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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA 2ª

GENÉRICA DA COMARCA DE BURITIS/RO

Processo nº 7005468-65.2023.8.22.0021

ROSIMARA FERREIRA DOS SANTOS, já


qualificada nos autos em referência, por seu advogado subscritor, vem, à
preclara presença de Vossa Excelência, em atendimento ao r. despacho
de Id 100394049, e com fulcro no artigo 437, do Código de Processo Civil,
apresentar sua
RÉPLICA À CONTESTAÇÃO
Nos autos da ação que move contra ENERGISA
RONDÔNIA DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S/A, pelos fatos e fundamentos
jurídicos que adiante passa a expor:

I – DO RESUMO DA LIDE

II – DA ALEGAÇÃO DE INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURA –


ARGUMENTO FALACIOSO – EMPRESA QUE OBTÉM LUCROS
SIGNIFICATIVOS - INVESTIMENTOS DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DA
CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO ESSENCIAL
A Constituição Federal de 88 estabelece, no parágrafo
6º do artigo 37, a responsabilidade das pessoas jurídicas de direito
público e de direito privado prestadoras de serviços públicos diante dos
danos que seus agentes causarem a terceiros.

No Brasil, a delegação de serviços está regulamentada


pela Lei 8.987/95, na qual fica expresso que essas empresas prestam o
serviço por sua conta e risco, e em caso de danos assumem a
responsabilidade objetiva de repará-los.

No presente caso, a alegação de que a prática


arbitrária de recuperação de consumo perpetrada pela requerida teria
como justificativa o aumento de investimentos em infraestrutura é
falaciosa e desonesta.

Ao obter a concessão para operar o sistema de


distribuição de energia elétrica no Estado de Rondônia, a requerida se
comprometeu a realizar os investimentos necessários para a melhoria do
sistema.

Justificar a aplicação desenfreada e aleatória de


penalidades por recuperação de consumo sob o pretexto de obter
recursos para realizar investimentos chega a soar como uma confissão de
que o procedimento é, de fato, feito de maneira aleatória e tem por
objetivo, unicamente, o aumento de arrecadação.

Não bastasse isso, a atividade da requerida se revela


extremamente lucrativa, sendo que esta registra altas sucessivas em seu
faturamento, resultando no pagamento de vultosas quantias a título de
dividendos, revelando que a oneração abusiva dos consumidores ge3ra,
em última análise, uma transferência injusta de renda. Vejamos as
matérias a seguir:

(Disponível em https://www.infomoney.com.br/mercados/energisa-engi11-resultados-lucro-liquido-

terceiro-trimestre-2023/)
(Disponível em https://einvestidor.estadao.com.br/ultimas/distribuicao-dividendos-energisa-engi11-
acionistas/)

Desta forma, o argumento utilizado pela requerida não


se presta a justificar as cobranças exorbitantes a título de recuperação de
consumo, devendo eventuais investimentos em infraestrutura, serem
entendidos como obrigações decorrentes da concessão do serviço público
que, conforme demonstrado, é suficiente para atender às necessidades de
manutenção e ampliação da infraestrutura de distribuição e, ainda,
garantir enormes lucros aos acionistas.

III – DO TÓPICO “DA NECESSÁRIA OBSERVÂNCIA DA LEGISLAÇÃO


SETORIAL” E SUA CONTRADIÇÃO – DA INOBSERVÂNCIA DA REFERIDA
LEGISLAÇÃO POR PARTE DA REQUERIDA.

A requerida pugna pela aplicação da “legislação


setorial”, porém, a própria empresa requerida deixa de observar os
preceitos contidos nas resoluções que invoca.
É ponto pacífico em nossa jurisprudência que a
autuação administrativa, realizada unilateralmente, não constitui prova de
fraude, fazendo-se necessária prova pericial, através de uma inspeção
detalhada para comprovar a adulteração. Assim, restou indevida a
cobrança de consumo de energia elétrica quando não comprovada a
fraude no medidor.

