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REDAÇÃO

JORNALÍSTICA E
SOCIOLINGUÍSTICA

Camila Olivia de Melo


Estrutura do texto
jornalístico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Distinguir os aspectos do modelo da pirâmide invertida e do lead.


 Explicar o papel do lead na construção do texto.
 Descrever os principais gêneros jornalísticos.

Introdução
A pirâmide invertida é um modelo tradicional do jornalismo que tem
como finalidade acelerar e organizar a produção textual, facilitando
a criação dos textos noticiosos. A sua representação gráfica auxilia na
memorização dessa estrutura e é um clássico das práticas jornalísticas.
O parágrafo inicial de um texto tradicional jornalístico é chamado de
lead, ou lide, na forma aportuguesada. Essa estrutura organizacional
das frases funciona como guia para o desenvolvimento do texto. Com
o lead, a disposição desse primeiro parágrafo ganha estrutura resumida,
ou seja, as informações mais relevantes estão organizadas ali. Algumas
ferramentas auxiliam na seleção e no desenvolvimento da informação
para o lead: são os chamados Qs do jornalismo.
Neste capítulo, você identificará as especificidades do texto jornalís-
tico, em particular a estrutura da pirâmide invertida. Além disso, conhe-
cerá o papel do primeiro parágrafo de uma matéria jornalística, ou seja,
aquilo que faz um texto informativo ser um texto jornalístico informativo.
Por fim, conhecerá os principais gêneros jornalísticos e, a partir disso,
identificará sua construção e estrutura.
2 Estrutura do texto jornalístico

A pirâmide invertida
A representação gráfica da pirâmide invertida demonstra movimento próprio
do texto jornalístico. Com ela, pode-se perceber que, na primeira metade, a
ênfase é na construção do lead, que ocupa o primeiro e o segundo parágrafos.
Os parágrafos seguintes (na segunda metade da pirâmide) dissertam sobre os
dados coletados (entrevistas, resultado de pesquisas), e, na última parte da
pirâmide, o seu topo invertido, tem-se o parágrafo de fechamento do texto.
Esse é um modelo tradicional da área, o que não quer dizer que precisa ser
seguido à risca. Tudo depende dos objetivos do texto.
No processo de criação do lead, é fundamental observar os elementos
que compõem esse primeiro parágrafo. Uma história verídica será contada,
por isso, a narrativa precisa estar atrelada aos seguintes elementos: evento,
temporalidade, local, causa, modo, personagens, consequência. Diferentemente
da notícia (que concentra as informações na linha do tempo de seus aconteci-
mentos), o lead encaixa e organiza os fatos de diferentes maneiras. Ele permite
enfatizar, nas primeiras frases do texto, quem faz parte do acontecimento e
quando este ocorreu. Ou seja, a primeira frase de um lead pode variar entre
tempo, local e personagens.
Sobre essa técnica, é importante destacar a sua estrutura do mais impor-
tante para o menos relevante (CAMPOS, 2009), em que os parágrafos se
desenrolam seguindo o desenvolvimento dos dados coletados até o fechamento
do parágrafo. Isso porque, caso seja necessário cortar o texto, o primeiro pa-
rágrafo garante a comunicação dos fatos. Nesse estilo de escrita, é importante
encadear os parágrafos, já que, nas primeiras frases, o fato foi comunicado de
maneira sintética. É necessário, portanto, encadear os parágrafos, de modo
que formem uma tessitura textual suave e harmoniosa, descrevendo de ma-
neira mais trabalhada o texto. Ou seja, nos parágrafos seguintes ao lead, não
haverá nenhuma informação nova ou diferente das que já constam no primeiro
parágrafo, e, por isso, será necessário desenvolver a sequência dos fatos, em
vez de apresentar novos.
A técnica da pirâmide invertida segue três tipos de ações textuais, isto é, o
movimento que será dado às frases. A primeira delas diz respeito ao fato em
si, o que aconteceu, denominada ação verbal. Em seguida, as primeiras frases
precisarão desenvolver os personagens, quem está envolvido na ação e quem
foi atingido por ela, a chamada ação nominal. A terceira é denominada ação
circunstancial e aponta as circunstâncias ao redor do fato: como e quando
ele aconteceu? Exatamente onde e por quê? (LAGE, 2006).
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Observe o primeiro parágrafo, criado por Kristin Lauter, do jornal on-line El País.
Título:

