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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 6ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0719572-83.2020.8.07.0015

ALESSANDRY DA COSTA MACIEL e ARLINDO VIEIRA MACHADO


APELANTE(S)
JÚNIOR

ALESSANDRY DA COSTA MACIEL e ESCOLA JARDIM DO EDEN E J E


APELADO(S)
LTDA - ME
Relatora Desembargadora SONÍRIA ROCHA CAMPOS D'ASSUNÇÃO

Acórdão Nº 1724698

EMENTA

APELAÇÃO. CIVIL. AÇÃO PARA EXCLUSÃO DE SÓCIO. PRELIMINAR. INOVAÇÃO


RECURSAL. REJEIÇÃO. PEDIDO DEDUZIDO EM CONTRARRAZÕES. NÃO
CONHECIMENTO. DISSOLUÇÃO PARCIAL DA SOCIEDADE. DESCUMPRIMENTO DAS
OBRIGAÇÕES SOCIAIS. QUEBRA DA AFFECTIO SOCIETATIS. FALTA GRAVE
CONFIGURADA. RECURSO ADESIVO HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. APRECIAÇÃO
EQUITATIVA. REQUISITOS. AUSÊNCIA. SENTENÇA MANTIDA.

1. A irresignação recursal em face aos critérios de fixação dos honorários de sucumbência não
configura inovação recursal, uma vez que esta deriva diretamente das razões adotadas pelo Juízo a quo
ao proferir a sentença recorrida. Preliminar rejeitada.

2. As contrarrazões qualificam-se processualmente como meio de defesa, não sendo a via


adequada a deduzir pedido recursal.

3. É possível a exclusão judicial de sócio mediante iniciativa dos demais sócios, por falta grave
no cumprimento das obrigações ou por incapacidade superveniente, nos termos do art. 1.030 do Código
Civil.

4. No caso, a parte autora demonstrou a quebra da affectio societatis pelo réu, sendo
incontroversa a gestão temerária, ausência de prestação de contas e elevação dos débitos tributários,
sem justo motivo. Ademais, as ameaças proferidas pelo sócio réu contra a sócia subsistente acarretaram
o ajuizamento de ação penal, restando patente o prejuízo à administração da sociedade empresária e
cometimento de falta grave apta a justificar sua exclusão judicial.

5. Nos termos do artigo 85, § 8º, do CPC, a fixação do valor dos honorários por apreciação
equitativa é critério excepcional e somente deve ser aplicado de forma subsidiária nos processos em
que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor da causa for muito
baixo, o que não ocorre no caso em apreço.

6. Apelação e recurso adesivo conhecidos e não providos.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 6ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, SONÍRIA ROCHA CAMPOS D'ASSUNÇÃO - Relatora, VERA
ANDRIGHI - 1º Vogal e LEONARDO ROSCOE BESSA - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor
Desembargador LEONARDO ROSCOE BESSA, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDOS.
DESPROVIDOS. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 10 de Julho de 2023

Desembargadora SONÍRIA ROCHA CAMPOS D'ASSUNÇÃO


Relatora

RELATÓRIO

Trata-se de apelação interposta por ALESSANDRY DA COSTA MACIEL contra a sentença de ID


39255175, proferida pelo Juízo da Vara de Falências, Recuperações Judicias, Insolvência Civil e
Litígios Empresariais do DF, que, nos autos da ação de dissolução parcial de sociedade que ESCOLA
JARDIM DO ÉDEN E.J.E LTDA-ME, ajuizada em face de ALESSANDRY DA COSTA MACIEL,
julgou procedente o pedido para declarar a dissolução parcial da sociedade empresária autora, mediante
a exclusão do réu ALESSANDRY DA COSTA MACIEL do seu quadro societário.

Em razão da sucumbência, condenou o réu ao pagamento das custas e honorários advocatícios, os quais
foram fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da causa, nos termos do art. 85, § 2º, do CPC,
corrigidos monetariamente desde o ajuizamento da ação e com juros de mora de 1% ao mês, a partir do
trânsito em julgado.

