meios de comunicação americanos a fazer.
dessem pouca atenção a esses temas, a não ser
quando havia alguma crise. Desde que os
Estados Unidos começaram a ocupar posição Métodos e Fontes
minoritária, perdendo votos ou sendo colocados
Seguem-se as quatro principais fontes de
em xeque-mate pela maioria dos países em
notícias nas Nações Unidas:
desenvolvimento com vínculos com o bloco
soviético, China, ou ambos, as Nações Unidas 1) A abertura das reuniões, discursos e
tornaram-se impopulares na América. Discursos resoluções dos vários componentes da
enérgicos antiamericanos, crises afetando os organização. Principalmente a Assembléia
Estados Árabes ou os nacionalistas negros da Geral e o Conselho Econômico e Social, com
África, e as manobras pretensiosas do bloco suas comissões subsidiárias.
soviético são de pouco interesse para o povo 2) As delegações estrangeiras, geralmente
americano e até para muitos correspondentes reticentes sobre os negócios de seus países,
estrangeiros, exceto quando esses fatos tocam podem fornecer informações oficiosas de
em um ponto nevrálgico de seus países. "background" sobre o que está acontecendo
Ainda assim, pelo simples fato de existirem as "atrás do pano". Algumas não fornecem
Nações Unidas, e porque a sua sede está detalhes; mas as delegações – como os
localizada em Nova York, é matéria à qual advogados inclinam-se a falar dos seus casos
deve dar-se cobertura. Mesmo se o assunto for aos jornais quando julgam tirar proveito da
desinteressante ou se provocar o repúdio publicidade.
americano, continuará importante. 3) A missão americana nas Nações Unidas. Ela
é uma extensão do Departamento de Estado,
mas tem os seus próprios negócios públicos e
Problemas de Cobertura oficiais de informação e uma excelente
Não é difícil fazer cobertura das Nações biblioteca. A equipe de informações é
Unidas. O problema, tal como no competente, mas geralmente não tem muita
Departamento de Estado, é que há muita liberdade de ação, por razões óbvias.
burocracia e pouca ação. A maioria das
4) A própria equipe de informações das
delegações tem seus assessores de imprensa,
Nações Unidas e os recursos do Secretário
poucos podendo ser considerados excelentes.
Geral. Através dos anos as Nações Unidas
As próprias Nações Unidas têm um pequeno
desenvolveram um sistema de arquivar
grupo de assessores de imprensa de carreira,
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

cronologicamente as atas das grandes em Saigon nos anos cruciais, quando os


reuniões; cópias dessas atas podem ser obtidas Estados Unidos vagarosamente se envolviam
em pouco mais de uma hora após a requisição. em uma guerra que não poderiam vencer, e era
Esse pequeno mas qualificado grupo trabalha quase certa sua derrota.
em uma seção própria no segundo andar do
edifício do Secretariado das Nações Unidas, e
pode ser consultado por qualquer O Fluxo de Notícias Estrangeiras
correspondente. Em geral, cresce a cada dia o fluxo de notícias
O Secretário Geral, sendo o responsável por estrangeiras que poderiam ser utilizadas nos
todos os membros das Nações Unidas, não meios de comunicação dos Estados Unidos. A
pode fazer pronunciamentos agressivos que Associated Press e a UPI distribuem cada uma
afetem esses membros, mas ele consegue cerca de 200.000 palavras por semana, com
tornar-se "notícia" em reuniões periódicas com notícias estrangeiras. Se a média dos jornais
a imprensa durante o ano, e nas ocasiões em americanos usasse 10.000 palavras por semana
que discursa na organização. (o jornalismo eletrônico não pode absorver
número próximo desse total), os editores das
Fisicamente, o centro da cobertura de agências de notícias considerariam isso um
imprensa nas Nações Unidas fica no terceiro triunfo. Alguns jornais com agências no
andar do edifício do Secretariado, onde a sala estrangeiro e que vendem notícias
de imprensa, centro de documentação, sala de provavelmente as fornecem de acordo com as
"briefing", e alguns dos escritórios de
necessidades dos seus clientes.
correspondentes estão localizados. Telex,
telefones e outros recursos de comunicação
são também encontrados. Credenciais são A Audiência
fáceis de obter com o preenchimento de
pequeno formulário, cuja exigência principal é Há bons sinais de que um número maior de
uma carta de solicitação das credenciais escrita pessoas nos Estados Unidos segue
pelo editor de um jornal ou seu substituto. regularmente o noticiário internacional. Os
milhões de americanos que viajam pata fora do
país todo ano, mais os milhões de pessoas que
Correspondência Estrangeira vêm visitar o país, contribuem pata estimular a
publicação de matérias internacionais. Na
É quase unânime nas redações americanas o década de 70, o Departamento de Estado
sentimento de que uma matéria vinda de fora identificou aumento no volume de
do país não está normalmente escrita em comunicações, por carta e telefone, com os
termos de fácil entendimento dos leitores e dos cidadãos americanos, sobre vários problemas
espectadores médios. O resultado final é a envolvendo política internacional. Publicações
pequena utilização de notícias estrangeiras na
especializadas em assuntos internacionais
maioria dos jornais americanos e menos ainda
estão-se expandindo vagarosamente; o Foreign
no jornalismo eletrônico, o que causa o
Affairs, por exemplo, com uma circulação de
desânimo em qualquer um que trabalhe nessa
20.000 exemplares em 1950, atingiu cerca de
área e sabe quanto talento, esforço e dinheiro
75.000 nos anos 70. E cursos universitários
são gastos nas cobertura de acontecimentos no
sobre assuntos internacionais se tornaram
estrangeiro. I Normalmente, matérias sobre
bastante populares. Ainda assim, o processo
crises, guerras e pessoas, bastante detalhadas,
educacional é inevitavelmente vagaroso e
avolumam-se. Mas, infelizmente, as matérias
duvida-se que mais de 10% do povo
que colocariam o público americano "em
americano se interessem por assuntos
guarda" não são publicadas em larga escala. É internacionais, provavelmente esse número cai
um fato, também, que pouco menos de uma para 5% nos períodos em que não há crise.
dúzia de correspondentes americanos estava
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Estudos têm revelado que um número bastante uma equipe competente cobrindo os maiores
reduzido de pessoas importantes, as que centros de comércio no mundo.
decidem em todos os níveis do governo, não se
interessa por esses assuntos. Mas isso não
torna mais fácil o trabalho dos editores e O Espaço para as Notícias Internacionais
correspondentes estrangeiros numa época em É difícil precisar o volume de notícias
que os Estados Unidos passam por um internacionais usado, porque isso varia em
envolvimento global maior do que em função de um assunto determinado, das
qualquer outra época da sua história. empresas de notícias envolvidas e da audiência
O desenvolvimento mais promissor na potencial do assunto. Num Período em que os
disseminação de notícias internacionais nos Estados Unidos estão em paz com o mundo, é
Estados Unidos é o rápido progresso dos óbvio haver pouco interesse público e pouco
"syndicates"3 de jornalistas. O New York tempo e espaço dedicados aos assuntos
Times, com o maior e mais eficiente serviço internacionais. Em tempos de guerra, a
internacional, tem mais de 300 jornais como situação muda rapidamente; em qualquer crise
seus clientes. O Los Angeles Times, em poucos prolongada, o espaço e o tempo dedicados às
anos, obteve mais de 200 jornais, e o notícias internacionais têm uma correlação
Washington Post (somente em notícias específica com os anseios do público.
internacionais) se tem expandido considerável- Mesmo fora de crises, o New York Times
mente. O Baltimore Sun, depois de se recusar publica entre 16 a 18 colunas por dia de
a sindicalizar-se por vários anos, agora oferece notícias internacionais. Nas mesmas
suas notícias internacionais a outros jornais e circunstâncias, o Los Angeles Times publica
conquistou grande e respeitável audiência. uma média de 10 a 11 colunas; o Washington
Algumas das mais antigas agências Post, 9 ou 10; o Baltimore Sun, 8 ou 9, com
internacionais, a Christian Science Monitor um número entre 4 a 6 colunas diariamente
entre elas, estão sendo revitalizadas. E jornais em, talvez, 30 outros jornais importantes com
como o Minneapolis Tribune, St. Louis Post- uma circulação de cerca de 10 milhões de
Dispatch, Miami Herald e outros enviam exemplares. Somando-se a isso, certamente,
especialistas para reportarem determinados estão as seções internacionais nas revistas
assuntos do noticiário internacional. Mas o semanais e os comentários e apresentações,
famoso Chicago Daily News desativou sua algumas vezes importantes, nos noticiários
equipe internacional. noturnos da televisão.
Nas áreas em que há jornais pobres com uma O Wall Street Journal publica uma seção
cobertura mínima dos assuntos nacionais e internacional de um dos seus excelentes
internacionais, as revistas de notícias vendem correspondentes, a intervalos regulares, com
grande parte dos seus 7 milhões de exemplares um impacto considerável nos seus mais de 1
semanalmente com seções internacionais milhão de leitores. E quando o New Yorker
detalhadas. Assim como as cadeias de Magazine publica um artigo internacional de
televisão, que ainda tiram a maior parte das um elemento do seu pequeno mas brilhante
suas matérias das agências de notícias, elas grupo de redatores de assuntos internacionais,
desenvolvem uma equipe sofisticada de alcança significativa penetração entre o
correspondentes estrangeiros para trabalharem público leitor. O mesmo vale para os raros
principalmente com seus operadores. documentários na televisão acerca de assuntos
Empresas jornalísticas especializadas em internacionais.
negócios e comércio, como as publicações da
Dow Jones, McGraw-Hill e Fairchild, têm Isso não justifica, e está longe de ser
desempenho satisfatório, a fraqueza da
3
imprensa americana na publicação diária e
N.doE. Cooperativas.

36
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

semanal de notícias internacionais, ou a pouca atingir esse posto através de promoções nas
quantidade desse tipo de material nas agências de notícias e em jornais que têm
emissoras, quando não há guerra. Como foi equipes no estrangeiro, e muitas vezes são
mostrado, o modelo, como um todo, é confuso. convidados para trabalhar como
Poderia ser muito melhor. Mas já foi muito correspondentes internacionais em revistas ou
pior. jornais que mantêm uma equipe no
estrangeiro.
Enquanto a maioria dos correspondentes mais
O Trabalho dos Correspondentes
velhos pode contar com um salário decente, há
Internacionais
jovens que querem trabalhar ganhando menos
Os correspondentes internacionais que do que ganhariam em suas cidades.
manipulam as notícias para as empresas
Entretanto, somente em lugares conturbados e
jornalísticas americanas são jornalistas
onde existem riscos, particularmente áreas de
maduros, com excelente desempenho
guerra, é que se dá preferência aos jovens. Na
profissional e sólida instrução. Não é difícil
encontrar entre eles homens e mulheres com primeira guerra documentada pela televisão, a
títulos universitários. Alguns são "Nieman Guerra do Vietnã, os jovens predominaram na
Fellows" em Harvard, e existem pós- cobertura das batalhas. Isso também ocorreu
graduados. no Oriente Médio, especialmente na longa e
brutal guerra civil libanesa.
Eles dirigem vários assuntos de suas "bases" e
são designados para outros locais a cada três
anos. Se tiverem que assumir riscos, assim o Como Trabalham os Correspondentes
fazem, não por diversão, mas porque isso faz A maioria dos correspondentes internacionais
parte do seu trabalho. Em zonas de combate, a acredita que sua primeira obrigação é contar a
primeira coisa que aprendem a fazer é manter história do povo do país onde trabalham, e não
as cabeças abaixadas. Um correspondente
somente os atos oficiais do governo e os
morto pode ser um herói, mas as empresas
comunicados de seu Ministério à imprensa. O
para as quais trabalham os preferem vivos. E
trabalho é difícil e exigente, requer longas, e
os que esperam subir às alturas ao atacar
algumas vezes irregulares horas de trabalho
governos ditatoriais, bem cedo descobrem que
durante o dia e a noite, e pode perturbar a vida
ser demitido por provocações não é o melhor
em família. Não admira que o índice de
caminho, do sucesso.
divórcio entre os correspondentes
internacionais seja elevado.
Como Ser Correspondente Quando os correspondentes são credenciados a
cobrir um país inteiro, naturalmente dependem
A forma de alguém tornar-se correspondente
das facilidades locais de comunicação de
internacional é ainda incerta, a despeito de
massa para se manterem informados.
tudo que se diga sobre modernos métodos
pessoais. Alguns são escolhidos para o Bem cedo descobrem que precisam fazer mais
trabalho e treinados rigorosamente em cursos do que ler os jornais, ouvir o rádio, assistir à
especiais de grandes universidades e estudam televisão, verificar o que está sendo enviado
várias horas por dia um idioma estrangeiro. por telegramas e manter relações cordiais com
Muitos estão no lugar e na hora certos e tiram a Embaixada americana e com os jornalistas
proveito dessa oportunidade. Outros do país. Precisam obter e desenvolver suas
convencem os editores a testá-los, com próprias fontes de informação, suas próprias
resultados não muito bons (embora, às vezes, idéias para matérias e reportagens, seus
surjam agradáveis surpresas). O restante dos próprios métodos de trabalho – e isso leva
correspondentes internacionais consegue tempo e custa muito dinheiro. Sem contar os
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

custos de transmissão, a média gasta pelas transmitir, contratar circuitos especiais para
empresas jornalísticas com um único essas transmissões. Um serviço completo de
correspondente, excluindo os serviços de telex, por exemplo, poderia manter circuitos
telex;, é de 75.000 a 100.000 dólares por ano – abertos 24 horas por dia, para comunicação
quantia ainda maior em lugares como Moscou nos dois sentidos através do Atlântico. Em
e Pequim. tais. circunstâncias, a notícia é transmitida
tanto por cima quanto por baixo da superfície
Em países totalitários e em muitos países em
dos oceanos, para lugares em que não se pode
desenvolvimento, os correspondentes ficam
ter uma ligação fio a fio e para a redação de
"amarrados" às fontes oficiais. Em um número
cada vez menor de países democráticos há uma grande empresa jornalística. As antigas
liberdade de ação, se os correspondentes mensagens codificadas somente têm função
souberem o que fazer e como conseguir. Não é agora entre as seções de uma agência.
comum os editores guiarem os corresponden- Para um serviço internacional como o do New
tes pela mão, ou tentarem isso, a despeito da York Times, a transmissão de certos tipos de
disponibilidade de milagres da moderna dados a uma velocidade de 1.000 a 1.500
comunicação. O serviço de um correspondente palavras por minuto não é incomum. Os
internacional é ainda uma operação altamente modernos serviços de telex trabalham a essa
individual e assim deve permanecer. velocidade. Além do mais, o sistema de ditar
pelo telefone para gravadores, o que possibilita
rápida transcrição do texto, vem ganhando a
Propaganda
preferência em muitos lugares como
É falso que o americano típico no exterior seja concorrente para o telex. Para a televisão, o
presa fácil da propaganda internacional. Os sistema de transmissão por satélites tem sido
políticos americanos que participam de de grande vantagem; com o aumento do
conferências internacionais estão condenados número de satélites e dos sofisticados cabos de
por antecipação. Quanto aos correspondentes múltiplos canais, muitos outros meios estão
internacionais, até seus próprios editores em desenvolvimento. Satélites transatlânticos
algumas vezes recusam-se a acreditar quando poderão, em breve, prover 42.000 canais para
sua reportagem coincide com as declarações comunicação simultânea, ou 24 canais "full-
ou os anúncios de uma agência de propaganda. time" para televisão em cores. E a adaptação
A dificuldade fundamental é definir da tecnologia e da transmissão do "laser" pela
propaganda e separá-la da atividade luz ao longo de fibras de vidro trará grandes
jornalística denominada "notícia". A facilidades aos processos de transmissão.
propaganda não precisa necessariamente A quantidade de notícias internacionais
basear-se em uma informação falsa ou leviana; transmitida é estabelecida pela União
a "grande mentira", de fato, foi certamente Internacional de Telecomunicações,
menos eficiente no passado do que a verdade – principalmente durante as reuniões anuais em
quando acontecia a verdade servir aos fins da Genebra dos representantes dos países
propaganda. De certo, poucos propagandistas membros. É norma geral fixar essa cota pelo
são tolos o suficiente para "rotular" os seus número de palavras transmitidas, ao invés de
mais indeléveis ideais, mas nenhum estabelecer um período de tempo determinado.
propagandista consegue enganar por muito
Com o aumento das despesas, não é de
tempo um correspondente experimentado.
estranhar que o modesto carteiro tenha
reassumido o seu papel. Os aviões a jato, que
Transmissão da Informação ligam Nova York à Europa ou Los Angeles a
Tóquio em poucas horas, tornam o correio
É um hábito, normalmente _praticado pelas
aéreo bastante prático e útil na transmissão de
empresas com grandes volumes de notícias a

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

notícias antes enviadas por cabos telefônicos assim o quisessem. Seguiu-se certa liberdade.
ou por sistemas de radiocomunicação. É Os correspondentes, cautelosamente testando o
necessário colocar-se a data e o local nos regime, descobriram que podiam transmitir
envelopes (por exemplo, Londres, 12 de algumas críticas veladas e até mesmo
março), assim como o dia da publicação pode especular sobre o rumo dos acontecimentos
ser inserido de acordo com as necessidades, atrás da cortina de ferro. Mas também
mas tal procedimento é questionável, não se descobriram que a União Soviética deportava
sabendo ainda por quanto tempo poderá ser mais rapidamente do que nunca
aceito. O transporte por aviões supersônicos correspondentes contrários às suas
(SST) pode ser uma opção mais em conta para determinações.
os jornais e revistas de pequeno porte, ao invés Também na China os correspondentes
de se utilizarem dos satélites, dos cabos concluíram não haver censura formal, no
sofisticados e do popular mas ainda menos sentido exato da palavra, mas também
confiável sistema de rádio para teleimpressão. perceberam que estavam sendo
constantemente observados, e suas fontes de
informação eram restritas e limitadas, de
Censura
acordo com as normas do governo.
Outro impedimento ao fluxo das notícias
através dos países, ainda maior que os custos Abriu-se uma exceção aos correspondentes
das transmissões, é a censura, sempre que acompanharam os Presidentes Nixon e
Ford quando de suas visitas ao país. Em
perniciosa. De um jeito ou de outro, os
conseqüência, Max Frankel, do New York
censores existem em todo o mundo e o seu
Times, ganhou o primeiro Prêmio Pulitzer com
número aumenta gradualmente, até mesmo no
sua cobertura sobre a China.
"berço" da liberdade de expressão, a Europa
Ocidental A cruel censura totalitária do início O censor que o correspondente nunca vê e a
do século, quando os despachos eram retidos voz fanhosa que corta uma ligação telefônica
ou mutilados em parte ou no seu conteúdo são as duas figuras mais difíceis de serem
total, está voltando agora. Particularmente no vencidas. São comumente censores de menor
mundo comunista, o sistema deixa os expressão, cumprindo à risca instruções
correspondentes numa posição em que se superiores. Tudo o que os correspondentes
tornam os seus próprios censores, pelo medo podem fazer é reclamar e apelar pata as
de serem deportados. autoridades de sua própria Embaixada ou às
autoridades do país em que estejam
A União Soviética aboliu formalmente a
credenciados. Normalmente não ganham uma
censura em 1961, e permitiu que
batalha desse tipo, mas devem tentar e jamais
correspondentes internacionais inaugurassem
desistir da intenção.
um sistema de teletipo com os seus jornais, se

Referência bibliográfica
HOHENBERG, John. “O Jornalista Profissional: guia às práticas e aos princípios dos
meios de comunicação de massa”, Rio de Janeiro, Interamericana, 1981. págs.362-
378

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto VI
Meio Século de Memórias
(História do Fotojornalismo Internacional)
John Morris, 1994

Das grandes revistas distribuídas por jornais, Nós, fotojornalistas – estou falando daqueles
testemunhamos recentemente a extinção da que trabalham com fotografias estáticas –
Sunday Times Magazine, de Londres. Os proporcionamos uma ponte entre o filme e a
jornalistas da minha geração conviveram com mídia impressa. Há quatro anos, aqui neste
os dias difíceis da Grande Depressão — a palco, Tony Hall, da SSC, um jornalista de
depressão mundial ocorrida após a Primeira televisão, disse: "Nada fica na memória
Guerra – e com a devastação e o sofrimento daqueles que simplesmente observam." A
das guerras que se seguiram. O fotojornalismo importância do fotojornalismo é que ele induz
moderno estava, ainda, dando os primeiros o público a ler e a reter a mensagem
passos quando essas guerras começaram. A transmitida pelas palavras. Minha primeira
fotografia era utilizada como uma arma. Do revista foi a Life, na época uma revista
lado dos Nazistas, as fotos eram parte do semanal. Ela era tida como a maior força
aparelho de propaganda. Do nosso lado, os editorial da América. Eu comecei na Life em
fotógrafos que eu conhecia, e com os quais 1938, como contínuo, recém-saído da
trabalhava, acreditavam plenamente na causa Universidade de Chicago. A maior parte da
dos aliados. Suas fotos... talvez vocês se equipe, na época, tinha menos de 30 anos e
lembrem da foto do soldado espanhol coragem de tentar tudo. Eu me lembro de ter
morrendo, de Robert Capa, ou da foto de uma pedido ao Arcebispo de Canterbury que
mãe legalista espanhola, de David Simor. subisse na torre do Palácio de Atlanta, para
Fotos assim foram as precursoras de centenas posar para a capa da Life. Eu pedi a Alfred
de imagens inspiradoras, capturadas por Hitchcock, o diretor de cinema, que posasse
dezenas de fotógrafos dedicados, que como garçom em Santa Monica. Nós pedimos
alertaram os Estados Unidos sobre os perigos a milhares de trabalhadores da aviação que
do fascismo e, depois, documentaram a abrissem mão da sua hora de almoço para
marcha dos aliados para a vitória. posar ao lado do bombardeiro que estavam
construindo. Nós insistíamos em levar nossas
Havia um editor na época, que tinha a coragem
máquinas fotográficas a todos os lugares aonde
para realizar suas convicções. Henry Lewis,
íamos, ao laboratório, ao boudoir; às reuniões
das revistas Time e Life, arriscou milhões
fechadas dos homens de negócios e aos
pelos ideais de uma revista. Não apenas uma
encontros entre grandes líderes e generais. Os
vez, mas várias vezes. Quando Lewis ficou
jornais ficavam para trás, porque seus
mais velho, as coisas mudaram. Quando a
fotógrafos continuavam carregando câmeras
Time Inc., em 1964, decidiu vender a revista
de imprensa, das grandes, com flashes. Os
mensal Architectural Form, aquilo representou
um retrato do futuro. A Form era uma pequena editores desses jornais encaravam fotos como
revista, bastante séria, que Lewis publicava há meros artifícios para criar espaços, quebrar um
muito tempo como inspiração para os pouco aquela salada de textos. Já os tablóides
arquitetos, só que ela deixou de dar lucro. exageravam na direção oposta, publicando
Passou a ser considerada dispensável. Hoje, fotos grandes, chocantes e sensuais, mas
ignorando o conteúdo sério das notícias.
nos perguntamos se a própria mídia impressa
está para desaparecer ralo abaixo, se vai entrar A grande diferença entre a Life e as outras
mesmo pelo cano. Será que leitores têm publicações era que, nela as fotos vinham em
mesmo que ser reduzidos a telespectadores? primeiro lugar. As palavras eram escritas para

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

serem encaixadas entre a disposição das fotos. Alguns minutos depois, eles retornaram:"f'.ó
Se não houvesse fotos, não havia matéria. Nós fotos estão ótimas e os filmes estão secando."
nos inspiramos nas revistas de fotos anteriores Mas traga só os negativos, e rápido, eu disse.
à Guerra de Weimar: na Alemanha. A Life
Alguns minutos depois, o rapaz que havia
reuniu uma equipe de fotógrafos, alguns
revelado o filme entrou em meu escritório
generalistas, outros especialistas, que jamais
chorando, quase histérico: "Os filmes estão
encontrou rivais.
destruídos, estragaram todos." Ele explicou
Em 1943, a Life me mandou para Londres, que os havia colocado em um armário de aço
com nove meses de antecedência, conforme com um aquecedor. para que secassem e, por
ficou constatado depois, para preparar a causa da minha pressa, fechou as portas. A
cobertura do Dia D, a invasão da Normandia. emulsão dos filmes simplesmente derreteu. Eu
A operação militar mais complexa da história, desci correndo com ele e examinei filme por
comandada pelo general Eisenhower. Os filme. Por fim, encontrei 11 fotos que
aliados exigiram que tirássemos nossas fotos poderiam ser impressas, embora estivessem
junto com as três grandes agências muito granuladas. Elas foram salvas, mas por
distribuidoras de fotos: Associated Press, um triz. Essa foi a pior noite da minha carreira.
United Press e a International News Service.
Eu vou poupá-los de mais histórias de horror
O Dia D, o dia mais longo, como ficou como essa. Ao invés disso, gostaria de falar
conhecido, foi uma terça-feira, 6 de junho de 1 sobre aonde chegou o fotojornalismo hoje.
944. Apesar de todos os nossos preparativos, Acho que temos fotógrafos tão talentosos
nós ainda não tínhamos boas fotos no final da quanto os antigos, ou até mais, trabalhando
tarde de quarta-feira. O tempo estava terrível, pelo mundo inteiro, com maiores
o que inviabilizava as fotografias aéreas. As concentrações na França e nos Estados
esperanças da Ufe de obter c/osestirados da Unidos. Eles possuem recursos que causariam
invasão por terra estavam depositadas em inveja aos pioneiros do passado, tal como Eric
Robert Capa, o famoso fotógrafo húngaro, que Solomon, que tinha que tirar suas fotos com
já havia feito a cobertura das guerras da pequenas placas de vidro, segurando com as
Espanha, China, África do Norte e Itália. No mãos as exposições que duravam apenas um
começo da noite de quarta-feira, recebi um ou dois segundos. Os fotógrafos de hoje têm
telefonema de um dos portos do canal: "O microcâmeras maravilhosas, lentes com zoom
filme de Capa está indo para Londres de de alta velocidade e filmes velozes. Suas fotos
motocicleta." Nosso prazo final para conseguir são transmitidas quase que instantaneamente,
mandar fotos originais para Nova York, para a em cores, para o mundo inteiro. Os fotógrafos
edição da Life daquela semana, era na quinta de hoje, os mensageiros, possuem
de manhã, quando o malote sairia de Governor equipamentos fantásticos para contar suas
Square, em Londres. Além disso, tínhamos histórias. Mas qual é a mensagem deles? Será
que fazer cópias para as três agências, o mais que a estão transmitindo?
rápido possível, para distribuição como
Sim e não. O paradoxo da revolução
radiofotos para um mundo ansioso por
tecnológica é que as grandes revistas de fotos
detalhes da grande ofensiva.
estão extintas. O semanário americano Ufe
Finalmente o filme chegou, acompanhado de acabou em 1972, seguido por Look, e Saturday
um recado do Capa, explicando que todo o Evening Post, que só ocasionalmente levou o
material deveria estar em quatro rolos de filme foto jornalismo a sério. Na Inglaterra, não
de 35 milímetros. Eu disse ao pessoal do surgiu nenhuma outra revista de fotos
laboratório, que ficava debaixo do meu independente desde a Picture Post. Além
escritório, que trabalhasse o mais depressa disso, acabamos de presenciar o fim da Sunday
possível para me liberar as fotos para a edição. Times Magazine, do senhor Murdoch.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Na França, a Paris Match, seguindo a fórmula como disse Pamela, o tempo de atenção do
da revista americana People, se concentra em público telespectador é mais limitado ainda.
celebridades e em algumas matérias mais Além disso, a televisão faz muito pouco para
recentes e óbvias. Na Alemanha, temos a explicar as causas e as ligações subjacentes
Stern, que é uma colcha de retalhos com coisas entre os fatos. Isso cria um desafio muito
boas e ruins, mas sem qualquer convicção. Na especial para o fotojornalismo, e por foto
Itália, os suplementos de jornais possuem jornalismo estou me referindo agora a fotos e
muitas fotos, só que a grande maioria não é textos trabalhando juntos em jornais, revistas e
produzida naquele país. Eu temo que o mesmo livros, para que o leitor possa determinar seu
possa ser dito a respeito da revista Manchete, próprio ritmo de absorção da informação. O
no Brasil. O que aconteceu? A explicação de aspecto que mais me dá esperanças para o foto
sempre é a televisão. jornalismo mundial de hoje é a escolha, cada
A telinha redirecionou o grande público e os vez mais cuidadosa, das fotos que
anunciantes de massa. A televisão é mais acompanham textos em revistas generalistas
semanais, como a Time e a Newsweek mensais
rápida, mais barulhenta e não requer muito
como a National Geographic e Geo, e em
esforço para ser absorvida.
jornais como o New York Times, o britânico
Infelizmente, na minha opinião, os meios de Independent, o francês Libération, além de
comunicação impressos tentaram concorrer vários jornais regionais dos Estados Unidos,
com a televisão, procurando imitá-la. Temos, liderados pelo Detroit Free Press.
então, o USA Today, que embala as notícias
em espaços curtos e coloridos, equivalentes às Eu gostaria de voltar um pouco ao cenário da
emissões da televisão e tão superficiais quanto editoração, logo após a Segunda Guerra
elas. Mundial. Foi uma época de oportunismo para
nós que sobrevivemos. Pensávamos que nunca
Infelizmente, o USA Today é o jornal mais mais teríamos que cobrir uma guerra
imitado nos Estados Unidos. Tenho que novamente. Mas não foi bem assim, nossas
admitir que, pelo menos na previsão do tempo, previsões não levaram em conta o mundo que
eles se saíram bem. Seria mais sensato emergia do colonialismo. Nós não poderíamos
separarmos aquilo que a televisão faz melhor imaginar que as paixões religiosas, étnicas e de
daquilo que a mídia impressa faz melhor. Com classes, resultariam na morte de centenas de
seu incrível imediatismo, a televisão concentra milhares de pessoas nas divisões da Índia ou
a atenção do mundo em um único evento, da Palestina, e em revoluções na China,
como, por exemplo, a abertura dos Jogos Indonésia e África. Nós também nunca
Olímpicos, o bombardeio de Bagdá, ou um imaginamos que ocorreria uma guerra
protesto no Kremlin. Ela realmente consegue chamada de Guerra Fria.
despertar compaixão pelos africanos vítimas
Numa espécie de irmandade, com o objetivo
da fome, ou pelos prisioneiros que estão
comercial de dividir as despesas, fotógrafos de
sofrendo.
meia dúzia de nacionalidades se reuniram em
A acusação mais séria contra a influência da 1947 para fundar a Magnum Photos, com
televisão nos meios de comunicação impressos escritórios em Nova York e Paris. Eu fui seu
é que, com o auxílio da publicidade, o primeiro cliente, assinando uma série chamada
jornalismo foi transformado em entreteni- “People are People The World Over” (Gente é
mento. O mundo inteiro é um grande show, Gente no Mundo Inteiro), que fazia uma
não deixando muito clara a distinção entre a comparação das vidas dos agricultores em uma
guerra das estrelas de Hollywood e as guerras série de países. Foi um ato de humanidade.
reais como as do Golfo e da Bósnia. O tempo Publicada no jornal feminino Home Journal
que a televisão dedica a cada assunto é do qual eu era editor de arte na época,
limitado, a televisão logo perde o interesse. E, despertou muito pouca atenção, a não ser de