“Cedemos os dados sem receber nada em troca. Deveria haver


um mercado”

Subtítulo:

Especialista em criptologia e dados da Microsoft, Kristin Lauter


apresenta método de preservação da privacidade na nuvem

Texto:

Kristin Lauter é uma estrela da criptografia, da privacidade e da


teoria dos números. Não em vão, esta matemática de 49 anos é a
principal pesquisadora da Microsoft em Criptografia e Pesquisa
em Privacidade. Questões de grande atualidade. A segurança e
o uso de dados pessoais na Internet e a espionagem por meio
das novas tecnologias são os protagonistas do debate sobre os
limites da inteligência artificial, da sociedade digital interconec-
tada e do poder das empresas. Ela apresentou seu método de
preservação da privacidade mantendo a possibilidade de enviar
os dados à nuvem no Congresso Internacional Quadrienal de
Matemática Aplicada, que reuniu 4.000 cientistas na semana
passada em Valência.

Nesse primeiro parágrafo, constam todas as informações que Kristin Lauter selecio-
nou para essa matéria. Em negrito, é possível identificar a organização do lead, que
segue da seguinte maneira: quem (está envolvido), o que, por que, como, quem (foi
atingido) e onde.
Fonte: Adaptado de Ara (2019).

É interessante observar a estrutura dos títulos, pois são o primeiro contato


dos leitores com o conteúdo textual. Eles precisam, ao mesmo tempo, deter a
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atenção de quem está à procura de informação e dialogar com o tema do texto.


Por se tratar de uma frase, ou, no máximo, duas (considerando o subtítulo), a
sua criação requer concisão. Bons títulos exigem compreensão do texto como
um todo; assim, com ele pronto, será possível criar o título. De a acordo com a
pesquisadora Anabela Gradim (2000, documento on-line), “[...] o título tem de
ser concreto e estar relacionado com o assunto de que fala o texto, informando
diretamente, ou, simplesmente brilhando pela sua originalidade”.
A regra de ouro para um bom título reside em nunca enganar o leitor,
apresentar vestígios da informação, aguçar a curiosidade e dialogar com os
códigos de entendimento dos públicos. Sendo assim, é preciso considerar a
demanda da audiência, que, a princípio, se direciona aos meios de comunicação,
no intuito de adquirir informações, isto é, querendo saber o que aconteceu
(agora e no passado remoto). Portanto, os títulos devem ser construções afir-
mativas, nunca títulos negativos. Isso porque o leitor tem interesse em saber
o que aconteceu, e não o que “não aconteceu”; com o verbo no presente, não
haverá dúvidas.
Os títulos têm como objetivos atrair e informar, seja de maneira mais poética
ou objetiva. Por isso, não podem despertar dúvidas, de modo que o ponto de
interrogação não é recomendado. Utilizar extensivamente as mesmas palavras
torna cansativa uma frase tão curta como a dos títulos e subtítulos; uma a duas
linhas, no máximo, é considerado um bom tamanho de título. A estrutura da
pirâmide invertida acaba por facilitar a organização e o encaixe dos dados entre
os parágrafos, e, consequentemente, facilita a criação dos títulos e subtítulos
ao final do texto, já que, desde o início, o documento textual foi produzido
seguindo uma fórmula, também criada para acelerar a sua produção. Resta,
ainda, saber quais os limites dessa estrutura e se é possível transpassar suas
barreiras, visando a garantir a qualidade dos textos jornalísticos.

Estratégias textuais e o lead


O chamado lead (ou lide) é a estratégia textual mais recorrente na criação de
textos jornalísticos. É uma estrutura, modelo ou guia para facilitar a cons-
trução de textos noticiosos. Essa estratégia visa principalmente a informar e
atrair de maneira breve. O lead é a abertura do texto, e nada mais é do que
o primeiro parágrafo da notícia. Localiza-se nas primeiras linhas do texto,
onde se deve introduzir os acontecimentos mais importantes de maneira
resumida. Ao ler o primeiro parágrafo de uma notícia (lead), é possível sair
dele sabendo os fatos mais relevantes, pois, de maneira resumida, ele informa
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os principais acontecimentos mesmo aos leitores apressados que não terão


