Você está na página 1de 6

01/02/2023 12:54 7004715-58.2020.8.22.

0007 · Processo Judicial Eletrônico - 1º Grau

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA 


Tribunal de Justiça de Rondônia
  Cacoal - 4ª Vara Cível 
Avenida Cuiabá, nº 2025, Bairro Centro, CEP 76963-731, Cacoal, - de 1727 a 2065 - lado
ímpar 

Processo n.: 7004715-58.2020.8.22.0007

Classe: Procedimento Comum Cível

Assunto:DIREITO DO CONSUMIDOR, Inscrição Indevida no CADIN

AUTOR: PLINIO MARINHO DE CARVALHO JUNIOR, AVENIDA AMAZONAS 3355, - DE 3203 A


3453 - LADO ÍMPAR JARDIM CLODOALDO - 76963-687 - CACOAL - RONDÔNIA

ADVOGADO DO AUTOR: VILSON KEMPER JUNIOR, OAB nº RO6444

RÉU: CENTRAIS ELETRICAS DE RONDONIA S/A - CERON , AVENIDA DOS IMIGRANTES 4137, -
DE 3601 A 4635 - LADO ÍMPAR INDUSTRIAL - 76821-063 - PORTO VELHO - RONDÔNIA

ADVOGADOS DO RÉU: DENNER DE BARROS E MASCARENHAS BARBOSA, OAB nº RO7828,


ENERGISA RONDÔNIA

Valor da causa:R$ 10.000,00

SENTENÇA

Vistos etc.

PLINIO MARINHO DE CARVALHO JUNIOR, brasileiro, portador da cédula de identidade RG M-


8.796.657 SSP/MG, inscrito no CPF/MF sob o nº. 027.172.386-62, residente na Av. Amazonas, nº.
3355, Jardim Clodoaldo,  Cacoal/RO, por intermédio de advogado (a) regularmente habitado (a)
ingressou em juízo com 

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA


DE URGÊNCIA PARA SUSPENSÃO DE PROTESTO, SPC e SERASA C/C INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS em face de 

ENERGISA RONDÔNIA - DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S.A, pessoa jurídica de direito privado,


inscrita no CNPJ 05.914.650/0002-66, com sede na Avenida Imigrantes, nº 4137, bairro Industrial,
Porto Velho, Rondônia, aduzindo em síntese o seguinte:

O requerente é empresário do ramo educacional, possuindo a empresa CIAP Educacional Ltda –


Me e resolveu contratar a empresa Edificare Engenharia e Energia Solar para aquisição de placas
fotovoltaicas.

Após a aprovação dos projetos, encaminhou toda documentação para  empresa e


esta  reencaminhou para o Banco da Amazônia para aprovação do  crédito de financiamento,

https://pjepg.tjro.jus.br/Processo/ConsultaProcesso/Detalhe/listAutosDigitais.seam?idProcesso=1179593&ca=9efeb0f45293be8d3eccfa1abc0c9f… 1/6
01/02/2023 12:54 7004715-58.2020.8.22.0007 · Processo Judicial Eletrônico - 1º Grau

contudo, em razão da restrição em seu CPF/MF teve o financiamento negado.

O requerente foi surpreendido com tal restrição, uma vez que sempre zelou pelo seu nome e após
diligências, constatou que se tratava de uma conta de luz da empresa requerida e em contato com
a requerida, foi informado que o impasse seria solucionado, contudo, passado dias e a inscrição
ainda permanece na quantia de R$ 2.651,81 (dois mil seiscentos e cinquenta e um reais e oitenta
e um centavos),

Ressalta que mesmo estando a fatura devidamente paga, seu nome permaneceu
negativado,  ficando o autor com seu nome inscrito no rol dos maus pagadores, apesar de não
possuir nenhum débito diante da concessionária, o que impediu o requerente em realizar negócio
jurídico junto ao Banco da Amazônia para aquisição e instalação de placas fotovoltaicas.

Diante dos atos ilícitos cometidos pela requerida, requer a condenação dela ao pagamento de
indenização por danos morais, bem como sua condenação ao pagamento de custas processuais
e honorários de sucumbência. Pugna pela concessão da antecipação de tutela para retirada do
seu nome dos cadastros de inadimplentes.