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

um homem, o fotógrafo Edward Steichen, nalistas estavam entre os correspondentes que


então diretor de fotografia do Museu de Arte morreram. Entre eles, estava o Larry Burrows,
Moderna. A série o inspirou a buscar fundos da Life, que trabalhava em Londres, em uma
para uma grande exposição que ele intitulou sala escura, na noite do Dia D, mas não foi.
“The Family of Man” (A Família do Homem). como eu disse antes, o rapaz que estragou o
A família de Steichen foi vista por milhões de filme do Capa. Eu era totalmente contra a
pessoas em muitos países e, no início deste Guerra do Vietnã, da mesma maneira que o era
ano, em Toulouse, ela deu início à sua segunda contra a histeria da Guerra Fria e também
turnê mundial. contra a recente Guerra do Golfo. Fico
Infelizmente, as guerras coloniais nos satisfeito de ver que, mesmo um especialista
atingiram. Em 1954, Robert Capa, um dos em Guerra Fria, como John le Carré, também
fundadores da Magnum, foi morto quando já julga a Guerra Fria desnecessária.
cobria a guerra francesa na Indochina, uma Gostaria de ver a comunidade do fotojorna-
guerra na qual ele não acreditava. Em 1956, lismo desviar sua atenção das celebridades, e
outro fundador da Magnum, David Seymour, da invasão de sua privacidade, para assuntos
conhecido como Chim, foi morto por uma que realmente interessam, como o abismo
metralhadora egípcia em Suez. A Magnum, no entre os ricos e os pobres, entre os
entanto, resistiu e inspirou todo um grupo de muçulmanos e os cristãos, entre os brancos e
outras agências independentes: Gama, Sigma, os pretos, entre o homem e a máquina, entre o
a Sipa na França, Bilderberg na Alemanha, Norte e o Sul. E também para a preservação do
Network na Inglaterra, e muitas outras cujos nosso planeta. Eu diria que as mensagens
fotógrafos, substituindo as antigas equipes das importantes não estão sendo bem entendidas,
revistas de fotos, agora cobrem os eventos no porque a mídia foi corrompida pela
mundo inteiro. comercialização. O mercado editorial é uma
indústria, mas o jornalismo é uma profissão.
O Vietnã foi uma guerra terrível para o foto-
Não nos esqueçamos dessa distinção. Será que
jornalismo, uma guerra que produziu apenas
estamos vendendo jornais ou nos vendendo?
perdedores. Pelo menos uma dúzia de fotojor-

Referência bibliográfica:
MORRIS, John. “Meio Século de Memórias” in 4º Encontro Internacional de
Jornalismo: conferências e debates (edição: Adhemar Altieri), São Paulo: IBM, 1994.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto VII
Os Atacadistas de Notícias
(Agências Internacionais de Notícias)
John Hohenberg, 1981

As Agências Estrangeiras de Notícias China, ou ANNC), o informativo oficial para a


República Popular da China. Com seus jornais
A agência britânica Reuters é a principal rival
nacionais e equipamento eletrônico sob
dos dois gigantes americanos. Embora em
número menor, os clientes da Reuters nos controle dos governos, as duas agências
Estados Unidos incluem alguns dos maiores comunistas mantêm o monopólio nos seus
jornais norte-americanos. Os ingleses estão respectivos países. Enquanto as "3 grandes" do
aperfeiçoando os seus serviços para atender às Ocidente independem do Governo, financiadas
exigências da América do Norte. A Reuters em grande parte pela mídia à qual servem, as
agências comunistas devotam-se ao serviço
tem um serviço especial de informe econômico
dos seus governantes. Isto naturalmente
para o comércio, similar ao Dow Jones da AP
significa que a Tass e a Hsinhua devem ser
e ao UNI COM da UPI.
consideradas órgãos de propaganda, além de
Geralmente a Reuters compete no mesmo agências noticiosas, pois freqüentemente
plano com as agências americanas em certos alteram as notícias a fim de adaptá-las aos
tipos de notícias estrangeiras importantes, e objetivos nacionais, e chegam a omitir
tem no Reino Unido fontes de informação que informações quando conveniente. Sem compu-
geralmente dão preferência ao seu serviço. tadores, não se preocupam com outra coisa que
Não se pode dizer, portanto, que os Estados não seja agradar ao governo a que servem.
Unidos ocupam posição dominante no que se
Contudo, apesar dessas restrições e das
refere à origem e transmissão de notícias fora
diferenças óbvias, no que diz respeito à teoria
das suas fronteiras.
da imprensa livre em vigor há dois séculos no
Além da Reuters existe o serviço informativo Ocidente, as agências comunistas são as fontes
francês, Agence France Presse, importante principais das notícias sobre a União Soviética
fator competitivo no noticiário mundial. e a China. Nenhum correspondente, em
Naturalmente, é mais favorecida na França e Moscou ou em Pequim, pode ignorá-las; além
nos países de língua francesa. disso, nenhum correspondente que opere na
A France Presse tem um serviço em língua periferia da grande extensão do mundo
inglesa, com poucos clientes. A agência comunista, a Eurásia, pode realizar o seu
francesa e sua predecessora, a Havas, sempre trabalho sem dar atenção à Tass e à Hsinhua.
foram mais populares na América Latina do A Tass, por exemplo, foi, como não podia
que as agências de língua inglesa. Essa deixar de ser, a primeira a noticiar os grandes
popularidade existe ainda. Mas não atinge o feitos da União Soviética na corrida para a
mesmo nível das "3 grandes" agências Lua; da mesma forma, a Hsinhua foi a fonte
mundiais de notícias – AP, UPI e Reuters. principal das muitas notícias sobre os tumultos
havidos na China nos últimos dias de Mao
Tsé-tung. E ambas, através de rigorosa seleção
Tass e Hsinhua diária das notícias, forneceram ao mundo não-
comunista detalhes da luta pelo poder, entre
Nos países comunistas dois são os órgãos de Moscou e Pequim, e a aproximação entre o
informação, ambos pertencentes aos Governo da China e o Governo norte-
respectivos governos. A Tass, serviço oficial americano.
de informação da União Soviética, e a sua
rival, a Hsinhua (Agência de Notícias da Nova
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Tanto na União Soviética como na China já após a primeira visita de Nixon à China, o
está abolida a primitiva censura militar, em Governo chinês passou a admitir os
vista da eficiência do controle governamental correspondentes americanos por períodos
sobre os meios de comunicação. limitados. Mas não se pode duvidar que as
Teoricamente, todos os correspondentes agências de notícias americanas e chinesas têm
estrangeiros têm liberdade para enviar o que assumido maiores responsabilidades, incluindo
bem entenderem; na prática, contudo, sabem a troca de serviços.
que, se insistirem em ofender os seus
Entretanto, com exceção dos grandes
hospedeiros, serão expulsos imediatamente e,
acontecimentos, como a visita de um
em casos raros, presos como espiões. Portanto, Presidente a Moscou ou a Pequim, raramente
na realidade o correspondente deve exercer as notícias fornecidas pelas agências
uma autocensura, o que é uma tortura refinada ocidentais e japonesas são divulgadas nos
para o jornalista. Do ponto de vista dos centros da União Soviética ou na China. O
regimes comunistas, essa situação é mesmo se dá com o material das empresas
satisfatória. Alegam, com tranqüila inocência,
jornalísticas. Geralmente as notícias do mundo
que não praticam a censura; porém, ao mesmo
não-comunista são transmitidas de Moscou ou
tempo mantêm os correspondentes sob
de Pequim apenas quando perfilham os
controle absoluto.
objetivos desses governos. E os
Apesar dos períodos de hostilidade do Oriente correspondentes ocidentais e japoneses que
e do Ocidente, e das lutas internas em ambos trabalham nessas capitais precisam estar
os lados, os acordos mútuos entre as principais sempre muito atentos ao que dizem e ao que
agências de notícias têm sido mantidos. A escrevem.
Tass, por exemplo, compartilha seu material Em vista dos obstáculos impostos às agências
com as agências ocidentais, em base de e aos correspondentes estrangeiros em geral, é
reciprocidade, há anos, sem levar em conta o
quase um milagre que as nações do mundo
que Washington e Moscou dizem um do outro.
sejam pelo menos parcialmente informadas
E a Hsinhua tem mantido acordos similares
sobre os acontecimentos mundiais. Como as
com as agências que obtiveram permissão para
agências de notícias arcam com grande parte
enviar correspondentes a Pequim, e mais
desse peso, merecem bem mais elogios do que
recentemente, com a AP e a UPI. Porém,
as críticas que geralmente recebem.
durante períodos de intensa agitação política,
as coisas mudam na China. Foi num desses Mas assim são os editores de jornais. Poucos
períodos, no auge da Revolução Cultural, que consideram satisfatório um despacho não
um correspondente da Reuters, Anthony Grey, dirigido por eles próprios.
foi mantido em cárcere domiciliar, num quarto
em Pequim, por dois anos. E um
correspondente japonês permaneceu na prisão As Agências Nacionais
por tempo ainda mais longo. O sistema de comunicações das agências
Quanto ao relacionamento entre Pequim e os expandiu-se gradualmente no correr dos anos,
americanos, ocorreu uma mudança depois que por meio da ligação de uma cadeia de serviços
o Primeiro-Ministro Chou En-lai, ao receber nacionais aos cabos e circuitos de rádio do
um time americano de pingue-pongue, em mundo todo. Isso se faz mediante vários tipos
Pequim, em 1971, voltou-se para John de acordos. Algumas agências nacionais são,
Roderick, da AP, antigo correspondente na na realidade, extensões de um ou mais serviços
China, e disse "Senhor Roderick, os senhores globais, em determinadas áreas. Assim, a
acabam de abrir uma porta". A partir desse Canadian Press é a principal agência do
momento, durante as negociações para o Canadá, e a Australian Associated Press
reconhecimento mútuo dos dois governos, principal da Austrália, ambas parte da

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Associated Press. Na Grã-Bretanha, a British Os Enviados Especiais e as Empresas


United Press é uma extensão da United Press
A alta no custo da manutenção de
International. Na Índia, a Press Trust of India
correspondentes no estrangeiro, em
tem um acordo com a Reuters. E, no Japão, a
Washington, e até mesmo nas capitais dos
Kyodo tem acordos bilaterais com as "3
Estados, provocou uma redução no número de
grandes" do Ocidente. Quase todos os grandes
"enviados especiais" – como são chamados os
países, e alguns dos pequenos, possuem
correspondentes de jornais que trabalham
serviços que operam nessa base. E onde não há
sempre distante do escritório central. É uma
agências nacionais, os governos geralmente
grande perda para a profissão. Um enviado
compram diretamente das agências o noticiário especial talentoso pode realizar melhor
por eles selecionado. Isto ocorre especialmente trabalho para o jornal, em várias missões, do
na África. que uma agência abastecendo milhares de
Naturalmente a lista das agências nacionais é jornais.
bastante extensa, e suas características variam
As agências enfrentam séria competição dos
de acordo com o grau de supervisão
jornais que podem manter uma grande e
governamental, oficial ou extra-oficial, e com
competente equipe de repórteres no campo
o tipo de treinamento acessível ao seu pessoal.
nacional e internacional.
Geralmente a agência nacional não pode ser
melhor do que a mídia a que serve – jornais, O New York Times, operando uma das mais
rádios e televisões, ou todos eles, – porque antigas empresas, presta serviço a mais de 200
depende' deles para as notícias nacionais, que jornais nos Estados Unidos e no exterior. O
trocam pelas estrangeiras. Los Angeles Times, uma das mais novas
empresas jornalísticas, conseguiu, em poucos
anos, ocupar lugar de destaque graças, em
Agências Locais parte, ao vago acordo de sociedade que
Nos centros mais importantes dos Estados mantém com o serviço do Washington Post.
Unidos as agências locais existem desde que o Quando se trata de notícias importantes, seja
telégrafo entrou em uso. Mesmo antes de no município vizinho, seja em Washington ou
1844, a coleta e distribuição de notícias era no exterior, o jornalismo americano dá ainda
feita de modo cooperativo por meio de uma cobertura completa tentando, na maioria
das vezes, enviar imediatamente correspon-
mensageiros a cavalo, diligências e até navios.
dentes ao local. Mas o princípio de cobertura
Algumas das agências locais começaram a
tipo "corpo de bombeiros" da imprensa já não
operar independentes das grandes agências.
é tão completo. Os enviados especiais
Outras eram filiais e outras ainda acabaram
precipitam-se literalmente dos aviões ao local
por ser controladas pelas agências maiores.
de uma conferência internacional e enviam
Atualmente, em Washington, tanto a AP como suas matérias. Reúnem material sobre as
a UPI oferecem um tipo especial de serviço motivações do fato e esperam os furos. Esse
local aos que o desejam. Em Nova York, o tipo de matéria, na televisão ou nos jornais,
escritório local da Associated Press serve a não chega a tirar o sono dos escritórios das
grande parte da cidade na base de encargos agências de notícias.
isolados. Em Chicago e 10s Angeles há outros
O hábito de depender das agências é insidioso.
serviços. Com a alta do custo da coleta de
Por serem capazes e dignas de confiança, é
notícias, é de se prever que surjam outros tipos
fácil ao editor do jornal recorrer a elas nas
de acordos, nos quais as empresas rivais
coberturas nacionais e internacionais,
possam obter as notícias nas mesmas fontes.
escravizando a sua consciência com a desculpa
de que não tem pessoal suficiente. Quase que
de forma automática, a mesma desculpa vale

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

quando se trata de dar cobertura a casos legais negócio dessas empresas. E é um grande
e ao governo estadual. Assim, a reportagem negócio.
geral sobre notícias importantes estaduais e
Algumas centenas de empresas de venda de
nacionais tende cada vez mais a passar para o
artigos oferecem suas listas aos jornais.
domínio das agências de notícias, embora os
grandes jornais realizem ainda o trabalho que Nelas está tudo o que um editor pode
o público deles espera. imaginar, transformado em mercadoria
jornalística popular. São oferecidos best-
O declínio do enviado especial afeta também a sellers de ficção ou não-ficção, para serem
cobertura e a redação das notícias locais. publicados em série. Vendem colunas
Nas cidades onde existe uma boa agência, é políticas, colunas culinárias, colunas de
grande a tentação de designar repórteres puericultura, como jogar bridge, sobre moda,
apenas para as notícias mais importantes do saúde, charges, artigos de fundo, vários tipos
dia, deixando o resto às agências. No decorrer de conselhos, sem esquecer o conselheiro
dos anos a tendência tem levado alguns jornais sentimental, finanças e orientação familiar,
a publicar material das agências locais sem crítica literária e teatral, histórias para
atribuição de crédito e sem se darem ao adormecer crianças e outros assuntos básicos.
trabalho de redigir novamente as notícias para Os jornais pagam por artigo, de acordo com a
que pareçam escritas pela sua equipe. É fácil sua circulação e possibilidades. Enquanto os
compreender que essa atitude provoque o grande jornais pagam alto preço por uma
aumento da demanda de jornalistas capazes de
história em quadrinhos, os pequenos podem
escrever com originalidade e – acima de tudo –
contratar um colunista popular por preço
com rapidez. Por mais elegante que seja o
razoável. Os editores vão muito a Nova York,
estilo, não substitui a presença do repórter,
o quartel-general das grandes empresas,
seja para o fato local, seja estadual, nacional
levando enormes listas de pedidos.
ou internacional. Apenas a reportagem bem
feita pode ser bem escrita. Contribuir para uma dessas organizações não é
o mesmo que realizar o trabalho do jornalista
profissional, que se ocupa especialmente da
Empresas de Artigos notícia. Quando muito, o trabalho numa
empresa de artigos é uma espécie de
Embora as agências também distribuam
amálgama de arte, literatura popular e
artigos, essa função é executada em conjunto
jornalismo. Os redatores de notícias raramente
com as grandes empresas. As empresas
sabem como essas empresas funcionam,
modernas são organizações comerciais que
porque têm pouco contato com elas, até se
contratam especialistas os mais variados,
tornarem famosos.
artistas, escritores e fotógrafos, para um sem-
número de artigos populares vendidos às Apesar do aspecto promocional, tais
centenas, e muitas vezes aos milhares de organizações não estão na mesma classe dos
jornais. Uma das principais características anunciantes que patrocinam os programas de
dessas empresas é o grande quadro de rádio ou de televisão. Um grande patrocinador,
vendedores que circula constantemente pelos Xerox, promoveu recentemente (isto é,
jornais nacionais e estrangeiros, oferecendo comprou) uma série de artigos sobre viagens,
uma imensa variedade de material que ajuda a escritos por um repórter aposentado do New
aumentar a circulação. As agências e as York Times, Harrison E. Salisbury, para a
empresas jornalísticas também vendem, mas revista Esquire. Tantos foram os protestos
poucas podem rivalizar com organizações contra o contrato que a Xerox resolveu não
como a King Features Syndicate, pertencente à repetir a experiência.
Hearst, a maior no gênero. Os artigos
O Trabalho nas Agências
especializados para jornais constituem o
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Segundo estimativas abalizadas, as agências melhor meio de tratar a informação, mas é


fornecem 90% das notícias estrangeiras sempre o mais justo.
publicadas na imprensa americana, e 75%, ou
A equipe das agências não é paga para dar
mais, das nacionais. Muitos jornais recebem
opinião. Em conseqüência, seus repórteres e
da agência pelo menos a metade das notícias
redatores são vigiados de perto para que não
estaduais. Portanto, excetuando-se os grandes
haja nem sombra de opinião pessoal no seu
jornais, aparentemente só as notícias locais são
trabalho. Aos que possuem experiência e bom
produto de trabalho pessoal. O mesmo
senso permite-se acrescentar aos fatos os
acontece com o rádio e a televisão.
antecedentes e dar uma interpretação, quando
Se a confiança depositada no serviço das é o caso. Porém, dizer por que algo aconteceu,
agências tem como resultado a padronização isto é, o processo interpretativo, é bem
mais ou menos generalizada da cobertura diferente de argumentar sobre o que devia ser
internacional, nacional e estadual, a culpa não feito, a prerrogativa do editorial. Eis a primeira
cabe às agências. Os culpados são os jornais norma que o repórter novato da agência de
que delas exigem tanto. Sem dúvida, notícias deve aprender, e muitas vezes aprende
considerando a desvantagem de tempo e outros ao ser despedido por não segui-la.
fatores que pressionam as agências, elas fazem
pequenos milagres todos os dias para
conseguir notícias – e, às vezes, grandes Críticas
milagres. Todas as críticas que se pode imaginar sobre
Seria injusto presumir que as agências, tendo as agências de notícias já foram feitas pelos
herdado tanta responsabilidade, devido à diretores de jornais. Em certa ocasião
negligência dos seus clientes, cumpram seus queixaram-se de que as agências enviavam
deveres por capricho ou por acaso. Longe muitos boletins, diversas versões de uma
disso. matéria em desenvolvimento, muito material
sobre política local, às vezes muito pouco
Funcionam sob o mais rigoroso controle, sob a sobre notícias importantes. Na pressa de
vigilância de todas as organizações do País, elaborar a matéria, a sacrificada equipe da
pois nem mesmo uma comissão especial do agência é freqüentemente acusada de dar muita
Senado pode demonstrar indignação tão importância ao último fato acontecido, quando
vigorosa quanto os dirigentes dos jornais
não é realmente importante. Ou é acusada do
quando lhes parece não estarem recebendo a
crime pavoroso de glorificar o trivial.
mercadoria que compraram.
O Livro Azul da APME registra as queixas de
A agência deve satisfazer os padrões de
editores que chamaram a atenção para a
milhares de jornais das mais variáveis
"imensa quantidade de trivialidades" numa
religiões, nacionalidades e simpatias. O que reportagem da AP, e pergunta solenemente: "O
interessa a uma empresa pode não ter que é trivialidade? Supondo que definíssemos
significado para a agência, a não ser que um trivialidade, o que faríamos para substituí-la?"
editor requeira cobertura especial, mas o que A trivialidade, bem como o excesso de "leads"
parece interessar à agência nem sempre agrada numa notícia importante, faz parte do trabalho
a todos os seus clientes. Os diretores de jornais
da agência. Os atacadistas apresentam uma
são, por natureza, difíceis de contentar; o que
linha completa de mercadorias. Os varejistas
dizer então de milhares deles ao mesmo
compram. O princípio ainda é "caveat
tempo?
emptor".
Portanto, a agência tem o máximo cuidado em
As agências de notícias têm defeitos, e não são
apresentar todas as facetas de uma notícia poucos, mas também possuem qualidades.
capaz de gerar controvérsia. Pode não ser o Muitas vezes estão melhor informadas que os

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

diplomatas sobre os grandes acontecimentos podem desorganizar a programação mais


da política mundial. Quanto aos militares, todo cuidadosa.
o mundo sabe que muitos oficiais do serviço
Os métodos da AP e os da UPI diferem em
secreto estariam perdidos na névoa das
alguns detalhes, porém, no todo seguem os
comunicações militares, lentas e obscuras, se
mesmos princípios, porque trabalham sempre
não tivessem um teleimpressor no escritório.
com jornais na iminência de impressão. As
Quando um político tem algo a dizer, partes das notícias seguem uma ordem, não
importante ou não, uma das primeiras necessariamente consecutiva. Podem ser
perguntas que faz ao seu Secretário de colocadas entre boletins ou outro material que
Imprensa é se as agências foram informadas. tenha precedência.
Sejam grandes ou pequenas agências,
2) Titulagem: Por todos esses motivos não é
manchete ou artigo, sexo ou ciência, negócios
prático para a agência redigir a matéria do
ou crime, pode-se confiar nas agências de
mesmo modo que o jornal, com os títUlos das
notícias para sua divulgação. São também
páginas numeradas, 1 - 2 - 3 - 4. O material da
fornecedoras de informação para todo o
agência consiste em um primeiro "take" e uma
inseguro edifício da moderna comunicação de
série de adições, para a maioria das matérias.
massa.
As adições são facilmente identificáveis
O jornalismo americano não existiria sem elas. porque trazem o título, local e data do original
Tornaram-se indispensáveis. e a seqüência da transmissão.
Os títulos, nas agências, funcionam também
como código para indicar urgência na
Como Trabalham as Agências de Notícias
transmissão. As agências americanas usam
As técnicas usadas pelas agências no geralmente as indicações: "Flash", Boletim e
tratamento das notícias diferem dos processos Urgente, em ordem decrescente de
usados pelos jornais, em alguns aspectos. importância.
1) Programação: Antes do início de cada ciclo, Tais indicações são incluídas no material de
envia-se uma programação a todos os clientes "cabeçalho", necessário para o computador, e
de um determinado circuito para que tomem colocado no início de cada matéria. Por
conhecimento do material avaliável para indicação da Associação Americana de
transmissão. Essa programação ou relação de Editores de Jornais, ambas as agências
estoque informa os editores sobre cada matéria incluem no "cabeçalho" certos dados, como
que receberão, com título, descrição, e, às número da transmissão, indicador do nível da
vezes, número de palavras. Não indica o mesma, código especial "pré-cabeçalho",
tempo específico em que cada uma será prioridade e categoria. Dito assim, parece
transmitida, porque este pode variar. Os furos, muito complicado, mas na prática é mais fácil
enviados no momento em que acontecem, e necessário à publicação.

Referência bibliográfica
HOHENBERG, John. “O Jornalista Profissional: guia às práticas e aos princípios dos
meios de comunicação de massa”, Rio de Janeiro, Interamericana, 1981. págs.187-
202

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto VIII
Jornalismo Internacional, Correspondentes e Testemunhos
sobre o Exterior
Guillermo García Espinosa de Los Monteros, 1998 (tradução: Pedro Aguiar)

Jornalismo em Escala Mundial imprensa diária, quase um século depois da


Revolução Industrial.
O jornalismo internacional é um fenômeno da
atividade intelectual e econômica que data do O jornalismo internacional não só teve que ser
segundo quartel do século XIX. Sua história antecedido pelo desenvolvimento da indústria
está ligada ao desenvolvimento da escrita, à editorial, como também pela transformação
imprensa, à indústria editorial, às tecnologias dos transportes, das comunicações telegráficas
de comunicação e ao transporte. e do comércio internacional de metais e
produtos agrícolas, especialmente grãos e o
Em todo o mundo, de uma forma ou de outra,
gado. A difusão em Nova York de notícias
se tem feito jornalismo, oral e impresso, mas,
sobre preços de grãos em Londres foi um dos
nos últimos dois séculos, a história e a
elos genéticos do jornalismo econômico e das
economia do jornalismo foram configuradas
variáveis internacionais do mesmo.
na era industrial. Foi aberto o caminho para
uma organização acadêmica e institucional que As guerras, os conflitos político-militares nos
identifica os jornalistas. Foi constituída uma estados coloniais europeus, foram os primeiros
atividade profissional próxima às ciências condutores temáticos do jornalismo em países
sociais e humanas. como Inglaterra e França. Até hoje, as guerras
são objeto de interesse primordial para os
O jornalismo impresso toma forma sob certas
jornalistas; as motivações são as mesmas
condições do desenvolvimento da economia de
ontem e hoje: a vontade de relatar os dramas
mercado. Há cinco séculos de distância entre a
da guerra, a ambição de publicar as notícias
prensa de Gutenberg e a rotativa. A invenção
que estremecem os leitores, a necessidade de
desta máquina teve um impacto direto na
relatar com imparcialidade os fatores de uma
forma de fazer jornalismo. Os avanços
mudança social e política. Por estas razões, a
tecnológicos para a impressão e a produção em
massa de papel foram os motores da mudança história do jornalismo está cheia de repórteres
da imprensa política e literária do século XIX que cobriram conflitos armados de maior ou
para o jornalismo diário, com as grandes menor dimensão, por períodos curtos ou
tiragens, a figura do repórter e o conceito longos.
genérico de notícia e nota informativa. Com o tempo, os estadunidenses
Primeiro foram relevantes as notícias locais e ultrapassaram ingleses, franceses e alemães na
o que era de interesse das elites sociais. cobertura informativa internacional.
Os acontecimentos sobre o exterior entraram “A longo prazo” – escreveu Anthony Smith na
nas páginas dos jornais tardiamente, porque geopolítica da informação –, “os Estados
não havia formas de compilação de fatos ou Unidos acabaram com o predomínio da
porque o interesse não transcendia fronteiras. Reuters no final dos anos 1940, com o
Assim foi, em geral, a história da imprensa no interesse de criar um fluxo de notícias mais
mundo. O jornalismo nasceu como uma equilibrado que entrara nos Estados Unidos e
atividade de comunicação local, com uma que não estivesse mediado por uma
vocação comunitária. A primeira agência de organização que, ainda quando não é
notícias internacionais é organizada no controlada pelo governo britânico, parecia
segundo quartel do século XIX. As notícias impor um conjunto de prioridades e valores
sobre o exterior ganham seu espaço na ingleses às notícias de todo o globo”.

