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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Araraquara-SP

Nº Processo: 1000854-62.2022.8.26.0274

Registro: 2023.0000016402

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso Inominado Cível nº


1000854-62.2022.8.26.0274, da Comarca de Itápolis, em que são LUIZACRED S.A.
SOCIEDADE DE CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO e SERASA
EXPERIAN S/A, é recorrido JÚLIO DOMINGOS SOARES .

ACORDAM, em 3ª Turma Cível do Colégio Recursal - Araraquara,


proferir a seguinte decisão: "Deram provimento parcial aos recursosl, nos termos que
constarão do acórdão. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este
acórdão.

O julgamento teve a participação dos MM. Juízes MARCOS


THEREZENO MARTINS (Presidente), RICARDO DOMINGOS RINHEL E
GUILHERME AUGUSTO DE OLIVEIRA BARNA.

Araraquara, 16 de fevereiro de 2023.

Marcos Therezeno Martins


RELATOR

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Araraquara-SP

Nº Processo: 1000854-62.2022.8.26.0274

Recurso nº: 1000854-62.2022.8.26.0274


Recorrente: Luizacred S.A. Sociedade de Crédito, Financiamento e
Investimento e outro
Recorrido: Júlio Domingos Soares

Voto nº. CJ13-016/2022

Recurso Inominado nº 1000854-62.2022.8.26.0274

EMENTA: Relação de consumo Fatura de cartão


de crédito paga com atraso Encargos devidos
Dívida bem demonstrada Ausência de notificação
regular ao consumidor acerca da inclusão de seu
nome em cadastros restritivos de crédito Dano
moral reconhecido Redução do valor da
indenização Recursos parcialmente providos.

Voto.

Contra sentença que julgou procedente a ação e condenou as


recorrentes, solidariamente, no pagamento ao recorrido da importância de R$
5.000,00 a título de indenização por danos morais, recorrem as rés postulando a
reforma do julgado.

Parcial razão lhes assiste.

A r. sentença de primeiro grau examinou exaustivamente a


matéria, concluindo o MM. Juiz sentenciante pelo acolhimento do pleito
formulado pela parte autora.

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Como bem reconhecido na r. sentença recorrida, evidente a


legalidade dos encargos moratórios decorrentes do pagamento com atraso da
fatura do cartão de crédito pelo consumidor.

Entretanto, não cumpriram as requeridas a obrigação que lhes é


imposta pelo art. 43, § 2º do Código de Defesa do Consumidor, que dispõe:

Ҥ 2- A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e


de consumo deverá ser comunicada por escrito ao consumidor,
quando não solicitada por ele.”

Na hipótese dos autos, a ré SERASA enviou a notificação de fl.


128 ao e-mail juliosegundo@gmail.com.

Em que pese a possibilidade de que tal comunicação se efetive por


e-mail, no caso em análise o requerente nega que aquele e-mail para o qual
endereçada a notificação lhe pertença.

Em casos que tais caberia à SERASA e à credora comprovarem que


o e-mail de destino pertencia de fato ao consumidor, o que não o fizeram, não
beneficiando a SERASA a alegação de que se valeu de dados fornecidos por
aquela credora.

Vale lembrar, neste ponto, o entendimento jurisprudencial


consolidado na Súmula nº. 359 do STJ, segundo a qual “Cabe ao órgão
mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a notificação do devedor antes
de proceder à inscrição”.

Cuidando-se a notificação de responsabilidade da mantenedora do


cadastro restritivo de crédito, é também dela a responsabilidade pelo correto
endereçamento da correspondência a que se encontra obrigada.

Ademais, o consumidor comprovou às fls. 201/206 que seu e-mail


tem endereço eletrônico diverso daquele para onde a correspondência foi

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endereçada.

Por fim, não há que se falar em isenção de responsabilidade da


credora LuizaCred S.A. pela indevida notificação, uma vez que, consoante se
infere dos autos, o incorreto endereço eletrônico foi pela mesma fornecido à
corresponsável SERASA.

Portanto, não logrando a SERASA e a ré LuizaCred S.A.


comprovar o efetivo recebimento da notificação pelo autor, impunha-se mesmo
reconhecer a responsabilidade solidária de ambas as requeridas para responderem
pelos danos decorrentes de tal ilícito.

A inscrição do nome do recorrido nos cadastros restritivos de


crédito sem observância das prescrições legais mencionadas gerou ao mesmo dano
moral, enquanto a ilicitude praticada pelas rés consistente na irregular notificação
também se evidenciou. Por fim, o nexo de causalidade também se mostrou
presente, com o que, a procedência da ação era mesmo de rigor.

Vale pontuar que, com absoluto acerto fundamentou o MM. Juiz


“a quo”:

“...certo é que deixou de efetuar o pagamento total das faturas,


gerando encargos moratórios contratualmente previstos, os quais incidiram
até respectivo cancelamento, como bem demonstrado pela primeira
requerida (fls. 154/189).

Logo, a dívida é válida e a negativação do nome do autor


consubstancia exercício regular de direito da credora.

Porém, as acionadas não comprovaram de forma idônea a


prévia notificação do consumidor, acerca da possibilidade de inserção em
cadastros de inadimplentes.

Tal omissão representa falha interna na execução do serviço.”

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Ressalta-se, prossigo, que cuidam os autos de típica relação de


consumo, onde, ante a inversão do ônus da prova, caberia às rés, como antes já
afirmado, comprovarem a efetiva notificação do consumidor acerca do débito em
aberto e a possibilidade de inscrição de seu nome no cadastro restritivo de crédito,
ônus do qual as recorrentes não se desincumbiram.

Portanto, de se concluir que a condenação das requeridas na


composição dos danos morais era mesmo imperativa.

No que tange ao valor indenizatório, pacífica a jurisprudência que


o mesmo se dá por arbitramento judicial, devendo atender à finalidade reparatória
do dano sem importar em enriquecimento sem causa do indenizado, bem como,
desestimular a prática do ato ilícito.

E neste ponto, “data venia”, entendo excessivo o valor da


indenização arbitrado.

Com efeito, a inadimplência, pelo consumidor, da incontroversa


obrigação que ensejou a inclusão de seu nome no cadastro restritivo de crédito
mostrou-se evidente nos autos.

A ilegalidade perpetrada pelas rés resumiu-se à inocorrência de


notificação válida da inclusão do nome do autor nos referidos cadastros
restritivos, sem aparentes consequências outras.

Assim, ainda que se reconheça a existência do dano moral, o valor


a ser arbitrado, frente à natureza da ilicitude praticada e o incontroverso
inadimplemento do consumidor, deve ser reduzido para R$ 2.000,00 (dois mil
reais), montante suficiente para reparar o dano e adequado para desestimular a
ilicitude.

Pelo exposto, DOU PARCIAL provimento aos recursos para,


declarada a parcial procedência da ação, fixar a indenização por danos morais em
R$ 2.000,00 (dois mil reais), mantida, no mais, a r. sentença proferida, inclusive

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no que tange à correção monetária e juros de mora sobre a condenação.

É como voto.

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