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PLATAFORMAS

JORNALÍSTICAS
E A NOTÍCIA

Marcilene Forechi
Introdução ao
jornalismo impresso
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Caracterizar a notícia no jornalismo impresso diário.


 Analisar as particularidades do jornalismo impresso, como os manuais
de redação e a estrutura da notícia.
 Redigir textos jornalísticos para a mídia impressa.

Introdução
O jornalismo já passou por muitas transformações desde a impressão
do primeiro jornal de que se tem notícia, em 1609. Naquela época, os
jornais publicavam informações sobre partidas e chegadas de navios e
fatos corriqueiros ligados ao comércio e à política. A informação jorna-
lística não era organizada da forma como é hoje, dividida em diferentes
gêneros, formatos e editorias. Nesse sentido, a objetividade jornalística
foi um fator fundamental para que houvesse investimento em um novo
modo de fazer jornalismo, de forma a conferir credibilidade ao campo.
Neste capítulo, você vai estudar sobre a notícia no jornalismo im-
presso, verificando as suas características. Você também vai analisar as
particularidades do jornalismo impresso, dos manuais de redação e da
estrutura da notícia e, por fim, vai compreender os elementos relacio-
nados à produção de textos jornalísticos redigidos com propriedade.

A notícia no jornalismo impresso diário


Compreender que o jornalismo impresso faz parte de um processo de mudanças
na sociedade e nos modos de produção industrial é importante para que também
se compreenda que o processo de produção da informação jornalística muda
conforme o contexto no qual está inserido. A industrialização, o crescimento
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do público leitor, a expansão do comércio e um novo modo de organização


do trabalho foram fatores que levaram à necessidade de mudanças no estilo
das informações produzidas pelos jornais.
Os primeiros jornais impressos começaram a circular em 1609, e a atividade
exigia poucos recursos: prensa, tipos móveis, papel e tinta. O contexto também
era muito mais simples do que nos dias de hoje, pois havia um público leitor
bastante reduzido, e as tiragens dos jornais eram pequenas, limitando-se a
centenas ou alguns milhares.
Os jornais naquela época publicavam informações sobre fatos corriqueiros
ligados à política e ao comércio. A figura do jornalista, como a conhecemos
hoje, não existia. Esse profissional era conhecido como publicista, e o público
esperava que os jornais publicassem orientações e interpretações da realidade.
O publicista, então, oferecia informações sobre chegadas de navios, atos de
pirataria, guerras e revoluções.
Lage (2002) destaca que o pano de fundo do jornalismo eram os editoriais,
ou seja, os textos escritos pelo editor do jornal, o homem que fazia o jornal
praticamente sozinho. Os assuntos desses editoriais podiam estar relacionados
a fatos ou a eventos fictícios. O texto informativo, que oferecia registros de
fatos, consistia apenas em enunciados, atas, relatórios e episódios listados
em ordem cronológica. A linguagem dominante, segundo Lage (2002), ficava
entre a fala parlamentar, a análise curta e o sermão religioso.
No Brasil, o primeiro jornal impresso surgiu no dia 10 de setembro de 1808.
A impressão do jornal Gazeta do Rio de Janeiro marcou o início da imprensa
no País, pois, antes disso, a atividade era proibida. O jornal era publicado duas
vezes por semana e trazia informações de interesse direto da corte, que tinha
intenção de moldar a opinião popular em favor da realeza. Antes da chegada
desse impresso, no mesmo ano, o jornalista Hipólito da Costa imprimia em
Londres o Correio Brasiliense, que era trazido clandestinamente para o Brasil
(LAGE, 2002).
Na época dos primeiros jornais, as notícias não eram produzidas como
são atualmente, tampouco os jornais eram organizados como hoje, em meio
a grandes conglomerados de mídia. A transição para o modelo que temos hoje
começou no século XIX, com as mudanças no modo de produção industrial e
a ampliação do público leitor. Segundo Lage (2002), a partir daí, as tiragens
dos jornais se multiplicaram, e surgiu a indústria gráfica.
Lage (2002) aponta que o tipo de jornalismo publicista feito até então não
interessava aos novos leitores. Estes não pertenciam às aristocracias, estando
inseridos em um novo modelo de trabalho e produção, além de se alinha-
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rem a uma tradição de cultura mais objetiva e popular. Não havia mais uma
aristocracia poderosa para se opor à burguesia. Os “artigos de fundo” já não
tinham mais apelo junto aos novos públicos, que precisavam se entusiasmar
e se sentir motivados a ler os jornais.
O jornalismo passou a ser educativo e sensacionalista. As notícias,
então, passaram a ter o objetivo de educar as pessoas para esse novo
momento vivido. Foi o momento das críticas literárias e das informações
sobre moda e costumes. Como lembra Lage (2002), o jornal ensinava às
pessoas o que ver, o que ler, como se vestir, como se portar. Mais do que
isso, os jornais exibiam os escândalos e os maus comportamentos dos
ricos e poderosos. O sensacionalismo era um modo de envolver o público
e fazê-lo se emocionar.
Na Figura 1a, vemos uma imagem do jornal Gazette de France, pri-
meiro jornal diário a circular na França, fundado em 30 de maio de 1631.
Na Figura 1b, temos uma das páginas do jornal Gazeta do Rio de Janeiro,
que começou a circular em 10 de setembro de 1808 e foi o primeiro jornal
impresso no Brasil.

