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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2023.0000553315

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de


Instrumento nº 2109709-67.2022.8.26.0000, da Comarca de
Vinhedo, em que são agravantes JOSÉ EDUARDO SAAVEDRA
DURÁN e VALÉRIA ESMÉRIO SAAVEDRA DURÁN, são agravados
FELICISSIMO EMPREENDIMENTOS E INCORPORAÇÕES LTDA. e
LUMA EMPREENDIMENTOS LTDA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 2ª Câmara


Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São
Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que
integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores


RICARDO NEGRÃO (Presidente sem voto), MAURÍCIO PESSOA E
JORGE TOSTA.

São Paulo, 3 de julho de 2023.

SÉRGIO SHIMURA
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº 29341
AI n° 2109709-67.2022.8.26.0000
Comarca: Vinhedo (2ª Vara Vinhedo)
Agravantes: JOSÉ EDUARDO SAAVEDRA DURÁN E OUTRO
Agravadas: FELICÍSSIMO EMPREENDIMENTOS E
INCORPORAÇÕES LTDA.; LUMA EMPREENDIMENTOS LTDA.
Juiz: Dr. Luiz Gustavo Primon
Autos de origem n° 1001011-44.2022.8.26.0659

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER


CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS “CONTRATO
PARTICULAR PARA FUTUROS
ACIONISTAS EM CONSTITUIÇÃO DE
SOCIEDADE ANÔNIMA” DECISÃO QUE
INDEFERIU O PEDIDO DE TUTELA DE
URGÊNCIA Inconformismo dos
autores, que pleiteiam a concessão de
tutela de urgência consistente na
decretação de indisponibilidade do lote
10 da quadra “C” de matrícula nº
28.656, e de 50% do lote 7 de
matrícula nº 28.658 e lote 9 de
matrícula nº 28.660 Não acolhimento
Necessidade de se verificar as
peculiaridades do caso concreto -
Tutela antecipada que se mostra
precipitada nesse momento inicial do
processo - Ausência dos requisitos do
art. 300, CPC - No caso em discussão,
inexistem, por ora, elementos que
evidenciem a probabilidade do direito,
notadamente em razão de o feito ainda
carecer de maior dilação probatória a
respeito da alegada fraude praticada
pelos réus - RECURSO DESPROVIDO.

Agravo de Instrumento nº 2109709-67.2022.8.26.0000 -Voto nº 29341 2


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Trata-se de Agravo de Instrumento interposto


por JOSÉ EDUARDO SAAVEDRA DURÁN e VALÉRIA ESMÉRIO
SAAVEDRA DURÁN contra r. decisão que indeferiu o pedido de
tutela de urgência (fls. 55 dos autos de origem).

Inconformados, os agravantes vêm recorrer,


sustentando, em resumo, que em fevereiro de 2015 celebraram
com a empresa FELICÍSSIMO EMPREENDIMENTOS E
INCORPORAÇÕES LTDA. contrato particular para futuros acionistas
em constituição de sociedade anônima, com prazo determinado e
com o propósito específico de realizar a execução e venda de
loteamentos residenciais.

Dizem que, na qualidade de acionista realizaram


o pagamento no valor de R$ 230.000,00 (duzentos e trinta mil
reais), equivalente a uma ação, o que lhe daria o direito de,
posteriormente, resgatar suas ações em lotes, em quantidade igual
ao número de ações que tivessem adquirido; que, apesar da
finalização da obra, quando postularam o resgate das ações, não
obtiveram a transferência do lote.

Asseveram que há indícios de fraude, já que a


empresa FELICISSIMO transferiu diversos lotes por simples doação
à corré LUMA EMPREENDIMENTOS LTDA., o que demonstra o
fumus boni iuris e o periculum in mora.

Indeferido o pedido de tutela de urgência, não


sobreveio resposta recursal (fls. 13/14 e 27).

Agravo de Instrumento nº 2109709-67.2022.8.26.0000 -Voto nº 29341 3


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Não houve oposição ao rito do julgamento


virtual.

É o relatório.

Do que se extrai dos autos JOSÉ EDUARDO


SAAVEDRA DURÁN e VALÉRIA ESMÉRIO SAAVEDRA DURÁN
ajuizaram ação de obrigação de fazer cumulada com indenização
por danos morais contra FELICÍSSIMO EMPREENDIMENTO E
INCORPORAÇÕES LTDA. e LUMA EMPREENDIMENTOS LTDA.

Narram os autores que, em meados de fevereiro


de 2015, celebraram com a corré FELICÍSSIMO EMPREENDIMENTO
E INCORPORAÇÕES LTDA. contrato particular para futuros
acionistas em constituição de sociedade anônima, pelo qual restou
pactuado que a sociedade teria prazo de duração determinado,
com o propósito específico de realizar a execução e venda de
loteamentos residenciais e os acionistas realizariam o pagamento
no valor de R$ 230.000,00 (duzentos e trinta mil reais),
equivalente a uma ação, tendo posteriormente o direito de resgate
de suas ações em lotes, em quantidades iguais ao número de
ações que tivessem adquiridos, não podendo ser escolhido os lotes
previamente. Entretanto, ficou acordado que possivelmente o seu
lote seria o 12c.