tempo de terminar o texto.
O lead direciona e organiza os acontecimentos da seguinte maneira: o
quê? Quando? Quem? Por quê? Onde? Como? A partir dessa estrutura, que,
a princípio, pode parecer fechada, será possível escrever objetivamente o
acontecimento e obter o máximo de informações possíveis. O lead é um
guia, e não uma regra fechada. No processo da escrita jornalística, é preciso
ponderar quais perguntas precisam constar no primeiro parágrafo e quais
poderão ser desenvolvidas nos parágrafos seguintes. Em geral, “por quê?” e
“como” são apresentadas logo no início do segundo parágrafo e desenvolvidas
nos seguintes.
Anabela Gradim (2000) aponta que notícias informativas requerem “leads
diretos”, ao passo que aquelas ligadas à curiosidade ou ao aprofundamento
pedem “leads atrasados”. Isto é, na criação de leads atrasados, o objetivo
não é exatamente transmitir a informação, mas sim incitar a curiosidade e
o interesse da leitura. O primeiro parágrafo tende a se estruturar a partir do
tema dos acontecimentos (o que aconteceu) e dependerá do caráter da notícia.
Pode-se visualizar a estratégia do lead com a pirâmide invertida (ou triân-
gulo invertido). As primeiras linhas do parágrafo conterão as informações mais
importantes e as seguintes estarão diluídas. No correr do primeiro parágrafo,
parte-se dos fatos mais relevantes aos menos relevantes, por isso, adota-se
a representação invertida da pirâmide. Sua base (que está no topo) contém
os fatos mais importantes; descendo, na direção dos próximos parágrafos,
tem-se a importância decrescente dos fatos. Isso não significa dizer que as
primeiras linhas do primeiro parágrafo serão mais longas e as seguintes mais
curtas, ou que o fato será noticiado de trás para a frente, pois, na verdade, o
que varia de intensidade é a relevância dos fatos, e não o tamanho das frases.
Com essa estrutura, o texto passa por um processo chamado de “construção
por blocos”, ou seja, os parágrafos da notícia serão criados de maneira a não
se perder a notícia, caso o editor chefe venha a eliminar algum deles ou haja a
leitura em blocos de leitores apressados. Se for necessário o corte dos últimos
dois parágrafos (se o jornalista utilizou a pirâmide invertida), as informações
mais relevantes do acontecimento estarão preservadas (GRADIM, 2000).
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O Manual da Redação da Folha de S. Paulo (FOLHA DA MANHÃ, 1996) chama a atenção


para possíveis erros durante a criação do primeiro parágrafo. A seguir, estão listadas
algumas ações que devem ser evitadas.
 Esconder fatos, localidade e idade.
 Utilizar expressões do senso comum.
 Usar termos pouco conhecidos sem a sua devida explicação.
 Iniciar o parágrafo com a forma nominal gerúndio, por exemplo: “Iniciando hoje
as atividades a Prefeitura...”.
 Iniciar a frase com aspas. Utilizar apenas quando a fonte disser algo importante
(impactante). Do contrário, reserve para o final do texto, por exemplo, “a partir de
hoje nossos produtos serão veganos”, afirma líder da L’Oréal.

Dicas que devem ser aplicadas: concisão, informação sintética, cinco linhas no má-
ximo, breve parágrafo, acontecimento resumido, consulta ao dicionário de sinônimos.

Os textos jornalísticos possuem uma identidade própria, ou seja, suas


características são facilmente identificáveis mesmo por quem tem pouco, ou
nenhum, conhecimento sobre jornalismo. Essa particularidade está atrelada aos
arranjos linguísticos, às estruturas do texto, bem como às estratégias textuais,
que dão cor e forma às notícias, assim como aos produtos midiáticos em geral.
A principal estratégia apontada por pesquisadores da área (GRADIM, 2000;
CAMPOS, 2009) é a nitidez textual. Para uma escrita nítida e sem confusões
entre os parágrafos, é preciso mais do que curiosidade gramatical, é necessário
estudo aprofundado. Quanto mais sabe-se sobre o tema a ser comunicado,
maior a chance de atingir a nitidez jornalística.
As narrativas que compõem o lead e o texto em si precisam ser nítidas, uma
vez que elas serão consumidas e lidas por diferentes públicos, com diferentes
cargas culturais e visões de mundo diversas. A falta de tempo ocasionada
pelo sistema de trabalho traz consequências aos textos de maior circulação,
pois precisam ser entregues rapidamente. Uma estratégia para esse sistema
de trabalho é a constante consulta a dicionários gramaticais. Outra estratégia
textual, incentivada pela pesquisadora Anabela Gradim (2000, documento
on-line), é o recurso das frases curtas e pontuações excelentes, para garantir
o “[...] brilho e vivacidade do texto”. A especificidade do texto jornalístico
estaria justamente nesta fórmula: textos concisos, frases curtas, verbos na voz
ativa (sujeito praticando a ação) e criatividade.
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Principais gêneros jornalísticos e o JLA