Em suas razões recursais (ID 39255186), sustenta o apelante, em suma, que não praticou gestão
temerária dos recursos da sociedade empresária, que ficou demonstrado nos autos a “confusão
patrimonial” entre os recursos financeiros da sociedade e as finanças pessoais de ambos os sócios,
porquanto durante os quase 27 (vinte e sete) anos em que mantiveram relação conjugal, sempre fizeram
o uso das contas bancárias da escola sem a diferenciação daquilo que era da empresa e o que era do
casal; que a sócia, sra. Alessandra tinha total conhecimento de que a escola não tinha capacidade
financeira para adimplir com as obrigações, necessitando da contratação de empréstimos bancários em
diversos momentos para formação de caixa da empresa; que não há nos autos informação sobre o
trânsito em julgado do acórdão que condenou o apelante pelo crime de ameaça no âmbito doméstico e
familiar, valendo a premissa de que é inocente e não pode ser penalizado por algo que não cometeu;
que a inadimplência das obrigações tributárias da sociedade foi agravada pela pandemia da Covid-19,
inexistindo falta grave imputável à gestão do apelante; que não há qualquer elemento que evidencie a
existência de relacionamento extraconjungal entre o apelante e a sra. Rayane ou mesmo com qualquer
outra pessoa; que os relacionamentos amorosos posteriores ao término do relacionamento conjugal e
existentes entre os sócios diz respeito apenas à intimidade das partes; que não ocorreu a quebra da
affectio societatis; que foi a representante da sociedade apelada que assumiu a dívida referente à
entrega de material de construção em favor da sra. Rayane; que não houve desvio de patrimônio social
para benefício de terceiros, não havendo qualquer prova nesse sentido; que as planilhas juntadas aos
autos foram produzidas unilateralmente, inexistindo justo motivo para a exclusão do apelante do
quadro societário da empresa.

Requer, ao final, a reforma da sentença para que o pedido seja julgado improcedente.

Comprovante de recolhimento das custas, ID 39255188.

Contrarrazões, ID 39648899, pugnando pelo desprovimento do recurso.

O advogado da autora, ARLINDO VIEIRA MACHADO JÚNIOR, a seu turno, interpôs apelação
adesiva (ID 39255195), alegando que por força do art. 292, inciso II, do CPC, o valor da causa em
processos de dissolução parcial da sociedade terá como parâmetro a quantia controvertida, que foi
quantificada pelas cotas do sócio dissidente; que o capital descrito no contrato social não reflete o
volume patrimonial da empresa, mas somente a distribuição da cota de cada sócio; que a fixação dos
honorários de sucumbência com base no valor atribuído à causa mostra-se irrisório ao volume
patrimonial da sociedade e o trabalho do patrono no curso processual, razão pela qual os honorários de
sucumbência devem ser arbitrados com base na equidade, no valor de R$30.000,00 (trinta mil reais).

Requer, portanto, que a sentença seja reformada quanto ao critério de fixação dos honorários de
sucumbência, para que sejam arbitrados com base no disposto no art. 85, § 8º, do CPC.

Em contrarrazões de ID 39255202, o apelado pugna, preliminarmente, pelo não conhecimento do


recurso, ao argumento de que a matéria devolvida não foi analisada na origem, configurando inovação
recursal. No mérito, defende o desprovimento do recurso e reafirma o pedido formulado na apelação
interposta.

É o Relatório.

VOTOS

A Senhora Desembargadora SONÍRIA ROCHA CAMPOS D'ASSUNÇÃO - Relatora

Inicialmente, pugna o réu, em suas contrarrazões, pelo não conhecimento do recurso adesivo, ao
argumento de que a base de cálculo dos honorários advocatícios de sucumbência não foi analisada
pelo Juízo a quo, configurando inovação recursal.

Contudo, não há que se falar em inovação recursal referente aos critérios de fixação dos honorários de
sucumbência, uma vez que esta decorre diretamente das razões adotadas pelo Juízo a quo ao acolher
ou não o pedido e proferir a sentença recorrida.
Outrossim, não conheço do pedido de provimento da apelação e redistribuição dos honorários de
sucumbência aduzido em contrarrazões, porquanto estas se qualificam processualmente como meio de
defesa, não sendo a via adequada a deduzir pedido recursal.

Rejeito, portanto, a preliminar de inovação recursal e não conheço do pedido formulado pelo
réu/apelado em contrarrazões.

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço dos recursos, que serão analisados


conjuntamente.