Em decisão lançada ao ID: 40042763 foi deferido o pedido de tutela antecipada para retirada do
nome do  autor  dos cadastros restritivos, sob pena de aplicação de multa diária, bem como,
determinada a citação da requerida.

Citada, a requerida apresentou contestação, mencionando que o referido débito é referente a


fatura do mês de janeiro/2020, no valor de 2.651,81 (dois mil, seiscentos e cinquenta e um reais e
oitenta e um centavos). Afirma que o Requerente compareceu junto a  Requerida e, solicitou
através do titular da fatura CIAP EDUCACIONAL LTDA, para que o valor pago referente a fatura
do mês 02/2020, gerada em nome de PLINIO MARINHO DE  CARVALHO JUNIOR, fosse
restituído, por esse motivo a Requerida cancelou o pagamento da  referida fatura, e,
imediatamente, providenciou a devolução do valor pago. O valor pago foi devolvido para o atual
titular da fatura, de modo que as devoluções ocorreram nas faturas dos meses de março de 2020
e abril de 2020. Assevera que  não há o que se falar em fatura paga, tendo em vista que o
valor pago pelo atual titular foi devolvido para o mesmo.

Conclui que as alegações e pretensões do autor são infundadas, uma vez que o comprovante de
pagamento apresentado está em nome do atual titular e o valor pago foi devolvido para o mesmo.
Afirma que resta comprovado que a cobrança e negativação efetuada pela concessionário está
correta, uma vez que o débito corresponde a uma unidade da qual o Autor é titular . 

Ressalta a  inexistência de ato ilícito e nexo de causalidade capazes de ensejar a reparação de


dano pleiteado. Pugna pela total improcedência da ação.

A parte autora apresentou impugnação á contestação (ID: 43422334), na qual rebate o conteúdo


da contestação, mencionando  os argumentos trazidos na peça contestatória revelam-se
insuficientes e ineficazes para rebater os pedidos formulados pela requerente. Reafirma a
narrativa e pedidos constantes na petição inicial e pugna pela total procedência da demanda..

As partes foram intimadas a produzirem as provas que entendessem necessárias para a


comprovação de suas alegações, contudo, informaram não haver mais provas a serem produzidas
e apontaram que os dados e elementos já juntados aos autos seriam suficientes para a definição
do processo, renunciando ao prosseguimento da instrução e requerendo o julgamento do feito no
estado em que se encontra.

Vieram os autos conclusos.

É o relatório.

https://pjepg.tjro.jus.br/Processo/ConsultaProcesso/Detalhe/listAutosDigitais.seam?idProcesso=1179593&ca=9efeb0f45293be8d3eccfa1abc0c9f… 2/6
01/02/2023 12:54 7004715-58.2020.8.22.0007 · Processo Judicial Eletrônico - 1º Grau

DECIDO.

Versam os presentes autos sobre AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS ajuizada por PLINIO MARINHO DE CARVALHO JUNIOR
em face de ENERGISA RONDÔNIA - DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S.A.

O art. 5º da Constituição Federal, em seu inciso V, assegura o direito de resposta, proporcional ao


agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem.

O art. 186 do Código Civil reza:

Art. 186. Aquele que por ação ou omissão voluntária negligência ou imprudência, violar direito ou
causar dano a outrem ainda que exclusivamente moral comete ato ilícito.

Em complementação a tal dispositivo, encontra-se o mandamento do art. 927 que fixa que aquele
que por ato ilícito causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo.

O art. 6º da Lei 8.078/90 dispõe:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e


difusos;
(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a  critério do juiz, for  verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

Imperioso grifar ainda o texto do art. 14 da mesma legislação:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela


reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

O legislador concede ao fornecedor de serviço alguns caminhos para tentar se esquivar da


responsabilidade civil, sendo que se  situam na demonstração da inexistência de defeito no
serviço, da culpa exclusiva do consumidor ou até mesmo na inocorrência da prática de ato ilícito.

Nossa legislação que rege as relações de consumo estabelece com clareza com sendo um dos
direitos inafastáveis do consumidor a obtenção constante de informações adequadas e claras
sobre os serviços.