Dizem que a sociedade foi então constituída, as


obras foram executadas, estando os lotes prontos e diversos deles
já foram vendidos e entregues.

Contudo, o requerente, na qualidade de


acionista, detendo uma única ação, pleiteou pelo resgate do seu
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crédito (pretendia receber seu lote), mas a empresa requerida não


cumpriu com o acordado.

Informam que de acordo com as fichas


cadastrais, a empresa LUMA EMPREENDIMENTOS LTDA. foi
constituída em 05/10/2020, tendo como administrador o Sr.
NEWTON FELICISSIMO e como sócia e administradora a Sra. LUZIA
CLAUDIA FELICISSIMO; que até 25/02/2021 o Sr. NEWTON
FELICISSIMO, também era sócio da empresa FELICÍSSIMO
EMPREENDIMENTO E INCORPORAÇÕES LTDA., empresa essa que
foi constituída em 09/12/2005.

Destacam ainda que todos os sócios das 2


empresas (LUMA e FELICISSIMO) possuem o mesmo sobrenome,
vejamos: CRISPIM FELICISSIMO NETO LUZIA CLAUDIA
FELICISSIMOEDUARDO CELSO FELICISSIMO.

Esclarecem que o contrato, objeto da presenta


demanda, foi firmado em 02/2015, ou seja, antes da constituição
da empresa LUMA EMPREENDIMENTOS LTDA. e enquanto o Sr.
NEWTON FELICISSIMO figurava no quadro societário da empresa
FELICÍSSIMO EMPREENDIMENTO E INCORPORAÇÕES LTDA.

Ressaltam que a empresa FELICÍSSIMO


EMPREENDIMENTO E INCORPORAÇÕES LTDA. prometeu cumprir o
contrato firmado, tanto que em 13/02/2020 o coautor providenciou
procuração, visando à transferência do lote 10 da quadra “c” do
Loteamento Residencial Villagio de Firense, matrícula nº 28.656.

Como a empresa requerida não efetivou a


referida transferência, tendo doado referido lote para a empresa
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LUMA EMPREENDIMENTOS LTDA., não restou alternativa aos


autores, senão ajuizar a presente demanda, objetivando que as rés
sejam compelidas a procederem com a imediata transmissão de
lotes disponíveis, bem como ao pagamento de indenização por
danos morais. Em caráter subsidiário, pedem a devolução do valor
pago, em parcela única, devidamente corrigido e acrescido de juros
de mora, sem prejuízo de multa.

Formularam pedido de tutela de urgência para


seja decretada a indisponibilidade do lote 10 da quadra “C” de
matrícula nº 28.656, pois conforme amplamente demonstrado
apresenta indícios de fraude. Assim como, caso Vossa Excelência
não entenda pela fraude apontada, e visando garantir os direitos
dos autores, requer também a indisponibilidade de 50% dos lotes 7
de matrícula nº 28.658 e 9 de matrícula nº 28.660, até o final de
presente demanda (fls. 01/10 dos autos de origem).

O pedido liminar foi indeferido pela r. decisão


agravada, nos seguintes termos:

“Vistos.
Não há plausibilidade inicial suficiente para a concessão
da tutela de urgência pleiteada, mormente a considerar a
necessidade de exame mais aprofundado acerca das teses
fáticas e de direito apresentadas, sob o crivo do
contraditório. Não bastasse, a urgência da medida inicial
se esvai quando os próprios autores formulam pedido
subsidiário, consistente na devolução do valor que teria
sido pago pelo autor à requerida Felicíssimo. Nesse
quadro, INDEFIRO a liminar.” (fls. 55 dos autos de
origem).
Agravo de Instrumento nº 2109709-67.2022.8.26.0000 -Voto nº 29341 6
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Nesse contexto, o recurso não comporta


guarida.

Cumpre salientar que, para que seja deferida a


medida liminar pleiteada na inicial, exige-se o atendimento aos
requisitos do art. 300, CPC, quais sejam, a presença de “elementos
que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou
risco ao resultado útil do processo”.

No caso em análise, ao menos em sede de


cognição sumária, percebe-se a ausência dos requisitos para o
deferimento da antecipação de tutela.

As partes celebraram o contrato em 2015 e os


autores afirmam que o resgate das ações deveria ter ocorrido em
2020, o que afasta o perigo da demora.

Somado a isso, inexistem, por ora, elementos


que evidenciem a probabilidade do direito, notadamente em razão
de o feito ainda carecer de maior dilação probatória. Aliás, não há
documentos suficientes a comprovar a transferência dos lotes entre
as empresas corrés, indicando a suposta existência de fraude
alegada pelos autores.

Portanto, fica mantida a r. decisão agravada,


tendo em vista que, somente após regular instrução, o MM. Juiz “a
quo” estará munido de maiores elementos para apreciar a questão
com maior segurança.

Ante o exposto, pelo meu voto, nego


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provimento ao recurso.

SÉRGIO SHIMURA
Relator

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