Cinge-se a controvérsia sobre a existência de falta grave do sócio Alessandry da Costa Maciel, ora
apelante, da qual decorreu a declaração da dissolução parcial da sociedade empresária autora,
ESCOLA JARDIM DO ÉDEN E.J.E LTDA-ME, mediante a sua exclusão dos quadros sociais.

Para melhor compreensão dos fatos narrados na inicial, convém transcrever o relatório da sentença
(ID 39255176), in verbis:

Vistos etc.

ESCOLA JARDIM DO ÉDEN E.J.E LTDA-ME, representada por Alessandra Silveira Di Giorno
Costa, ajuizou ação de dissolução parcial de sociedade contra ALESSANDRY DA COSTA MACIEL.

Para tanto, a sociedade alegou que foi constituída em 1993; que o atual quadro societário é
composto por Alessandra e Alessandry, divorciados, cada um com 50% das cotas sociais; que, após o
divórcio, os sócios pactuaram que todo o financeiro da empresa, que estava sob a responsabilidade
exclusiva do requerido, seria repassado para um profissional técnico; que o réu se recusa a repassar
a informações financeiras que tem em sua posse ao contador; que com o trabalho de contabilização
foi descoberta a existência de um alto passivo; que o réu realizou gestão temerária e praticou faltas
graves, tais como (i) procedeu à retenção na fonte dos valores de INSS de seus funcionários, porém,
não os repassou ao fisco durante a administração do financeiro pelo requerido, (ii) não pagou o
FGTS de funcionários, o que impede o usufruto do saldo por aqueles que foram demitidos durante a
pandemia, (iii) deixou de quitar o parcelamento do Simples Nacional, no ano de 2020, (iv) deixou de
pagar dívidas vencidas aos fornecedores, as quais superavam o valor de R$59.805,55, (v) contratou
serviços com serralheiro em troca de isenção de mensalidades para os seus três filhos, porém, os
serviços praticados foram superfaturados em até 300% (trezentos por cento) e (vi) o requerente usou
da empresa para avalizar compra de materiais de construção em favor da ex-funcionária Rayane,
cuja dívida foi paga pela escola. Aduziu ainda que o réu ameaçou, mental e fisicamente, a sócia; que
adentrou à residência dela e furtou várias caixas de documentos antigos da empresa; que furtou um
cofre da empresa, o qual continha cheques, dinheiro em espécie e notas promissórias; que insiste em
retirada de pró-labore em prejuízo do capital social; e que, portanto, não há a mínima harmonia
entre os sócios.

Acerca da exclusão de sócio, assim dispõe o art. 1.030 do Código Civil:

Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído
judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento de
suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente.

Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da sociedade o sócio declarado falido, ou aquele cuja
quota tenha sido liquidada nos termos do parágrafo único do art. 1.026.
Como disposto, a exclusão judicial do sócio demanda a existência de prova da falta grave cometida no
cumprimento das suas obrigações sociais. No caso, conquanto o apelante sustente a inexistência de
cometimento de falta grave e quebra da affectio societatis, não é o que se depreende dos documentos
coligidos aos autos, corroborados pelos depoimentos das testemunhas.

De acordo com o documento ID 39255069, o apelante, responsável pela administração financeira da


empresa, deixou de adimplir cerca de R$1.893.291,82 em débitos tributários, sem justificativa
plausível, uma vez que parte dos débitos foi inscrita na dívida ativa ainda em 2016, antes da crise
sanitária advinda da Covid-19. Assim, a justificativa de que a inadimplência das obrigações tributárias
da sociedade foi agravada pela pandemia viral, inexistindo falta grave na conduta do sócio apelante,
não condiz com o conjunto probatório coligido aos autos.

Ademais, em que pese não ter havido o trânsito em julgado da ação penal n.
0709216-56.2020.8.07.0006, ajuizada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios em
face do apelante, fundada na prática do crime de ameaça, certo é que o fato, isoladamente
considerado, pode ser considerado falta grave, impossibilitando a convivência entre os sócios e, por
consequência, a administração da sociedade empresária.