50
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Apesar de tudo, persiste uma constante disputa requisito ideológico para o fluxo
pela vanguarda no estilo e a influência política de outras exportações materiais."
mundiais. Mais que qualquer outro exercício
jornalístico, o escrito em inglês ganhou uma
dupla reputação no mundo: é escandaloso, Reuter deu ao jornalismo de correspondência
sensacionalista e intrometido, mas também é no exterior a estrutura de negócio. Havas, o
penetrante em fatos e impõe pautas sobre o inglês Reuter, o alemão Peter Wolff, que
conceito de notícia e redação. plantou as raízes da DPA de hoje, e o inglês
William Howard Russell, o primeiro
correspondente de guerra da imprensa
A Economia do Jornalismo Internacional industrial, foram os mais notáveis jornalistas
da primeira geração de repórteres enviados
As agências de notícias foram criadas nos anos
para missões no exterior, e marcaram
trinta do século XIX. A informação econômica
caminhos para esta categoria, que chegou a ser
foi sua primeira matéria-prima; difundiram
uma família peculiar do jornalismo,
dados sobre a agricultura e a mineração no
mundo. O jornalismo é uma atividade identificada por um afã migratório.
econômica do capitalismo, que em suas
origens satisfez a necessidade de comunicação
Da Redação de Despachos Internacionais
dos comerciantes e banqueiros, de informar-se
sobre preços de mercadorias e mercados de As técnicas de redação de despachos
grãos e metais. internacionais tiveram seu próprio processo
evolutivo. Elas existiram sob a forma da
A informação política foi entregue primeiro crônica, o relato quase literário, ou narrativa
em forma de suplemento. O francês Charles breve de fatos, a interpretação política, ou
Havas pôs à venda a tradução de documentos análise econômica.
com informação de atualidades sobre o
exterior; este foi o primeiro produto de Houve uma mudança constante nas técnicas de
comunicação jornalística que ofertava redação no jornalismo internacional. Quando
acontecimentos de terceiras nações. O inglês John Reed escreveu para a imprensa nova-
Julius Reuter, que foi empregado de Havas, iorquina e bostoniana, seus despachos sobre a
introduziu seu serviço de difusão de "fatos Revolução Mexicana eram crônicas que se
súbitos e imprevistos". Reuter abriu a transformaram em contos literários. As peças
profissão a uma esfera intelectual até então de Reed, como as de seus contemporâneos na
inimaginável, sem o desenvolvimento político África ou na Ásia, foram escritas com
e tecnológico alcançado até então. liberdade de estilo, cumprindo com o
propósito de dar notícias e inteirar os leitores
A venda de informação agrícola e dos acontecimentos que alteravam a
mineralógica foi só o primeiro meio de
normalidade dos povos sobre os quais faziam
intercâmbio para as empresas jornalísticas. As
jornalismo de correspondência. Hoje os textos
primeiras agências de notícias internacionais
de informação internacional são em geral
funcionaram como monopólios traçados a
informativos e sucintos.
partir de fronteiras nacionais. O jornalismo
internacional é uma expressão intelectual do Os despachos de correspondentes e enviados
capitalismo, em vez de um gênero empresarial. especiais às guerras européias ocupavam luga-
Seu produto de exportação é a informação, res privilegiados nos periódicos. Os conflitos
segundo interpretação de Smith. armados foram um motor do desenvolvimento
profissional do correspondente e da evolução
"O fluxo de exportação de meios de das técnicas de redação de crônicas do
informação atua como um tipo de
exterior. Os historiadores do jornalismo apon-
tam Russel como o primeiro correspondente
51
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

de guerra no exterior, designado para a Hoje, o exercício do jornalismo internacional,


cobertura da Guerra da Criméia, de 1861 a como correspondente e como enviado especial,
1865. é menos romântico do que parece ter sido para
as primeiras gerações de repórteres no exterior
De acordo com Smith, os correspondentes de
(o lendário John Reed é um exemplo).
guerra têm sido um tipo de militares. Sem
Atualmente, é uma tarefa que requer
dúvida, a cobertura deste tipo de
preparação especializada, inclusive formada
acontecimento foi uma dura prova para a
em universidades estadunidenses.
habilidade dos jornalistas em entregar seus
textos à redação. Os meios de transmissão da No ensaio “O Jornal, Ator Político”, o
notícia para as redações centrais dos espanhol Héctor Borrat faz uma definição do
correspondentes e dos jornalistas em geral correspondente com sentido político-
mudaram, assim como as formas de redação. administrativo:
Reuters utilizou pombos-correio e adquiriu
“A figura do correspondente
cabos submarinos para transmitir os serviços
identifica um tipo de jornalista
informativos de sua empresa,
profissional que se apresenta em
ininterruptamente. As vantagens da
agências de notícias, jornais,
comunicação via satélite também tornaram
revistas e emissoras de rádio e de
instantânea a comunicação entre redações.
televisão; trabalha para qualquer
uma destas organizações, de
maneira permanente, fora da sede
Dos Correspondentes
central de sua redação, seja dentro
Quem exerce o jornalismo internacional é ou fora do país. Envia
geralmente conhecido como correspondente ou informações, comenta
enviado especial de algum veículo. Estas duas acontecimentos e representa sua
formas de exercício profissional são as facetas redação perante organizações de
jornalísticas de vocação e orientação todo tipo. Pode pertencer ao
internacionalista. quadro funcional de sua empresa
Em seu conceito mais primitivo, as obras de ou atuar como um simples
enviados ao exterior e correspondentes se colaborador que cobra por
encontram na própria história da literatura trabalho.”
universal antiga, começando pelas cartas de
São Paulo em Atos. As origens mais próximas
Entendido nestes termos, o correspondente é o
do que hoje é o jornalismo internacional são
típico habitante da diáspora jornalística,
encontradas em várias cidades da Europa, no
destinado a trabalhar em um dos lugares onde
início do século XIX, especialmente em Paris
e Londres. Não só o desenvolvimento o jornal concentra esforços informativos.
industrial da Inglaterra propiciou a Uma definição de correspondente elaborada
tecnificação do jornalismo diário e da difusão em função do gênero e da fonte a que o
de notícias sobre os acontecimentos no mundo. jornalista recorre para redigir seus despachos é
Houve também uma necessidade da metrópole encontrada em “Teoria do Jornalismo”, do
colonial, que estimulou a formação de uma também espanhol Lorenzo Gomís:
classe intelectual especializada nos fenômenos
“A crônica tem uma função de
do exterior. José Ortega y Gasset reconhece
relato do que acontece ao longo do
em Arnold Toynbee o promotor da primeira
tempo por um lugar ou um tema. A
grande historiografia sistemática das nações do
distinção primeira é a que separa a
mundo, internacionalista, na Universidade de crônica local da temática. O
Londres. correspondente de um veículo em

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

uma cidade é o cronista do que exterior. Os primeiros ofícios de


acontece nela e no país do qual é correspondência foram organizados por Havas,
capital. O cronista ou Reuter e Wolff. Os jornalistas escreveram seus
correspondente é um especialista primeiros testemunhos sobre as nações no
no lugar cuja vida conta e por isso momento de maior expansão do Império
assina suas crônicas. A crônica Britânico. Antropólogos e historiadores eram,
temática é também o produto de até então, os principais produtores de
um entendido, mas em vez de testemunhos etnocêntricos sobre sociedades
contar-nos o que ocorre em um distantes.
lugar, conta o que acontece em um O testemunho dos jornalistas não acaba com a
âmbito temático.” difusão de notícias. Alguns dos
correspondentes que conseguiram escrever
ensaios jornalísticos se beneficiaram de uma
Para identificar as notícias de interesse no
experiência de reportagem no país coberto.
exterior, o correspondente se apóia na
imprensa e nos meios locais. As diferenças nas Os testemunhos sobre as nações não
técnicas de um repórter e de um constituem um gênero plenamente identificado
correspondente são quase imperceptíveis, mas e delimitado, e não há manual que tenha
há uma regra que pareceria fundamental na referências a este conceito, mas a experiência
redação dos despachos de correspondência e, jornalística dos dois últimos séculos trouxe
nem sempre, nos textos de um repórter local: a como herança a conjunção entre os jornalistas
notícia é gerada e entregue ao leitor (ou e a narração dos acontecimentos noticiosos e
audiência) em contextos específicos, com os fenômenos dos povos do mundo.
causas e conseqüências. Pelo uso de gêneros,
Uma leitura de textos escritos por
não há exclusividade para repórteres locais ou
correspondentes que se proponha a extrair
correspondentes; a forma mais comum de
ferramentas técnicas e guias metodológicos
redação é a nota informativa. A entrevista, a
pode conduzir à descoberta de algumas
reportagem e a crônica são pouco freqüentes
tendências e regras gerais que ajudem à
no papel, mas são coisa cotidiana nas
formulação-retórica do testemunho: os
divagações de repórteres.
testemunhos não tentam fazer literatura, ainda
que circunstancialmente o façam; a redação de
alguns testemunhos é motivada pela história
Dos Testemunhos sobre Nações
ou pela geografia, o homem e seu meio, mas o
Os serviços noticiosos sobre os valor final é muito maior que o correspondente
acontecimentos internacionais e os ensaios a uma só disciplina do conhecimento humano.
sobre as nações são um produto intelectual
europeu, notavelmente francês e anglo-saxão. Os jornalistas que recentemente escreveram
É o que Smith definiu como "uma seqüela testemunhos sobre o exterior afirmam que sua
colonial". intenção não é dizer tudo sobre um país, mas
só o que observaram e registraram em um
No principio, foi só a tradução de reportagens momento determinado da história. Hedrick
publicadas em jornais do exterior, mas em Smith, correspondente do New York Times em
duas ou três décadas os despachos jornalísticos Moscou entre 1971 e 1974, escreveu na
tomaram sua própria identidade. O introdução de “The Russians” que seu
correspondente se tornou uma extensão da propósito não era falar das tramas da política
figura do repórter, e progressivamente adotou ou da economia soviética, mas das pessoas que
suas características distintivas. participam individual e coletivamente das
O serviço de agências informativas uniu o estruturas do sistema. Nas palavras de Alan
jornalismo à observação de fenômenos do Riding, os testemunhos sobre nações devem

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

explicar ao leitor como funciona o país détente, as mudanças de poder no


observado, quais são os valores essenciais que Kremlin, o lançamento de naves
formam seu sistema. espaciais, compras repentinas de
grãos estadunidenses, ou a última
A aparição do testemunho de Smith, em “The
prisão de dissidentes. Outros
Russians”, de 1975, teve o efeito de uma
repórteres de notícias,
notícia. Ao final de sua missão e de volta a
especializados, acadêmicos e
Washington, o ex-correspondente do New
Kremlinólogos ofereceram aos
York Times escreveu um testemunho de 775
leitores ocidentais um amplo
páginas. Suas descrições sobre a vida dos
russos foram tema de comentário em artigos acervo de obras sobre estes temas,
jornalísticos em todo o país. Em sua de modo que eu tratei pouco da
explicação de motivos, o jornalista refletiu alta política, da anatomia da
sobre as diferenças entre os povos e a economia soviética, da estrutura
importância do conhecimento mútuo. Sua do Partido Comunista, ou das
manobras da diplomacia.
idéia da transcendência de seu trabalho como
correspondente no exterior, com a visão O que me impactou como fresco e
etnocentrista estadunidense, ficou expressada novo, como para satisfazer aos
na introdução do livro: leitores, foi o componente humano,
a textura e a fibra da vida pessoal
“Nós estadunidenses somos um
tanto provincianos. Para nós é dos russos como povo. Os
difícil sair de nossas próprias peles especialistas podem estudar várias
e entender outra cultura que seja facetas do sistema soviético,
realmente diferente da nossa. comodamente a distância. O que o
Olhamos para os russos, vemos repórter no local pode fornecer de
maneira única é o sentido tátil, no
seus mísseis, seus carros, seus
que sente estando sentado junto
monitores de televisão e suas
aos russos.
ambições de poder no mundo, e
logo presumimos que são como (...)
nós, exceto por serem comunistas.”
Nenhum volume individual pode
dar conta de tudo que é a Rússia,
especialmente um que seja baseado
Para o entendimento real é necessário ter
na experiência pessoal e uma
vontade para projetar-nos mais além de nossa
observação de um correspondente
própria vida e da maneira como funcionam
em um jornal de tempo (...)”
nossos sistemas econômicos e políticos; para
conseguir compreender como e por quê outras
pessoas são verdadeiramente diferentes. Estas idéias são só um aporte à construção
Outra observação que Smith deixou em “The retórica dos testemunhos, de seus vínculos
Russians” sobre a relação entre a cobertura com o jornalismo e as relações internacionais.
cotidiana do repórter e a preparação de um Os limites do gênero estão traçados. Há
testemunho é a seguinte: história e tradições. Esta é outra das formas em
que o jornalismo serve ao intercâmbio de
“Supõe-se que os jornalistas devem
informação entre as nações.
concentrar-se no que é novo e
fresco. Tipicamente, em Moscou,
isso significava a difusão de
notícias sobre a diplomacia da

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Referência bibliográfica
Título Original:
“Periodismo Internacional, Corresponsales y Testimonios sobre el Extranjero”,
disponível em
[http://www.hemerodigital.unam.mx/ANUIES/colmex/foros/152-153/sec_14.htm]

LOS MONTEROS, Guillermo García Espinosa de. “Periodismo Internacional,


Corresponsales y Testimonios sobre el Extranjero”, in Foro Internacional nº 152-153,
México: Hemeroteca Virtual/UNAM, 1998

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• A afirmação do autor de que “o jornalismo nasceu como uma atividade de


informação local” contradiz a do livro-base “Jornalismo Internacional”, de que “o
jornalismo nasceu internacional”. Qual das duas está correta — ou seriam ambas?

• Que critérios podem orientar o correspondente a utilizar o formato crônica ou


matéria jornalística para escrever seus relatos?

• Em que medida o testemunho do correspondente é influenciado pela cultura de


sua própria origem?

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto IX
Do Outro Lado do Mundo
Fritz Utzeri, 1989

A primeira coisa que posso dizer, com relação Os jornais brasileiros, em geral, têm uma
ao trabalho de correspondente, é que não estrutura que é muito amadorística. Eu fui para
existe nenhuma posição para mim dentro do os Estados Unidos e para a França e ninguém
jornalismo que seja melhor. O Reale Jr., que é jamais me perguntou sequer se eu falava a
correspondente de O Estado de São Paulo, língua. Até achei que falava. Quando cheguei
costuma definir essa posição como a de um aos Estados Unidos, tomei um susto quando
repórter da geral numa cidade que não é a dele. liguei a televisão. Havia uma crise no ar, e eu
O correspondente é alguém que tem que tratar não estava entendendo nada do que a televisão
de tudo, que tem que falar, por exemplo, da dizia. Entrei em pânico, achei que não ia
eleição francesa, e tentar explica-la para um passar de uma semana. No exterior trabalha-se
publico que não vai participar dela. Então, ele de uma forma muito pouco estruturada – com
tem que traduzir a realidade do pais em que exceção de algumas empresas como a Globo e
está, e fazer o máximo possível de a Abril, que têm escritórios. Para o resto dos
comparações que permitam às pessoas correspondentes, o que acontece é que temos
identificar o que esta acontecendo com os que ser o produtor, o telefonista, o continuo.
referenciais que estão acostumadas a usar aqui Isso é um pouco angustiante, porque se chega
em casa. numa cidade desconhecida com um
caderninho em branco. E como ser "foca" de
O correspondente não pode, de maneira
novo. Rapidamente é preciso montar um
alguma, perder o contato com o seu país. O
sistema que permita não ser "furado" se
tempo todo ele funciona como um brasileiro
acontecer alguma coisa importante, E o
que está na Europa, nos Estados Unidos, no
importante, no caso, vai desde o fato político
Japão, enfim, onde estiver, observando uma
local, até a passagem de algum brasileiro
realidade que não é a dele. É fundamental que
ilustre pela cidade.
o correspondente esteja sempre bem
informado tanto sobre a realidade do país em Dificilmente o jornal pede as matérias. Em
que esta como sobre a realidade do seu próprio 90% dos casos a decisão do que escrever, do
pais. Não é possível, por exemplo, não saber que apurar é do próprio correspondente. Se,
quem é Fernando Collor de Melo, ou Leonel por um lado, isso da uma grande liberdade, por
Brizola, ou a Xuxa. São coisas fundamentais outro obriga que ele seja muito disciplinado,
para pinçar na realidade francesa, por porque tem que manter um fluxo regular de
exemplo, uma comparação brasileira. matérias. E o problema é saber que matérias.
Pode ser que um assunto, muito interessante
O correspondente, pela estrutura dos jornais
para o correspondente ou para o leitor francês,
brasileiros, é o mais livre dos jornalistas. Isso
não interesse ao público brasileiro. Essa
é mais verdade ainda na Europa, quando se
sensibilidade tem que estar sempre presente.
tem cinco horas a favor. O que significa que,
Descobrir um bom assunto, escrever de uma
quando o correspondente esta com a sua
maneira atraente é importante, porque a
matéria pronta, o pessoal aqui ainda não
chegou ao jornal. O correspondente trabalha maioria dos leitores do jornal não lê a seção
no século XXI. Em casa, com um computador internacional. É importante que o
na sua frente, ele passa a matéria direto para o correspondente tenha um certo estilo, que
jornal. Eu costumo brincar dizendo que o descubra um gancho, algo que nem é
único jornalista que pode bater uma matéria de necessariamente uma noticia importante.
cueca, em casa, tranqüilo, é o correspondente.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

O essencial é transmitir para as pessoas que Quando eu era criança, na época em que ainda
estão lendo como é o país onde o havia bonde no Rio, as pessoas me
correspondente está baseado. No meu caso perguntavam quando ia a outras cidades: "Lá
particular, como repórter de gera!, sempre na tua cidade tem bonde?" Cidade que não
achei que, quando não ha um grande assunto tivesse bonde era ruim. Isso é um pouco o que
— quando não se esta cobrindo uma todos fazem com o correspondente: "As
eleição,uma guerra ou uma crise política —, é pessoas comem o quê? Como vivem? Como se
melhor simplesmente sair pela cidade. Sempre vestem? o que gostam? o que não gostam?"
aconselho aos repórteres que não fiquem na Tudo isso nos temos que responder, e bem.
redação, porque ha coisas interessantes Isso não significa que o correspondente não dê
acontecendo na rua, e e!e tem que estar de um tratamento diferenciado às mesmas
olho aberto, à procura de uma novidade. Um noticia.s que as agências estão enviando, mas
simples passeio por Nova York ou Paris não ha condição de ele competir com o tipo de
permite praticamente esbarrar em pautas na estrutura de uma UPI ou AP, por exemplo.
rua. Em ultimo caso, pratica-se o chamado
Quando eu era correspondente em Nova York,
vampirismo: pega-se, por exemplo, o
tinha uma dupla dificuldade, porque na época
Libération e chupa-se uma matéria. É uma
o Jornal do Brasil comprava o serviço do New
coisa que o correspondente não gosta de
York Times. Numa cidade onde se tinha o
admitir, mas que acontece. Mas mesmo isso
maior jornal do mundo cobrindo e mandando
requer uma certa arte. Não basta simplesmente
na mesma noite tudo o que acontecia, fora as
pegar e copiar uma matéria. É preciso
outras agências, era preciso realmente procurar
reescrever o texto de um jeito que o Brasil
muito por um assunto interessante. Mas é
tenha alguma coisa a ver com aquilo. Não é
sempre possível encontrar, até pela liberdade
necessariamente a matéria mais importante do
que o correspondente tem. O fato é que ele
jornal, às vezes é uma notinha. precisa montar uma estrutura. Trabalhando em
Quando eu estava em Nova York, li uma casa, eu não podia me dar ao luxo de ter quatro
matéria pequena num jornal sensacionalista, ou cinco maquinas de telex, uma da Associated
New York Post. Era sobre uma escola Press, outra da UPI, outra da France Press.
sofisticada na Califórnia que estava usando as Aliás, pegar um telex de agência e "pentear" é
crianças, há vários anos, para fazer filmes bobagem, porque o mesmo texto que estaria
pornográficos. Apurei mais alguma coisa, e a batendo na minha casa, estaria entrando,
matéria teve a maior repercussão porque a exatamente na mesma hora, na redação do
historia era muito estranha. E era mais Jornal do Brasil.
estranha para mim do que para os americanos.
O que quero dizer é que nos precisamos saber
Eu me perguntava como nenhuma dessas basicamente o que esta acontecendo, mas de
crianças, durante anos, disse nada em casa. uma maneira diferente, com uma perspectiva
Através de uma matéria como essa se tem uma local, que permita ao correspondente trabalhar
reflexão do tipo de sociedade que é aquela. É a em cima dela. Nos Estados Unidos o nosso
mesma sociedade onde, de vez em quando, um trabalho é facilitado pela CNN, uma rede de
louco pega uma carabina e vai ao
televisão chamada Cable News Network, que
MacDonald’s matar criancinhas. É o que e!es
pertence ao Ted Turner e permite receber 24
chamam de hostage situation (situação de
horas por dia material não editado. Lembro
refém). Na França, eram freqüentes as
que, quando explodiu a embaixada americana
matérias mostrando mordomias, marajás, mas
em Beirute, a CNN entrou no ar ao vivo, e as
em geral os corruptos acabavam na cadeia ou
imagens foram tão horríveis que eles pararam,
afastados. O papel do correspondente nesses
pediram desculpas e editaram um pouco. Isso
casos é comparar as situações.
mostra que, se o Reagan levasse um tiro, eu
teria imagens ao vivo. Para não perder nada,

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

compra-se um videocassete e deixa-se brasileiros. Quando houve aquele caso das


gravando o dia inteiro. Quando se chega em máquinas de videopôquer do Castor de
casa, tudo aquilo que aconteceu no país está Andrade, e os franceses estavam envolvidos
bem à frente. — havia um burocrata do governo, Yves
Chalier, que tinha vindo ao Brasil com um
Em geral, os correspondentes gostam de dizer
passaporte falso, dado pelo ministério do
q\le boa cobertura é aquela em que se vai para
Interior francês, e tinha participado da
urna guerra, ou para urna revolução. No
montagem do esquema -, n6s trabalhamos em
período em que estive fora, infelizmente ou
ligação com repórteres da televisão francesa.
felizmente — no sentido de que não sou tão
deformado que quero que o circo pegue fogo Eu era o bom canal para transmitir a eles o que
para que eu faça urna boa matéria —, não acontecia na polícia do Rio de Janeiro e, por
houve nada nesse sentido. Entre 82 e 85, nos outro lado, era muito mais fácil para eles ir à
Estados Unidos, o único episódio realmente delegacia em Paris e conseguir informações.
empolgante do ponto de vista militar foi a Não adianta ficar indo às redações de jornal
invasão de Granada, mas ninguém pôde chegar chateando o "coleguinha", porque o
perto. Foi o único caso que vi de censura à fechamento dele é mais apertado e os
imprensa nos EUA. interesses não são iguais.
Havia a tal ponto, que as redes de televisão: à Eventualmente posso recorrer a algum
noite, mostravam alguns pequenos barquinhos "coleguinha" se não entendo alguma coisa
de borracha com equipes da televisão tentando muito complicada, ou quando, numa viagem,
chegar perto e helicópteros voando baixo, preciso assimilar muito rapidamente a
fazendo marola para que o pessoal fosse rea1idade do local. Isso aconteceu quando fui
embora. Foi um bloqueio completo e com cobrir, antes de ser correspondente, a queda da
aprovação do publico. lsabelita Perón. A primeira pessoa que
entrevistei na Argentina foi o Jacopo
Quando cheguei à França, estávamos em plena
Timmerman que era do Opinion, para ele me
época dos atentados. Em Paris havia urna
dar uma luz. Lembro o que ele me disse:
verdadeira histeria, todo mundo era revistado.
"Bom, o senhor, quando chegar na Argentina,
E a população até queria realmente que se
sua primeira impressão vai ser do caos total. O
revistasse, porque não é muito interessante
estar numa loja e, a qualquer momento, voar senhor vai olhar pra Argentina e não vai
tudo pelos ares. Enfim, a única crise entender absolutamente nada, vai pensar que
internacional que houve, e à qual os está maluco. Com uma semana de Argentina o
correspondentes em Paris não conseguiram ter senhor vai ficar feliz, vai achar que entendeu
acesso, foi o episódio do bombardeio à Líbia. tudo. E ai quando o senhor estiver bem feliz,
de repente vai lhe bater a certeza de que o
Todos os jornalistas franceses, inclusive eu, já
senhor jamais entenderá a Argentina, e assim o
tinham lugar marcado a bordo de um avião
senhor vai continuar para o resto de sua vida
líbio que sairia de Paris.
junto com todos os argentinos." É mais ou
Demos azar parque o governo francês resolveu menos o que acontece no Brasil. O que é mais
expulsar quatro líbios e, obviamente, não iriam freqüente é um jornalista francês ou
dar a chance de eles viajarem no mesmo avião americano, que vai viajar para o Brasil,
que a imprensa. O vôo foi cancelado e, então, precisar de informações ou dicas.
saiu um avião, com os jornalistas que estavam
em Roma — inclusive quem viajou nesse Em geral, os correspondentes brasileiros no
avião foi o Roberto Pompeu, que era da Veja. exterior se ajudam na cobertura dos eventos
que envolvem personagens brasileiros, até por
Em geral, o correspondente tem pouco contato causa da precariedade da nossa estrutura.
profissional com os "coleguinhas" do país Numa reunião do Clube de Paris, nós tínhamos
onde esta. A não ser que o assunto envolva
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

que ficar na rua a uma temperatura de 15 graus da nossa desimportância. Na França é um


abaixo de zero. Virar uma noite, a 15 graus pouco melhor, porque a bagunça quase é igual
abaixo de zero, na rua, brigando com o à do Brasil. Liga-se para uma pessoa e ela não
“coleguinha”, é absolutamente impossível. responde à ligação, briga-se com a secretária e
acaba-se conseguindo falar com um ministro.
Nos Estados Unidos, por exemplo, existem os
Nos Estados Unidos, não se passa, em geral,
chamados Foreign Press Centers, que são
do Secretário de Assuntos Latino-Americanos.
Centros de Imprensa Estrangeira, nos quais o
correspondente se inscreve e tem acesso a A volta para o Brasil não é muito fácil, e é
todas as publicações que saem no país, a completamente diferente para quem até então
documentos do governo americano, material escrevia tudo e só dependia de si mesmo. O
de pesquisa e xerox livre, o que significa uma JB, antes da minha volta, tinha me feito a
facilidade de pesquisa para qualquer matéria. proposta de montar a editoria de ciência e
Na França não existe nenhum lugar para os tecnologia. Devo fazer um parêntesis e dizer
correspondentes se reunirem, e a televisão só que sou médico e entrei no jornal em 68
dá as notícias no dia seguinte. É realmente exatamente para cobrir o setor de saúde. Fazer
mais complicado. Mas como existem as cinco o chamado jornal medicamentoso era
horas de diferença — nos Estados Unidos se tranqüilo, porque ainda era uma época em que
trabalha contra o relógio — fica muito mais a censura não estava muito preocupada com
difícil acontecer algo importante que não possa esse assunto. Depois ela ficou, porque
ser utilizado. começou a meningite e nós descobrimos que
A posição do correspondente brasileiro é através da saúde podia-se contar a historia
muito diferente dos outros. Os corresponden- social do país. Até que se descobriu isso, e
tes americanos no Brasil, em geral, estão na ficou difícil também. E foi o que fiz durante
coluna social, até pela própria posição alguns anos, e não com muito boa vontade.
Por melhor que fosse a matéria, havia sempre
político-econômica dos Estados Unidos em
uma coisa que pesava contra mim: "O Fritz é
relação a nós. Os correspondentes americanos
médico." Eu sentia que jamais seria aceito
na Europa, obviamente, são importantes, e os
como jornalista se ficasse apenas nesse setor.
correspondentes europeus nos Estados Unidos,
E foi aí que mudei assim que pude.
alguns deles, são importantes também.
Lembro numa das entrevistas coletivas do Quando o JB me fez o convite de voltar para
Reagan, por exemplo, que era o próprio fazer a mesma coisa, a minha resposta foi
presidente que escolhia quem faria as simplesmente não. Ficou uma situação
perguntas. Ele começava: "Helen Thomas, da estranha, porque fiquei deslocado,
UPI" — que era, e ainda é, a decana do corpo completamente à margem, e sem muita
perspectiva de crescimento. Tinha a sensação
de imprensa de Washington e invariavelmente
de que, depois de ter sido correspondente eu
fazia a primeira e a última perguntas —
não iria mais a lugar nenhum. E foi então que
"Fulano de TaI da AP", "Sicrano do New York
resolvi sair. Quando a Globo me fez a mesma
Times", "Beltrano do Washington Post" e
proposta, aceitei, e não ha nenhuma
assim por diante. O Pravda, certamente, se
incoerência nisso, porque o veículo é diferente.
tivesse alguma pergunta para fazer, faria.
Eu começaria fazendo aquilo que já fazia em
O resto, nós, o Jornal do Brasil e O Globo, jornal, mas desta vez aprendendo num veículo
nunca tínhamos chance. A única oportunidade diferente. Os problemas de origem persistem,
de nos aproximarmos de uma figura assim era passei a escrever pouco e dependo muito mais
se, por acaso, ela visitasse o Brasil. Logo que do trabalho dos outros. A televisão é alucinada
cheguei à França, o Mitterrand deu uma e não existe um trabalho individual.
coletiva para a imprensa brasileira porque viria
ao Brasil. No exterior nos ganhamos a noção