Do mesmo modo, é garantida a reparação pelos danos eventualmente identificados em razão da


desatenção com estes compromissos.

O art. 14, do CDC, especifica a responsabilidade objetiva do fornecedor de serviço por prejuízos
provocados por prestação de serviço inadequado.

https://pjepg.tjro.jus.br/Processo/ConsultaProcesso/Detalhe/listAutosDigitais.seam?idProcesso=1179593&ca=9efeb0f45293be8d3eccfa1abc0c9f… 3/6
01/02/2023 12:54 7004715-58.2020.8.22.0007 · Processo Judicial Eletrônico - 1º Grau

No caso em exame, cumpre  à  requerida, sabedora da aplicação da responsabilidade objetiva,


munir-se de instrumentos aptos a demonstrarem nos autos que não teria havido falha ou defeito
em sua conduta ao prestar o serviço ou, alternativamente, comprovar que o ocorrido resultou
exclusivamente da conduta do consumidor, pois estes dois caminhos são ofertados pelo legislador
para eximir o prestador de serviços da responsabilidade objetiva.

Inexiste dúvida alguma de que o autor mantinha uma relação de consumo de energia elétrica com
a requerida, e para viabilizar tal contrato, existia a unidade consumidora  em seu nome.

Também não remanesce qualquer questionamento sobre haver sido o requerido que promoveu o
encaminhamento e inserção do nome do Autor no cadastro de maus pagadores em decorrência
de inadimplemento da fatura 

Até este momento, não se verifica qualquer conduta ilegal da requerida, pois  a fatura encontrava-
se pendente de pagamento, e foi encaminhada para os serviços de registro e restrição cadastral,
no intuito de compelir o devedor a uma regularização.

Como se extrai de mera análise dos documentos trazidos com a exordial, o pagamento somente
ocorreu após a efetivação do registro no cadastro de maus pagadores.

O fato de um terceiro, seja este quem quer que seja haver pago o débito, não tem qualquer
influência na análise do processo, pois o débito é pago mediante código de barras, não
interessando quem tenha promovido a quitação, até porque pode o devedor pedir a outro que
liquide sua obrigação, não tendo este fato qualquer implicação para o credor.

A obrigação foi paga após o encaminhamento da fatura para os órgãos de restrição, mas a partir
deste momento, incorreu inequivocamente a requerida em falha indesculpável pois ao acusar o
pagamento, deveria e tinha a obrigação de promover o pronto e imediato levantamento das
restrições, comunicando o órgão cadastral, mas nada fez neste sentido.

Com o descaso e descontrole da requerida, o nome do autor permaneceu de modo ilegítimo e


indevido no cadastro restritivo, ai sim provocando consequências danosas para a imagem e os
negócios do autor.

A requerida alega, sem trazer qualquer prova consistente neste sentido, que o autor teria solicitado a
devolução dos valores pagos, mas não trouxe solicitação firmada pelo autor, ou prova de que tivesse
promovido o desembolso anunciado. Ora, qual seria a vantagem de alguém pagar um débito que esta
registrado nos cadastros restritivos e, na sequência, pedir a restituição dos valores?

A obrigação no tocante a distribuição do ônus probatório de demonstrar a existência da aventada negociação


que envolveria inclusive o cancelamento do pagamento de fatura já quitada, pertence exclusivamente e
requerida e nada foi trazido de robusto ou convincente neste sentido, mantendo-se, portanto, a situação de
estar sendo preservada uma condição restritiva, não obstante haver ocorrido o pagamento da dívida.

Como resta fácil identificar, até o momento da determinação judicial, o nome do autor persistia nos cadastros
de maus pagadores, tornando irrebatível o fato de que a manutenção indevida somente foi interrompida com
a intervenção deste juízo, o que agrava o comportamento reprovável e a extensão dos danos.