Diversas são as estratégias textuais para a sedução dos leitores no processo
de consumo das notícias. Os quatro principais gêneros jornalísticos —
informativo, recreativo, opinativo e interpretativo — cumprem um papel
na economia jornalística: transformar fatos em produtos e comercializá-los.
Entretanto, como bem aponta Amaral (1997), o que realmente nos detém e
nos cativa durante a leitura são os laços de identificação e reconhecimento.
Sem a “linguagem do coração”, as práticas jornalísticas acabam por cumprir
apenas as metas comerciais, deixando de lado o seu serviço sociocultural para
o fortalecimento democrático do País.
Nessa perspectiva teórica, as classificações em gêneros seriam apenas uma
base a se misturar em diferentes modos de escrita jornalística. Ou seja, após
o entendimento das funções e das possibilidades que cada um deles oferece,
será necessário avançar suas barreiras e não se limitar a apenas uma de suas
finalidades. O pesquisador e professor Pedro Campos (2005) incentiva que se
observe os gêneros por sua mutabilidade e fluidez, em que o texto do jornalista
é “texto de autor” e vai além de um único gênero: “Ali o repórter não esconde
sua opinião, pode ser lúdico na narrativa, passará informações de qualidade e
interpretará o fato com maestria, contextualizando, explicando, esclarecendo”
(CAMPOS, 2005, p. 1) .
A fim de avançar no trabalho de interpretação, apuração e serviço sociocul-
tural das notícias, os pesquisadores da Universidade de São Paulo (ECA-USP),
em particular Edvaldo Pereira Lima, introduziram no campo das Teorias do
Jornalismo a perspectiva jornalismo literário avançado (JLA). Essa abordagem
das notícias tenciona os papéis rígidos do lead, que, como dito anteriormente,
preestabelece toda uma práxis da produção textual. No JLA, as notícias preci-
sam encontrar ritmo diferente e guiar-se pela experiência. Entretanto, antes de
entrar nesse debate, apresentaremos brevemente os gêneros mais convencionais
da área, listados a seguir.

 Informativo: tem como característica aqueles textos noticiosos e obje-


tivos em que o lead é o principal guia na produção textual.
 Recreativo: valoriza a cultura em geral (cinema, teatro, esporte, viagens)
em suas pautas.
 Opinativo: fortalece o direito de todos os jornalistas a expressarem
sua opinião. Tais opiniões, quando bem fundamentadas, demonstram
conhecimento, apuração e pesquisa, podendo expressar credibilidade
e seriedade para o meio de comunicação.
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 Interpretativo: tem como base a apuração e a interpretação dos sig-


nificados (muitas vezes confundido com o opinativo). Dessa forma, o
jornalismo interpretativo mostrará o debate sobre o tema, ofertando ao
leitor um espaço para tirar suas próprias conclusões. Busca os detalhes
do fato, seu contexto histórico, aprofundando-se no acontecimento.
Não é informativo justamente porque avança para além da informação,
buscando oferecer conhecimento.