59
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Em relação ao país, depois de sete anos no exterior está em torno de quatro a cinco anos.
exterior, entre os Estados Unidos e a França, é Depois ele deveria .voltar. O primeiro ano é
claro que é difícil voltar e se acostumar. O um ano de construção, não se sabe de nada. No
nível da deterioração dos serviços e até mesmo segundo, já se começa a ficar à vontade, e o
o empobrecimento que noto são enormes. terceiro é o ano em que, efetivamente, a pessoa
Tomei um susto quando recebi o meu primeiro já é conhecida, já tem um alentado caderninho
salário brasileiro, e era um salário razoável de endereços. Quando chega a esse ponto a
para os padrões locais. O correspondente, pessoa é transferida, pega o caderninho,
mesmo dentro dos padrões brasileiros, com a arquiva na mala, e vai para outro lugar com
penúria empresarial e o custo do dólar, em uma nova folha em branco. Fiz isso duas
geral, é um profissional bem pago, inclusive vezes, e estou fazendo pela terceira, porque
para os padrões franceses ou americanos. Eu voltar para o Rio depois de tanto tempo é
ganhava na França iguaI a um bom jornalista recomeçar do zero. Aliás, espero que daqui a
francês, o que significa um bom salário, três anos alguém me mande para fora. Até
porque os salários dos jornalistas de lá são acho que pode existir uma carreira de
melhores do que os daqui. Em geraI os salários correspondente, afinal, hoje, os jornais
lá são o suficiente para viver. Essa é a costumam ser cada vez mais especializados.
diferença básica. Mesmo no caso de um "foca" Mas, mesmo que existisse essa carreira, o
que está começando e ganha mal, esse mal é o jornalista deveria passar um tempo na redação
suficiente para ele viver. antes de seguir para outro país.
Uma das propostas que o Jornal do Brasil Em geral, o cargo de correspondente é visto
tinha me feito, e era até uma boa proposta, era como um prêmio, ou então como solução para
para ser editor nacional, porque eu seria uma questão política interna da redação.
alguém que teria uma visão ainda um pouco Quando saí daqui em 82, tinha chegado ao
escandalizada do Brasil, e poderia transmiti-la Jornal do Brasil e dito: "Não agüento mais o
às pessoas. Quando cheguei, os deputados JB, vou me embora." Então, eles me fizeram a
brasileiros estavam querendo aumentar os proposta de ir para Nova York.
salários deles e as pessoas me perguntaram:
Na mesma hora eu disse: "Vou." E fui. Mas
"Quanto é que ganha um deputado na França?"
imaginem desembarcar em Nova York —
Eu disse: "Olha, um deputado na França ganha
Manhattan, Empire State, World Trade Center,
exatamente a mesma coisa que os deputados
Wall Street, milhões de carros na rua, todo
querem ganhar aqui, a única diferença é que
mundo falando inglês — com uma folha de
esse dinheiro na França equivale a 12 salários
papel em branco, sem conhecer ninguém. É
mínimos, aqui equivale a 120." Há uma
preciso ir à polícia tirar uma credencial, ao
distorção maior dentro da sociedade, e são Foreign Press Center, arranjar um apartamen-
coisas com as quais não é possível se to, descobrir quem são os correspondentes dos
acostumar. Talvez fosse bom não se adaptar outros jornais, começar a conhecer as pessoas,
realmente. Acho que ainda estou resolvendo a pôr as crianças na escola. A agenda em branco
minha volta. Conheço alguns "coleguinhas" leva um certo tempo para se encher. O que
que não resolveram bem esse problema, que
mais complicou a minha chegada a Nova York
saíram do jornalismo e foram fazer assessoria,
foi que, dois meses depois, o México decretou
"piraram" ou voltaram para o exterior.
a moratória, e o sistema financeiro
A experiência de correspondente é muito boa, internacional quase foi à falência. Eu, que
tanto que eu não pedi para voltar. Mas os nunca tinha coberto economia, fui aprender
jornais, hoje, criaram uma espécie de rodízio, navegação a bordo do Titanic.
em que acham que o jornalista deve Quando se está lá fora, pode-se reparar que o
permanecer três anos no exterior. O prazo mundo está se integrando cada vez mais, que
adequado para um correspondente ficar no

60
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

estão se formando grandes blocos econômicos grandes revistas a Time, e a Newsweek, além
e políticos: a Europa de 92, os Estados Unidos, de uma infinidade de outras revistas da melhor
o México e o Canadá que estão praticamente qualidade. O New York Times tem um corpo
formando uma unidade econômica, o Japão e enorme de correspondentes, um staff
os países do Sudeste Asiático e a China, gigantesco, e é um jornal massudo, com um
namorando essa órbita de influência. Nós nos faturamento absurdo, que cobre tudo que se
vemos aqui no quintal, longe desse processo, puder imaginar. Mas há um outro fenômeno
às voltas com as nossas velhas histórias. Os nos Estados Unidos, que é fundamental, a
jornais estão muito preocupados com: “Fulano televisão. As três grandes redes e a CNN têm
diz”, “Sicrano faz”. Na época em que comecei, programas de jornalismo com os quais nós não
os jornais tinham um ar mais corajoso, se podemos nos comparar. Só para ter uma idéia,
investia mais em reportagem. Posso estar até um programa chamado 60 Minutes tem 150
generalizando. Os jornais não são muito produtores.
diferentes uns dos outros. O Globo, por Na França, todos os jornais têm opinião sobre
exemplo, para mim não mudou nada. Outros
tudo. O Le Monde, por exemplo, é um belo
jornais mudaram um pouco, a Folha
jornal, com uma perspectiva histórica que,
aperfeiçoou o que já vinha fazendo, é
certamente, explicará tudo ou quase, até
interessante, mas ainda é um jornal muito
porque o francês médio pensa melhor do que o
confuso. Sinto falta da grande matéria, da
americano. Mas é difícil saber o que aconteceu
matéria de repórter.
ontem. Uma vez houve uma manifestação
No período em que fui correspondente, muito grande da CGT em Paris e o Le Monde
observei dois universos muito diferentes em garantiu, em três linhas, que aquela
termos de jornal. Os nossos jornais e manifestação tinha sido menos importante do
televisões têm um padrão muito mais parecido que a de 1984. Eu li e disse: "Obrigado." Essas
com o americano. O Jornal do Brasil é muito três linhas resumiam tudo o que tinha
mais parecido com o New York Times do que acontecido naquela tarde, e seguia-se uma
com o Le Monde, sem sombra de dúvida. O página de análise sobre sindicalismo. Ou seja,
americano tem um jornalismo mais notícia é em outro lugar.
investigativo. Basta acompanhar, por exemplo,
Existe ainda um jornal chamado Libération.
os escândalos que periodicamente acontecem
um tablóide muito bem-feito, que não tem a
sobre a vida privada dos políticos americanos.
pretensão de cobrir tudo mas sempre tem
Quando o Jornal do Brasil publicou uma
alguns assuntos muito bons. O Figaro é o que
matéria sobre a filha do Lula, ele disse que
mais se aproximaria do nosso modelo de
isso acontecia porque estava morando aqui e
jornalão, uma espécie de Estado de S. Paulo. É
não nos Estados Unidos. Lula disse uma o maior jornal nacional da França. Há 25
bobagem, porque lá, possivelmente, iriam jornais em Paris, cada um deles tem uma
querer saber não só da filha dele, mas da tendência política. O Figaro é escandaloso,
primeira namorada que ele teve... Isso dá idéia porque a posição política não está só no
de que lá as coisas têm conseqüência. Basta editorial, o noticiário também sofre essa
ver o efeito da imprensa em cima do caso
interferência. Quem lê o L'Humanité e o
Watergate, e, recentemente, do Irãgate. É só
Figaro vê dois fatos completamente diferentes,
comparar com o que acontece no Brasil. Aqui
porque eles têm uma posição política que é
as coisas se diluem.
muito mais marcada do que estamos
Os jornais americanos são muito ágeis. Até acostumados a ver.
porque eles têm uma enorme quantidade de No Brasil, todo mundo sabe de que lado um
dinheiro. Há os grandes jornalões, o jornal está, apesar de eles gostarem de, pelo
Washington Post, o Los Angeles Times, o New menos, dar uma aparência de que isso não é
York Times; que são nacionais, e as duas

61
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

verdade. Na França as pessoas, em geral, não inclusive que as mulheres francesas eram feias
se preocupam muito com isso., Os jornais e raquíticas.
defendem suas bandeiras abertamente. O
Meu artigo era sobre o seguinte: quando se
jornal mais "furão" da França é um semanário
mora na França, todo ano é preciso ir à polícia
satírico que chama-se Le Cal1ard Enchainé,
e tirar uma Carte de Sejour, uma autorização
que é, literalmente, o pato acorrentado. Esse
de permanência. A Carte de Sejour é o terror
jornal, de vez em quando, dá furos, denuncia
do estrangeiro na França, porque ele tem que ir
escândalos, cria crises de governo. É como se
para uma fila quase igual à do Félix Pacheco
fosse o Pasquim dos bons tempos dele.
do Rio. Os jornalistas são mais bem tratados,
A televisão não tem o mesmo papel, tiram o documento no mesmo lugar em que os
principalmente porque ela era estatal até pouco diplomatas obtêm os deles. Quem não é nem
tempo. Além disso, o francês não gosta muito uma coisa nem outra vai para a fila, e no
de televisão. Não é igual aos Estados Unidos inverno, fica-se esperando na rua. Resolvi não
ou ao Brasil. Basta dizer, por exemplo, que um tomar conhecimento da simpática velhinha que
dos programas de maior audiência na França cuidava disso para mim no serviço dos
chama-se Apostrophes, um programa literário. diplomatas e fui como um mortal comum.
Alguém consegue imaginar um programa Depois de três horas e meia de fila, a 15 graus
literário no Brasil às 9h da noite na Rede abaixo de zero, finalmente me colocaram
Globo? No metrô de Paris, as pessoas, em numa sala, que media 9m2, junto com outras
geral, estão todas apertadinhas com o seu 60 pessoas. Quando consegui chegar ao
livrinho, nas posições mais esdrúxulas, guichê, a mulher carimbou um papel e disse:
tentando ler alguma coisa. lê-se "Volte em maio", ou seja, quatro meses
alucinadamente. Inclusive, às vezes, os depois. Não me deu a Carte de Sejour, me
noticiários terminam recomendando um livro. mandou para uma nova fila, em maio, quando
Realmente isso não faz parte da nossa cultura. já estaria um pouco mais quente. Então tive
Os jornais franceses atendem muito a esse tipo um ataque, gritei, e quase quebrei uma porta
de necessidade. Os franceses têm uma idéia de vidro, porque eu queria ser preso. Não
talvez maior da história, existe uma memória aconteceu nada, porque os franceses não
que nós aqui, infelizmente, não. temos. reagem. Saí de lá morrendo de raiva e escrevi
uma matéria no jornal, contando tudo,
A preocupação com a imagem do país não é só
inclusive dizendo que "quando a gente
dos brasileiros: Fiz uma matéria que saiu
importou a cultura francesa, a gente importou
publicada num livro na França, chamado A
a arrogância, a prepotência". Foi uma matéria
França no exterior, em que se reuniram 250
editorializada e de um mau humor absoluto.
artigos de imprensa para mostrar como o país
era visto pelos correspondentes. Depois a Obviamente que os franceses souberam,
revista Actuel traduziu três desses artigos, o porque depois a matéria apareceu traduzida na
meu abria e o do Pravda fechava, dizendo revista. Aliás, não me pagaram por isso até
hoje.

Referência bibliográfica
UTZERI, Fritz. “Do Outro Lado do Mundo” in RITO, Lúcia; ARAÚJO, Maria Elisa de;
ALMEIDA, Cândido J. Mendes de (orgs.). Imprensa ao Vivo, Rio de Janeiro: Rocco,
1989. págs.145-158

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto X
O Fim de uma Era
(Correspondentes Internacionais da TV Globo)
Antônio Brasil, 2003

Primeiro vieram os boatos sobre demissões em centenas de jornalistas do mundo inteiro


Londres. Mais uma vez, o "passaralho" estava utilizavam suas novas tecnologias como o
solto e voava baixo. Em seguida, a TV Globo "videofone" para mostrar uma guerra de
enviou nota à imprensa sobre as "mudanças", verdade com imagens extraordinárias. É bem
transferências ou "realocação" de verdade que muitos jornalistas morreram. Em
correspondentes internacionais. Também fala- nenhum outro conflito até hoje, tantos colegas
se em um "novo modelo" de cobertura morreram em tão pouco tempo. Em cenário
internacional, mas a verdade é que se tratava competitivo com muitas alternativas, todos
do fim de uma era. buscavam imagens ainda mais exclusivas e
sensacionais. Apesar das limitações impostas
Após anos de muita "gastança" em escritórios
pela censura militar americana, nenhuma outra
suntuosos com correspondentes desfrutando
guerra foi tão "imagética", permissiva e
vidas de "diplomatas", parece que a crise
televisiva como a guerra do Iraque. As
finalmente bateu à porta da cobertura
informações eram certamente filtradas,
internacional da emissora. Há muito tempo a
contraditórias e confusas. Mas poder assistir,
ameaça estava no ar e já se aguardavam
pela primeira vez, às imagens de tropas em
medidas drásticas em relação à cobertura
movimento captadas por pequenas câmeras
internacional da Globo. A enorme e luxuosa
digitais da CNN e transmitidas ao vivo via
redação da emissora em Londres já vivia "às
moscas", lembrança de outros tempos de Internet foi uma experiência inesquecível. Mas
grandes planos e muitos dólares. Os gastos também tornou muito difícil a vida dos demais
aumentavam e a produção diminuía. O correspondentes internacionais. Muitos ainda
dinheiro não sobrava para viagens e todos os preferem ou aceitam fazer suas coberturas
correspondentes tinham que se contentar em diretamente do conforto e segurança dos
estacionamentos mais próximos dos pontos de
cobrir o mundo do estacionamento da APTN
geração, seja em Londres ou seja no Kuwait. O
ou de qualquer esquina de Londres ou NY.
público que não é bobo e pode, muda de canal
A gota d'água pode ter sido a guerra no Iraque. ou desliga a TV. Depois é só culpar o público
Enviar coordenador de cobertura internacional, e a cobertura internacional pelo desinteresse e
chefe de bureau em Londres, para a cidade do queda de audiência para justificar mais cortes
Kuwait e transmitir as ultimas notícias das de verbas ou demissões.
agências via videofone não fazia mesmo o
menor sentido. O pior é que outro veiculo Em tempos de vacas magras, a cobertura
brasileiro, a Folha de S.Paulo, conseguiria internacional não tem que ser cara, mas
enviar seus correspondentes, Sérgio D'Ávila e certamente deve ser audaciosa e criativa.
Pesquisas recentes nos EUA e na Inglaterra
Juca Varella para o "olho do furacão". Em
comprovam que o público se interessa pela
contrapartida, assistíamos ao Marcos Uchôa
cobertura internacional, mas não aprova ou
todos os dias, ao vivo com aquelas imagens
aceita facilmente a "frieza" e distanciamento
precárias do seu "videofone" (sic), imóvel com
impessoal das coberturas homogêneas das
um indisfarçável ar de frustração e tédio
agências de notícias. A presença do repórter
anunciar os últimos acontecimentos
em Bagdá ou em países distantes e
diretamente do balcão de hotel 5 estrelas.
desconhecidos como Camboja personaliza a
Muito dinheiro para pouco esforço e ainda
cobertura. Garante qualidade e audiência, mas
menos cobertura jornalística. Enquanto isso

63
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

somente quando as matérias são bem jornalistas brasileiros são transferidos para
produzidas e fazem conexões com as Londres, não entendem nada de jornalismo
peculiaridades da cultura nacional. internacional e sequer falam inglês.
Cobertura internacional exige estratégias a Repito, ser correspondente internacional não
longo prazo que educam e formam um publico deveria ser prêmio ou oportunidade para
exigente. Mas, por outro lado, muito editores passar alguns anos no exterior desfrutando de
acreditam que podem mostrar o mundo nos um "televidão". Ser correspondente
telejornais com algumas "lapadas" – aquelas internacional deveria significar uma vontade
imagens rápidas, sem pé nem cabeça que tanto muito grande de viajar pelo mundo a qualquer
mostram enchentes em Bangladesh como custo e sempre em busca de boas pautas com
mostram desfiles de modas em Milão. Isso é pouquíssimo dinheiro no bolso, muitas idéias
no mínimo ingênuo e irresponsável, mas ou pautas na cabeça e muita coragem para
explica o desinteresse do público. enfrentar as dificuldades.
Sempre acreditei na cobertura internacional, Correspondente internacional contratado a
mas, de preferência, produzido por gente peso de ouro pelas grandes redes de TV parece
jovem e qualificada. Nada contra os veteranos. ser cada dia mais uma espécie em extinção.
Muito pelo contrário. Mas transformar a Hoje, muitos jornalistas que cobrem os
função de correspondente internacional da grandes eventos internacionais estão baseados
Globo em prêmio, homenagem merecida ou em suas próprias sedes, mas também estão
maneira de "esfriar" jornalistas famosos em sempre prontos para serem deslocados para
situações de perigo no Brasil, nunca me qualquer parte do mundo a qualquer instante.
pareceu a solução. Afinal, bem sabemos que Manter "embaixadas" ou escritórios suntuosos
você pode ser um excelente jornalista no exterior é coisa do passado. Hoje, a
especializado em esportes e coberturas cobertura internacional economiza trocados e
policiais e não entender nada de jornalismo correspondente tanto pode ser contratado
internacional. Assim como nem todo bom como pode ser um "free-lancer" em busca de
repórter se transforma da noite para o dia em uma oportunidade profissional no exterior. É
bom editor, nem todo bom repórter no Brasil um trabalho árduo, muito competitivo e
vai ser bom correspondente no exterior. Tem perigoso que envolve enfrentar situações
que ter uma vocação especifica dentro da extremamente hostis para cobrir eventos de
própria vocação do jornalismo. qualquer maneira, vencer barreiras cada vez
Em outros tempos pioneiros, pude participar maiores e convencer editores indiferentes a
de um outro momento histórico no jornalismo "comprar" as suas historias todos os dias. Não
da Globo. Nos anos 70, com uma censura é fácil, mas certamente é possível. Pode abrir
portas para muitos jovens jornalistas que
feroz nas redações brasileiras, a direção da
querem viajar, falam diversas línguas e estão
Globo na época resolveu investir na cobertura
dispostos a enfrentar muitas dificuldades. A
internacional. Nomes como Sandra
cobertura internacional em TV ainda custa
Passarinho, a primeira correspondente
caro, mas rende uma boa audiência para quem
brasileira de TV, passariam a ser referência de
sabe fazer.
qualidade em jornalismo para milhões de
brasileiros. Sandra foi transferida da editoria Mas o maior problema do jornalismo da Globo
do Jornal Internacional com Heron Domingues é não ter uma competição de verdade. Tanto
para o escritório de Londres aos vinte e poucos faz mudanças de modelo que implicam
anos. Era uma jornalista competente, mas não reduzir, realocar ou demitir correspondentes. É
era uma das estrelas globais. Falava diversas tudo pura questão de semântica para explicar
línguas e conhecia profundamente o noticiário ou justificar a necessidade de redução de
internacional. Bem sabemos que muitos custos. Mas, infelizmente, as demais emissoras

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

não oferecem uma alternativa à cobertura hora dos competidores acreditarem na


internacional. As poucas tentativas não foram cobertura internacional e, quem sabe,
bem sucedidas, tiveram vida curta e jamais atingirem o "calcanhar de Aquiles" do
chegaram a incomodar. Quem sabe, chegou a Império.

Referência bibliográfica
BRASIL, Antônio. “O fim de uma era”, in Comunique-se, 10 de outubro de 2003.

disponível em:
[http://comuniquese.com.br]

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• Quais devem ser os pré-requisitos para um correspondente internacional?

• Por que o autor afirma que o maior problema da TV Globo é não ter concorrência
na cobertura internacional?

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto XI
Crise na Cobertura Internacional
Antônio Brasil, 2002

A notícia é assustadora. Apesar dos atentados alternativas encontra enormes resistências de


nos Estados Unidos e a guerra no Afeganistão toda a ordem. O jornalismo internacional
os americanos continuam cada vez menos precisa ser sustentado por guerras ou desastres
interessados no noticiário internacional. É o para sobreviver.
que revela uma pesquisa realizada pelo Pew
Reduzir custos não é necessariamente o fim do
Research Center – e divulgada no domingo
jornalismo. É claro que se torna difícil ou
(9/6) pelo The Washington Post – que ouviu
quase impossível para aqueles que convivem
3.082 adultos e chegou às seguintes
com salários e despesas de embaixadores.
conclusões:
Buscar novas pautas e tecnologias dentro dos
Somente 12% dos americanos entrevistados padrões estabelecidos da ética, ou investigar o
acompanham o noticiário internacional. Em inusitado, não parece fazer parte de um novo
comparação a 2000, a porcentagem dos que menu de opções para boa parte do segmento
não se interessam pelo noticiário internacional internacional.
passou de 45% para 44%. O segmento que
mostrou mais interesse pelas informações
internacionais inclui os profissionais de mais Cova rasa
de 40 anos, mais especificamente as mulheres, E no Brasil? Como esses dados afetam o
e os maiores de 65 anos. Entre os futuro da nossa cobertura internacional? Se
entrevistados, 55% declararam ter acompanha- você acredita que, por uma questão de modelo
do o noticiário da TV na véspera da pesquisa, adotado, quase tudo o que acontece na TV
contra 72% em 1994. Outros 41% disseram ter americana tende a se refletir de alguma forma
lido um jornal, contra 49% em 1994. em nosso país, então estamos realmente com
Esses dados são importante e comprovam uma problemas.
tendência de muitos anos. Pelo jeito, o público No momento que a nossa categoria ainda está
americano insiste em ignorar o mundo. O país enlutada e perplexa pela morte violenta de um
investe maciçamente na repressão ao colega em circunstâncias que demandam, por
terrorismo em lugares distantes e prefere si só, o "melhor" do nosso jornalismo
menosprezar as lições do passado e do investigativo, talvez estejamos assistindo
jornalismo internacional. O otimismo inicial igualmente à morte da cobertura internacional.
de boa parte da crítica especializada em Se o jornalismo investigativo na TV com
relação à possível reversão dessa tendência direito às técnicas ocultas vive hoje o seu
após os ataques suicidas em solo americano apogeu, outros segmentos pagam a conta.
não parece ter se sustentado. Houve, sim, uma
reação imediata do público. Os primeiros A cobertura internacional dos noticiários de
índices apontavam um novo cenário, mas, por TV brasileira é hoje mera caricatura de outras
vários motivos, não foi possível aproveitar a eras. Em se tratando de Copa do Mundo com
oportunidade e virar o jogo. Se os noticiários direito à exclusividade, o massacre do
de TV estão em crise, o segmento jornalismo internacional no Brasil é ainda
internacional vive dias de desespero. Está mais significativo. O jornalismo se confunde
numa verdadeira encruzilhada. Ao ser com o marketing da própria emissora e dá-lhe
obrigada a reduzir custos para sobreviver, a de autopromoção, com divulgação incessante
cobertura internacional se torna imóvel e de quebras de recordes nos índices de
burocrática. A criatividade para buscar audiência durante todos os telejornais. Há
muito tempo nos acostumamos com a
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

violência das ruas e com a violência de um humanidade. Com todo seu poderio
noticiário que se recusa a manter o econômico e militar, ao se afastarem das
distanciamento legítimo entre os seus próprios notícias internacionais os americanos parecem
interesses econômicos e os interesses do apontar para tempos ainda mais difíceis. A
público. Afinal, para que tanta notícia? informação utilitária imediata supera os
Internacional então, nem se fala – ou nem se dividendos de uma cobertura mais ampla,
cobre! A pátria de chuteiras, com o voltada para a conscientização do público.
telejornalismo a reboque, esquece o resto do Globalização não é só abertura de fronteiras
mundo e se torna apêndice do plantão das econômicas. Deveria ser uma orientação da
agências internacionais. Ou seja, quase nada. ordem planetária na qual o jornalismo tem um
Independente da Copa, os motivos por esse papel essencial. Mas quando o sucesso se
desinteresse do público está na falta de transmuda em índices de audiência e as
notícias, está no mundo e... no público. Não se notícias locais privilegiam as amenidades,
fazem mais guerra fria e ameaças de existe pouco espaço para o jornalismo
investigativo sério. A apuração se confunde
holocausto nuclear como antigamente. Os
com sensacionalismo, torna-se perigosa, mata
tempos mudaram e a TV decidiu que ninguém
jornalista e faz com que a cobertura
mais se interessa por nada que esteja
internacional também seja declarada
ocorrendo além das próprias fronteiras. Os
"desaparecida" – ou enterrada em cova rasa no
fatos recentes e a História comprovam que isso
cemitério do "novo" jornalismo de televisão.
é muito perigoso.
Um jornalismo de resultados com jornalistas
Ainda em relação aos americanos, os dados da mortos em todo o tipo de guerras e pautado
pesquisa do Pew Center apontam para um pela redução de custos, aumento de riscos e do
isolacionismo informacional por parte lucro.
daqueles que decidem o futuro de toda a

Referência bibliográfica
BRASIL, Antônio. “Crise na cobertura internacional”, in Videotexto.tv, .

disponível em:
[http://videotexto.tv.br]

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• É o público que não tem interesse em notícias internacionais ou é o atual noticiário


internacional, da forma como é feito, que não desperta interesse?

• O que pode ser feito para atrair a atenção do público para o noticiário
internacional?

