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01/02/2023 12:52 7004715-58.2020.8.22.

0007 · Processo Judicial Eletrônico - 1º Grau

ESTADO DE RONDÔNIA 
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
1ª Câmara Cível / Gabinete Des. Raduan Miguel

Processo: 7004715-58.2020.8.22.0007 - APELAÇÃO CÍVEL (198)

Relator: RADUAN MIGUEL FILHO substituído por ALDEMIR DE OLIVEIRA

Data distribuição: 04/12/2020 13:23:11

Data julgamento:

Polo Ativo:  ENERGISA RONDÔNIA - DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S.A. e outros

Advogados do(a) APELANTE: EDSON ANTONIO SOUSA PINTO - RO4643-A, GUILHERME DA COSTA FERREIRA
PIGNANELI - RO5546-A, DENNER DE BARROS E MASCARENHAS BARBOSA - RO7828-A

Polo Passivo: PLINIO MARINHO DE CARVALHO JUNIOR e outros   

Advogado do(a) APELADO: VILSON KEMPER JUNIOR - RO6444-A

 
 

 EMENTA 

 Manutenção indevida nos órgãos de proteção ao crédito. Pagamento do


débito. Exclusão do apontamento. Dever do credor. Descumprimento. Dano moral
configurado. Quantum. Observância dos parâmetros legais. Redução.
Impossibilidade.

 
Incumbe ao credor requerer a exclusão do registro desabonador, após o integral
pagamento da dívida, mesmo havendo regular inscrição do nome do devedor em cadastro de
órgão de proteção ao crédito.
 

Se a indenização por dano moral se mostra adequada ante as peculiaridades do


caso, impõe-se a manutenção do valor, porquanto a reparação deve ser suficientemente
expressiva a fim de compensar a vítima, mas também, razoável e proporcional, de forma a evitar o
enriquecimento ilícito.

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RELATÓRIO 

Energisa Rondônia – Distribuidora de Energia S. A. interpôs recurso de apelação em face


da sentença proferida pelo Juízo da 4ª Vara Cível de Cacoal que, nos autos da ação declaratória de
inexistência de débito c/c indenizatória que lhe move Plinio Marinho de Carvalho Junior, julgou procedentes
os pedidos iniciais, para declarar a inexigibilidade da fatura de energia no valor de R$2.651,81, referente ao
mês de janeiro/2020, bem como condenou a concessionária de energia no pagamento de indenização a título
de danos morais, no valor de R$4.000,00, além do pagamento das custas e honorários advocatícios, fixados
em 20% sobre o valor da condenação.

Em suas razões, pugna primeiramente pela suspensão do processo em virtude da pandemia


pelo COVID-19 (art. 313 do CPC). Insurge-se contra a condenação ao pagamento de indenização a título de
danos morais, ante ausência de prova de sua ocorrência, além de inexistir conduta ilícita ou abusiva,
considerando ter agido de forma regular e legítima decorrente da inadimplência contratual.

Colaciona jurisprudência que entende lhe favorecer.

Por fim, requer o prequestionamento dos dispositivos legais, a fim de viabilizar a


interposição de recurso nas instâncias superiores.

Pede o provimento do recurso, com a reforma da sentença, para que seja julgado
improcedente o pedido inicial. Alternativamente, pela redução do quantum indenizatório.

Contrarrazões apresentadas pelo não provimento do recurso, ante a ilicitude praticada pela
apelante que manteve o registro de negativação do nome do apelado, de forma indevida. Requer a majoração
dos honorários na fase recursal.

É o relatório.

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VOTO

JUIZ ALDEMIR DE OLIVEIRA 

Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso.

Inicialmente, indefiro o pedido de suspensão do processo porquanto, apesar de evidentes as


repercussões e alterações no cotidiano de todos, em razão da pandemia pela COVID 19, não ficou
demonstrado nos autos tenha a apelante sofrido prejuízo processual por conta da atual situação, tendo o feito
tramitado de forma regular e em observância aos princípios norteadores do direito.

Cumpre registrar que aplica-se ao caso as regras do CDC, conforme previsão da súmula 297
STJ, que dispõe serem aplicáveis as disposições do Código de Defesa do Consumidor aos contratos
celebrados com instituições financeiras, como no caso em exame.

  A controvérsia refere-se à possibilidade de reparação por danos morais em razão de


manutenção do nome do apelado em cadastro de inadimplentes, após o pagamento da prestação vencida e ao
quantum indenizatório. 