A não observância dos preceitos contidos nas


resoluções da ANEEL, é matéria exaustivamente discutida nos tribunais
pátrios. Vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. CONSUMIDOR. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.
FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. TERMO DE
OCORRÊNCIA DE IRREGULARIDADE (TOI). SENTENÇA
DE IMPROCEDÊNCIA. INCONFORMISMO DO AUTOR.
AUSÊNCIA DE PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE.
SÚMULA 256 DO TJRJ. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 591 DA
RESOLUÇÃO Nº 1.000 DA ANEEL. SENTENÇA
REFORMADA. 1. A demonstração da irregularidade, por
força das próprias normas que regem as
concessionárias de energia elétrica, é ônus da ré. 2. A
concessionária não trouxe ao processo nenhum
elemento de prova hábil a configurar a suposta
irregularidade. 3. O TOI deve ser instruído com
elementos probatórios suficientes à caracterização da
irregularidade, elementos esses que devem ser
produzidos ao tempo da constatação do erro na
medição ou apuração do consumo, assumindo forma
de prova pré-constituída, não se prestando a tal fim
prova pericial produzida fora de tempo. 4. Não
havendo elementos suficientes para a caracterização
da irregularidade, é indevida a cobrança relativa ao
termo de inspeção. 5. Possibilidade de dano moral à
pessoa jurídica. Aplicação da súmula 227 do STJ.
Ofensa à honra objetiva configurada. Abalo da imagem
da parte autora como regular prestadora de serviço,
em face de seus clientes, tendo em vista o corte de
energia ocorrido no estabelecimento comercial da
autora. 6. Sentença que se reforma para (a) declarar a
nulidade dos TOIs devidamente comprovados nos
autos e a inexigibilidade dos débitos a ele referentes,
(b) condenar o réu ao pagamento de indenização por
danos morais, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais), e à devolução dos valores pagos indevidamente
e comprovados nos autos, e (c) ao pagamento das
custas processuais e honorários advocatícios de
sucumbência de 10% sobre o valor da condenação.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
(TJ-RJ - APL: 00399573120188190209, Relator:
Des(a). JOÃO BATISTA DAMASCENO, Data de
Julgamento: 15/06/2022, VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA
CÍVEL, Data de Publicação: 21/06/2022)

Ainda, acerca da suposta prova de fraude em medidor,


produzida de maneira unilateral:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO


CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E
PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA -
CONSTATAÇÃO DE IRREGULARIDADE NO MEDIDOR DE
ENERGIA ELÉTRICA - FATURA DE RECUPERAÇÃO DE
CONSUMO - NEGATIVAÇÃO DO NOME DO
CONSUMIDOR - INOBSERVÂNCIA ÀS REGRAS
CONTIDAS NA RESOLUÇÃO NORMATIVA ANEEL N.º
1000 DE 2021 - CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA
NÃO OBSERVADOS - COBRANÇA INDEVIDA -
DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DO DÉBITO - CORTE
NO FORNECIMENTO DE ENERGIA - DANOS MORAIS
CONFIGURADOS - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO
DESPROVIDO. 1. A jurisprudência do e. Superior
Tribunal de Justiça é firme no sentido de que não pode
haver cobrança de débito, decorrente de suposta
fraude no medidor de consumo, apurada
unilateralmente pela concessionária ( AgInt no AREsp
999.346/PE, Rel. Ministro OG FERNANDES, Segunda
Turma, julgado em 25/04/2017, DJe 03/05/2017). 2.
Processo administrativo de recuperação de consumo
de energia elétrica que não atendeu aos princípios do
contraditório e da ampla defesa, restando configurado
vício apto a justificar desconstituição, nos termos da
Resolução Normativa ANEEL n.º 1000 de 2021. 3. Não
deve ser admitida a cobrança de recuperação de
consumo de energia elétrica apuradas de forma
unilateral pela concessionária e sem base nas
ocorrências que afirma ter constatado, porque não
obedecidos os procedimentos legais, tendo em vista a
ausência de perícia técnica conclusiva ou relatório de
avaliação técnica. 4. Configura-se ilegal o corte no
fornecimento de energia por dívida pretérita de
recuperação de consumo não faturado, decorrente de
irregularidade no medidor da unidade consumidora,
sem que tenha havido comprovação de fraude. 5.
Sentença mantida. 6. Recurso desprovido.