Nossa legislação especifica que as concessionárias de serviço público devem oferecer serviços seguros e
eficientes, e que caso venham a desconsiderar ou desatender a estes deveres, serão responsáveis pelas
https://pjepg.tjro.jus.br/Processo/ConsultaProcesso/Detalhe/listAutosDigitais.seam?idProcesso=1179593&ca=9efeb0f45293be8d3eccfa1abc0c9f… 4/6
01/02/2023 12:54 7004715-58.2020.8.22.0007 · Processo Judicial Eletrônico - 1º Grau

reparações decorrentes dos danos causados, inclusive aqueles de cunho moral

Nossa jurisprudência é pacífica e límpida quando a reconhecer que a simples inclusão indevida do nome de
alguém nos cadastros negativos de crédito, já acarreta o dever de indenizar pelos danos morais, sendo
dispensável, inclusive, a abordagem no tocante a extensão e efeitos provenientes da conduta reprovável e
ilegítima.

A requerida agiu de forma culposa e ineficiente, promoveu e acarretou danos que devem ser ressarcidos na
forma da lei e não conseguiu trazer aos autos, o que era seu mister, nenhuma prova que pudesse tisnar tais
evidências.

Os acontecimentos com que se deparou o  requerente extrapolaram a seara do mero


aborrecimento, ensejando a ocorrência do dano moral que é presumido diante das circunstâncias
(dano in re ipsa).

Assim, estabelecida a responsabilidade da requerida, passo a quantificar o dano moral.

A indenização possui caráter punitivo-educativo-repressor e a fixação do quantum deve estar


sintonizado    com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade e dentro destes
balizamentos estabelecer um montante que não provoque enriquecimento indevido, mas que,
simultaneamente, tenha alguma expressão e significância para o infrator.

Considero no arbitramento a capacidade financeira das partes, bem como, a necessidade de


desestimular ilicitudes semelhantes. Deve se considerado ainda para fins de fixação do montante
que inicialmente a inscrição era legítima e razoável, mas sua manutenção é que configurou o ato
ilícito passível de reparação.

Dentro dos limites legais e atenta à teoria do desestímulo, reputo proporcional e razoável fixar os
danos morais em R$ 4.000,00 (quatro mil  reais), montante já atualizado até esta data e que deve
sofrer doravante incidência de correção monetária e juros legais de 12% ao ano até o integral
pagamento.

Isto posto e por tudo mais que dos autos consta, JULGO, com fundamento no art. 487, inc. I do
Código de Processo Civil e dispositivos do Código de Defesa do Consumidor, com resolução do
mérito,  PROCEDENTE o pedido feito por PLINIO MARINHO DE CARVALHO JUNIOR em face de
CENTRAIS ELÉTRICAS DE RONDÔNIA - ENERGISA para declarar quitada e inexigível a fatura
de R$ 2.651,81 correspondente ao consumo de janeiro de 2020, assim como, CONDENO  a
Requerida a pagar à Requerente o valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) a título de danos
morais, obedecendo ao binômio compensação/desestímulo, montante já atualizado e que deve
ser corrigido monetariamente e acrescido de juros legais de 12% ao ano desta data até o seu
efetivo pagamento.

Condeno a requerida ao pagamento de custas e honorários, os quais fixo em 20% (vinte  por
cento) do valor total  da condenação, o que faço  nos termos do art. 85 do CPC.

Publicação e registro automáticos pelo sistema.

Intimem-se via DJE, SERVINDO A PRESENTE PARA ESTA FINALIDADE.

https://pjepg.tjro.jus.br/Processo/ConsultaProcesso/Detalhe/listAutosDigitais.seam?idProcesso=1179593&ca=9efeb0f45293be8d3eccfa1abc0c9f… 5/6
01/02/2023 12:54 7004715-58.2020.8.22.0007 · Processo Judicial Eletrônico - 1º Grau

Transitando em julgado e nada sendo requerido em 05 dias, ARQUIVE-SE.

Apresentado recurso, intime-se a parte contrária para contrarrazoar no prazo legal e encaminhe-
se os autos ao Egrégio Tribunal de Justiça para julgamento.

Cacoal/RO, 30 de outubro de 2020.

Mario José Milani e Silva

Juiz de Direito

https://pjepg.tjro.jus.br/Processo/ConsultaProcesso/Detalhe/listAutosDigitais.seam?idProcesso=1179593&ca=9efeb0f45293be8d3eccfa1abc0c9f… 6/6

Você também pode gostar