Figura 1. (a) Gazette de France; (b) Gazeta do Rio de Janeiro.


Fonte: La Gazette... (2009, documento on-line); Bezerra (2008, documento on-line).
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A notícia em sua forma contemporânea


Foi no contexto que mencionamos acima que começa a emergir a figura do repórter
como o profissional que conferia ao texto publicado nos jornais um caráter mais
profissional e comprometido com a realidade. Com o aumento no número de
publicações, surgiu a concorrência e a disputa pelo leitor. Assim, o veículo que
mostrasse uma informação de primeira mão seria lido primeiro. O repórter passou
a ser cada vez mais acionado para cobrir os fatos, como crimes, agitações e debates
parlamentares. A história oficial já não era a única história possível de ser contada.
A notícia, como a conhecemos hoje, surgiu no final do século XIX e início
do século XX, nos Estados Unidos, em um momento de prosperidade para a
indústria dos jornais. Lage (2002, p. 18) aponta que a notícia ganhou “[...] sua
forma moderna, copiando o relato oral dos fatos singulares, que, desde sempre,
baseou-se, não na narrativa em sequência temporal, mas na valorização dos
fatos mais importantes de um evento”. Essa informação passa a ser o lead, que
contém as circunstâncias de tempo, lugar, modo, causa, finalidade e instrumento.
A notícia, em sua configuração moderna, coloca-se em oposição ao texto
jornalístico produzido na época do surgimento dos primeiros jornais, passando
a apresentar linguagem retórica e forte carga emocional. Junto com esse novo
modo de fazer jornalismo, a partir da notícia, a ética passou a figurar como
um elemento regulador da linguagem jornalística.

Dois elementos usados para caracterizar o jornalismo impresso são a periodicidade e a


atualidade. As primeiras publicações jornalísticas surgiram no começo do século XVII,
na Alemanha, nos países baixos e na Inglaterra. Antes disso, há registros de publicações
impressas, como calendários e almanaques, por volta de 1455. A partir de 1605, os jornais
passaram a ser publicados em períodos regulares, mas o jornalismo diário só surgiu
em 1650, na Alemanha, em 1702, na Inglaterra, e em 1777, na França. O termo “jornal”
vem da expressão francesa “jornal”, que significa diário, em tradução livre (PENA, 2002).