(TJ-MT - AC: 10399376420188110041, Relator:


SEBASTIAO BARBOSA FARIAS, Data de Julgamento:
15/08/2023, Primeira Câmara de Direito Privado, Data
de Publicação: 23/08/2023)

Desta forma, se há a inobservância da legislação


setorial, esta se verifica por parte da própria requerida, que deixa de se
atentar os preceitos entabulados pela ANEEL, quando da realização de
vistorias a fim de constatar as supostas irregularidades.

IV – DA ALEGAÇÃO DE “CRIAÇÃO DE REGRAS E PROCEDIMENTOS


ALHEIOS À LEGISLAÇÃO”.

O tópico é genérico e confuso, não sendo possível


compreender, de fato, qual é a intenção da requerida em sugerir que se
estaria criando regras e procedimentos alheios à legislação.

A requerida chega a afirmar, em tom de ameaça, que


a “criação de regras e procedimentos” afetariam a população com a
majoração das tarifas.
Ora, Excelência, o que se verifica na jurisprudência
pátria, inclusive Tribunais Superiores, é a primazia à defesa do
consumidor em situações análogas às dos autos.

Desta forma, não deve o Poder Judiciário ceder a


ameaças vindas de empresas concessionárias de serviços públicos
essenciais, como a requerida, que tem o dever de prestar seus serviços
de maneira a melhor atender o interesse da coletividade.

Assim, este ínclito Juízo não deve se deixar intimidar


por ameaças provenientes de empresas como a requerida, que auferem
lucros altíssimos com a exploração do serviço objeto de concessão, não
havendo necessidade de aumentar tarifas como forma de retaliação por
decisões que assegurem os direitos básicos dos consumidores.

V – DO CUMPRIMENTO DA LIMINAR – TUTELA DE URGÊNCIA CONCEDIDA


PARA RETIRAR O NOME DA AUTORA DE CADASTROS NEGATIVOS DE
CRÉDITO.

De fato, verificou-se o cumprimento da decisão que,


em antecipação de tutela de urgência, determinou que a requerida
retirasse o nome da Autora, de cadastros negativos de crédito, em virtude
do débito ora discutido.

Desta maneira, inexistem razões para impugnar o


tópico em comento, devendo a Autora reconhecer o cumprimento da
determinação judicial exarada por este preclaro Juízo.

VI – DO MÉRITO
VI.I – DA ALEGAÇÃO DE IRREGULARIDADES ENCONTRADAS NAS
INSTALAÇÕES ELÉTRICAS DO IMÓVEL DA AUTORA – DOS
PROCEDIMENTOS ILEGAIS ADOTADOS PELA REQUERIDA.

A requerida tenta se valer de fotos do medidor e da


alegação de que a inspeção fora realizada com o acompanhamento da
Autora, para rebater o argumento de unilateralidade dos procedimentos
realizados.

Ora, as alegações da requerida apenas revelam o


abismo técnico existente entre a empresa e a consumidora, visto que,
mesmo que esteja acompanhando visualmente algum procedimento
realizado, não dispõe de conhecimento para compreender a natureza dos
trabalhos realizados.

A jurisprudência pátria é uníssona quanto à nulidade


de procedimentos técnicos realizados de maneira unilateral. Inclusive,
este é o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de
Rondônia.

Vejamos:

Apelação cível. Medidor de energia elétrica. Perícia


unilateral. Cobrança indevida de recuperação de
consumo. Inexistência de débito. Negativação. Danos
morais configurados. Valor. Equilíbrio da reparação.
Recurso não provido. Perícia unilateral em medidor de
energia elétrica é ilegal, pois impede o exercício do
contraditório e da ampla defesa pelo consumidor,
devendo a cobrança de recuperação de consumo nesse
procedimento ser declarada inexistente. Configurados
os danos morais, quando o nome do consumidor é
negativado nos cadastros de crédito por conta da
cobrança indevida de valores decorrentes da perícia
unilateral. E, nesse caso, são notórias e extensivas as
consequências presumidas advindas da negativação
indevida. O valor da condenação por danos morais, se
suficiente para o equilíbrio da reparação, não merece
alteração.