67
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto XII
Cobertura Internacional é para gente grande
Cristiana Mesquita, 2002

Ao ser instada por este Observatório a escrever seja apenas uma questão de custos.Grandes
sobre a cobertura do conflito no Oriente Médio redes em todo mundo também foram forçadas
pela mídia brasileira, minha primeira reação a fechar escritórios e a reduzir equipes. A
foi rápida: "Que cobertura?". E tive que parar diferença é que elas se adaptaram aos novos
e pensar. O que estaria impedindo a Globo de tempos de vacas magras.
enviar uma equipe a Israel? A Globo, sim,
porque no Brasil é a única emissora a produzir
uma cobertura internacional própria. Novas tecnologias
Confesso que tem sido uma tortura Há duas maneiras de cobrir um conflito
acompanhar o noticiário nacional sobre o violento ou guerra – seja em Israel, no
Oriente Médio. Tenho preferido assistir aos Afeganistão, na Bósnia ou qualquer outro
telejornais da CNN ou da BBC – ao quais, lugar.
apesar de não serem perfeitos, ao menos têm Você pode planejar sua cobertura como uma
equipes reportando do olho do furacão. Se é grande rede americana, que envia equipes de
uma tortura para mim, fico imaginando que pelo menos 10 pessoas, mais suas próprias
como devem estar se sentindo os facilidades de geração, e isso custa uma
correspondentes internacionais da Rede Globo. verdadeira fortuna. Ou você manda um
Tenho certeza que os repórteres da Globo pequeno grupo de profissionais altamente
estão infelizes por ter que destrinchar horas de treinados que vai saber se virar com o mínimo
imagens enviadas pelas agências para, depois, de recursos. As emissoras brasileiras não têm
escrever um texto, também baseado nas dinheiro para a primeira opção e nem os
agências, e, finalmente, descer três lances de profissionais, para a segunda.
escada para encerrar a matéria com uma Os jornalistas brasileiros que são enviados
"passagem" de Londres... para o exterior foram criados e treinados nas
Desde o fim da ditadura, quando a cobertura emissoras, onde acostumaram-se a contar com
internacional era fundamental para tapar os uma estrutura de trabalho que jamais
buracos deixados pela censura nos telejornais, encontrarão no campo. Nas minhas coberturas
as emissoras brasileiras optaram por delegar de guerras para agências internacionais de
essa tarefa para as agências internacionais de notícias, raramente contei com mais de duas
notícias e para a CNN. Os altos custos de pessoas na equipe. E para que isso funcionasse
cobertura, aliado à idéia (totalmente absurda) era necessário que todos fizéssemos de tudo.
de que o público brasileiro não se interessa por Repórteres e cinegrafistas são treinados para
matérias do exterior, foi a pá de cal no fazer muito mais do que suas respectivas
jornalismo internacional de qualidade na funções exigem. Já aconteceu, por exemplo, de
televisão brasileira. eu estar ocupada produzindo ou escrevendo
A Globo se esforça. Mantém escritórios em uma matéria e o cinegrafista sair correndo para
Londres e Nova York e, mesmo sem ter fazer uma entrevista; ou então o cinegrafista
competidores, continua buscando os furos de estar ocupado com uma edição e eu ter que
reportagem – como a entrevista com sair para gravar imagens complementares.
brasileiros que estão passando o pão que o Os tempos mudaram e a televisão, por mais
diabo amassou em Ramallah, por telefone. É irônico que pareça, deve se mirar no exemplo
melhor do que nada, mas não posso aceitar que dos bons e velhos repórteres de jornal que

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

saíam da redação de ônibus, com um endereço Muita gente talvez não tenha notado, mas a
num pedaço de papel e uma câmera cobertura internacional da Globo melhorou. Houve
fotográfica pendurada no ombro, e voltavam uma época em que as matérias de fora entravam
com a matéria. Talvez esteja exagerando um como "lapadas", isto é, dez segundos para cada
pouco, mas esse é o espírito. assunto, como uma revista em que as páginas eram
viradas rapidamente dando tempo de ler apenas as
Cobertura de guerra é muito caro, a começar
manchetes. Hoje já se pode ver longos minutos
pelo seguro de vida dos profissionais. Se
dedicados a uma matéria com participações de
alguém já se deu ao trabalho de ler as letrinhas
correspondentes em Londres, Nova York e
de alguma apólice de seguros vai notar que
Washington.
todas esclarecem que não cobrem acidentes
ocorridos em zonas de guerra. Depois, vêm os O Jornal Nacional, que tem um padrão
custos de transmissão, hotéis, aluguel de carro, extremamente rígido, inovou colocando no ar o
intérpretes, diárias e por aí vai. Não se pode trabalho do videojornalista Luis Nachbin, que viaja
abrir mão do seguro, mas, para todo o resto, o mundo sozinho gravando suas próprias matérias.
uma equipe bem treinada pode dar um jeito. Por enquanto são apenas matérias frias, com
formato quase idêntico ao das reportagens
As redes brasileiras de TV também têm sido
tradicionais, mas já é um começo. A Globo se
incrivelmente lentas em reagir às novas
arriscou, e muito, quando colocou no ar, para
tecnologias. Boa parte das equipes que
reportar direto do Afeganistão, uma completa
estavam cobrindo a guerra no Afeganistão já
desconhecida que nunca fez sequer uma aulinha de
usavam pequenas câmeras de vídeo e
dicção. Está certo que houve um momento de
transmitiam suas matérias pelo computador. A
pânico na redação quando me perguntaram se eu
própria CNN faz isso o tempo todo. O
tinha um blazer para fazer o "ao vivo" – e eu
videofone, que permite ao jornalista entrar ao
vivo de qualquer lugar do mundo utilizando respondi que não tinha blazer nem batom e o que o
apenas uma linha telefônica, já tem qualidade cabelo não era lavado havia pelo menos 5 dias. Foi
suficiente para ser adotado em qualquer importante lembrar a eles que eu estava em Cabul
telejornal com relatos de primeira mão. e não em Brasília.
Correspondente de guerra não é estrela, é operário.
Dou minha cara a tapa se uma entrada do
Trabalha feito operário e vive como operário. E
repórter Caco Barcelos via videofone no Jornal
não adianta mandar uma equipe para marcar
Nacional, mesmo que com a qualidade inferior
presença por uma semana para acompanhar a
mas falando direto de Israel, não daria o maior
visita a Israel do secretário de Estado americano
ibope.
Colin Powell. A equipe tem que ficar lá o tempo
necessário para entender a história (ainda não
Paletó e gravata inventaram maneira melhor para cobrir um fato),
estabelecer contatos e se entrosar com a pequena
O conflito em Israel, que a qualquer momento comunidade de correspondentes de guerra que, no
pode descambar para uma crise geral no final das contas, são as únicas pessoas com quem
Oriente Médio com conseqüências se pode contar quando alguma coisa dá errado.
inimagináveis para todos nós, enquanto isso
vai deixando de ser a matéria de abertura dos O correspondente de guerra tem que ter a
telejornais e daqui a pouco passa para o experiência que vai lhe permitir total autonomia
segundo bloco, depois para o terceiro, até virar para decidir o que cobrir – e como. O
uma notinha. Aí vão dizer que é porque o correspondente de guerra tem que estar
público cansou da história quando, na verdade, familiarizado com todo o tipo de tecnologia que
o público cansou é de ver aquela matéria fria vai facilitar e baratear sua cobertura.
que não acrescenta nada ao que já não tenha Resta saber se a Globo está disposta a tirar o
visto nos jornais ou em outro canal. paletó e a gravata e botar a mão na massa.
Esperamos que sim.
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Referência bibliográfica
MESQUITA, Cristiana. “Cobertura internacional é para gente grande”, in Observatório
da Imprensa, 17 de abril de 2002.

disponível em:
[http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/mo170420021.htm]

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• O qie a autora quer dizer com “correspondente de guerra não é estrela, é


operário”?

• Que inovações podem ser aplicadas no formato e no conteúdo do Jornalismo


Internacional em televisão?

70
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto XIII
Cobertura Brasileira sobre Guerras
Entrevista com Jayme Brener, 2003

O professor e sociólogo Jayme Brener assumiu a cadeira de História da Comunicação na


Cásper. Brener foi professor do curso de pós-graduação em Jornalismo Internacional da PUC-
SP, chefe da Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal de S.Paulo e da Companhia
Municipal de Transportes Coletivos (CMTC).
Com extenso currículo, foi editor da IstoÉ, editor-assistente de Veja e do Jornal da Tarde,
redator da Folha de S. Paulo, correspondente do Jornal do Brasil na América Central e da
Rádio Eldorado na Europa.
Ganhou três prêmios pelo trabalho jornalístico, entre eles o Prêmio Jabuti, em 1999. É autor do
livro Jornal do Século XX (Moderna, 1998, R$39,50). Atualmente, Brener dirige a Ex-Libris
Assessoria e Edições, empresa que presta assessoria de imprensa e elabora publicações
empresariais.
Nessa entrevista, Brener fala sobre como a imprensa brasileira se comporta na cobertura dos
conflitos internacionais e conta um pouco da sua experiência como correspondente de guerra.
“Sou um contador de histórias que usa instrumentos diferentes a cada momento”, diz Brener
sobre a utilização de seu conhecimento histórico na profissão de jornalista.

Como o sr. vê a cobertura da imprensa Como a cobertura norte-americana das


brasileira sobre a guerra no Iraque? Quais guerras influencia o jornalismo brasileiro?
veículos retratam o conflito de maneira fiel A imprensa nacional faz apologias?
e quais o cobrem de maneira errada? Brener – A imprensa brasileira quase não tem
Brener – Ainda é cedo para saber, uma vez que mais correspondentes internacionais. Haverá
a guerra não começou. Mas há uma diferença poucos colegas na cobertura da guerra. Isso
fundamental entre a cobertura desta quer dizer que dependeremos basicamente das
protoguerra e do conflito de 1991. Hoje, o agências internacionais. Ainda assim, o grau
mundo todo está contra a guerra, inclusive a de divisão que esta guerra vem provocando
imprensa brasileira. deve garantir uma cobertura mais pluralista.

A imprensa retrata a guerra de maneira Para qual veículo o sr. trabalhava quando
justa e imparcial? Ela pode realmente cobriu a Guerra da Nicarágua e como foi
influenciar a população a favor ou contra essa experiência? O que mudou na
um conflito armado? cobertura das guerras desde então?
Brener – Quando se fala em imprensa, Brener – Cobri o conflito para o Jornal do
conceitos como “justiça” ou “imparcialidade” Brasil e depois para a Rádio Eldorado e,
são discutíveis. Tanto é assim que toda a principalmente, para o Jornal da Tarde. A
imprensa brasileira é “parcial” no caso, é experiência foi fantástica, com um detalhe: eu
contra a guerra. A mídia pode influenciar a era stringer, isto é, um free lancer fixo. Quer
população em relação a um conflito armado. A dizer, não tinha nenhuma estrutura de apoio.
cobertura altamente profissional da Guerra do O que mudou na cobertura tem a ver com o
Vietnã (quase sem censura, ao contrário de fim da Guerra Fria. Hoje, nas grandes guerras,
hoje) teve papel decisivo para o crescimento o jornalista é muito mais monitorado. Veja-se
do movimento pacifista nos EUA. o caso da Guerra do Golfo, em 1991. É quase
impossível imaginar um jornalista ocidental

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

entrando na guerra pelo lado iraquiano. Na na 2ª Guerra Mundial, ou dos argelinos contra
América Central e no Oriente Médio, tive a o colonialismo francês, nos anos 50 e 60, são
sorte de poder cobrir a partir de vários lados exemplos disso.
diferentes.
Como o conhecimento da história o ajudou
Qual sua visão sobre o Oriente Médio e a no jornalismo?
relação deste com a imprensa? Brener – Por muito tempo tive uma certa crise
Brener – Acho que estamos diante de uma de identidade Sou jornalista, professor de
situação sem solução de curto prazo. De um história, historiador ou o quê? Hoje, acho que
lado há o governo de Israel, que eterniza a essa divisão foi fundamental para o meu
ocupação dos territórios dominados. De outro trabalho. Sou um contador de histórias que
lado, com Yasser Arafat temendo a força do utiliza instrumentos diferentes a cada
integrismo islâmico, não se vislumbra momento.
nenhuma força disposta a negociar de fato, o
que implicaria em concessões mútuas. Os dois Até que ponto o sr. nota uma diferença de
lados parecem se orientar apenas pela método entre jornalismo e história?
destruição absoluta do outro. Brener – A pesquisa histórica requer um certo
distanciamento de tempo que o jornalismo não
É voz corrente que numa guerra a primeira pode tolerar. Mas há inúmeros pontos de
vítima é a verdade. Como o sr. mantém a intersecção. A narrativa de uma guerra é
verdade em uma cobertura de guerra? fundamental para a construção da massa crítica
Brener – O que é verdade? Isso não existe. O da historiografia. É isso que vou tentar
que há é a busca por ouvir vários lados, ser trabalhar no curso da Cásper.
mais ou menos objetivo. Mas qualquer matéria
é versão, a partir da própria escolha dos Como autor de livros paradidáticos, o sr.
tópicos principais. Isso é “uma” verdade. acredita que o texto didático influencia o
texto jornalístico?
Para os pacifistas, nenhuma guerra é justa, Brener – Acho que uma das coisas mais
pois, independentemente da razão pela qual interessantes do jornalismo é o
se luta, pessoas morrem. Já os defensores desenvolvimento da habilidade de escrever de
dos conflitos armados alegam que uma formas diferentes, para públicos diferentes. O
guerra pode ser justa dependendo do que a garoto que lê um paradidático não é o
motiva. Na sua opinião, existe guerra justa? empresário que lê um release ou o engenheiro
Brener – Essa hipótese sobre a posição dos que lê uma publicação técnica. Acho que um
pacifistas não me parece correta. Uma guerra dos temperos do ofício é justamente a arte de
contra a ocupação pode ser justa. O conflito contar histórias de formas diferentes.
dos resistentes contra a ocupação nazi-fascista,

Referência bibliográfica:
Entrevista de Jayme Brener concedida a Fabiana Panachão e Noêmia Lopes, alunas
do 3º ano de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero (São Paulo)

disponível em:
[http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=182&ed=2]

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto XIV
Jornalismo sem Fronteiras
(História da CNN)
Sidney Pike, 1991

Ted Turner começou a sua vida profissional A distribuição do sinal que enviávamos para o
trabalhando no negócio criado pelo pai: uma satélite era feita a partir das instalações de TV
empresa de publicidade em outdoor. Depois a cabo de cada cidade. O sistema ainda era
quis entrar no show business e comprou bem incipiente, porque as leis da época só
algumas estações de rádio, que não fizeram permitiam que o cabo fosse usado para
muito sucesso. Seu passo seguinte foi uma retransmitir as estações locais. Quem iria
pequena estação de TV em UHF, que também pagar pela TV a cabo, quando podia sintonizar
ia mal porque, na época, 1970, só as redes as estações locais diretamente com a antena e
eram bem sucedidas, obtendo mais ou menos de graça? Mas o governo mudou essa situação,
96% da audiência. Dessa forma, quando ele permitindo que as estações de TV a cabo
me chamou para trabalhar eu hesitei muito, avançassem para além do seu mercado local.
porque eu era um profissional e ninguém com Foi nessa ocasião que Ted colocou no satélite
experiência em TV trabalharia para uma a nossa estação, que tinha uma programação
estação terrível, que os telespectadores mal de entretenimento e esportes. Eu era o
podiam localizar. administrador da estação e comecei a receber
cartas até de Yukon, no Alaska, pedindo que
Naquele tempo, não havia esses seletores de
transmitíssemos determinados filmes, e assim
canais com botões para apertar. O seletor de
por diante. Eu não conseguia acreditar que as
UHF a gente girava, como o dial do rádio, e
era difícil sintonizar os canais. A emissora de pessoas, àquela distância, estavam recebendo
Turner era uma das que estavam "perdidas no nosso sinal.
dial", mas, assim mesmo, resolvi trabalhar Nesse começo, as redes nacionais de TV
com ele. Logo descobrimos que os únicos baseadas em VHF, UHF e microondas eram
telespectadores que conseguiam encontrar o bem superiores às emissoras a cabo e
nosso sinal eram as crianças. Elas não se abrangiam todos os Estados Unidos. O resto
incomodavam de girar o botão até achar o que do mercado de teledifusão era muito fraco.
queriam. Por isso, começamos a lutar para sair
Mas Ted teve uma idéia que fez com que a TV
do anonimato colocando no ar programas
a cabo se expandisse: criou um serviço de
infantis.
notícias para ficar 24 horas no ar. Assim, no
Aceitar o convite de Ted Turner foi, dia 1 de junho de 1980, inauguramos a Cable
provavelmente, a decisão mais inteligente que News Network, CNN.
já tomei na vida. A pequena estação em UHF
A CNN é hoje a maior rede de TV a cabo dos
que ninguém assistia logo seria vista por todo
Estados Unidos. Atinge 58.892.000
mundo – literalmente. Em 17 de dezembro de
residências, o que corresponde a 63,3% de
1976, nós começamos a transmitir o seu sinal
todos os lares americanos. Seu índice de
para um satélite e foi então que a coisa
audiência mais alto foi alcançado durante a
começou para valer. Apertamos um botão e, de
Guerra do Golfo: 23%, durante quinze
repente, a estação podia ser vista em todos os
minutos. Foi um índice cinco a sete vezes
Estados Unidos, além do Canadá e da América
maior do que os usuais. junto aos jovens, a
Central. Inicialmente, porém, só estávamos audiência atingiu uma faixa mais expressiva,
interessados nos Estados Unidos. variando de dez a treze vezes mais do que o
normal.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Mas o sucesso veio bem antes de janeiro e perguntaram se eu gostaria de assumir o


fevereiro de 1991. Logo que apareceu, a CNN comando do setor internacional.
começou a incomodar os concorrentes e alguns
Aceitei imediatamente. Em janeiro de 1984,
deles, como a ABC-TV e a Westinghouse,
comecei minha primeira viagem pelo Pacífico
decidiram criar o seu próprio serviço de
e voltei com acordos que equivaliam a um
informações 24 horas. Tão logo eles os
total de quase dois milhões de dólares. Foi
anunciaram, em 1982, Ted reagiu com outro
assim que tudo começou.
serviço de notícias, com outro formato:
Headline News. O único sinal disponível em satélite naquela
época era o nacional americano, que abrangia
O noticiário original da CNN tinha longa
também o Canadá e a América Central. Porém,
duração. Os jornais poderiam ter uma hora,
havia mais um, que não era comercial: o
duas, quanto tempo demorassem para dar a
Serviço de Rádio e Televisão das Forças
notícia. O serviço da Headline News, ao
Armadas, o AFRTS. Ele tinha uma
contrário, só durava meia hora.
programação de 24 horas de duração, com
Eram trinta minutos de programa que se programas emprestados da NBC, CBS, ABC e
repetiam seguidamente. Enquanto ia passando, CNN, que, aliás, ocupava metade do tempo.
mais notícias eram recolhidas. Portanto, Obtive, então, o direito de utilizar o sinal do
alguém que estivesse com pressa e não tivesse AFRTS, já que estávamos cedendo material
tempo para sentar e assistir a notícias longas, sem cobrar nada. Um dos sinais desse satélite,
poderia ver um resumo em meia hora. Se
que foi projetado para chegar até as forças
sintonizasse o canal, por exemplo, às 10h05,
estacionadas na Islândia, além de cobrir o
perderia os primeiros cinco minutos do jornal.
Oceano índico e a Europa, abrangia também
Mas assistiria aos 25 minutos restantes e
toda a África e América do Sul, exceto o Peru
continuaria ligado para assistir aos cinco
e o Equador. Isso me permitiu fazer acordos na
minutos iniciais do próximo noticiário. O
América do Sul e na África.
telespectador sempre tinha acesso à meia hora
completa de notícias. Agora já temos um sinal próprio, na faixa
chamada KU. Ele é menor e o mais potente.
A distribuição internacional dos nossos Quanto menor o sinal, mais poderoso ele é. E
serviços teve início por acaso. quanto mais poderoso, menor a antena que
Estávamos realizando experiências de exige para recepção.
retransmissão do sinal no Pacífico, quando os
Uma das primeiras coisas que descobri na
australianos perguntaram se podiam testar a
minha primeira viagem ao Pacífico, quando fui
CNN. Então, "videoplexaram" o nosso sinal.
fechar acordos com o Japão, foi que havia um
Isso significa que apanharam o seu
consórcio chamado Intelsat, que controlava
transponder, dividiram as linhas no meio e todos os satélites ao redor do mundo, exceto os
intercalaram as notícias da CNN com as soviéticos. Essa organização é formada por
notícias nacionais em seu sinal habitual, cerca de 117 países e os representantes de cada
obtendo duas imagens em vez de uma. Os país são as PTTs, isto é, as empresas de post-
japoneses também fizeram experiências desse telegraph-telephone (correio, telégrafo e
tipo. Quando percebemos o potencial desse
telefone). A Embratel é a PTT do Brasil.
uso múltiplo dos satélites, um dos membros da
nossa equipe foi tentar vender a CNN a outros Descobri que as PTTs formam um monopólio.
países que pudessem receber o nosso sinal, Ganham bastante dinheiro com a
além do doméstico. retransmissão de sinais e não querem mudar o
sistema.
Durante dois anos, porém, esse colega não
conseguiu realizar uma única venda e em Quando fiz o acordo com a TV Asahi, por
dezembro de 1983, pediu demissão. Então me exemplo, ela teve que pagar um milhão de
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

dólares por ano à KDD, a PTT japonesa, para Mas os problemas não eram muito diferentes
receber o nosso sinal, quando poderia fazer quando se tratava de administrar o nosso sinal
isso usando simplesmente uma antena 20 nacional. Em reunião com nosso departamento
vezes mais barata. Além disso, a PTT fez com jurídico, criamos um documento chamado
que o sinal fosse enviado a 60 milhas de "Programa de Dispensa de Direitos Autorais".
distância de Tóquio, obrigando a Asahi a Com ele, podíamos dizer a um país do Caribe
investir mais 500 mil dólares em microondas ou da América Central que não iríamos
para trazê-lo até a cidade. Nossos parceiros processá-los se estivessem utilizando nosso
tiveram que desembolsar, então, um milhão e sinal, protegido por direitos autorais. Mas
meio de dólares pelo sinal, quando tudo o que também dizíamos a eles que obter o sinal era
tinham que fazer era pagar 50 mil dólares por problema deles...
uma antena e colocá-la do lado de fora da Essa foi a forma que encontramos para
estação. Mas era a PTT que controlava o envio começar e, com o tempo, conseguimos
de sinais do satélite para a Terra. desgastar o esquema que nos tolhia. Primeiro,
Quando fui a Taiwan, encontrei com fizemos um acordo com o Intelsat, chamado
representantes das três redes de emissoras "Sinal de Multitransmissão". Começamos a
locais e expliquei-lhes que a CNN estaria à pagar não só pelo envio do nosso sinal ao
disposição. Mostrei como nosso trabalho era satélite, mas também todos os encargos
realizado e eles aceitaram operar conosco. normalmente desembolsados pelas estações
Então, perguntaram: "como teríamos recursos receptoras, para trazer os sinais à Terra. Todos
para receber o sinal?" os custos passaram a ser cobertos pela CNN e
qualquer pessoa podia receber o sinal. O único
Eu entendi o que queriam dizer. Quando os problema no acordo era que as PTTs tinham
satélites apareceram, trinta anos atrás, as que aprová-lo.
estações recebiam apenas dez minutos de
A outra forma que encontramos para romper o
notícias por dia, contendo de três a quatro
monopólio surgiu no Brasil. Este era um país
histórias. O pagamento do envio do sinal à
crucial para a nossa estratégia, porque
Terra foi estabelecido da seguinte forma: 350
acreditávamos que se o Brasil entrasse no
dólares pelos dez primeiros minutos e 29
nosso sistema, todo o resto da América Latina
dólares para cada minuto adicional. Eu não
estava oferecendo transmissões de dez o seguiria. Na época, um homem chamado
minutos, mas uma programação de 24 horas. René Anselmo, que era um dos donos da SIN -
Então peguei minha calculadora e fiz 29 Spanish International Network, tinha acabado
dólares vezes 60 minutos, vezes 24 horas, de vender sua parte na empresa por mais de
vezes 365 dias. Dava mais de 16 milhões de 200 milhões de dólares e resolveu gastar 100
milhões para construir um satélite denominado
dólares.
PanAm Sat, que abrangeria toda a América
Disse a eles que as três emissoras, juntas, Latina. Anselmo construiu, de fato, mas
iriam pagar apenas cerca de 400 mil dólares ninguém o utilizava. Então, ele nos procurou.
por ano pelo nosso serviço. Mas eles
Imediatamente vi a oportunidade de utilizar
lembraram que tinham que prestar contas à
PTT e que ela não aceitaria que o negócio esse satélite em nosso benefício. Mas, o
fosse fechado fora das regras estabelecidas. Intelsat, percebendo que, pela primeira vez,
Exigiria que pagassem 16 milhões de dólares enfrentaria competição, tornou-se mais
para receber um sinal que eu estava flexível nas oportunidades que nos oferecia.
oferecendo por 400 mil... Só que a Embratel não queria permitir que o
Intelsat fizesse uso de seus satélites para
Esse era o tipo de situação que tínhamos que
transmitir o sinal como necessitávamos. Sua
enfrentar no exterior.
rigidez era um grande problema.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Foi quando alguém deu uma olhada na lei qual seja o seu noticiário local, você pode
brasileira e descobriu que, embora a Embratel incluir as nossas histórias. É um serviço novo,
fosse apontada aí como a responsável pela igual ao da VisNews ou da WTN. A segunda
transmissão dos sinais dos satélites brasileiros opção são as notícias de impacto, as mais
e do Intelsat à Terra, não havia nenhuma importantes e de maior efeito. Assim que algo
menção a respeito de outros satélites. Era o acontece, nós colocamos imediatamente no ar,
nosso caso. Tínhamos um satélite particular, de modo que o fato pode ser visto na mesma
que não era nem nacional, nem internacional, e hora em que está acontecendo e ao mesmo
cujo proprietário era um indivíduo. A tempo em que as pessoas em Washington,
Embratel teve de admitir que não era Londres ou Tóquio também o estão vendo. Foi
responsável por esse satélite e conseguimos a o serviço utilizado durante a Guerra do Golfo,
permissão para transmitir o sinal, como por exemplo. Na terceira opção, permitimos
fazemos agora no Brasil. que os licenciados utilizem nossas outras
O melhor exemplo desse problema com a atrações: programas de ciência e tecnologia,
alimentação, nutrição, moda, cozinha, etc. A
Embratel foi o caso da TV Manchete. Três ou
emissora de televisão licenciada pode utilizar
quatro anos atrás, vim ao Brasil e fiz um
esse material não apenas em noticiários, como
acordo com a Manchete, que foi a primeira
também em seus próprios programas.
estação daqui a se interessar pela CNN.
Além das emissoras, vendemos um serviço de
Assinamos um contrato que dependia da
aprovação da Embratel, permitindo a TV a cabo para os países onde o sistema já
transmissão do sinal pelo seu sistema, já que está implantado. Nossos clientes são hotéis e
eles não tinham condições de pagar por 24 também particulares que possuem antenas
horas de transmissão pelo nosso. O pessoal da parabólicas. Jornais recebem nossas imagens e
Manchete não conseguiu fazer com que o colocam monitores na redação, para que todos
vejam o que está acontecendo no mundo.
governo concordasse com isso, até o
surgimento do PanAm Sat. Mas depois que a Nós fornecemos as imagens da CNN a todos
Embratel aceitou os nossos argumentos legais, os líderes mundiais. E de graça. Elas são vistas
tudo se acertou e, conforme o previsto, todos por Gorbatchov, Ieltsin, Bush, todos eles. Há
os outros países sul-americanos permitiram uma história sobre um primeiro-ministro de
que continuássemos. Bahrein que foi ao Hemsley Plaza Hotel de
Alguns anos atrás criamos um terceiro canal Nova York com sua comitiva. Ele chegou, foi
de 24 horas de duração, especialmente para para a sua suíte e foi logo ligando a televisão
transmitir para fora dos Estados Unidos: o na CNN. Mas, por alguma razão, não
CNN International. Ele não é um canal tão conseguiu encontrar o canal e ligou para a
recepção. Desculpando-se, a recepcionista
americano. O interessante é que os únicos que
informou que o hotel não assinava a CNN. Na
fizeram objeção foram os japoneses, porque
mesma hora, o primeiro-ministro saiu do
queriam assistir a tudo o que estivesse
quarto, mandou pagar a conta e ordenou aos
relacionado com os Estados Unidos. Ainda
assessores que encontrassem um hotel que
hoje, em alguns casos, eles trazem o sinal
recebesse o nosso sinal.
nacional da CNN ao Japão para utilizá-lo em
seus noticiários. De qualquer forma, agora Fornecemos serviços atualmente a 122 países.
temos um sinal internacional separado, para os Mas é certo que eles atingem uma audiência
nossos clientes ao redor do mundo. dez, vinte, talvez 100 vezes maior onde há
Oferecemos três opções de serviços. A algum tipo de pirataria. A CNN é vista em
muitas partes do mundo por qualquer pessoa
primeira são notícias compactas, contendo
que possua uma antena parabólica. O sinal só é
histórias que acontecem a toda hora e são
codificado no hemisfério ocidental, nas
inseridas nos noticiários locais. Não importa