Jornalismo impresso, manuais de redação


e estrutura da notícia
Fatos sempre existiram e eram relatados nos jornais desde que estes começaram
a circular. A notícia, no entanto, como nós a conhecemos, passou a existir a
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partir do momento em que o seu processo de produção foi sistematizado, e o


jornalismo passou a ser dividido em opinativo e informativo. A separação entre
o que é informação e o que é opinião, no jornalismo, passou a ser crucial para
a credibilidade e a consolidação da objetividade como um pilar da atividade.
José Marques de Melo (MELO; ASSIS, 2010), um dos mais conceituados
estudiosos do jornalismo no país, divide o gênero informativo no jornalismo em
quatro categorias: nota, notícia, reportagem e entrevista. A notícia pode ser definida
como o relato de um fato novo, que apresenta determinados valores que o façam
figurar nas páginas de um jornal ou em algum outro veículo de comunicação.
A notícia, portanto, trata do relato objetivo do fato novo e de interesse público.
No início do século XX, os jornais eram essencialmente opinativos. Havia
informação, mas ela não era apresentada no formato com o qual estamos
acostumados. Pena (2006) aponta algumas características da informação
jornalística daquele período, conforme descritas abaixo.

 Forte carga panfletária: havia uma defesa dos conteúdos alinhada ao


pensamento dos donos dos jornais.
 Narrativas retóricas: eram comuns as longas considerações subjetivas
no início do texto, antes de que fosse informado o real motivo da matéria.
Essa prática é conhecida, atualmente, como nariz de cera.
 Parcialidade: não havia, como nos dias de hoje, a adesão aos princípios
da objetividade e da imparcialidade como premissas do jornalismo.

Hoje, o texto no jornalismo impresso segue um padrão técnico que tem no


compromisso com a objetividade o seu principal pilar. Apesar das profundas
mudanças na sociedade, principalmente com o avanço das tecnologias de
comunicação e o uso da internet, no jornalismo impresso, os formatos têm
mudado bem pouco. Continua sendo comum a divisão entre jornalismo opi-
nativo e jornalismo informativo, com os jornais sendo divididos em editorias,
cadernos temáticos e suplementos semanais.

Convém lembrar que a divisão por gêneros não pode ser pensada de forma pura,
como se eles não se interconectassem. Apesar de muitos acreditarem que o texto na
internet se resume a uma transposição do conteúdo impresso, têm sido observadas
algumas características nas publicações digitais. Uma delas é a mistura entre os gêneros
opinativo e informativo no mesmo texto.
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A notícia continua sendo a principal matéria-prima do jornalismo infor-


mativo, ainda que sejam comuns os outros formatos do gênero informativo,
como a nota, a reportagem e a entrevista. Lage (2002) é um dos pesquisadores
que usa a expressão informação jornalística para se referir a um conjunto de
possibilidades para a produção no jornalismo impresso. Assim, informação
jornalística tanto pode se referir à reportagem quanto à notícia.
Lage (2002) afirma que a notícia se distingue da reportagem com
certo grau de sutileza, já que, nessa última, importam mais as relações
que atualizam os fatos. “A reportagem é planejada e obedece a uma linha
editorial, um enfoque; a notícia, não”, afirma Lage (2002, p. 51). Ele destaca
duas razões para a confusão entre a reportagem e a notícia. A primeira
razão se deve à polissemia do termo “reportagem”, que diz respeito tanto
ao formato de texto quanto à seção das redações que produz tanto repor-
tagem quanto notícia. A segunda razão é resultado da importância que
a estrutura da notícia assumiu na indústria da informação. Reportagem
e notícia, frequentemente são produzidas com os mesmos critérios de
ordenação, nomeação e seleção, além de serem apresentadas com idêntica
diagramação dentro dos jornais.