(TJ-RO - AC: 70036739120178220002 RO 7003673-


91.2017.822.0002, Data de Julgamento: 11/11/2020)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. ADMINISTRATIVO.


SERVIÇO PÚBLICO. ENERGIA ELÉTRICA. CEMIG.
ADULTERAÇÃO DO MEDIDOR. RESPONSABILIDADE DO
CONSUMIDOR. REALIZAÇÃO DE PERÍCIA UNILATERAL.
INOBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. NULIDADE
DO DÉBITO. RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO E
PROVIDO. 1. O débito proveniente de irregularidade no
medidor de energia elétrica só será devido se
constatado, por perícia técnica, que a adulteração foi
ocasionada pelo usuário. 2. É nula, por violação aos
princípios constitucionais da ampla defesa e do
contraditório, a perícia administrativa realizada sem
que seja oportunizada a participação do consumidor.
3. Ausente a comprovação - por procedimento
administrativo regular - a alteração no medidor
imputável ao usuário, indevido o débito proveniente de
consumo irregular.

(TJ-MG - AC: 10024112880463001 MG, Relator:


Bitencourt Marcondes, Data de Julgamento:
09/07/2019, Data de Publicação: 15/07/2019)

Este também é o entendimento do Superior Tribunal


de Justiça:

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. ENERGIA


ELÉTRICA. AÇÃO DE DECLARAÇÃO DE
INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO, CUMULADA COM
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. COBRANÇA
INDEVIDA E AMEAÇA DE CORTE DO FORNECIMENTO
DE ENERGIA ELÉTRICA, REFERENTE A CONSUMO NÃO
REGISTRADO, POR SUPOSTA FRAUDE NO MEDIDOR,
APURADA, UNILATERALMENTE, PELA
CONCESSIONÁRIA. ILEGALIDADE. PRECEDENTES DO
STJ. ACÓRDÃO RECORRIDO QUE, À LUZ DAS PROVAS
DOS AUTOS, CONCLUIU PELA NULIDADE DO
PROCEDIMENTO ADOTADO PELA RÉ, POR VIOLAR O
DIREITO AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA DO
CONSUMIDOR, NA APURAÇÃO DO DÉBITO, E PELA
EXISTÊNCIA DE DANO MORAL INDENIZÁVEL.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO, NA VIA ESPECIAL, DE
QUESTÕES FÁTICAS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ.
ALEGADA VIOLAÇÃO AOS ARTS. 7º, IV, E 9º, § 4º, DA
LEI 8.987/95. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULA 282/STF. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE
CONHECIDO, E, NESSA EXTENSÃO, IMPROVIDO. I.
Recurso Especial interposto contra acórdão publicado
na vigência do CPC/2015, aplicando-se, no caso, o
Enunciado Administrativo 3/2016, do STJ, aprovado na
sessão plenária de 09/03/2016 ("Aos recursos
interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a
decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016)
serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal
na forma do novo CPC"). II. Na origem, trata-se de
ação declaratória de inexistência de débito, cumulada
com indenização por danos morais, ajuizada por Posto
Bacanga Ltda em desfavor de Companhia Energética
do Maranhão - CEMAR, sustentando, em síntese, que a
ré lhe imputa débito, a título de consumo não
registrado, no valor de R$ 10.171,20 (dez mil, cento e
setenta e um reais e vinte centavos), correspondente
aos meses de 02/2018 a 05/2018, sob a alegação de
suposta irregularidade no conjunto de medição da
unidade consumidora. Sustenta que a concessionária
de energia não lhe garantiu contraditório, uma vez que
a inspeção, no medidor de consumo de energia
elétrica, fora feita de forma unilateral. A sentença
julgou improcedente a ação, concluindo que "o acervo
probatório carreado aos autos não indica a
caracterização de invalidade no procedimento levado a
efeito pela concessionária de energia elétrica". O
Tribunal de origem, por sua vez, deu provimento à
Apelação da parte autora, para declarar inexigível o
débito referente ao consumo de energia elétrica não
registrado, bem como para condenar a requerida ao
pagamento de R$ 3.000,00 (três mil reais), a título de
indenização por danos morais. III. O entendimento, há
muito firmado nesta Corte, orienta-se no sentido da
ilegalidade da cobrança de débito - e eventual
suspensão do fornecimento do serviço de energia
elétrica - decorrente de recuperação de consumo não
registrado, por suposta fraude no medidor de consumo
de energia, apurado unilateralmente, pela
concessionária. Nesse sentido, os seguintes
precedentes: STJ, REsp 1.732.905/PI, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de
13/11/2018; AgInt no AREsp 999.346/PE, Rel. Ministro
OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, DJe de
03/05/2017; AgRg no AREsp 405.607/MA, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe
de 20/11/2013; AgRg no AREsp 332.891/PE, Rel.
Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA
TURMA, DJe de 13/08/2013. IV. A Primeira Seção do
STJ, no julgamento do REsp 1.412.433/RS, sob o rito
de recursos repetitivos (Tema 699) - cuja questão