Ligada aos quatro gêneros acima, está a perspectiva do JLA, em que se


valoriza o entorno da notícia e se incentiva a história por trás de todos as fontes
e os acontecimentos. Essa perspectiva visa a expandir a pauta, e, com isso, o
próprio olhar do jornalista alcança maiores horizontes. A escuta e os métodos
de entrevista ligados à antropologia fazem parte dessa perspectiva. O JLA
possibilita uma abordagem múltipla dos gêneros jornalísticos, ou seja, um
único texto pode intercalar os quatro gêneros, visto que não precisa se limitar
em suas fronteiras. Sua particularidade é a exigência do tempo extra, o que,
na maioria das vezes, parece impossível diante dos prazos e das exigências
do mercado de notícias.
Na visão de Campos (2005, p. 7), caberia às instituições de ensino de
comunicação garantir o desenvolvimento de qualidade do jornalismo, e, para
isso, seria preciso preparar profissionais “[...] mais criativos, menos propensos
aos bitolamentos tradicionais da objetividade racionalista que teima em ter
sempre a bordo os instrumentos inibidores da criatividade que são a apuração
apressada, o excessivo formalismo do lead, os rigores do Manual da Redação,
a pauta fechada etc.”.
Essa perspectiva crítica da Teoria do Jornalismo defende ainda que, diante
dos desafios da área, os textos jornalísticos precisam oferecer experiência.
Para isso, é necessária mais qualidade de tempo aos profissionais. Com mais
tempo de criação, seria possível contar histórias, oferecer a imersão sentida
pelo jornalista no mundo da vida, proporcionar conhecimento e possibilidade
de conexão. Assim, o jornalista poderia adentrar no universo que está cobrindo
a pauta.
A jornalista e pesquisadora Cremilda Medina (2003) caminha na mesma
trilha crítica, destacando que, para além dos gêneros textuais, suas classifi-
cações e formatações, seria necessário trabalhar com a “humanização das
narrativas”. As notícias e sua informação possuem valor de patrimônio da
humanidade. Segundo a autora:
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Abrir-se, aprender a ouvir, a respeitar o diverso, a lidar com os desiguais, a


ser descrente e apurar, a recuperar visões distintas, a eleger o pequeno como
parte essencial do todo e a todos tratar igualmente. Porque nessa tarefa o
que equivale é a humanidade. E a informação bem trabalhada é patrimônio
da humanidade. Seja entre as mulheres afegãs, as africanas esterilizadas, as
nordestinas famintas e malcuidadas, as modelos tornadas objetos de consumo
ou os senhores de todos os poderes (MEDINA, 2003, p. 149).

Por fim, os gêneros textuais e a estrutura do lead fazem parte do ethos


jornalístico. Com eles, conseguiu-se obter identidade ao texto comunicativo
e, com isso, estabelecer diálogo com os públicos consumidores desse produto
midiático. O texto jornalístico se distingue de outros formatos principalmente
devido à pirâmide invertida; a fórmula “do mais importante ao menos rele-
vante” pode ser identificada em diferentes meios de comunicação ao redor do
mundo. O lead cumpre seu papel em acelerar a produção das notícias, trazendo
características próprias ao texto, mas também mostra seu lado, que, muitas
vezes, é mais operacional do que criativo.
Os gêneros jornalísticos apontam a direção da cadeia comunicativa, tor-
nando possível comercializar e circular os produtos midiáticos. Afinal, o gênero
recreativo faz parte do cotidiano da maioria das pessoas na contemporaneidade,
seja por meio das mídias sociais ou dos canais tradicionais de informação.
Além disso, as competências da área e suas estratégias (desenvolvidas por
profissionais e pesquisadores), de certa forma, acumulam saberes próprios ao
jornalista e caracterizam uma atividade que passa por intensa transformação,
mas que já possui suas bases e estruturas, dando suporte ao texto jornalístico
e impulsionando a transgressão de seus limites.

AMARAL, L. Jornalismo: matéria de primeira página. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.
ARA, F. B. Cedemos os dados sem receber nada em troca. Deveria haver um mer-
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CAMPOS, P. C. Gêneros do jornalismo e técnicas de entrevista. Estudos em Jornalismo
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CAMPOS, P. C. Gêneros do Jornalismo e Técnicas de Entrevista. In: BOCC - Biblioteca


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Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/campos-pedro-generos-do-jornalismo.
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CREMILDA, M. A arte de tecer o presente: narrativa e cotidiano. São Paulo: Summus
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LIMA, E. P. Jornalismo literário para iniciantes. Joinville: Clube de autores, 2010
LIMA, E. P. O que é livro-reportagem. Brasiliense, São Paulo: 1993.

Leitura recomendada
DUNDER, K.; MARTINEZ, M. N. Audálio Dantas, o repórter. Ponte entrevista um dos
mais respeitados jornalistas do Brasil. Ponte, 2016. Disponível em: https://brasil.elpais.
com/brasil/2019/07/24/tecnologia/1563979384_129217.html. Acesso em: 8 ago. 2019.

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