Os manuais de redação
Os manuais de redação são grandes aliados dos jornalistas que começam a
se familiarizar com a produção de notícias no jornalismo impresso. Alguns,
como o Manual de Redação da Folha de S. Paulo, são usados como referência
em cursos de Jornalismo e em diversas redações de outros veículos de comu-
nicação. Editado pela primeira vez em 1984, o Manual da Folha inovou ao
incorporar recomendações que extrapolaram as tradicionais recomendações
de linguagem e reforço às regras ortográficas e gramaticais, observadas nas
publicações dessa natureza, a partir dos anos 1920.
O Manual de Redação da Folha inovou em outro aspecto: nunca um
veículo de comunicação havia tornado públicos os seus compromissos éticos
e editorais, o que permitiu aos seus leitores, sabendo de seus compromissos,
fiscalizar as pautas produzidas e publicadas. Além das questões técnicas,
o Manual da Folha apresenta o Projeto Folha, no qual deixa claras as suas
concepções de notícia, o seu comprometimento com a democracia, a sua
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atitude de independência em face aos grupos de poder e a transparência com


seus públicos (FOLHA DA MANHÃ, 1996).
Após a edição do Manual da Folha, vários veículos se encarregaram de
atualizar seus próprios manuais e torná-los públicos. Atualmente, é possível
adquirir exemplares impressos e acessar versões digitais, na totalidade ou
em partes. Os manuais de redação oferecem orientação aos jornalistas sobre
como se comportar na produção da matéria, bem como noções de produção
gráfica e orientações práticas para o seu dia a dia na redação.

O texto jornalístico na mídia impressa


Existem vários procedimentos que garantem aos jornalistas identificarem o
que é notícia e serem capazes de produzi-la. Mas a notícia não se constitui
apenas do texto que relata um fato novo e de impacto social. A notícia envolve
todo um processo de produção. Isso significa que a produção da notícia não
começa quando o repórter inicia a apuração. O processo de produção da
notícia envolve a pauta, a apuração, a seleção das fontes, a escolha do ângulo
de abordagem, a edição e a diagramação.
A produção da notícia deve respeitar alguns critérios. Um deles diz respeito
à lógica da pirâmide invertida, que significa compor o texto de forma que
os fatos mais importantes sejam os primeiros e os de menor relevância sejam
abordados nos últimos parágrafos. Nessa lógica, a ordem cronológica não
deve ser priorizada. Se pensarmos no jornal como um espaço limitado pela
quantidade de caracteres que podem ser inseridos na página, é fácil perceber
como a pirâmide invertida facilita o corte de textos (caracteres) para o material
se ajustar aos espaços disponíveis, sem que seja preciso reescrever a matéria.
Basta cortar “no pé”, no jargão jornalístico das redações.
Ao redigir um texto, o repórter faz uma seleção prévia do que é considerado
importante, de acordo com os valores-notícia. Atualmente, esses valores podem
ser pensados a partir de duas perspectivas: ideológica e econômica. Em uma
perspectiva ideológica, o jornalismo tem um interesse público; já em um viés
econômico, o jornalismo é um negócio, e a notícia, uma mercadoria. Essas
perspectivas vão ser fundamentais na definição dos valores-notícia, ainda que
eles sejam definidos por convenções profissionais.
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As notícias variam no tempo e no espaço e ganham ou perdem importância depen-


dendo do contexto, do espaço geográfico e da linha editorial. Existe uma série de
aspectos e condições do fato, conhecidos como valores-notícia, que determinam o
seu potencial para se transformarem em notícia. Veja alguns desses valores: proximidade,
marco geográfico, impacto, proeminência, aventura ou conflito, descobertas ou inven-
ções, humor, raridade, interesse pessoal, interesse humano, rivalidade e oportunidade.