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

transmissões nacionais e no PanAm Sal. Mas Hussein queria aparecer na televisão, mais
utilizamos um satélite soviético chamado especificamente na CNN, para que o mundo
Statsionar 12, que abrange metade do mundo e inteiro escutasse o que ele tinha a dizer, eu
é captado, sem codificação, na África, na Ásia recebia um telefonema do Iraquee o transferia
Meridional e no Oriente Médio. ao setor internacional da CNN. Cinco minutos
depois, porém, eles me ligavam de novo. Não
A pirataria é feita de várias formas. Há, por
importava quantas vezes eu os transferisse, o
exemplo, o que chamo de "Sistema
telefonema sempre passava pelo meu
Guatemala". Quando fui àquele país fazer
escritório. Para eles, o meu cartão escrito em
acordos para a CNN, descobri como funciona.
Em um lugarejo qualquer, alguém instala uma árabe era o meio de fazer Saddam aparecer na
antena e consegue receber as imagens da televisão...
CNN. Então o seu vizinho pede para receber Há alguns comentários a fazer sobre as
também. Eles puxam um fio da primeira casa condições de reportagem na Guerra do Golfo.
até a do vizinho. Então outro vizinho diz que Travou-se uma grande polêmica sobre o rigor
também quer assistir a CNN e puxa outro fio das Forças Armadas. Li recentemente um
até sua casa. Assim, os fios vão se espalhando artigo que foi publicado na revista da
até que se tenha um serviço de cabo. O único Universidade de Syracuse, com o qual
problema é que ninguém paga por ele... concordo plenamente. O artigo foi escrito por
Mel Elfen, um membro de grande destaque do
A CNN é pioneira em propaganda
internacional. Temos um departamento que faz “quarto poder” em Washington, e ele próprio
acordos com patrocinadores ou clientes chamou suas observações de
interessados em anunciar mundialmente. A “anticonvencionais”. Elfen trabalha na
18M, por exemplo, é uma dos clientes mais imprensa desde que se formou, em 1951, no
importantes que temos. Mas, à parte as curso de Jornalismo de Syracuse. Durante
vinte tumultuados anos, entre 1965 e 1985, ele
considerações comerciais, uma característica
foi chefe do escritório da revista Newsweek em
da CNN é que através dela muitos povos
Washington. Atualmente é o redator de
descobrem como outros países são
reportagens especiais na US News & World
conduzidos. Opiniões sobre as formas de
Report.
governo no mundo ou sobre as bolsas de
valores agora correm de país em país. A Ele diz que os jornalistas em ação no Golfo, ao
informação é instantânea. Cenas de fome, contrário dos generais, estavam lutando a
tragédia e repressão estão à disposição de guerra anterior, a do Vietnã. O desapareci
quem quiser assistí-las. Foi por isso que a mento da credibilidade do poder público após
Guerra do Golfo concentrou tanto a atenção a guerra do Vietnã provocou o surgimento de
mundial. uma geração de jornalistas céticos e
antagônicos ao poder.
Visitei o Golfo um pouco antes da guerra, no
final de 1989. Fui a Omã, Bahrein, Arábia Para eles, o Vietnã tornou-se um modelo de
Saudita, Kuwait e Iraque. O fato de ter como cobrir uma guerra, de como ganhar uma
trabalhado com a televisão no Iraque, enorme reputação como jornalista. E muitos
conseguindo acordos para a CNN, e deles desses jornalistas foram parar no centro de
terem participado da Conferência Mundial de imprensa de um hotel de Riad.
Reportagem que realizamos em Atlanta todos Mas, no deserto, a situação era completamente
os anos, foram as únicas razões pelas quais diferente. Não havia aldeões com quem se
conseguimos um bom relacionamento. Quando misturar, não se podia fazer um apanhado dos
parti do Iraque, logicamente deixei meu cartão
corações e mentes do campo. Não se marchava
com eles, que vinha escrito em inglês na frente
com as tropas até a frente de batalha. Não
e em árabe atrás. Assim, sempre que Saddam
havia nenhuma oportunidade de se fazer uma

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

reportagem exclusiva. “No Golfo”, diz Elefen, A imprensa tinha que enfrentar também outro
“não havia muito para se ver”. A guerra teve problema: o fato da CNN estar transmitindo
uma duração de seis semanas, com um conflito todas as instruções militares. Diariamente
em terra que durou apenas quatro dias. Por transmitíamos os briefings matinais dos
esse motivo, a imprensa ficou frustrada e Estados Unidos, do Reino Unido e da França,
atacou violentamente as restrições. assim como da Arábia Saudita. A imprensa
estava nesses lugares para obter as mesmas
O fato é que essa não foi uma guerra
notícias que as pessoas recebiam em suas
jornalística. Não havia ambigüidades a
casas. Assi m, era bem compl icado enviar ao
investigar. A imprensa é notável quando há
ambigüidades e houve bastante em Saigon. A editor uma reportagem a que ele já tinha
imprensa ridicularizava os briefings militares assistido. Isso pressionava bastante os
diários, os chamando de "as loucuras repórteres e os deixava frustrados. Mas serviu
exageradas e enganadoras das cinco horas". para mostrar a eles como está mudando a
Por outro lado, Elfen elogia os instrutores forma pela qual as notícias são colhidas e
apresentadas.
militares do Pentágono e de Riad, dizendo que
eles formaram um grupo bastante honesto. Devemos guardar de recordação alguns dos
Diz, ainda, que não repetiram os erros jornais que lemos hoje, porque não os veremos
cometidos nos briefings da fase de treinamento por muito tempo. Nós até podemos continuar a
na Europa Ocidental. vê-los, mas os nossos netos com certeza não.
Mas os repórteres moldados pela herança do Ecologicamente falando, não temos condições
Vietnã permaneceram profundamente céticos nem de sustentar a população que cresce
em relação aos militares no Golfo. Elfen diz rapidamente no planeta, nem de provê-la com
que eles examinavam as declarações não tanto jornais e revistas, derrubando todas as árvores
para descobrir as verdades que elas pudessem necessárias para isso e para a construção de
casas, para a mobília, ete. As notícias serão
conter, mas para descobrir suas mentiras. Isso
transmitidas eletronicamente.
acarretava uma constante busca de falhas.
"Ninguém espera que a imprensa tenha uma O jornal não vai deixar de existir, mas o
amizade íntima com o Exército, mas havia um sistema que utiliza será transformado. Em vez
relacionamento antagônico sem necessidade", de usar notícias impressas em papel, ele
diz o jornalista. utilizará meios eletrônicos para a transmissão
Quanto às restrições, a imprensa era mantida de informações. Temos canais de TV
em pools escoltados pelo Exército. A mídia suficientes para isso. Atualmente, um único
cresceu tanto nos Estados Unidos que há pools aparelho de TV pode sintonizar centenas de
em toda parte, incluindo a Casa Branca. Elfen canais. Digamos que um jornal ocupe quatro
ou cinco canais. Um deles poderia tratar de
acha que se tivessem permitido que a imprensa
esportes, com repetições durante todo o dia.
se deslocasse à vontade, teria havido mais Bob
Outro poderia tratar de economia, um terceiro
Simons, o repórter da CBS que foi preso pelos
transmitiria só notícias gerais e assim por
iraquianos junto com sua equipe.
diante. Dessa forma, o público só teria a
O que eles teriam obtido? Para onde iriam? O preocupação de escolher o canal a que
Golfo não era o tipo de guerra que eles quisesse assistir a cada momento.
esperavam. Para Elfen, Watergate e Vietnã
pertencem ao passado. Ele diz: "O desafio da Parte do jornal seria, então, transmitida pela
imprensa nos dias de hoje é lidar com as televisão e parte seria impressa. Poderia haver,
mentiras que surgem no nosso governo todos inclusive, um canal só para anúncios
classificados.
os dias, mas sem apresentar uma atitude
agressiva, sem ficar pensando que cada detalhe Um bom exemplo de como as coisas
é um novo Watergate". caminham nesse sentido foi o equipamento

78
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

utilizado na Guerra do Golfo. Seis horas após ano antes, na Romênia e no Panamá. Como se
a guerra estourar, todos os satélites de que a vê, as possibilidades técnicas de uma cobertura
CNN necessitava já tinham sido reservados ao vivo, simultânea, através dos meios
por seis meses. Isso incluía conexões com a eletrônicos, foram muitas nessa Guerra do
Arábia Saudita, Jordânia e Bahrein. Toda a Golfo. No futuro, então, serão praticamente
cobertura acabou sendo realizada através do infinitas e isso consolidará de vez a
Comsat, a PTT dos Estados Unidos, e do BTI comunicação eletrônica como a base de toda a
de Londres, a PTT britânica. atividade jornalística.
Além disso, mantivemos um canal aberto no Trabalhar na CNN não tem sido uma tarefa
Intelsat 24 horas por dia. fáciI. Há alguns países que são bastante
resistentes a nós, particularmente os países em
Tivemos ainda permissão para utilizar dois
desenvolvimento. Eles tentam manter
uplinks, sistemas de comunicação via satélite
afastadas não só a CNN, mas outras redes de
que cabiam em um conjunto de pequenas
televião, principalmente aquelas que
malas. Pode-se fazer um uplink om uma antena
transmitem notícias ao vivo. Tentam evitar que
pequena, de apenas 1,8 metro de diâmetro. Um
sua população e seu comércio tenham contato
deles foi instalado na Arábia Saudita e outro,
com a realidade que temos que enfrentar todos
um com antena de 12,4 metros, ficou em Amã.
os dias e o tempo todo.
Ambos foram devidamente autorizados pelas
PTT locais. Houve problemas com a Mas não terão sucesso a longo prazo. Os
permissão de trabalho no Iraque, já que, governos e religiões que cultivam a ignorância
naturalmente, o Departamento de Estado tinha de seus povos para se manter no poder
rompido relações com aquele país. O jeito, acabarão perdendo o controle. Dentro em
então, foi a Jordânia fazer os acordos breve, a tecnologia dos satélites irá superar
necessários com Bagdá e nós realizarmos os qualquer forma de resistência, emitindo sinais
acordos com a Jordânia. Assim, o sinal de de fácil recepção, a custo baixo. Dessa forma,
Bagdá era enviado a Amã e de lá para Atlanta. a população mundial poderá compartilhar as
melhores formas de governo, comércio,
Os repórteres também utilizavam telefones do
medicina e justiça, sem nenhuma interferência.
ImmarSat, um satélite de navegação marítima,
que já tinha sido empregado pela imprensa um

Referência bibliográfica:
PIKE, Sidney. “O Jornalismo Sem Fronteiras” in Encontro Internacional de Jornalismo:
conferências e debates (edição: Gabriel Priolli), São Paulo: IBM, 1991.

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• Como a CNN se expandiu de pequeno canal a cabo para a maior emissora mundial
de notícias, e por que essa estratégia não é aplicada em outros países?

79
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto XV
Em Directo da Guerra: o impacto da Guerra do Golfo no
discurso jornalístico
José Rodrigues dos Santos, 2003

Passava já das duas e meia da manhã de 20 de Esta reportagem de Carlos Fino, transmitida
março de 2003 quando se ouviu um estrondo em directo pela RTP com uma panóplia de
em Bagdade. Carlos Fino e Nuno Patrício, que imagens confusas, luzes dançando no céu, a
se encontravam na varanda do seu quarto, no voz tensa do repórter abafada pelo trovejar das
14º andar do Hotel Palestina, deram o alerta explosões e das rajadas, marcou um momento
para Lisboa. Começaram a soar os alarmes na simbólico nas profundas mudanças que
capital iraquiana e a emissão da RTP foi ocorreram no mundo do jornalismo, e foi
imediatamente para o local. adequado que essas alterações se tenham
tornado visíveis na guerra de 2003 contra o
"Eu presumo que estamos agora em
Iraque, uma vez que foi na guerra de 1991
directo. Portanto, eram cinco e meia
contra o Iraque que elas começaram.
daqui quando se começaram a ouvir
estrondos. O hotel em que estamos Em boa verdade, o conflito de 2003 não foi
sofreu um abanão e de imediato mais do que o culminar das hostilidades
começaram a tocar as sirenes de encetadas em 1991. Quando da eclosão da
alarme contra ataque aéreo. Neste Guerra do Golfo, o mundo intuiu que era
momento essas sirenes sossegaram e possível ver uma guerra em directo. Na noite
voltam a ouvir-se o chilrear dos de 16 de Janeiro de 1991, a CNN foi colocada
pássaros neste amanhecer em no mapa internacional quando transmitiu o
Bagdade. Mas é um sinal claro de relato telefónico de três repórteres seus,
que está iminente, ou já mesmo entrincheirados no 9º andar do Hotel Al-
começou, um ataque por parte dos Rashid, a descrever em directo para todo o
Estados Unidos (…) São claramente mundo o início do ataque aéreo da força
audíveis aqui mais explosões… É um multinacional contra Bagdade. As primeiras
trovejar sobre Bagdade, é um palavras de Bernard Shaw, atravessando a
trovejar sobre Bagdade. Há estática do telefone, ficaram imortalizadas.
também… há claramente mísseis no
"Os céus sobre Bagdade foram
ar. É um trovejar profundo sobre
iluminados. Estamos a ver flashes
Bagdade. No entanto, as luzes da
brilhantes por todo o céu." (Shaw,
cidade continuam acesas. Os CNN, 16 de janeiro 1991).
pássaros fogem e silenciam-se.
Vêem-se mísseis no ar, sinais
luminosos, e tudo em redor começa A reportagem em directo da CNN marcou
a explodir como num fogo de então um decisivo ponto de viragem. Até 1991
artifício. Há um fogo de artifício era impensável ver repórteres de um país a
aparente, um fogo mortal sobre os descrever uma guerra a partir do território do
céus de Bagdade. Há carros que país inimigo. Ninguém imagina jornalistas
circulam na cidade e as luzes britânicos a relatar em Berlim os
mantéem-se para já acesas, a bombardeamentos aliados da Segunda Guerra
energia eléctrica continua a Mundial. Além disso, até 1991 era igualmente
funcionar. Mas é um ataque impensável ver repórteres a relatar em directo
fortíssimo à capital do Iraque" operações militares. Mas isso aconteceu
(Fino, RTP, 20 de março 2003). naquela madrugada de 16 de Janeiro devido

80
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

essencialmente a um factor decisivo: o económicas deixaram de ser tomadas pelo


desenvolvimento tecnológico. Banco de Portugal ou pelo Ministério das
Finanças, e passaram a ser da esfera da
Harold Innis foi o primeiro a notar o peso que
Comissão Europeia, do Banco Central
as evoluções tecnológicas na área da
Europeu e da Ford- -Volkswagen. Com as
comunicação têm no desenvolvimento das
novas tecnologias, o mundo tornou-se global e
sociedades, um conceito que seria mais tarde
os projectos nacionais entraram em erosão.
desenvolvido por Marshall McLuhan. A ideia
fundamental é simples. As grandes revoluções O relato em directo da guerra em Bagdade por
sociais, económicas e de mentalidades têm por três jornalistas americanos só foi possível
base a tecnologia. Por exemplo, foi a devido a estas mudanças. Noutros tempos, os
tecnologia agrícola que permitiu o repórteres seriam julgados por traição. Mas em
sedentarismo, com todas as consequências que 1991 as suas reportagens apenas geraram
daí advieram. Mais tarde, foi a tecnologia protestos pouco convictos de Washington. A
industrial que permitiu profundas mudanças na transmissão da CNN foi um verdadeiro acto
organização do trabalho, da economia e da global, transnacional, com as palavras de
sociedade, incluindo na área cultural. Sem Bernard Shaw, John Holliman e Peter Arnett a
industrialização não haveria Gutenberg, o serem consumidas em simultâneo em todo o
grande responsável pela democratização da mundo, de Nova Iorque a Nova Deli, de São
cultura e do conhecimento. Arthur C. Clarke, o Paulo a Amã, de Estocolmo a Port Moresby.
cientista britânico que inventou os satélites de As novas tecnologias tinham já gerado
comunicações, defende até a tese de que as mudanças sociais e culturais que tornaram
grandes decisões do nosso tempo não são normal o que antes seria intolerável.
tomadas pelos políticos, pelos economistas ou As mudanças de 1991 foram, todavia,
pelos filósofos, mas pelos engenheiros. Eles limitadas. Os três homens da CNN fizeram, é
criam a tecnologia, cabe aos outros aplicá-la.
certo, o relato da guerra em directo, mas isso
Quais foram as tecnologias que permitiram o aconteceu sem imagens, só durou uma noite e
relato em directo, se bem que apenas ao foi feito às escondidas, com os jornalistas
telefone, da guerra de 1991? A resposta é trancados no seu quarto, receando uma
evidente: os satélites de comunicação e os intervenção das autoridades iraquianas e
computadores. Não foram, é óbvio, estas submetidos a críticas das autoridades
tecnologias que tornaram politicamente americanas. Além disso, foi um acontecimento
aceitável em 1991 o que era totalmente transmitido por uma voz americana. A CNN,
inaceitável em 1945. O que fez a diferença apesar do seu projecto internacional, está
foram as mudanças geradas pela dinâmica dos baseada nos Estados Unidos e era então
movimentos suscitados por estas tecnologias. formada quase integralmente por jornalistas
Os satélites de comunicação e os americanos. Apesar da democratização
computadores criaram um movimento global introduzida pelos satélites de comunicações, o
de intercâmbio de ideias e de conhecimentos, fluxo dominante de informação e imagens a
enfraquecendo gradualmente os projectos nível mundial ainda era essencialmente de
nacionais característicos da era industrial. No origem anglo-americana. Os únicos
mundo pós-industrial, os mercados deixaram competidores credíveis da CNN eram as
de ser nacionais, tornaram-se globais. As grandes cadeias americanas ou a BBC e a ITN,
decisões económicas deixaram de ser da mais ninguém tinha acesso aos grandes
competência exclusiva dos governos orçamentos que requeriam as tecnologias
nacionais, transferindo-se para esferas inovadoras. O custo das unilaterais por satélite
transnacionais como as ocupadas pelas era proibitivo e o custo dos telefones por
multinacionais ou por centros de decisão fora satélite, a grande novidade de 1991, não estava
do território nacional. As grandes decisões ao alcance de qualquer um.

81
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

O conflito de 2003 veio preencher as promes- Mas se a guerra de 2003 trouxe a novidade da
sas deixadas em aberto pelas hostilidades de democratização do scoop, com pequenas
1991. O ataque anglo-americano foi lançado a televisões como a RTP, a Al Jazira e a Abu
20 de março, mas a primeira estação de Dhabi TV a bater as grandes anglo-americanas,
televisão do mundo a noticiar o início da as mudanças no tipo de cobertura jornalística
guerra não foi a CNN nem a BBC nem a ITN não se ficaram por aqui. Foi em 1991 que pela
nem qualquer estação americana. Foi a RTP. primeira vez houve um relato em directo de uma
As palavras em directo de Carlos Fino guerra, se bem que audio, e foi na operação de
marcaram simbolicamente uma mudança de 1998 que pela primeira houve um relato em
fundo no panorama do jornalismo interna- directo com imagem de um bombardeamento.
cional. Já não é preciso ser um gigante para ter Mas nunca ninguém tinha visto imagens em
acesso às tecnologias necessárias que permi- directo de um campo de batalha. Esse derradeiro
tem a uma estação estar na vanguarda da infor- passo foi dado em 2003.
mação internacional. Basta um videofone, um Quando as forças americanas pensaram no
instrumento barato e com custos de transmis-
relacionamento que iriam ter com os jornalistas
são dez vezes inferiores ao de um equipamento
na altura em que eclodisse o último acto da
de alta definição, e um pouco de astúcia para
Guerra do Golfo, decidiram retomar o conceito
bater a concorrência. A CNN levou três
de "integrado" (embedded), que vinha da
minutos a dar a informação transmitida em
Segunda Guerra Mundial, quando os
directo por Carlos Fino na RTP, e fê-lo apenas
correspondentes faziam parte das forças
ao telefone, enquanto o jornalista português
militares e tinham até a patente de capitães. Ou
estava em directo com imagem a mostrar os
seja, os militares optaram por integrar jornalistas
acontecimentos. E, dois dias mais tarde,
nas suas unidades de combate. Foi uma decisão
quando as forças anglo-americanas lançaram o
arriscada, uma vez que colocava em perigo o
grande bombardeamento contra Bagdade, as segredo operacional e expunha as suas forças ao
imagens que transmitiram o ataque em directo escrutínio implacável dos repórteres, mas, aliada
para todo o mundo voltaram a não ser as das às inovações tecnológicas entretanto ocorridas,
estações anglo-americanas, mas antes da Al esta opção veio revelar-se revolucionária.
Jazira e da Abu Dhabi TV.
Ao integrar os jornalistas nas unidades, os
Outra importante alteração tem a ver com a
responsáveis do Pentágono impuseram várias
natureza do directo. Em 1991, o relato de Shaw,
condições. Qualquer jornalista integrado teria de
Holliman e Arnett foi feito ao telefone, durou
se sujeitar a um treino militar, teria de
apenas uma noite e decorreu às escondidas. Em
acompanhar sempre as forças militares e estava
2003, o relato de Carlos Fino e de todos os
proibido de fazer descrições precisas sobre os
outros jornalistas que se encontravam no Hotel locais onde se encontravam e as forças que
Palestina foi efectuado com imagem, durou toda constituiam a sua unidade. Além disso, os
a guerra e decorreu perante os olhos dos oficiais tinham o direito de rever os despachos
iraquianos. É importante notar, todavia, que, dos repórteres para os expurgar de informações
neste aspecto, o conflito de 2003 não foi que pudessem pôr em risco a segurança
pioneiro. A primeira acção militar transmitida
operacional das suas missões.
com imagem em directo pela televisão foi a
operação de 1998 contra o Iraque, quando a A compensação por todos estes inconvenientes e
CNN transmitiu as imagens dos estas restrições não era de menosprezar. Os
bombardeamentos da Operação Raposa do correspondentes de guerra teriam acesso ao
Deserto, com relato em directo de Christianne campo de batalha, algo que não acontecia desde
Amanpour em Bagdade, as câmaras equipadas a Guerra do Vietname. Percebendo plenamente o
com sistema de nightvision que permitia ver os alcance dessa situação, as televisões americanas
mísseis e o fogo das antiaéreas em verde-negro. e britânicas compraram jipes militares e

82
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

equiparam-nos com videofones. As antenas oportunidade de abandonar as colunas que


foram amarradas aos tejadilhos e, com a ajuda integravam para fazer reportagem.
de uma espécie de osciloscópio e de um sistema
No final, muitos disseram que jamais repetiriam
de GPS, conseguiu-se mantê-las sempre viradas
a experiência mas, contraditoriamente,
para o satélite, independentemente da direcção e
consideraram-na globalmente positiva. "As
velocidade dos veículos. Tal bastou para
experiências variam, mas alguns de nós
assegurar a transmissão ininterrupta das
verificaram que gozavam de uma surpreendente
operações, apesar do movimento das colunas
liberdade", comentou o repórter "integrado" da
militares e dos jipes dos repórteres.
Reuters, Andrew Gray, observando que
O resultado foi espantoso. Quando, na noite de "nenhum oficial permaneceu junto de nós
21 de março, as forças anglo-americanas quando falávamos no telefone-satélite com os
cruzaram a fronteira do Kuwait e entraram no nossos superiores hierárquicos nem alguma vez
Iraque, as televisões mostraram em directo o alguém leu as nossas reportagens antes de as
acontecimento. As imagens eram de difícil enviarmos" (Gray, Reuters, 18 Abril 2003).
leitura, vendo-se apenas pontos luminosos no Alguns jornalistas foram expulsos, como o
meio da escuridão, mas o passo pioneiro estava repórter tabloide da Fox, Geraldo Rivera,
dado. Ao nascer do dia, na manhã de 22 de acusado de divulgar informação operacional
março, vieram as primeiras imagens sensível, mas estas raras situações ocorreram
perceptíveis. O repórter Walter Rogers mostrou, depois da reportagem, não antes.
em directo na CNN, as imagens dos blindados Mais difícil de controlar foi a inevitável
do 7º de Cavalaria literalmente a cavalgar pelo cumplicidade que se estabelece entre homens em
deserto iraquiano a enorme velocidade em perigo. Os repórteres queriam naturalmente
direcção a norte. A transmissão durou mais de manter boas relações com os soldados que os
uma hora e deixou os telespectadores agarrados protegiam, alimentavam e lhes davam acesso ao
aos ecrãs. Na mesma altura, a Fox e a CBS
campo de batalha. Alguns repórteres deram
mostravam em directo a progressão da coluna da
consigo, a partir de certa altura, a descrever os
3ª Divisão de Infantaria. No dia seguinte vieram
iraquianos como sendo "o inimigo", e houve um
imagens ainda mais surpreendentes. A CNN
que concluiu estar a sofrer do Síndroma de
mostrou em directo um combate, com os
Estocolmo, devido à relação de empatia que
homens do 7º de Cavalaria a disparar contra uma
desenvolveu com os soldados. Uma situação
posição iraquiana. Dias depois, a CBS transmitiu
deste género não decorreu sem consequências.
em directo uma batalha sobre o Eufrates,
Um repórter decidiu não publicar os nomes dos
enquanto a CNN mostrava, também em directo,
soldados que ele sabia terem cometido crimes de
o 7º de Cavalaria a ser atacado por franco-
guerra, embora tivesse noticiado essas situações.
atiradores, o som das rajadas a reverberar pelo
videofone como teclas de máquinas de escrever. Feitas as contas, ninguém tem dúvidas de que,
Nunca se tinha visto nada assim em televisão. como dizia o senador Hiram Johnson, "quando
uma guerra começa, a primeira baixa é a
Para fazer esta cobertura, os repórteres
verdade" (Knightley, 1975), e a Guerra do
submeteram-se às duras condições do terreno.
Golfo, que eclodiu em 1991 e terminou em
Passaram dias sem dormir, comeram magras
2003, não foi excepção. Mas raras foram as
rações de combate, não tiveram acesso a água
guerras onde, apesar das muitas verdades que
corrente nem dispuseram de liberdade de
ficaram por expor, se tenha ido tão longe no
movimentos. A imagem de corpos carbonizados
esforço de relatar os acontecimentos. As
e mutilados tornou-se uma rotina na sua
sociedades pós-modernas estão assentes nas
experiência e nunca os correspondentes tiveram tecnologias da comunicação, e quanto mais
informação circular mais difícil é controlá-la.