Consta dos autos que a apelada manteve relação jurídica com o apelante, e ficou inadimplente
com o pagamento do valor de R$2.651,81, o que gerou a inscrição do seu nome junto ao SERASA (ID n.
10803111). Contudo, o débito fora devidamente pago, consoante se infere do comprovante juntado no ID n.
10803109.

Em sua defesa, a apelante trouxe argumentos genéricos, enfatizando que agiu no exercício
regular de direito, não tendo praticado qualquer ato ilícito capaz de ensejar a condenação imposta.

O apelado demonstrou os fatos constitutivos do seu direito, uma vez que restou comprovada a
manutenção indevida do nome do seu nome pelo período superior a 90 dias, o que resultou na negativa de
liberação de financiamento (10803112).

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Do contrário, apesar de a apelante afirmar que a manutenção da restrição se justifica pela


existência de débito remanescente, não desincumbiu do ônus que lhe competia, deixando de comprovar suas
alegações.

Devida, portanto, a obrigação indenizatória em favor do apelado.

Sobre o tema, cito:


 
Consumidor. Protesto. Negativação. Legitimidade Passiva. Débito. Pagamento. Inscrição.
Manutenção. Dano moral. Configuração. Valor. Manutenção. [...] É devida indenização por dano moral
decorrente da manutenção da negativação do nome do consumidor por instituição financeira, mesmo após a
quitação de débito objeto de protesto feito licitamente, pois, após o pagamento da dívida é obrigação do credor
baixar a negativação. O arbitramento da indenização decorrente de dano moral deve ser feito caso a caso, com
bom senso, moderação e razoabilidade, atentando-se à proporcionalidade com relação ao grau de culpa, extensão
e repercussão dos danos, à capacidade econômica, características individuais e o conceito social das partes. (TJ-
RO - APL: 00190191520148220001 RO 0019019-15.2014.822.0001, Data de Julgamento: 11/04/2019, Data de
Publicação: 24/04/2019)

Em relação ao dano moral, a manutenção indevida estendeu-se por período desarrazoado


de 3 meses, após a comprovação do pagamento e após as várias tentativas de resolver a questão diretamente
com a apelante.

Sabe-se que o responsável pela inclusão deveria ter procedido à exclusão após o pagamento
da dívida ou em período razoável, o que não ocorreu, devendo o apelado ser indenizado pelo prejuízo que lhe
fora causado, independente de comprovação de sua extensão, vez que é entendimento pacificado no Superior
Tribunal de Justiça que a inscrição indevida, bem como a manutenção indevida, configura dano moral in re
ipsa.

No tocante ao quantum indenizatório, a apelante pugna, de forma alternativa, pela redução.

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Na quantificação da indenização por dano moral, deve o julgador, valendo-se de seu bom
senso prático e adstrito ao caso concreto, arbitrar, pautado nos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade, um valor justo ao ressarcimento do dano extrapatrimonial.

In casu, considerando as condições econômicas e sociais do ofendido e do agressor, a


reprovabilidade da conduta do requerido, o caráter coercitivo e pedagógico da indenização, os princípios da
proporcionalidade e razoabilidade, não se olvidando, também, que a reparação não pode servir de causa ao
enriquecimento injustificado, impõe-se a manutenção do quantum fixado (R$4.000,00), eis que se revela
suficiente e condizente com as peculiaridades do caso.

No que se refere ao prequestionamento, ressalto que o órgão julgador não está obrigado a
rebater, um a um, todos os argumentos trazidos pelas partes em defesa da tese que apresentaram. Deve
apenas enfrentar a demanda, observando as questões relevantes e imprescindíveis à sua resolução. (REsp
1779174/RS, Relator(a) Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, j. 26.02.2019).

Por fim, quanto ao pedido de majoração dos honorários advocatícios na fase recursal feito
em contrarrazões, noto que o Juízo a quo em observância ao disposto no art. 85 do CPC, fixou em percentual
máximo (20%), razão pela qual deixo de majorá-los nesta instância.

Em face do exposto, nego provimento ao recurso e mantenho inalterada a sentença


objurgada.

É como voto.

ACÓRDÃO
 

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                        Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Magistrados da 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado de Rondônia, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, em,

Porto Velho, de de  

Desembargador(a)   RADUAN MIGUEL FILHO substituído por ALDEMIR DE OLIVEIRA

RELATOR PARA O ACÓRDÃO

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