submetida a julgamento versava sobre a "possibilidade
de o prestador de serviços públicos suspender o
fornecimento de energia elétrica em razão de débito
pretérito do destinatário final do serviço" -, consignou,
em relação aos débitos apurados por fraude no
medidor de energia, que "incumbe à concessionária do
serviço público observar rigorosamente os direitos ao
contraditório e à ampla defesa do consumidor na
apuração do débito, já que o entendimento do STJ
repele a averiguação unilateral da dívida" (STJ, REsp
1.412.433/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de 28/09/2018). V. No caso, o
Tribunal de origem, à luz dos elementos fático-
probatórios dos autos, concluiu pela inexigibilidade do
débito e pela existência de dano moral indenizável, em
razão da ilegalidade da cobrança e da ameaça de corte
do serviço de energia elétrica, consignando que "a
CEMAR não cumpriu fidedignamente o disposto no art.
129 da Resolução nº. 414/2010 da ANEEL - que dispõe
sobre os procedimentos que devem ser
obrigatoriamente adotados pela concessionária para a
caracterização de irregularidades e recuperação de
receitas decorrente de consumo não registrado -,
impossibilitando o devido processo legal, e, por via de
consequência, exercício efetivo da ampla defesa e do
contraditório pela parte hipossuficiente da relação
jurídica, viciando todo o procedimento administrativo
juntado aos autos, inclusive o próprio laudo expedido
pelo INMEQ-MA". Registrou, ainda, que, "embora a
reclamada tenha realizado a notificação da reclamante
acerca da retirada e envio do equipamento de medição
de energia elétrica para realização de perícia técnica
em órgão metrológico (ID Num. 7392103 - Pág. 2),
inclusive sendo informado da possibilidade de
acompanhamento da perícia técnica no dia
11/06/2018, houve mudança da data para sua
realização, sem que fosse novamente informado o
consumidor, conforme exige o § 7º, do art. 129 da
Resolução nº 414/2010 da ANEEL, fato que viola o
contraditório e ampla defesa. (. ..) Inexistindo
demonstração de efetivação [de] comunicação ao
consumidor informando-lhe acerca da alteração da
data para realização da perícia, torna-se forçoso
concluir, uma vez mais, ter ocorrido violação do
contraditório e ampla defesa e, por consequencia,
nulidade do procedimento adotado pela apelante". VI.
Considerando o contexto fático descrito no acórdão
recorrido, o entendimento firmado pelo Tribunal de
origem - quanto à ilegalidade da cobrança de débito
decorrente de suposta fraude no medidor de consumo,
constatada através de inspeção unilateral efetivada
pela concessionária fornecedora do serviço de energia
elétrica - não destoa da jurisprudência do STJ, não
merecendo reforma, no ponto. VII. Levando-se em
conta os fatos descritos no acórdão objeto do Recurso
Especial, no sentido de que a verificação de fraude no
medidor deu-se de forma unilateral, os argumentos
utilizados pela parte recorrente, quanto à legalidade do
procedimento adotado para a apuração do consumo
não registrado e à inexistência de dano moral
indenizável, somente poderiam ter sua procedência
verificada mediante o necessário reexame de matéria
fática, não cabendo a esta Corte, a fim de alcançar
conclusão diversa, reavaliar o conjunto probatório dos
autos, em conformidade com a Súmula 7/STJ. No
mesmo sentido, em casos análogos: STJ, AgInt no
AREsp 1.772.515/RS, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA,
PRIMEIRA TURMA, DJe de 18/08/2021; AgInt no
AREsp 1.059.306/MS, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA,
PRIMEIRA TURMA, DJe de 01/10/2020; AgInt no
AREsp 1.702.074/GO, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 09/12/2020;
REsp 1.685.642/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, DJe de 16/10/2017; REsp
1.310.260/RS, Rel. Ministro OG FERNANDES,
SEGUNDA TURMA, DJe de 28/09/2017; AgRg no REsp
1.443.542/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, DJe de 28/11/2014. VIII. Não tendo
o acórdão hostilizado expendido juízo de valor sobre os
arts. arts. 7º, IV, e 9º, § 4º, da Lei 8.987/95, a
pretensão recursal esbarra em vício formal
intransponível, qual seja, o da ausência de
prequestionamento - requisito viabilizador da abertura
desta instância especial -, atraindo o óbice da Súmula
282 do Supremo Tribunal Federal ("É inadmissível o
recurso extraordinário, quando não ventilada, na
decisão recorrida, a questão federal suscitada"), na
espécie. IX. Recurso Especial parcialmente conhecido,
e, nessa extensão, improvido.
(STJ - REsp: 1946665 MA 2021/0202170-1, Relator:
Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, Data de Julgamento:
05/10/2021, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de
Publicação: DJe 15/10/2021)