83
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto XVI
A Internet e o Futuro do Jornalismo Internacional
Alan Knight, 1995 (tradução: Pedro Aguiar)

Este artigo se refere à pesquisa acadêmica que, indiano. Lá, eu conversava com
quando posta em prática por uma equipe meus colegas dos jornais da Índia
multidisciplinar, tenta utilizar novas e com os assessores de imprensa.
tecnologias para alterar práticas de Juntos, nós bebíamos chá, depois
reportagem. Pode ser considerado ensino de do que, com algumas migalhas de
Jornalismo não apenas para matriculados em informações anotadas, eu
cursos universitários, mas talvez mais prosseguia até outros órgãos do
relevantemente para os vários jornalistas governo indiano, o parlamento, a
profissionais em busca de melhores maneiras Alto Comissariado Britânico, as
de conduzir seu trabalho. embaixadas, e voltava ao hotel
para almoçar. Se houvesse uma
O trabalho se foca em reportagem
matéria a fazer, eu datilografava
internacional e espera potencializar as várias
fontes socialmente importantes que normal- na Agência Telegráfica de Nova
mente ficam de fora das pautas da corrente Délhi.” [2]
hegemônica.
Stuart dizia que, além dessas tarefas diárias,
ele tinha que fazer uma transmissão semanal
Reportagem Internacional
para Londres. Naqueles tempos, o trabalho de
Há muito tempo, correspondentes estrangeiros um correspondente estrangeiro sofria
têm sido vistos por outros jornalistas como consideravelmente mais pressão. No início
uma elite dentro do jornalismo4. Eles deste ano, eu estava no carro indo trabalhar em
representam um componente relativamente Sydney, ouvindo o rádio, quando uma
raro e custoso do processo de noticiar. No correspondente da ABC entrou no ar ao vivo
passado, a relativa riqueza de países ocidentais via satélite pelo telefone falando de um
permitiam-nos ter uma abordagem relaxada subúrbio no Taiti. A passagem dela foi
quanto à apuração de notícias na Ásia. Tome- pontuada pelo som de bombas de gás
se o caso do ex-correspondente da BBC lacrimogêneo enquanto os policiais franceses
Douglas Stuart, que foi enviado para Nova tentavam conter os manifestantes.
Délhi para cobrir a Índia em 1949. Em seu
livro, A Very Sheltered Life (Uma Vida Muito Meio século de desenvolvimento na tecnologia
Confortável), Stuart descreveu o trabalho de comunicações transformaram a habilidade
diário de um correspondente estrangeiro no dos correspondentes em apurar e distribuir
pós-guerra. notícias. Ainda assim, o trabalho elementar
dos correspondentes estrangeiros continua
“Diariamente, pela manhã, eu lia sendo a capacidade de relatar e interpretar
os jornais, marcando os trechos notícias do exterior de uma forma relevante e
que exigiriam maior investigação. compreensível para o público doméstico5.
Então, após alguns telefonemas, eu
entrava no carro ao lado do
motorista, que me levava à 5
O escritor e correspondente Ian Fleming disse o que
assessoria de imprensa do governo seriam para ele os ingredientes de um correspondente
estrangeiro ideal: “Ele (sic) deve ser creditado por seu
4
TUNSTALL, Jeremy. Journalists at Work; Specialist país e pelo seu jornal no exterior; ele deve ser ou
Correspondents. (Londres: Constable, 1971) págs.138- solteiro ou estavelmente casado e feliz em ter seus
142. filhos trazidos junto; sua personalidade deve ser tal que

84
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Nos últimos três anos, eu examinei o modo incidentes isolados, em vez das tendências e
como correspondentes australianos no exterior questões em desenvolvimento”6.
cobrem o ASEAN e a Indochina. Como parte
Ainda assim, é muito fácil, para
desse estudo, ao longo de 1993 eu visitei
correspondentes estrangeiros, culpar os
Jacarta, Hanói (uma vez cada), Kuala Lumpur
editores por pontos-de-vista; particularmente
(duas vezes), Singapura e Bangcoc (quatro
quando se considera de onde os
vezes cada). Passei um mês no Camboja
correspondentes dizem que conseguem as
durante as eleições, cobrindo os repórteres
matérias. Como parte do meu questionário,
enquanto eles trabalhavam. Mais de 40
pedi aos correspondentes para identificar suas
entrevistas foram gravadas até agora com fontes e classificá-las como muito úteis, de
correspondentes expatriados, colunistas, alguma utilidade ou inúteis. Havia mais de 20
editores e executivos, produzindo mais de categorias à disposição deles, incluindo fontes
40.000 palavras de transcrições. As entrevistas primárias como políticos, empresários e
foram complementadas por um questionário de dignatários, bem como fontes secundárias
sete páginas que foi preenchido por 16 dos 19
como agências internacionais de notícias,
correspondentes australianos identificados.
revistas, emissoras de rádio e televisão. Havia
mais de 90 subcategorias para marcar.
Cobertura De acordo com as respostas da pesquisa, os
A maior parte dos correspondentes jornalistas australianos trabalhando na Ásia
opressivamente favoreciam fontes ocidentais
australianos no exterior acreditava que a
ao buscar informações sobre suas matérias
cobertura australiana sobre a região não era
sobre o ASEAN e a China. Fontes asiáticas,
nem precisa nem equilibrada. Os que achavam
particularmente as das Filipinas, eram
que sim, consideravam que tal cobertura era
significativamente classificadas como as
“muito fraca em algumas áreas” ou carecia de
menos úteis. Fontes de um único país asiático
“profundidade”. Outros disseram que, ainda
já tinham alta probabilidade de receber baixa
que matérias individuais fossem bastante
classificação, talvez por causa da
precisas, a cobertura em geral era seletiva e
disponibilidade reduzida em outros países,
falha. Um entrevistado disse: “Geralmente eu
mas agências internacionais de notícias
acho que fica provavelmente preciso e
equilibrado o suficiente, mas no conjunto é tão asiáticas com múltipla presença regional
inconsistente e esporádico que pode dar uma também receberam nota baixa. As únicas
imagem distorcida, principalmente por cobrir exceções foram os jornais tailandeses, a única
fonte asiática ou não-ocidental a ficar entre as
10 mais.
nosso Embaixador fique feliz em recebê-lo. Quando a
ocasião exigir, ele deve conhecer algo do protocolo e
Como Douglas Stuart, meio século antes, os
ainda assim gostar de beber com o espião mais grosseiro correspondentes australianos no exterior
ou o contrabandista mais desprezível. Ele deve dominar atualmente dão preferência a diplomatas
completamente um idioma estrangeiro e ter outro à mão estrangeiros, particularmente os que vêm do
para recorrer. Ele deve estar bem inteirado da História e seu próprio país. Eles ainda examinam a mídia
da cultura do território onde está trabalhando; deve ser
intelectualmente insaciável e ter algum conhecimento da
em língua inglesa; neste caso, a Far Eastern
maior parte dos esportes. Ele deve saber guardar um Economic Review, rádio BBC, Radio Australia
segredo; deve ser fisicamente forte e não ser viciado em e os principais serviços a cabo, “marcando os
bebida. Ele deve se orgulhar do seu trabalho e do jornal trechos que exigiriam maior investigação”.
em que trabalha, e finalmente deve ser um bom repórter
com um vocabulário vasto, ligeiro na máquina de
escrever, com conhecimento de taquigrafia e saber
6
dirigir.” (FLEMING, Ian. "Foreign News". ed. Viscount KNIGHT, Alan. "Re-inventing the Wheel: Australian
Kelmsley. The Kelmsley Manual of Journalism Foreign Correspondents in Southeast Asia". Media Asia
(Londres: Cassell&Co.,1952) pág.238.) (Singapura: AMIC. vol 22. nº.1. 1995) págs.9-15.

85
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

O Custo da Notícia indústria; enriquecer o ensino de jornalismo


mediante envolvimento profissional, e
Há muito poucos correspondentes australianos
preparar profissionais para buscar padrões
no exterior, cobrindo países demais para
mais elevados.
patrões demais, para conseguirem acompanhar
o passo da profundidade de um repórter Em 1992, o ACIJ formulou questões sobre a
especialista interno7. Enquanto isso, os custos cobertura de áreas hostis dos aborígenes e
na Ásia estão subindo, com o Japão, Hong temas multiculturais produzindo um livro:
Kong e Singapura já oferecendo rendas “Signposts, a guide to non racist reporting”
semanais mais altas do que a Austrália. (Signposts, um guia para jornalismo não-
Somente as empresas jornalísticas mais ricas racista)8. O livro continha críticas, códigos de
podem sustentar correspondentes expatriados condutas, porém mais importante eram os
na Ásia. Os que o fazem precisam garantir o números de contato, para que jornalistas
retorno de cada dólar investido; exigem maior profissionais, se desejassem, poderiam
produtividade, o que por sua vez aumenta a encontrar facilmente quase qualquer entidade
tentação dos correspondentes de se basear só aborígene ou multicultural na Austrália. O
em fontes secundárias, deste modo gabinete do Primeiro-Ministro liberou recursos
desmoralizando o motivo pelo qual a princípio para que pudessem ser enviados exemplares
se enviam correspondentes para a Ásia. para 150 redações em toda a Austrália. Ainda
assim, o meio impresso tinha limitações
óbvias; números de telefone ficaram
Alternativas desatualizados e o custo de produzir, imprimir
O Centro Australiano para o Jornalismo e distribuir edições atualizadas era proibitivo.
Independente (ACIJ em inglês) foi Em 1994, o ACIJ lançou “Mastering the
estabelecido na Universidade de Tecnologia de Maze”, um guia para jornalistas investigativos
Sydney, em 1990, para realizar pesquisas e que usassem bibliotecas, bancos de dados e
treinamento, e ao mesmo tempo praticar material em CD-ROM para apurar suas
jornalismo investigativo. Seu objetivo é agir matérias. De acordo com a autora, Christine
como um nexo entre a universidade e a Fogg, “sangue frio, telefone e estômago forte
não são mais suficientes para o jornalista
7
profissional”9.
A ABC, que se gabava de ter o mais caro sistema de
sucursais no Sudeste Asiático, tentou em 1993 O ACIJ está atualmente desenvolvendo um
maximizar a produtividade de seus correspondentes software para um sistema que vai propiciar um
exigindo que falassem tanto na televisão quanto no serviço de Internet interativo e facilmente
rádio. A revista Dateline, publicação do Clube dos atualizável para jornalistas cobrindo a Ásia e o
Correspondentes da Tailândia, publicou que o repórter
da ABC em Bangcoc, Evan Williams, teve até que
Pacífico10. Estes jornalistas poderão acessar o
operar sua própria câmera de vídeo: “Como se pode
8
imaginar, é um pouco difícil para uma pessoa operar EGGERKING, Kitty and PLATER, Diana. Signposts.
uma câmera, gravar som e apresentar ao mesmo (Sydney: Australian Centre for Independent Journalism.
tempo... Trabalho em televisão leva tempo, e Evan 1992).
9
aparenta ser a carne proverbial no sanduíche burocrático FOGG, Christine. Mastering the Maze: a guide for
enquanto lida com os compromissos freqüentemente journalists and researchers in the media. (Sydney: ACIJ.
conflitantes das obrigações para com o rádio, com as 1994) pág.1.
10
exigências crescentes da televisão. Como seu cargo A Bloombergs já aplicou a tecnologia PC para se
ainda é totalmente pago com o orçamento da Rádio, não tornar o segundo maior serviço de notícias econômicas
é difícil imaginar as longas horas e frustrações do mundo, atrás da venerável Reuters. A empresa
organizacionais que são inevitáveis em qualquer chegou a essa posição em menos de uma década. A
tentativa de começar a satisfazer todo mundo, Bloombergs estabeleceu uma rede internacional que
particularmente quando matérias regionais regularmente fornece aos assinantes notícias baseadas em texto, áudio
geram manchetes mundiais.” (BOND, Christine. "Jack e vídeo, bem como pesquisa interativa e serviços de e-
of all Trades"", Dateline Bangkok (1993) pág.18.) mail. É um precursor privado do que se promete com a

86
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

serviço de qualquer lugar onde um computador universidades, associações de imprensa,


portátil com modem seja conectável ao sistema instituições de pesquisa, bancos e grupos
de telefonia. Eles poderão estar no Hotel empresariais.
Cambodiana em Phnom Penh, assistindo a
uma palestra em Jacarta ou em suas próprias
mesas em seus escritórios em Christchurch. Entretanto, nossa ênfase será dada aos grupos
que carecem de operações substanciais de
A idéia é que repórteres possam entrar na relações públicas mas ainda assim têm coisas
World Wide Web, acessar o Signposts e significativas a dizer; ONGs ou organizações
escolher um país que gostariam de cobrir. não-governamentais. Desta forma, esperamos
Clicando no país selecionado, o jornalista irá
expandir o leque de fontes que os repórteres
encontrar uma lista de capítulos, que contêm
australianos no exterior privilegiam.
informação sobre tudo de agricultura a direitos
humanos. Nós pretendemos permitir aos Jornalistas podem participar pelo custo de um
usuários cruzar referências nesses temas, de computador pessoal, um modem, alguns
modo que uma busca no tema “turismo softwares e uma assinatura de Internet. Deste
sexual”, por exemplo, forneça informações das modo, eles poderão contribuir com a cobertura
Filipinas, da Tailândia, do Camboja e do Sri regional que seja menos "inconsistente e
Lanka. Também há uma proposta para seções esporádica". Se correspondentes estrangeiros
interativas que permitiriam a publicação de se mostrarem sem vontade ou incapazes de
comunicados de imprensa, a criação de um romper com o que Herman e Chomsky
diário e o estabelecimento de um fórum de chamaram de “uma relação simbiótica com
discussão editado. Artigos de conferências fontes poderosas”11, esperamos fornecer novas
como este, que de outro modo seriam oportunidades para gerações emergentes em
ignorados pela mídia, podem ser rapidamente rádios públicas, talvez televisões estatais e
convertidos e logados na home page, de modo finalmente os editores que publicam
que pesquisadores em qualquer lugar do eletronicamente na própria rede.
mundo possam facilmente pesquisar e Como nossos colegas jornalistas que foram
recuperar material. O sistema também usará pioneiros no uso do telégrafo, dos cabos
hipertexto, para levar os usuários a outros sites oceânicos, do telex, do telefone, do fax, do
na World Wide Web onde se poderá obter PABX e do satélite, precisamos estar
mais dados. Isto representa uma explosão de preparados para investigar e adotar novas
informação que deve ultrapassar de longe as tecnologias de comunicação. Isto pode até
fontes tradicionais reunidas pelas práticas aprimorar a credibilidade do jornalismo que os
convencionais de apuração. próprios correspondentes acreditam estar
O Signposts para a Ásia e o Pacífico será deficiente. Tom Koch, autor de “Journalism
concentrado no fornecimento de telefones de for the 21st Century” (Jornalismo para o
contato, por fax e por Internet, via e-mail. O Século XXI), acredita que bancos de dados
serviço está sendo construído de forma eletrônicos oferecem uma base objetiva da
“amigável” para a maioria dos jornalistas: qual os pressupostos básicos do jornalismo
grupos de ex-correspondentes foram podem ser desnudados. Koch argumenta que
convidados para participar em grupos de as perspectivas geradas destes novos recursos
consulta que irão revisar e sugerir alterações. mais amplos levam a um nível de análise e
Pretendemos incluir informações essenciais abstração que antes era inconcebível:
sobre governos, empresas de mídia, sindicatos,

11
Internet: uma teia mundial de interativa de intercâmbio HERMAN, Edward. CHOMSKY, Noam.
de informação aberta a qualquer um com um Manufacturing Consent; The political economy of the
computador moderno e um modem. mass media. (Nova York: Pantheon. 1988) pág.18.

87
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Talvez o maior benefício econômico a longo- A notícia, nesta perspectiva, é uma construção
prazo do uso crescente destes recursos narrativa que permite a seres culturais cumprir
eletrônicos possa advir da transformação do seus deveres cívicos. É um processo
noticiário como um repositório oral de hermenêutico, buscar não a profusão de
declarações oficiais para a apresentação destas detalhes, mas a compreensão interpretativa.
declarações num contexto crítico e mais Leitores e espectadores aprendem a ler o texto
equilibrado. Até o ponto em que esta mudança sócio-político. Como uma criação simbólica, a
criar um sistema de informação pública mais notícia identifica os contornos da paisagem
completo, mais “objetivo”, isto pode atrair moral representando as delimitações de
aqueles que optaram por não ler, assistir ou valores ao longo das quais a comunidade
ouvir os produtos jornalísticos nos seus humana se forma.14
formatos atuais.12 Professores de jornalismo deveriam fazer algo
além de ensinar excelência na prática
convencional. Deveríamos tentar aplicar nossa
Conclusão
pesquisa às novas tecnologias para explorar
O Signposts afirma os Princípios de Conduta métodos profissionais que nos levarão ao
adotados pela Federação Internacional dos próximo século. Acreditamos que o projeto
Jornalistas (IFJ). Signposts pode ter aplicação global e tem
Destaca-se o primeiro princípio da IFJ, que potencial para mudar a forma como o
estabelece: noticiário internacional é produzido.
“O respeito à verdade e ao direito
do público à verdade é o primeiro
dever do jornalista.”13

Nós acreditamos numa mídia que vise à


libertação da sociedade, inspire atos de
consciência, abrindo brechas na neblina
política e permitindo a conscientização de que
é essencial construir a ordem social através do
diálogo; um jornalismo comprometido com a
justiça, conveniente e potencializado.

Referência bibliográfica
KNIGHT, Alan.
disponível em:
[http://www.signposts.uts.edu.au/articles/Australia/Media_and_Journalism/321.html]

12
KOCH, Tom. Journalism for the 21st Century: Online
Information, Electronic Databases and the
14
News.(Londres: Praeger. 1991) pág.310 CHRISTIANS, Clifford, FERRE, John, FACKLER,
13
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Journalists at work. (Bélgica: 1992) pág.27. (Oxford: Oxford University Press. 1993) pág.14.

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Apêndices de Referência

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Editorias Brasileiras de Internacional


Cidade Veículo Responsável Telefone E-mail
Rio de Janeiro Jornal do Brasil Marcelo Ambrósio 3233-4406 internacional@jb.com.br
Website http://www.jb.com.br
Rio de Janeiro O Globo Sandra Cohen 2534-5000 internacio@oglobo.com.br
Website http://oglobo.globo.com/jornal
Rio de Janeiro Globo Online Cilene Guedes 2534-9660
Website http://oglobo.globo.com
Rio de Janeiro Rede Globo Carlos E.
Website http://www.redeglobo.com.br
Rio de Janeiro Globonews J. C. Monteiro
Website http://globonews.globo.com
Rio de Janeiro O Dia Marcelo Torres
Website http://odia.ig.com.br
São Paulo Folha de S. Paulo Vinícius Mota 3224-3252 vinimota@folhasp.com.br
Website http://www1.folha.uol.com.br
São Paulo O Estado de SP Paulo Eduardo Faria 3856-2393 inter@estado.com.br
Website http://www.estado.com.br
São Paulo Diário de SP internacional@diariosp.com.br
Website http://www.diariosp.com.br
São Paulo Veja veja@abril.com.br
Website http://veja.abril.com.br
São Paulo IstoÉ Cláudio Camargo 3618-4356 ccamargo@istoe.com.br
Website http://istoe.terra.com.br
São Paulo Carta Capital Antonio Luiz 3262-3545
Website http://cartacapital.terra.com.br
Porto Alegre Zero Hora Luciano Fernandes 3218-4345
Website http://www.zerohora.com.br
Belo Horizonte Estado de Minas 3237-5265
Website http://www.estaminas.com.br | http://www.uai.com.br/em.html
São Paulo TV Bandeirantes Priscila Manni 3745-7387
Website
São Paulo SBT
Website http://www.sbt.com.br/jornalismo
Rede TV!
Website
São Paulo TV Record 3824-7000
Website
São Paulo BandNews Raquel Galé
Website
São Paulo/Rio CBN -- 2555-8310
Website http://www.cbn.com.br

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Agências Internacionais
País/Região Agência/Sigla Tipo Website
África (pan) PANA http://www.africanews.org/PANA
África do Sul SAPA http://www.sapa.org.za
Alemanha DPA http://www.dpa.de
América Latina Adital ONG http://www.adital.org.br
Arábia Saudita SPA (Saudi Press Agency) http://www.spa.gov.sa
Argélia ANA http://www.aai-online.com
Ásia (pan) Asia News Network http://www.asianewsnet.net
Austrália AAP http://aap.com.au
Áustria APA http://www.apa.co.at
Brasil AE (Agência Estado) privada http://www.agestado.com.br
Brasil Agência Brasil estatal http://www.radiobras.gov.br
Camboja AKP (Agence Khmer Presse) akp@camnet.com.kh
Canadá Canadian Press http://www.cp.org
China Xinhua, Hsinhua estatal http://www.xinhua.org
Coréia do Norte KCNA estatal http://www.kcna.co.jp
Coréia do Sul Yonhap privada http://www.yonhapnews.net
Cuba CubaPress estatal http://www.cubapress.com
Cuba Prensa Latina estatal http://www.prensa-latina.org
Emirados Árabes WAM http://www.wam.org.ae
Espanha EFE estatal http://www.efe.com
Estônia BNS http://www.bns.ee
EUA AP privada http://www.ap.org
EUA Bloomberg privada http://www.bloomberg.com
EUA UPI privada http://www.upi.com
Filipinas PNA http://www.pna.ops.gov.ph
França AFP (France-Presse) privada http://www.afp.com
global RSF ONG http://www.rsf.org
Haiti AHP http://www.ahphaiti.org
Holanda ANP http://www.anp.nl
Índia PTI (Press Trust of India) http://www.ptinews.com
Índia UNI http://www.uniindia.com
Indonésia Antara http://www.antara.co.id/en
Irã IRNA estatal http://www.irna.com
Itália ANSA estatal http://www.ansa.it
Japão Kyodo estatal http://home.kyodo.co.jp
Jordânia Petra estatal http://accessme.com/Petra
Líbia JANA http://www.jamahiriyanews.com
Palestina WAFA http://www.wafa.pna.net/
Polônia PAP http://www.pap.com.pl
Portugal Lusa http://www.lusa.pt
Reino Unido Press Association privada http://www.pa.press.net
Reino Unido Reuters privada http://www.reuters.com
Rússia Interfax privada http://www.interfax.ru
Rússia RIA Novosti estatal http://www.rian.ru
Rússia TASS (Itar-Tass) estatal http://www.itar-tass.com
Síria SANA http://www.sana-syria.com
Tailândia Thai News Agency http://www.mcot.org
Turquia Anadolu Ajansi estatal http://www.anadoluajansi.com.tr
Vietnã VNA estatal http://www.vnagency.com.vn

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Websites de Jornais Estrangeiros


País Jornal Website
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Afeganistão Anis Daily http://www.anisdaily.com
África do Sul Mail & Guardian http://www.mg.co.za
The Citizen http://www.citizen.co.za
The Star http://www.star.co.za
Albânia Albanian Daily News http://www.albaniannews.com
Alemanha Bild Zeitung http://www.bild.t-online.de
Der Tagesspiegel http://www.tagesspiegel.de
Die Welt http://www.welt.de
Frankfurter Allgemeine http://www.faz.net
Zeitung
Süddeutsche Zeitung http://www.sueddeutsche.de
Angola Jornal de Angola http://www.jornaldeangola.com
Arábia Saudita Arab News http://www.arabnews.com
Argentina Clarín http://www.clarin.com
La Nación http://www.lanacion.com.ar
La Prensa http://www.laprensa.com.ar
Página 12 http://www.pagina12.com
Austrália Sydney Morning Herald http://www.smh.com.au
The Age http://www.theage.com.au
The Canberra Times http://canberra.yourguide.com.au
The Courier-Mail http://www.couriermail.news.com.au
The Daily Telegraph http://www.dailytelegraph.com.au
The Herald Sun http://www.heraldsun.com.au
The West Australian http://www.thewest.com.au
The West Australian http://www.thewest.com.au
Áustria Die Presse http://www.diepresse.com
Azerbaijão Baku Sun
Bahamas The Nassau Guardian http://www.thenassauguardian.com
Bahrein Bahrain Tribune http://www.bahraintribune.com
Bangladesh The Daily Star http://thedailystar.net
Bélgica De Morgen http://www.demorgen.be
Le Soir http://www.lesoir.be
Belize The Belize Times http://www.belizetimes.bz
Benin La Nation http://www.gouv.bj/presse/lanation
Bermudas Bermuda Sun http://www.bermudasun.org
Birmânia Democratic Voice of Burma http://www.dvb.no
Birmânia Irrawaddy http://www.irrawaddy.org
Bolívia El Deber http://www.eldeber.com.bo
El Diario http://www.eldiario.net
La Razón http://www.la-razon.com
Los Tiempos http://www.lostiempos.com
Botsuana Daily News http://www.gov.bw/cgi-bin/news.cgi
The Botswana Gazette http://www.gazette.bw
Brunei Borneo Bulletin http://www.brunei-online.com/bb
Bulgária Kapital http://www.capital.bg
Pari http://www.pari.bg
Burkina Faso L'Observateur http://www.lobservateur.bf
Butão Kuensel http://www.kuenselonline.com
Camarões Cameroon Tribune http://www.cameroon-tribune.cm

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País Jornal Website


Camboja Phnom Penh Post http://www.phnompenhpost.com
Canadá Canadian Online Explorer http://www.canoe.ca
La Presse http://www.cyberpresse.ca
Le Devoir http://www.ledevoir.com
The Gazette http://www.canada.com/montreal/montrealgazette
The Globe and Mail http://www.theglobeandmail.com
The National Post http://www.canada.com/national/nationalpost/index.html
Toronto Star http://www.thestar.com
Vancouver Sun http://www.canada.com/vancouver/vancouversun
Cazaquistão Kazakhstanskaya Pravda http://www.kazpravda.kz
Chade N'Djamena Hebdo http://www.chez.com/ndjamenahebdo
Chile El Mercurio http://diario.elmercurio.com
La Tercera http://www.tercera.cl
China China Daily http://www.chinadaily.com.cn
Diário do Povo http://english.people.com.cn
Sing Tao Daily http://home.sina.com
South China Morning Post http://www.scmp.com
Colômbia El Colombiano http://www.elcolombiano.com
El Espectador http://www.elespectador.com
El Heraldo http://www.elheraldo.com.co
El Tiempo http://eltiempo.terra.com.co
La República http://www.la-republica.com.co
Portafolio http://www.portafolio.com.co
Coréia do Norte Rodong Sinmun http://www.kcna.co.jp/today-rodong/rodong.htm
Coréia do Sul Chosun Ilbo http://www.chosun.co.kr
Dong-a Ilbo http://www.donga.com
Joong-Ang Ilbo http://www.joins.com
The Korea Herald http://www.koreaherald.co.kr
The Korea Times http://times.hankooki.com
Costa Rica La Nación http://www.nacion.com
Cuba Granma http://www.granma.cu
Dinamarca Jyllands-Posten http://www.jp.dk
EAU Khaleej Times http://www.khaleejtimes.com
Egito Al Gomhuria http://www.algomhuria.net.eg
Middle East Times http://www.metimes.com
El Salvador El Diario de Hoy http://www.elsalvador.com
La Prensa Gráfica http://www.laprensa.com.sv
Equador El Comercio http://www.elcomercio.com
Expreso http://www.diario-expreso.com
Espanha ABC http://www.abc.es
Cinco Días http://www.cincodias.es/index.html
El Mundo http://www.el-mundo.es
El País http://www.elpais.es
Expansión http://www.expansion.com
La Vanguardia http://www.lavanguardia.es
Etiópia The Addis Tribune http://www.addistribune.com
The Africa Monitor http://www.theafricamonitor.com
EUA Chicago Tribune http://www.chicagotribune.com
Houston Chronicle http://www.chron.com
New York Post http://www.nypost.com
San José Mercury News http://www.mercurynews.com/mld/mercurynews
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Filipinas Philippine Daily Inquirer http://www.inq7.net
Filipinas The Manila Times http://www.manilatimes.net
França La Tribune http://www.latribune.fr
Le Figaro http://www.lefigaro.fr
Le Monde http://www.lemonde.fr
Le Monde Diplomatique http://www.diplo.fr
Le Parisien http://www.leparisien.fr
L'Humanité http://www.humanite.fr
Libération http://www.liberation.fr
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Grécia Ta Nea http://ta-nea.dolnet.gr/front_page.php
Guatemala Prensa Libre http://www.prensalibre.com
Guiana Guyana Chronicle http://www.guyanachronicle.com
Haiti Haïti en Marche http://www.haitienmarche.com
Holanda De Volkskrant http://www.volkskrant.nl
Honduras La Tribuna http://www.latribunahon.com
Hungria Magyar Nemzet http://www.mno.hu
Iêmen Yemen Observer http://www.yobserver.com
Índia Deccan Herald http://www.deccanherald.com
Hindustan Times http://hindustantimes.com
Indian Express http://www.indianexpress.com
The Hindu http://www.hinduonnet.com
The Indian Express http://www.expressindia.com
The Telegraph http://www.telegraphindia.com
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Indonésia Koran Tempo http://www.korantempo.com
Indonésia The Jakarta Post http://www.thejakartapost.com
Irlanda Irish Daily Star http://www.thestar.ie
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Tanzânia Tanzania Daily News http://www.dailynews.co.tz
Timor Leste Suara Timor Lorosae http://www.suaratimorlorosae.com
Tonga Tonga Star http://www.tongastar.com
Trin.&Tobago The Trinidad Guardian http://www.guardian.co.tt
Trinidad & Tobago Express http://www.trinidadexpress.com
Tunísia Essahafa http://www.essahafa.info.tn
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Turcomênia Neutralniy Turkmenistan http://www.tmpress.gov.tm
Turquia Sabah http://www.sabah.com.tr
The New Anatolian http://www.thenewanatolian.com
Turkish Daily News http://www.turkishdailynews.com
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Uganda Uganda Daily http://www.ugandaglobe.com
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Uzbequistão Narodnoie Slovo http://www.uzpak.uz
Vaticano L'Osservatore Romano http://www.vatican.va/news_services/or/index.htm
Venezuela Correo del Caroní http://www.correodelcaroni.com
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El Nacional http://www.el-nacional.com
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New Left Review http://www.newleftreview.net
Newsweek http://www.newsweek.com
The New Republic http://www.tnr.com
The New Yorker http://www.newyorker.com
Time Magazine http://www.time.com/time
França Courrier International http://www.courrierinternational.com
Paris-Match http://www.parismatch.com
Photo http://www.photo.fr
Itália L'Espresso http://www.espressonline.it
Panorama http://www.panorama.it
Japão Weekly Post http://www.weeklypost.com
Portugal Expresso http://www.expresso.pt
Visão http://visaoonline.clix.pt
Reino Unido Punch http://www.punch.co.uk
The Economist http://www.economist.com