Convém transcrever o acórdão que julgou procedente o pedido deduzido na denúncia oferecida contra
o apelante (ID 39255084), in verbis:

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE AMEAÇA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. RECURSO DO


MINISTÉRIO PÚBLICO. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. INTIMIDAÇÃO DA
VÍTIMA CONFIGURADA. DOSIMETRIA. EXASPERAÇÃO DA PENA BASE EM RELAÇÃO ÀS
CONSEQUÊNCIAS DO CRIME. INAPILICABILIDADE. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA
CONCEDIDA. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. O crime de ameaça (art.
147 do Código Penal) possui natureza formal e se consuma quando a vítima toma conhecimento da
de mal injusto e grave, desde que esta seja capaz de lhe causar temor e abalar a sua tranquilidade. 2.
A expressão dita para a ex esposa, "você vai ver o que vai acontecer com você", em um ambiente de
intenso calor emocional, decorrente da recente separação do casal e quando a vítima estava
suspeitando da "má gestão" financeira do acusado na empresa, denota uma ameaça concreta da
realização de um mal futuro e grave, que efetivamente provocou o temor e a intranquilidade da
mulher. 3. Apesar de o acusado não ter explicitado o mal que faria à ex esposa, não há dúvida de que
a expressão "você vai ver o que vai acontecer com você" teve o intuito de causar-lhe grande temor,
tanto que a fez comparecer na Delegacia de Polícia para registrar a Ocorrência Policial e pedir as
Medidas Protetivas previstas na Lei Maria da Penha. 4. O réu deve ser condenado, nos exatos termos
da denúncia, tendo em vista a sua conduta se amoldar ao que prevê o art. 147 do Código Penal, na
forma do art. 5º, inciso III da Lei nº 11.340/06 (crime de ameaça no âmbito doméstico e familiar). 5.
As consequências do crime não extrapolaram as previstas no tipo penal se não há provas de que,
exclusivamente em razão do crime, a vítima teve que mudar a sua rotina. 6. O réu faz jus à suspensão
condicional da pena, nos termos do artigo 77 do Código Penal, pois presentes os requisitos legais
(pena não superior a 2 anos; réu não reincidente; não ser possível a aplicação de penas restritivas de
direitos; e circunstâncias judiciais favoráveis). 7. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO para condenar o réu à pena 01 (mês) e 05 (cinco) dias de detenção, em regime aberto.
(Acórdão 1384371, 07092165620208070006, Relator: ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO, 2ª Turma
Criminal, data de julgamento: 4/11/2021, publicado no PJe: 18/11/2021.)

A ameaça de violência não foi apenas um desentendimento, no caso, foi necessária, inclusive, medida
protetiva em favor da sócia representante da sociedade empresária (ID 39254827).

Há de ser destacado, ainda, que a oitiva das testemunhas, no inquérito policial (ID 39254831, p.
46/49), as trocas de mensagens entre os sócios (ID 39254841) e os depoimentos das testemunhas
proferidos no curso processual (IDs 39255093/39255108 e IDs 39255159/39255170) demonstram a
impossibilidade de convivência pacífica entre os ex-cônjuges, resultando, obviamente, em prejuízo à
gestão da sociedade empresária. Acresça-se a isso os atos temerários ocorridos durante a gestão do
apelante, em não adimplir débitos e esquivar-se da prestação de contas, que levaram a uma expressiva
inadimplência tributária da sociedade empresária, sem justificativa, frise-se.

Com efeito, as provas colacionadas aos autos comprovam o cometimento de falta grave pelo sócio nas
suas obrigações sociais, justificando a sua exclusão do quadro societário, porquanto patente a ruptura
da affectio societatis.Neste sentido, examinem-se os precedentes deste egrégio Tribunal de Justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO EMPRESARIAL. DISSOLUÇÃO PARCIAL DA