Além disso, vale ressaltar que a requerida tenta


atribuir à Autora, a responsabilidade pelas falhas técnicas do aparelho
medidor de consumo de energia elétrica.

É sabido que a manutenção de aparelhos medidores é


de inteira responsabilidade das concessionárias de energia elétrica.

A requerida não foi capaz de trazer aos autos, prova


capaz de demonstrar, de maneira inconteste, a adulteração do medidor
da requerida.

Ora, as imagens juntadas aos autos não mostram um


medidor adulterado, todavia, demonstram que trata-se de aparelho
antigo. É notório que, ao longo dos anos, aparelhos elétricos podem
apresentar variações em seu funcionamento, sobretudo aqueles que
realizam medição de consumo. Como exemplo, se um posto de gasolina
não realiza manutenção periódica em suas bombas, estas podem
apresentar variações no registro de saída dos combustíveis. Da mesma
forma, é esperado que, ao longo dos anos, um medidor de energia
elétrica apresente algum decaimento em sua capacidade de medir o
consumo de uma residência, nos mesmos padrões de funcionamento de
quando foi instalado.

Desta forma, não se deve atribuir à Autora,


responsabilidade pelo bom funcionamento do aparelho medidor.

Por fim, o gráfico apresentado pela requerida não


demonstra grandes variações em seu consumo. Meses isolados onde se
registra consumo menor não significam adulteração do medidor, ate por
que, como se observa, o consumo se da unidade se mantém
relativamente linear ao longo do período analisado.

Assim, não devem prosperar as alegações trazidas


pela requerida, pois esta não foi capaz de comprová-las.
Nestes termos, pede e espera deferimento.

Buritis, 15 de janeiro de 2024

ISRAEL FERREIRA DE OLIVEIRA


OAB/RO 7968

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