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Alemanha Deutschlandradio Kultur http://www.dradio.de
Austrália ABC National http://abc.net.au
Bolívia Erbol http://www.erbol.com.bo
Canadá CFRA http://142.46.199.62/cfra200367s
Chile Radio Chilena http://wmedia.ifxnw.cl/radiochilena
Cuba Radio Reloj http://media.enet.cu/radioreloj
Equador La Luna http://www.radiolaluna.com
EUA Federal News Radio http://www.federalnewsradio.com
Voice of America http://www.voanews.com
França Radio France Internation. http://www.rfi.fr/
Guiné-Bissau RDN http://www.guine-bissau.net/guine_net/rdn
Holanda Rádio Nederland http://www2.rnw.nl/rnw/pt
Irlanda Sky News http://www1.sky.com
Nicarágua Radio Nicaragua http://www.radionicaragua.com.ni
Reino Unido BBC Brasil http://www.bbcbrasil.com
Rússia Rádio Moscou http://www.vor.ru

97
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Websites de TVs Estrangeiras


País TV Website
(Europa) Euronews http://www.euronews.net
Alemanha Deutsche Welle http://www.dw-world.de
Canadá CBC http://www.cbc.ca
Catar Al Jazira http://www.aljazeera.net
China CCTV http://www.cctv.com/english/index.html
Colômbia Caracol TV http://www.caracoltvinternacional.com
Espanha TVE http://www.rtve.es
EUA CBS http://www.cbs.com
CNN http://www.cnn.com
Disney ABC http://www.abc.com
Fox News http://www.foxnews.com
i TV (PAX) http://www.ionline.tv
MSNBC http://msnbc.com
NBC http://www.nbc.com
PBS http://www.pbs.org
Telemundo http://www.telemundo.com
The WB http://www.thewb.com
Univisión http://www.univision.com
UPN http://www.upn.com
França Canal+ http://www.canalplus.fr
TF1 http://www.tf1.fr
TV5 http://www.tv5.org
Itália RAI http://www.rai.it
Japão NHK http://www.nhk.or.jp/english
México Televisa http://www.esmas.com/televisahome
Portugal RTPi http://www.rtp.pt
SIC http://sic.sapo.pt
Reino Unido BBC http://www.bbc.com
Sky News http://www.sky.com/skynews
Romênia TVR http://www.tvr.ro
Venezuela Telesur http://www.telesurtv.net
Venevisión http://www.venevision.net

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Correspondentes Brasileiros no Exterior


País Cidade Veículo Jornalista
Alemanha Berlim O Globo Graça Magalhães-Ruether
Alemanha Berlim Zero Hora Marcelo de Oliveira
Argentina Buenos Aires Veja Raul Juste Lores
Argentina Buenos Aires Folha de S. Paulo Silvana Arantes
Argentina Buenos Aires BandNews Márcio Resende Jr.
Argentina Buenos Aires Globonews Ariel Palacios
Argentina Buenos Aires O Globo Janaína Figueiredo
Argentina Buenos Aires Valor Econômico Paulo Braga
Argentina Buenos Aires TV Globo Alberto Gaspar
Bélgica Bruxelas O Globo Vivian Oswald
China Pequim TV Globo Sonia Bridi
China Pequim O Globo Gilberto Scofield Jr.
Egito Cairo BBC Brasil Paulo Cabral
Espanha Madri O Globo Priscila Guilayn
EUA Boston O Dia Eliane Carvalho
EUA Los Angeles Folha de S. Paulo Sérgio Dávila
EUA Miami Direto da Redação Antonio Tozzi
EUA Miami BBC Brasil Carolina Glycerio
EUA Nova York TV Globo Cristina Serra
EUA Nova York SBT Yula Rocha
EUA Nova York Carta Capital Eduardo Graça
EUA Nova York Globonews Jorge Pontual
EUA Nova York Isto É Osmar Freitas Jr.
EUA Nova York O Globo Helena Celestino
EUA Nova York Jovem Pan Caio Blinder
EUA Nova York TV Globo Roberto Kovalick
EUA Nova York TV Globo Lucas Mendes
EUA Nova York Folha de S. Paulo Fabiano Maisonnave
EUA Nova York TV Globo Heloisa Vilela
EUA Nova York Folha de S. Paulo Pedro Dias Leite
EUA Nova York TV Record Gilberto Smaniotto
EUA Nova York BandNews Pablo Toledo
EUA Washington Globonews Edgar Júnior
EUA Washington O Estado de S. Paulo Paulo Sotero
EUA Washington O Globo José Meirelles Passos
EUA Washington TV Globo Luiz Fernando Silva Pinto
EUA Washington Valor Econômico Tatiana Bautzer
EUA Washington BandNews Regina Beltrão
EUA Washington BBC Brasil Denize Bacoccina
França Paris Carta Capital Leneide Duarte
França Paris O Globo Deborah Berlinck
França Paris TV Globo Caco Barcellos
França Paris BandNews Mário Sérgio Conti
França Paris Rádio Eldorado Roseli Forganes
Israel Jerusalém TV Globo Marcus Losekann
Israel Tel-Aviv BandNews Michel Gawendo
Israel Tel-Aviv TV Record Herbert Moraes
Itália Milão SBT Guilherme Aquino
Itália Roma Carta Capital Elisa Byington

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País Cidade Veículo Jornalista


Itália Roma TV Globo Ilza Scamparini
Japão Tóquio TV Record Catarina Hong
Líbano Beirute Globonews Munir Safatli
Reino Unido Londres Carta Capital Gianni Carta
Reino Unido Londres Correio do Brasil Denise Martins
Reino Unido Londres TV Globo Marcos Uchôa
Reino Unido Londres O Globo Fernando Duarte
Reino Unido Londres BandNews João Carvalho
Reino Unido Londres TV Globo Beth Lima
Reino Unido Londres SBT Marcelo Torres
Reino Unido Londres TV Record Paulo Panayotis
Reino Unido Londres Folha de S. Paulo Érica Fraga
Reino Unido Londres Globonews Jader de Oliveira
Reino Unido Londres Freelance Wellington M. Mesquita
Suíça Berna Correio do Brasil Rui Martins
Suíça Genebra Valor Econômico Assis Moreira
Suíça Genebra O Estado de S. Paulo Jamil Chade

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Correspondentes Estrangeiros no Brasil


País Veículo Cidade Jornalista(s) Telefone
Alemanha Der Spiegel Rio de Janeiro Matthias Matussek* 2275-1204
Jens Glusing
Argentina Clarín Eleonora Gosman
Argentina La Nación São Paulo Luis Esnal
Espanha Agência EFE Brasília
Espanha Agência EFE Rio de Janeiro Omar Lugo 2553-6355
Eduardo Davis
Espanha Agência EFE São Paulo
EUA Associated Press Rio de Janeiro Michael Astor 2580-5066
Douglas H. Engle 2580-2309
Associated Press TV News Edmar Figueiredo 2574-4169
EUA Bloomberg News Rio de Janeiro Jeb Blount 2516-1552
EUA Chicago Tribune Rio de Janeiro Patrice Jones 2275-6173
Terry William Harris 2541-6474
EUA CNN Rio de Janeiro Marina Mirabella
CNN (em espanhol) Fabiana Frayssinet 2527-0570
EUA Los Angeles Times Rio de Janeiro Hector Tobar
Sebastian Rotella 2541-2672
EUA Miami Herald, Knight Rider Rio de Janeiro Kevin G. Hall 2542-6722
EUA New York Times Rio de Janeiro Larry Rohter 2512-8686
Mery Galanternick 2274-4196
EUA Newsweek Rio de Janeiro Mac Margolis 2286-1901
EUA Time Rio de Janeiro Andrew Downie 2512-8558
EUA Wall Street Journal Rio de Janeiro Matt Moffett 2274-7942
EUA Wall Street Journal São Paulo Jonathan Karp
França AFP (Agence France-Presse) Rio de Janeiro François Castéran 2215-0222
Aldo Gamboa
França Libération São Paulo Chantal Rayes
Itália Corriere della Sera Rio de Janeiro Rocco Cotroneo 3322-3500
Itália Il Manifesto Rio de Janeiro Maurizio Matteuzzi*
Itália La Stampa São Paulo Giancula Bevilacqua
Japão Agência Kyodo Rio de Janeiro Morihiro Fukumi 2553-5561
Noruega NRK Rio de Janeiro Arne Halvorsen 2523-3575
Portugal Agência Lusa São Paulo Ana Maria Fiori
Portugal Diário de Notícias Rio de Janeiro Sérgio Barreto Motta 2294-0787
Portugal Expresso Rio de Janeiro Iza de Salles Freaza 2259-3160
Portugal Jornal de Negócios São Paulo Bárbara Leite
Portugal Jornal de Notícias Rio de Janeiro Lúcia Souza
Portugal O Público Rio de Janeiro
Reino Unido BBC Rio de Janeiro Gideon Boulting 2507-8982
Reino Unido BBC São Paulo Steve Kingstone
Reino Unido Financial Times São Paulo Richard Lapper
Reino Unido Reuters Rio de Janeiro Leandra Câmera 2223-7126
Shasta P. Darlington 2223-7142
Nicolas G. Ferrari 2223-7139
Reino Unido The Guardian, The Observer Rio de Janeiro Alex Bellos
Reino Unido The Times Rio de Janeiro Gabriella Gamini 2265-5390
Rússia ITAR-TASS Rio de Janeiro Igor Varlamov 2430-8672
Rússia RIA Novosti Rio de Janeiro Vladimir Stepanov 2512-4729

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Entidades de Correspondentes Estrangeiros no Brasil

Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira no Brasil


Rua Senador Dantas, 105/16º andar
20031-201 – Rio de Janeiro – RJ
http://www.acie.org.br
acie@acie.org.br
Tel.(21) 3808-3382
Fax.(21) 3808-3383

Associação de Correspondentes Estrangeiros


Rua Oscar Freire, 1049/143
05409-010 – São Paulo – SP
http://www.ace.jor.br
Tel.(11) 3486-2585

Associação de Imprensa Internacional


SHIN QI. 04 – conj. 03 – casa 15 – Lago Norte
71510-230 – Brasília – DF
Tel.(61) 468-2924 | 468-1090
Tel. Secretária Genilda Lopes: (61) 322-9020
genildalopes@yahoo.com.br

102
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Sedes de Governo e de Estado de Alguns Países


País Cidade Prédio Função Website
África do Sul Cid. do Cabo Groote Schuur presidência http://www.gov.za
Alemanha Berlim Chancelaria governo http://www.bundeskanzler.de
Alemanha Berlim Schloss Bellevue presidência http://www.bundespraesident.de
Argélia Argel El Mouradia presidência http://www.el-mouradia.dz
Argentina Buenos Aires Casa Rosada presidência http://www.presidencia.gov.ar
Austrália Canberra Yarralumla gov.geral http://www.gg.gov.au
Austrália Canberra The Lodge governo http://www.pm.gov.au
Áustria Viena Palácio Hofburg presidência http://www.hofburg.at
Irã Teerã Zafaraniyeh presidência http://www.president.ir
Bélgica Bruxelas Wetstraat 16 governo http://www.belgium.fgov.be
Bielorrússia Minsk Krupenino presidência http://www.president.gov.by
Brasil Brasília Palácio do Planalto presidência http://www.planalto.gov.br
Camboja Phnom Penh Khemarindra coroa http://www.cambodia.gov.kh
Canadá Ottawa Rideau Hall gov.geral http://www.gg.ca
Canadá Ottawa 24 Sussex Drive governo http://www.gc.ca
Chile Santiago La Moneda presidência http://www.presidencia.cl
Colômbia Bogotá Palácio de Nariño presidência http://www.presidencia.gov.co
Coréia Sul Seul Casa Azul presidência http://www.cwd.go.kr
Dinamarca Copenhague Marienborg governo http://www.stm.dk
Egito Cairo Abdeen presidência http://www.presidency.gov.eg
Equador Quito Carondelet presidência http://www.presidencia.gov.ec
Espanha Madri Palacio Real coroa http://www.casareal.es
Espanha Madri La Moncloa governo http://www.la-moncloa.es
EUA Washington Casa Branca presidência http://www.whitehouse.gov
Filipinas Manila Malacañang presidência http://www.op.gov.ph
França Paris Hôtel de Matignon governo http://www.premier-ministre.gouv.fr
França Paris Palácio do Eliseu presidência http://www.elysee.fr
Grécia Atenas Mansão Máximos governo http://www.primeminister.gr
Holanda Haia Huis ten Bosch coroa http://www.koninklijkhuis.nl
Holanda Haia Catshuis governo http://www.minaz.nl
Índia Nova Délhi Race Course Road governo http://pmindia.nic.in
Irlanda Dublin Áras an Uachtaráin presidência http://www.irlgov.ie/aras
Itália Roma Palácio do Quirinal presidência http://www.quirinale.it
Itália Roma Palácio Chigi governo http://www.palazzochigi.it
Turquia Ancara Basbakanlik governo http://www.basbakanlik.gov.tr
Japão Tóquio Kantei governo http://www.kantei.go.jp
Líbano Beirute Baabda, Beit Edine presidência http://www.presidency.gov.lb
México México Los Pinos presidência http://www.presidencia.gob.mx
Moçambique Maputo Ponta Vermelha presidência http://www.mozambique.mz
Paquistão Islamabad Aiwan-e-Sadr presidência http://www.pakistan.gov.pk
Portugal Lisboa Palácio de S.Bento governo http://www.primeiro-ministro.gov.pt
Portugal Lisboa Palácio de Belém presidência http://www.presidenciarepublica.pt
Reino Unido Londres Buckingham coroa http://www.royal.gov.uk
Reino Unido Londres Downing Street governo http://www.pm.gov.uk
Rep. Tcheca Praga Hradčany presidência http://www.hrad.cz
Rússia Moscou Kremlin presidência http://www.government.ru
Venezuela Caracas Palácio Miraflores presidência http://www.venezuela.gov.ve

Nota: “Governo”, em países parlamentaristas, denota exclusivamente o gabinete de ministros chefiado pelo Primeiro-
Ministro e não inclui o chefe-de-estado (presidente ou monarca).

103
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Parlamentos de Alguns Países


País Cidade Parlamento Tipo Website
Alemanha Berlim Bundesrat câm.alta http://www.bundesrat.de
Alemanha Berlim Bundestag câm.baixa http://www.bundestag.de
Angola Luanda Assembléia Nacional unicameral http://www.parlamento.ao
Argentina Buenos Aires Cám. de Diputados câm.baixa http://www.diputados.gov.ar
Bélgica Bruxelas Federale Parlement ambas http://www.fed-parl.be
Bolívia La Paz Congreso Nacional ambas http://www.congreso.gov.bo
Brasil Brasília Congresso Nacional ambas http://www.camara.gov.br
http://www.senado.gov.br
(Senado Federal + (câm.alta
Câm. dos Deputados) + baixa)
Canadá Ottawa Parlamento ambas http://www.parl.gc.ca
Chile Santiago Congreso Nacional ambas http://www.congreso.cl
China Pequim Congr. Nac. do Povo unicameral http://www.govonline.cn
Colômbia Bogotá Senado câm.alta http://www.senado.gov.co
Coréia Sul Seul Assembléia Nacional unicameral http://www.assembly.go.kr
Cuba Havana As. Nac. del Poder Popular unicameral http://www.cubagob.cu
Dinamarca Copenhague Folketinget unicameral http://www.folketinget.dk
Egito Cairo Conselho Shura câm.alta http://www.shoura.gov.eg
Espanha Madri Cortes Generales ambas http://www.congreso.es
Estônia Tallinn Riigikogu unicameral http://www.riigikogu.ee
EUA Washington U.S. Congress ambas http://www.house.gov
http://www.senate.gov
(Capitólio)
França Paris Assemblée Nationale ambas http://www.assemblee-nationale.fr
Grécia Atenas Parlamento unicameral http://www.parliament.gr
Holanda Haia Parlement ambas http://www.parlement.nl
Índia Nova Délhi Sansad unicameral http://parliamentofindia.nic.in
Indonésia Jacarta Majelis Rakyat câm.alta http://www.mpr.go.id
Irã Teerã Majlis Shura Islami unicameral http://www.majlis.ir
Irlanda Dublin Câmara de Oireachtas unicameral http://www.irlgov.ie/oireachtas
Islândia Reikjavik Althingi unicameral http://www.althingi.is
Israel Tel-Aviv Knesset unicameral http://www.knesset.gov.il/index.htm
Itália Roma Parlamento ambas http://www.parlamento.it
Japão Tóquio Shugiin câm.baixa http://www.shugiin.go.jp
Líbia Trípoli Congr. Geral do Povo unicameral http://peoplescongress.gov.ly
Lituânia Vilnius Seimas unicameral http://www.lrs.lt
México México Senado de la República câm.alta http://www.senado.gob.mx
Peru Lima Congr. de la República ambas http://www.congreso.gob.pe
Polônia Varsóvia Sejm câm.baixa http://www.sejm.gov.pl
Portugal Lisboa Ass. da República unicameral http://www.parlamento.pt
Rep.Tchec Praga Poslanecká snæmovna câm.baixa http://www.psp.cz
Romênia Bucareste Câmera Deputatilor câm.baixa http://www.cdep.ro
Rússia Moscou Duma câm.baixa http://www.duma.gov.ru
Suécia Estocolmo Riksdagen unicameral http://www.riksdagen.se
Tailândia Bangcoc Parlamento unicameral http://www.parliament.go.th
Turquia Ancara Grande Ass. Nacional unicameral http://www.tbmm.gov.tr
Ucrânia Kiev Verkhovna Rada unicameral http://www.rada.gov.ua
UK Londres Parliament ambas http://www.parliament.uk
Uruguai Montevidéu Cám. Representantes câm.baixa http://www.parlamento.gub.uy
Venezuela Caracas Asamblea Nacional unicameral http://www.asambleanacional.gov.ve
Vietnã Hanói Assembléia Nacional unicameral http://www.na.gov.vn

104
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Outros websites úteis


Sinopse da Mídia Internacional
http://www.presidencia.gov.br/secom/sinopses
Clipping oficial do Palácio do Planalto com o que se publica sobre o Brasil no exterior.

Seleção Diária de Notícias


http://www.mre.gov.br/portugues/imprensa/noticias.asp
Clipping oficial do Itamaraty com o noticiário internacional dos principais jornais
brasileiros e com as matérias de destaque nos principais jornais estrangeiros.

Revista Foreign Affairs


http://www.foreignaffairs.org
Publicação norte-americana sobre política externa e diplomacia.

Third World Media Journal


http://journal.twmn.org
Site de destaques da cobertura da mídia em países do Terceiro Mundo

Rulers of the World


http://www.rulers.org
Cronologia de todos os governantes de quase todos os países do mundo desde a
Idade Moderna até atualmente. Atualização constante.

Nation Master
http://www.nationmaster.com
Gráficos e Estatísticas Personalizáveis (e atualizadas)

Governments in the WWW


http://www.gksoft.com/govt/en
Diretório de sites oficiais e outros links de referência sobre política, relações
internacionais, mídia e direitos humanos

Newseum – Today’s Front Pages


http://www.newseum.org/todaysfrontpages
Reproduções em PDF das primeiras páginas de vários jornais do mundo.

Press Display
http://www.pressdisplay.com
Reproduções em PDF do conteúdo integral de 225 jornais em 55 países.

Online Newspapers
http://www.onlinenewspapers.com
Links para centenas de websites de jornais estrangeiros.

105
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Cronologia da Formação da Mídia Internacional


1041 – Invenção do tipo móvel na China. 1851 – Fundação do New York Times. O
1440 – Invenção da prensa por Gutenberg. alemão Julius Reuter funda a agência Reuters.
1605 – Primeira publicação periódica regular 1858 – Primeiro despacho transatlântico por
(semanal) aparece: o Nieuwe Tijdinghen, na telégrafo, enviado pela AP.
Antuérpia.
1861 – Início da Guerra de Secessão dos EUA.
1609 – Fundação do Relation e Avisa Relation Repórteres e fotógrafos recebem credenciais
oder Zeitung, primeiros periódicos em alemão. para cobrir o conflito. Desenvolvem o lead
1615 – Surge o Frankfurter Journal, primeiro para assegurar que a parte principal da notícia
periódico jornalístico, também semanal. chegará à redação pelo telégrafo. Jornais dão
primeiras manchetes com novidades da guerra.
1622 – Fundado o Weekly News, em Londres.
Pacto entre 12 oficinas de impressão inglesas, 1871 – The Guardian, de Manchester, é o
holandesas e alemãs determina intercâmbio primeiro jornal a enviar correspondentes para
sistemático de notícias. dois lados de uma guerra (Franco-Prussiana).
1638 – O Weekly News é o primeiro jornal a 1874 – Comunicação por telégrafo liga o
publicar noticiário internacional. Brasil à Europa; começam a chegar despachos
de agências internacionais ao país.
1641 – A Gazeta, primeiro jornal em Portugal.
1889 – Invenção do linotipo.
1665 – Journal de Savants, na França, primei-
ra revista, em estilo almanaque. 1892 – Forma-se a United Press International.
1690 – Primeiro jornal das colônias britânicas 1903 – Primeira transmissão de rádio
(futuros EUA) é publicado em Boston: Publick transatlântica, por Marconi.
Occurrences, Both Foreign and Domestick. 1915 – Fundação da agência Transocean, para
1729 – Nasce o Pennsylvania Gazette, de cobrir a I Guerra Mundial na Europa.
Benjamin Franklin, primeiro jornal a se manter 1919 – Surge o New York Daily News,
com renda publicitária. São fundados a Gaceta primeiro jornal em formato tablóide.
de Guatemala e Las Primicias de la Cultura
1927 – Criado o primeiro cinejornal, o Fox
de Quito, primeiros jornais latino-americanos.
Movietone News, com o uso do som.
1743 – Primeiro jornal diário da América:
1949 – Três agências alemãs se unem para
Gaceta de Lima.
formar a Deutsche Presse-Agentur (DPA).
1785 – Começa a circular o Times de Londres.
1951 – Invenção do videotape.
1833 – Fundado o New York Sun, primeiro
1962 – Entra no ar o Telsat I, primeiro satélite de
jornal “popular”, vendido a um cent.
telecomunicações para a mídia.
1835 – Charles Havas funda a primeira
1969 – Transmissão da chegada da missão
agência de notícias, a Havas (hoje AFP).
Apolo II, dos EUA, à Lua.
1844 – Samuel Morse inventa o telégrafo.
1972 – A revista Life deixa de ser publicada.
1847 – Primeira rotativa começa a funcionar,
1980 – Começam as transmissões da CNN.
nos EUA. Em 1848, o Times de Londres cria
rotativa que imprime 10 mil exemplares/hora. 1992 – Chegam ao Brasil os canais internacionais
de TV por assinatura e a Internet comercial.
1848 – Jornais de Nova York se juntam para
formar a Associated Press durante a guerra dos 2001.setembro.11 – Transmissão ao vivo do
EUA contra o México. maior atentado terrorista da História

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Fatos marcantes na pauta de Internacional em 2008.1


Junho:
1/6 - Holandeses rejeitam a Constituição Européia.
5/6 - Suíça vota permissão de casamentos homossexuais.
13/6 - Michael Jackson absolvido de todas as acusações de abuso sexual e pedofilia.
30/6 - Espanha permite uniões civis para pessoas do mesmo sexo.

Julho:
4/7 - Projétil da Nasa atinge o cometa Tempel.
16/7 - O comitê olímpico internacional concede os jogos olímpicos de 2012 a Londres.
7/7- Três explosões relatadas no metrô de Londres e uma em um ônibus, deixando 50 mortos, e
mais de 200 feridos.
22/7 - Um eletricista brasileiro, Jean Charles de Menezes, recebeu um tiro fatal em uma estação
do metrô de Londres disparado por um policial, que o confundiu com um terrorista suicida.
28/7 - As lideranças do IRA emitiram uma determinação formal ordenando o fim da campanha
armada, que persiste desde 1969 e requisitaram todas suas unidades a depor suas armas.

Agosto:
23/8 - Israel desapropria estabelecimentos palestinos na Faixa de Gaza.
29/8 - Ao menos 1.417 mortos e sérios danos foram causados ao longo da costa do golfo dos
EUA, pelo furacão Katrina, que atingiu as áreas litorâneas da Louisiana, do Mississippi e do
Alabama.

Setembro:
11/9 - O primeiro ministro Junichiro Koizumi e o partido democrático liberal retornam ao poder
nas eleições gerais japonesas.
26/9 - O reservista Lynndie England do exército dos EUA foi condenado por um júri militar por
seis dos sete jurados, pelo escândalo do abuso do prisioneiro Abu Ghraib.

Outubro:
4/10 - O furacão Stan atinge o México e a América central matando mais de 1.620 pessoas.
7/10 - O diretor da AIEA, Mohamed ElBaradei, recebe o prêmio Nobel da paz.
19/10 – Começa o julgamento de Saddam Hussein.
20/10- O furacão Wilma entra no Caribe mexicano, passando por Cozumel e pela península de
Yucatan.
28/10 - O conselheiro do vice-presidente dos EUA Lewis Libby renuncia após ser acusado de
obstrução da justiça, perjúrio e falso testemunho na investigação do vazamento de informações
na CIA.

Novembro:
8/11- Jacques Chirac declarou estado de emergência no 12º dia do levante popular francês.
12/11 - O secretário geral da ONU, Kofi Annan, faz sua primeira visita ao Iraque, desde o início
da segunda Guerra do Golfo, e incita iraquianos a iniciar um processo de reconciliação entre os
grupos étnicos e religiosos do país.
21/11 - Ariel Sharon anunciou sua renúncia do cargo de líder do Likud e sua intenção de criar
um partido novo devotado à paz na região, Kadima, pedindo antecipação das eleições gerais
30/11 - Cirurgiões franceses realizam o primeiro transplante de face em humanos.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Dezembro:
15/12 - Realizadas as primeiras eleições parlamentares iraquianas sob a nova constituição.
18/12 - Evo Morales ganha as eleições presidenciais bolivianas.
18/12 - O primeiro ministro de Israel, Ariel Sharon, é hospitalizado após ter sofrido um
derrame.
24/12 - O papa Bento XVI conduz a sua primeira missa de natal, rezando pela paz no Oriente
Médio.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

O que NÃO foi destaque na pauta de Internacional em 2008.1:


• 4/7 - Projétil da Nasa atinge o cometa Tempel.
• 10/7 - O furacão Dennis atingiu as proximidades da praia de Navarre (Florida), matando 10
pessoas.
• 12/7 - Terroristas matam 5 pessoas e ferem 90 em um shopping em Netanya, Israel. A
Jihad islâmica reivindica a responsabilidade do ataque.
• 13/7 - Três trens colidem em Ghotki, Paquistão, matando mais de 150 pessoas
• 20/7 - O ato civil canadense, legalizando uniões do mesmo sexo, recebe o consentimento
real.
• 28/7 - As lideranças do IRA emitiram uma determinação formal ordenando o fim da
campanha armada, que persiste desde 1969 e requisitaram todas suas unidades a depor
suas armas.
• 14/8 - O vôo 522 dos airways de Helios bateu em uma montanha na Grécia, matando 121
pessoas
• 28/8 - Um terrorista fere 52 num ponto de ônibus em Beersheba, Israel. Jihad islamic
reivindica a responsabilidade para o ataque.
• 31/8 - Um boato de existência de um homem-bomba causou desespero numa multidão de
peregrinos, que atravessava uma ponte sobre o rio Tigre, em Bagdá, matando mais de 800
pessoas e deixando aproximadamente 400 feridos.
• 1/10 – 26 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridos nos atentados em Bali.
• 8/10 - Um terremoto na região da Cachemira mata aproximadamente 80.000 pessoas.
• 16/10 - As aeronaves de guerra americanas bombardearam duas vilas próximas a Ramadi,
no Iraque ocidental, matando aproximadamente 70 pessoas.
• 26/10 – O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, disse que Israel devia ser "banido
do mapa", em uma conferência realizada em Teerã, Irã, chamada “ O Mundo sem o
Cionismo”.
• 26/10 - O número de americanos mortos no Iraque chega a 2.000.
• 9/11 - Ao menos cinqüenta pessoas foram mortas e mais de 120 feridas em uma série de
ataques suicidas na Jordânia
• 2/12 - Kenneth Boyd é a milésima pessoa a ser executada nos EUA desde a re-introdução
da pena de morte, em 1976.
• 6/12 - Um avião iraniano C-130 Hercules colidiu em um edifício comercial, em uma área
civil de Teerã, capital de Irã, matando as 94 pessoas a bordo e 34 residentes do edifício -
um total de 128 povos.
• 13/12 - Um terremoto de 6,7 graus na Escala Richter atinge o sul da Ásia.
• 18/12 - A conferência da OMS foi concluída em Hong Kong com um acordo de comércio
limitado
• 23/12 - República do Chade declara guerra ao Sudão depois de um ataque em 18 de
dezembro
• 26/12 - Indonésios se reúnem para homenagear vítimas da Tsunami.

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