Além disso, precisamos pensar que há procedimentos ligados às rotinas de


produção que definem critérios de noticiabilidade para os fatos, ao atuarem
como filtros que interferem no que será ou não noticiado. A pauta pode ser
considerada um filtro que antecipa critérios de noticiabilidade e elege valores-
-notícia considerados válidos naquele momento. Ela é elemento fundamental
para a produção de uma boa reportagem, pois é a partir dela que a captação
e a seleção de informações serão organizadas.
É, também, a partir da pauta, que o repórter seleciona fontes, encontra
elementos para contextualização dos fatos e vislumbra o que poderá ser dito.
A pauta é a busca pelo mundo que ainda não foi noticiado. Por isso mesmo,
a pauta pode sugerir abordagens que vão orientar e condicionar o olhar do
repórter na produção do seu texto. A organização do material produzido
pelo repórter dentro do espaço jornalístico do jornal é outro fator a ser con-
siderado na produção da notícia, já que são definidos de antemão o tamanho
da matéria, a quantidade de fontes que serão ouvidas e a localização do texto
no corpo do jornal.

O lide no jornalismo impresso


Foi na década de 1950 que chegou ao Brasil o conceito do lead (ou lide), já
usado na imprensa norte-americana e que foi considerado uma forma de trazer
objetividade para o texto jornalístico. Podemos, de modo geral, dizer que o
lead é um relato sintético do fato, apresentado no início do texto, em que são
respondidas as principais perguntas: o que, quem, onde, quando, como e por
quê. Além desse caráter técnico, o lide exerce, no texto noticioso, as funções de:

 apontar a singularidade da história;


 informar o que se sabe de mais novo sobre um acontecimento;
 apresentar lugares e pessoas de importância para o entendimento dos fatos;
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 oferecer o contexto em que ocorreu um evento;


 provocar, no leitor, o desejo de ler o restante da matéria;
 articular de forma racional os diversos elementos constitutivos do
acontecimento;
 resumir a história, da forma mais compacta possível, sem perder a
articulação.

Em um primeiro momento, pode-se pensar que o lide é um modo de engessar


o texto jornalístico e “podar” a criatividade de jovens e talentosos jornalistas.
Isso até pode ter alguma razão, mas há muitas possibilidades de produção do
lide, e o repórter é quem escolhe a melhor forma de apresentar seu texto. Há
casos em que essas possiblidades de escolha são mais limitadas, como em
uma notícia sobre um acidente com vítimas, ou no caso de alguma orientação
editorial específica.
Pena (2006) enumera alguns tipos de lide a partir da classificação do
pesquisador João de Deus. Vejamos a seguir quais são eles e as possibilidades
narrativas que cada um deles oferece.

 Lide clássico — apresenta todos os elementos essenciais, mas sem


preocupação com a hierarquização dos dados entre si. É o mais comum
e costuma ser usado em notas ou notícias curtas.
 Lide de citação — é iniciado com a transcrição de uma fala ou de-
poimento de um personagem do fato a ser relatado. Esse tipo de lide
deve ser usado apenas quando a citação for relevante para o assunto
a ser tratado.
 Lide explicativo — é o lide que começa com uma espécie de justifica-
tiva, que tem a função de explicar em que contexto algo ocorreu. Tem
uma função didática em relação ao público-alvo.
 Lide circunstancial — o texto é iniciado pela apresentação do
elemento “como” ou de uma circunstância tão original que justifique
a prioridade.
 Lide descritivo — tem o estilo do conto: cria suspense para um des-
fecho inesperado. Não é muito usual na narrativa de notícias, sendo
mais comum em reportagens ou programas televisivos. É um tipo de
texto que deve ser evitado.
 Lide conceitual — é aquele que emprega uma ideia, uma definição,
para atrair o destinatário da notícia pela novidade ou pelo enfoque
diferenciado que o conceito apresenta. Costuma ser usado em matérias
que têm como novidade o conceito ou o fenômeno apresentado.
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 Lide interrogativo — uma pergunta sem solução imediata abre a


matéria e tem por objetivo despertar a curiosidade ou chamar a aten-
ção para a importância do fato a ser relatado. A pergunta deve ser
contextualizada no texto e não pode ser apenas um recurso narrativo
ou elemento para chamar a atenção.
 Lide cronológico — os dados são apresentados na sequência em que
os fatos ocorreram, do mais remoto para o mais novo. Esse é um lide
pouco usado em notícia e deve ser visto com cautela. Geralmente, ele
é usado quando o jornalista percebe a força narrativa da ordem natural
dos fatos.
 Lide de enumeração — começa com uma lista ou sequência de fatos,
ideias ou consequências que tenham peso e relevância para o fato a
ser relatado. A sequência apresentada deve estar bem articulada no
desenrolar do texto.