SOCIEDADE. RESOLUÇÃO EM RELAÇÃO A UM SÓCIO. INTERESSE DE AGIR. AMEAÇAS.
AFFECTIO SOCIETATIS. QUEBRA. INDEFERIMENTO DE TUTELA ANTECIPADA.INDÍCIOS DE
AMEAÇAS AOS DEMAIS SÓCIOS. SUFICIÊNCIA. COGNIÇÃO SUMÁRIA. EMPRESA COM
ESTOQUE DE ARMAS E MUNIÇÕES. PERIGO DE DANO. RELAÇÃO INVERSAMENTE
PROPORCIONAL ENTRE O PERGO DE DANO E A PROBABILIDADE DO DIREITO. DECISÃO
PARCIALMENTE REFORMADA. 1. Conforme o art. 785 do Código de Processo Civil (CPC): "a
existência de título executivo extrajudicial não impede a parte de optar pelo processo de
conhecimento, a fim de obter título executivo judicial". Portanto, os agravantes podem requerer o
afastamento judicial do sócio, ainda que possuam um título executivo extrajudicial que permita a sua
exclusão por descumprimento de obrigações. 2. Doutrina e jurisprudência traçam limites sobre o que
poderia ser considerado falta grave e quebra da affectio societatis. De todo modo, ameaças de
violência e morte certamente se inserem nesses conceitos. 3. Conforme art. 300 do CPC: "a tutela de
urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo". Não são necessárias provas robustas dos
fatos alegados, mas indícios suficientes. Ademais, o dispositivo não se refere somente às provas. O
termo genérico utilizado é "elementos que evidenciem", conceito no qual se insere a própria
verossimilhança da petição inicial. 4. O comportamento processual das partes também pode ser
utilizado como prova, especialmente diante da regra de apreciação probatória do livre
convencimento motivado (art. 371 do Código de Processo Civil-CPC). 5. Na hipótese, a mensagem
de Whatsapp apresentada, sem sinais ou alegações de alteração, é indício suficiente para deferimento
da tutela antecipada, em cognição sumária. 6. Ademais, a segunda agravada não impugnou a
afirmação de que possui outras mensagens de celular nas quais há mensagens de ameaça. É crível a
informação de que ela, esposa do primeiro agravado, não disponibilizou as mensagens para
apresentação nos autos. 7. Os requisitos de probabilidade do direito e perigo de dano são
correlacionados de forma inversamente proporcional. Assim, quanto maior o perigo de dano
envolvido, menor a probabilidade do direito exigida para concessão da tutela provisória,
especialmente se não há risco de irreversibilidade dos efeitos da decisão. 8. No caso, há perigo de
dano irreversível com potencial de afetar direitos fundamentais essenciais (integridade física e vida).
Logo, a probabilidade do direito deve ser analisada a partir de rigor mínimo, sem necessidade de
vasto acervo probatório para embasá-la. 9. Recurso conhecido e parcialmente provido.
(Acórdão 1431710, 07143683520228070000, Relator: LEONARDO ROSCOE BESSA, 6ª Turma
Cível, data de julgamento: 15/6/2022, publicado no DJE: 6/7/2022.)

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EMPRESARIAL. DIREITO SOCIETÁRIO.


PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE.
PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA.
FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. INSUBSISTÊNCIA. DISSOLUÇÃO PARCIAL DA SOCIEDADE.
AÇÃO TRABALHISTA IMPROCEDENTE. QUEBRA DA AFFECTIO SOCIETATIS.
DESCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES SOCIAIS. FALTA GRAVE CONFIGURADA.
DATA-BASE. AÇÃO TRABALHISTA. CUSTAS E SUCUMBÊNCIA. CONTESTAÇÃO E
RECONVENÇÃO. CONDENAÇÃO. REFORMA PARCIAL DA SENTENÇA. 1. Julgamento
antecipado não implica cerceamento de defesa se a matéria é de direito ou se há nos autos elementos
suficientes a dirimir as questões que compõem a lide. Pelo princípio da persuasão racional, o
magistrado é o destinatário final da prova, cabendo-lhe a análise da conveniência e necessidade da
sua realização 1.1. Não configura cerceamento de defesa fato de o magistrado ter considerado
suficientes os documentos juntados aos autos, dispensando produção de outras provas 2. Sentença é
citra ou infra petita quando não elucida a causa posta em juízo na sua exata dimensão, deixando de
analisar algum dos pedidos deduzidos na inicial. A causa de pedir se baseia nos fatos que alicerçam
a pretensão. 2.1 Do cotejo entre inicial e sentença, nenhuma incongruência pode ser reconhecida,
muito menos insuficiência de fundamentação. 3. O art. 1.030 do CC estabelece que o sócio pode ser
excluído judicialmente por iniciativa da maioria dos demais sócios em virtude da prática de falta
grave no cumprimento de suas obrigações ou por incapacidade superveniente. No casos, a sociedade
autora é composta por dois sócios: um majoritário, e o réu, detentor de somente 0,1% (um décimo
por cento) das cotas sociais. 4. "Para exclusão judicial de sócio, não basta a alegação de quebra da
affectio societatis, mas a demonstração de justa causa, ou seja, dos motivos que ocasionaram essa
quebra." (REsp 1.129.222/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
28/06/2011, DJe de 1º/08/2011). 4.1. Restou evidente a quebra da affectio societatis, tendo a autora
demonstrado os motivos: ingresso de ação trabalhista contra sociedade empresária e sócio, com
alegações inverídicas e descumprimento das obrigações sociais por parte do réu. 4.2. Diante desse
cenário de animosidade entre sócio e sociedade, de interesses colidentes, observam-se motivos
plausíveis para exclusão judicial do réu. 5. Nos casos de dissolução societária, a data-base para
apuração de haveres de sócio retirante ? e não de sócio excluído judicialmente ? é o momento em que
ele manifesta sua vontade, observado prazo de 60 dias (art. 1.029 do Código Civil). 5.1. No caso dos
autos, até a declaração de dissolução parcial da sociedade, o réu figura como sócio. Não houve
manifestação de vontade de sair da sociedade, de retirar-se do quadro societário. Ajuizamento de
ação trabalhista contra sócio e sociedade, por si só, não consubstancia tal exteriorização volitiva.
Não consta nos autos qualquer documento que exteriorize a vontade do réu de se desligar da
sociedade limitada, de deixar a condição de sócio. 5.2. Por conseguinte, a solução conferida pela
sentenciante é a que melhor se coaduna com a realidade dos autos: considerar a data da declaração
da resolução parcial da sociedade por sentença como a respectiva data-base,. 6. Tendo em vista que
o réu apresentou contestação e reconvenção, não é possível dizer que houve concordância deste com
a dissolução da sociedade. Assim, hão que ser alterados os ônus de sucumbência. 7. Recursos
conhecidos. Preliminares rejeitadas. Recurso do réu não provido e recurso da autora parcialmente
provido.
(Acórdão 1430753, 07192822920198070007, Relator: MARIA IVATÔNIA, 5ª Turma Cível, data de
julgamento: 22/6/2022, publicado no DJE: 27/6/2022.)

O advogado da parte autora, por seu turno, em recurso adesivo, pretende a reforma da sentença, em
relação ao critério de fixação dos honorários de sucumbência, uma vez que o capital descrito no
contrato social não reflete o volume patrimonial da empresa, razão pela qual os honorários de
sucumbência devem ser arbitrados com base na equidade.

Na hipótese, o valor atribuído à causa foi de R$20.000,00 (vinte mil reais), importe referente às cotas
do réu no contrato social, que também consubstancia o proveito econômico obtido com sua exclusão.
Em face da sucumbência, o réu foi condenado ao pagamento das custas processuais e dos honorários
advocatícios fixados em 10% (dez por cento) do valor da causa, nos termos do artigo 85, § 2º, do
CPC, o que remunera adequadamente o advogado, observando-se os critérios estabelecidos no art. 85,
§ 2º, inc. I a IV do CPC.

A propósito, quanto à fixação dos honorários advocatícios por equidade, o c. Superior Tribunal de
Justiça, em julgamento sob o rito dos Recursos Repetitivos (Tema 1.076), fixou, dentre outros, o
entendimento de que “apenas se admite arbitramento de honorários por equidade quando, havendo
ou não condenação: (a) o proveito econômico obtido pelo vencedor for inestimável ou irrisório; ou
(b) o valor da causa for muito baixo”, o que não é a hipótese dos autos, já que é critério excepcional e
somente deve ser aplicado de forma subsidiária, nos temos do art. 85, § 8º, do CPC.
Ante o exposto, conheço e NEGO PROVIMENTO ao recurso do réu e conheço e NEGO
PROVIMENTO ao recurso adesivo.

Diante do desprovimento de ambos os recursos, deixo de majorar a verba de sucumbência fixada na


origem.

É como voto.

A Senhora Desembargadora VERA ANDRIGHI - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador LEONARDO ROSCOE BESSA - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

CONHECIDOS. DESPROVIDOS. UNÂNIME.

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