Você já deve ter percebido que, para produzir notícias, não basta apena
saber o que é notícia e fazer uma boa apuração dos fatos. É preciso considerar
uma série de fatores que vão, de certa forma, orientar a produção do seu texto.
Esses fatores vão desde a definição da pauta à escolha das fontes, passando
pelo espaço que a matéria terá no veículo e a abordagem definida na pauta.
Veja abaixo outros elementos constitutivos da notícia no jornalismo impresso.

 Título: deve ser feito de forma a chamar a atenção do leitor, sempre


respeitando a linha editorial do jornal. Um bom título deve, em poucas
palavras, anunciar a principal informação ou descrever com precisão um
fato. Um bom título deve conter verbos no presente do indicativo. Veja
um exemplo de título que oferece uma informação completa: “Governo
desiste de aumentar impostos”. Observe que, se o título não puder ser
retirado do lide, você provavelmente terá que reescrever o seu texto.
 Linha fina ou linha de apoio: também é chamada de subtítulo e consiste
em um pequeno texto que complementa o título ou oferece informação
adicional, com objetivo de atrair o leitor. A linha fina pode ter de uma
a três linhas, dependendo do projeto gráfico do jornal.
 Olho: trata-se de uma frase ou um trecho do texto, que se coloca em
posição destacada na página, em corpo maior, eventualmente em cor
diferente. Tem o objetivo de chamar a atenção do leitor para o ponto,
ou os pontos de mais relevo que aquela matéria contém. Também é
chamado de olho o trecho inicial, destacado, que abre uma entrevista
no formato pingue-pongue.
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Na página de jornal abaixo, temos um título em duas linhas que é retirado do lide da
matéria. A informação do título oferece uma informação completa, apesar de não ser
representativa de todos os dados informados no texto. A linha fina obedece ao projeto
gráfico e contém uma linha apenas, com uma informação adicional. Acima do título, a
expressão “dois turnos” representa um elemento gráfico conhecido como chapéu ou
foguete. Observe que, nesse veículo, o título é grafado com letras maiúsculas, porque
isso faz parte do seu projeto gráfico. Mas, de modo geral, a recomendação é que os
títulos sejam grafados apenas com a primeira letra em maiúscula.

BEZERRA, E. O primeiro jornal impresso no Brasil. Opinião e Notícia, 2008. Disponível


em: https://archive.org/details/lagazettedefran01unkngoog/page/n18. Acesso em: 9
ago. 2019.
FOLHA DA MANHÃ. Novo manual de redação da Folha de S. Paulo. Folha Online, 1996.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_redacao.htm.
Acesso em: 9 ago. 2019.
12 Introdução ao jornalismo impresso

LA GAZETTE de France. Archive.org, 2009. Disponível em: https://archive.org/details/


lagazettedefran01unkngoog/page/n18. Acesso em: 9 ago. 2019.
LAGE, N. A reportagem: teoria e técnica de entrevistas e pesquisa jornalística. 2. ed. Rio
de Janeiro: Record, 2002.
MELO, J. M.; ASSIS, F. Gêneros jornalísticos no Brasil. São Bernardo do Campo: Universidade
Metodista de São Paulo, 2010.
PENA, F. Teoria do jornalismo. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006.

Leituras recomendadas
LAGE, N. Ideologia e técnica da notícia. 3. ed. Florianópolis: Editora Insular, 2001.
MOREIRA, F. B. Os valores notícia no jornalismo impresso: análise das características subs-
tantivas das notícias nos jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo.
2006. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Informação) - Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/
bitstream/handle/10183/7773/000556586.pdf. Acesso em: 9 ago. 2019.

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